Download - Instituto de Matemática - UFRGS

Download - Instituto de Matemática - UFRGS Download - Instituto de Matemática - UFRGS

09.05.2013 Views

Um Curso de Cálculo e Equações Diferenciais com Aplicações 1 Luís Gustavo Doninelli Mendes 23 1 Continuarei acrescentando material, além de corrigir possíveis erros ou imperfeições. Por isso sugiro que o improvável leitor não imprima o texto. Quando for estudá-lo dê uma olhada no meu site se já há uma versão mais atualizada. Sugestões ou correções, por favor as envie para mendes.lg@gmail.com 2 Professor Adjunto do Departamento de Matemática da UFRGS 3 Última atualização: 09/05/2012

Um Curso <strong>de</strong> Cálculo e Equações<br />

Diferenciais com Aplicações 1<br />

Luís Gustavo Doninelli Men<strong>de</strong>s 23<br />

1 Continuarei acrescentando material, além <strong>de</strong> corrigir possíveis erros ou imperfeições. Por isso<br />

sugiro que o improvável leitor não imprima o texto. Quando for estudá-lo dê uma olhada no<br />

meu site se já há uma versão mais atualizada. Sugestões ou correções, por favor as envie para<br />

men<strong>de</strong>s.lg@gmail.com<br />

2 Professor Adjunto do Departamento <strong>de</strong> <strong>Matemática</strong> da <strong>UFRGS</strong><br />

3 Última atualização: 09/05/2012


Índice<br />

Parte 1. Cálculo Diferencial e Integral e primeiras Aplicações 13<br />

Capítulo 1. Introdução 15<br />

1. O que é o Cálculo 15<br />

2. Sobre o Curso 16<br />

3. Sobre os Gráficos e Figuras 16<br />

4. Alerta aos estudantes 16<br />

5. Livros-texto e Referências 17<br />

6. Programas úteis 18<br />

Capítulo 2. Alguns dos objetivos do Cálculo 21<br />

1. Funções e seus domínios 21<br />

2. Função 23<br />

3. Funções <strong>de</strong>finidas a partir <strong>de</strong> outras funções 23<br />

4. Diferentes domínios <strong>de</strong> funções 24<br />

5. Gráfico <strong>de</strong>scontínuo, mas que mesmo assim é gráfico 25<br />

6. Função positiva, negativa e zeros ou raízes 25<br />

7. Função crescente ou <strong>de</strong>crescente 26<br />

8. Máximos e mínimos 28<br />

9. Exercícios 29<br />

Capítulo 3. Proprieda<strong>de</strong> básicas dos números Reais 31<br />

1. Os Reais como sistema <strong>de</strong> números: não dividirás por zero ! 31<br />

2. Or<strong>de</strong>m nos Reais: não tirarás a raíz quadrada <strong>de</strong> números negativos ! 32<br />

3. Proprieda<strong>de</strong>s gerais das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s 33<br />

4. Intervalos e suas utilida<strong>de</strong>s 36<br />

5. Metamorfoses <strong>de</strong> cúbicas 39<br />

6. Exercícios 46<br />

Capítulo 4. Sequências e seus limites 47<br />

1. Sequências 47<br />

2. Limites <strong>de</strong> sequências 48<br />

3. Definição e Proprieda<strong>de</strong>s fundamentais 49<br />

4. Exercícios 53<br />

Capítulo 5. Limites <strong>de</strong> funções <strong>de</strong>finidas em intervalos 57<br />

1. Operações elementares com limites <strong>de</strong> funções 58<br />

2. A <strong>de</strong>finição usual com ǫ e δ 59<br />

3. Limites quando x ten<strong>de</strong> ao infinito 61<br />

3


4 ÍNDICE<br />

4. Quando a parte é do mesmo tamanho do todo 66<br />

5. Exercícios 68<br />

Capítulo 6. A noção <strong>de</strong> Continuida<strong>de</strong> 71<br />

1. Operações com funções contínuas 72<br />

2. Polinômios, funções racionais e trigonométricas 74<br />

3. Continuida<strong>de</strong> da função inversa 78<br />

4. Dois teoremas fundamentais sobre funções contínuas 79<br />

5. Primeiras aplicações do T.V.I 79<br />

6. Raízes <strong>de</strong> polinômios cujo grau é ímpar 79<br />

7. Raízes simples e fatoração <strong>de</strong> polinômios 81<br />

8. Possíveis raízes Racionais <strong>de</strong> polinômios a coeficientes inteiros 83<br />

9. Exercícios 84<br />

Capítulo 7. Geometria Analítica Plana 87<br />

1. Equações <strong>de</strong> retas, coeficientes angular e linear 87<br />

2. Ortogonalida<strong>de</strong> 89<br />

3. Teorema <strong>de</strong> Tales no círculo 90<br />

4. A equação da reta <strong>de</strong> Euler 91<br />

5. A inversa como reflexão <strong>de</strong> gráfico na diagonal 99<br />

6. O método <strong>de</strong> Descartes para as tangentes a um gráfico 100<br />

7. Um problema da Putnam Competition, n. 2, 1939 104<br />

8. Exercícios 104<br />

Capítulo 8. A Tangente ao gráfico, segundo o Cálculo 107<br />

1. Retas secantes a um gráfico 107<br />

2. A reta tangente a um gráfico 107<br />

3. A reta tangente ao seno em (0,0) é a diagonal 109<br />

4. Interpretação Física da reta tangente 113<br />

5. Exercícios 113<br />

Capítulo 9. A <strong>de</strong>rivada 115<br />

1. Definição, primeiras proprieda<strong>de</strong>s e exemplos simples<br />

2. Um Árbitro que só avalia as inclinações<br />

115<br />

117<br />

3. Derivadas da soma e da diferença 119<br />

4. Problema da Putnam Competition, n. 68, 1993 120<br />

5. A segunda <strong>de</strong>rivada 123<br />

6. Exercícios 124<br />

Capítulo 10. Sinal da <strong>de</strong>rivada e crescimento 127<br />

1. Teoremas <strong>de</strong> Rolle, Lagrange e Cauchy 127<br />

2. O Teorema 0 das Equações Diferenciais 131<br />

3. Critérios <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong> <strong>de</strong>crescimento 133<br />

4. Uma confusão frequente sobre o significado do sinal da <strong>de</strong>rivada 134<br />

5. Descontinuida<strong>de</strong> da função <strong>de</strong>rivada 135<br />

6. Exercícios 136


ÍNDICE 5<br />

Capítulo 11. Aplicações da primeira e segunda <strong>de</strong>rivadas 139<br />

1. Primeiro critério <strong>de</strong> máximos e mínimos 139<br />

2. Critério da segunda <strong>de</strong>rivada 139<br />

3. Um problema típico para os engenheiros 140<br />

4. Mínimos <strong>de</strong> distâncias e ortogonalida<strong>de</strong> 142<br />

5. Concavida<strong>de</strong>s dos gráficos 146<br />

6. Mínimos quadrados e a média aritmética 149<br />

7. Pontos <strong>de</strong> inflexões dos gráficos 151<br />

8. Critério da <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n 152<br />

9. Confecção <strong>de</strong> gráficos <strong>de</strong> polinômios 154<br />

10. Exercícios 155<br />

Capítulo 12. Derivadas <strong>de</strong> seno e cosseno e as leis <strong>de</strong> Hooke 161<br />

1. O cosseno como <strong>de</strong>rivada do seno 161<br />

2. Leis <strong>de</strong> Hooke com e sem atrito 163<br />

3. Exercícios 166<br />

Capítulo 13. Derivada do produto, indução e a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> x n , n ∈ Z. 167<br />

1. Princípio <strong>de</strong> indução matemática 167<br />

2. Derivada do Produto 169<br />

3. Derivadas <strong>de</strong> x −n , ∀n ∈ N 170<br />

4. Raízes múltiplas e fatoração <strong>de</strong> polinômios 171<br />

5. A Regra <strong>de</strong> Sinais <strong>de</strong> Descartes para as raízes <strong>de</strong> um polinômio 173<br />

6. Exercícios 177<br />

Capítulo 14. Derivada da composição <strong>de</strong> funções 179<br />

1. Regra da composta ou da ca<strong>de</strong>ia 179<br />

2. A <strong>de</strong>rivada do quociente 183<br />

3. Uma função que ten<strong>de</strong> a zero oscilando 185<br />

4. Confecção <strong>de</strong> gráficos <strong>de</strong> funções racionais 186<br />

5. Involuções fracionais lineares 189<br />

6. Um problema da Putnam Competition, n. 1, 1938 190<br />

7. Uma função com <strong>de</strong>rivada, mas sem a segunda <strong>de</strong>rivada 192<br />

8. Máximos e mínimos: o problema do freteiro 193<br />

9. Exercícios 205<br />

Capítulo 15. Derivadas <strong>de</strong> funções Implícitas 207<br />

1. Curvas versus gráficos 207<br />

2. Teorema da função implícita 209<br />

3. Reta tangente <strong>de</strong> curva e plano tangente <strong>de</strong> superfície 212<br />

4. Tangentes, pontos racionais <strong>de</strong> cúbicas e códigos secretos 213<br />

5. Derivação implícita <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m 218<br />

6. Exercícios 220<br />

Capítulo 16. Funções inversas e suas <strong>de</strong>rivadas 221<br />

1. Derivada <strong>de</strong> y = √ x 222<br />

2. Distância versus quadrado da distância 223


6 ÍNDICE<br />

3. Derivada da “função”x 1<br />

n, <strong>de</strong> x m<br />

n e <strong>de</strong> x −m<br />

n 223<br />

4. Derivadas do arcoseno e do arcocosseno 225<br />

5. Derivada do arcotangente 228<br />

6. Exercícios 231<br />

Capítulo 17. Taxas relacionadas 235<br />

1. Como varia um ângulo 235<br />

2. Como varia uma distância 236<br />

3. Lei dos cossenos e produto escalar <strong>de</strong> vetores 238<br />

4. Exercícios 241<br />

Capítulo 18. O Método <strong>de</strong> aproximação <strong>de</strong> Newton 243<br />

Capítulo 19. O Princípio <strong>de</strong> Fermat e a refração da luz 247<br />

1. Princípio <strong>de</strong> Fermat 247<br />

2. Refração, distâncias pon<strong>de</strong>radas e Lei <strong>de</strong> Snell 249<br />

3. Exercícios 253<br />

Capítulo 20. As Cônicas e suas proprieda<strong>de</strong>s refletivas 255<br />

1. Distância até uma parábola 255<br />

2. Definição unificada das cônicas 257<br />

3. A Parábola e sua proprieda<strong>de</strong> refletiva 265<br />

4. Prova analítica da proprieda<strong>de</strong> do foco 269<br />

5. A Elipse e sua proprieda<strong>de</strong> refletiva 271<br />

6. A Hipérbole e o análogo da proprieda<strong>de</strong> refletiva 275<br />

7. Família <strong>de</strong> cônicas co-focais ortogonais 281<br />

8. Exercícios 284<br />

Capítulo 21. Integração e o Primeiro Teorema Fundamental<br />

1. Área sob um gráfico positivo<br />

2. Qual função <strong>de</strong>screve as Áreas sob gráficos?<br />

285<br />

285<br />

286<br />

3. Primeira Versão do Primeiro Teorema fundamental do Cálculo 289<br />

4. A Integral e suas proprieda<strong>de</strong>s 291<br />

5. Teorema do valor médio <strong>de</strong> integrais 294<br />

6. A integral in<strong>de</strong>finida e o Primeiro Teorema fundamental 295<br />

7. Existem funções com primeira <strong>de</strong>rivada, mas sem segunda <strong>de</strong>rivada 297<br />

8. Exercícios 298<br />

Capítulo 22. Logaritmo natural e sua inversa, a exponencial 301<br />

1. Existe uma função f ≡ 0 que seja imune à <strong>de</strong>rivação ? 301<br />

2. Proprieda<strong>de</strong>s fundamentais do logaritmo e da exponencial 304<br />

3. log ax , ∀a > 0 e ln|x| 306<br />

4. As funções e x e a x , para a > 0 308<br />

5. x a e sua <strong>de</strong>rivada, a ∈ R. 309<br />

6. Crescimento lento do logaritmo e rápido da exponencial 310<br />

7. Uma observação sobre o termo geral <strong>de</strong> uma série infinita 313<br />

8. Um problema da Putnam Competiton, n. 11, 1951 314


ÍNDICE 7<br />

9. A regra <strong>de</strong> L’Hôpital 315<br />

10. A função x x 319<br />

11. Um problema da Putnam Competition, n. 22, 1961 321<br />

12. Um modo <strong>de</strong> aproximar e por números Racionais 322<br />

13. Funções f(x) g(x) em geral e suas in<strong>de</strong>terminações 323<br />

14. Derivada logarítmica 324<br />

15. Uma função extremamente achatada 326<br />

16. Exercícios 329<br />

Capítulo 23. Segundo Teorema Fundamental e Áreas 335<br />

1. A <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Gregory e Sarasa sobre área 335<br />

2. Segundo Teorema Fundamental do Cálculo 336<br />

3. Regiões entre dois gráficos 337<br />

4. Um problema da Putnam Competition, n. 54, 1993. 340<br />

5. Integral e centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> 343<br />

6. Arquime<strong>de</strong>s e a parábola: prova versus heurística 345<br />

7. Exercícios 348<br />

Capítulo 24. Integração por partes 353<br />

1. Exercícios 356<br />

Capítulo 25. Integração por substituição 359<br />

1. A substituição trigonométrica x = sin(θ) 362<br />

2. Áreas do Círculo e Elipse 363<br />

3.<br />

√ r 2 −x 2 dx 365<br />

4. Mais exemplos da substituição x = sin(θ) 365<br />

5. Substituição trigonométrica x = tan(θ) 367<br />

6.<br />

<br />

Mais<br />

√<br />

exemplos da substituição x = tan(θ)<br />

7. r2 +x2 dx<br />

367<br />

369<br />

8. Substituição trigonométrica x = sec(θ) 369<br />

9. Mais exemplos para a substituição x = sec(θ). 370<br />

√<br />

10. x2 −r2 dx<br />

11. E as da forma<br />

371<br />

<br />

12. Exercícios 371<br />

√ 1<br />

Ax3 +Bx2 dx ? 371<br />

+Cx+D<br />

Capítulo 26. Integração <strong>de</strong> funções racionais<br />

2 −1 1.<br />

<br />

(ax +bx+c) dx<br />

αx+β<br />

2. ax<br />

373<br />

373<br />

2 dx<br />

+bx+c<br />

1 3. Ax<br />

375<br />

3 +Bx2 dx +Cx+D<br />

4. Frações parciais em geral<br />

1 5. (1+x<br />

377<br />

380<br />

2 ) n dx, n ≥ 2<br />

6. Exemplos<br />

383<br />

384<br />

7. Exercícios 387<br />

Capítulo 27. Integrais impróprias 389<br />

1. Um problema da Putnam Competition, n. 2, 1939 391


8 ÍNDICE<br />

2. As primeiras Transformadas <strong>de</strong> Laplace, a função Gama e o fatorial 392<br />

3. Fórmula <strong>de</strong> Euler para o fatorial 396<br />

4. Exercícios 396<br />

Capítulo 28. A curvatura dos gráficos 397<br />

1. O comprimento <strong>de</strong> um gráfico 397<br />

2. Um problema da Putnam Competition, n.2, 1939 399<br />

3. Curvas parametrizadas e seu vetor velocida<strong>de</strong> 399<br />

4. Integrais que ninguém po<strong>de</strong> integrar 401<br />

5. Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um gráfico ou <strong>de</strong> uma curva 402<br />

6. Definição <strong>de</strong> curvatura e sua fórmula 403<br />

7. Qual a curvatura <strong>de</strong> uma quina ? 405<br />

Capítulo 29. Séries convergentes 409<br />

1. Séries k-harmônicas, k > 1. 409<br />

2. A série geométrica 411<br />

3. O teste da razão (quociente) 412<br />

4. Um argumento geométrico para a série geométrica 414<br />

Capítulo 30. Aproximação <strong>de</strong> Números e Funções importantes 415<br />

1. Aproximações <strong>de</strong> raízes quadradas por números racionais 415<br />

2. Raízes quadradas que são irracionais 415<br />

3. Como tirar raíz quadrada só com +,−,×,/ 416<br />

4. Os Reais através <strong>de</strong> sequências <strong>de</strong> números Racionais 418<br />

5. Aproximações <strong>de</strong> e por números Racionais 419<br />

6. Arcotangente e cartografia 421<br />

7. A aproximação <strong>de</strong> π dada por Leibniz 423<br />

8. Aproximações <strong>de</strong> logaritmos 425<br />

9. Aproximação <strong>de</strong> logaritmos <strong>de</strong> números quaisquer 426<br />

10. Aproximação <strong>de</strong> ln(2) 428<br />

11. Exercícios 428<br />

Capítulo 31. Séries numéricas e <strong>de</strong> funções 429<br />

1. Séries numéricas 429<br />

2. Séries <strong>de</strong> potências 431<br />

3. Séries <strong>de</strong> Taylor e os Restos <strong>de</strong> Lagrange, Cauchy e Integral 434<br />

4. A série binomial e sua série <strong>de</strong> Taylor 439<br />

5. Um <strong>de</strong>vaneio sobre os números Complexos 442<br />

6. Exercícios 443<br />

Capítulo 32. O discriminante <strong>de</strong> polinômios <strong>de</strong> grau 3 445<br />

1. Preparação para a fórmula <strong>de</strong> Cardano 445<br />

2. A fórmula <strong>de</strong> Cardano para as três raízes Reais: viagem nos Complexos 449<br />

3. O discriminante como curva 452<br />

4. A curva discriminante entre as cúbicas singulares 454<br />

5. Parametrização dos pontos racionais <strong>de</strong> cúbicas singulares 458<br />

6. Cúbicas singulares aparecem como seções com o plano tangente 459


ÍNDICE 9<br />

Capítulo 33. Discriminante dos polinômios <strong>de</strong> grau 4 463<br />

1. A andorinha: o discriminante como superfície 463<br />

2. Discriminante como envelope <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> retas ou planos 465<br />

Capítulo 34. Apêndice: O expoente 3 comanda a vida ! 4<br />

1. Metabolismo versus massa corporal<br />

467<br />

467<br />

2. Escalas log/log para um experimento 468<br />

3. Reta <strong>de</strong> ajuste - método <strong>de</strong> mínimos quadrados 468<br />

4. A Lei experimental <strong>de</strong> Kleiber 470<br />

5. Justificação racional da Lei <strong>de</strong> Kleiber 471<br />

6. O argumento 472<br />

Parte 2. Equações diferenciais ordinárias e Aplicações 479<br />

Capítulo 35. As primeiras equações diferenciais 481<br />

1. A exponencial e as equações diferenciais 481<br />

2. A <strong>de</strong>finição original <strong>de</strong> Napier para o logaritmo 482<br />

3. Decaimento radioativo e datação 484<br />

4. Equações diferenciais lineares com coeficientes constantes 486<br />

5. Objetos em queda-livre vertical 489<br />

6. Queda ao longo <strong>de</strong> um gráfico 493<br />

7. A curva que minimiza o tempo 496<br />

8. Balística e o Super Mário 500<br />

9. Equações diferenciais lineares em geral 504<br />

10. Um problema da Putnam Competition, n.14, 1954 504<br />

11. Soluções das equações lineares gerais 506<br />

12. Um problema da Putnam Competition, n. 49, 1958. 510<br />

13. As equações <strong>de</strong> Bernoulli e sua redução a equações lineares 511<br />

14. Exercícios 512<br />

Capítulo 36. Aspectos gerais das equações <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m 515<br />

1. Equações diferenciais e metamorfoses <strong>de</strong> curvas 515<br />

2. Equações diferenciais em forma normal e as curvas Isóclinas 517<br />

3. Existência e unicida<strong>de</strong> para y ′ (x) = F(x,y) - Método <strong>de</strong> Picard 520<br />

4. Equações separáveis 525<br />

5. A clepsidra 527<br />

6. Equações homogêneas 528<br />

7. Equações exatas 530<br />

8. Integral ao longo <strong>de</strong> um caminho 534<br />

9. Derivada da integral em relação ao parâmetro - Fórmulas <strong>de</strong> Leibniz 536<br />

10. Fatores integrantes 539<br />

11. Equações implícitas, discriminantes e envelopes 542<br />

12. Um problema da Putnam Competition, n. 5, 1942 548<br />

13. Equações <strong>de</strong> Clairaut e <strong>de</strong> Lagrange: isóclinas retas 550<br />

14. Transformação <strong>de</strong> Legendre, dualida<strong>de</strong> e resolução <strong>de</strong> equações diferenciais553<br />

15. Apêndice: Funções contínuas <strong>de</strong> duas variáveis e continuida<strong>de</strong> uniforme 556


10 ÍNDICE<br />

16. Exercícios 558<br />

Capítulo 37. Curvas <strong>de</strong> Perseguição 559<br />

1. O problema 559<br />

2. As elipses isócronas, segundo A. Lotka 566<br />

3. Um envelope que é uma curva <strong>de</strong> perseguição 568<br />

4. Exercícios 570<br />

Capítulo 38. Cinética química e crescimento bacteriano 571<br />

1. Cinética química 571<br />

2. Equação diferencial <strong>de</strong> uma reação <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m 573<br />

3. Equação diferencial <strong>de</strong> uma reação <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m 574<br />

4. Crescimento bacteriano 576<br />

5. Ponto <strong>de</strong> inflexão da função logística 580<br />

6. Equação <strong>de</strong> Bernoulli e reações químicas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m fracionária 581<br />

Capítulo 39. Newton e a gravitação 583<br />

1. Atração segundo o inverso do quadrado da distância 583<br />

2. Tempo <strong>de</strong> colisão e velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escape 584<br />

3. Níveis <strong>de</strong> energia 587<br />

4. Órbitas planetárias 589<br />

5. Velocida<strong>de</strong> e aceleração expressas em coor<strong>de</strong>nadas polares 589<br />

6. Gran<strong>de</strong>zas constantes ao longo das trajetórias 592<br />

7. As órbitas como cônicas em coor<strong>de</strong>nadas polares 597<br />

8. Oscilador harmônico 599<br />

9. Área em coor<strong>de</strong>nadas polares e a lei <strong>de</strong> Kepler sobre as áreas 601<br />

10. Em torno da proposição XXX do Principia 602<br />

11. A Equação <strong>de</strong> Kepler para o movimento planetário elíptico 606<br />

Capítulo 40. Equações diferenciais <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m 609<br />

1. Redução <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 609<br />

2. Homogêneas, a coeficientes constantes 610<br />

3. Não-Homogêneas, lineares <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m 614<br />

4. Não homogênas: Método <strong>de</strong> Lagrange <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> parâmetros 616<br />

5. Um problema da Putnam Competition, n.58, 1987 617<br />

6. Equação diferencial <strong>de</strong> um circuito elétrico simples 619<br />

7. Não-homogêneas: Método <strong>de</strong> coeficientes a <strong>de</strong>terminar 620<br />

8. Sistemas <strong>de</strong> equações diferenciais 624<br />

9. Um problema da Putnam Competition, n.2, 1939 626<br />

10. Homogêneas, não-singulares, coeficientes variáveis: redução a constantes 627<br />

11. Homogêneas, não-singulares, coeficientes variáveis: Método <strong>de</strong> D’Alembert629<br />

12. Existência <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> equações homogêneas e não-singulares 630<br />

13. Proprieda<strong>de</strong>s das soluções <strong>de</strong> equações lineares <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m 632<br />

14. Um problema da Putnam Competition, n. 15, 1955 635<br />

15. O Teorema <strong>de</strong> Comparação <strong>de</strong> Sturm 638<br />

16. Um problema da Putnam Competition, n. 22, 1961 639<br />

17. Exercícios 641


ÍNDICE 11<br />

Capítulo 41. Equações com pontos não-singulares: Airy, Hermite e Legendre 643<br />

1. Solução explícita da Airy 643<br />

2. Solução explícita da Hermite 645<br />

3. Solução explícita da Legendre em torno <strong>de</strong> x = 0 647<br />

4. Polinômios <strong>de</strong> Legendre e expansão em série do potencial gravitacional 649<br />

5. Ortogonalida<strong>de</strong> dos polinômios <strong>de</strong> Legendre 650<br />

Capítulo 42. Equação com ponto singular: Hipergeométrica <strong>de</strong> Gauss 653<br />

1. Integral elíptica como série hipergeométrica 656<br />

Capítulo 43. Equação com ponto singular: a Equação <strong>de</strong> Bessel 659<br />

1. A <strong>de</strong>finição original <strong>de</strong> Bessel 659<br />

2. Zeros <strong>de</strong> funções <strong>de</strong> Bessel 661<br />

3. Ortogonalida<strong>de</strong> das funções <strong>de</strong> Bessel 664<br />

Capítulo 44. Equações com pontos singulares do tipo regular 667<br />

1. A Equação <strong>de</strong> Euler e sua redução a coeficientes constantes 667<br />

2. Solução direta da equação <strong>de</strong> Euler 670<br />

3. Definições gerais e exemplos <strong>de</strong> pontos singulares regulares 672<br />

4. Início do Método <strong>de</strong> Frobenius 673<br />

5. Soluções explícitas <strong>de</strong> algumas equações Bessel 676<br />

6. A Equação <strong>de</strong> Bessel com ν = 1<br />

e a solução da equação <strong>de</strong> Airy 3<br />

7. Equação hipergeométrica com c ∈ Z<br />

679<br />

680<br />

Capítulo 45. Equações <strong>de</strong> Riccati 681<br />

1. Soluções <strong>de</strong> Riccati segundo Daniel Bernoulli 682<br />

2. Assíntotas verticais <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> equações <strong>de</strong> Riccati 687<br />

3. Soluções das Riccati segundo Euler 688<br />

4. A Equação <strong>de</strong> Bessel com ν = 1<br />

4 e a solução da Riccati y′ = x 2 +y 2 691<br />

5. Exercícios 691<br />

Parte 3. Séries <strong>de</strong> Fourier e Equações diferenciais parciais 693<br />

Capítulo 46. Séries <strong>de</strong> Fourier 695<br />

1. Séries <strong>de</strong> Fourier e seus coeficientes 696<br />

2. Séries <strong>de</strong> Fourier só <strong>de</strong> senos ou só <strong>de</strong> cossenos 699<br />

3. Convergência pontual da Série <strong>de</strong> Fourier 699<br />

4. Séries <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> cos(r ·sin(x)) e <strong>de</strong> sin(r ·sin(x)), r ∈ R 706<br />

5. Convergência absoluta da Série <strong>de</strong> Fourier 707<br />

6. A solução da equação <strong>de</strong> Kepler via série <strong>de</strong> Fourier e funções <strong>de</strong> Bessel 710<br />

7. Exercícios 713<br />

Capítulo 47. Equações Diferenciais Parciais 715<br />

1. Observações gerais, tipos, separação <strong>de</strong> variáveis, soluções clássicas 715<br />

2. Equações parciais <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m e o método das características 717<br />

3. A Equação da difusão do Calor 717<br />

4. Problemas <strong>de</strong> esfriamento unidimensionais 720


12 ÍNDICE<br />

Capítulo 48. O operador <strong>de</strong> Laplace e as equações do calor e da onda 725<br />

1. Laplaciano em coor<strong>de</strong>nadas polares e esféricas 725<br />

2. Estado estacionário do calor num disco e expansão em séries <strong>de</strong> Fourier 727<br />

3. A fórmula integral <strong>de</strong> Poisson 729<br />

4. Estado estacionário do calor na esfera e série <strong>de</strong> polinômios <strong>de</strong> Legendre 731<br />

5. Exercícios 736<br />

Capítulo 49. Equação da onda e as vibrações <strong>de</strong> cordas e membranas 737<br />

1. Vibração <strong>de</strong> uma corda com extremos fixos, sem atrito 737<br />

2. Vibração <strong>de</strong> uma corda infinita: Fórmula <strong>de</strong> D’Alembert 739<br />

3. Modos normais <strong>de</strong> vibração <strong>de</strong> um tambor circular e as funções <strong>de</strong> Bessel 741<br />

Parte 4. Cálculo diferencial e integral sobre os números Complexos 747<br />

Capítulo 50. Um portal para o Cálculo Complexo 749<br />

1. O Teorema <strong>de</strong> Green e as Relações <strong>de</strong> Cauchy-Riemann 759<br />

2. A integral complexa e a idéia da primitiva Complexa 761<br />

3. Curvas integrais como parte imaginária das primitivas Complexas 764<br />

4. A exponencial Complexa e os ramos do logaritmo Complexo 766<br />

5. O Teorema fundamental do Cálculo sobre os Complexos 768<br />

6. Exercícios 769<br />

Capítulo 51. Os Teoremas Fundamentais 771<br />

1. A primitiva Complexa 771<br />

Capítulo 52. Soluções <strong>de</strong>talhadas <strong>de</strong> alguns Exercícios 773


Parte 1<br />

Cálculo Diferencial e Integral e primeiras<br />

Aplicações


CAPíTULO 1<br />

Introdução<br />

1. O que é o Cálculo<br />

O Cálculo Diferencial e Integral ou, simplesmente o Cálculo, é a matemática que<br />

está na base da ciência <strong>de</strong> hoje.<br />

As ciências mais <strong>de</strong>senvolvidas como Física e Química não po<strong>de</strong>m expressar seus<br />

conceitos sem fazerem uso do Cálculo. Também a Economia e a Biologia cada vez<br />

mais são matematizadas através do Cálculo.<br />

O Cálculo foi fundamental na revolução científica dos séculos XVII e XVIII e <strong>de</strong><br />

lá para cá não cessou <strong>de</strong> produzir resultados e aplicações.<br />

O Cálculo é uma teoria matemática, ou seja, um modo unificado <strong>de</strong> se ver uma<br />

série <strong>de</strong> fatos matemáticos.<br />

Na matemática, quando surge uma nova teoria, ao invés <strong>de</strong> se eliminar os resultados<br />

das teorias anteriores, o que a nova teoria faz é:<br />

• reobter os teoremas até então conhecidos,<br />

• dar generalizações <strong>de</strong>les,<br />

• produzir resultados completamente novos.<br />

Isso só ocorre em matemática: em outras ciências uma nova teoria po<strong>de</strong> tornar<br />

obsoleta e errada a teoria anterior.<br />

Por exemplo, a <strong>de</strong>terminação exata da Área <strong>de</strong> certas regiões, que com métodos<br />

elementares exigiu ogênio <strong>de</strong>Arquime<strong>de</strong>s, comoCálculo virauma continha<strong>de</strong>rotina.<br />

Mas através do Cálculo aparecem fatos novos e intrigantes sobre Áreas, como o fato<br />

<strong>de</strong> regiões ilimitadas po<strong>de</strong>rem ter Área finita.<br />

Além <strong>de</strong> nos permitir provar tudo que já ouvimos falar <strong>de</strong> matemática no colégio,<br />

o Cálculo vai nos transformar em verda<strong>de</strong>iros McGivers, ou seja, aquele personagem<br />

que com quase nada <strong>de</strong> recursos faz horrores <strong>de</strong> coisas, como aparelhos, armas, etc, e<br />

suas missões. Através do Cálculo , só com as quatro operações +,−, x vamos po<strong>de</strong>r<br />

no Capítulo 30 aproximar com a precisão que quisermos:<br />

• funções fundamentais como arctan(x),ln(x), etc<br />

• números como √ p (p primo), π, e = exp(1).<br />

UmadasinspiraçõesfundamentaisparaoCálculofoiaFísica,ouFísica-matemática<br />

com a qual Isaac Newton revolucionou a ciência da época. Vários fenômenos físicos<br />

tiveram então uma explicação completa e unificada, através das técnicas do Cálculo.<br />

Essas técnicas só ficarão aparentes à medida que o leitor entre na Segunda Parte<br />

do Curso, que é a parte <strong>de</strong> Equações Diferenciais.<br />

15


4. ALERTA AOS ESTUDANTES 16<br />

2. Sobre o Curso<br />

Um alerta: este curso trata <strong>de</strong> matemática superior. Em várias universida<strong>de</strong>s,<br />

inclusive a nossa, há uma a tentativa <strong>de</strong> se ensinar o Cálculo como se fosse uma<br />

continuação do Ensino Médio, seu ensino sendo feito através <strong>de</strong> tabelas, regrinhas,<br />

macetes.<br />

Se refletimos um pouco, vemos que em alguns cursos como Farmácia, Economia,<br />

Biologia, o Cálculo é uma das poucas disciplinas <strong>de</strong> matemática que terão na universida<strong>de</strong>.<br />

Desse modo, imitando o Ensino Médio, se cursaria um Curso Superior sem<br />

ter contato com a <strong>Matemática</strong> Superior. A formação científica <strong>de</strong>sses cursos ficaria<br />

prejudicada e <strong>de</strong> fato não po<strong>de</strong>riam chamar-se cursos universitários.<br />

Por isso neste Curso sempre que for possível (exceto quando a explicação for<br />

técnica <strong>de</strong>mais) vamos tentar dar justificações matemáticas corretas, sem apelar para<br />

a credulida<strong>de</strong> do estudante e argumentos <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, do tipo acreditem em mim.<br />

Os argumentos que damos são concatenações <strong>de</strong> idéias simples, mas às vezes exigem<br />

um certo fôlego do leitor para acompanhá-lo do começo ao fim. Esse treino <strong>de</strong><br />

concentração certamente irá colaborar na formação técnico-científica do estudante.<br />

3. Sobre os Gráficos e Figuras<br />

Tentei fazer o máximo possível <strong>de</strong> gráficos para ilustrar o conteúdo, usando o programa<br />

Maple 9 para fazê-lo numericamente, ouseja, realisticamente. Este programa é<br />

pago, mas o estudante po<strong>de</strong> usar o XMaxima ou o Gnuplot que são programas livres,<br />

do Linux, como auxiliar no estudo. Sempre que possível usei a mesma escala nos dois<br />

eixos, pois isso <strong>de</strong>termina inclinações das retas e essas inclinações são importantes no<br />

Cálculo 1 .<br />

Mas nem sempre isso foi possível, por exemplo quando as funções crescem muito<br />

rápido, on<strong>de</strong> não dá para manter as mesmas escalas nos eixos x e y.<br />

A teoria tem que ser sempre nossa guia na confecção <strong>de</strong> gráficos, pois os computadores<br />

erram ao representar funções <strong>de</strong>scontínuas ou funções que estão muito próximas<br />

<strong>de</strong> um certo valor sem alcançar esse valor.<br />

Também fiz figuras qualitativas e diagramas usando o programa Winfig, que é<br />

pago, e o Xfig, do Linux, que é grátis.<br />

4. Alerta aos estudantes<br />

Por ser matemática superior, o Curso exige do aluno umempenho e atenção muito<br />

diferente daquele exigido nos seus contatos anteriores com a matemática.<br />

Principalmente o aluno <strong>de</strong>ve usar <strong>de</strong> modo preciso os conceitos que vão sendo<br />

apresentados (por ex. limites, continuida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>rivada). Se não os enten<strong>de</strong>r, pergunte<br />

ao professor até ter esclarecido o conceito. Pois embora às vezes pareçam apenas<br />

conceitos qualitativos, são <strong>de</strong> fato bastante precisos e mais tar<strong>de</strong> dão resultados<br />

quantitativos <strong>de</strong> absoluta precisão.<br />

1 Veja, por exemplo, que o gráfico do seno está errado em várias edições do livro do Anton,<br />

pois ele não usou as mesmas escalas nos eixos x e y, portanto a inclinação na origem não fica bem<br />

representada


CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 17<br />

Numaprimeiraleitura,oestudantepo<strong>de</strong>leroenunciadodosTeoremaseAfirmações,<br />

sem ler todas as <strong>de</strong>monstrações. Mas <strong>de</strong> fato, só se enten<strong>de</strong> completamente um fato<br />

matemático quando se enten<strong>de</strong> a sua <strong>de</strong>monstração.<br />

Por último, é muito importante que o estudante pense nos exercícios propostos em<br />

cada Capítulo. Mesmo que não responda todos, ao tentar fazer exercícios o conteúdo<br />

vai sendo assimilado concretamente. E se o aluno não consegue fazer quase que<br />

nenhum exercício, então precisa voltar a refletir no conteúdo dado.<br />

Alguns têm solução bastante <strong>de</strong>talhada, apresentada no Capítulo 52. Mas que só<br />

<strong>de</strong>vem ser lidas após muito trabalho pessoal do aluno.<br />

Ao longodolivro aparecemproblemas daprestigiada W. L. Putnam Mathematical<br />

Competition, que ocorre anualmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua Primeira Edição em 1938. Vão aparecendo<br />

à medida que <strong>de</strong>senvolvemos material suficiente para po<strong>de</strong>r resolvê-los. Nessa<br />

competição aparecem problemas difíceis, mas tratei <strong>de</strong> selecionar alguns simples e<br />

acessíveis.<br />

Minhas fontes foram o site:<br />

http://amc.maa.org/a-activities/a7-problems/putnamin<strong>de</strong>x.shtml<br />

(on<strong>de</strong> estão as Competições <strong>de</strong> 1985-2009)eolivro The W. L. Putnam Mathematical<br />

Competition, Problems and solutions, 1938-1964., Math. Association of America.<br />

Esses problemas <strong>de</strong>vem ser pensados pelo leitor e só <strong>de</strong>pois do leitor apresentar a<br />

sua resposta, do seu jeito <strong>de</strong> ver o problema, é que po<strong>de</strong> ler as respostas. Foi assim<br />

que eu fiz: eu resolvi sozinho cada um dos que apresento, e minhas respostas não têm<br />

a pretensão <strong>de</strong> serem as mais elegantes possíveis.<br />

Lembro o que um professor muito bom me disse: Só se apren<strong>de</strong> matemática resolvendo<br />

problemas !<br />

5. Livros-texto e Referências<br />

Livros ruins <strong>de</strong> Cálculo há vários, <strong>de</strong> cuyos nombres no quiero acordarme.<br />

BastanterazoávelolivrodoG.Thomas, disponívelnabibliotecaemváriasedições.<br />

Curto, direto e bom preço: R. Silverman, Essential Calculus with applications,<br />

Dover.<br />

Para mim um dos melhores livros <strong>de</strong> Cálculo é o <strong>de</strong> Michael Spivak, Calculus<br />

(edições em espanhol e ingles na biblioteca da <strong>UFRGS</strong>). Apren<strong>de</strong>-se muito nesse livro<br />

e me foi úil em alguns momentos na hora em que se fez necessário a precisão que falta<br />

em outros livros. Claro que é bastante difícil como primeiro livro <strong>de</strong> Cálculo, mas o<br />

esforço <strong>de</strong> ler qualquer seção <strong>de</strong>le é sempre recompensado.<br />

Na Primeira Parte usei coisas que aprendi:<br />

• no enciclopédico livro <strong>de</strong> R. Courant e F. John, Introduction to Calculus and<br />

Analysis, Interscience, 1965.<br />

• no curso <strong>de</strong> Elon Lima Curso <strong>de</strong> Análise, Projeto Eucli<strong>de</strong>s, SBM.<br />

• no clássico E. T. Whittaker e G. Watson, A course of mo<strong>de</strong>rn Analysis,<br />

Cambridge, reimpressão <strong>de</strong> 1996.<br />

• no belo livro <strong>de</strong> C.H. Edwards, The historical <strong>de</strong>velopment of the Calculus,<br />

Springer, 1979.<br />

• no livro <strong>de</strong> S. Chandrasekhar, Newton’s Principia for the common rea<strong>de</strong>r,<br />

Oxford University Press , 1995.


