10.05.2013 Views

A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

RETÓRICA dialética e síntese<br />

totalizante<br />

MODO<br />

DISCURSIVO<br />

narrativa abrangente fragmento<br />

(ato unitário)<br />

138 A <strong>CULTURA</strong> E <strong>SEU</strong> <strong>CONTRÁRIO</strong><br />

tecno-científico justaposição;<br />

a totalidade e<br />

a síntese são quimera<br />

poético<br />

O cultural, que é totalizante, gera um discurso totalizante que se<br />

apresenta como a síntese de uma multiplicidade (senão uma<br />

diversidade) de aspectos por ele abarcados. Nenhuma obra de arte fala<br />

de uma totalidade – nenhuma totalidade específica: Hamlet não diz a<br />

totalidade do homem inglês do século 16 ou 17 e do homem hoje, nem<br />

a síntese de um e outro: Édipo não é a síntese nem a totalidade do<br />

homem grego e do homem contemporâneo: para a arte, a síntese (e a<br />

totalidade) é uma quimera (ou um suplício, armadilha), portanto a arte<br />

não opera uma dialética (a composição entre contrários) (a ambição de<br />

alguma ciência, ou daquilo que como tal é visto, como a psicanálise, de<br />

proceder a sínteses a partir da arte chama a atenção por fazer, a partir<br />

da arte, uma operação que à arte é estranha; o mais provável é que<br />

esse procedimento gere, não uma ciência,mas outra arte, outro modo<br />

da arte ou, em todo caso, e pelo menos, de literatura). A arte opera<br />

justaposições: uma coisa ao lado da outra, fazendo o suficiente para que<br />

uma coisa conviva com outra sem se fundir uma na outra. O programa<br />

(a política cultural) para a arte é uma poética, será melhor caso se<br />

aproxime do modo da poética; o programa para o cultural é de natureza<br />

técnica, no limite científica: a tecno-ciência, como diz Derrida (a<br />

possibilidade de um programa tecno-científico servir-se bem de uma<br />

poética para alcançar seus fins é maior que o contrário, isto é., um<br />

programa para a arte assumindo as cores tecno-científicas). A poética<br />

de uma obra (penso na Poética de Aristóteles) transformada em<br />

programa de produção (de reprodução) vira cultura: é o caso do cinema<br />

norte-americano que fez das normas descritas na Poética (as peripécias,<br />

a flexão/inflexão etc.) de Aristóteles um programa de operação-tipo,<br />

razão pela qual o cinema norte-americano é, em princípio e salvo<br />

demonstração em contrário, peça de cultura enquanto o cinema de<br />

Glauber e Godard é, em princípio e salvo demonstração em contrário,<br />

arte. Não espanta que o cinema dos EUA enverede por um programa<br />

de ação técnico-científico: faz parte de sua lógica estrutural.<br />

mosaico<br />

Descobrindo uma verdade revelada (dizendo que o faz), o cultural<br />

é uma narrativa: não por nada o samba da escola de samba é um sambaenredo,<br />

denominação que não poderia ser mais adequada: no cultural

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!