Dissertação Fernanda Flaviana de Souza Martins - PUC Minas
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marcada pelos convênios escritos e autorizados pelo Rei. Tais procedimentos<br />
possibilitaram convênios com as Santas Casas <strong>de</strong> Misericórdia.<br />
Em toda a Colônia, no século XIX, durante a fase da assistência caritativa,<br />
as Câmaras Municipais, responsáveis pelas crianças sem-família, foram<br />
omissas ou parciais nessa sua obrigação. Contratando diretamente os<br />
serviços <strong>de</strong> amas-<strong>de</strong>-leite mercenárias ou estabelecendo convênios com as<br />
Misericórdias, as Câmaras Municipais raramente assistiram a todas as<br />
crianças expostas em seu território. (MARCÍLIO, 1998, p.144).<br />
As câmaras municipais contratavam amas-<strong>de</strong>-leite para cuidar das crianças<br />
até o período <strong>de</strong> <strong>de</strong>smame. Em sua gran<strong>de</strong> maioria, as amas-<strong>de</strong>-leite eram mulheres<br />
muito pobres que residiam na cida<strong>de</strong>, solteiras ou casadas, escravas ou ex-<br />
escravas. Contudo, nem todas as crianças eram atendidas, e gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>las<br />
morria logo após o abandono, <strong>de</strong> fome, <strong>de</strong> frio ou comida por animais.<br />
Enfim, pelo <strong>de</strong>scaso das câmaras, muitas crianças morriam precocemente,<br />
outras circulavam <strong>de</strong> casa em casa ou ficavam pelas ruas em busca <strong>de</strong><br />
sobrevivência. Cabe ressaltar que o sistema formal não aboliu o sistema informal,<br />
aquele conhecido como o da criação <strong>de</strong> crianças.<br />
A outra prática i<strong>de</strong>ntificada no sistema formal era nomeada como casas ou<br />
rodas dos expostos, que recebiam bebês abandonados. As rodas <strong>de</strong> expostos<br />
tiveram sua origem na Ida<strong>de</strong> Média, na Itália, no século XII, particularmente com a<br />
aparição das confrarias <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, que se constituíram num espírito <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> socorros mútuos. No Brasil, encontram-se relatos <strong>de</strong> fundação das rodas dos<br />
expostos na Bahia (1726), no Rio <strong>de</strong> Janeiro (1738), em <strong>Minas</strong> Gerais (1832). Essa<br />
prática iniciada no período colonial somente foi extinta na República.<br />
Nas rodas dos expostos, as crianças eram <strong>de</strong>ixadas, sem que houvesse<br />
qualquer contato entre quem as recebia e aqueles que as entregavam. Tal prática<br />
contava com a discrição e sigilo <strong>de</strong> todos os envolvidos, já que as rodas<br />
representavam um meio eficaz <strong>de</strong> proteção da moral da época, pois ocultavam os<br />
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