6. PROGRAMAS ÚTEIS 18<br />

lá.<br />

Asreferências usadasnoApêndice sobreaLei<strong>de</strong>Kleiber, Capítulo34, estão dadas<br />

NaParte2, sobreEquaçõesdiferenciais, usei materialdoCourant-John, bemcomo<br />

• o excepcional livro <strong>de</strong> M. Hirsch e S. Smale Differential equations, dynamical<br />

systems and linear algebra, Aca<strong>de</strong>mic Press, 1974,<br />

• o muito bem escrito e motivante livro <strong>de</strong> G. Simmons Differential equations<br />

with applications and historical notes, McGraw-Hill, 1972. Alguns Exercícios<br />

propostosneste livromeserviram<strong>de</strong>guiaparadiversas Seções. Usei bastante<br />

esse livro.<br />

• o livro <strong>de</strong> H. S. Bear, Differential Equations, a Concise Course, Dover, 1962<br />

épequeno mas muito informativo. Nele se encontra uma prova perfeitamente<br />

legível do Teorema <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> Picard, por exemplo.<br />

• o <strong>de</strong> J. W. Bruce e P. j. Giblin, Curves and singularities, Cambrige U. Press,<br />

1984.<br />

• o clássico G. N. Watson A treatise on the theory of Bessel functions , Cambrige,<br />

1958.<br />

• o livro <strong>de</strong> A. Gray e G. B. Mathews, A treatise on Bessel functions and their<br />

applications to Physics, McMillan and co, 1895.<br />

• a<strong>de</strong>mais usei no Capítulo 37 artigos <strong>de</strong> A. Bernhardt e <strong>de</strong> A. Lotka, bem<br />

como<br />

• o clássico livro <strong>de</strong> F. Gomes Teixeira, Traité <strong>de</strong>s courbes speciales remarquables,<br />

planes et gauches, reimpressão <strong>de</strong> 1971, Chelsea Publishing Company.<br />

• last but not least, E. Kamke, Differentialgleichungen- Losungsmetho<strong>de</strong>n und<br />

losungen, T. I, Chelsea Publisinhg Company, 1948.<br />

6. Programas úteis<br />

Programas como o Maple po<strong>de</strong>m ser um gran<strong>de</strong> auxiliar para o estudo: para<br />

conferir contas, plotar curvas, etc, mas só serão úteis se o estudante tentar fazer<br />

sozinho e <strong>de</strong>pois usar os programas para checar seus resultados.<br />

Para usuários do Windows existe o programa grátis WXMaxima, que você baixa<br />

em instantes no site:<br />

http://sourceforge.net/projects/maxima/files/Maxima-Windows/<br />

5.21.1-Windows/maxima-5.21.1.exe/download<br />

Esse programa faz tudo: resolve equações algébricas e diferenciais, <strong>de</strong>riva, integra,<br />

faz gráficos, etc.<br />

O Maple é programa análogo pago.<br />

Também existe um site, http://www.wolframalpha.com, on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> fazer online<br />

gráficos, integrais, limites e <strong>de</strong>rivadas, o que é útil quando se está estudando fora <strong>de</strong><br />

casa.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos:<br />

Agra<strong>de</strong>ço ao Professor Mark Thompson, da <strong>Matemática</strong> da <strong>UFRGS</strong>, por ter<br />

me disponibilizado Notas que serviram para a elaboração da Seção sobre Cinética


CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 19<br />

química. E também pelo livro <strong>de</strong> G. Gibson, An elementary treatise on the Calculus,<br />

with illustrations from Geometry, Mechanics and Physics, reimpressão <strong>de</strong> 1956 da<br />

edição <strong>de</strong> 1901, que me foi útil.<br />

Agra<strong>de</strong>ço ao Professor Vítor Pereira, da Geologia da <strong>UFRGS</strong>, que me explicou o<br />

belo fenômeno da meia-vida da luz das super-novas.<br />

As notas <strong>de</strong> Aula do Professor Eduardo Brietzke, da <strong>Matemática</strong> da <strong>UFRGS</strong>, para<br />

a disciplina <strong>de</strong> Equações Diferenciais II, me serviram <strong>de</strong> fio-condutor entre os diversos<br />

temas possíveis. Abor<strong>de</strong>i alguns dos exemplos que lá aparecem <strong>de</strong> um ponto vista um<br />

pouco diferente. Lhe sou grato.<br />

Agra<strong>de</strong>ço às estudantes que fizeram Cálculo comigo em 2008: Pâmela Lukasewicz<br />

Ferreira, por ter tomado notas do curso que <strong>de</strong>i e que me serviram <strong>de</strong> roteiro para<br />

este texto e Mônica Hoeveler, por participações em aula e por sugestões <strong>de</strong> temas.<br />

Agra<strong>de</strong>ço aos estudantes Luciano Bracht Barros e Magno V. F. Teixeira da<br />

Silva porconversas no fimda aula que me motivaramaescrever a Seção 6do Capítulo<br />

32.<br />

O estudante Walter Ferreira Diniz Júnior resolveu vários problemas <strong>de</strong> modo<br />

original, produziu exemplos, e até me indicou como escrever melhor a Seção 5 do<br />

Capítulo 26 !


CAPíTULO 2<br />

Alguns dos objetivos do Cálculo<br />

A <strong>de</strong>scrição matemática dos fenômenos se faz principalmente a partir da noção <strong>de</strong><br />

função y = f(x) e <strong>de</strong> seu gráfico.<br />

Se pu<strong>de</strong>rmos enten<strong>de</strong>r:<br />

• se f(x) assume somente valores Reais, on<strong>de</strong> f(x) se anula, on<strong>de</strong> é positiva<br />

ou negativa,<br />

• se e on<strong>de</strong> f(x) cresce ou <strong>de</strong>cresce à medida que x cresce,<br />

• se f(x) se aproxima <strong>de</strong> um certo valor quando x cresce muito,<br />

• se e on<strong>de</strong> f(x) tem valor máximo ou mínimo,<br />

• no caso <strong>de</strong> y = f(x) ≥ 0, qual a área sob seu gráfico e acima do eixo dos x,<br />

• se dado y pu<strong>de</strong>rmos <strong>de</strong>scobrir qual x gerou y = f(x),<br />

então po<strong>de</strong>mos dizer que enten<strong>de</strong>mos o comportamento da f(x).<br />

Estaremos capacitados a fazer previsões sobre o fenômeno mo<strong>de</strong>lado por essa<br />

função.<br />

Esses são alguns dos objetivos do Cálculo.<br />

Nas próximas Seções passamos lembrar / <strong>de</strong>finir essas noções.<br />

1. Funções e seus domínios<br />

Os filósofos sempre se espantaram com o fato <strong>de</strong> que as coisas mudam, e se questionaram<br />

tanto sobre o que muda como sobre o que permanece nessas mudanças.<br />

Os matemáticos também compartilham <strong>de</strong>sse espanto e sempre se perguntaram,<br />

ao ver que há mudanças, como as coisas mudam.<br />

A resposta a essa pergunta po<strong>de</strong> ser tanto qualitativa como quantitativa, as duas<br />

são interessantes. Por exemplo é qualitativa quando um astrônomo afirma que certo<br />

cometa voltará a passar algum dia.<br />

É quantitativa no caso <strong>de</strong> Halley, que previu o<br />

ano em que certo cometa voltaria, usando as ferramentas do Cálculo.<br />

Se um fenômeno (a temperatura <strong>de</strong> um sistema, por exemplo) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um só<br />

parâmetro (o tempo, por exemplo) é natural <strong>de</strong>screver sua evolução num gráfico da<br />

função que associa a cada momento x a temperatura T(x). Esse gráfico formará uma<br />

21


1. FUNÇÕES E SEUS DOMÍNIOS 22<br />

curva no plano.<br />

-2<br />

-1<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = T(x) forma uma curva no plano.<br />

Mas é claro que conhecemos fenômenos z = F(x,y) que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> dois fatores<br />

e para <strong>de</strong>screver esse fenômeno precisariamos <strong>de</strong> gráficos que formam superfícies no<br />

espaço, ao invés <strong>de</strong> curvas no plano. E em geral os fenômenos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> vários<br />

parâmetros (em química, por exemplo, quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reagentes, pressão, ph, etc).<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> z = F(x,y) forma uma superfície no espaço<br />

Osconceitosqueapren<strong>de</strong>remosnestecursoseadaptamfacilmenteparasuperfícies,<br />

mas vamos nos restringir a gráficos que são curvas. Ou como se diz, faremos o Cálculo<br />

<strong>de</strong> 1 variável.<br />

A seguir vamos começar a estabelecer conceitos qualitativos sobre gráficos que<br />

são importantes no Curso. O manejo correto <strong>de</strong>sses conceitos é fundamental para a<br />

compreensão do resto do curso.<br />

1<br />

2


CAPÍTULO 2. ALGUNS DOS OBJETIVOS DO CÁLCULO 23<br />

2. Função<br />

Uma função é uma regra que associa a cada ponto 1 <strong>de</strong> um conjunto (o domínio<br />

da função) um ponto <strong>de</strong> um outro conjunto fixado (o contra-domínio). Dito <strong>de</strong> outro<br />

modo, uma reta vertical traçada passando por um ponto do domínio <strong>de</strong> uma função<br />

y = f(x) corta seu gráfico exatamente em 1 ponto. Por isso, por exemplo, um círculo<br />

não é gráfico <strong>de</strong> uma função y = f(x).<br />

O subconjunto do contradomínio formado por pontos que são efetivamente valores<br />

da função formam a imagem da função. Por exemplo,<br />

f : R → R, f(x) = x 2<br />

tem como domínio e contradomínio os números Reais, mas sua imagem são apenas<br />

os Reais não-negativos 2 .<br />

Quando dizemos que f : I → J é sobrejetiva isto quer dizer que não somente<br />

a imagem f(I) verifica f(I) ⊂ J, mas que <strong>de</strong> fato verifica f(I) = J. Ou seja, que<br />

efetivamente todo ponto <strong>de</strong> J foi atingido pela f. Por exemplo, f(x) = x 2 só é<br />

sobrejetiva vista como função f : R → R ≥0 .<br />

É importante notar na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> função que só há um valor associado a cada<br />

ponto do domínio. Se houver ambiguida<strong>de</strong> na atribuição do valor então dizemos que a<br />

função não está bem-<strong>de</strong>finida naquele ponto. Por exemplo, quando perguntamos qual<br />

é a raíz quadrada <strong>de</strong> 9 há uma ambiguida<strong>de</strong>: po<strong>de</strong> ser que tomemos a raíz positiva 3<br />

ou a raíz negativa −3.<br />

Não confunda a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> função com outra, a <strong>de</strong> função injetiva: uma função<br />

é injetiva quando não associa o mesmo valor a dois pontos distintos <strong>de</strong> seu domínio.<br />

Por exemplo, f : [0,3] → R, f(x) = x 2 é injetiva mas f : [−3,3] → R, f(x) = x 2 não<br />

é injetiva.<br />

3. Funções <strong>de</strong>finidas a partir <strong>de</strong> outras funções<br />

3.1. Função inversa. Imagine uma função que <strong>de</strong>sfaz o efeito <strong>de</strong> outra função.<br />

Por exemplo, uma dá a a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um carro em função do tempo trascorrido<br />

v = v(t). Sua inversa diria para cada velocida<strong>de</strong> v qual o tempo necessário para<br />

atingir essa velocida<strong>de</strong> t = t(v) (o que dá uma medida da potência do motor do carro,<br />

por ex.)<br />

Ou por exemplo, a temperatura <strong>de</strong> um objeto vai caindo com o tempo. Sabendo<br />

quanto caiu a temperatura T(t) como <strong>de</strong>terminar o tempo t transcorrido ?<br />

Para se ter uma função inversa f −1 , a função f necessariamente tem que ser<br />

injetiva !<br />

Se não, vejamos: se y = f(x 1) = f(x 2) com x 1 = x 2, o que <strong>de</strong>ve fazer f −1 com y<br />

? Enviá-lo em x 1 = f −1 (y) ou em x 2 = f −1 (y) ? Isso é uma ambiguida<strong>de</strong> inaceitável<br />

para f −1 .<br />

Vamos mais tar<strong>de</strong> falar do sentido geométrico da função inversa.<br />

1 Para mim os números Reais formam um reta, portanto uso número ou ponto indistintamente.<br />

2 Várias vezes no curso usaremos isso: o quadrado <strong>de</strong> um número Real nunca é negativo


4. DIFERENTES DOMÍNIOS DE FUNÇÕES 24<br />

3.2. Composição <strong>de</strong> funções. Dentre os modos mais úteis <strong>de</strong> se produzir um<br />

função interessante a partir <strong>de</strong> funções simples está a composição <strong>de</strong> funções.<br />

A idéia é simples e fundamental: o resultado <strong>de</strong> uma função g(x) vira entrada <strong>de</strong><br />

uma segunda função f.<br />

A notação usual é: se f : I → J e g : J → K então (f ◦ g) : I → K faz<br />

(f ◦g)(x) := f( g(x) ).<br />

É claro que se po<strong>de</strong> compor um número qualquer <strong>de</strong> funções.<br />

Pense em quantos exemplos encontramos disso na natureza, nas reações químicas,<br />

nas indústrias, em que um processo complicado é dividido em várias etapas simples<br />

concatenadas.<br />

Neste Curso proce<strong>de</strong>rmos assim também: vamos primeiro enten<strong>de</strong>r os casos mais<br />

simples e <strong>de</strong>pois, via composição <strong>de</strong> funções, enten<strong>de</strong>r os mais complicados.<br />

3.3. O que é a Área sob um gráfico ? Po<strong>de</strong>mos usar o gráfico <strong>de</strong> uma função<br />

para <strong>de</strong>finir outra. Por exemplo, tomo a diagonal y = x como gráfico e me pergunto<br />

pela Área do triângulo <strong>de</strong>terminado pela origem, o eixo horizontal e um segmento<br />

vertical <strong>de</strong> (x,0) até (x,x). À medida que x avança no eixo dos x, a Área do triângulo<br />

obtido aumenta e po<strong>de</strong>ríamos tentar <strong>de</strong>screver como essa Área <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> x isso num<br />

outro gráfico.<br />

Na <strong>de</strong>finição do Logaritmo Natural, faremos exatamente isso, mas a área em<br />

questão será <strong>de</strong>limitada sob o gráfico <strong>de</strong> 1/x e não sob y = x.<br />

Figura:<br />

x=1<br />

x<br />

Área sob um o gráfico, <strong>de</strong> x = 1 até x.<br />

Precisaremos saber primeiro, o que é a Área sob um gráfico curvado como 1/x.<br />

Isso que foge do que sabemos do Ensino Médio, que são áreas <strong>de</strong> regiões elementares<br />

como triângulos, quadrados, trapézios, setores circulares, etc. Só enten<strong>de</strong>remos isso<br />

plenamente na Parte 2 do curso, com o conceito <strong>de</strong> Integral.<br />

4. Diferentes domínios <strong>de</strong> funções<br />

A princípio o domínio <strong>de</strong>uma função po<strong>de</strong>ser qualquer conjunto, mas neste Curso<br />

usaremos como domínios quase sempre:<br />

• todos os Reais R, ou<br />

• intervalos <strong>de</strong> números reais, incluindo semi-retas ou<br />

• apenas os Naturais N ⊂ R.


CAPÍTULO 2. ALGUNS DOS OBJETIVOS DO CÁLCULO 25<br />

Mas é claro que em certas situações os domínios também po<strong>de</strong>m ser a união <strong>de</strong><br />

vários intervalos (como se verá por exemplo na Seção 2.3 do Capítulo 6), somente os<br />

números Racionais Q ⊂ R, etc.<br />

5. Gráfico <strong>de</strong>scontínuo, mas que mesmo assim é gráfico<br />

Há gráficos que sofrem um salto abrupto, mas que mesmo assim são gráficos.<br />

Por exemplo, o gráfico da função f : R → R, <strong>de</strong>finida condicionalmente por<br />

f(x) = x−2, se x < 2 e f(x) = x 2<br />

se x ≥ 2.<br />

O ponto 2 <strong>de</strong> seu domínio é um ponto catastrófico: se estamos em pontos que são um<br />

pouquinho menores que 2 a função tem valores próxima do zero. Mas se mexemos<br />

um pouco a coor<strong>de</strong>nada x, chegando em x = 2 ou acrescentando algo positivo muito<br />

pequeno ao 2, o valor da função já pula para ≥ 2 2 = 4.<br />

y=4<br />

x=2<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> função <strong>de</strong>scontínua no ponto x = 2<br />

Outro modo <strong>de</strong> ver o que acontece é que, enquanto seu domínio R é feito <strong>de</strong> um<br />

só pedaço, sua imagem f(R) = R ≤0 ∪R ≥4 é feito <strong>de</strong> dois pedaços: a função rasga seu<br />

domínio em dois pedaços.<br />

Esses gráficos são úteis para mo<strong>de</strong>lar matematicamente comportamentos explosivos:<br />

uma explosão química, o comportamento <strong>de</strong> um animal à medida que aumenta<br />

o stress, etc. Mas em cursos <strong>de</strong> Cálculo veremos gráficos que não tem essas variações<br />

dramáticas <strong>de</strong> valores.<br />

6. Função positiva, negativa e zeros ou raízes<br />

Uma função f : I → R é positiva (negativa) 3 se sua imagem está contida nos<br />

Reais positivos (negativos).<br />

Muito importante para um técnico ou cientista é <strong>de</strong>terminar os pontos do domínio<br />

on<strong>de</strong> a função se anula (ou, como se diz, on<strong>de</strong> corta o eixo dos x, que é dado por<br />

y = 0). Ou seja, é importante resolver uma equação f(x) = 0.<br />

Nocaso<strong>de</strong>polinômiosessespontossãoaschamadasraízes. Aconselho oleitoraler<br />

o Teorema 7.1 no Capítulo 6, que prova a relação entre raízes e fatores <strong>de</strong> polinômios.<br />

3 Para evitar escrever duas frases on<strong>de</strong> só trocaria uma palavra, ponho em parênteses a modi-<br />

ficação a ser feita na frase


7. FUNÇÃO CRESCENTE OU DECRESCENTE 26<br />

Mais adiante, no Teorema 4.1 do Capítulo 6.1 explicaremos em termos do Cálculo<br />

qual o significado das raízes múltiplas.<br />

-2<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-1 0<br />

x<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

Figura: Um gráfico <strong>de</strong> polinômio com 3 raízes<br />

7. Função crescente ou <strong>de</strong>crescente<br />

Definição 7.1. Uma função f : I → R é estritamente crescente exatamente quando<br />

∀ x1,x2 ∈ I, x1 < x2 ⇒ f(x1) < f(x2).<br />

E dizemos que é apenas crescente exatamente quando<br />

∀ x1,x2 ∈ I, x1 < x2 ⇒ f(x1) ≤ f(x2).<br />

Analogamente se <strong>de</strong>fine estritamente <strong>de</strong>crescente, trocando f(x1) < f(x2) por<br />

f(x1) > f(x2).<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

1 1,5<br />

2<br />

x<br />

1<br />

2,5<br />

2<br />

3


CAPÍTULO 2. ALGUNS DOS OBJETIVOS DO CÁLCULO 27<br />

Figura: Exemplo <strong>de</strong> gráfico <strong>de</strong> y = f(x) crescente.<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0 0,5 1 1,5<br />

x<br />

Figura: Exemplo <strong>de</strong> gráfico <strong>de</strong> y = f(x) <strong>de</strong>crescente.<br />

Claro que há funções que não são nem crescentes nem <strong>de</strong>crescentes, ou sejam, que<br />

oscilam.<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

2<br />

2,5<br />

0<br />

-0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6<br />

x<br />

Figura: Exemplo <strong>de</strong> gráfico <strong>de</strong> y = f(x) que oscila.<br />

Uma observação simples mas útil:<br />

Se uma função f é estritamente crescente (ou estritamente <strong>de</strong>crescente) então f<br />

é injetiva.<br />

De fato, se tomo quaisquer x 1,x 2 diferentes <strong>de</strong> seu domínio, posso sempre me<br />

perguntar qual <strong>de</strong>les é menor, por exemplo, x 1 < x 2 . Como a f é estritamente<br />

crescente (ou estritamente <strong>de</strong>crescente), temos f(x 1) < f(x 2) (ou f(x 1) > f(x 2)),<br />

mas <strong>de</strong> qualquer forma f(x 1) = f(x 2). Logo é injetiva.<br />

Um exemplo importante é o que já <strong>de</strong>mos <strong>de</strong> uma função f que me<strong>de</strong> a Área<br />

sob um gráfico <strong>de</strong> uma outra função positiva. É natural que f seja uma função<br />

estritamente crescente, pois à medida que vamos para a direita no eixo x há mais<br />

área sob o gráfico. Logo é natural que seja injetiva e tenha então uma inversa f−1 .<br />

Volto nesse ponto, com f o Logaritmo Natural e f−1 a Exponencial.<br />

3


8. MÁXIMOS E MÍNIMOS 28<br />

Saber que uma função é crescente po<strong>de</strong> ser um fato extremamente relevante do<br />

ponto <strong>de</strong> vista científico: por exemplo, um dos princípios físicos mais fundamentais<br />

é que a função Entropia é uma função crescente, ou seja, que as coisas têm uma<br />

tendência a se <strong>de</strong>sorganizar. É essa Entropia crecente que está na base da nossa<br />

distinção entre passado, presente e futuro.<br />

Por outro lado um exemplo marcante <strong>de</strong> função <strong>de</strong>crescente é a função y = f(x)<br />

que dáa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma substância radioativa no tempo x. Uma <strong>de</strong>scoberta<br />

científica fundamental foi a <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver <strong>de</strong> modo quantitativamente preciso como é<br />

essa função para cada substância radioativa.<br />

É fundamental neste curso estabelecermos um critério para <strong>de</strong>terminar se uma<br />

função é crescente (ou é <strong>de</strong>crescente).<br />

De preferência um critério que consista em enten<strong>de</strong>r uma função que seja mais<br />

simples que a função f ela mesma ! Se não não adiantaria muito. Isso veremos no<br />

Capítulo 10, que é muito importante.<br />

8. Máximos e mínimos<br />

Uma dasgran<strong>de</strong>sutilida<strong>de</strong>sdo Cálculo éencontrar pontoson<strong>de</strong>umafunção atinge<br />

seu máximo ou mínimo. Ou seja, o Cálculo serve para minimar ou maximizar: rendimento<br />

<strong>de</strong> um processo, custos, gastos, etc, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o problema seja formulado<br />

matematicamente.<br />

Vamos <strong>de</strong>finir um máximo local (analogamente um mínimo local).<br />

Definição 8.1. Seja f : I → R e x ∈ I. Dizemos que x é máximo local se existe<br />

algum intervalo<br />

(−ǫ+x,x+ǫ)<br />

centrado em x, tal que<br />

∀x ∈ I ∩(−ǫ+x,x+ǫ), f(x) ≤ f(x).<br />

Já x é dito ser um máximo global <strong>de</strong> f : I → R se<br />

∀x ∈ I, f(x) ≤ f(x).<br />

É a mesma diferença que há entre ser o cara que corre mais rápido no clube do<br />

bairro e ser o cara que corre mais rápido no mundo !<br />

-0,6<br />

-0,4 -0,2<br />

4,2<br />

4<br />

3,8<br />

3,6<br />

3,4<br />

3,2<br />

3<br />

0<br />

x<br />

0,2<br />

0,4<br />

0,6


CAPÍTULO 2. ALGUNS DOS OBJETIVOS DO CÁLCULO 29<br />

Figura: Função com um mínimo global, um máximo local e um mínimo local.<br />

Chamo a atenção <strong>de</strong> que há funções que simplesmente não tem máximo, como já<br />

vimos no caso <strong>de</strong> f : (0,5] → R,f(x) = 1<br />

x .<br />

E existem as que não tem mínimo: por ex. f : R ≥1 → R,f(x) = 1<br />

x .<br />

De fato, se tomo n ∈ R≥1 , temos f(n) = 1<br />

n<br />

, que já sabemos fica tão próximo<br />

quanto quisermos <strong>de</strong> 0, sem nunca atingir zero. Isso diz que f vai sempre diminuindo<br />

um valor, não tendo portanto um ponto <strong>de</strong> seu domínio on<strong>de</strong> um valor mínimo fosse<br />

atingido.<br />

Dá vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer algo sobre o papel do 0 neste exemplo f : R≥1 → R,f(x) = 1<br />

x .<br />

O 0 realmente nunca é atingido pela função mas <strong>de</strong> certo modo <strong>de</strong>marca, <strong>de</strong>limita o<br />

conjunto imagem<br />

f(R ≥1 ) = (0,1].<br />

0 é o que se costuma chamar uma cota inferior do conjunto imagem f(R ≥1 ), isto é,<br />

∀y ∈ f(R ≥1 ), 0 ≤ y.<br />

E mais ainda, qualquer número maior que zero não é cota inferior <strong>de</strong> f(R≥1 ), pois<br />

1<br />

n ∈ f(R≥1 ) se aproxima o que quisermos <strong>de</strong> zero. Portanto 0 é a maior cota inferior<br />

<strong>de</strong> f(R≥1 ), que se chama o Ínfimo <strong>de</strong>sse conjunto.<br />

9. Exercícios<br />

Exercício 9.1. Determine em que intervalos as funções a seguir são negativas ou<br />

positivas e on<strong>de</strong> estão seus zeros:<br />

vi) x 2 −x<br />

vii) x 2 −5x+6<br />

viii) x 3 −x 2<br />

Exercício 9.2. Dê exemplos <strong>de</strong> frases do dia a dia que são verda<strong>de</strong>, mas cujas<br />

recíprocas não são verda<strong>de</strong>.<br />

Exercício 9.3. Negue as seguintes frases:<br />

i) dado qualquer político, existe um valor <strong>de</strong> suborno tal que por esse valor ele se<br />

corrompe.<br />

ii) dada uma distância qualquer, existe um tempo tal que a partir daquele tempo<br />

o asterói<strong>de</strong> dista da terra menos que a distância dada.<br />

Exercício 9.4. Imagine alguns exemplos, qualitativamente, sem precisar dar explicitamente<br />

a regra f(x), <strong>de</strong> funções:<br />

i) positivas e crescentes,<br />

ii) negativas e crescentes,<br />

iii) negativas e <strong>de</strong>crescentes,<br />

iv) negativas e <strong>de</strong>crescentes,<br />

v) com mínimo local, mas sem mínimo global<br />

vi) com máximo local e máximo global diferentes.


9. EXERCÍCIOS 30<br />

Exercício 9.5. Faça as composições f ◦g ◦h e h◦g ◦f, on<strong>de</strong>:<br />

i) f = 1<br />

x3, g = sin(x) h = x+5<br />

ii) f = x2 , g = 1 , h = sin(x). x<br />

iv) Imagine algum exemplo on<strong>de</strong> aconteça f ◦g ◦h = h◦g ◦f (o que é raro !).<br />

Exercício 9.6. (resolvido)<br />

Determine explicitamente as funções inversas f −1 das funções f(x) a seguir. Teste<br />

sua resposta verificando que x = f −1 (f(x)).<br />

i) f : R → R, f(x) = x 3<br />

ii) f : R → R, f(x) = x 3 +1<br />

iii) f : R → R, f(x) = (x−1) 3<br />

iv): f : R → R, f(x) = −5·x 3 +10.<br />

v): f : (0,1) → R, f(x) = x<br />

1−x 2. Dica: o mais difícil neste item é não se equivocar<br />

com os sinais.


CAPíTULO 3<br />

Proprieda<strong>de</strong> básicas dos números Reais<br />

As funções <strong>de</strong>finidas nos Reais e tomando valores Reais são importantes pelas<br />

aplicações ao mundo físico. Por exemplo, se um Engenheiro me diz que a laje da peça<br />

on<strong>de</strong> estou vai cair em 5 minutos eu certamente saio correndo da sala. Mas se um<br />

Matemático me disser que a laje vai cair no tempo 5·I := 5 √ −1, que fazer ?<br />

Essa utilida<strong>de</strong> dos Reais, por correspon<strong>de</strong>r à linha do tempo (passado = número<br />

negativo, presente = 0, futuro = número positvo), tem como ônus o fato que as<br />

funções Reais nem sempre estão <strong>de</strong>finidas.<br />

Veremos duas restrições, uma sobre quocientes e outra sobre a raíz quadrada.<br />

A primeira afeta não só os Reais, mas qualquer sistema <strong>de</strong> números. A segunda,<br />

da Raíz, é típica dos números que po<strong>de</strong>m ser or<strong>de</strong>nados.<br />

1. Os Reais como sistema <strong>de</strong> números: não dividirás por zero !<br />

Todo professor passa aulas e aulas repetindo que não se po<strong>de</strong> dividir por zero.<br />

E infelizmente muitos alunos <strong>de</strong> Cálculo divi<strong>de</strong>m por zero, pois confun<strong>de</strong>m o fato<br />

<strong>de</strong> um número ser pequeno com um número ser zero !<br />

Mas a final, por quê não se po<strong>de</strong> dividir por zero ? No que po<strong>de</strong>mos nos apoiar<br />

para provar que não existe o número 1<br />

0 ?<br />

Nosbastaráalgumasdasproprieda<strong>de</strong>smaisgeraisdosR(porsinalcompartilhadas<br />

com outros sistemas <strong>de</strong> númros, como Q ou C), que são:<br />

• existe um elemento neutro aditivo, 0, tal que 0+x = x, ∀x ∈ R.<br />

• ∀x ∈ R existe o inverso aditivo −x tal que x+(−x) = 0.<br />

• existe um elemento neutro multiplicativo, 1, tal que 1·x = x, ∀x ∈ R.<br />

• ∀x ∈ R, x = 0, existe o inverso multiplicativo 1 1 tal que x· = 1.<br />

x x<br />

• 1 = 0<br />

• as operações <strong>de</strong> soma e produto são distributivas, associativas e comutativas.<br />

De posse <strong>de</strong>ssas proprieda<strong>de</strong>s, que são assumidas como verda<strong>de</strong>s, posso provar:<br />

Afirmação 1.1.<br />

i) −x = −1·x, ∀x ∈ R,<br />

ii) 0·x = 0, ∀x ∈ R.<br />

iii) não existe 1<br />

0 .<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

0 = (1−1)·x ⇔ x−x = (1−1)·x ⇔<br />

31


2. ORDEM NOS REAIS: NÃO TIRARÁS A RAÍZ QUADRADA DE NÚMEROS<br />

NEGATIVOS ! 32<br />

De ii):<br />

⇔ x−x = 1·x−1·x ⇔ x−x = x−1·x ⇔ −x = −1·x.<br />

0·x = 0 ⇔ (1−1)·x = 0 ⇔<br />

⇔ x−1·x = 0 ⇔ x−x = 0,<br />

e este último fato é verda<strong>de</strong>: x = x.<br />

De iii):<br />

Suponhamos por absurdo que exista o número 1<br />

0 .<br />

Então 0· 1<br />

1<br />

= 1, pois o sentido <strong>de</strong> é ser o inverso multiplicativo <strong>de</strong> x.<br />

0<br />

Mas o item ii) dá que:<br />

Logo 0 = 1: contradição.<br />

x<br />

0· 1<br />

0<br />

= 0.<br />

2. Or<strong>de</strong>m nos Reais: não tirarás a raíz quadrada <strong>de</strong> números negativos !<br />

Um aspecto bonito da matemática é que, após assumir a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> certos fatos<br />

simples, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>duzir fatos novos, às vezes não tão simples.<br />

Vamos assumir a valida<strong>de</strong> dos seguinte Princípios (Axiomas):<br />

• Princípio 0: Existe um subconjunto P dos Reais chamado <strong>de</strong> conjunto dos<br />

números positivos. Vale para todo x ∈ R apenas uma das 3 possibilida<strong>de</strong>s:<br />

oux ∈ P oux = 0ou−x ∈ P. O elemento neutro multiplicativo 1épositivo.<br />

• Princípio 1: A soma <strong>de</strong> quaisquer dois números positivos é um número<br />

positivo.<br />

• Princípio 2: o produto <strong>de</strong> um número positivo por um número positivo é<br />

positivo.<br />

Um número é chamado não-negativo se x ∈ P ∪ {0}. Denotamos os positivos<br />

usualmente com x > 0 e os não-negativos com x ≥ 0. Os negativos, por x < 0.<br />

Po<strong>de</strong>mos agora provar:<br />

Afirmação 2.1.<br />

i) (Regra <strong>de</strong> multiplicação <strong>de</strong> sinais) (−x)·(−x) = x·x, ∀x ∈ R.<br />

ii) x 2 := x·x ≥ 0 ∀x ∈ R.<br />

iii) √ x não é um número Real, se x < 0.<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

De fato, pelo item i) da Afirmação 1.1 (−1)·x = −x.<br />

Pela comutativida<strong>de</strong> e associativida<strong>de</strong> do produto:<br />

(−x)·(−x) = (−1)·x·(−1)·x = (−1)·(−1)·x·x.


