Dissertação Fernanda Flaviana de Souza Martins - PUC Minas

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09.05.2013 Views

influenciadas pelos costumes europeus. O historiador francês Ariès (1973) descreve a transição da família medieval para a família moderna. Ariès (1973) destaca que o abandono das crianças na Europa estava ligado à falta do sentimento de infância. Não havia a consideração da infância como época específica que necessitava de cuidados especiais. Com a modernidade, a necessidade de cuidado dispensado às crianças passou a inspirar novos sentimentos, afetividade caracterizada por Ariès (1973) como o sentimento moderno da família. A transição para a Idade Moderna inicia-se por volta do século XV chegando até a Revolução Francesa. Com isso, as influências européias sobre a infância e a família chegaram ao nosso País pelos padres e, mais tarde, com os higienistas, que tiveram formação européia nos meados do século XIX. Não é objetivo este capítulo alongar-se na história da família no mundo ocidental. As referências feitas a Ariès objetivaram contextualizar a história da família no Brasil no contexto da história da família no mundo ocidental. No Brasil, no período colonial, a estrutura econômica tinha base agrária e latifundiária e valeu-se do trabalho escravo. Isto, segundo Samara (1983), provocou a instalação de uma sociedade do tipo paternalista, em que as relações de caráter pessoal assumiram vital importância. A família patriarcal era a base desse sistema mais amplo, em que era estimulada a dependência da autoridade paterna. Para Samara (1983), no período colonial, a família brasileira incorporava ao seu núcleo componentes de várias origens, que se relacionavam de alguma forma com o senhor da casa, sua mulher e prole legítima. Na casa da família patriarcal, eram incorporados diversas indivíduos e mesmo outras famílias tanto pelos laços de parentesco, amizade, compadrio, quanto pelas relações de dependência e 22

submissão. Encontrar-se-ão, entre outros personagens, os amigos, os filhos ilegítimos, os afilhados, os expostos como eram chamadas as crianças abandonadas e os escravos. Todos esses personagens conferiam à família patriarcal o caráter de família extensa. Embora essa não fosse a única forma de composição e organização familiar desse período, essa era a família da elite e, portanto, tomada como modelo hegemônico. A família colonial era um verdadeiro clã, uma imensa legião de agregados submetidos à autoridade indiscutível que emanava da temida e venerada figura do patriarca. Temida, porque detinha o direito de controlar, com o uso da força física, a mulher, os filhos e os agregados. Venerada, porque o patriarca encarnava, no coração e na mente de seus comandados dependentes e submetidos, todas as virtudes e qualidades possíveis a um ser humano. O uso da força física por parte do senhor patriarcal estava assegurado, como relata Azevedo (1985), pelas Ordenações do Reino, que “[...] permitia ao marido emendar a mulher das más manhas pelo uso da chibata” (AZEVEDO, 1985, p.37). A família patriarcal enfatizava a autoridade máxima do marido, relegando à esposa um papel mais restrito, como exposto por Samara (1983, p.14) “As mulheres, depois de casadas, passavam da tutela do pai para a do marido, cuidando dos filhos e da casa no desempenho da função doméstica que lhes estava reservada”. Os filhos também estavam submetidos à autoridade paterna mesmo depois de casados e eram tratados como adultos incompetentes, segundo Costa (1999). Nesse período, os casamentos eram arranjados sem considerar o amor entre cônjuges, uma vez que visavam os interesses patrimoniais e econômicos, sobretudo, os da elite. As mulheres deveriam procriar e obedecer ao marido. Os 23

submissão. Encontrar-se-ão, entre outros personagens, os amigos, os filhos<br />

ilegítimos, os afilhados, os expostos como eram chamadas as crianças<br />

abandonadas e os escravos. Todos esses personagens conferiam à família<br />

patriarcal o caráter <strong>de</strong> família extensa. Embora essa não fosse a única forma <strong>de</strong><br />

composição e organização familiar <strong>de</strong>sse período, essa era a família da elite e,<br />

portanto, tomada como mo<strong>de</strong>lo hegemônico.<br />

A família colonial era um verda<strong>de</strong>iro clã, uma imensa legião <strong>de</strong> agregados<br />

submetidos à autorida<strong>de</strong> indiscutível que emanava da temida e venerada figura do<br />

patriarca. Temida, porque <strong>de</strong>tinha o direito <strong>de</strong> controlar, com o uso da força física, a<br />

mulher, os filhos e os agregados. Venerada, porque o patriarca encarnava, no<br />

coração e na mente <strong>de</strong> seus comandados <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e submetidos, todas as<br />

virtu<strong>de</strong>s e qualida<strong>de</strong>s possíveis a um ser humano.<br />

O uso da força física por parte do senhor patriarcal estava assegurado, como<br />

relata Azevedo (1985), pelas Or<strong>de</strong>nações do Reino, que “[...] permitia ao marido<br />

emendar a mulher das más manhas pelo uso da chibata” (AZEVEDO, 1985, p.37).<br />

A família patriarcal enfatizava a autorida<strong>de</strong> máxima do marido, relegando à esposa<br />

um papel mais restrito, como exposto por Samara (1983, p.14) “As mulheres, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> casadas, passavam da tutela do pai para a do marido, cuidando dos filhos e da<br />

casa no <strong>de</strong>sempenho da função doméstica que lhes estava reservada”. Os filhos<br />

também estavam submetidos à autorida<strong>de</strong> paterna mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> casados e<br />

eram tratados como adultos incompetentes, segundo Costa (1999).<br />

Nesse período, os casamentos eram arranjados sem consi<strong>de</strong>rar o amor entre<br />

cônjuges, uma vez que visavam os interesses patrimoniais e econômicos,<br />

sobretudo, os da elite. As mulheres <strong>de</strong>veriam procriar e obe<strong>de</strong>cer ao marido. Os<br />

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