10.05.2013 Views

A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PRINCÍPIO<br />

IDENTITÁRIO<br />

(SOCIALIDADE 2)<br />

(Efeito do discurso 2)<br />

(D, d)<br />

planas como uma lâmina de alumínio; algum artista, no entanto,<br />

preferirá pintar sobre a superfície curva de um vaso: será difícil ver<br />

claramente a cena, entendê-la: esse, o seu objetivo. Mais do que isso,<br />

arte é a crítica (a crítica do hábito, para começar: a crítica da cultura), a<br />

procura crítica, a especulação crítica. Em síntese, cultura é hábito; arte,<br />

liberdade. O programa (a política cultural) para a obra de cultura será<br />

codificado, duplicável. Para a arte, o programa (a política cultural) é<br />

casuístico: cada caso é um caso: a insistência no recurso à divisão da<br />

arte pictórica por escolas de representação (isso é impressionismo,<br />

isto é expressionismo) para assim conseguir-se uma aproximação à<br />

obra de arte é a transposição dos princípios da cultura para o universo<br />

da arte: a confusão, o desconhecimento que derivam dessa operação<br />

não podem ser nunca suficientemente reprovados, e no entanto<br />

constituem a regra. Cada obra de arte teria de ser abordada a partir do<br />

que ela oferece de específico e único.<br />

identidade<br />

a identidade do e<br />

pelo mesmo, pela<br />

repetição;<br />

via afirmativa<br />

da identidade<br />

142 A <strong>CULTURA</strong> E <strong>SEU</strong> <strong>CONTRÁRIO</strong><br />

metafórico diferença<br />

a identidade pelo<br />

contraste, pelo<br />

inédito: via negativa<br />

da identidade<br />

metonímico<br />

O efeito 2 do discurso da obra não é posterior ao 1: vêm juntos, um<br />

reforça o outro, para que um se dê é preciso a ocorrência do outro:<br />

relação de interdependência entre os dois. A obra de cultura produz<br />

identidade, garante a identidade e garante a si mesma pela identidade<br />

que gera. O mito da obra de cultura costuma ser o mito da identidade<br />

e a obra de cultura é o próprio rito que sustenta esse mito. A narrativa<br />

que faz a obra de cultura costuma ser a narrativa da identidade, antes<br />

e acima de qualquer outra narrativa incidental que possa ter (assim<br />

como se fala, no cinema, de música incidental: incide na estória sem ser<br />

seu elemento central, embora o modifique). A totalização que faz é a<br />

da identidade, e tudo na obra de cultura converge para esse ponto,<br />

apesar dos desvios que possa ter (as narrativas segundas). Nesse foco,<br />

o efeito da obra de arte é a diferença: a identidade inicial gerada pela<br />

arte é a da diferença, não a da repetição cultural. No princípio, na cultura,<br />

está a afirmação. No princípio, na arte, está a negação. A identidade na<br />

arte é divergente: abre-se a identidade para um leque de possibilidades,<br />

ao passo que na cultura a identidade se fecha num foco, num pólo<br />

gerador. A identidade na arte surge pelo contraste, não pelo reforço: é<br />

a via negativa de elaboração da identidade, a contrapor-se à via

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!