CAPÍTULO 3. PROPRIEDADE BÁSICAS DOS NÚMEROS REAIS 33<br />

Só resta provar que<br />

−1·(−1) = 1,<br />

ou seja, nos reduzimos a provar apenas a Regra dos Sinais para o −1. Ora,<br />

como queríamos.<br />

−1·(−1+1) = 0 ⇔ −1·(−1)−1·1 = 0 ⇔<br />

⇔ −1·(−1)−1 = 0 ⇔ −1·(−1) = 1,<br />

De ii):<br />

Se x = 0 então x·x = 0, pelo item ii) da Afirmação 1.1.<br />

Se x > 0 então x·x > 0 (Pr. 2).<br />

Se, por outro lado, x < 0 então −x > 0 (Pr. 0).<br />

E então x·x = (−x)·(−x) > 0 (Pr. 3 e 2).<br />

De iii):<br />

Suponha agora por absurdo que y := √ x ∈ R para x < 0.<br />

Então y 2 ≥ 0 pelo item ii).<br />

Mas então chegamos em<br />

em contradição com o Princípio 0.<br />

0 ≤ y 2 = ( √ x) 2 = x < 0,<br />

3. Proprieda<strong>de</strong>s gerais das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

Usando os Princípios 0 , 1, 2 e a Regra <strong>de</strong> Multiplicação <strong>de</strong> Sinais po<strong>de</strong>mos provar<br />

as proprieda<strong>de</strong>s a seguir, que são fundamentais.<br />

Alerta: se o estudante não manejar bem essas proprieda<strong>de</strong>s terá problemas no<br />

Curso.<br />

Afirmação 3.1.<br />

i) Se x ≥ y e z ≥ w então x+z ≥ y +w, ∀x,y,z,w ∈ R.<br />

ii) Se x > 0 e y ≥ z então x·y ≥ x·z.<br />

iii) Se x < 0 e y ≥ z então x·y ≤ x·z.<br />

iv) se x > 0 então 1 > 0 x<br />

v) se x > 1 então 1 < 1. x<br />

vi) 0 < x1 < x2 ⇒ 0 < 1 1 < x2 x1 .<br />

vii) 0 < x < 1 ⇒ 0 < x2 < x < 1.<br />

viii) 1 < x ⇒ 1 < x < x2 ix) 0 < x1 < x2 < 1 ⇒ 1 < 1 1 < x2 x1 .<br />

x) 1 < x1 < x2 ⇒ 1 1 < < 1. x2 x1<br />

xi): 0 < x < 1 ⇒ 1 < 1 1 < x x2. xii): 1 < x ⇒ 1<br />

x2 < 1 < 1. x<br />

xiii): 0 ≤ x ≤ y e 0 ≤ z ≤ w então 0 ≤ x·z ≤ y ·w.


3. PROPRIEDADES GERAIS DAS DESIGUALDADES 34<br />

Demonstração.<br />

i) Dados x,y,z,w ∈ R com<br />

po<strong>de</strong>mos traduzir isso em:<br />

x ≥ y e z ≥ w,<br />

(x−y) ≥ 0 e (z −w) ≥ 0.<br />

Queremos provar que<br />

x+z ≥ y +w,<br />

que se traduz em<br />

(x+z)−(y +w) ≥ 0,<br />

ou, o que diz o mesmo:<br />

(x−y)+(z −w) ≥ 0.<br />

Isso é o que queremos. Para termos isso, po<strong>de</strong>mos usar o Princípio 1, pois então com<br />

esse princípio:<br />

(x−y) ≥ 0 e (z −w) ≥ 0 ⇒ (x−y)+(z −w) ≥ 0.<br />

ii) Temos que x > 0. Caso y = z então x·y = x·z. Por isso supomos que y > z,<br />

ou seja, y −z > 0.<br />

Queremos provar que x·y > x·z, ou seja, que<br />

o que é o mesmo que dizer que<br />

x·y −x·z > 0,<br />

x·(y −z) > 0.<br />

Isso é o que queremos. Então po<strong>de</strong>mos usar o Princípio 2, que dá:<br />

x > 0 e y −z > 0 ⇒ x·(y −z) > 0.<br />

iii) Temos agora −x > 0 pelo Princípio 0. Caso y = z então x·y = x·z.<br />

Por isso supomos y > z, ou seja, y −z > 0. Então o Princípio 2 dá:<br />

ou seja<br />

ou seja,<br />

que é o que buscávamos provar:<br />

(−x)·(y −z) > 0,<br />

−x·y +x·z > 0,<br />

x·y −x·z < 0,<br />

x·y < x·z.<br />

iv) Temos x > 0 e suponhamos por absurdo que 1<br />

x<br />

Então −1 > 0 e pelo Princípio 2:<br />

x<br />

x·(− 1<br />

) > 0.<br />

x<br />

Mas x·(− 1<br />

x<br />

< 0.<br />

) = −1. Logo obtemos −1 > 0 ou seja 1 < 0, que contradiz o Princípio 0.<br />

v) Seja x > 1. Suponhamos por absurdo que 1<br />

≥ 1. x<br />

= 1 então chegamos na contradição: 1 = x.<br />

Se 1<br />

x


CAPÍTULO 3. PROPRIEDADE BÁSICAS DOS NÚMEROS REAIS 35<br />

Se 1<br />

x<br />

> 1 então multiplicando esta <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> por x > 1 > 0, temos<br />

x· 1<br />

> x·1<br />

x<br />

(pelo item ii) já provado).<br />

Como x· 1<br />

1<br />

= 1 pela própria <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> e como x·1 pela <strong>de</strong>finição do neutro<br />

x x<br />

1, obtemos<br />

1 > x,<br />

que contradiz x > 1.<br />

Deixo paraoleitor aprova dasproprieda<strong>de</strong>s vi-xii, on<strong>de</strong>po<strong>de</strong>usar asproprieda<strong>de</strong>s<br />

i) - v) que já foram provadas.<br />

Faço a prova <strong>de</strong> xiii):<br />

Como 0 ≤ x ≤ y e 0 ≤ z ≤ w então sai primeiro que 0 ≤ x·z.<br />

Agora, para ver que x·z ≤ y ·w, note que<br />

pois 0 ≤ (y −x)·z.<br />

Do mesmo jeito sai que:<br />

e portanto<br />

x·z ≤ y ·z,<br />

y ·z ≤ y ·w,<br />

x·z ≤ y ·w.<br />

Proponho agora ao leitor o seguinte Exercício: explicar com itens da Afirmação<br />

3.1 algumas proprieda<strong>de</strong>s dos Gráficos das funções a seguir, a saber:<br />

• por quê em <strong>de</strong>terminado intervalo um está acima ou abaixo do outro,<br />

• por quê isso se inverte ao passar <strong>de</strong> x = 1,<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

0,2 0,4 0,6 0,8<br />

x<br />

1<br />

1,2


4. INTERVALOS E SUAS UTILIDADES 36<br />

y = x em vermelho, y = x 2 em ver<strong>de</strong>, y = x 3 em amarelo<br />

e y = x 4 em azul, para x ∈ [0,1.2]<br />

y = 1<br />

x<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0,8<br />

1 1,2 1,4 1,6 1,8<br />

x<br />

em vermelho, y = 1<br />

x 2 em ver<strong>de</strong>, para x ∈ [ 2<br />

3 ,2]<br />

4. Intervalos e suas utilida<strong>de</strong>s<br />

Um intervalo I ⊂ R é<strong>de</strong>finido como o conjunto <strong>de</strong> todosos númerosReaismaiores<br />

(ou iguais) a um certo número a e menores (ou iguais) que um certo b. 1<br />

Se impomos que sejam estritamente maiores que a e estritamente menores que b<br />

temos um intervalo aberto<br />

I = {x ∈ R;a < x < b}<br />

<strong>de</strong>notado I = (a,b). Caso contrário surgem os intervalos semi-abertos, fechados, etc.<br />

Um típico intervalo que vamos usar no Curso será o intervalo aberto <strong>de</strong> raio ǫ > 0<br />

centrado num ponto x:<br />

(−ǫ+x,x+ǫ)<br />

on<strong>de</strong> x é um ponto da reta dos Reais e ǫ > 0 é um número positivo fixado por nós.<br />

O modo como vamos usar esses intervalos centrados é o seguinte: (−ǫ+x,x+ǫ)<br />

será uma espécie <strong>de</strong> gaiola ou cercado em torno <strong>de</strong> x, <strong>de</strong>limitando pontos próximos<br />

<strong>de</strong>le (à medida que ǫ > 0 é tomado pequeno).<br />

Explico isso em mais <strong>de</strong>talhe:<br />

Definição 4.1. A distância entre dois pontos x,x da reta dos Reais é <strong>de</strong>finida pelo<br />

módulo 2 da diferença entre eles:<br />

|x−x| = |x−x|.<br />

1 Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar a reta R toda ou uma semi-reta também como intervalos: veremos isso em<br />

<strong>de</strong>talhe na Seção 4. Ao invés <strong>de</strong> usarmos o símbolo (2,+∞) para <strong>de</strong>notar a semi-reta dos números<br />

maiores que 2, prefiro usar o símbolo R >2 : o motivo é evitar o mal uso do símbolo +∞.<br />

2 para um número Real △, |△| := △, se △ ≥ 0 ou |△| := −△, se △ < 0


CAPÍTULO 3. PROPRIEDADE BÁSICAS DOS NÚMEROS REAIS 37<br />

Pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> módulo, |x−x| < ǫ significa que<br />

x−x < ǫ, se x−x ≥ 0 ou −(x−x) < ǫ, se x−x < 0.<br />

É importante enten<strong>de</strong>r que:<br />

Afirmação 4.1. (−ǫ+x,x+ǫ) é exatamente 3 o conjunto dos pontos que distam <strong>de</strong><br />

x menos que ǫ > 0.<br />

Demonstração.<br />

Vamos mostrar primeiro que<br />

Tome<br />

(−ǫ+x,x+ǫ) ⊂ {x ∈ R;|x−x| < ǫ}.<br />

x ∈ (−ǫ+x,x+ǫ),<br />

com x = x (caso x = x não há nada a provar, pois ǫ > 0).<br />

Ou seja x verifica:<br />

Que equivale (subtraindo x) a:<br />

Que equivale 4 a:<br />

ou seja, 0 < |x−x| < ǫ, como queríamos.<br />

.<br />

Agora vamos mostrar que:<br />

Tome x ∈ {x ∈ R;|x−x| < ǫ}.<br />

Se 0 ≤ x−x então temos<br />

e portanto x ∈ [x, x+ǫ).<br />

Se x−x < 0 então<br />

ou seja, x ∈ (−ǫ+x, x). 5 .<br />

−ǫ+x < x < x ou x < x < x+ǫ.<br />

−ǫ < x−x < 0 ou 0 < x−x < ǫ.<br />

0 < −(x−x) < ǫ ou 0 < x−x < ǫ,<br />

{x ∈ R;|x−x| < ǫ} ⊂ (−ǫ+x,x+ǫ).<br />

x−x < ǫ ⇔ x < x+ǫ,<br />

−(x−x) < ǫ ⇔ −x+x < ǫ ⇔ −ǫ+x < x,<br />

3Dois conjuntos X e Y são iguais se X ⊂ Y e Y ⊂ X<br />

4Atenção: as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> se invertem quando multiplicadas por um número negativo, por ex.,<br />

1 < 2 < 3 mas −3 < −2 < −1<br />

5O quadrado à direita significa que a <strong>de</strong>monstração terminou


4. INTERVALOS E SUAS UTILIDADES 38<br />

4.1. O que é útil num intervalo aberto.<br />

Os intervalos abertos são importante no Cálculo, e o ponto importante é que um<br />

intervalo aberto tem uma certa tolerância com cada um <strong>de</strong> seus elementos. Po<strong>de</strong>mos<br />

mexer um pouquinho em cada um <strong>de</strong> seus elementos sem sair do intervalo aberto.<br />

Mais especificamente:<br />

Afirmação 4.2. Dado qualquer x ∈ (a,b) existe um pequeno intervalo aberto centrado<br />

em x <strong>de</strong>notado Ix tal que Ix ⊆ (a,b).<br />

Demonstração.<br />

Consi<strong>de</strong>re as distâncias <strong>de</strong> x ∈ (a,b) até o extremo a e até o extremo b:<br />

|x−a| := x−a > 0, |x−b| := b−x > 0<br />

(são dois números positivos pois (a,b) é intervalo aberto).<br />

Dentre os dois agora escolho o menor, chamando-o <strong>de</strong> δ0 > 0:<br />

Faça<br />

e vamos verificar que<br />

δ0 := mínimo{ x−a, b−x }.<br />

Ix := (−δ0 +x,x+δ0),<br />

(−δ0 +x,x+δ0) ⊂ (a,b).<br />

Para isso vamos supor que é o caso que δ0 = x−a, ou seja, que x está ou no centro<br />

do intervalo (a,b) ou um pouco mais próximo <strong>de</strong> a que <strong>de</strong> b (analogamente no outro<br />

caso). Então<br />

(−δ0 +x,x+δ0) = ( −(x−a)+x,x+(x−a) ) =<br />

= ( a,x+(x−a) ).<br />

Ora supusemos estar na situação em que x−a ≤ b−x, logo:<br />

portanto:<br />

como queríamos.<br />

(a,x+(x−a)) ⊆ (a,x+(b−x)) = (a,b),<br />

(−δ0 +x,x+δ0) ⊆ (a,b)<br />

Observe nessa Prova que à medida que x se aproxima <strong>de</strong> a ou <strong>de</strong> b a tolerância<br />

(medida pelo δ0) fica menor, mas sempre existe.<br />

Jánointervalosemi-aberto I = (0,5]nãohátolerâncianenhuma comseuelemento<br />

5: ou seja, qualquer número δ > 0 que for somada a 5, já faz que 5+δ não pertença<br />

a (0,5].


CAPÍTULO 3. PROPRIEDADE BÁSICAS DOS NÚMEROS REAIS 39<br />

4.2. O que é útil num intervalo fechado.<br />

Num intervalo aberto acontece <strong>de</strong> seus elementos estarem se aproximando cada<br />

vez mais <strong>de</strong> um ponto que ele mesmo não está no intervalo, por assim dizer <strong>de</strong> um<br />

fantasma. Por exemplo, os pontos 1 1 1 , ,..., <strong>de</strong> (0,5) estão cada vez mais próximos<br />

2 3 n<br />

<strong>de</strong> 0, mas mesmo assim 0 ∈ (0,5). Isso não acontece no intervalo fechado [0,5].<br />

Dito <strong>de</strong> outro modo, no Curso não estamos apenas interessados em saber se um<br />

certo número z pertence ou não pertence a um conjunto X ⊂ R, como se fazia no<br />

ensino Médio. Tambémvamosquerer saberse<strong>de</strong>sse pontoz po<strong>de</strong>mosachar elementos<br />

x ∈ X tão próximos quanto quisermos.<br />

• Se I é um intervalo aberto, po<strong>de</strong> acontecer que z /∈ I e mesmo assim hajam<br />

elementos <strong>de</strong> I tão próximos quanto quisermos.<br />

• Se I é intervalo fechado, e há elementos <strong>de</strong> I tão próximos quanto quisermos<br />

<strong>de</strong> z, então <strong>de</strong> fato z ∈ I.<br />

Uma informação extremamente importante para um cientista é saber se uma<br />

função que lhe interessa assume máximo ou mínimo em seu domínio e principalmente,<br />

saber on<strong>de</strong> o faz.<br />

Somente os intervalos fechados I = [a,b] garantirão sempre máximos e mínimos<br />

globais <strong>de</strong> funções, senão po<strong>de</strong> acontecer algo como segue.<br />

Pense em f : (0,5] → R,f(x) = 1.<br />

À medida que vamos tomando os pontos<br />

x<br />

1/n ∈ (0,5] a função vale<br />

f( 1<br />

) = n,<br />

n<br />

que fica tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos. Note que (0,5] não é um intervalo fechado.<br />

5. Metamorfoses <strong>de</strong> cúbicas<br />

Nesta Seção resolvi <strong>de</strong>screver curvas interessantes usando apenas proprieda<strong>de</strong>s<br />

básicas do Reais, como regra dos sinais, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, módulo, etc. que já justificamos<br />

acima neste mesmo Capítulo.<br />

Tudo o que vem a seguir nesta Seção é baseado em que não há raíz quadrada Real<br />

<strong>de</strong> um número Real negativo.<br />

Começemos com o conhecido círculo y 2 +x 2 = r 2 <strong>de</strong> raio r > 0. Observe que:<br />

• po<strong>de</strong>mos tomar o gráfico <strong>de</strong> y = √ r 2 −x 2 para <strong>de</strong>screver o semicírculo superior<br />

(ou tomar y = − √ r 2 −x 2 para o inferior).<br />

• se r 2 −x 2 > 0 há duas escolhas <strong>de</strong> raízes, positiva e negativa, e quando x = r<br />

ou x = −r essas duas escolhas colapsam numa só, que é y = 0.<br />

• On<strong>de</strong> r 2 −x 2 < 0 <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> trabalhar sobre os Reais, pois os valores associados<br />

a y = √ r 2 −x 2 passam para o terreno dos números Complexos. 6 Como<br />

só tratamos neste Curso <strong>de</strong> funções a valores Reais, não existem pontos do<br />

círculo cuja coor<strong>de</strong>nada x verifique r 2 −x 2 < 0.<br />

Por último, observe que mudando o valor <strong>de</strong> r muda o raio do círculo, portanto<br />

po<strong>de</strong>mos pensar em y 2 + x 2 = r 2 como sendo uma família <strong>de</strong> círculos em que cada<br />

elemento fica <strong>de</strong>terminando pelo r. Veja a Figura:<br />

6 Há uma versão magnífica do Cálculo sobre os números complexos !


5. METAMORFOSES DE CÚBICAS 40<br />

-1<br />

-0,5<br />

y<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 0,5<br />

x<br />

-0,5<br />

-1<br />

Bom, mas tratar <strong>de</strong> círculos é covardia, pois temos sua imagem impressa na nossa<br />

mente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância.<br />

Que tal tratarmos <strong>de</strong> alguma curva que não tenha sua imagem impressa na nossa<br />

mente ? E a<strong>de</strong>maias, que tal tratarmos logo <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong>las ?<br />

Consi<strong>de</strong>re a familia <strong>de</strong> curvas dada por:<br />

y 2 −x 3 −r ·x = 0, r = 0.<br />

Vamos analisar separadamente o que acontece quando r > 0 e quando r < 0.<br />

Caso r > 0:<br />

Temos<br />

y 2 = x 3 +rx ⇔ y 2 = x·(x 2 +r).<br />

Como x 2 +r ≥ r > 0, o sinal <strong>de</strong> x·(x 2 +r) só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do <strong>de</strong> x. Logo<br />

• se x > 0 temos duas opções<br />

y = x·(x 2 +r) ou y = − x·(x 2 +r).<br />

Ou seja, a curva não é um gráfico, ela tem uma parte no eixo y > 0 e uma<br />

parte no eixo −y. Há uma simetria relativa ao eixo dos x.<br />

• aindasex > 0, |y| = √ x 3 +rxobservo quefica tãogran<strong>de</strong>quanto quisermos.<br />

De fato, se dou o valor 7 K >> 1:<br />

x ≥ 3√ K 2 ⇒ x 3 ≥ K 2 ⇒<br />

⇒ x 3 +rx ≥ K 2 ⇒ |y| = √ x 3 +rx ≥ K.<br />

• essas duas escolhas y = x·(x 2 +r) ou y = − x·(x 2 +r) colapsam numa<br />

só se x = 0, pois então y = 0.<br />

• se x < 0 a(s) coor<strong>de</strong>nada(s) y <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um número Real, ou seja, para<br />

nós <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir.<br />

7 O sinal >> 1 quer dizer bem maior que 1<br />

1


CAPÍTULO 3. PROPRIEDADE BÁSICAS DOS NÚMEROS REAIS 41<br />

Uma Figura compatível 8 com essa <strong>de</strong>scrição é:<br />

Caso r < 0<br />

Agora<br />

3<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

0,4<br />

0,8<br />

y 2 = x·(x 2 +r),<br />

e (x 2 +r) po<strong>de</strong> ser positivo, negativo ou positivo. Por isso o estudo do sinal <strong>de</strong><br />

é mais <strong>de</strong>licado.<br />

Note que<br />

x<br />

1,2<br />

x·(x 2 +r)<br />

x 2 +r > 0 ⇔ x 2 > −r > 0 ⇔ √ x 2 > √ −r.<br />

Só que √ x 2 = |x|<br />

e portanto temos<br />

x 2 +r > 0 ⇔ |x| > √ −r.<br />

Se x > 0, |x| > √ −r quer dizer x > √ −r mas se x < 0 isso quer dizer −x > √ −r,<br />

ou seja x < − √ −r.<br />

Em suma:<br />

x 2 +r > 0 ⇔ x < − √ −r ou x > √ −r.<br />

Então<br />

• se x > 0<br />

x·(x 2 +r) ≥ 0 ⇔ x ≥ √ −r,<br />

e teremos duas opções <strong>de</strong> raízes para <strong>de</strong>terminar y. Que colapsam para y = 0<br />

se x = √ −r.<br />

• se x ≤ 0, só teremos x·(x 2 +r) ≥ 0 se (x 2 +r) ≤ 0. Ou seja,<br />

− √ −r ≤ x ≤ 0.<br />

Nessa faixa <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> x teremos duas opções <strong>de</strong> y, que colapsam em y = 0<br />

se x = 0 ou x = − √ −r.<br />

8 Na Figura traçada há mais informação do que a que justificamos. Somente na Seção 5 do<br />

Capítulo 15 é que teremos esses dados.<br />

1,6


5. METAMORFOSES DE CÚBICAS 42<br />

Uma Figura compatível com essa <strong>de</strong>scrição é (r = −1).<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1 -0,5 0 0,5 1<br />

Por último, note que se |r| vai ficando pequeno, então os pontos<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

1,5<br />

(− √ −r,0), (0,0) e ( √ −r,0)<br />

vão se aproximando. Noteque as ovais da parte negativa vão diminuindo <strong>de</strong> tamanho<br />

quando |r| vai diminuindo.<br />

Imaginer vindo <strong>de</strong>valorespositivos, quevãoficandobempróximos<strong>de</strong>zero, pulam<br />

o valor zero, e passam a assumir então valores negativos.<br />

É como se <strong>de</strong> um continente fosse expelida uma ilhota, que vai ficando maior e<br />

mais distante do continente: as quatro figuras a seguir tentam mostrar isso.<br />

3<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

0,4<br />

0,8<br />

x<br />

1,2<br />

1,6<br />

2


CAPÍTULO 3. PROPRIEDADE BÁSICAS DOS NÚMEROS REAIS 43<br />

Figura: A curva y 2 −x 3 −x = 0.<br />

3<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

0,5<br />

1<br />

x<br />

1,5<br />

Figura: A curva y 2 −x 3 −0.4x = 0.<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-0,5 0 0,5 1<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

1,5<br />

Figura: A curva y 2 −x 3 +0.3x = 0.<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1 -0,5 0 0,5 1<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

1,5<br />

Figura: A curva y 2 −x 3 +x = 0.<br />

2<br />

2<br />

2


5. METAMORFOSES DE CÚBICAS 44<br />

5.1. Suavização do caso r = 0.<br />

Há uma pergunta natural: o que acontece na curva y 2 −x 3 −0x = y 2 −x 3 = 0 ?<br />

Já aviso: os programas gráficos ficam bem perdidos para traçar essa curva, se a<br />

coor<strong>de</strong>nada x fica próxima <strong>de</strong> 0.<br />

Por isso vou proce<strong>de</strong>r como em muitos ramos da ciência, vou tentar inferir qual<br />

o formato <strong>de</strong>ssa curva tomando curvas que entendamos e que estejam cada vez mais<br />

próximas <strong>de</strong>la.<br />

Num sentido que ficará claro mais tar<strong>de</strong>, essas curvas próximas são suaves ou<br />

não-singulares (ver Definição 4.1 na Seção 4 do Capítulo 32).<br />

Na Figura a seguir traço a curva y 2 −x 3 = 0 só que estabeleço x ≥ 0.4, <strong>de</strong>ixando<br />

a região em torno <strong>de</strong> x = 0 como um mistério.<br />

3<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

0,4<br />

0,8<br />

x<br />

A curva y 2 −x 3 = 0, só que x ≥ 0.4.<br />

Como quero ter mais luz sobre esse objeto y 2 −x 3 = 0 não vou <strong>de</strong>formá-lo <strong>de</strong> novo<br />

na família y 2 −x 3 −rx = 0, mas sim noutra família:<br />

Observo que a relação<br />

1,2<br />

1,6<br />

y 2 −x 3 +s = 0, s ∈ R >0 .<br />

y 2 = x 3 −s<br />

permite tirar raízes quadradas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que x 3 − s ≥ 0. Portanto há duas opções <strong>de</strong><br />

x > 3√ s ou apenas y = 0 se x = 3√ s.<br />

Ou seja:<br />

e<br />

• a curva y 2 = x 3 −s só tem traço no plano Real se x ≥ 3√ s e<br />

• a partir <strong>de</strong> x > 3√ s a curva é simétrica em relação ao eixo x, já que temos<br />

duas opções diferentes: y = √ x 3 −s e y = − √ x 3 −s.<br />

A<strong>de</strong>mais note que se x > 3√ s, então<br />

ou seja:<br />

y = √ x 3 −s < √ x 3<br />

y = − √ x 3 −s > √ x 3 .


CAPÍTULO 3. PROPRIEDADE BÁSICAS DOS NÚMEROS REAIS 45<br />

• dado x > 0, o traço da curva y 2 = x 3 +s que tem y > 0 fica sempre abaixo<br />

do <strong>de</strong> y = √ x 3 .<br />

• dado x > 0, o traço da curva y 2 = x 3 +s que tem y < 0 fica sempre acima<br />

do <strong>de</strong> y = − √ x 3 .<br />

A Figura a seguir ilustra isso para y 2 −x 3 +8 = 0:<br />

4<br />

2<br />

y 0<br />

0,5<br />

-2<br />

-4<br />

1<br />

1,5 2<br />

A curva y 2 −x 3 = 0, só que x ≥ 0.4, e a curva y 2 −x 3 −8 = 0.<br />

As Figuras a seguir ilustram curvas cada vez mais próximas:<br />

4<br />

2<br />

y 0<br />

0,5 1<br />

-2<br />

-4<br />

x<br />

1,5 2<br />

x<br />

A curvas y 2 −x 3 = 0, y 2 −x 3 +8 = 0 e y 2 −x 3 +1 = 0.<br />

2,5<br />

2,5


6. EXERCÍCIOS 46<br />

4<br />

2<br />

y 0<br />

0,5 1<br />

-2<br />

-4<br />

1,5 2<br />

A curvas y 2 −x 3 = 0, y 2 −x 3 +8 = 0, y 2 −x 3 +1 = 0 e y 2 −x 3 +0.5 = 0.<br />

Será que agora o leitor consegue inferir a forma <strong>de</strong> y 2 −x 3 = 0 ?<br />

x<br />

6. Exercícios<br />

Exercício 6.1. (resolvido)<br />

Prove, ao invés <strong>de</strong> apenas assumir, que vale:<br />

Exercício 6.2. (resolvido)<br />

Para quais valores <strong>de</strong> x:<br />

i) −3x+2 > 0 ?<br />

ii) x 2 −x > 0 ?<br />

iii) 3x 2 −2x−1 > 0 ?<br />

iii) 3x+2 > 2x−8 ?<br />

iv) |x−6| < 2 ?<br />

v) |x+7| < 1 ?<br />

2,5<br />

x·x = (−x)·(−x), ∀x ∈ R.<br />

Exercício 6.3. (resolvido)<br />

Prove que para quaisquer números Reais e △:<br />

|+△| ≤ ||+|△|.<br />

Exercício 6.4. Como são os gráfico das funções (com domínio ∀x ∈ R):<br />

i) y = |x|,<br />

ii) y = −|x|,<br />

iii) y = |x−5|,<br />

iv) y = |x|+|x−1|+|x−2| ?


CAPíTULO 4<br />

Sequências e seus limites<br />

1. Sequências<br />

Neste Curso será importante a situação em que o domínio <strong>de</strong> uma função será o<br />

conjunto dos números Naturais N = {1,2,3,...}. Nesse caso<br />

f : N → R<br />

é chamada <strong>de</strong> sequência.<br />

A imagem <strong>de</strong> uma tal f é uma lista <strong>de</strong> números Reais. Como cada ponto <strong>de</strong> sua<br />

imagem é do tipo f(n) é comum <strong>de</strong>notá-lo por xn e a sequência toda por (xn)n.<br />

Exemplo 0: f : N → R dada por f(n) = K é a sequência mais boba <strong>de</strong> todas,<br />

pois sua imagem é somente o conjunto {K} - chama-se sequência constante.<br />

Exemplo 1: Uma sequência não tão boba é f : N → R dada por f(n) = 2n, cuja<br />

imagem são os números Pares.<br />

Exemplo 2:<br />

Uma sequência fundamental para todo o Curso é<br />

f : N → R, f(n) = 1<br />

n .<br />

No que segue, dizer que N é um conjunto ilimitado em R é dizer que sempre há<br />

um número Natural maior que qualquer número Real que for dado.<br />

Afirmação 1.1. O fato <strong>de</strong> que os números naturais N formam um conjunto ilimitado<br />

nos R é equivalente ao fato <strong>de</strong> que os valores <strong>de</strong> f : N → R, f(n) = 1/n ficam tão<br />

próximos quanto quisermos <strong>de</strong> 0, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que n seja suficientemente gran<strong>de</strong>.<br />

Demonstração.<br />

Uma equivalência é uma implicação em dois sentidos: ⇔.<br />

Prova do sentido ⇒: Obviamente 1/n nunca é igual a 0: caso pensássemos o<br />

contrário para algum n0, obteríamos <strong>de</strong> 1<br />

n0 = 0 e multiplicando por n0 obtemos que<br />

0 = 1: absurdo.<br />

A distância entre f(n) = 1/n e 0 é dada por |1/n−0| = 1/n. Suponha que nos<br />

foi dado um número positivo muito pequeno ǫ0 > 0. Queremos confirmar que<br />

1/n < ǫ0<br />

47


2. LIMITES DE SEQUÊNCIAS 48<br />

a partir <strong>de</strong> um certo n, ou seja se n ≥ nǫ (on<strong>de</strong> uso a notação nǫ para <strong>de</strong>stacar que<br />

esse n <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do ǫ, quanto menor o ǫ maior o nǫ). Mas negar o anterior seria dizer:<br />

∀n ∈ N, ǫ0 ≤ 1<br />

n .<br />

Mas isso equivale (multiplicando por n > 0): ǫ0<br />

∀n ∈ N, n ≤ 1<br />

Concluiríamos então que o número 1<br />

ǫ0<br />

tradizendo a hipótese.<br />

teríamos 1<br />

K<br />

ǫ0<br />

é maior que todos os números naturais, con-<br />

Prova do sentido ⇐:<br />

Se existe um número K ∈ R tal que ∀n ∈ N tenhamos n ≤ K então ∀n ∈ N<br />

1<br />

1<br />

1<br />

≤ . Logo a sequência não se aproxima <strong>de</strong> 0 mais que . Contradição.<br />

n n K<br />

<br />

Observação: É possível se colocar umAxioma sobreosnúmerosReais -chamado<br />

Axioma <strong>de</strong> Completamento - que implica a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> N ser ilimitado em R.<br />

Para nós, neste Curso, o fato dos Naturais serem ilimitados é tomado como um<br />

Axioma.<br />

Po<strong>de</strong>mos também dizer o conteúdo da Afirmação anterior <strong>de</strong> outro modo: dada<br />

uma cerca (−ǫ+0,0+ǫ), se tomamos um nǫ suficientemente gran<strong>de</strong>, então ∀n ≥ nǫ<br />

teremos 1/n ∈ (−ǫ+0,0+ǫ). Ou seja, esperando o tempo suficiente nǫ, a partir dali<br />

a sequência 1/n não sai mais da gaiola (−ǫ+0,0+ǫ). Simbolicamente escreveremos<br />

1<br />

lim = 0,<br />

n→+∞ n<br />

que lê-se assim: zero é o limite da sequência 1/n ou a sequência ten<strong>de</strong> a zero<br />

Veremos adiante que há sequências que ten<strong>de</strong>m <strong>de</strong> diversas maneiras diferentes<br />

a pontos, algumas vão <strong>de</strong>crescendo em valores como a (xn)n = 1/n, outras vão<br />

crescendocomo−1/n, outrasvãooscilandoeassimpordiante, masoqueéimportante<br />

é que:<br />

• elas entram em qualquer cerca estabelecida em torno <strong>de</strong> seu limite, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que se espere o tempo nǫ suficiente e<br />

• <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> lá entrarem não mais saem.<br />

Veremos também que po<strong>de</strong>mos combinar sequências simples (cujo limite po<strong>de</strong>mos<br />

intuir facilmente) para criar sequências complicadas, das quais não é possível ter uma<br />

intuição <strong>de</strong> seu limite (exceto alguém com po<strong>de</strong>res para-normais ...). Mesmo assim<br />

po<strong>de</strong>remos matematicamente <strong>de</strong>terminar esses limites.<br />

2. Limites <strong>de</strong> sequências<br />

O conceito <strong>de</strong> limite é o conceito fundamental do Cálculo, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surgem outras<br />

noções importantes como continuida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>rivada e integral. Por isso este é um<br />

Capítulo um pouco mais extenso.


CAPÍTULO 4. SEQUÊNCIAS E SEUS LIMITES 49<br />

Imagine uma máquina, um sistema ou um processo tal que para um certo input<br />

x dá um certo output f(x). Agora imagine que para um input parecido x+h (com<br />

h pequeno) dá um output parecido: f(x+h) = f(x)+δ, com δ pequeno.<br />

Apesar <strong>de</strong> ser uma situação plausível, da qual temos muitos exemplos no dia a dia,<br />

também sabemos que há exemplos da situação oposta, em que, apesar <strong>de</strong> x+h ∼ x<br />

temos f(x + h) muito diferente <strong>de</strong> f(x). Essas duas possibilida<strong>de</strong>s são típicas <strong>de</strong><br />

processos contínuos e <strong>de</strong>scontínuos, respectivamente.<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste capítulo é <strong>de</strong>finir essas noções precisamente, pois nelas se apoiam<br />

os dois conceitos centrais do Curso: Derivada e Integral.<br />

3. Definição e Proprieda<strong>de</strong>s fundamentais<br />

Vamos começar com a Definição 3.1, que é mais precisa e importante do que<br />

parece.<br />

Nela <strong>de</strong>staco que há:<br />

• uma enorme exigência: on<strong>de</strong> dizemos ∀ǫ >, e<br />

• uma imposição: a <strong>de</strong> que a partir <strong>de</strong> um certo nǫ a sequência não mais saia<br />

<strong>de</strong> uma região on<strong>de</strong> entrou.<br />

Definição 3.1. Um sequência (xn)n ten<strong>de</strong> a um ponto L se ∀ǫ existe nǫ ∈ N tal que<br />

se n ≥ nǫ então xn ∈ (−ǫ+L,L+ǫ).<br />

Há diferentes formas pelas quais uma sequência po<strong>de</strong> ten<strong>de</strong>r a um limite; em<br />

particular, com diferentes velocida<strong>de</strong>s.<br />

Por exemplo, Afirmo que xn = 1<br />

n2 ten<strong>de</strong> a 0 mais rapidamente do que zn = 1<br />

n o<br />

faz. Ou seja, Afirmo que o tempo nǫ(zn) <strong>de</strong> espera para ter zn < ǫ é menor que o<br />

tempo nǫ(xn) que tenho <strong>de</strong> esperar para ter xn < ǫ. De fato, 1 :<br />

e é claro que<br />

1<br />

ǫ<br />

≤ 1<br />

ǫ<br />

<br />

1<br />

nǫ(zn) = ⌈<br />

ǫ ⌉, nǫ(xn) = ⌈ 1<br />

ǫ ⌉,<br />

para ǫ pequeno.<br />

Nos argumentos discutidos abaixo teremos às vezes que esperar o tempo n suficiente<br />

para que duas ou mais sequências se aproximem <strong>de</strong> on<strong>de</strong> queremos. Como<br />

po<strong>de</strong>m ser diferentes, por precaução tomamos o maior <strong>de</strong>ntre eles, para que as duas<br />

ou mais sequências estejam on<strong>de</strong> queremos.<br />

Teorema 3.1. (Proprieda<strong>de</strong>s fundamentais <strong>de</strong> sequências)<br />

Sejam (xn)n e (zn)n duas sequências, com<br />

Então:<br />

1) A sequência soma (xn +zn)n tem<br />

lim<br />

n→+∞ xn = L1 e lim<br />

n→+∞ zn = L2.<br />

lim<br />

n→+∞ (xn +zn) = L1 +L2.<br />

1 on<strong>de</strong> ⌈△⌉ significa o primeiro número Natural maior ou igual que △ ∈ R.


3. DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS 50<br />

2) A sequência diferença (xn −zn)n tem<br />

lim<br />

n→+∞ (xn −zn) = L1 −L2.<br />

3) Se C ∈ R é uma constante, então a sequência (C ·xn) tem<br />

lim<br />

n→+∞ (C ·xn) = C ·L1.<br />

4) Seja (qn)n uma sequência qualquer tal que<br />

∀n, |qn| ≤ K,<br />

para algum K. Se L1 = 0 então limn→+∞(qn ·xn) = 0<br />

5) A sequência produto (xn ·zn)n tem<br />

lim<br />

n→+∞ (xn ·zn) = L1 ·L2.<br />

6) Se L2 = 0, então:<br />

• i) a partir <strong>de</strong> um certo n, zn = 0 e<br />

• ii) limn→+∞ xn L1 = zn L2 .<br />

7) Suponha adicionalmente que a partir <strong>de</strong> um certo n, xn ≤ L1 e que, para uma<br />

sequência qualquer qn, a partir <strong>de</strong> um certo n temos<br />

Então<br />

xn ≤ qn ≤ L1.<br />

lim<br />

n→+∞ qn = lim<br />

n→+∞ xn = L1.<br />

Demonstração. (<strong>de</strong> alguns itens do Teorema 3.1)<br />

Prova <strong>de</strong> 1) Nesse primeiro item, o ponto a lembrar é que xn e zn se aproximam<br />

cada uma <strong>de</strong> um número a princípio distinto e que cada uma <strong>de</strong>las o faz possivelmente<br />

com velocida<strong>de</strong> diferente.<br />

O que queremos provar? Queremos saber se, esperando um tempo nǫ suficiente,<br />

conseguimos que:<br />

xn +zn ∈ (−ǫ+L1 +L2,L1 +L2 +ǫ),<br />

ou seja, como já explicamos, se |xn+yn−(L1+L2)| < ǫ. Vamos traduzir esta última<br />

condição <strong>de</strong> outro modo, que leva em conta as duas hipóteses sobre xn e zn 2 :<br />

|xn +yn −(L1 +L2)| = |xn −L1 +yn −L2| ≤<br />

≤ |xn −L1|+|yn −L2|.<br />

Agora fazemos o seguinte: esperamos tempo suficiente nǫ para que tenhamos<br />

∀n ≥ nǫ, |xn −L1| < ǫ<br />

2<br />

e |zn −L2| < ǫ<br />

2 .<br />

2 No último passo uso uma <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> (chamada <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> triangular, ver Exercício 6.3)<br />

que vale para quaisquer números Reais e △:<br />

|+△| ≤ ||+|△|<br />

, no nosso caso aplicadoa para = xn −L1 e △ = yn −L2


CAPÍTULO 4. SEQUÊNCIAS E SEUS LIMITES 51<br />

Então obtemos <strong>de</strong> acima:<br />

|xn +yn −(L1 +L2)| ≤ |xn −L1|+|yn −L2| < ǫ<br />

2<br />

exatamente o que queríamos provar.<br />

Prova <strong>de</strong> 2): Análoga à do 1), apenas fazendo agora:<br />

ǫ<br />

+ = ǫ,<br />

2<br />

|(xn −yn)−(L1 −L2)| = |xn −L1 +L2 −zn| ≤ |xn −L1|+|L2 −zn|.<br />

Prova <strong>de</strong> 3): agora queremos que a partir <strong>de</strong> um certo nǫ:<br />

|C ·xn −C ·L1| < ǫ.<br />

É claro que posso supor C = 0, senão tudo é óbvio.<br />

Ora então o que queremos é provar que:<br />

|C ·(xn −L1)| < ǫ,<br />

ou seja3 queremos que<br />

|C|·|xn −L1| < ǫ.<br />

Noto agora que, se espero tempo nǫ suficiente, tenho:<br />

|xn −L1| < ǫ<br />

, on<strong>de</strong> C = 0<br />

C<br />

pois xn se aproxima tanto quanto quisermos <strong>de</strong> L1. Então juntando as informações:<br />

|C ·xn −C ·L1| = |C|·|xn −L1| < C · ǫ<br />

= ǫ,<br />

C<br />

exatamente o que queríamos.<br />

Prova <strong>de</strong> 4): Aqui o que fazemos éesperar o tempo nǫ suficiente para que |xn| < ǫ<br />

K<br />

(estou supondo que K = 0, pois se K = 0, então a hípótese |qn| ≤ 0 diz que qn = 0<br />

∀n e tudo é óbvio, pois a sequência 0·xn é a sequência constante, igual a 0). Então<br />

para n ≥ nǫ :<br />

|qn ·xn| = |qn|·|xn| < K · ǫ<br />

= ǫ,<br />

K<br />

como queríamos.<br />

Prova <strong>de</strong> 5): Queremos fazer<br />

<strong>de</strong>se que n cresça o suficiente.<br />

Mas posso escrever:<br />

|xn ·zn −L1 ·L2| < ǫ.<br />

|xn ·zn −L1 ·L2| =<br />

= |xn ·zn−xn ·L2 +xn ·L2 −L1 ·L2| =<br />

<br />

0<br />

= |xn ·(zn −L2)+L2 ·(xn −L1)| ≤<br />

≤ |xn ·(zn −L2)|+|L2 ·(xn −L1)| =<br />

= |xn|·|(zn −L2)|+|L2|·|(xn −L1)|<br />

3 Para quaiquer números Reais e △ sempre vale:<br />

no nosso caso, uso para = C e △ = xn −L1<br />

|·△| = ||·|△|;


3. DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS 52<br />

E agora noto que |xn| ≤ K para alguma K , pois xn ten<strong>de</strong> ao L1 ∈ R. E tanto<br />

|(xn−L1)| quanto |(zn−L2)| se faz tão pequeno quanto quisermos, pois zn ten<strong>de</strong> a<br />

L2 e xn ten<strong>de</strong> a L1.<br />

Logo |xn ·zn −L1 ·L2| fica tão pequeno quanto quisermos.<br />

Prova <strong>de</strong> 6): Primeiro afirmo que a partir <strong>de</strong> um certo n temos<br />

| < |zn|.<br />

2<br />

Se L2 > 0, a partir <strong>de</strong> um certo n temos<br />

| L2<br />

0 < L2<br />

2<br />

< zn<br />

pois L2<br />

2 < L2 = limzn. E se L2 < 0, a partir <strong>de</strong> um certo n<br />

pois limzn = L2 < L2<br />

2 .<br />

Ou seja, a partir <strong>de</strong> um certo n:<br />

zn < L2<br />

2<br />

| L2<br />

< 0<br />

| < |zn|<br />

2<br />

e em particular a partir <strong>de</strong>sse n, temos zn = 0.<br />

No que segue já suponho que tomei esse n para que a partir <strong>de</strong>le:<br />

| L2<br />

| < |zn|.<br />

2<br />

Então além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rmos dividir pelos zn, po<strong>de</strong>mos afirmar que<br />

e portanto<br />

Portanto<br />

|L2| 2<br />

2<br />

1<br />

|zn ·L2|<br />

< |zn|·|L2|<br />

< 2<br />

|L2| 2.<br />

| 1<br />

−<br />

zn<br />

1<br />

| = |<br />

L2<br />

L2 −zn<br />

| =<br />

zn ·L2<br />

= |<br />

1<br />

|·|L2 −zn| ≤<br />

zn ·L2<br />

≤ 2<br />

|L2| 2 ·|L2 −zn|.<br />

Mas|L2−zn|sefaztãopequeno quantoquisermos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>queesperemospossivelmente<br />

um tempo n ainda maior, já que limzn = L2.<br />

Por exemplo, po<strong>de</strong>mos esperar um n a partir do qual valha | L2<br />

2 | < |zn| e também<br />

|L2 −zn| < ǫ·L2 2<br />

2 ,


CAPÍTULO 4. SEQUÊNCIAS E SEUS LIMITES 53<br />

o que dá<br />

| 1<br />

−<br />

zn<br />

1<br />

| <<br />

L2<br />

2<br />

|L2| 2 · ǫ·L2 2<br />

2<br />

Sobre 7): <strong>de</strong> fato, após esquecermos um certo número <strong>de</strong> termos das sequências,<br />

temos<br />

|qn −L1| ≤ |xn −L1|<br />

e |xn −L1| se faz tão pequeno quanto quisermos.<br />

Chamo a atenção para uma proprieda<strong>de</strong>, que provamos como parte do item 6), e<br />

que será bastante útil:<br />

Afirmação 3.1. Se limn→+∞xn = L e L = 0 então a partir <strong>de</strong> um certo tempo n,<br />

xn = 0. Em particular, se L > 0 (ou L < 0) então a partir <strong>de</strong> um certo tempo n,<br />

xn > 0 (ou xn < 0).<br />

= ǫ.<br />

Por último, será útil mais tar<strong>de</strong> se introduzimos dois símbolos:<br />

Definição 3.2. Dizemos que<br />

lim<br />

n→+∞ xn = +∞<br />

se ∀K > 0 existe um tempo nK tal que se n ≥ nK temos xn > K. Dizemos que<br />

lim<br />

n→+∞ xn = −∞<br />

se ∀K < 0 existe um tempo nK tal que se n ≥ nK temos xn < K.<br />

Ou seja, sequências que ficam tão positivas quanto quisermos, ou sequências que<br />

ficam tão negativas quanto quisermos, esperando o tempo n suficiente. Exemplos:<br />

xn = n 2 e xn = −n 2 , respectivamente.<br />

4. Exercícios<br />

Exercício 4.1. Exemplifique com sequências (xn)n bem simples a diferença entre as<br />

seguintes frases:<br />

i) a partir <strong>de</strong> um certo tempo n a sequência xn dista <strong>de</strong> L menos que um ǫ > 0 e<br />

ii) existem tempos n arbitrariamente gran<strong>de</strong>s tais que xn dista <strong>de</strong> L menos que<br />

um ǫ > 0.<br />

Exercício 4.2. Para as sequências (xn)n abaixo e para a função y = f(x) = 1<br />

x 2, diga<br />

o formato da sequência ( f(xn) )n:<br />

i) xn = 1 √ , n<br />

ii) xn = 1<br />

n ,<br />

iii) xn = n 2 .


4. EXERCÍCIOS 54<br />

Exercício 4.3.<br />

Explique se existem ou não os limites das seguintes sequências:<br />

i) xn := 5n,<br />

ii) xn := (−1) n5, iii) xn := (−1) n (5+ 1<br />

n ),<br />

n 5<br />

iv) xn := (−1)<br />

n<br />

v) xn := (−1) n 1<br />

n .<br />

vi) xn = 1<br />

n<br />

vii) xn = 1<br />

n<br />

+ 2<br />

n<br />

· 2<br />

n<br />

+ 3<br />

n ,<br />

· 3<br />

n .<br />

Exercício 4.4.<br />

No dia-a-dia sabemos que todo gremista gosta <strong>de</strong> azul, mas nem todos que gostam<br />

<strong>de</strong> azul são gremistas.<br />

Tratando-se agora <strong>de</strong> sequências xn e zn, dê exemplos on<strong>de</strong> não existem<br />

mas que no entanto existam:<br />

lim<br />

n→+∞ xn ou lim<br />

n→+∞ zn<br />

lim<br />

n→+∞ (xn +zn) ou lim<br />

n→+∞ (xn ·zn).<br />

Exercício 4.5. (resolvido)<br />

Prove duas proprieda<strong>de</strong>s fundamentais <strong>de</strong> limites:<br />

i) se xn < 0 ∀n e se limxn = L então L ≤ 0. Dê exemplo on<strong>de</strong> todo xn < 0 mas<br />

on<strong>de</strong> L = 0.<br />

ii) se limxn = L e se ∀n xn ≤ zn ≤ L, então limzn = L.<br />

Exercício 4.6. Usando algumas sequências já estudadas em aula e proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

+,−,·,/ <strong>de</strong> sequências, calcule:<br />

1<br />

lim 3·(2−<br />

n→+∞ n<br />

1<br />

+<br />

n2), lim<br />

n→+∞<br />

300n2 +35n+1000<br />

n3 ,<br />

+n<br />

300n<br />

lim<br />

n→+∞<br />

2 +35n+1000<br />

150n2 10<br />

, lim<br />

+n+10000 n→+∞<br />

123456789<br />

,<br />

n<br />

30000000n+1200000<br />

lim<br />

n→+∞ n2 2n<br />

, lim<br />

n→+∞<br />

7 +35n+1000<br />

3n7 +n+10000 .<br />

Dica: fatore n à força no numerador e no <strong>de</strong>nominador as potências mais altas e<br />

simplifique, antes <strong>de</strong> passar ao limite.<br />

Exercício 4.7. As sequências a seguir ten<strong>de</strong>m a zero. Dado ǫ > 0 <strong>de</strong>termine qual<br />

n (em função <strong>de</strong> ǫ) é suficiente para termos |xn| < ǫ nas seguintes sequências: a):<br />

xn = 1<br />

n 4, b): xn = 1<br />

√ n , c): xn = 1<br />

4 √ n<br />

Exercício 4.8. A sequência xn = 1<br />

n<br />

seja<br />

fica <strong>de</strong>ntro do intervalo [0,1] e é <strong>de</strong>crescente, ou<br />

xn+1 ≤ xn, ∀n.


CAPÍTULO 4. SEQUÊNCIAS E SEUS LIMITES 55<br />

Já a sequência xn = 1− 1<br />

n<br />

seja xn+1 ≥ xn, ∀n.<br />

fica também <strong>de</strong>ntro do intervalo [0,1] mas é crescente, ou<br />

É verda<strong>de</strong> o seguinte Teorema: sequências que ficam <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> algum intervalo e que são ou bem crescentes ou bem <strong>de</strong>crescentes convergem para<br />

algum limite.<br />

Veja em quais sequências a seguir po<strong>de</strong>-se aplicar esse Teorema: a): xn = 1<br />

5n2, b):<br />

xn = 1<br />

5n , c): xn = (−2)n<br />

n , d): xn = (−1)2n<br />

, e): xn = n (−1)2n+1<br />

.<br />

n


CAPíTULO 5<br />

Limites <strong>de</strong> funções <strong>de</strong>finidas em intervalos<br />

Neste Curso usaremos a noção <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> fortemente quando calcularmos<br />

algumas Derivadas e mais adiante na teoria <strong>de</strong> Integração do Capítulo 21.<br />

Daremos sua <strong>de</strong>finição precisa no próximo Capítulo.<br />

Mas para isso, antes precisamos enten<strong>de</strong>r a noção <strong>de</strong> limite <strong>de</strong> funções <strong>de</strong>finidas<br />

em intervalos. Até agora só vimos limites <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> função, cujo domínio são os<br />

Naturais, as chamadas sequências.<br />

Agora vamos <strong>de</strong>finir:<br />

Definição 0.1. Seja uma função f : I → R, y = f(x) <strong>de</strong>finida num intervalo I. Seja<br />

x tal que exista alguma sequência xn ∈ I \{x} com limn→+∞ xn = x.<br />

Dizemos que função f tem limite L quando x ten<strong>de</strong> a x, <strong>de</strong>notado por<br />

lim<br />

x→x<br />

f(x) = L, L ∈ R,<br />

se para toda sequência xn contida em I \{x}<br />

temos<br />

lim<br />

n→+∞ xn = x<br />

lim<br />

n→+∞ f(xn) = L.<br />

Observações importantes sobre a Definição 0.1:<br />

• O ponto importante nesta <strong>de</strong>finição é que, não importa quantas sequências<br />

tomemos com limn→+∞ xn = x, sempre as sequências f(xn) ten<strong>de</strong>m para o<br />

mesmo número L.<br />

• O fato <strong>de</strong> que não seja relevante como xn se aproxima <strong>de</strong> x, mas apenas que<br />

xn se aproxima x, fica visível no símbolo que usamos:<br />

lim<br />

x→x f(x).<br />

• O leitor verá mais tar<strong>de</strong> que às vezes x não está no domínio das funções, ou<br />

seja, que não faz sentido perguntar por quanto a função vale nele, mas que,<br />

como x está arbitrariamente próximo do domínio <strong>de</strong>ssas funções, po<strong>de</strong>mos<br />

perguntarquantoafunçãovaleempontosdodomíniocadavezmaispróximos<br />

<strong>de</strong>le.<br />

• o valor f(x) po<strong>de</strong> ser bem diferente <strong>de</strong> limx→x f(x). Por isso tomamos<br />

sequências xn contidas em I \{x} (ou seja, que não valem nunca x).<br />

57


1. OPERAÇÕES ELEMENTARES COM LIMITES DE FUNÇÕES 58<br />

1. Operações elementares com limites <strong>de</strong> funções<br />

A noção <strong>de</strong> limite <strong>de</strong> funções foi construída a partir da <strong>de</strong> limite <strong>de</strong> sequências;<br />

assim que é natural que as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> limites <strong>de</strong> sequências repercutam nas dos<br />

limites <strong>de</strong> funções <strong>de</strong>finidas em intervalos.<br />

Teorema 1.1. (Proprieda<strong>de</strong>s fundamentais <strong>de</strong> limites <strong>de</strong> funções)<br />

Sejam f e g cujos domínios são intervalos e seja x tal que existam sequências nos<br />

domínios <strong>de</strong>ssas funções que tendam a ele.<br />

Suponha que existam:<br />

Então:<br />

1) A função soma f +g tem<br />

2) A função diferença f −g tem<br />

lim<br />

x→x f(x) = L1 e lim<br />

x→x g(x) = L2.<br />

lim<br />

x→x (f +g)(x) = L1 +L2.<br />

lim<br />

x→x (f −g)(x) = L1 −L2.<br />

3) Se C ∈ R é uma constante, então a função (C ·f)(x) := C ·f(x) tem<br />

lim (C ·f)(x) = C ·L1<br />

x→x<br />

4) Suponha uma função q(x) com o mesmo domínio da f(x) tal que |q(x)| ≤ K,<br />

∀x. Suponha adicionalmente que L1 = 0. Então<br />

5) A função produto (f ·g)(x) tem<br />

lim(<br />

f(x)·q(x) ) = 0.<br />

x→x<br />

lim<br />

x→x (f ·g)(x) = L1 ·L2.<br />

6) Se L2 = 0, então: i) se x é suficientemente próximo <strong>de</strong> x então g(x) = 0 e ii)<br />

limx→x f(x)<br />

g(x)<br />

= L1<br />

L2 .<br />

7) Suponha uma outra função q(x) <strong>de</strong>finida no mesmo domínio e que adicionalmente<br />

f(x) ≤ q(x) ≤ L1. Então<br />

lim<br />

x→x<br />

q(x) = lim<br />

x→x<br />

Demonstração.<br />

Prova do Item 1): Queremos saber se<br />

f(x) = L1.<br />

lim<br />

n→+∞ (f(xn)+g(xn)) = L1 +L2,<br />

quando tomamos qualquer sequência xn com<br />

lim<br />

n→+∞ xn = x.<br />

Mas por hipótese, limn→+∞ f(xn) = L1 e limn→+∞ g(xn) = L2 , quando tomamos<br />

qualquer sequência xn com limn→+∞ xn = x.


CAPÍTULO 5. LIMITES DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM INTERVALOS 59<br />

Ora, peloitem1)doTeorema3.1, aplicadoàssequências f(xn)eg(xn), concluimos<br />

que limn→+∞ (f(xn)+g(xn)) = L1 +L2.<br />

A prova <strong>de</strong> outros itens fica para o leitor, bastando combinar a Definição 0.1 com<br />

alguns itens do Teorema 3.1, bem como com a Afirmacao 3.1. <br />

2. A <strong>de</strong>finição usual com ǫ e δ<br />

Na maioria dos livros texto <strong>de</strong> Cálculo, o limite <strong>de</strong> uma função <strong>de</strong>finida em um<br />

intervalo é <strong>de</strong>finido assim:<br />

Definição 2.1. Dizemos que f ten<strong>de</strong> a L quando x ten<strong>de</strong> ao x, ou em símbolos:<br />

lim<br />

x→x<br />

f(x) = L<br />

se ∀ǫ > existe δ > 0 tal que se 0 < |x−x| < δ então |f(x)−L| < ǫ.<br />

Observações:<br />

• pense em ǫ > 0 como um número pequeno, que impõe o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> se encontrar<br />

o δ > 0 suficiente para termos |f(x)−L| < ǫ, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que 0 < |x−x| < δ.<br />

• o símbolo ∀ǫ > 0 (para todo ǫ > 0) diz que ǫ será feito tão pequeno quanto<br />

quisermos,<br />

• veremos logo abaixo que o δ <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do ǫ, da natureza da f e também, em<br />

geral, <strong>de</strong> cada ponto x.<br />

• a cláusula 0 < |x−x| existe para que possamos ter funções com f(x) = L =<br />

limx→x f(x).<br />

Um pouco mais sobre o último item: suponha que temos uma f com f(x) bem<br />

diferente dos valores f(x), para x próximos <strong>de</strong> x porém diferentes <strong>de</strong> x. Por exemplo<br />

suponha que |f(x) − L| ≥ 1 , embora |f(x) − L| < ǫ é pequeno se x = x, mas x<br />

próximo <strong>de</strong> x. Então |x−x| = 0 < δ, ∀δ > 0 e no entanto |f(x)−L| ≥ 1. Por isso na<br />

Definição 2.1 estamos interessados apenas em controlar os valores f(x) para x = x.<br />

Vejamos agora que essa nova Definição 2.1 tem o mesmo conteúdo da Definição<br />

0.1 do Capítulo 4, mesmo que a princípio não pareçam o mesmo.<br />

Afirmação 2.1. A Definição 2.1 é equivalente à Definição 0.1 do Capítulo 4.<br />

Demonstração. (da Afirmação 2.1)<br />

Provar a equivalência <strong>de</strong> duas <strong>de</strong>finições é mostrar que uma implica a outra e<br />

vice-versa.<br />

Suponha por um momento a Definição 0.1 e por absurdo negue a Definição 2.1.<br />

Então existe um ǫ0 > 0 especial tal que ∀δ > 0 existe um xδ com<br />

0 < |xδ −x| < δ, mas |f(xδ)−L| ≥ ǫ0.


2. A DEFINIÇÃO USUAL COM ǫ E δ 60<br />

Já que vale para todo δ > tomo-os da forma δ(n) := 1.<br />

Então concluo que os<br />

n<br />

xδ(n) formam uma sequência <strong>de</strong> I \{x} que ten<strong>de</strong> a x, pois<br />

0 < |xδ(n) −x| < 1<br />

n<br />

e já sabemos que os 1<br />

ficam tão pequenos quanto quisermos. Com essa sequência<br />

n<br />

(xδ(n))n no domínio da f, formo outra sequência f(xδ(n)) na imagem da f, que não<br />

ten<strong>de</strong> a L já que<br />

|f(xδ(n))−L| ≥ ǫ0, ∀n,<br />

ou seja, não se aproxima do número L mais que ǫ0. Isso contradiz a Definição 0.1.<br />

Agora suponha Definição 2.1 e vamos obter a informação dada pela Definição 0.1.<br />

Consi<strong>de</strong>re qualquer sequência xn <strong>de</strong> I \{x} que tenda a x: queremos saber então<br />

se é verda<strong>de</strong> que f(xn) ten<strong>de</strong> a L. Ou seja, se dado ǫ > 0 existe nǫ ∈ N tal que<br />

∀n ≥ nǫ temos |f(xn)−L| < ǫ.<br />

O que sei pela Definição 2.1 é que existe um δ > 0 tal que:<br />

0 < |x−x| < δ ⇒ |f(x)−L| < ǫ.<br />

Então tomo esse δ > 0 e, para ele, tomo um nδ ∈ N tal que:<br />

∀n ≥ nδ ⇒ 0 < |xn −x| < δ<br />

(o que funciona pois xn ten<strong>de</strong> a x).<br />

Logo |f(xn)−L| < ǫ pois os xn entraram na região a<strong>de</strong>quada em torno <strong>de</strong> x, que<br />

é (−δ +x,x+δ).<br />

A Figura ilustra:<br />

L + ε<br />

L<br />

f (x_n)<br />

L−ε<br />

x_n<br />

x − δ x x + δ<br />

Lembrando que o δ = δ(ǫ), pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> ǫ, obtivemos o que queríamos, já que<br />

|f(xn)−L| < ǫ a partir <strong>de</strong> um certo tempo nδ(ǫ).<br />

<br />

Exemplos:


CAPÍTULO 5. LIMITES DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM INTERVALOS 61<br />

1)- f(x) = ax+b, polinômio <strong>de</strong> grau ≤ 1, tem limx→x f(x) = ax+b. De fato, se<br />

a = 0 é claro que a f ≡ b constante ten<strong>de</strong> a b. Caso a = 0, quando for dado ǫ > 0<br />

tome por exemplo δ(ǫ) := ǫ<br />

ǫ . Então se |x−x| < |a| |a| temos:<br />

|f(x)−L| = |ax+b−(ax+b)| = |a||x−x| < |a|· ǫ<br />

= ǫ,<br />

|a|<br />

como queríamos.<br />

2)- No exemplo 1) o δ só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u do ǫ. Agora dou um exemplo em que o δ<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> também do x, ficando cada vez menor à medida que o x vai sendo escolhido<br />

mais perto <strong>de</strong> um extremo do domínio da f.<br />

Seja f : R >0 → R, f(x) = 1<br />

x . Veremos na próxima Seção que limx→x f(x) = 1<br />

x .<br />

Mas a Figura a seguir ilustra como vai ficando mais difícl encontrar o δ a<strong>de</strong>quado à<br />

medida que x > 0 se aproxima do 0.<br />

2 ε<br />

2 ε<br />

2 ε<br />

Figura: Para um mesmo ǫ, preciso cada vez menores valores <strong>de</strong> δ<br />

3. Limites quando x ten<strong>de</strong> ao infinito<br />

Quando um cientista quer enten<strong>de</strong>r um fenômeno, ele po<strong>de</strong> querer enten<strong>de</strong>r não<br />

apenas o comportamento agora, mas sim a longo prazo. Por exemplo, po<strong>de</strong> se perguntar<br />

se a longo prazo a Lua permanecerá girando em torno da Terra.<br />

Na linguagem do Cálculo isso se expressa numa pergunta assim: a que ten<strong>de</strong> o<br />

fenômeno quando o tempo x fica arbitrariamente gran<strong>de</strong> ? O que se põe em símbolos:<br />

lim<br />

x→+∞<br />

f(x) = L ∈ R, ou lim<br />

x→−∞<br />

f(x) = L ∈ R.<br />

Ambos símbolos admitem dois tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições (equivalentes)<br />

Definição 3.1. Dizemos que<br />

lim<br />

x→+∞<br />

f(x) = L ∈ R<br />

se ∀ǫ > 0 existe K > 0 tal que |f(x)−L| < ǫ, se x > K.<br />

Ou


3. LIMITES QUANDO X TENDE AO INFINITO 62<br />

Definição 3.2. Dizemos que<br />

lim<br />

x→+∞<br />

f(x) = L ∈ R<br />

se ∀(xn)n contida no domínio <strong>de</strong> f com limn→+∞ xn = +∞ temos limn→+∞ f(xn) =<br />

L.<br />

(on<strong>de</strong> limn→+∞ xn = +∞ foi apresentado na Definição 3.2).<br />

Deixo para o leitor verificar a equivalência <strong>de</strong>ssas duas Definições 3.1 e 3.2.<br />

Analogamente se <strong>de</strong>fine limx→−∞ f(x) = L ∈ R.<br />

Geometricamente, as Definições 3.1 ou 3.2 se ilustram na Figura a seguir, em que<br />

o gráfico se aproxima da altura L cada vez mais:<br />

0,98<br />

0,96<br />

0,94<br />

0,92<br />

50<br />

100<br />

150<br />

x<br />

Figura: Quando x aumenta o gráfico se aproxima <strong>de</strong> uma altura <strong>de</strong>finida.<br />

As proprieda<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong>ssas noções são análogas àquelas do Teorema 1.1:<br />

Teorema 3.1. Sejam f e g funções <strong>de</strong>finidas em um intervalo ilimitado à direita. 1<br />

Suponha 2<br />

lim<br />

x→+∞ f(x) = L1 ∈ R e lim<br />

x→+∞ g(x) = L2 ∈ R.<br />

Então:<br />

1) A função soma f +g tem<br />

2) A função diferença f −g tem<br />

lim<br />

x→+∞ (f +g)(x) = L1 +L2.<br />

lim<br />

x→+∞ (f −g)(x) = L1 −L2.<br />

3) Se C ∈ R é uma constante, então a função (C ·f)(x) := C ·f(x) tem<br />

200<br />

250<br />

300<br />

lim (C ·f)(x) = C ·L1<br />

x→+∞<br />

4 ) Suponha uma função q(x) com o mesmo domínio da f(x) tal que |q(x)| ≤ K,<br />

∀x. Suponha adicionalmente que L1 = 0. Então<br />

−∞<br />

lim ( f(x)·q(x) ) = 0.<br />

x→+∞<br />

1 Enuncio apenas para x → +∞, pois é análogo se x → −∞<br />

2 Atenção que L1,L2 têm que ser números, não po<strong>de</strong>m ser substituídos pelos símbolos +∞ ou


CAPÍTULO 5. LIMITES DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM INTERVALOS 63<br />

5) A função produto (f ·g)(x) tem<br />

lim<br />

x→+∞ (f ·g)(x) = L1 ·L2.<br />

6) Se L2 = 0, então:<br />

i) se x é suficientemente gran<strong>de</strong> então g(x) = 0 e<br />

ii) limx→+∞ f(x)<br />

g(x)<br />

= L1<br />

L2 .<br />

7) Suponha uma outra função q(x) <strong>de</strong>finida no mesmo domínio e que adicionalmente<br />

f(x) ≤ q(x) ≤ L1. Então<br />

lim<br />

x→+∞<br />

q(x) = lim<br />

x→+∞<br />

f(x) = L1.<br />

Demonstração.<br />

Prova do item 1): Quero saber se a sequência soma f(xn)+g(xn) ten<strong>de</strong> a L1+L2,<br />

se a sequência xn tem limn→+∞ xn = +∞. Mas por hipótese f(xn) ten<strong>de</strong> a L1 e<br />

g(xn) ten<strong>de</strong> a L2. Logo pelo item 1) do Teorema 3.1 aplicado às sequências f(xn) e<br />

g(xn) obtemos que f(xn)+g(xn) ten<strong>de</strong> a L1 +L2.<br />

Os outros itens se <strong>de</strong>monstram da mesma maneira. <br />

Exemplos:<br />

1) Obviamente a função constante f ≡ C tem limx→+∞ C = C.<br />

2) A função f : R 0 → R, f(x) = 1<br />

x tem<br />

lim<br />

x→+∞<br />

1<br />

x<br />

= lim<br />

x→−∞<br />

1<br />

x<br />

= 0.<br />

De fato, | 1<br />

1 | < ǫ se |x| > K := , o que está <strong>de</strong> acordo com a Definição 3.1.<br />

x ǫ<br />

3)<br />

usando o Teorema 3.1.<br />

4) Também<br />

pelo Teorema 3.1.<br />

5)<br />

lim<br />

x→+∞<br />

usando o Teorema 3.1.<br />

lim<br />

x→+∞<br />

lim<br />

x→+∞<br />

C<br />

x<br />

= C · lim<br />

x→+∞<br />

1<br />

= lim<br />

x2 x→+∞ (1<br />

x<br />

1<br />

x<br />

1<br />

(C + ) = C + lim<br />

x x→+∞<br />

= C ·0 = 0<br />

1<br />

· ) = 0·0,<br />

x<br />

1<br />

x<br />

= C +0 = C


3. LIMITES QUANDO X TENDE AO INFINITO 64<br />

6)<br />

C1x<br />

lim =<br />

x→+∞ C2x+C3<br />

C1<br />

,<br />

C2<br />

on<strong>de</strong> C1,C2,C3 são constantes não nulas. De fato, primeiro observe que se x se faz<br />

tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos, em particular x > 0. Logo posso escrever:<br />

C1x xC1<br />

lim = lim<br />

x→+∞ C2x+C3 x→+∞ x(C2 + C3<br />

C1<br />

= lim<br />

) x→+∞ (C2 + x C3<br />

x )<br />

e agora uso o Teorema 3.1 e os Exemplos anteriores , concluindo que<br />

lim<br />

x→+∞<br />

C1<br />

(C2 + C3<br />

x<br />

C1<br />

= .<br />

) C2<br />

7) O mesmo tipo <strong>de</strong> argumento do Exemplo 6) dá que:<br />

lim<br />

x→+∞<br />

on<strong>de</strong> ai,bi são constantes, an = 0, bn = 0.<br />

De fato, como posso supor x > 0:<br />

lim<br />

x→+∞<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

anx n +an−1x n−1 +...+a0<br />

bnx n +bn−1x n−1 +...+b0<br />

anx n +an−1x n−1 +...+a0<br />

bnx n +bn−1x n−1 +...+b0<br />

x n ·(an + an−1<br />

x<br />

x n ·(bn + bn−1<br />

x<br />

(an +<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

an−1<br />

x<br />

(bn + bn−1<br />

x<br />

= an<br />

,<br />

bn<br />

=<br />

a0 +...+ xn) =<br />

b0 +...+ xn) a0 +...+ xn) b0 +...+ x<br />

an<br />

= ,<br />

n) bn<br />

usando novamente o Teorema 3.1 e Exemplos prévios.<br />

Ilustro o Exemplo 7) nas Figura que segue, on<strong>de</strong> an = a2 = 2 e bn = b2 = 1:<br />

8)<br />

Se m < n, am = 0, bn = 0:<br />

2<br />

1,8<br />

1,6<br />

1,4<br />

1,2<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0 50<br />

100<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> 2x2 +x+4<br />

x 2 +3x+7<br />

lim<br />

x→+∞<br />

x<br />

150<br />

200<br />

com x ∈ [0,200].<br />

amx m +am−1x m−1 +...+a0<br />

bnx n +bn−1x n−1 +...+b0<br />

= 0.


CAPÍTULO 5. LIMITES DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM INTERVALOS 65<br />

De fato,<br />

lim<br />

x→+∞<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

x m ·(am + am−1<br />

x<br />

x m ·x n−m ·(bn + bn−1<br />

x<br />

1<br />

xn−m (am + am−1<br />

x<br />

(bn + bn−1<br />

x<br />

+...+ a0<br />

x m)<br />

a0 +...+ xm) b0 +...+ x<br />

=<br />

b0 +...+ xn) am<br />

= 0· = 0,<br />

n) bn<br />

usando o Teorema 3.1.<br />

Ilustro este Exemplo 8) na Figura a seguir, com am = a2 = 20 e bn = b3 = 0.01.<br />

Escolhi o coeficiente b3 = 0.01 bem pequeno em relação ao a2 = 20 <strong>de</strong> propósito,<br />

para indicar que não adianta, pois a longo prazo o grau 3 do <strong>de</strong>nominador é mais<br />

importante.<br />

8000<br />

6000<br />

4000<br />

2000<br />

0<br />

5 10<br />

15<br />

x<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> 20x2 +30x+40<br />

(0.01)x 3 , para x ∈ [1,30]<br />

Estes dois Exemplos 7) e 8) ilustram o seguinte princípio: a longo prazo o que importa<br />

são os grausmais altos dos polinômios envolvidos num quociente <strong>de</strong> polinômios.<br />

9) Lembrando apenas que a função seno tem |sin(x)| ≤ 1, então<br />

pois limx→+∞ 1<br />

x<br />

lim<br />

x→+∞<br />

= 0 (use o Teorema 3.1).<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

-0,1<br />

-0,2<br />

20<br />

sin(x)<br />

x<br />

20 40 60 80 100<br />

x<br />

25<br />

= 0<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> sin(x)<br />

x para x ∈ [2,130]<br />

120<br />

30


4. QUANDO A PARTE É DO MESMO TAMANHO DO TODO 66<br />

4. Quando a parte é do mesmo tamanho do todo<br />

Nesta Seção proponho explicar o seguinte Teorema, que parece um total absurdo:<br />

Afirmação 4.1. A reta inteira <strong>de</strong> números Reais tem tantos pontos quanto o intervalo<br />

aberto (−1,1).<br />

Em primeiro lugar preciso lembrar o que significa dois conjuntos terem o mesmo<br />

número <strong>de</strong> elementos. O exemplo que mais gosto, para explicar essa noção, li num<br />

um livro <strong>de</strong> Tarski.<br />

Imagine num garçom colocando, para cada cliente, um garfo e uma faca ao lado<br />

do prato. Ao final da tarefa, ele têm a seguinte conversa com o cozinheiro:<br />

• cozinheiro: para preparar a refeição, gostaria <strong>de</strong> saber quantos clientes temos<br />

hoje.<br />

• garçom: não contei, não sei.<br />

• cozinheiro: mas você não estava pondo os garfos e facas para cada um <strong>de</strong>les<br />

?<br />

• garçom: sim, mas só o que tenho certeza é que há tantos garfos quanto facas<br />

à mesa.<br />

• cozinheiro: mas como você po<strong>de</strong> ter certeza disso, sem saber quantos garfos<br />

e facas você pôs, já que não contou ?<br />

• garçom: ora, é fácil, sei que há tantos garfos quanto facas porque para cada<br />

faca colocada, coloquei um garfo, e não mais <strong>de</strong> um garfo.<br />

A moral <strong>de</strong>ssa história é a seguinte: dois conjuntos têm o mesmo número <strong>de</strong><br />

elementos quando há uma função f sobrejetora (nenhuma faca sem garfo) e injetora<br />

(não mais <strong>de</strong> um garfo) entre eles. Apesar <strong>de</strong> que não saibamos exatamente quantos<br />

elementos os conjuntos têm.<br />

Um exemplo conhecido já por Galileu é que há tantos números Naturais N quanto<br />

números Pares 2N: <strong>de</strong> fato, existe a bijeção<br />

f : N → 2N, f(n) = 2n,<br />

cuja inversa dá f −1 (2n) = n. Apesar disso 2N ⊂ N, por isso se diz que, nesse caso, a<br />

parte é do tamanho do todo !<br />

Para provar a Afirmação 4.1, consi<strong>de</strong>ro a seguinte função:<br />

f : R → R, f(x) :=<br />

x<br />

|x|+1 .<br />

Primeiro noto que está bem <strong>de</strong>finida em todos os Reais, pois seu <strong>de</strong>nominador nunca<br />

se anula. Agora afirmo que f(R) ⊂ (−1,1), ou seja, que<br />

∀x ∈ R, −1 <<br />

x<br />

|x|+1<br />

< 1.


