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A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

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ser apresentada, em alguma política cultural, como portadora de<br />

valores históricos essenciais, isto é, tradicionais, antigos e portanto<br />

verdadeiros. (A cultura erudita também veicula valores históricos,<br />

tradicionais; mas a cultura popular supostamente agrega a seus<br />

produtos um valor nacional específico nem sempre, também por<br />

presunção, presente ou facilmente reconhecível na erudita e que daria<br />

à popular um segundo valor adicional e <strong>def</strong>initivamente preferencial;<br />

mas essa é outra discussão...). Nessa interpretação, o aspecto moral ou<br />

como tal visto (“o tradicional é melhor, mais justo, mais autêntico, mais<br />

nacional, mais próprio desta ou daquela classe, mais humano, mais<br />

generoso, mais enraizado”) sobrepõe-se ao funcional (no entanto,<br />

responsável em última instância por aquilo que se diz procurar alcançar<br />

com a política de marca tradicional), quando não o elimina. No que se<br />

refere ao lugar de destaque aberto à cultura popular, seria interessante<br />

investigar se a noção de que é mais estável, mais duradoura (e portanto<br />

mais antiga, mais “histórica”) que as outras já estava presente nos<br />

estudos culturais desde seus primeiros instantes ou se neles se<br />

introduziu a posteriori em virtude de construções teóricas mais<br />

abrangentes que requeriam a afirmação dessa qualidade embora<br />

contra as evidências disponíveis. Seja como for, a insistência nessa tese<br />

no início do século 21, quando não mais é possível <strong>def</strong>ender a<br />

invariabilidade sequer dos costumes, apenas pode apontar para a<br />

permanência de ideias empedradas e emparedadas (assim é a ideologia)<br />

a respeito de uma dada realidade social ou para o desejo de distorcer<br />

essa realidade com o objetivo de alcançar um poder (político efetivo ou<br />

simbólico) e mantê-lo. Cultura popular hoje, no Brasil, é acima de tudo<br />

a televisão, algo que em princípio, supostamente, os <strong>def</strong>ensores da<br />

política cultural popular tradicional não pretenderiam apoiar, sobretudo<br />

porque a cultura da televisão é também a cultura do mercado ao qual<br />

se pensa que a popular se opõe... (A distorção, intencional ou por<br />

ignorância, costuma aliás ser a regra neste campo; o caráter nacional<br />

do popular é uma dessas deslocações, e uma dupla deslocação, uma<br />

vez que o nacionalismo tem sido na história uma invenção antes<br />

requerida pelos setores medianos da população, a chamada classe<br />

média, muito mais do que proposta e exigida pelas chamadas camadas<br />

populares.)<br />

A menção aos costumes recoloca a discussão na trilha do que,<br />

afinal, é ou não é cultura em situação de política e de ação cultural,<br />

daquilo que pode prioritariamente receber a atenção de uma política<br />

cultural voltada para o desenvolvimento humano e, subsidiariamente,<br />

para o desenvolvimento sustentável, termos nos quais hoje se costuma<br />

26 A <strong>CULTURA</strong> E <strong>SEU</strong> <strong>CONTRÁRIO</strong>

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