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aplicado sobre a obra de arte pois tenderá a não apanhar na obra de<br />
arte o que é próprio da arte (pois tenderá a ver na arte apenas aquilo<br />
que vê na cultura). Talvez por isso Voltaire nunca aceitou escrever um<br />
tratado de estética, discutir a estética...<br />
FOCO DO<br />
DISCURSO<br />
(D, d)<br />
MATÉRIA<br />
(D, d)<br />
convergente centralizado divergente multifocal<br />
Tudo que a obra de cultura diz, converge para um mesmo ponto: a<br />
identidade, por exemplo; a coesão nacional, por exemplo. O discurso<br />
da obra de arte é divergente: seu conteúdo se abre em leque: na pintura<br />
que Velásquez faz de um rei, a figura dessa pessoa é tão importante<br />
quanto a figura do cavalo que monta: o foco apenas aparentemente é<br />
o rei, ou: sem os outros focos, o foco do rei nada é; na cena imaginária<br />
que apresenta de uma cidade espanhola, a pintura de El Greco é tanto<br />
“sobre” as figuras de pessoas em primeiro plano quanto “sobre” a cidade<br />
em segundo plano e “sobre” o céu acima dela. O programa (de política<br />
cultural) para a obra de cultura pode centralizar-se em um ou alguns<br />
poucos pontos. Se fizer o mesmo em relação à obra de arte, o programa<br />
a reduzirá a ponto de torná-la irreconhecível: mutilada: exemplo, a<br />
monitoria de arte que aborda apenas o conteúdo pouco ou nada estará<br />
dizendo sobre a obra em si.<br />
Seria possível dizer que uma obra de cultura poderia tornar-se<br />
cada vez mais aberta, passando sua estrutura eventualmente de<br />
convergente para divergente. Mas, nesse caso a obra estará deixando<br />
de ser de cultura para transformar-se em obra de arte.<br />
normas, hábito<br />
regras<br />
(arquivo, discurso)<br />
codificado<br />
regulamentar<br />
desregulação<br />
valores autônomos<br />
(texto); a crítica<br />
O que constitui e produz a obra de cultura — sua matéria: forma e<br />
conteúdo não bastam para descrever e dar conta de uma obra de<br />
cultura ou arte — é o hábito, o fazer-se assim porque assim se faz; e<br />
também as normas, as regras: o rito produtivo é estrito. Repetir o rito<br />
(recorrer ao arquivo, nos termos de Foucault: copiar o discurso já feito)<br />
é a norma. Na arte, cada obra, como texto diversificado, tem seus valores,<br />
faz seus valores. O princípio da arte é desregulamentar o que existe —<br />
relativamente: tampouco a arte existe no vazio do método: certos modos<br />
da arte existem também em virtude das normas pelo menos na<br />
estrutura central (exemplo, a pintura se faz em tela, em superfícies<br />
“<strong>CULTURA</strong> É A REGRA; ARTE, A EXCEÇÃO” 141<br />
casuístico<br />
anárquico