CAPÍTULO 5. LIMITES DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM INTERVALOS 67<br />

De fato, primeiro f(0) = 0 e se x > 0 então |x| = x e portanto:<br />

0 < x<br />

< 1,<br />

x+1<br />

pois 0 < x < x+1. E se x < 0, então |x| = −x e portanto:<br />

−1 <<br />

x<br />

−x+1<br />

< 0,<br />

pois −1·(−x+1) = x−1 < x.<br />

O que não está ainda nada claro é se f é sobrejetora, ou seja, se<br />

(−1,1) ⊂ f(R), ou seja f(R) = (−1,1).<br />

Estou assumindo neste momento, sem <strong>de</strong>monstrar, que a imagem <strong>de</strong> f é algum<br />

intervalo f(R) = (a,b) ⊂ (−1,1).<br />

O que quero mostrar agora é que não acontece que −1 < a nem que b < 1. Para<br />

isso meu argumento é o seguinte: vou mostrar que<br />

lim<br />

x→+∞<br />

x<br />

|x|+1<br />

= 1 e lim<br />

x→−∞<br />

x<br />

|x|+1<br />

= −1,<br />

ou seja, pela Definição <strong>de</strong> limite, que f atinge valores tão próximos <strong>de</strong> 1 e <strong>de</strong> −1<br />

quanto quisermos. Isso impedirá que −1 < a e que b < 1.<br />

Mas se x → +∞ então em particular x > 0 e<br />

lim<br />

x→+∞<br />

x<br />

|x|+1<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

x<br />

= lim<br />

x+1 x→+∞<br />

pelo Teorema 3.1 e Exemplos que o seguem.<br />

E se x → −∞ então em particular x < 0 e<br />

lim<br />

x→−∞<br />

x<br />

|x|+1<br />

= lim<br />

x→−∞<br />

pelo Teorema 3.1 e Exemplos que o seguem.<br />

x<br />

= lim<br />

−x+1 x→−∞<br />

x·1<br />

x·(1+ 1<br />

x<br />

x·1<br />

x·(−1+ 1<br />

x<br />

) = 1,<br />

) = −1,<br />

Agora só falta ver que f é injetiva: mas note que se x > 0, <strong>de</strong> y = x<br />

x+1 obtenho<br />

y = x−xy e daí:<br />

x = y<br />

1−y ,<br />

que é bem <strong>de</strong>finido pois y < 1. E se x < 0 então <strong>de</strong> y = x<br />

daí:<br />

x = y<br />

1+y ,<br />

−x+1<br />

obtenho y = x+xy e<br />

que é bem <strong>de</strong>finido pois −1 < y.<br />

Isso mostra quey = f(x)éinjetiva, jáquetenho explicitamente sua funçãoinversa<br />

x = f −1 (y).<br />

As Figuras a seguir mostram parte dos gráficos <strong>de</strong> f e <strong>de</strong> f −1 , respectivamente:


5. EXERCÍCIOS 68<br />

-4<br />

0,8<br />

0,4<br />

0<br />

-2 0<br />

-0,4<br />

-0,8x<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-0,8 -0,40 0,40,8<br />

x<br />

-2<br />

-4<br />

Paraterminar, chamoaatençãodoleitorquef −1 : (−1,1) → Rfazumaespantosa<br />

expansão do intervalo (−1,1). A expansão feita por f −1 (y) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> sensivelmente<br />

<strong>de</strong> y e aumenta cada vez mais à medida que y vai para os extremos do intervalo. Na<br />

Parte 2 do Curso po<strong>de</strong>remos justificar e explicar melhor a seguinte Afirmação sobre<br />

f −1 :<br />

Afirmação 4.2. Se y ∈ [0,1) então a taxa <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> f −1 é <strong>de</strong> 1<br />

(1−y) 2 e a taxa<br />

<strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> f −1 (y) para y ∈ (−1,0] é <strong>de</strong> 1<br />

(1+y) 2.<br />

Uma comparação é natural: um dos fenômenos mais bizarros do Universo é que<br />

nãoapenas elese expan<strong>de</strong>, eque quanto mais longemaisele seexpan<strong>de</strong>, mas também,<br />

como se <strong>de</strong>scobriu faz pouco tempo, que essa expansão está aumentando...<br />

5. Exercícios<br />

Exercício 5.1. A seguir dado ǫ > 0 <strong>de</strong>termine δ > 0 (em função <strong>de</strong> ǫ) tal que<br />

|x−x0| < δ implique |f(x)−L| < ǫ:<br />

a): x0 = 1, f(x) = 555x, L = 555,<br />

2<br />

4


CAPÍTULO 5. LIMITES DE FUNÇÕES DEFINIDAS EM INTERVALOS 69<br />

b): x0 = 0, f(x) = x 2 , L = 0,<br />

c): x0 = 0, f(x) = 555x 2 , L = 0.<br />

Exercício 5.2.<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

10 20<br />

x<br />

30 40<br />

A figura mostra o gráfico da função f : R >0 → (−1,1) dada por<br />

f(x) = x−1<br />

x+1 .<br />

Prove aquilo que é sugerido pelo gráfico, ou seja, que<br />

Exercício 5.3. Determine:<br />

a): limx→2 x2 +5x+6<br />

x+2 ,<br />

b): limx→2<br />

c): limx→−6<br />

1<br />

(x−2) 2,<br />

−1<br />

(x+6) 2,<br />

d): limxր−6 −1<br />

x+6 ,<br />

e): limxց−6 −1<br />

x+6 .<br />

lim f(x) = −1 e lim f(x) = 1.<br />

xց0 x→+∞<br />

Exercício 5.4. Consi<strong>de</strong>re os seguintes limites<br />

lim<br />

x→1<br />

x 3 −3x+2<br />

x−1<br />

e lim<br />

x→1<br />

50<br />

x3 −3x+2<br />

(x−1) 2<br />

.<br />

i) Antes <strong>de</strong> fazer contas, diga qual a diferença qualitativa que há entre os dois<br />

casos.<br />

ii) Calcule os limites.<br />

iii) será que existe o<br />

lim<br />

x→1<br />

x 3 −3x+2<br />

(x−1) 3<br />

?


5. EXERCÍCIOS 70<br />

Exercício 5.5. Calcule<br />

lim<br />

x→1<br />

x 3 −2x 2 −4x+8<br />

x−2<br />

e lim<br />

x→1<br />

x3 −2x2 −4x+8<br />

(x−2) 2 .<br />

Exercício 5.6. i) Consi<strong>de</strong>re a função f : R → R <strong>de</strong>finida por partes:<br />

f(x) = −x, se x < −1,<br />

f(x) = x 2 +x+1, se −1 ≤ x ≤ 1,<br />

f(x) = 2·x, se 1 < x.<br />

Existem os limites lim f(x) ou lim<br />

x→−1 x→1 f(x)?<br />

ii) Ajuste os parâmetros b,c para que g : R → R <strong>de</strong>finida por partes:<br />

g(x) = −x, se x < −1,<br />

g(x) = x 2 +b·x+c, se −1 ≤ x ≤ 1,<br />

g(x) = 2·x, se 1 < x.<br />

tenha ambos os limites lim g(x) e lim<br />

x→−1 x→1 g(x)


CAPíTULO 6<br />

A noção <strong>de</strong> Continuida<strong>de</strong><br />

NaDefiniçãoaseguirpediremosumpouco mais queoquefoiexigidonaDefinição<br />

0.1, pois vamos pedir que:<br />

• x ∈ I (domínio da função) e que<br />

• limx→x f(x) = f(x)<br />

ou seja que o limite L da função coincida com f(x):<br />

Definição 0.1. Uma função f : I → R é contínua em x ∈ I se toda sequência xn <strong>de</strong><br />

pontos <strong>de</strong> seu domínio com<br />

lim<br />

n→+∞ xn = x<br />

tenha também<br />

lim<br />

n→+∞ f(xn) = f(x).<br />

Quando dissermos apenas que f é contínua estamos querendo dizer f que é contínua<br />

em cada ponto <strong>de</strong> seu Domínio.<br />

Observações:<br />

• Quer dizer então que, se uma função é contínua em x, é porque ela manda<br />

todas sequências contidas no Domínio I <strong>de</strong> f que se aproximam <strong>de</strong> x em<br />

sequências no Contra-Domínio que se aproximam <strong>de</strong> f(x).<br />

• Concluímos que, para não termos a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> f em x ∈ I, tem<br />

que haver pelo menos uma sequência xn <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> seu domínio com<br />

limn→+∞xn = x, mas para as qual limn→+∞f(xn) = f(x) .<br />

Isso po<strong>de</strong> acontece ou porque simplesmente não existe esse limite ou,<br />

mesmo existindo, po<strong>de</strong> ser que seja diferente <strong>de</strong> valor esperado f(x).<br />

• Só faz sentido dizer que f é <strong>de</strong>scontínua (não-contínua) em pontos x <strong>de</strong> seu<br />

Domínio 1<br />

Exemplos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s:<br />

1- f : R → R <strong>de</strong>finida condicionalmente por: f(x) = x se x ≤ 0 e por x + 4 se<br />

x > 0. Nesse exemplo, sequências xn < 0 que ten<strong>de</strong>m a zero tem f(xn) ten<strong>de</strong>ndo a<br />

0; mas sequências xn > 0 que ten<strong>de</strong>m a zero tem f(xn) ten<strong>de</strong>ndo a 4.<br />

2- f : [0,5] → R, <strong>de</strong>finida condicionalmente por f(0) = 3 e f(x) = 1/x, se<br />

x ∈ (0,5]. Aqui, sequências <strong>de</strong> números positivos xn que tendam a 0 tem f(xn)<br />

ficando tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos, ou seja se afastando <strong>de</strong> f(0) := 3.<br />

1 Ao contrário do que faz o Anton em seu livro <strong>de</strong> Cálculo, para quem f : R \ {0} → R é<br />

<strong>de</strong>scontínua em x = 0 !!!<br />

71


1. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES CONTÍNUAS 72<br />

3- f : [0, 1<br />

1<br />

] → R, f(0) = 0 e f(x) = sen(1/x), se x ∈ (0, ] (aqui apelo apenas<br />

π π<br />

para o conhecimento <strong>de</strong> base, <strong>de</strong> que seno é uma função periódica, que tem valores<br />

em [−1,1] e que se anula em π). Aqui se tomamos xn > 0 conveniente ten<strong>de</strong>ndo a 0,<br />

po<strong>de</strong>mos conseguir f(xn) ten<strong>de</strong>ndo para qualquer Lxn ∈ [−1,1].<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

0,05<br />

0,1<br />

0,15<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> f(0) = 0 e f(x) = sin( 1 1 ) se x ∈ (0, x π ].<br />

0,2<br />

0,25<br />

1. Operações com funções contínuas<br />

O próximo Teorema simplesmente re-escreve alguns itens do Teorema 1.1, no caso<br />

em em x está no domínio <strong>de</strong> ambas as funções e em que L1 = f(x) e L2 = g(x).<br />

Teorema 1.1. (Proprieda<strong>de</strong>s das funções contínuas) Suponha que f e g ambas são<br />

contínuas em x, ou seja:<br />

lim<br />

x→x<br />

f(x) = f(x) e lim<br />

x→x<br />

0,3<br />

g(x) = g(x).<br />

Então:<br />

1) A função soma f +g é também contínua em X ou seja<br />

lim (f +g)(x) = (f +g)(x).<br />

x→x<br />

2) A função diferença f −g é também contínua em X ou seja<br />

lim (f −g)(x) = (f −g)(x).<br />

x→x<br />

3) Se C ∈ R é uma constante, então a função (C ·f)(c) := C ·f(x) é contínua,<br />

ou seja:<br />

lim (C ·f)(x) = C ·f(x)<br />

x→x<br />

4) A função produto (f ·g)(x) tem<br />

lim (f ·g)(x) = (f ·g)(x).<br />

x→x<br />

5) Se g(x) = 0:<br />

• i) se x é suficientemente próximo <strong>de</strong> x, então g(x) = 0 e<br />

• ii) lim f(x) f(x)<br />

= g(x) g(x) .<br />

A Afirmação 3.1 e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> função contínua implicam:


CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 73<br />

Afirmação 1.1. (Princípio <strong>de</strong> Inércia das funções contínuas) Seja f : I → R<br />

contínua em x, <strong>de</strong>finida num intervalo aberto I.<br />

• se f(x) > 0 então f(x) > 0 num intervalo aberto centrado em x.<br />

• se f(x) > 0 então f(x) > 0 num intervalo aberto centrado em x.<br />

Deixo a prova como um exercício para o leitor, se bem que a figura a seguir diz<br />

quase tudo:<br />

L + ε<br />

L > 0<br />

L−ε<br />

x − δ<br />

x<br />

x + δ<br />

Figura: f é contínua e positiva m x.<br />

O Teorema a seguir é enunciado para a composição <strong>de</strong> 2 funções, mas po<strong>de</strong> ser<br />

adaptado facilmente para qualquer número (finito) <strong>de</strong> composições <strong>de</strong> funções.<br />

Afirmação 1.2. Seja g : I → J e f : J → K funções <strong>de</strong> intervalos em intervalos.<br />

Suponha que g é contínua em x e que f é contínua em g(x). Então a função<br />

composta<br />

(f ◦g)(x) := f(g(x))<br />

é contínua em x.<br />

Se g e f são contínuas, então f ◦g é contínua.<br />

Demonstração.<br />

Queremos saber se para qualquer sequência (xn)n que ten<strong>de</strong> a x, com xn ∈ I,<br />

temos que a sequência f(g(xn)) ∈ K ten<strong>de</strong> para f(g(x)).<br />

O que sabemos pelas hipóteses sobre f e sobre g é, primeiro, que se xn ∈ I ten<strong>de</strong><br />

a x então g(xn) ∈ J ten<strong>de</strong> a g(x).<br />

Mas agora consi<strong>de</strong>ramos<br />

z := g(x), e zn := g(xn).<br />

Essa sequência zn é uma sequência que ten<strong>de</strong> a z. Pela hipótese <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> da<br />

f, temos que f manda a sequência zn em uma sequência f(zn) = f( g(xn) ) que ten<strong>de</strong><br />

a f(z) = f(g(x)): exatamente o que queríamos.<br />

<br />

Na prática a Afirmação 1.2 permite-nos fazer a seguinte troca:<br />

lim<br />

x→x f(g(xx)) = f(lim<br />

x→x g(xx)),


2. POLINÔMIOS, FUNÇÕES RACIONAIS E TRIGONOMÉTRICAS 74<br />

o que é muito útil para calcular limites.<br />

2. Polinômios, funções racionais e trigonométricas<br />

2.1. Polinômios.<br />

Não imagino um exemplo mais simples <strong>de</strong> função contínua que a função constante<br />

: f(x) ≡ C, C ∈ R. É claro que limx→x f(x) = C, pois f(x) = C simplesmente não<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> x ou <strong>de</strong> x particulares.<br />

Outro exemplo que é contínua é a função i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> f(x) = x, pois obviamente<br />

lim<br />

x→x<br />

f(x) = lim<br />

x→x<br />

x = x.<br />

Uma consequência do Teorema 1.1 é que os polinômios:<br />

f(x) := an ·x n +an−1 ·x n−1 +...+a1 ·x+a0, on<strong>de</strong> ai ∈ R<br />

são funções contínuas. De fato, para um polinômio usamos um número finito <strong>de</strong> vezes<br />

os itens 1), 2) , 3) e 4).<br />

2.2. Funções racionais.<br />

O item 5) do Teorema 1.1 diz então que a função F : R\{0} :→ R, F(x) = 1<br />

x é<br />

contínua, pois numerador e <strong>de</strong>nominador são contínuos.<br />

Isso é um pouco chocante, pelo aspecto do gráfico <strong>de</strong>ssa, formado <strong>de</strong> duas partes.<br />

Se lê em alguns livros que uma função contínua não tem rasgos no seu gráfico, mas<br />

o correto é dizer que uma função contínua não introduz rasgos. Se o próprio domínio<br />

<strong>de</strong>la já é formado como neste exemplo <strong>de</strong> dois pedaços como o <strong>de</strong> 1<br />

x ,<br />

R\{0} = R >0 ∪R 0 fica tão positivo quisermos<br />

e aproximando x pela esquerda 1/x < 0 fica tão negativo quanto quisermos.<br />

Generalizando o exemplo 1<br />

x<br />

, <strong>de</strong>fino uma função racional como o quociente P1(x)<br />

P2(x)<br />

<strong>de</strong> dois polinômios. Resta saber, se adotamos esta <strong>de</strong>finição, on<strong>de</strong> a função racional<br />

está bem <strong>de</strong>finida como função.<br />

Vale o seguinte: se P1(x) e P2(x) não têm raízes comuns, então P1(x)<br />

tem como P2(x)<br />

Domínio exatamente o conjunto<br />

E P1(x)<br />

P2(x)<br />

{x; P2(x) = 0}.<br />

é uma função contínua.<br />

Porém, suponha que P1(x) e P2(x) têm alguma raíz comum x, que é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

m1 ≥ 1 para P1(x) e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m m2 ≥ 1 para P2(x). Então P1(x)<br />

estará <strong>de</strong>finida em x<br />

P2(x)<br />

se e somente se<br />

m1 ≥ m2.<br />

Relembro essas noção <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ou multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma raíz:


CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 75<br />

Definição 2.1. Seja f(x) polinômio a coeficientes Reais.<br />

Dizemos que x é raíz <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m exatamente m, se<br />

f(x) = (x−x) m ·g(x), m ∈ N,<br />

para um g(x) polinômio a coeficientes Reais que não se anula em x.<br />

2.3. Trigonométricas.<br />

Consi<strong>de</strong>re agora um círculo <strong>de</strong> raio 1.<br />

Po<strong>de</strong>mos usar o comprimento do arco do círculo (medido no sentido antihorário<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o eixo x > 0) como uma medida do ângulo central.<br />

Assim um ângulo <strong>de</strong> 360 graus (antihorário, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o eixo x > 0)) me<strong>de</strong> +2π (on<strong>de</strong><br />

π é tomado no sentido elementar <strong>de</strong> quociente entre o perímetro e diâmetro <strong>de</strong> um<br />

círculo). Um ângulo <strong>de</strong> 90 graus antihorário me<strong>de</strong> +π/2, o <strong>de</strong> 180 antihorário me<strong>de</strong><br />

+π. É claro que há sempre uma ambiguida<strong>de</strong> <strong>de</strong> k ·2π nesse modo como medimos o<br />

ângulo central.<br />

A medida da projeção no eixo y (orientada como o eixo y)do arco <strong>de</strong>comprimento<br />

θ é o seno do ângulo θ. Assim como a medida da projeção no eixo x (orientada como<br />

o eixo x) do arco <strong>de</strong> comprimento θ é o cosseno do ângulo θ.<br />

1<br />

sen θ<br />

θ<br />

cos θ<br />

tan θ<br />

Figura: Definição elementar <strong>de</strong> seno e cosseno<br />

Seno e cosseno naturalmente são periódicos <strong>de</strong> período 2π, <strong>de</strong>vido à ambiguida<strong>de</strong><br />

na medida do ângulo.<br />

Agora vamos usar a intuição que temos <strong>de</strong> que, se variamos um pouquinho o arco<br />

θ para θ+h, então as duas projeções vertical e horizontal mudam pouco (as projeções<br />

são funções contínuas).<br />

Ou seja, Afirmamos que seno e cosseno são funções contínuas por serem <strong>de</strong>finidas<br />

a partir <strong>de</strong> projeções.<br />

Lembro que seno retrito a [ −π π , ] é uma função estritamente crescente; sua função<br />

2 2<br />

inversa chamada <strong>de</strong> arcoseno (pois diz <strong>de</strong>que arco o número dado éum seno) também<br />

é estritamente crescente.<br />

Isso vale em geral:<br />

é.<br />

Se uma função y = f(x) é estritamente crescente, sua inversa x = f −1 (y) também


2. POLINÔMIOS, FUNÇÕES RACIONAIS E TRIGONOMÉTRICAS 76<br />

De fato, se por absurdo ocorresse que y 1 < y 2 mas f −1 (y 1 ) ≥ f −1 (y 2 ) então<br />

teríamos x 1 = f −1 (f(x 1)) ≥ f −1 (f(x 2)) = x 2 contradizendo que y = f(x) é estritamente<br />

crescente.<br />

Pelo item5)doTeorema 1.1, afunção sin(x)<br />

écontínuanospontoson<strong>de</strong>cos(x) = 0,<br />

cos(x)<br />

ou seja para x = π/2+k ·π, k ∈ Z. Essa função é por <strong>de</strong>finição a função tangente<br />

tan(x) := sin(x)<br />

cos(x) .<br />

Será importante mais adiante, quando falarmos dos coeficientes angulares <strong>de</strong> retas.<br />

A periodicida<strong>de</strong> do seno do cosseno repercute na função tangente, que é periódica<br />

<strong>de</strong> período π. Seu domínio é uma união <strong>de</strong> infinitos intervalos <strong>de</strong> comprimento π:<br />

...∪( −π π<br />

−π,<br />

2 2 −π)∪(−π<br />

π<br />

,<br />

2 2 )∪(−π<br />

π<br />

+π,<br />

2 2 +π)∪...<br />

e não é difícil <strong>de</strong> ver que quando restrita a cada intervalo ela é uma função:<br />

• i) estritamente crescente e<br />

• ii) que fica em módulo tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos se nos aproximamos<br />

suficentemente dos extremos<br />

pois o <strong>de</strong>nominador cos(θ) <strong>de</strong> sin(θ)<br />

cos(θ)<br />

se aproxima <strong>de</strong> 1 ou <strong>de</strong> −1.<br />

se aproxima <strong>de</strong> zero enquanto o numerador sin(θ)<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-1-0,5 0 0,51<br />

Figura: Gráfico feito no computador <strong>de</strong> y = tan(x) em ( −π<br />

2<br />

x<br />

-2<br />

-4<br />

+0.2, π<br />

2 −0.2)<br />

Nessa Figura, feita numericamente no computador, não pu<strong>de</strong> pedir para o computador<br />

trabalhar no intervalo ( −π π , ), pois os valores <strong>de</strong> tan explo<strong>de</strong>m em módulo.<br />

2 2<br />

A restrição<br />

tan : ( −π π<br />

, ) → R<br />

2 2<br />

temuma inversa arctan : R → ( −π π , ). Também éumafunção estritamente crescente,<br />

2 2<br />

como já explicamos acima, mas seus valores não sobrepassam em módulo a π<br />

2 .


CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 77<br />

-4<br />

-2<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-0,5<br />

0<br />

-1x<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> arctan(x)<br />

Po<strong>de</strong>mos expressar o comportamento <strong>de</strong> arctan(x) usando a notação da Seção 3:<br />

•<br />

•<br />

lim<br />

x→+∞<br />

2<br />

arctan(x) = π<br />

2<br />

paradizerquearctan(x)ficatãopróximoquantoquisermos<strong>de</strong> π<br />

2 se<strong>de</strong>ixarmos<br />

x crescer o suficiente;<br />

lim<br />

x→−∞<br />

arctan(x) = −π<br />

2<br />

para dizer que arctan(x) fica tão próximo quanto quisermos <strong>de</strong> −π se <strong>de</strong>ixar- 2<br />

mos x <strong>de</strong>crescer o suficiente;<br />

E po<strong>de</strong>mos introduzir novos símbolos para comparar com o comportamento <strong>de</strong><br />

tan(x):<br />

•<br />

•<br />

lim<br />

θց− π<br />

2<br />

tan(θ) = −∞<br />

significa que tan(θ) fica tão negativo quanto quisermos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que θ > − π<br />

2<br />

<strong>de</strong>cresça e se aproxime o suficiente <strong>de</strong> − π<br />

2 .<br />

lim<br />

θր π<br />

2<br />

tan(θ) = ∞<br />

significa quetan(θ) fica tãopositivo quanto quisermos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que θ < π<br />

2 cresça<br />

e se aproxime o suficiente <strong>de</strong> π<br />

2 .<br />

4


3. CONTINUIDADE DA FUNÇÃO INVERSA 78<br />

3. Continuida<strong>de</strong> da função inversa<br />

É possível provar (mas a prova é um pouco técnica <strong>de</strong>mais) que:<br />

Afirmação 3.1. Se f : I → R, y = f(x) <strong>de</strong>finida num intervalo I é contínua e<br />

tem inversa, então f −1 : f(I) → I também está <strong>de</strong>finida num intervalo f(I) e f −1<br />

também é contínua.<br />

Chamo a atenção que essa Afirmação po<strong>de</strong> ser falsa se o domínio da f não é um<br />

intervalo 2<br />

Para ver um exemplo disso, consi<strong>de</strong>re uma f <strong>de</strong>finida numa união <strong>de</strong> intervalos:<br />

[0,a]∪(a+1,b], que seja contínua e que tenha inversa. Note que a continuida<strong>de</strong> em<br />

x = a só se refere ao comportamento a f em relação a sequências xn ∈ [0,a] que<br />

tendam a x = a. As sequências xn ∈ (a+1,b] do domínio da f não ten<strong>de</strong>m ao ponto<br />

a, pois distam <strong>de</strong>le pelo menos 1, então não interessam na análise da continuida<strong>de</strong> da<br />

f em a. O gráfico que segue é um exemplo <strong>de</strong> uma tal f:<br />

0<br />

a<br />

y = f(x)<br />

a+1<br />

Figura: f : [0,a]∪(a+1,b] → R contínua,<br />

com x = f −1 (y) <strong>de</strong>scontínua em f(a)<br />

Agora Afirmo que a função inversa x = f −1 (y) é <strong>de</strong>scontínua em y = f(a). De<br />

fato, se yn < f(a) é uma sequência <strong>de</strong> pontos da imagem da f que ten<strong>de</strong> a f(a) vemos<br />

na Figura que limn→+∞ f −1 (yn) = a. Mas se tomamos yn > f(a) uma sequência <strong>de</strong><br />

pontos da imagem da f que ten<strong>de</strong> a f(a), vemos que limn→+∞ f −1 (yn) = a+1.<br />

A Figura a seguir ilustra:<br />

0<br />

y = f^{−1} (x)<br />

y = f(x)<br />

Figura: Aqui y = f(x) e y = f −1 (x) estão no mesmo sistema cartesiano<br />

a<br />

2 Como esqueceu o Anton, na pag. 156, Teorema 2.6.2, da Oitava Edição do seu livro <strong>de</strong> Cálculo.<br />

a+1<br />

b<br />

b


CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 79<br />

4. Dois teoremas fundamentais sobre funções contínuas<br />

A <strong>de</strong>monstração dos dois Teorema a seguir foge do conteúdo usual do Cálculo,<br />

é visto em disciplinas mais avançadas <strong>de</strong> Análise <strong>Matemática</strong>.<br />

É importante que o estudante medite sobre seus enunciados.<br />

Teorema 4.1. (Teorema do Valor Intermediário - abrev.: T.V.I.)<br />

Seja f : [a,b] → R função contínua com A = f(a) e B = f(b), com A = B, por<br />

exemplo A < B.<br />

Seja C qualquer número C ∈ (A,B). Então existe algum x ∈ (a,b) tal que<br />

f(x) = C (po<strong>de</strong> haver mais <strong>de</strong> um x <strong>de</strong>sse tipo)<br />

Teorema 4.2. (Teorema <strong>de</strong> Bolzano-Weierstrass)<br />

Seja f[a,b] → R contínua, on<strong>de</strong> [a,b] é intervalo fechado e limitado. Então f tem<br />

mínimo e máximo globais assumidos em pontos <strong>de</strong> [a,b]<br />

5. Primeiras aplicações do T.V.I<br />

Vamos dar agora algumas aplicações iniciais do T.V.I. Mais tar<strong>de</strong> ele será importante<br />

na prova do Teorema Fundamental do Cálculo, na Parte 2 do Curso.<br />

Primeiro um típico teorema bem geral, mas que não diz nada sobre a solução em<br />

cada caso específico:<br />

Proposição 5.1. Dado qualquer f : [0,1] → [0,1] contínua, existe x ∈ [0,1] tal que<br />

f(x) = x.<br />

Demonstração.<br />

Observe que geometricamente o que queremos é saber se o gráfico <strong>de</strong> y = f(x)<br />

corta o gráfico da diagonal y = x.<br />

Se f(0) = 0 ou se f(1) = 1 então corta e acabou, não há nada mais a provar.<br />

Portanto vamos supor que f(0) ∈ (0,1] e que f(1) ∈ [0,1), para termos algo a provar.<br />

É razoável olhar a função diferença entre elas: f(x)−x. Por ser uma diferença <strong>de</strong><br />

duas funções contínuas, f(x)−x também é função contínua. A<strong>de</strong>mais, f(0) ∈ (0,1]<br />

e f(1) ∈ [0,1) dizem que:<br />

f(0)−0 > 0 e f(1)−1 < 0.<br />

Pelo T.V.I. existe algum x ∈ (0,1) tal que:<br />

f(x)−x = 0,<br />

como queríamos. <br />

6. Raízes <strong>de</strong> polinômios cujo grau é ímpar<br />

A segunda aplicação do T.V.I.:<br />

Proposição 6.1. Todo polinômio <strong>de</strong> coeficientes Reais e <strong>de</strong> grau ímpar tem algum<br />

zero Real: f(x) = 0.


6. RAÍZES DE POLINÔMIOS CUJO GRAU É ÍMPAR 80<br />

Observe que há polinômios <strong>de</strong> grau par sem zeros Reais, como f(x) = x 2 +1.<br />

Demonstração. Seja f o polinômio <strong>de</strong> grau 2n−1:<br />

f(x) := a2n−1 ·x 2n−1 +a2n−2 ·x 2n−2 +...+a1 ·x+a0, ai ∈ R, n ∈ N<br />

Caso a2n+1 > 0:<br />

Escrevo para x > 0:<br />

a2n−1 ·x 2n−1 +a2n−2·x 2n−2 +...+a1 ·x+a0 = a2n−1x 2n−1 ·(1+ a2n−2<br />

Pelo Teorema 3.1 e pelos Exemplos que o seguem, temos que<br />

lim<br />

x→+∞ (a2n−2<br />

a0<br />

+...<br />

x x2n−1) = 0.<br />

Portanto para x > 0 suficientemente gran<strong>de</strong> temos que<br />

1+ a2n−2 a0<br />

+... > 0.<br />

x x2n−1 Logo, para x > 0 suficientemente gran<strong>de</strong>, o sinal <strong>de</strong><br />

a2n−1x 2n−1 ·(1+ a2n−2<br />

x<br />

+... a0<br />

x 2n−1)<br />

é o mesmo sinal <strong>de</strong> a2n−1x 2n−1 , que é a2n−1x 2n−1 > 0.<br />

Argumentando do mesmo jeito para x → −∞, concluimos que o sinal <strong>de</strong><br />

a2n−1x 2n−1 ·(1+ a2n−2<br />

x<br />

+... a0<br />

x 2n−1)<br />

x<br />

+... a0<br />

x 2n−1).<br />

para x < 0 suficientemente gran<strong>de</strong> é o mesmo sinal <strong>de</strong> a2n−1x 2n−1 , que nesses pontos<br />

é a2n−1x 2n−1 < 0.<br />

Então<br />

f(x) = a2n−1 ·x 2n−1 +a2n−2 ·x 2n−2 +...+a1 ·x+a0<br />

assumiu valores negativos e positivos.<br />

Pelo T.V.I. e pela continuida<strong>de</strong> do polinômio f(x), tem que haver um ponto on<strong>de</strong><br />

f(x) = 0.<br />

Caso a2n+1 < 0: completamente análogo.<br />

<br />

Esse teorema (e sua prova) não dão nenhuma pista <strong>de</strong> como achar concretamente<br />

algum ponto x on<strong>de</strong> f(x) = 0.<br />

Em dois trabalhos, <strong>de</strong> 1690 e 1691, Michel Rolle tentou estabelecer um método<br />

para <strong>de</strong>terminar concretamente esses zeros.<br />

Ele o fez <strong>de</strong> um modo bem confuso, pois não tinha uma boa <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Derivada,<br />

masseunomeficouassociadoaoteoremaqueestabeleceremosmaisadiantenoCapítulo<br />

10eque nospermitirácriar métodosparaencontrar raízes <strong>de</strong>polinômios(e<strong>de</strong>funções<br />

mais gerais).<br />

Um aplicação interessante do Teorema <strong>de</strong> Rolle e do T.V.I. será dada na Seção 5<br />

do Capítulo 13, para provar a Regra <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> Descartes, que dá uma estimativa<br />

do número <strong>de</strong> raízes Reais <strong>de</strong> um polinômio.


CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 81<br />

7. Raízes simples e fatoração <strong>de</strong> polinômios<br />

Acho que po<strong>de</strong> ser útil na formção dos estudantes, ter uma prova do seguinte fato<br />

fundamental:<br />

Teorema 7.1. Seja f(x) = anx n +an−1x n−1 +...+a0 um polinômio <strong>de</strong> grau n, com<br />

coeficientes ai ∈ R.<br />

São equivalentes:<br />

• i) f(x) = 0 para alguma raíz x ∈ R e<br />

• ii) f(x) = (x − x) · g(x) on<strong>de</strong> g(x) é um polinômio <strong>de</strong> grau n − 1 com<br />

coeficientes Reais.<br />

Demonstração.<br />

ii) obviamente implica i), pois:<br />

f(x) = (x−x)·g(x) = 0.<br />

A prova <strong>de</strong> que i) implica ii) será dividida em duas etapas.<br />

A parte interessante é construir o g(x) que queremos em:<br />

f(x) = (x−x)·g(x)+r,<br />

on<strong>de</strong> r é uma constante.<br />

Se tivermos feito isso, avaliaremos tudo em x:<br />

0 = f(x) = (x−x)·g(x)+r = r,<br />

para concluir que r = 0.<br />

Parachegarmosna<strong>de</strong>sejadaexpressão f(x) = (x−x)·g(x)+r, temosumalgoritmo<br />

a executar.<br />

Para f(x) = anx n +an−1x n−1 +...+a0 , faço<br />

e subtraio<br />

g1(x) := an ·x n−1<br />

r1(x) := f(x)−(x−x)·g1(x).<br />

O g1(x) foi escolhido para que r1(x) não tenha termo <strong>de</strong> grau n. Ou seja que esse<br />

novo polinômio r1(x) tem grau ≤ n−1. Se por acaso r1(x) ≡ 0 então<br />

f(x) = (x−x)·g1(x)<br />

e já temos o que queremos, com r = 0 e g(x) := g1(x).<br />

Caso contrário r1(x) = bkx k +bk−1x k−1 +..., on<strong>de</strong> k ≤ n−1; <strong>de</strong>fino<br />

e subtraio<br />

g2(x) := xk−1<br />

,<br />

bk<br />

r2(x) := r1(x)−(x−x)·g2(x).


