Dissertação Fernanda Flaviana de Souza Martins - PUC Minas

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09.05.2013 Views

poucos meses de vida. Bianca ainda vive no abrigo, e Beatriz não a visita com freqüência. No caso de Antônio, ele reconhece que as práticas educativas utilizadas pelos seus pais, muitas vezes, foram violentas, mas, ainda assim, as considera adequadas e eficientes. Durante a entrevista, Antônio relata que, no tempo em que fazia uso de bebidas alcoólicas, ficava muito nervoso com os seus filhos. Atualmente, procura conversar com eles. O ponto em comum das infâncias dos pais e dos filhos é o contexto de pobreza. A segunda geração dessas famílias passou, porém, por um agravamento da pobreza pela falta de acesso à educação, ao emprego e à saúde entre outros fatores. São famílias desamparadas e sem suporte emocional. Outro ponto em comum é a falta de práticas de brincadeiras entre os pais e os filhos. Nas falas dos pais, o brincar da criança significa brincar sozinho ou com outras crianças, mas, em momento nenhum, o brincar entre pais e filhos. Em ambos os casos – dos castigos físicos e do brincar – percebe-se a repetição das práticas vivenciadas na própria infância. 5.2 Categoria nº. 02 - Cuidados com os filhos versus ambiente facilitador Sobre o relacionamento conjugal nas famílias entrevistadas, percebe-se que o casamento de Carmem e Antônio sofreu os impactos da falta de emprego. Em suas falas, vê-se a importância do emprego na vida familiar. Para eles, é dever do homem prover a família e, da mulher, cuidar dos filhos. A falta do emprego abalou essa 108

estrutura, o que levou Antônio ao desespero, a ponto de abandonar a família. Para Antônio, a saída de casa significou a procura de emprego para manter a sobrevivência da família. Para Carmem, entretanto, isso denotou o abandono total da família. A presença do homem dentro de casa significava para ela uma esperança de sobrevivência. Apesar da falta de dinheiro, a saída do marido do cenário provocou uma sensação imensa de desamparo em Carmem. Para Antônio, trabalho é a sua vida. Com seus cinqüenta e poucos anos, ele é de uma geração para a qual o homem tem o dever de cuidar financeiramente da família. Em sua fala, expõe que Carmem não deva trabalhar, pois é ele quem tem essa obrigação. Ela fica responsável por cuidar das crianças e da casa. A carteira profissional, atualmente assinada, simboliza, para ele, a possibilidade de manutenção de sua família. No que se refere aos parceiros de Ana e Beatriz, a falta de estudo e de condições de vida adequadas foram alguns dos fatores que levaram esses jovens à criminalidade e às drogas. O companheiro de Ana, apesar do envolvimento com as drogas, tentava prover a família por meio de subempregos. Ele recolhia ferro-velho para venda e compra de alimentos. Ana, com a ajuda de outros, conseguiu perceber que, para sua sobrevivência e a de sua família, seria necessário deixar o companheiro. Apesar de sua decisão, Ana sofre, pois ainda gosta muito do parceiro. Ela sonha em um dia poder casar-se de verdade com o pai de seus filhos. Na verdade, Ana foi pressionada a escolher entre ficar com os filhos ou com o parceiro, sendo que, se fizesse a escolha pelo parceiro, poderia perder a guarda dos filhos pelo fato de a convivência com o mesmo representar um risco para as crianças. Em sua fala e gestos, percebe-se que 109

estrutura, o que levou Antônio ao <strong>de</strong>sespero, a ponto <strong>de</strong> abandonar a família. Para<br />

Antônio, a saída <strong>de</strong> casa significou a procura <strong>de</strong> emprego para manter a<br />

sobrevivência da família. Para Carmem, entretanto, isso <strong>de</strong>notou o abandono total<br />

da família. A presença do homem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa significava para ela uma<br />

esperança <strong>de</strong> sobrevivência. Apesar da falta <strong>de</strong> dinheiro, a saída do marido do<br />

cenário provocou uma sensação imensa <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparo em Carmem.<br />

Para Antônio, trabalho é a sua vida. Com seus cinqüenta e poucos anos, ele<br />

é <strong>de</strong> uma geração para a qual o homem tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> cuidar financeiramente da<br />

família. Em sua fala, expõe que Carmem não <strong>de</strong>va trabalhar, pois é ele quem tem<br />

essa obrigação. Ela fica responsável por cuidar das crianças e da casa. A carteira<br />

profissional, atualmente assinada, simboliza, para ele, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

manutenção <strong>de</strong> sua família.<br />

No que se refere aos parceiros <strong>de</strong> Ana e Beatriz, a falta <strong>de</strong> estudo e <strong>de</strong><br />

condições <strong>de</strong> vida a<strong>de</strong>quadas foram alguns dos fatores que levaram esses jovens à<br />

criminalida<strong>de</strong> e às drogas. O companheiro <strong>de</strong> Ana, apesar do envolvimento com as<br />

drogas, tentava prover a família por meio <strong>de</strong> subempregos. Ele recolhia ferro-velho<br />

para venda e compra <strong>de</strong> alimentos.<br />

Ana, com a ajuda <strong>de</strong> outros, conseguiu perceber que, para sua sobrevivência<br />

e a <strong>de</strong> sua família, seria necessário <strong>de</strong>ixar o companheiro. Apesar <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>cisão,<br />

Ana sofre, pois ainda gosta muito do parceiro. Ela sonha em um dia po<strong>de</strong>r casar-se<br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> com o pai <strong>de</strong> seus filhos. Na verda<strong>de</strong>, Ana foi pressionada a escolher<br />

entre ficar com os filhos ou com o parceiro, sendo que, se fizesse a escolha pelo<br />

parceiro, po<strong>de</strong>ria per<strong>de</strong>r a guarda dos filhos pelo fato <strong>de</strong> a convivência com o<br />

mesmo representar um risco para as crianças. Em sua fala e gestos, percebe-se que<br />

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