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A CULTURA E SEU CONTRÁRIO TC def.pmd

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original da mulher, aceitando-a como ela era: para ele e para sua cultura,<br />

que deveria predominar sobre a cultura da visitante, aquela italiana<br />

não era bem-vinda em si e assim como era, apenas pelo fato de ser o<br />

que era. Se a observação do crítico de jazz for válida, uma cultura que<br />

não recebe o qe vem de fora assim como é, não é cultura. Mas, é que<br />

aquele crítico não usou a palavra cultura e, sim, a palavra civilização;<br />

nesse caso, aquela cultura que não recebeu a jornalista italiana como<br />

ela será uma cultura mesmo assim, porém não será nunca civilização. A<br />

cultura pode ser um modo fechado, um modo para uso interno (de um<br />

grupo), mas a civilização é algo que transcende a cultura: civilização,<br />

como se pode entendê-la melhor, é a cultura que se propõe como<br />

modelo ou, melhor, a cultura que é tomada como modelo a imitar: uma<br />

cultura que tenha por norma não receber bem, não será uma cultura<br />

imitável: nunca será uma civilização. A arte pode não receber bem quem<br />

a ela se expõe: mas não discrimina: quando não recebe bem, não recebe<br />

bem a qualquer um, sem distinção.<br />

MODO IDEATIVO descoberta<br />

construção<br />

repetição<br />

programático<br />

invenção<br />

desconstrução<br />

interrupção<br />

O cultural quer descobrir onde está sua verdade, sua essência, sua<br />

natureza: seu ser, supõe-se, está em alguma coisa que, vindo à luz,<br />

vitaliza todos aqueles e tudo aquilo que a ele se referem. O cultural<br />

pretende ser uma descoberta. O cultural, a seu ver, sempre descobre<br />

uma verdade oculta. Uma vez descoberto o modo de ser, o modo assim<br />

será e já trará em si seu modo de representação. O cultural pretende<br />

que existe uma pertinência necessária entre a representação que adota<br />

e a coisa em si: supõe a existência de um elo imperioso entre a<br />

representação e o referente: uma determinada coisa, para ser o que é<br />

(para ser autêntica, para ser daquele cultural, para ser aquele cultural)<br />

deve ser assim. O cultural, sem dizê-lo, pretende vigorar em virtude de<br />

um alegado elo icônico ou indicial entre a coisa e sua representação por<br />

esse cultural: a representação reproduziria alguma qualidade do<br />

referente (caso do icônico: assim como uma foto se parece com o<br />

fotografado) ou a ele estaria espacialmente vinculada (caso do indicial:<br />

a camiseta do ídolo do futebol ou da música pop já é um pedaço desse<br />

ídolo). Sendo assim, a única coisa que o cultural poderia fazer, para<br />

justificar-se, seria descobrir essa qualidade, qual esse elemento de<br />

representação fisicamente vinculado à coisa representada, e onde ele<br />

ou ela está. O cultural propõe-se assim como operação de arqueologia:<br />

descobre-se parte por parte como deve ser a representação (por<br />

“<strong>CULTURA</strong> É A REGRA; ARTE, A EXCEÇÃO” 135<br />

pragmático

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