7. RAÍZES SIMPLES E FATORAÇÃO DE POLINÔMIOS 82<br />

Pela <strong>de</strong>finição do g2(x) esse novo polinômio r2(x) tem grau ≤ n−2. Se <strong>de</strong>rmos sorte<br />

e r2(x) ≡ 0 então<br />

f(x) = (x−x)·[g1(x)+g2(x)],<br />

e já temos o que queremos com r = 0 e g(x) = g1(x)+g2(x).<br />

Caso contrário continuamos, consi<strong>de</strong>rando agora r2(x) = cjx j + cj−1x j−1 + ...,<br />

on<strong>de</strong> j ≤ n−2 e <strong>de</strong>finindo g3(x) e r3(x) como fizemos antes.<br />

O que importa é que o grau <strong>de</strong>sse novo r3(x) será ≤ n − 3. Ou seja, como vão<br />

caindo os graus dos rk(x) a cada etapa, após no máximo n etapas chegaremos a um<br />

rk(x) (k ≤ n) que ou bem é ≡ 0 ou bem tem grau zero, uma constante. Esse será o<br />

r. E g(x) := g1(x)+...+gk(x), k ≤ n. <br />

Digressão sobre o Teorema 7.1:<br />

Se observarmos a prova <strong>de</strong>sse Teorema vemos que, na fatoração<br />

f(x) = (x−x)·g(x)<br />

os coeficientes do polinômio g(x) são soma, subtrações, produtos, quocientes da raíz<br />

x e dos coeficientes ai <strong>de</strong> f(x).<br />

Por isso, se a raíz x fossse um número Complexo e a1 são Reais ou Complexos, <strong>de</strong>veria<br />

haver uma fatoração <strong>de</strong> f on<strong>de</strong> o polinômio g(x) tivesse coeficientes Complexos.<br />

Por exemplo, temos<br />

x 3 −1 = (x−1)·(x 2 +x+1)<br />

e isso é tudo que po<strong>de</strong>mos fazer se estamos limitados a trabalhar com coeficientes<br />

Reais.<br />

Mas x 2 +x+1 tem raízes Complexas:<br />

x1 := −1−√−1 √ 3<br />

e x2 :=<br />

2<br />

−1+√−1 √ 3<br />

,<br />

2<br />

ous seja, as raízes Reais ou Complexas <strong>de</strong> x3 −1 = 0 são 1,x 1,x2. Portanto <strong>de</strong>veria<br />

haver uma fatoração:<br />

x 3 −1 = (x−x 1)·g(x),<br />

com os coeficientes <strong>de</strong>sse novo g(x) nos Complexos.<br />

Seguindo os passos do algoritmo dado na prova do Teorema 7.1 (com a mesma<br />

notação), faço:<br />

g1(x) := x 2<br />

Agora<br />

E também<br />

r1 := x 3 −1−x 2 ·(x−x 1) =<br />

= x 1x 2 −1.<br />

g2(x) := x 1x,<br />

r2 := r1 −x 1x·(x−x 1) =<br />

= x 2 1x−1.<br />

g3(x) := x 2 1 ,


CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 83<br />

Portanto<br />

e a fatoração é<br />

r3 := r2 −x 2 1 ·(x−x 1) =<br />

= −1+x 3 1 = 0.<br />

g(x) := g1(x)+g2(x)+g3(x) =<br />

= x 2 +x 1x+x 2 1 ,<br />

x 3 −1 = (x−x 1)·(x 2 +x1x+x 2 1 ), on<strong>de</strong> x1 := −1−√−1 √ 3<br />

.<br />

2<br />

Note que:<br />

(x−1)·(x−x 2) = x 2 −(x2 +1)x+x 2 =<br />

= x 2 +x1x+x 2 1 ,<br />

pois claramente<br />

x2 +1 = −x1, e<br />

x 2 1 = x2. 8. Possíveis raízes Racionais <strong>de</strong> polinômios a coeficientes inteiros<br />

Aproveito o tema das raízes <strong>de</strong> polinômios para lembrar o seguinte Teste, que<br />

permite saber se po<strong>de</strong> haver raíz Racional <strong>de</strong> um polinômio a coeficientes Inteiros:<br />

Afirmação 8.1. Seja p(x) = ak·x k +ak−1·x k−1 +...+a1·x+a0 polinômio <strong>de</strong> grau<br />

k ≥ 1 com coeficientes Inteiros:<br />

ak,ak−1,...,a1,a0 ∈ Z.<br />

Suponha que p(x) tem alguma raíz Racional, ou seja, da forma<br />

x = m<br />

∈ Q, com m e n primos entre si.<br />

n<br />

Então m é divisor <strong>de</strong> a0 e n é divisor <strong>de</strong> ak.<br />

Então<br />

Demonstração.<br />

Suponho que:<br />

e multiplicando por n k :<br />

e daí:<br />

Como<br />

p( m<br />

n ) = ak · mk<br />

n k +ak−1 · mk−1<br />

n k−1 +...+a1 · m<br />

n +a0 = 0.<br />

ak · mk<br />

nk +ak−1 · mk−1<br />

nk−1 +...+a1 · m<br />

= −a0<br />

n<br />

ak ·m k +n·ak−1 ·m k−1 +...+a1 ·n k−1 ·m = −n k ·a0<br />

m·[ak ·m k−1 +n·ak−1 ·m k−2 +...+a1 ·n k−1 ] = n k ·(−a0).<br />

ak ·m k−1 +n·ak−1 ·m k−2 +...+a1 ·n k−1 ∈ Z<br />

temos que m é um divisor <strong>de</strong> n k ·(−a0).


9. EXERCÍCIOS 84<br />

Como m e n são primos entre si isso implica que m é divisor <strong>de</strong> a0.<br />

Também temos:<br />

−ak · mk<br />

nk = ak−1 · mk−1<br />

nk−1 +...+a1 · m<br />

n +a0<br />

e portanto, multiplicando por nk :<br />

e daí:<br />

Como<br />

−ak ·m k = n·ak−1 ·m k−1 +...+n k−1 ·a1m+n k ·a0<br />

−ak ·m k = n·[ak−1 ·m k−1 +...+n k−2 ·a1 ·m+n k−1 ·a0].<br />

ak−1 ·m k−1 +...+n k−2 ·a1 ·m+n k−1 ·a0 ∈ Z<br />

isso diz que n é divisor <strong>de</strong> −ak · m k . Como m e n são primos entre si, isso implica<br />

que n é divisor <strong>de</strong> ak.<br />

<br />

Na Seção 5 do Capítulo 13 daremos uma prova da Regra <strong>de</strong> Sinais <strong>de</strong> Descartes,<br />

que estima quantos zeros po<strong>de</strong> ter um polinômio a coeficientes Reais.<br />

9. Exercícios<br />

Exercício 9.1. Consi<strong>de</strong>re a função <strong>de</strong>finida assim: f(x) = 0 se x é um número<br />

racional e f(x) = 1 se x é um número irracional.<br />

i): Como é seu gráfico ?<br />

ii): em que pontos ela é contínua ou é <strong>de</strong>scontínua?<br />

Exercício 9.2. A soma, o produto e a composição <strong>de</strong> funções contínuas produz<br />

funções contínuas. Usando isso calcule:<br />

i)lim<br />

(3x−4x)·(x<br />

x→1 5 −2x) 4 ,<br />

√<br />

5 4<br />

4x−3x·(x −2x) .<br />

ii)lim<br />

x→1<br />

Exercício 9.3. Dê um exemplo <strong>de</strong> f(x) <strong>de</strong>scontínua em algum ponto mas tal que<br />

f 2 (x) é contínua em todos os pontos.<br />

Exercício 9.4. (resolvido)<br />

Prove que a função <strong>de</strong>finida por f(x) = x·sin( 1<br />

x<br />

), se x > 0 e f(0) = 0 é contínua.<br />

Exercício 9.5. Prove a Afirmação 1.1, que chamei <strong>de</strong> princípio <strong>de</strong> inércia das funções<br />

contínuas.<br />

Exercício 9.6. Um aluno me disse que, para <strong>de</strong>scobrir em quais intervalos um<br />

polinômio y = f(x) <strong>de</strong> grau n é positivo ou negativo, ele faz o seguinte.<br />

Ele primeiro <strong>de</strong>scobre todas as raízes Reais x1,x2,...,xk, on<strong>de</strong> k ≤ n.<br />

Depoisconsi<strong>de</strong>raosintervalos(−∞,x1), (x1,x2), etc,(xk−1,xk), (xk,+∞). Então<br />

para saber o sinal <strong>de</strong> f em cada intervalo <strong>de</strong>sses, ele examina o sinal <strong>de</strong> f(x) em um<br />

único x <strong>de</strong> cada intervalo.


CAPÍTULO 6. A NOÇÃO DE CONTINUIDADE 85<br />

O método <strong>de</strong>le está correto ? Se está, justifique-o com conceitos/ teoremas do<br />

Cálculo.<br />

Exercício 9.7. Dê um exemplo <strong>de</strong> uma função f positiva em um ponto x, mas tal<br />

que f(x n) = 0 em pontos x n que formam um sequência com limn→+∞ x n = x.<br />

Exercício 9.8. Encontre o domínio da função racional f(x) = 1<br />

x2 . Descreva o que<br />

−1<br />

acontece com o módulo e o sinal <strong>de</strong> f quando x se aproxima pela esquerda e pela<br />

direita dos pontos on<strong>de</strong> ela não está <strong>de</strong>finida.<br />

Exercício 9.9. (resolvido)<br />

i) Prove que<br />

2,2<br />

2<br />

1,8<br />

1,6<br />

1,4<br />

1,2<br />

1<br />

0,8<br />

lim<br />

x→+∞<br />

20<br />

√ 5·x 2 +x<br />

40<br />

x+2<br />

x<br />

60<br />

= √ 5<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> y = √ 5·x 2 +x<br />

x+2 , x ∈ [1,100], √ 5 ≈ 2.23.<br />

ii) Prove que<br />

lim<br />

x→−∞<br />

√ 5·x 2 +2<br />

x+2<br />

80<br />

= − √ 5<br />

Exercício 9.10. (resolvido) Um exemplo que não parece estar ligado a quocientes,<br />

mas que se calcula introduzindo quocientes:<br />

lim<br />

x→+∞ (√ x 2 +x−x) = 1<br />

2 .<br />

100


9. EXERCÍCIOS 86<br />

0,5<br />

0,48<br />

0,46<br />

0,44<br />

0,42<br />

20 40<br />

x<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> y = √ x 2 +x−x, x ∈ [1,100].<br />

Exercício 9.11. É um fato que o polinômio<br />

y = x 5 −2x 4 +x 3 +x 2 +1<br />

só tem uma raíz Real. Não é fácil achá-la explicitamente. Mas com o Teorema do<br />

ValorIntermediário vocêpo<strong>de</strong>concluirquearaízRealéumpontodointervalo[−1,1].<br />

Por quê ?<br />

No Capítulo 18 daremos um método para <strong>de</strong>terminar essa raíz, que foi <strong>de</strong>scoberto<br />

por Newton (para variar ...)<br />

Exercício 9.12. (resolvido)<br />

A equação x 3 +1 = 0 e, em geral, as as equações <strong>de</strong> grau ímpar<br />

60<br />

80<br />

x 2n+1 +1 = 0, n ∈ N<br />

tem obviamente como única raíz Real o x = −1.<br />

Não é fácil resolver explicitamente a equação x3 +ǫ·x+1 = 0, com ǫ ≥ 0 fixado,<br />

a menos que se conheça a fórmula <strong>de</strong> Cardano; com ela se obtém a raíz Real<br />

x = 3<br />

<br />

− 1<br />

2 +<br />

<br />

<br />

1 ǫ3 3 1<br />

+ −<br />

4 27 2 +<br />

<br />

1 ǫ3<br />

+<br />

4 27 .<br />

Torna-se intratável tentar resolver explicitamente o seguinte tipo <strong>de</strong> equação <strong>de</strong><br />

grau ímpar:<br />

com<br />

x 2n+1 +ǫ1 ·x 2n−1 +ǫ2 ·x 2n−3 +...+ǫn−1 ·x 3 +ǫn ·x+1 = 0,<br />

ǫi ≥ 0, i = 1,...n−1 e ǫn > 0<br />

fixados.<br />

i) Prove que cada uma <strong>de</strong>ssas equações têm um única raíz Real.<br />

ii) Prove que a raíz <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las está em [−1,0).<br />

iii) Para cada número em [−1,0) encontre alguma <strong>de</strong>ssas equações que o tenha<br />

como única raíz.<br />

100


CAPíTULO 7<br />

Geometria Analítica Plana<br />

1. Equações <strong>de</strong> retas, coeficientes angular e linear<br />

A equação <strong>de</strong> uma reta vertical por dois pontos (x,y1) e (x,y 2 ) é<br />

x−x = 0.<br />

Mas a equação <strong>de</strong> uma reta não-vertical por (x 1 ,y 1 ) e (x 2 ,y 2 ) é do tipo:<br />

y = a1 ·x+a0, a1, a0 ∈ R.<br />

Ou seja, sua equação é um tipo bem simples <strong>de</strong> polinômio, cujo grau em x é ≤ 1.<br />

Vamos usar uma notação mais habitual:<br />

y = a·x+b, a, b ∈ R.<br />

Afirmação 1.1. Os coeficientes a,b da equação y = ax + b da reta passando pelos<br />

dois pontos (x 1,y 1 ) e (x 2,y 2 ) com x 1 = x 2 são dados por:<br />

e<br />

Demonstração. De<br />

subtraindo-as, obtemos:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

a = y 2 −y 1,<br />

x2 −x1 b = y 1 −a·x 1 = y 2 −a·x 2.<br />

y 1 = a·x 1 +b e y 2 = a·x 2 +b,<br />

y 2 −y 1 = a·(x 2 −x 1),<br />

a = y 2 −y 1<br />

x2 −x1 (on<strong>de</strong> é crucial que x 2 = x 1). E daí sai que:<br />

ou o que dá no mesmo:<br />

b = y −(<br />

1 y 2 −y 1)·x<br />

x2 −x<br />

1,<br />

1<br />

b = y −(<br />

2 y 2 −y 1)·x<br />

x2 −x<br />

2.<br />

1<br />

87<br />

,


1. EQUAÇÕES DE RETAS, COEFICIENTES ANGULAR E LINEAR 88<br />

Note que esse número b é a altura em que a reta y = ax+b intersecta o eixo dos<br />

y, que é dado por x = 0: <strong>de</strong> fato,<br />

y = a·0+b = b.<br />

Definição 1.1. Dados dois pontos distintos do plano (x 1,y 1 ) e (x 2,y 2 ) com coor<strong>de</strong>nadas<br />

x 1 = x 2, <strong>de</strong>finimos o coeficiente angular da reta ligando esses dois pontos<br />

por:<br />

y 2 −y 1<br />

x 2 −x 1<br />

= y 1 −y 2.<br />

x1 −x2 Afirmação 1.2. O coeficiente angular é uma informação da reta, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

dos pontos particulares que usamos para calculá-lo.<br />

Demonstração.<br />

De fato, se tomo qualquer ponto (x 3,y 3 ) da reta y = a · x + b <strong>de</strong>terminada por<br />

(x 1,y 1 ) e (x 2,y 2 ), como y 3 = ax 3 +b, então:<br />

y 3 −y 1<br />

x 3 −x 1<br />

e já vimos na Afirmação 1.1 que<br />

ou seja,<br />

= (a·x 3 +b)−(ax 1 +b)<br />

x 3 −x 1<br />

a = y 2 −y 1,<br />

x2 −x1 y 3 −y 1<br />

x 3 −x 1<br />

= y 2 −y 1.<br />

x2 −x1 = a,<br />

Como consequência temos a seguinte observação útil para o Curso:<br />

Afirmação 1.3. Dado um ponto (x 1,y 1 ) e um coeficiente angular pré-estabelecido<br />

valendo a, então a única reta que passa por (x 1,y 1 ) e tem esse coeficiente angular é<br />

dada por<br />

y = a·x+(y 1 −a·x 1).<br />

Demonstração. De fato, tomando um ponto (x,y) genérico <strong>de</strong>ssa reta, então<br />

pela Afirmação 1.2<br />

y −y<br />

1 = a,<br />

x−x 1<br />

o que dá, isolando-se y:<br />

y = a·x+(y −a·x<br />

1 1).<br />

<br />

Exemplos:<br />

1)- a diagonal y = x tem coeficente angular 1 e a anti-diagonal y = −x tem<br />

coeficiente angular −1.<br />

2)- A reta horizontal y = b tem coeficiente angular 0, pois y = b = 0·x+b.


CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 89<br />

Observações:<br />

• Se x 1 = x 2 então a reta que liga (x 1,y 1 ) e (x 2,y 2 ) é vertical e não tem um<br />

coeficiente angular <strong>de</strong>finido.<br />

Temos a tentação <strong>de</strong> dizer que o coeficiente angular da reta vertical é<br />

+∞. Mas se começamos com a anti-diagonal e a vamos levantando, os coeficientes<br />

angulares ficam cada vez mais negativos e ao atingir a posição<br />

vertical ficariam −∞: essa ambiguida<strong>de</strong> entre +∞ e −∞ para o candidato<br />

a coeficiente angular da reta vertical é que faz que seja melhor <strong>de</strong>sistirmos<br />

<strong>de</strong> atribuir um coeficiente angular à reta vertical.<br />

• Geometricamente o coeficiente angular a representa o quociente entre o<br />

cateto oposto y 2 − y 1 e o cateto adjacente x 2 − x 1 do triângulo retângulo<br />

formado pelos pontos (x 1,y 1 ), (x2,y 1 ) e (x 2,y 2 ): logo a = tan(α) ( tangente<br />

do ângulo (anti-horário) α formado pela reta e o eixo horizontal). Vimos<br />

na Seção 2.3 que se um ângulo que ten<strong>de</strong> a +π<br />

2 sua tangente ten<strong>de</strong> a +∞,<br />

enquanto que, se o angulo ten<strong>de</strong> a −π<br />

, sua tangente ten<strong>de</strong> a −∞.<br />

2<br />

• Se fixamos a e variamos b em y = a·x+b estamos <strong>de</strong>screvendo uma família<br />

<strong>de</strong> retas paralelas com a mesma inclinação.<br />

2. Ortogonalida<strong>de</strong><br />

Deve estar claro pelo que já explicamos que duas retas y = ax+b1 e y = ax+b2,<br />

com b2 = b1, são <strong>de</strong> fato paralelas.<br />

Agora gostaria <strong>de</strong> explicar que uma par <strong>de</strong> retas y = ax+b1 e y = −1 a x+b2, com<br />

a = 0, são ortogonais.<br />

Posso me restringir a consi<strong>de</strong>rar retas pela origem: y = ax e y = −1 x, pois a<br />

estas são translações verticais das retas anteriores, e portanto têm entre elas o mesmo<br />

ângulo que as anteriores. Posso supor também que a > 0 (caso a < 0 então −1 > 0 a<br />

e po<strong>de</strong>ria trabalhar com este coeficiente angular).<br />

Se escrevo a = B<br />

, com A,B > 0, então −1 = −A<br />

A a B .<br />

Agora consi<strong>de</strong>ro 3 triângulos (ilustrados na Figura a seguir):<br />

• ∆1 dados pelos pontos (0,0), (A,0) e (A,B) e<br />

• ∆2 dado pelos pontos (0,0), (−B,0) e (−B,A).<br />

• ∆3 dado pelos pontos (0,0), (A,B) e (−B,A).


3. TEOREMA DE TALES NO CÍRCULO 90<br />

( − B , A )<br />

∆ 2<br />

∆ 3<br />

( − B , 0 ) ( 0 , 0 )<br />

( A, 0 )<br />

y<br />

Observeque∆1 e∆2 sãotriângulosretângulosequearetaquecontémahipotenusa<br />

<strong>de</strong>∆1 éy = ax,enquanto quearetaquecontémahipotenusa <strong>de</strong>∆2 éaretay = − 1<br />

a x.<br />

Então por Pitágoras as hipotenusas <strong>de</strong> ∆1 e <strong>de</strong> ∆2 valem o mesmo: √ A 2 +B 2 .<br />

Por outro lado o comprimento do segmento <strong>de</strong> reta ligando (−B,A) a (A,B) vale,<br />

por <strong>de</strong>finição:<br />

(B −A) 2 +(A−(−B)) 2 = √ 2A 2 +2B 2 .<br />

Portanto o triângulo ∆3 é isósceles, pois tem dois lados <strong>de</strong> mesmo tamanho λ :=<br />

√ A 2 +B 2 . Esses lados formam um ângulo em (0,0) que <strong>de</strong>noto por α. E o terceiro<br />

lado <strong>de</strong> ∆3, oposto a α, me<strong>de</strong><br />

√ 2A 2 +2B 2 = √ λ 2 +λ 2 .<br />

Lembroagoraqueéválidaarecíproca doTeorema <strong>de</strong>Pitágoras(coisapoucolembrada<br />

no Ensino Médio), ou seja, se um lado maior <strong>de</strong> um triângulo é soma <strong>de</strong> quadrados <strong>de</strong><br />

outros dois lados menores, então o triângulo é retângulo no ângulo oposto ao maior<br />

lado. Logo o triângulo ∆3 tem que ter ângulo reto em α, por ter um lado cuja medida<br />

é λ2 +λ2 .<br />

Logo y = ax e y = −1 x são <strong>de</strong> fato ortogonais, pois α é reto.<br />

a<br />

Apenas com as noções <strong>de</strong> coeficiente angular e <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong> é possível provar<br />

fatos bonitos e fundamentais da Geometria Euclidiana.<br />

É o que faremos nas duas Seções seguintes.<br />

∆ 1<br />

( A , B )<br />

3. Teorema <strong>de</strong> Tales no círculo<br />

Um dos mais bonitos teoremas da geometria Euclidiana é o Teorema <strong>de</strong> Tales no<br />

Círculo, que diz:<br />

Afirmação 3.1. (Teorema <strong>de</strong> Tales)<br />

Todos os ângulos inscritos no círculo <strong>de</strong>terminadospelo diâmetro são ângulos retos<br />

(= π<br />

2 radianos).<br />

x


CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 91<br />

Figura: O Teorema <strong>de</strong> Tales no Círculo<br />

Demonstração.<br />

Vamos provar para pontos do Círculo com coor<strong>de</strong>nada y > 0 (para os outros é<br />

análogo).<br />

Tome um ponto no do Círculo <strong>de</strong> raio r > 0, <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas (x,+ √ r 2 −x 2 ), on<strong>de</strong><br />

x ∈ [−r,r].<br />

Queremos ver se os coeficiente angular a da reta ligando (x,+ √ r 2 −x 2 ) a (r,0) e<br />

o coeficiente angular a ′ da reta ligando (x,+ √ r 2 −x 2 ) a (−r,0) satisfazem a condição<br />

que expressa a ortognalida<strong>de</strong>:<br />

a ′ ·a = −1.<br />

Mas<br />

enquanto que a = √ r 2 −x 2<br />

a ′ =<br />

x−r e portanto:<br />

a ′ ·a =<br />

√<br />

r2 −x2 −0<br />

x−(−r) =<br />

√<br />

r2 −x2 ,<br />

x+r<br />

√ r 2 −x 2<br />

(x+r) ·<br />

√<br />

r2 −x2 (x−r) = r2 −x2 x2 = −1.<br />

−r2 4. A equação da reta <strong>de</strong> Euler<br />

Um Teorema muito geral, que escapou<strong>de</strong>Eucli<strong>de</strong>s, masnão <strong>de</strong>Euler, éoseguinte:<br />

Afirmação 4.1. (Reta <strong>de</strong> Euler)<br />

Consi<strong>de</strong>re qualquer triângulo.<br />

Se o triângulo não é equilátero, o Baricentro B, o Circuncentro C e o Ortocentro<br />

H são pontos distintos mas são colineares. A<strong>de</strong>mais as distâncias entre eles verificam:<br />

HB = 2·BC.<br />

Se o triângulo é equilátero, os três pontos coinci<strong>de</strong>m num mesmo ponto.<br />

Essa reta que contém esse três pontos é a reta <strong>de</strong> Euler.


4. A EQUAÇÃO DA RETA DE EULER 92<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

0,2 0,4 0,6 0,8<br />

Figura: A reta <strong>de</strong> Euler representada por segmento intersectando<br />

uma mediana, uma altura e uma mediatriz, para P = ( 2<br />

3 ,2)<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

0,2 0,4 0,6 0,8<br />

Figura: A reta <strong>de</strong> Euler representada por segmento intersectando<br />

uma mediana, uma altura e uma mediatriz, para P = ( 1<br />

5 ,2)<br />

À medida que formos <strong>de</strong>monstrando esse fato iremos relembrando os conceitos<br />

envolvidos. A <strong>de</strong>mosntração dará as coor<strong>de</strong>nadas explícitas dos pontos e a equação<br />

explícita da reta <strong>de</strong> Euler.<br />

Demonstração.<br />

Não per<strong>de</strong>mos muita generalida<strong>de</strong> se supusermos que o triângulo tem vértices:<br />

(0,0), (1,0) e (A,B), B = 0,<br />

pois isso se obtém escolhendo um sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas cartesiano a<strong>de</strong>quado.<br />

Os lados do triângulo fazem parte <strong>de</strong> três retas, das quais obviamente a primeira<br />

é<br />

l1 : y = 0.<br />

1<br />

1


CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 93<br />

A reta l2 é a que contém (0,0) e (A,B), cuja equação é:<br />

ou a reta vertical:<br />

l2 : y = B<br />

·x, se A = 0,<br />

A<br />

l2 : x = 0, se A = 0.<br />

E a terceira é a que contem (1,0) e (A,B), cuja equação é:<br />

ou a reta vertical<br />

l3 : y = B B<br />

·x− , se A = 1<br />

A−1 A−1<br />

l3 : x = 1, se A = 1.<br />

Os pontos médios <strong>de</strong> cada lado do triângulo são:<br />

( 1<br />

,0), (A+1 ,<br />

2 2<br />

B B<br />

) e (A,<br />

2 2 2 ).<br />

Consi<strong>de</strong>ro agora as três medianas : retas ligando vértices a pontos médios dos<br />

lados opostos.<br />

) é<br />

A reta que liga (0,0) a ( A+1<br />

2<br />

ou a reta vertical<br />

m1 : y =<br />

A reta que liga (1,0) a ( A<br />

2<br />

ou a reta vertical<br />

, B<br />

2<br />

B<br />

2<br />

A+1<br />

2<br />

·x = B<br />

·x, se A = −1,<br />

A+1<br />

m1 : x = 0, se A = −1.<br />

B , ) é 2<br />

A reta que liga (A,B) a ( 1,0)<br />

é: 2<br />

m2 : y = B B<br />

·x− , se A = 2,<br />

A−2 A−2<br />

m2 : x = 1, se A = 2.<br />

m3 : y = 2B B 1<br />

x− , se A =<br />

2A−1 2A−1 2<br />

ou a reta vertical:<br />

m3 : x = 1 1<br />

, se A =<br />

2 2 .<br />

Supondo por um instante que estamos no caso geral, em que A = −1,2, a intersecção<br />

m1 ∩m2 se obtem facilmente, resolvendo:<br />

B B B<br />

x = ·x−<br />

A+1 A−2 A−2<br />

que dá (usando B = 0):<br />

x = A+1<br />

3<br />

e portanto é<br />

B := ( A+1<br />

,<br />

3<br />

B<br />

3 ).


4. A EQUAÇÃO DA RETA DE EULER 94<br />

Agora tratemos dos casos particulares que faltaram.<br />

Se A = −1, então m1 ∩m2 consiste na intersecção <strong>de</strong> x = 0 e y = − B B<br />

x+ . Ou 3 3<br />

seja é o ponto<br />

(0, B<br />

3 ),<br />

que coinci<strong>de</strong> com o B.<br />

Se A = 2, então m1 ∩m2 é dada por y = B x intersectada com x = 1, que dá o<br />

3<br />

ponto:<br />

(1, B<br />

3 ),<br />

que coinci<strong>de</strong> também com o B.<br />

Agora Afirmo que<br />

B ∈ m3.<br />

então o fato ques eja verda<strong>de</strong><br />

Se A = 1<br />

2<br />

diz que B ∈ m3.<br />

Se A = 1<br />

( 2B<br />

2A−1 )·(A+1 )−<br />

3<br />

B<br />

2A−1<br />

2 , então m3 é dada por x = 1<br />

2<br />

= B<br />

3<br />

, que obviamente passa por<br />

1<br />

2 B = (<br />

+1<br />

,<br />

3<br />

B B<br />

) = (1,<br />

3 2 3 ).<br />

Esse ponto B, que em todos os casos possíveis é<br />

B = m1 ∩m2 ∩m3<br />

é chamado Baricentro.<br />

Consi<strong>de</strong>ro agora as três mediatrizes: retas saindo <strong>de</strong> cada ponto médio em ângulo<br />

reto com o lado.<br />

,0) é fácil, é a reta:<br />

A mediatriz pelo ponto médio ( 1<br />

2<br />

md1 : x = 1<br />

2 .<br />

O lado que contém o ponto médio ( A B , 2<br />

se A = 0, ou a reta vertical x = 0 se A = 0.<br />

Portanto mediatriz md2 pelo ponto médio ( A<br />

2<br />

2 ) está na reta l2 e essa reta ou é y = B<br />

md2 : y = B<br />

, se A = 0,<br />

2<br />

B , ) ou é horizontal<br />

2<br />

ou a reta:<br />

md2 : y = − A<br />

B ·x+(B<br />

A2<br />

+ ), se A = 0,<br />

2 2B<br />

(lembre que nunca B = 0).<br />

Então md1 ∩md2 é o ponto:<br />

C : ( 1 B<br />

, ), se A = 0<br />

2 2<br />

ou<br />

C : ( 1 A·(A−1)<br />

, +<br />

2 2B<br />

B<br />

), se A = 0.<br />

2<br />

A x,


CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 95<br />

Afirmo agora que em qualquer caso:<br />

C ∈ md3<br />

on<strong>de</strong> md3 é a mediatriz do lado contendo om ponto médio ( A+1<br />

2<br />

De fato, o lado está contido em l3, cujas equações são:<br />

ou a reta vertical<br />

ou<br />

Portanto ou md3 é y = B<br />

2<br />

l3 : y = B B<br />

·x− , se A = 1<br />

A−1 A−1<br />

l3 : x = 1, se A = 1.<br />

, B<br />

2 ).<br />

no caso A = 1 e claramente passa por<br />

C : ( 1 B<br />

,<br />

2 2 ),<br />

md3 : y = − A−1 B<br />

·x+<br />

B 2 + A2 −1<br />

, se A = 1,<br />

2B<br />

que passa também por<br />

C = ( 1 A·(A−1)<br />

, +<br />

2 2B<br />

B<br />

2 ),<br />

como se vê em seguida.<br />

Esse ponto C que verifica:<br />

C = md1 ∩md2 ∩md3<br />

é chamado Circuncentro (o Exercício 8.7 ajudará a justificar essa nomenclatura).<br />

Já po<strong>de</strong>mos nos perguntar o que acontece se<br />

Isso ocorre quando:<br />

A+1<br />

3<br />

= 1<br />

2<br />

e B<br />

3<br />

B = C.<br />

= A·(A−1)<br />

2B<br />

A primneira dá A = 1,<br />

que posta na segunda dá:<br />

2<br />

B 2 = 3<br />

4 ,<br />

ou seja B = √ 3<br />

2 ou B = −√ 3<br />

2 .<br />

Esse triângulocom (A,B) = ( 1<br />

2 , √ 3<br />

2<br />

+ B<br />

2 .<br />

)ou(A,B) = (1<br />

2 ,−√ 3<br />

2 )ecomosoutrosvértices<br />

em (0,0) e (1,0) é equilátero.<br />

Agora consi<strong>de</strong>remos as três alturas: retas que saem <strong>de</strong> vértices e são ortogonais<br />

ao lado oposto.<br />

Como veremos no Exercício 8.6, se<br />

P = (x,y) ∈ r,<br />

a reta PQ intersecta ortogonalmente r : y = ax+b em Q ∈ r com coor<strong>de</strong>nadas<br />

Q = (x,b) se a = 0


4. A EQUAÇÃO DA RETA DE EULER 96<br />

ou coor<strong>de</strong>nadas<br />

Q = ( x−a(b−y)<br />

a 2 +1<br />

, a·( x−a(b−y)<br />

a 2 +1<br />

)+b), se a = 0.<br />

A altura que sai <strong>de</strong> (A,B) e vai ortogonal até o lado l1 : y = 0 é portanto:<br />

A altura que sai <strong>de</strong> (0,0) é:<br />

pois nesse caso l3 : x = 1. Ou<br />

pois no caso geral<br />

ou<br />

h1 : x = A.<br />

h3 : y = 0, se A = 1,<br />

h3 = − A−1<br />

B<br />

l3 : y = B<br />

A−1<br />

A intersecção h1 ∩h3 é portanto:<br />

Em qualquer caso,<br />

Afirmo que<br />

·x, se A = 1,<br />

·x− B<br />

A−1 .<br />

(1,0), se A = 1<br />

(A,− A·(A−1)<br />

), se A = 1.<br />

B<br />

H = (A,− A·(A−1)<br />

B<br />

H ∈ h2,<br />

) = h1 ∩h2.<br />

on<strong>de</strong> h2 é a altura que sai <strong>de</strong> (1,0) e chega ortogonal a l2.<br />

Se l2 : x = 0 (quando A = 0) então<br />

h2 : y = 0<br />

obviamente passa por H. E se l2 : y = B ·x (no caso A = 0) então:<br />

A<br />

h2 : y = − A<br />

B<br />

·x+ A<br />

B .<br />

Nesse caso também H ∈ h2.<br />

Esse ponto <strong>de</strong> encontro das três alturas é o Ortocentro.<br />

Quando H = B ?<br />

Quando<br />

A = A+1<br />

e<br />

3<br />

B<br />

= −A(A−1) .<br />

3 B<br />

Que é exatamente quando:<br />

A = 1<br />

e B<br />

2<br />

2 = 3<br />

4 ,<br />

que diz que se trata <strong>de</strong> triângulo equilátero, como já vimos.


CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 97<br />

Falta vermos também quando o Ortocentro coinci<strong>de</strong> com o circuncentro. Isso se<br />

dá quando<br />

que também dão<br />

A = 1<br />

2<br />

e − A(A−1)<br />

B<br />

= A·(A−1)<br />

2B<br />

+ B<br />

2 ,<br />

A = 1<br />

e B<br />

2<br />

2 = 3<br />

4 ,<br />

formando triângulos equiláteros.<br />

Agora, supondo que nosso triângulo não seja equilátero, só nos resta encontrar a<br />

equação da reta ligando B a C e conferir que ela passa pelo H.<br />

A reta por B e C é ou bem a reta vertical<br />

x = 1 1<br />

, se A =<br />

2 2 ,<br />

quando o triângulo é isósceles, ou bem se A = 1<br />

2 :<br />

y = − B2 +3A 2 −3A<br />

B(2A−1)<br />

Esta é a reta <strong>de</strong> Euler !<br />

Só falta agora verificarmos as distâncias.<br />

Os quadrados das distâncias são:<br />

ou seja<br />

Enquanto que<br />

como queríamos.<br />

·x+ A(B2 +A2 −1)<br />

.<br />

B(2A−1)<br />

HB 2 := ( 2 1<br />

A−<br />

3 3 )2 +( A(A−1)<br />

+<br />

B<br />

1<br />

3 B)2 =<br />

= 10A2 B 2 −10AB 2 +B 2 +9A 4 −18A 3 +9A 2 +B 4<br />

9B 2<br />

BC 2 := ( 1 1<br />

A−<br />

3 6 )2 +( A(A−1)<br />

+<br />

2B<br />

1<br />

6 B)2 =<br />

= 10A2B2 −10AB 2 +B2 +9A4 −18A3 +9A2 +B4 36B2 .<br />

HB 2 = 4·BC 2 ,<br />

Observação 1:<br />

Observe que temos a equação explícita e portanto po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>terminar casos on<strong>de</strong><br />

a reta <strong>de</strong> Euler é horizontal. Que ocorrem para pontos da forma<br />

P = (A,± 3A(1−A)).<br />

.


