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Dissertação Fernanda Flaviana de Souza Martins - PUC Minas

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<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m higiênica dos velhos hábitos coloniais. Os novos preceitos contribuíram<br />

para transformar a organização familiar.<br />

Retrospectivamente, no entanto, nota-se que a ação <strong>de</strong>sta pedagogia médica<br />

extravasou os limites da saú<strong>de</strong> individual. A higiene, enquanto alterava o<br />

perfil sanitário da família, modificou também sua feição social. Contribuiu,<br />

junto com outras instâncias sociais, para transformá-la na instituição conjugal<br />

e nuclear característica dos nossos tempos. Converteu, além do mais, os<br />

predicados físicos, psíquicos e sexuais <strong>de</strong> seus indivíduos em insígnias <strong>de</strong><br />

classe social. A família nuclear e conjugal, higienicamente tratada e regulada,<br />

tornou-se, no mesmo movimento, sinônimo histórico <strong>de</strong> família burguesa.<br />

(COSTA, 1999, p.12).<br />

Na nova família, conhecida como burguesa, a omissão dá lugar a uma nova<br />

divisão dos papéis entre os homens e as mulheres. Ao pai cabia prover a família, e a<br />

mãe ocupava-se dos cuidados e da educação dos filhos. A criança <strong>de</strong>veria ser<br />

preparada física, intelectual e moralmente para servir a nação. Com isso, “[...] os<br />

papéis da família e da infância eram re<strong>de</strong>finidos, <strong>de</strong> modo a se contraporem ao<br />

antigo ethos familiar”. (COSTA, 1999, p.170).<br />

A preparação das crianças se dava também, segundo a perspectiva <strong>de</strong><br />

gênero, no sentido <strong>de</strong> que os meninos eram preparados para as ativida<strong>de</strong>s públicas<br />

e <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda, enquanto, para as meninas, estava reservado o espaço<br />

doméstico no qual eram socializadas para o casamento e a maternida<strong>de</strong>.<br />

Costa (1999), então, conclui que<br />

o pragmatismo higiênico intuía que nem todos po<strong>de</strong>riam continuar sendo<br />

pais e proprietários dos filhos. Aos que não tivessem condições <strong>de</strong> manter<br />

as duas situações restava ser pai... A época em que todos se davam o<br />

direito <strong>de</strong> ser pais e patrões estava encerrada. A higiene revogou essa<br />

pretensão mostrando os <strong>de</strong>sastres causados por ela. Os direitos do Estado<br />

propugnavam pelos direitos dos filhos. A nova criança reclamava um casal<br />

que, ao invés <strong>de</strong> comportar-se como proprietário, aceitasse,<br />

prioritariamente, ser tutor. Tutor <strong>de</strong> filhos cujo verda<strong>de</strong>iro proprietário era a<br />

nação, o país. (COSTA, 1999, p. 170).<br />

O autor analisa que o amor entre pais e filhos, <strong>de</strong>sejado pelos higienistas,<br />

concretizou-se na família burguesa mo<strong>de</strong>rna em que os pais se <strong>de</strong>dicavam aos<br />

filhos. A família contemporânea assumiu, como se verá, os valores mo<strong>de</strong>rnos da<br />

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