Dissertação Fernanda Flaviana de Souza Martins - PUC Minas
Dissertação Fernanda Flaviana de Souza Martins - PUC Minas
Dissertação Fernanda Flaviana de Souza Martins - PUC Minas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A negligência é reconhecida por Ana, Carmem e Antônio como conseqüência<br />
<strong>de</strong> suas dificulda<strong>de</strong>s financeiras: falta <strong>de</strong> alimentos, roupas e outros. Os pais não<br />
expõem as condições em que as crianças se encontravam (sujas e <strong>de</strong>snutridas).<br />
Já, para Beatriz, a sua filha foi abrigada por motivo <strong>de</strong> inveja <strong>de</strong> uma vizinha<br />
sua que gostava <strong>de</strong> Bento, seu namorado, e, com isso, a <strong>de</strong>nunciou.<br />
115<br />
“Até que aconteceu uma <strong>de</strong>sgraça lá perto da minha casa que<br />
eu nunca esqueci <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>sgraça, que a mulher lá perto <strong>de</strong><br />
casa <strong>de</strong>nunciou para o Conselho Tutelar, por causa <strong>de</strong> inveja<br />
mesmo, sabe. Ela ficava com meu namorado e eu ficava com<br />
ele, eu não sabia. Aí ela pegou essa <strong>de</strong>sgraça, minha menina<br />
ia ta aqui até hoje, eu agra<strong>de</strong>ço a ela”. (Beatriz).<br />
Novamente encontra-se na fala <strong>de</strong> Beatriz uma tentativa <strong>de</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
atribuindo a causa do abrigamento da filha à atitu<strong>de</strong> da vizinha e, <strong>de</strong>ssa forma, não<br />
se responsabilizando pelo fato.<br />
As <strong>de</strong>núncias feitas pelos vizinhos e parentes revelam que as relações<br />
afetivas entre pais e filhos não estavam sendo consi<strong>de</strong>radas a<strong>de</strong>quadas pelo próprio<br />
grupo <strong>de</strong> pertencimento da família. Essas famílias foram <strong>de</strong>nunciadas por pessoas<br />
que perceberam algo negativo no contexto familiar que, <strong>de</strong> certa forma,<br />
prejudicariam o <strong>de</strong>senvolvimento das crianças. A origem <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>núncias ajuda a<br />
perceber que a negligência não é sinônimo <strong>de</strong> pobreza, uma vez que as outras<br />
famílias, igualmente pobres, percebem e buscam recursos <strong>de</strong> proteção da criança<br />
vítima <strong>de</strong>ssa violência.<br />
A negligência não é sinônimo <strong>de</strong> pobreza. Assim se pensasse, as <strong>de</strong>mais<br />
crianças pobres que moram no entorno da família <strong>de</strong>nunciada também estariam<br />
abrigadas. Não se po<strong>de</strong> dizer que uma família é negligente por ser pobre, mas<br />
também não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que a situação <strong>de</strong> pobreza po<strong>de</strong><br />
potencializar a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> negligência.