4. A EQUAÇÃO DA RETA DE EULER 98<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

0,2<br />

0,4<br />

Figura: A reta <strong>de</strong> Euler é horizontal para pontos da forma P = ( 2<br />

3 , √ 6<br />

3 ).<br />

Observação 2:<br />

Énaturaltermoscuriosida<strong>de</strong>porqualseria ográficodafunçãoz = z(A,B), B = 0<br />

dada por<br />

z = 10A 2 B 2 −10AB 2 +B 2 +9A 4 −18A 3 +9A 2 +B 4 ,<br />

pois vimos z = 0 está associado a um ponto muito especial no plano formado pelos<br />

parâmetros (A,B): o ponto<br />

( 1<br />

2 ,<br />

√<br />

3<br />

) ∼ (0.5,0.8).<br />

2<br />

AFiguraaseguir mostra umaparte<strong>de</strong>ssa superfície, comA ∈ [0,1]eB ∈ [0.1,1.3]<br />

(na figura o eixo x é o dos A e o eixo y é o dos B).<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0,6<br />

0,8<br />

0<br />

1<br />

1,2<br />

1<br />

0,8<br />

y 0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4 x<br />

0,2<br />

1


CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 99<br />

Mas não se vê muita coisa. Já as próximas duas Figuras são perfis da superfície,<br />

e elas sim ilustram bem que um ponto próximo <strong>de</strong> (0.5,0.8) é o mínimo <strong>de</strong>ssa função<br />

z = z(A,B) (na figura o eixo x é o dos A e o eixo y é o dos B).<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

1<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

1,2<br />

0,8<br />

1<br />

0,6<br />

0,8<br />

x<br />

y<br />

0,4<br />

0,6<br />

0,2<br />

0,4<br />

0,2<br />

00,2<br />

0,4 0,6 0,8 1,2<br />

y<br />

10,8 0,6 0,4 0,2 0 x<br />

5. A inversa como reflexão <strong>de</strong> gráfico na diagonal<br />

Imagine uma função f : I → J, y = f(x) que admita uma função inversa f −1 :<br />

J → I, x = f −1 (y).<br />

Vamos supor agora que temos ambos os gráficos, <strong>de</strong> f e <strong>de</strong> f −1 , no mesmo sistema<br />

<strong>de</strong>coor<strong>de</strong>nadas(x,y), ouseja, porummomento pensemos emg = f −1 tomadacomas


6. O MÉTODO DE DESCARTES PARA AS TANGENTES A UM GRÁFICO 100<br />

mesmas abcissas e oor<strong>de</strong>nadas que a f, ou seja, vamos ver ao mesmo tempo y = f(x)<br />

e y = g(x).<br />

Agora ligamos com uma reta r o ponto (A,B) := (x,f(x)) do gráfico <strong>de</strong> y = f(x)<br />

com o ponto (B,A) do gráfico <strong>de</strong> y = g(x). Então o coeficiente angular <strong>de</strong>ssa reta é:<br />

a := A−B<br />

= −1.<br />

B −A<br />

Ou seja que a reta r que os liga tem a mesma inclinação da anti-diagonal, a = −1,<br />

ou seja, r é ortogonal à diagonal y = x. A equação <strong>de</strong>ssa r é pelo que vimos na<br />

Afirmação 1.3:<br />

r : y = −x+(A+B).<br />

E r corta a diagonal y = x no ponto cuja abcissa satisfaz:<br />

x = −x+(A+B),<br />

ou seja x = A+B,<br />

ou seja, no ponto com coor<strong>de</strong>nadas ( 2 A+B,<br />

2 A+B<br />

2<br />

são equidistantes <strong>de</strong> ( A+B<br />

2 , A+B<br />

2 ).<br />

). E (A,B) e (B,A)<br />

Concluímos que a diagonal y = x funciona como um espelho para os gráficos <strong>de</strong><br />

y = f(x) e y = g(x):<br />

O gráfico da f −1 referido ao mesmo sistema (x,y) é um reflexão na diagonal do<br />

gráfico da y = f(x)<br />

y= f^{−1}(x)<br />

(B,A)<br />

r<br />

y= f(x)<br />

y=x<br />

(A,B)<br />

Figura: Os gráficos <strong>de</strong> f e f −1 no mesmo sistema cartesiano<br />

6. O método <strong>de</strong> Descartes para as tangentes a um gráfico<br />

Como a Geometria analítica foi um criação <strong>de</strong> René Descartes, nada mais justo<br />

que indicarmos um bonito método criado por ele 1<br />

Pelo menos no meu caso, durante meu tempo <strong>de</strong> ensino Médio, só me lembro da<br />

palavra reta tangente ser usada para referir a reta tangente <strong>de</strong> um círculo.<br />

Nesse caso, para um círculo C <strong>de</strong> raio r e centro O, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como a reta<br />

t pelo ponto P que é ortogonal ao raio do Círculo.<br />

Em geral uma reta por um ponto P <strong>de</strong> C o intersecta noutro ponto, mas a reta<br />

tangente taP não po<strong>de</strong>intersectar C noutro ponto P ′ : se porabsurdo t∩C = {P,P ′ }<br />

1 Me baseei mais no livro <strong>de</strong> Edwards, mas o leitor po<strong>de</strong> comparar com o que está nas páginas<br />

95-113 <strong>de</strong> The geometry of René Descartes, Dover.


CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 101<br />

então no triângulo ∆OPP ′ a hipotenusa OP ′ mediria o mesmo que o cateto OP,<br />

absurdo.<br />

Descartes se perguntou pelo significado da reta ortogonal a um gráfico qualquer,<br />

pois isso está ligado a questões <strong>de</strong> Óptica, <strong>de</strong> reflexão da luz em lentes, que lhe<br />

interessavam.<br />

Respon<strong>de</strong>r a essa questão dá a chave também para o significado da reta tangente<br />

a um gráfico qualquer (pois uma é ortogonal à outra).<br />

De fato não vamos lidar coma questão assim tão geral: suponhamos gráficos <strong>de</strong><br />

polinômios y = f(x).<br />

Ele pensou em usar o que sabia <strong>de</strong> círculos para atacar o caso geral <strong>de</strong> gráficos.<br />

Para isso, consi<strong>de</strong>rou um ponto P = (x,f(x)) do gráfico e consi<strong>de</strong>rou Círculo com<br />

centro (c,0) no eixo dos x, <strong>de</strong> raios r que passem por P = (x,f(x)).<br />

Ou seja, escolhidos c,r teremos que x é raíz <strong>de</strong>:<br />

(f(x)−0) 2 +(x−c) 2 −r 2 = 0.<br />

Em geral, se c é escolhido <strong>de</strong> qualquer jeito, po<strong>de</strong> haver outra raíz x ′ <strong>de</strong>ssa equação,<br />

pois o círculo<br />

y 2 +(x−c) 2 −r 2 = 0<br />

po<strong>de</strong> cortar o gráfico <strong>de</strong> y = f(x) em mais <strong>de</strong> um ponto.<br />

problema: Como escolher c para que x seja raíz dupla <strong>de</strong>:<br />

(f(x)−0) 2 +(x−c) 2 −r 2 = 0,<br />

ou seja, para que uma segunda raíz x ′ colida com x ?<br />

Se conseguíssemos resolver esse Problema estaríamoscolocando oCírculo <strong>de</strong>modo<br />

a tocar, tangenciar o gráfico em P.<br />

Ora, como sabemos qual a tangente ao Círculo usaríamos essa reta como tangente<br />

ao gráfico !<br />

Melhor do que explicar o método em abstrato será fazermos dois Exemplos.<br />

Exemplo 6.1. Consi<strong>de</strong>r y = Cx 2 uma parábola e tome P = (x,Cx 2 ), com x > 0.<br />

Comos os Círculos com centro (c,0) tem equação:<br />

queremos encontrar uma raíz dupla x <strong>de</strong>:<br />

y 2 +(x−c) 2 = r 2 ,<br />

(Cx 2 ) 2 +(x−c) 2 −r 2 = 0,<br />

ou seja queremos encontrar uma fatoração:<br />

(Cx 2 ) 2 +(x−c) 2 −r 2 = (x−x) 2 q(x)<br />

on<strong>de</strong> q(x) é um polinômio <strong>de</strong> grau 2.<br />

Ou seja queremos encontrar uma fatoração do tipo:<br />

(Cx 2 ) 2 +(x−c) 2 −r 2 = (x−x) 2 ·(a2x 2 +a1x+a0).


6. O MÉTODO DE DESCARTES PARA AS TANGENTES A UM GRÁFICO 102<br />

Expandindo ambos os lados, formam-se dois polinômios <strong>de</strong> grau 4 em x, à esquerda e<br />

à direita. Igualando os coeficientes do monômios x 4 à esquerda e à direita fazaparecer<br />

C 2 −a2 = 0 ⇔ a2 = C 2 .<br />

Igualando os coeficientes <strong>de</strong> x 3 à esquerda e à direita faz aparecer:<br />

ou seja<br />

−a1 +2xa2 = 0<br />

−a1+2x(C 2 ) = 0 ⇔ a1 = 2xC 2 .<br />

Igualando os coeficientes <strong>de</strong> x 2 à esquerda e à direita faz aparecer:<br />

ou seja<br />

1+2xa1 −a0 −x 2 a2 = 0,<br />

1+2x(2xC 2 )−a0 −x 2 C 2 = 0 ⇔ a0 = 1+3x 2 C 2 .<br />

Por último, igualando os coeficientes <strong>de</strong> x à esquerda e à direita faz aparecer:<br />

ou seja,<br />

−2c+2xa0 −x 2 a1 = 0<br />

−2c+2x(1+3x 2 C 2 )−x 2 (2xC 2 ) = 0 ⇔ c = x+2x 3 C 2 .<br />

Logo o Círculo cujo centro é o ponto<br />

O = (c,0) = (x+2x 3 C 2 ,0)<br />

e que passa por P = (x,Cx 2 ) tangencia o gráfico <strong>de</strong> y = Cx 2 nesse ponto P.<br />

4<br />

3<br />

2<br />

y<br />

1<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

1 2<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = x 2 e o círculo tangente em P = (1,1), <strong>de</strong> centro (3,0).<br />

O coeficiente angular da reta ligando O a P é:<br />

− f(x)<br />

c−x<br />

= −<br />

3<br />

Cx 2<br />

4<br />

x+2x 3 C 2 −x<br />

5<br />

= − 1<br />

2xC .


CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 103<br />

Ora, para passarmos ro raio do círculo para a tangente basta tomar a reta ortogonal.<br />

E o coeficiente angular ortogonal ao anterior − 1<br />

2xC é:<br />

2Cx.<br />

Logo a reta tangente ao gráfico em P vem dada por:<br />

y −Cx 2<br />

x−x = 2Cx ⇔ y = (2Cx)x+(Cx2 −2Cx 2 ).<br />

Exemplo 6.2. Consi<strong>de</strong>re y = Cx 3 e tome P = (x,Cx 2 ), com x > 0. Queremos uma<br />

raíz dupla <strong>de</strong>:<br />

(Cx 3 ) 2 +(x−c) 2 −r 2 = 0,<br />

ou seja queremos encontrar uma fatoração:<br />

(Cx 3 ) 2 +(x−c) 2 −r 2 = (x−x) 2 q(x)<br />

on<strong>de</strong> q(x) agora é um polinômio <strong>de</strong> grau 4.<br />

Ou seja queremos encontrar uma fatoração do tipo:<br />

(Cx 3 ) 2 +(x−c) 2 −r 2 = (x−x) 2 ·(a4x 4 +a3x 3 +a2x 2 +a1x+a0).<br />

Expandindo ambos os lados, formam-se dois polinômios <strong>de</strong> grau 6, à esquerda e à<br />

direita. Comparando como fizemos antes os coeficientes <strong>de</strong> cada monômio, fazemos<br />

surgir equações, que vão sendo resolvidas uma a uma, produzindo nesta or<strong>de</strong>m:<br />

a4 = C 2 , a3 = 2xC 2 , a2 = 3x 2 C 2 ,<br />

a1 = 4x 3 C 2 , a0 = 1+5x 4 C 2 , c = x+3x 5 C 2 .<br />

Logo o Círculo cujo centro é o ponto<br />

O = (c,0) = (x+3x 5 C 2 ,0)<br />

e que passa por P = (x,Cx 3 ) tangencia o gráfico <strong>de</strong> y = Cx 3 nesse ponto P.<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

y<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

1<br />

2<br />

3<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = x 3 e o círculo tangente em P = (1,1), <strong>de</strong> centro (4,0).<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7


8. EXERCÍCIOS 104<br />

O coeficiente angular da reta ligando O a P é:<br />

− f(x)<br />

c−x<br />

= −<br />

Cx 3<br />

x+3x 5 C 2 −x<br />

O coeficiente angular da reta ortogonal a esta é<br />

3x 2 C<br />

= − 1<br />

3x 2 C ,<br />

e daí se obtém em seguida a equação toda da reta tangente ao gráfico.<br />

7. Um problema da Putnam Competition, n. 2, 1939<br />

Só com o material <strong>de</strong>senvolvido até este Capítulo já se po<strong>de</strong> resolver o seguinte<br />

problema:<br />

Problema: Seja P ponto da curva y = x 3 tal que a reta tangente ao gráfico em P<br />

intersecta <strong>de</strong> novo o gráfico num ponto Q = P.<br />

Mostre que a reta tangente ao gráfico em Q tem inclinação igual a 4 vezes a<br />

inclinação em P.<br />

Solução:<br />

Seja P = (a,a 3 ). Então a = 0 pois <strong>de</strong> P = (0,0) a reta tangente é horizontal e<br />

não intersecta o gráfico noutro ponto Q = P.<br />

A reta tangente em P tem equação:<br />

e Q = (x,x 3 ) verifica a equação:<br />

y = 3a 2 ·x−2a 2<br />

x 3 = 3a 2 ·x−2a 2 ⇔ x 3 −3a 2 ·x+2a 2 = 0.<br />

Ora, a é raíz dupla essa equação, já que em P há tangência, logo:<br />

x 3 −3a 2 ·x+2a 2 = (x−a) 2 ·p(x)<br />

on<strong>de</strong> p(x) é <strong>de</strong> grau 1 e facilmente se vê, por divisão, que:<br />

p(x) = x+2a.<br />

Ou seja, o ponto Q tem coor<strong>de</strong>nadas Q = (−2a,−8a 3 ).<br />

A inclinação da reta tangente por Q é:<br />

ou seja, 4 vezes a inclinação em P.<br />

3·(−2a) 2 = 3·(4a 2 ) = 4·(3a 2 ),<br />

8. Exercícios<br />

Exercício 8.1. Qual é o coeficiente angular da reta y = y(x) <strong>de</strong>terminada pela<br />

equação 3y +4x−27 = 0 ?


CAPÍTULO 7. GEOMETRIA ANALÍTICA PLANA 105<br />

Exercício 8.2. i) <strong>de</strong>termine a reta, na forma y = a · x + b, que passa por (1,2) e<br />

(4,13).<br />

ii) <strong>de</strong>termine a reta, na forma y = a·x+b, que passa por (1,2) com coeficiente<br />

angular 5.<br />

Exercício 8.3. (resolvido)<br />

Tentei resolver o sistema <strong>de</strong> equações:<br />

y −5x−2 = 0 e 2y −10x−1 = 0,<br />

e fiz o seguinte: da primeira equação obtive y = 5x+2 e substitui esse y na segunda,<br />

obtendo:<br />

2(5x+2)−10x−1 = 3 = 0,<br />

o que é um absurdo, pois 3 = 0.<br />

Você po<strong>de</strong>ria explicar, com os conceitos <strong>de</strong>ste Capítulo por quê chego nesse absurdo?<br />

Exercício 8.4. Agora tentei resolver os sistemas <strong>de</strong> duas equações:<br />

y −ax+1 = 0 e y −x+2 = 0<br />

(sim são vários sistemas <strong>de</strong> duas equações pois a ∈ R po<strong>de</strong> ser mudado).<br />

Da primeira obtive: y = ax−1 e substituindo na segunda obtive:<br />

(ax−1)−x+2 = x(a−1)+1 = 0.<br />

i) Supondo a−1 = 0 continue a resolução dos sistemas.<br />

ii) explique geometricamente qual o significado da condição a−1 = 0.<br />

Exercício 8.5. Um outro modo se pensar a questão <strong>de</strong> como <strong>de</strong>terminar a reta<br />

y = a · x + b passando por dois pontos P1 = (x1,y1) e P2 = (x2,y2) é resolver o<br />

sistema:<br />

y1 = a·x1 +b e y2 = a·x2 +b,<br />

cujas incógnitas são a,b.<br />

i) qual a condição sobre P1 = (x1,y1) e P2 = (x2,y2) para que o sistema tenha<br />

solução única ? O que diz a chamada Regra <strong>de</strong> Cramer neste caso ?<br />

Agora consi<strong>de</strong>re o problema <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar qual a curva da forma<br />

y 2 = x 3 +b·x+a<br />

passa pelos pontos P1 = (−3,0) e P2 = (4,0).<br />

ii) qual o sistema <strong>de</strong> equações a ser resolvido ? É muito diferente do anterior ?<br />

iii) qual a solução (a,b) ?<br />

Exercício 8.6. (resolvido)<br />

Seja y = ax+b a equação <strong>de</strong> uma reta r e seja P = (A,B) ∈ r.<br />

i) Encontre o ponto Q na reta r tal que o segmento PQ é ortogonal a r em Q.<br />

ii) po<strong>de</strong>acontecer que a coor<strong>de</strong>nada x <strong>de</strong> Qseja A ? Exatamente em que situações<br />

?


8. EXERCÍCIOS 106<br />

Exercício 8.7. Prove que o circuncentro<br />

C = ( 1 A(A−1)<br />

, +<br />

2 2B<br />

B<br />

2 ),<br />

equidista dos três vértices (0,0), (1,0) e (A,B) do triângulo (B = 0).<br />

Conclua que há um círculo centrado em C que passa pelos vértices do triângulo.<br />

Dica: expanda os quadrados e simplifique.<br />

Exercício 8.8. (resolvido)<br />

Veremos en <strong>de</strong>talhe no Capítulo 20 que as equações:<br />

x 2 + y2<br />

= 1<br />

b2 <strong>de</strong>finem elipses com centro na origem.<br />

Determine b2 para que a elipse correspon<strong>de</strong>nte seja tangente à reta y = −x + 5<br />

em algum ponto <strong>de</strong>ssa reta. (Dica: dá para fazer isso no estilo <strong>de</strong> Descartes).<br />

Exercício 8.9. (resolvido)<br />

Dê a função inversa <strong>de</strong> f : R\{0} → R, f(x) = 1<br />

x .<br />

Conclua que essa função tem gráfico simétrico em relação à diagonal.


CAPíTULO 8<br />

A Tangente ao gráfico, segundo o Cálculo<br />

No final do Capítulo anterior vimos que Descartes <strong>de</strong>senvolveu um engenhoso<br />

método algébrico para <strong>de</strong>finir e calcular retas tangentes a gráficos <strong>de</strong> polinômios.<br />

Mas precisamos <strong>de</strong> um método mais geral. Para isso, estudaremos primeiro as<br />

secantes a gráficos e <strong>de</strong>pois, via o conceito <strong>de</strong> limite, <strong>de</strong>finiremos as tangentes a<br />

gráficos.<br />

1. Retas secantes a um gráfico<br />

Será interessante para nós pegarmos dois pontos <strong>de</strong> um mesmo gráfico e calcularmos<br />

a equação da reta que os liga, chamada secante ao gráficos pelos dois pontos.<br />

Estaremos interessados pricipalmente em seu coeficiente angular.<br />

Por exemplo, (x1,f(x 1) e (x2,f(x 2) <strong>de</strong>finem uma reta y = ax+b com coeficiente<br />

angular<br />

a = f(x2)−f(x 1)<br />

,<br />

x2 −x1 e coeficiente linear<br />

b = f(x1)−( f(x2)−f(x 1)<br />

)·x<br />

x2 −x<br />

1.<br />

1<br />

Exemplos:<br />

1)- Tome um x 1 > 0 e fixe no gráfico da função f(x) = |x| o ponto (x 1,x 1). Note<br />

que os x 2 próximos <strong>de</strong> x 1 também são positivos e portanto as secantes <strong>de</strong>terminadas<br />

por (x 1,x 1) e (x 2,x 2) são sempre as mesmas, <strong>de</strong> fato, são todas iguais à diagonal<br />

y = x. Analogamente, se x 1 < 0 as secantes que envolvem o ponto (x 1,−x 1) e outro<br />

do gráfico bem próximo coinci<strong>de</strong>m com a antidiagonal y = −x.<br />

2) - Certamente nenhuma secante ao gráfico <strong>de</strong> y = x 2 coinci<strong>de</strong> com o gráfico;<br />

vemos que aqui as secantes mudam <strong>de</strong> inclinação.<br />

2. A reta tangente a um gráfico<br />

Olhe agora somente o coeficiente angular da secante ao gráfico <strong>de</strong> y = f(x) por<br />

dois <strong>de</strong> seus pontos :<br />

f(x2)−f(x 1)<br />

.<br />

x 2 −x 1<br />

Imagine que (x 1,f(x 1)) fica parado mas que (x 2,f(x 2)) está se movendo, no gráfico<br />

<strong>de</strong> f, indo cada vez mais próximo <strong>de</strong> (x 1,f(x 1)). Se f é contínua, basta supor que a<br />

coor<strong>de</strong>nada x 2 fica próxima <strong>de</strong> x 1 para necessariamente f(x 2) ficar mais próxima <strong>de</strong><br />

f(x 1).<br />

107


2. A RETA TANGENTE A UM GRÁFICO 108<br />

Como x 2 fica próximo <strong>de</strong> x 1 sua diferença<br />

h := x 2 −x 1<br />

tem módulo pequeno. Para <strong>de</strong>ixarmos o ponto (x 1,f(x 1)) em <strong>de</strong>staque, vamos escrever<br />

o coeficiente angular acima como:<br />

ax1 ,h := f(x1 +h)−f(x 1)<br />

, on<strong>de</strong> x1 +h = x<br />

h<br />

2.<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 0,5 1 1,5 2<br />

-1<br />

-2<br />

Figura: Duas secantes pelo ponto (1,1) do gráfico <strong>de</strong> y = x 2<br />

x<br />

A gran<strong>de</strong> questão é:<br />

Será que esses coeficientes angulares ax1 ,h ten<strong>de</strong>m a um valor específico bem <strong>de</strong>-<br />

1 , quando h → 0 (in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do modo como h se faz pequeno)<br />

terminado ax 1<br />

?<br />

É nesse ponto que se vê importância <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rmos falar <strong>de</strong> algo como o h ten<strong>de</strong>r a<br />

zero, sem precisar nunca ser zero: pois simplesmente não po<strong>de</strong>mos dividir por h = 0<br />

e precisamos calcular limh→0 ax 1 ,h.<br />

Atenção ! pois em geral po<strong>de</strong> não existir esse limite, como algo bem <strong>de</strong>finido.<br />

O exemplo mais simples é (que é uma função contínua !):<br />

De fato, se h > 0 e ten<strong>de</strong> a zero, obtenho:<br />

y = f(x) = |x| e x = 0.<br />

lim<br />

h→0<br />

h>0<br />

|0+h|−|0|<br />

h<br />

= lim<br />

h→0<br />

h>0<br />

1 Claro que em geral ax 1 <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do x 1 escolhido<br />

= lim<br />

h→0<br />

h>0<br />

1 = 1,<br />

h<br />

h =


CAPÍTULO 8. A TANGENTE AO GRÁFICO, SEGUNDO O CÁLCULO 109<br />

e no entanto:<br />

lim<br />

h→0<br />

h


3. A RETA TANGENTE AO SENO EM (0,0) É A DIAGONAL 110<br />

Afirmação 3.1. Valem:<br />

e<br />

sin(θ) < θ e θ < tan(θ), para 0 < θ < π/4,<br />

tan(θ) < θ e θ < sin(θ), para −π/4 < θ < 0.<br />

Demonstração.<br />

Seja 0 < θ < π/4.<br />

Consi<strong>de</strong>re três Áreas envolvidas:<br />

• do triângulo △ com vértices em (0,0), (1,0) e em (cos(θ),sin(θ)). Note que<br />

a base <strong>de</strong>le me<strong>de</strong> 1 e que sua altura é o sin(θ). Logo A△(θ) = sin(θ)<br />

. 2<br />

• do Setor circular (fatia do disco) <strong>de</strong> abertura θ do disco <strong>de</strong> raio 1, s(θ). Sua<br />

área 2 é <strong>de</strong>notada As(θ). Temos As(2π) = π e As(θ) = θ<br />

2 .<br />

• do triângulo ∆ com vértices em (0,0), (1,0) e no ponto (1,tan(θ)), que é um<br />

triângulo retângulo em (1,0) Denote sua área por A∆(θ). A base <strong>de</strong>le me<strong>de</strong><br />

1 e que sua altura é tan(θ). Logo A∆(θ) = tan(θ)<br />

2 .<br />

( cos θ,<br />

sen θ)<br />

(0,0)<br />

θ<br />

(1, tan θ)<br />

(1,0)<br />

Figura: Observe que △ ⊂ s(θ) ⊂ ∆<br />

Das inclusões:<br />

△ ⊂ s(θ) ⊂ ∆<br />

obtemos:<br />

A△(θ) < As(θ) < A∆(θ)<br />

ou seja para 0 < θ < π/4:<br />

sin(θ) θ tan(θ)<br />

< < ,<br />

2 2 2<br />

que é o que queremos (se eliminamos o 1/2).<br />

Por outro lado, se −π/4 < θ < 0 (isto é, θ é ângulo no sentido horário),<br />

A△(θ) < As(θ) < A∆(θ)<br />

2 2 O Cálculo po<strong>de</strong> provar que a área <strong>de</strong> um disco <strong>de</strong> raio r é π·r , como o faremos nos Capítulos<br />

sobre Integração. A Área <strong>de</strong> um setor <strong>de</strong> abertura θ (em radianos) no disco <strong>de</strong> raio r é<br />

.<br />

θ<br />

2π ·πr2 θ ·r<br />

=<br />

2


CAPÍTULO 8. A TANGENTE AO GRÁFICO, SEGUNDO O CÁLCULO 111<br />

agora significa (já que para cálculo <strong>de</strong> áreas tomo os módulos <strong>de</strong> números negativos):<br />

−sin(θ)<br />

2<br />

ou seja (multiplicando por −1):<br />

tan(θ)<br />

2<br />

o que queremos (eliminando o 1/2).<br />

< −θ<br />

2<br />

< θ<br />

2<br />

Afirmação 3.2. (Um Limite fundamental)<br />

lim<br />

θ→0<br />

sin(θ)<br />

θ<br />

Demonstração.<br />

Para 0 < θ < π/4, da Afirmação 3.1 temos<br />

e obtenho (multiplicando por cos(θ)<br />

θ<br />

−tan(θ)<br />

< ,<br />

2<br />

< sin(θ)<br />

2<br />

= 1<br />

θ < sin(θ)<br />

cos(θ) ,<br />

> 0):<br />

cos(θ) < sin(θ)<br />

.<br />

θ<br />

Ainda da Afirmação 3.1, para 0 < θ < π/4,:<br />

e obtenho:<br />

Ou seja,<br />

sin(θ) < θ<br />

sin(θ)<br />

θ<br />

cos(θ) < sin(θ)<br />

< 1, se 0 < θ < π/4.<br />

θ<br />

Uso agora o item 6) do Teorema 1.1, combinado com continuida<strong>de</strong> do cosseno, obtendo:<br />

sin(θ)<br />

lim = lim cos(θ) = cos(0) = 1.<br />

θց0 θ θ→0<br />

Por outro lado, quando −π/4 < θ < 0 ainda temos cos(θ) > 0 e pela Afirmação 3.1<br />

tínhamos:<br />

sin(θ)<br />

< θ,<br />

cos(θ)<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> obtenho (multiplicando por cos(θ)<br />

θ<br />

De novo da Afirmação 3.1 para −π<br />

2<br />

< 1.<br />

< 0):<br />

sin(θ)<br />

> cos(θ).<br />

θ<br />

< θ < 0:<br />

θ < sin(θ)


3. A RETA TANGENTE AO SENO EM (0,0) É A DIAGONAL 112<br />

e obtenho (já que θ < 0):<br />

Então como antes obtenho:<br />

lim<br />

θր0<br />

sin(θ)<br />

θ<br />

o que é suficiente para sabermos que<br />

-3 -2<br />

sin(θ)<br />

θ<br />

= lim<br />

θ→0<br />

lim<br />

θ→0<br />

-1<br />

< 1.<br />

cos(θ) = cos(0) = 1,<br />

sin(θ)<br />

θ<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

x<br />

= 1.<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> y = f(x) = sin(θ)<br />

θ para 0 = θ ∈ [−π,π] e f(0) = 0.<br />

Como consequência da Afirmação 3.2 e da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Reta Tangente ao gráfico<br />

do seno em (0,0), a tangente ao gráfico do seno em (0,0) é exatamente a diagonal,<br />

pois os coeficientes angulares <strong>de</strong> secantes por (0,0) são:<br />

e<br />

lim<br />

θ→0<br />

sin(θ)−sin(0)<br />

θ−0<br />

sin(θ)−sin(0)<br />

θ−0<br />

1,5<br />

0,5<br />

0<br />

-1,5<br />

-1 -0,5 0<br />

1<br />

x<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

1<br />

2<br />

= lim<br />

θ→0<br />

0,5<br />

1<br />

3<br />

sin(θ)<br />

θ<br />

1,5<br />

= 1.


CAPÍTULO 8. A TANGENTE AO GRÁFICO, SEGUNDO O CÁLCULO 113<br />

Figura: A diagonal é tangente ao seno em (0,0)<br />

4. Interpretação Física da reta tangente<br />

Uma das fontes do Cálculo é a Física. Os conceitos <strong>de</strong> secantes e tangente a um<br />

gráfico têm uma interpretação física natural.<br />

Se x é pensado como sendo o tempo, po<strong>de</strong>mos pensar em f(x) como a posição<br />

<strong>de</strong> um objeto, <strong>de</strong>terminada em relação a um ponto <strong>de</strong> origem, do qual nos afastamos<br />

para a direita (valores positivos <strong>de</strong> f) ou para a esquerda (valores negativos <strong>de</strong> f).<br />

Então<br />

f(x 2)−f(x 1)<br />

é a distância percorrida no tempo transcorrido x 2 −x 1 e<br />

f(x 2 )−f(x 1 )<br />

x 2 −x 1<br />

é o que se costuma chamar a velocida<strong>de</strong> média.<br />

É o que no dia-a-dia nos perguntam: você vai <strong>de</strong> casa até a faculda<strong>de</strong> em quanto<br />

tempo ? E daí se <strong>de</strong>duz a velocida<strong>de</strong> média do seu trajeto.<br />

Mas também po<strong>de</strong>ria haver interesse <strong>de</strong> alguém nas velocida<strong>de</strong>s marcadas no velocimetro<br />

do seucarro a cada instante, para saber on<strong>de</strong>pegouengarrafamento, seteve<br />

excesso <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> em alguns trechos, etc. O que é essa velocida<strong>de</strong> instantânea<br />

no instante x 1 ? Ora, é o limite:<br />

lim<br />

h→0<br />

f(x1 +h)−f(x 1)<br />

.<br />

h<br />

Ou seja, o coeficiente angular da tangente ao gráfico da função posição f no<br />

instante x 1 dá a velocida<strong>de</strong>s instantânea no momento x 1. Isso é o que marca o<br />

velocímetro do carro.<br />

Essa interpretação que estamos dando dos conceitos que vimos ao caso do movimento<br />

<strong>de</strong> um objeto, nos motiva a falar da aceleração, um conceito que usamos muito<br />

no dia a dia. Falaremos disso na Seção 5 do Capítulo 9.<br />

5. Exercícios<br />

Exercício 5.1. i) Determine os intervalos em que coeficientes angulares das secantes<br />

da função f(−∞,0)∪(0,+∞) → R, f(x) = 1/x são positivos ou negativos.<br />

ii) Diga (ainda <strong>de</strong> modo bem intuitivo) o que acontece com esses coeficientes<br />

angulares <strong>de</strong> secantes quando o ponto fixado x fica próximo <strong>de</strong> zero (separadamente<br />

se x < 0 ou se x > 0) ou com módulo <strong>de</strong> x muito gran<strong>de</strong> (x > 0 ou x < 0).<br />

Exercício 5.2. Calcule as equações y = ax+b das retas tangentes no ponto (1,1)<br />

dos gráficos <strong>de</strong>:<br />

i): y = x 2<br />

ii): y = x 3<br />

iii): y = x 4


5. EXERCÍCIOS 114<br />

Exercício 5.3. Pedi para o programa Maple plotar y = sin(x)<br />

x ∈ [−3,3] e ele repon<strong>de</strong>u:<br />

0,8<br />

0,4<br />

0<br />

-3 -2 -1 0<br />

x<br />

1 2<br />

-0,4<br />

3<br />

x e y = sin2 (x)<br />

x para<br />

Mas essas funções a princípio não estão sequer <strong>de</strong>finidas em x = 0 ! Explique com os<br />

conceitos <strong>de</strong> limite e continuida<strong>de</strong> o que o programa fez.<br />

Exercício 5.4. (resolvido)<br />

Usando que limx→0 sin(x)<br />

x<br />

e<br />

lim<br />

x→0<br />

lim<br />

x→0<br />

= 1 e composições prove que:<br />

sin(k ·x)<br />

x<br />

tan(j ·x)<br />

sin(k ·x)<br />

= k, ∀k ∈ R\{0}.<br />

j<br />

= , ∀k,j ∈ R\{0}.<br />

k


CAPíTULO 9<br />

A <strong>de</strong>rivada<br />

1. Definição, primeiras proprieda<strong>de</strong>s e exemplos simples<br />

A gran<strong>de</strong>za<br />

f(x+h)−f(x)<br />

, h = 0<br />

h<br />

é conhecida como quociente incremental. Ela compara, através do quociente, o incremento<br />

(aumento, variação) dos valores da função com o incremento (aumento,<br />

variação) na entrada da função.<br />

Eéassim quepensamosnodia-a-dia: não émuito informativosedissermos quanto<br />

aumentou o salário <strong>de</strong> alguém, <strong>de</strong> f(x) para f(x+h), se não dissermos quanto tempo<br />

h foi necessário para o reajuste.<br />

Também se dissermos que um carro passa <strong>de</strong> f(x) km/h para f(x+h) km/h e não<br />

dissermos em quanto tempo h o faz, não teremos uma idéia da potência do motor. E<br />

assim por diante, há inúmeros exemplos <strong>de</strong> processos só são <strong>de</strong>scritos corretamente<br />

se usarmos quocientes incrementais.<br />

Definição 1.1. A Derivada da função y = f(x) num ponto x <strong>de</strong> seu domínio é o<br />

limite:<br />

f(x+h)−f(x)<br />

lim .<br />

h→0 h<br />

Denotamos1 esse limite por f ′ (x).<br />

Observações:<br />

• Não estamos dizendo que sempre exista f ′ (x), ao contrário, é uma bela proprieda<strong>de</strong><br />

para uma f ter <strong>de</strong>rivada f ′ (x). Quando dissermos apenasque f tem<br />

Derivada (ou também, é Derivável), estamos dizendo que ela tem Derivada<br />

em cada ponto <strong>de</strong> seu domínio.<br />

• após a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada, po<strong>de</strong>mos re<strong>de</strong>finir a reta tangente ao gráfico<br />

<strong>de</strong> y = f(x) no ponto (x,f(x)) como a reta que passa por esse ponto e tem<br />

coeficiente angular f ′ (x). Essa reta se <strong>de</strong>termina assim: pondo<br />

obtenho:<br />

y −f(x)<br />

x−x = f′ (x)<br />

y = f ′ (x)·x+(f(x)−f ′ (x)x).<br />

1 Essanotaçãolembraa <strong>de</strong>I. Newton, masooutrocriadordoCálculo, G. Leibniz usavaa notação<br />

d f<br />

d x (x), muito usada nos livros <strong>de</strong> Cálculo.<br />

115


1. DEFINIÇÃO, PRIMEIRAS PROPRIEDADES E EXEMPLOS SIMPLES 116<br />

Note o milagre que há numa <strong>de</strong>rivada: o <strong>de</strong>nominador da fração ten<strong>de</strong> a zero e<br />

mesmo assim a fração ten<strong>de</strong> a um número <strong>de</strong>finido. Isso certamente está ligado ao<br />

fato <strong>de</strong> que o numerador ten<strong>de</strong> a zero também, como vemos agora:<br />

Teorema 1.1. Se existe o limite<br />

então:<br />

lim<br />

h→0<br />

• limh→0 (f(x+h)−f(x)) = 0<br />

• limh→0 f(x+h) = f(x).<br />

• f é contínua em x.<br />

f(x+h)−f(x)<br />

,<br />

h<br />

Demonstração.<br />

Prova <strong>de</strong> i):<br />

Fixe um ponto x qualquer do domínio da f. Parto <strong>de</strong> que existe<br />

lim<br />

h→0<br />

f(x+h)−f(x)<br />

.<br />

h<br />

Então adaptando a nossa notação 2 àquela do item 4) do Teorema 1.1, obtenho:<br />

Ou seja,<br />

lim<br />

h→0<br />

f(x+h)−f(x)<br />

( h· ) = 0.<br />

h<br />

lim ( (f(x+h)−f(x)) = 0.<br />

h→0<br />

Prova <strong>de</strong> ii):<br />

Dizer que limh→0 ( (f(x + h) − f(x)) = 0 é exatamente o mesmo que dizer<br />

limh→0 f(x+h) = f(x).<br />

Prova <strong>de</strong> iii): O iem ii) é a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> da f em x. <br />

A recíproca <strong>de</strong>sse Teorema é falsa, como o mostra f(x) = |x| que, apesar <strong>de</strong><br />

contínua em todo seu domínio, não tem <strong>de</strong>rivada no x = 0. De fato, já vimos que:<br />

lim<br />

hր0<br />

|0+h|−|0|<br />

h<br />

= −1, mas lim<br />

hց0<br />

|0+h|−|0|<br />

h<br />

Existem funções contínuas bastante bizarras, sem <strong>de</strong>rivada em nenhum ponto.<br />

Tente imaginar (sem conseguir, é claro !) uma espécie <strong>de</strong> serrote com uma infinida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes, que entre dois <strong>de</strong>ntes tem mais outro e assim por diante. Um exemplo é<br />

construído no livro Calculus, <strong>de</strong> M. Spivak.<br />

= 1.<br />

2 Na notação do Teorema 1.1, x = 0, x = h, uma das funções <strong>de</strong> h é f(x+h)−f(x)<br />

h<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> g(h) = h<br />

e a outra é a


CAPÍTULO 9. A DERIVADA 117<br />

2. Um Árbitro que só avalia as inclinações<br />

Comparando com a Seção 2 do Capítulo 8, concluímos que a Derivada f ′ (x) na<br />

Definição 1.1 é o coeficiente angular da Tangente ao gráfico <strong>de</strong> y = f(x) em (x,f(x)).<br />

Se o valor da Derivada f ′ (x) muda quando me<strong>de</strong> x isso significa que as inclinações<br />

das tangentes variam ao longo do gráfico.<br />

Vamos dar 4 Exemplos dos mais simples.<br />

Imagine uma competição <strong>de</strong> surf em que 4 participantes realizam manobras <strong>de</strong>scritas<br />

por quatro gráficos diferentes: y = f1(x) ≡ 1 (constante), y = f2(x) = x,<br />

y = f3(x) = x2 e y = f4(x) = x3 . Imagine também que um certo Árbitro da competição<br />

tem a tarefa exclusiva <strong>de</strong> só medir e avaliar as inclinações das pranchas em<br />

cada instante x, sem se interessar em medir as alturas atingidas pelos participantes.<br />

Quem controla as alturas quem controla é outro Árbitro (e por sinal, nesses exemplos<br />

tão simples é fácil saber on<strong>de</strong> cada função tem valores positivos, zero ou negativos).<br />

Ou seja, que o Árbitro que só me<strong>de</strong> asinclinações calcula as Derivadas e apresenta<br />

o gráfico <strong>de</strong> cada Derivada. A seguir, o resultado para cada um dos 4 concorrentes:<br />

1): f1(x) = 1:<br />

f ′ 1−1<br />

1 (x) = lim<br />

h→0 h<br />

-1<br />

-0,5<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

x<br />

= lim<br />

h→0<br />

0,5<br />

1<br />

0 = 0.<br />

Figura: y = f1(x) ≡ 1 em vermelho e f ′ 1 (x) ≡ 0 em ver<strong>de</strong>.<br />

2): f2(x) = x:<br />

f ′ (x+h)−x<br />

2 (x) = lim<br />

h→0 h<br />

-1<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-0,5 0 0,5<br />

-1<br />

x<br />

-0,5<br />

= lim<br />

h→0 1 = 1.<br />

Figura: y = f2(x) = x em vermelho e f ′ 2 (x) ≡ 1 em ver<strong>de</strong>.<br />

1


2. UM ÁRBITRO QUE SÓ AVALIA AS INCLINAÇÕES 118<br />

3): Para f3(x) = x2 , f ′ 3 (x) = 2x: já fizemos essa conta na Seção 3 do Capítulo 8,<br />

on<strong>de</strong> vimos a equação da tangente a esse gráfico.<br />

2<br />

1<br />

-1<br />

0<br />

-0,5 0 0,5 1<br />

Figura: y = f3(x) = x2 em vermelho e f ′ 3 (x) = 2x em ver<strong>de</strong>.<br />

4): f4(x) = x3 :<br />

f ′ (x+h)<br />

4 (x) = lim<br />

h→0<br />

3 −x3 h<br />

= lim<br />

h→0<br />

h·(3x 2 +3xh+h 2 )<br />

h<br />

x<br />

-1<br />

-2<br />

= lim<br />

h→0<br />

x 3 +3x 2 h+3xh 2 +h 3 −x 3<br />

== lim<br />

h→0 (3x 2 +3xh+h 2 ) = 3x 2 ,<br />

pois o polinômio em h <strong>de</strong> grau ≤ 2 dado por 3x 2 +3xh+h 2 é uma função contínua !<br />

-1<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-0,5 0 0,5<br />

x<br />

-1<br />

Figura: y = f4(x) = x 3 em vermelho e f ′ 4 (x) = 3x2 em ver<strong>de</strong>.<br />

Para confeccionarmos umgráfico interessante maisadiante, será útil se calculamos<br />

à mão a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong>:<br />

5) f5(x) = x 4 :<br />

f ′ (x+h)<br />

4 (x) = lim<br />

h→0<br />

4 −x3 h<br />

= lim<br />

h→0<br />

= lim<br />

h→0<br />

1<br />

h<br />

x 4 +4x 3 h+6x 2 h 2 +4xh 3 +h 4 −x 4<br />

h·(4x 3 +6x 2 h+4xh 2 + h 3 )<br />

h<br />

= lim<br />

h→0 (4x 3 +6x 2 h+4xh 2 + h 3 ) = 4x 3 ,<br />

h<br />

=<br />

=


CAPÍTULO 9. A DERIVADA 119<br />

pois o polinômio em h <strong>de</strong> grau ≤ 3 dado por 4x 3 +6x 2 h+4xh 2 + h 3 é uma função<br />

contínua !<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-1-0,50<br />

0,51<br />

x<br />

-2<br />

-4<br />

Figura: y = f5(x) = x 4 em vermelho e f ′ 5 (x) = 4x3 em ver<strong>de</strong>.<br />

3. Derivadas da soma e da diferença<br />

A Afirmação a seguir torna bem mais rápido a <strong>de</strong>terminação da <strong>de</strong>rivada :<br />

Afirmação 3.1. Sejam f(x) e g(x) funções <strong>de</strong>riváveis em x. Sejam a,b ∈ R. Então<br />

a função a·f(x)+b·g(x) é <strong>de</strong>rivável em x e sua <strong>de</strong>rivada é:<br />

(a·f(x)+b·g(x)) ′ = a·f ′ (x)+b·g ′ (x).<br />

Demonstração.<br />

Temos pelas <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivadas e proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> limites (Teorema 1.1 do<br />

Capítulo 5 ):<br />

a·f ′ (x)+b·g ′ (x) :=<br />

f(x+h)−f(x) g(x+h)−g(x)<br />

= a· lim +b· lim<br />

h→0 h h→0 h<br />

= lima·<br />

h→0 f(x+h)−f(x)<br />

+ limb·<br />

h h→0 g(x+h)−g(x)<br />

h<br />

= lim<br />

h→0 [a· f(x+h)−f(x)<br />

h<br />

+b· g(x+h)−g(x)<br />

] =<br />

h<br />

a·(f(x+h)−f(x))+b·(g(x+h)−g(x))<br />

= lim<br />

=:<br />

h→0 h<br />

=: (a·f(x)+b·g(x)) ′ .<br />

=<br />

=


4. PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 68, 1993 120<br />

4. Problema da Putnam Competition, n. 68, 1993<br />

Convido o leitor a tentar resolver o problema a seguir sozinho e só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

bastante trabalho individual ler a resposta que eu apresento.<br />

Problema:<br />

Encontre todos os valores <strong>de</strong> α ∈ R para os quais as curvas<br />

Cα : y = α·x 2 +α·x+ 1<br />

e Dα : x = α·y<br />

24<br />

2 +α·y + 1<br />

24<br />

tem algum ponto <strong>de</strong> tangência.<br />

Solução:<br />

Primeiro noto que as possíveis intersecções Cα∩Dα são pontos cujas coor<strong>de</strong>nadas<br />

x satisfazem a equação:<br />

E : x = α·(α·x 2 +α·x+ 1<br />

24 )+α·(α·x2 +α·x+ 1 1<br />

)+<br />

24 24 ,<br />

que é uma equação <strong>de</strong> grau 4 em x.<br />

Portanto não po<strong>de</strong>mos esperar mais <strong>de</strong> 4 raízes (contando alguma com multiplicida<strong>de</strong>).<br />

Também noto que se um ponto P1 := (a,b) ∈ Cα ∩Dα e tem<br />

a = b<br />

então também o outro ponto P2 := (b,a) ∈ Cα ∩Dα.<br />

Esses pontos P1 = P2 estão em lados opostos da diagonal y = x. Por exemplo, se<br />

b > a então é P1 = (a,b) que está acima da diagonal enquanto que P2 = (b,a) está<br />

abaixo da diagonal.<br />

Nesse caso<br />

b = α·a 2 +α·a+ 1<br />

> a<br />

24<br />

e<br />

a = α·b 2 +α·b+ 1<br />

< b.<br />

24<br />

Ou seja que a função contínua<br />

φ(x) := α·x 2 +α·x+ 1<br />

24 −x<br />

<strong>de</strong>finida em[a,b] temφ(a) > 0 eφ(b) < 0. Logopelo Teorema do ValorIntermediário,<br />

existe um ponto ξ ∈ (a,b) com<br />

ψ(ξ) = 0,<br />

ou seja, existe um ponto do plano<br />

P3 := (ξ,α·ξ 2 +α·ξ + 1<br />

24 )<br />

que pertence à diadonal, pois tem<br />

ξ = α·ξ 2 +α·ξ + 1<br />

24<br />

e a<strong>de</strong>mais P3 ∈ Cα ∩Dα. Ora então ξ é raíz <strong>de</strong> E e ξ = a,b: há raízes <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>ssa<br />

equação <strong>de</strong> grau 4, contradição.


CAPÍTULO 9. A DERIVADA 121<br />

Concluo então que só po<strong>de</strong> haver tangência <strong>de</strong>ssas parábolas em algum ponto que<br />

esteja na diagonal y = x.<br />

Então esse ponto P := (x,x) verifica:<br />

x = α·x 2 +α·x+ 1<br />

24<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> ponho α em evidência como:<br />

α =<br />

x− 1<br />

24<br />

x 2 +x .<br />

Mas nesse P = (x,x), on<strong>de</strong> as curvas são tangentes, qual a inclinação possível ?<br />

Como Cα e Dα são simétricas em relação à diagonal, se a inclinação da reta<br />

tangente à Cα em P é τ então a inclinação da reta tangente à Dα em P é 1<br />

. Como τ<br />

há tangência das curvas, τ = 1 o que dá τ = ±1.<br />

τ<br />

Para Cα:<br />

y ′ (x) = 2·α·x+α<br />

logo<br />

±1 = 2·α·x+α<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

1<br />

α = ou α =<br />

2·x+1<br />

−1<br />

2·x+1 .<br />

Portanto temos duas possíveis equações para x:<br />

ou<br />

x− 1<br />

24<br />

x 2 +x =<br />

x− 1<br />

24<br />

1<br />

2·x+1<br />

x2 −1<br />

=<br />

+x 2·x+1 .<br />

Elas produzem duas equações quadráticas em x, que resolvo por Báskara. Uma tem<br />

as soluções<br />

x = 1<br />

ou x =<br />

4<br />

−1<br />

6<br />

e a outra<br />

Usando<br />

x = −23<br />

72 +<br />

√<br />

601<br />

72<br />

ou x = −23<br />

72 −<br />

√<br />

601<br />

72 .<br />

1<br />

α = ou α =<br />

2·x+1<br />

−1<br />

2·x+1<br />

em cada caso obtemos 4 valores possíveis para α:<br />

α1 := 2<br />

3 , α2 = 3<br />

2<br />

ou<br />

−36<br />

α3 =<br />

13+ √ 601 , α4<br />

−36<br />

=<br />

13− √ 601 .<br />

AsFigurasaseguir ilustramasposiçõesdasparábolasCα eDα paraesses 4valores<br />

α1,α2,α3,α4, bem como a reta diagonal:


4. PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 68, 1993 122<br />

-2 -1<br />

-2<br />

-2<br />

-1<br />

-1<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

2<br />

1<br />

x<br />

y 0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

2<br />

1<br />

x<br />

1<br />

1<br />

y 0<br />

0 1<br />

x<br />

-1<br />

-2<br />

2<br />

2<br />

2


CAPÍTULO 9. A DERIVADA 123<br />

-2 -1,5<br />

-1<br />

x<br />

-0,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

-0,5y<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

0,5<br />

5. A segunda <strong>de</strong>rivada<br />

Um exemplo do dia-a-dia: pisando no acelerador do carro vemos o ponteiro do<br />

velocímetro mudar <strong>de</strong> posição, pois aumentamos a velocida<strong>de</strong> instantânea. Enquanto<br />

que, pisando no freio do carro, <strong>de</strong>saceleramos o carro, diminuimos sua velocida<strong>de</strong><br />

instantânea.<br />

Vamos usar o símbolo da <strong>de</strong>rivada<br />

f ′ (x)<br />

para <strong>de</strong>notar a velocida<strong>de</strong> instantânea em cada tempo x. O velocímetro dá uma idéia<br />

<strong>de</strong> quanto vale f ′ (x).<br />

Note que antes tínhamos uma função f(x) que dava a posição em cada instante.<br />

Agora estamos interessados em variar não a posição f(x) em cada instante, mas sim<br />

a velocida<strong>de</strong> f ′ (x) em cada instante.<br />

Então po<strong>de</strong>mos perguntar agora quanto f ′ (x) variou num tempo <strong>de</strong>terminado, ou<br />

seja po<strong>de</strong>mos falar da aceleração média:<br />

f ′ (x2)−f ′ (x1) .<br />

x2 −x1 Exemplo <strong>de</strong>ssa gran<strong>de</strong>za no dia-a-dia: nas revistas especializadas em carros sempre<br />

falam do carro que passa <strong>de</strong> zero a 100 km/h em tantos segundos.<br />

Agora passando ao limite:<br />

f<br />

lim<br />

h→0<br />

′ (x1 +h)−f ′ (x1) .<br />

h<br />

obtemos a aceleração instantânea no instante x1 . Um símbolo para ela é:<br />

e em geral, em cada instante x:<br />

f ′′ (x 1) := (f ′ ) ′ (x 1)<br />

f ′′ (x) := (f ′ ) ′ (x)<br />

Infelizmente nos carros <strong>de</strong> passeio normais não temos uma aparelho que meça isso,<br />

um acelerômetro, para nos dizer qual a aceleração instantânea. Porém num escândalo<br />

recente na Fórmula 1 se soube que se registra também os valores <strong>de</strong> aceleração em<br />

1


6. EXERCÍCIOS 124<br />

cada instante dos carros <strong>de</strong> corrida. Na Seção 2 do Capítulo 10 daremos um Exemplo<br />

em que a aceleração/velocida<strong>de</strong>/posição <strong>de</strong> um carro contradiz o senso comum.<br />

Na Física <strong>de</strong> Newton a aceleração instantânea f ′′ (x) := (f ′ ) ′ (x) joga um papel<br />

primordial, pois ela (multiplicada pela massa) é a resultante <strong>de</strong> todas as forças que<br />

agem sobre um corpo.<br />

O que ele <strong>de</strong>scobriu foi como, matematicamente, passar da aceleração instantânea<br />

(f ′ ) ′ (x) para a velocida<strong>de</strong> instantânea f ′ (x) e dai finalmente para a posição f(x) do<br />

objeto em cada instante <strong>de</strong> tempo.<br />

Começou postulando um formato para a aceleração resultante da força <strong>de</strong> atração<br />

gravitacional do sol sobre os planetas, e chegou, matematicamente, no formato exato<br />

das órbitas dos planetas (elipses,cônicas) (ou seja na f(x) ) e em suas velocida<strong>de</strong>s<br />

f ′ (x) (a lei <strong>de</strong> Kepler). Com isso transformou a astronomia em ciência.<br />

No Capítulo 39 enten<strong>de</strong>remos o método que ele usou.<br />

6. Exercícios<br />

Exercício 6.1. Qual o gráfico <strong>de</strong> f(x) = |x+1|?<br />

On<strong>de</strong> é contínua e on<strong>de</strong> não tem <strong>de</strong>rivada ?<br />

Exercício 6.2. Consi<strong>de</strong>r as funções <strong>de</strong>finidas por:<br />

f(x) = x 2 +x+2, se x < 1,<br />

f(x) = −x 2 +b·x+c, se x ≥ 1.<br />

Ajuste os parâmetros b,c para que f seja contínua e <strong>de</strong>rivável em x = 1.<br />

Dica: impondo a continuida<strong>de</strong> se produz uma relação entre c = c(b). E o valor <strong>de</strong><br />

b sai <strong>de</strong> impôr-se a <strong>de</strong>rivabilida<strong>de</strong>.<br />

Exercício 6.3. Usando apenas a <strong>de</strong>finição, <strong>de</strong>rive (on<strong>de</strong> C é uma constante ):<br />

i) y ≡ C<br />

ii) y = C ·x,<br />

iii) y = C ·x 2<br />

iv) y = C ·x 3 ,<br />

v) y = (x−C) 2<br />

vi) y = (x−C) 3<br />

Interprete geometricamente seus resultados, ou seja, explique que relações os<br />

gráficos têm entre si.<br />

Exercício 6.4. A Figura a seguir mostra uma parte do gráfico <strong>de</strong> y = f(x) = x<br />

|x|+1<br />

(vermelho) (estudada na Seção 4 do Capítulo 5) e parte do gráfico <strong>de</strong> y = x (ver<strong>de</strong>).<br />

-1<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-0,5 0<br />

0,5<br />

-1<br />

x<br />

-0,5<br />

1


CAPÍTULO 9. A DERIVADA 125<br />

e<br />

Ela sugere que f ′ (0) = 1. Prove isso mostrando separadamente que:<br />

lim<br />

hց0<br />

lim<br />

hր0<br />

( h<br />

h+1 )<br />

h<br />

= 1<br />

h ( −h+1 )<br />

= 1<br />

h<br />

Exercício 6.5. Para fazer este Exercício, lembre que x = √ y é inversa <strong>de</strong> f : R >0 →<br />

R >0 , y = f(x) = x 2 e que, pela Afirmação 3.1, x = √ y é uma função contínua.<br />

i) Sem calcular a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> f : R >0 → R >0 , f(x) = √ x, o que po<strong>de</strong>mos prever<br />

que aconteça com a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> √ x quando x > 0 ten<strong>de</strong> a zero?<br />

ii) Usando apenas a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada, calcule a <strong>de</strong>rivada da função f : R >0 →<br />

R >0 , f(x) = √ x (Dica: quando ficar complicado lidar com a raíz quadrada, lembre<br />

que (a−b)(a+b) = a 2 −b 2 .)<br />

iii) compare a fórmula obtida em ii) com o que previu em i).<br />

Exercício 6.6. (resolvido)<br />

Seja f : R 0 → R, f(x) = 1<br />

x .<br />

i) Sem calcular a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> f o que se po<strong>de</strong> pre-dizer do sinal <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>rivada ?<br />

Em que intervalos é positiva ou negativa ? Po<strong>de</strong> se anular ?<br />

ii) para calcular a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> f via a <strong>de</strong>finição, só é preciso sabe somar e subtrair<br />

duas frações e saber que as funções racionais são contínuas. Calcule-a via <strong>de</strong>finição.<br />

Exercício 6.7. Defino uma função f : R → R condicionalmente por:<br />

f(x) = 3x 2 +2, se x < 1, e f(x) = 3x+b, se x ≥ 1.<br />

i) Escolha o coeficiente linear b para que f : R → R seja uma função contínua em<br />

todos os pontos.<br />

ii) Dá para escolher b <strong>de</strong> modo que f : R → R além <strong>de</strong> contínua também fique<br />

<strong>de</strong>rivável em todos os pontos ? Ou há algum ponto on<strong>de</strong> não haverá <strong>de</strong>rivada ? Por<br />

quê ?<br />

iii) com b escolhidos para f ser contínua, qual o gráfico <strong>de</strong> f ′ (x) ?<br />

Exercício 6.8. (resolvido)<br />

Se existe f ′ (x) então:<br />

f ′ (x) = lim<br />

h→0<br />

f(x+h)−f(x−h)<br />

.<br />

2h<br />

Dê um exemplo simples on<strong>de</strong> existe limh→0 f(x+h)−f(x−h)<br />

2h<br />

sequer contínua em x.<br />

porém on<strong>de</strong> f ′ (x) não é


CAPíTULO 10<br />

Sinal da <strong>de</strong>rivada e crescimento<br />

1. Teoremas <strong>de</strong> Rolle, Lagrange e Cauchy<br />

Tudo que precisamos sobre zeros, crescimento e <strong>de</strong>crescimento <strong>de</strong> funções sai <strong>de</strong><br />

dois Teoremas: <strong>de</strong> Rolle e <strong>de</strong> Lagrange (que <strong>de</strong> fato são equivalentes entre si).<br />

Teorema 1.1. (Teorema <strong>de</strong> Rolle) Seja f : [a,b] → R contínua em [a,b] e <strong>de</strong>rivável<br />

em (a,b). Se f(a) = f(b) então existe algum ponto x ∈ (a,b) tal que f ′ (x) = 0.<br />

Demonstração.<br />

Consi<strong>de</strong>re o mínimo global mf e o máximo global Mf <strong>de</strong> f em [a,b].<br />

Se mf = Mf isso quer dizer que f é constante: então para qualquer ponto <strong>de</strong><br />

(a,b) temos f ′ (x) = 0 e acabou.<br />

Supomos então que mf < Mf.<br />

Vamosnosconvencer agoraquenãoépossível queambososvaloresmf eMf sejam<br />

valores <strong>de</strong> f nos pontos extremo a,b <strong>de</strong> [a,b]. De fato, se por exemplo f(a) = mf,<br />

como por hipótese f(a) = f(b), então f(b) = mf; como Mf > mf então Mf será<br />

atingido por x ∈ (a,b). Vice versa se supomos que f(a) = Mf, concluimos que mf é<br />

atingido em x ∈ (a,b).<br />

Agora vamos mostrar que num x ∈ (a,b) on<strong>de</strong> f(x) = mf ou on<strong>de</strong> f(x) = Mf<br />

temos que ter f ′ (x) = 0.<br />

Por exemplo, suponha x ∈ (a,b) on<strong>de</strong> f(x) = mf e por absurdo, suponha que<br />

f ′ (x) = 0:<br />

Há dois Casos a consi<strong>de</strong>rar:<br />

Caso 1): f ′ (x) < 0.<br />

Já que x vive num intervalo aberto (a,b) existe pela Afirmação 4.2 um intervalo<br />

centrado em x,<br />

(−δ0 +x,x+δ0) ⊂ (a,b)<br />

e por isso po<strong>de</strong>mos tomar 0 < h < δ0 suficientemente pequeno para que x+h ∈ (a,b).<br />

Então pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada, temos:<br />

f(x+h)−f(x)<br />

lim < 0<br />

h→0 h<br />

e nesse limite h po<strong>de</strong> ser tomado positivo ou negativo: tomando h positivo e pequeno<br />

temos:<br />

f(x+h)−f(x)<br />

lim<br />

hց0 h<br />

o que implica que os quocientes incrementais f(x+h)−f(x)<br />

são negativos para h positivo<br />

h<br />

suficientemente pequeno.<br />

127<br />

< 0,


1. TEOREMAS DE ROLLE, LAGRANGE E CAUCHY 128<br />

Mas o <strong>de</strong>nominador é h > 0: logo os numeradores são negativos:<br />

f(x+h)−f(x) < 0,<br />

para 0 < h suficientemente pequeno. Portanto, f(x+h) < f(x) para 0 < h suficientemente<br />

pequeno. Ora, isso contradiz a hipótese <strong>de</strong> que f(x) = mf é mínimo global.<br />

Essa contradição veio <strong>de</strong> supor f ′ (x) < 0 nesse x.<br />

A Figuraaseguir apenasserve para ilustrar a situação absurda obtida, on<strong>de</strong> a reta<br />

em vermelho simboliza a tangente ao gráfico em (x,f(x)) = (x,mf) (em vermelho).<br />

m_f<br />

x x + h ( h >0 )<br />

Figura: Chegamos num absurdo <strong>de</strong>ste tipo supondo f ′ (x) < 0 em x.<br />

Caso 2): f ′ (x) > 0:<br />

Novamente, já que existe um intervalo centrado em x,<br />

(−δ0 +x,x+δ0) ⊂ (a,b),<br />

po<strong>de</strong>mos tomar h < 0 <strong>de</strong> módulo suficientemente pequeno (|h| < δ0) para que x+h ∈<br />

(a,b). Então pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada, temos:<br />

e tomando h < 0 temos<br />

f(x+h)−f(x)<br />

lim > 0<br />

h→0 h<br />

f(x+h)−f(x)<br />

lim<br />

hր0 h<br />

o que implica que os quocientes incrementais f(x+h)−f(x)<br />

são positivos para h < 0 <strong>de</strong><br />

h<br />

módulo suficientemente pequeno.<br />

Mas o <strong>de</strong>nominador é h < 0: logo os numeradores são negativos, ou seja,<br />

f(x+h) < f(x)<br />

para h < 0 <strong>de</strong> módulo suficientemente pequeno. Contradizendo a hipótese <strong>de</strong> que<br />

f(x) = mf é mínimo global. Essa contradição veio <strong>de</strong> supor f ′ (x) > 0 nesse x. Como<br />

antes, ilustramos a situação na Figura que segue 1 :<br />

1 A f não precisa ser crescente nessa região, como parece sugerir a Figura; f precisa apenas valer<br />

menos que f(x). Voltaremos nisso na Seção 4 <strong>de</strong>ste Capítulo<br />

> 0,


CAPÍTULO 10. SINAL DA DERIVADA E CRESCIMENTO 129<br />

m_f<br />

x + h x ( h 0 em x.<br />

Logo concluimos que f ′ (x) = 0.<br />

A prova análoga se f(x) = Mf.<br />

O uso que Rolle fazia <strong>de</strong>sse fato era para localizar zeros (raízes) <strong>de</strong> polinômios<br />

apenas.<br />

Ele pensava assim, sempre que houver duasraízes aebsucessivas <strong>de</strong>umpolinômio<br />

p(x) <strong>de</strong> grau n tem que haver uma raíz do polinômio p ′ (x) situada no intervalo [a,b]<br />

(veremos na Parte 2 que sempre a função Derivada <strong>de</strong> um polinômio é também um<br />

polinômio). Mais ainda, como vimos já em alguns exemplos simples, o grau <strong>de</strong> p ′ (x)<br />

é n−1. Logo po<strong>de</strong> ser mais fácil achar as raízes <strong>de</strong> p ′ (x) que as do polinômio original<br />

p(x). E aí teremos alguma informação sobre a possível localização das raízes a e b <strong>de</strong><br />

p(x).<br />

(obs.: Na Figura a seguir os eixos horizontal e vertical não estão na mesma escala)<br />

-2<br />

-1<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

x<br />

1 2<br />

Figura: Polinômio p(x) com 5 raízes Reais e p ′ (x) com 4 raízes Reais.<br />

Um aplicação interessante do Teorema <strong>de</strong> Rolle e do T.V.I. será dada na Seção 5<br />

do Capítulo 13, para provar a Regra <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> Descartes, que dá uma estimativa<br />

do número <strong>de</strong> raízes Reais <strong>de</strong> um polinômio.


1. TEOREMAS DE ROLLE, LAGRANGE E CAUCHY 130<br />

O Teorema <strong>de</strong> Rolle po<strong>de</strong> ser generalizado:<br />

Teorema 1.2. (Teorema do Valor Médio <strong>de</strong> Lagrange) 2<br />

Seja f : [a,b] → R contínua e <strong>de</strong>rivável em (a,b). Então existe algum x ∈ (a,b)<br />

tal que<br />

f ′ (x) = f(b)−f(a)<br />

b−a<br />

-1<br />

-0,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

x<br />

-0,5<br />

-1<br />

Figura: O gráfico em vermelho ilustra o Teo. <strong>de</strong> Lagrange em dois pontos.<br />

Demonstração.<br />

Seja p(x) a equação da reta passando por (a,f(a)) e (b,f(b)). Consi<strong>de</strong>re uma<br />

nova função, a função diferença f −p dada por (f −p)(x) := f(x)−p(x).<br />

Então f − p é contínua, pelo item 1) do Teorema 1.1. Pela <strong>de</strong>rivada da soma<br />

(Afirmação 3.1 Capítulo 9):<br />

Agora noto que<br />

0,5<br />

(f −p) ′ (x) = f ′ (x)−p ′ (x).<br />

(f −p)(a) = f(a)−p(a) = 0, e (f −p)(b) = f(b)−p(b) = 0,<br />

e portanto estamos em condições <strong>de</strong> aplicar em (f −p) o Teorema <strong>de</strong> Rolle: portanto<br />

existe algum x ∈ (a,b) on<strong>de</strong><br />

ou seja on<strong>de</strong><br />

(f −p) ′ (x) = 0,<br />

f ′ (x) = p ′ (x).<br />

2 Atenção: muitos estudantes confun<strong>de</strong>m o que diz o Teorema <strong>de</strong> Lagrange com o que diz a<br />

<strong>de</strong>finição da Derivada.<br />

1


CAPÍTULO 10. SINAL DA DERIVADA E CRESCIMENTO 131<br />

Por outro lado p(x) = a1·x+a0 já que é um polinômio <strong>de</strong> grau ≤ 1 e sua <strong>de</strong>rivada é<br />

o coeficiente angular da reta: p ′ (x) ≡ a1 e sabemos que<br />

a1 = f(b)−f(a)<br />

.<br />

b−a<br />

Portanto f ′ (x) = f(b)−f(a)<br />

b−a como queríamos.<br />

Mais geral ainda que o T.V. Médio <strong>de</strong> Lagrange é o seguinte:<br />

Teorema 1.3. (Teorema do Valor Médio <strong>de</strong> Cauchy) 3<br />

Sejam f : [a,b] → R e g : [a,b] → R contínuas e <strong>de</strong>riváveis em (a,b). Então existe<br />

algum x ∈ (a,b) tal que<br />

Demonstração.<br />

Se <strong>de</strong>finimos:<br />

f ′ (x)·(g(b)−g(a)) = g ′ (x)·(f(b)−f(a)).<br />

φ(x) := f(x)·(g(b)−g(a))−g(x)·(f(b)−f(a)),<br />

então φ(x) é contínua em [a,b], <strong>de</strong>rivável em (a,b) e tem<br />

φ(a) = f(a)·g(b)−g(a)·f(b) = φ(b).<br />

Por Rolle existe x ∈ (a,b) com:<br />

φ ′ (x) = 0,<br />

ou seja,<br />

f ′ (x)·(g(b)−g(a))−g ′ (x)·(f(b)−f(a)) = 0,<br />

como queríamos. <br />

2. O Teorema 0 das Equações Diferenciais<br />

Para motivar o importante Teorema 2.1, começo <strong>de</strong>screvendo um exemplo.<br />

Imagine um motorista que está dirigindo seu carro do Sul para o Norte numa<br />

rodovia e que vê uma placa indicando que dali a alguns kilômetros há um posto da<br />

polícia rodoviária. Como é usual, ele começa a freiar o carro mas o faz assim: começa<br />

pisando no freio assim que vê a placa e vai gradualmente tirando o pé do freio <strong>de</strong><br />

modo bem cuidadoso, para que bem em frente do posto da polícia esteja acabando<br />

<strong>de</strong> tirar o pé do freio e passe então para o acelerador, começando a acelerar bem<br />

suavemente e <strong>de</strong>pois aumentando a aceleração.<br />

Freiar e acelerar são tipos <strong>de</strong> acelerações. Aceleração negativa ao freiar e positiva<br />

quando pisamos no acelerador. Como explicamos na Seção 4 do Capítulo 8, po<strong>de</strong>mos<br />

representar matematicamente o que o motorista fez com as acelerações através da<br />

função segunda <strong>de</strong>rivada f ′′ (x) (Seção 5 do Capítulo 9), on<strong>de</strong> f ′ (x) é a função que<br />

dá a velocida<strong>de</strong> a cada instante e f(x) a posição do carro a cada instante. A função<br />

3 Note que se g(x) := x, recaímos no Teorema <strong>de</strong> Lagrange


2. O TEOREMA 0 DAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 132<br />

posição será f(x) < 0 ao Sul do posto policial e f(x) > 0 ao Norte do posto e seu<br />

aumento significa ir mais para o Norte.<br />

Quando ele estava pisando no freio, f ′′ (x) < 0, quando pisa no acelerador, f ′′ (x) ><br />

0. On<strong>de</strong> f ′′ (x) < 0, a velocida<strong>de</strong> f ′ (x) estava <strong>de</strong>crescendo, e quando f ′′ (x) > 0 a<br />

função velocida<strong>de</strong> f ′ (x) <strong>de</strong>ve voltar a crescer.<br />

Um exemplo disso seria:<br />

f(x) = x 3 , f ′ (x) = 3x 2 , f ′′ (x) = 6x.<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-2 -1 0<br />

1<br />

2<br />

-5<br />

-10<br />

x<br />

Figura: f vermelho, f ′ ver<strong>de</strong>, f ′′ amarelo, escalas diferentes nos eixos.<br />

O que é interessante neste exemplo é que em frente ao posto da polícia, quando<br />

x = 0, a velocida<strong>de</strong> que aparece no velocímetro é f ′ (0) = 0 e mesmo assim, em<br />

nenhum instante o carro parou, já que f(x) = x 3 é estritamente crecente.<br />

Mas isso contradiz o nosso senso-comum, jáque algoque semove a0km/h<strong>de</strong>veria<br />

estar parado, pelo menos por algum tempo !<br />

Para fazermos as pazes com o senso-comum, temos o seguinte Teorema, on<strong>de</strong><br />

a condição f ′ (x) = 0 se supõe que vale para x em todo um intervalo, mesmo que<br />

pequeno:<br />

Teorema 2.1. Seja f : I → R <strong>de</strong>finida em um intervalo I não-<strong>de</strong>generado. 4<br />

Suponha f ′ (x) ≡ 0. Então f(x) ≡ C (ou seja, f é constante).<br />

Demonstração.<br />

Não temos a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> predizer qual a constante que iremos encontrar. O<br />

que po<strong>de</strong>mos apenas é raciocinar por absurdo: suponha que f não é constante.<br />

Então existem x 1,x 2 ∈ I tais que f(x 1) = f(x 2). Restrinja f ao domínio [x 1,x 2].<br />

Então pelo Teorema do Valor Médio <strong>de</strong> Lagrange aplicado à restrição f : [x 1,x 2] → R<br />

tem que haver um x ∈ (x 1,x 2) tal que:<br />

f ′ (x) = f(x1)−f(x 2)<br />

.<br />

x1 −x2 4 Não-<strong>de</strong>generado significa não se reduzindo a um ponto. Claro que I po<strong>de</strong> ser todo R. Mas<br />

atenção que po<strong>de</strong> a conclusão po<strong>de</strong> ser falsa, se a f tem o domínio composto <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um intervalo<br />

(disjuntos).


CAPÍTULO 10. SINAL DA DERIVADA E CRESCIMENTO 133<br />

Mas f(x 1 )−f(x 2 )<br />

x 1 −x 2<br />

= 0 e isso contradiz a hipótese <strong>de</strong> que f ′ (x) ≡ 0.<br />

E <strong>de</strong>le <strong>de</strong>corre o Teorema a seguir (que chamo <strong>de</strong> 0 por um dos mais básicos):<br />

Teorema 2.2. (O Teorema 0 das Equações Diferenciais) Sejam f : I → R e g :<br />

I → R <strong>de</strong>riváveis, com f ′ (x) = g ′ (x), ∀x ∈ I, on<strong>de</strong> I é um intervalo. Então f(x) ≡<br />

g(x)+C.<br />

Ilustro esse Teorema através da seguinte Figura:<br />

-1 -0,5<br />

12<br />

8<br />

4<br />

0<br />

0<br />

x<br />

Figura: Translações verticais <strong>de</strong> um gráfico e o gráfico da função <strong>de</strong>rivada.<br />

Demonstração.<br />

Como já observamos, ∀x ∈ I, (f − g) ′ = f ′ (x) − g ′ (x). A hipótese dá então<br />

que (f − g) ′ (x) ≡ 0. Logo pelo Teorema 2.1, (f − g)(x) ≡ C (é constante) ; logo<br />

f(x) ≡ g(x)+C.<br />

<br />

3. Critérios <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong> <strong>de</strong>crescimento<br />

Decorrem facilmente <strong>de</strong> Rolle e Lagrange os <strong>de</strong>sejados critérios:<br />

Teorema 3.1. (Critérios <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong> <strong>de</strong>crescimento)<br />

Seja f : I = (a,b) → R <strong>de</strong>rivável.<br />

• i) se ∀x ∈ I, f ′ (x) ≥ 0 então f é crescente em I;<br />

• ii) se ∀x ∈ I, f ′ (x) > 0 então 5 f é estritamente crescente em I.<br />

• iii) se ∀x ∈ I, f ′ (x) ≤ 0 então f é <strong>de</strong>crescente em I;<br />

• iv) se ∀x ∈ I, f ′ (x) < 0 então f é estritamente <strong>de</strong>crescente em I.<br />

5 A recíproca é falsa, como mostra f(x) = x 3<br />

0,5<br />

1


4. UMA CONFUSÃO FREQUENTE SOBRE O SIGNIFICADO DO SINAL DA<br />

DERIVADA 134<br />

Demonstração.<br />

De i): por absurdo suponha que f não é crescente. Significa que existem x 1,x 2 ∈ I<br />

com x 1 < x 2 para os quais:<br />

f(x 1) > f(x 2).<br />

MasentãooTeoremadoValorMédio<strong>de</strong>Lagrangeaplicadoàrestriçãof : [x 1,x 2] → R<br />

dá que existe algum x ∈ (x 1,x 2) com:<br />

f ′ (x) = f(x2)−f(x 1)<br />

< 0,<br />

x2 −x1 contradizendo a hipótese <strong>de</strong> que f ′ (x) ≥ 0 ∀x ∈ I.<br />

De ii): Se supomos por absurdo que f não é estritamente crescente, significa que<br />

existem x1,x2 ∈ I com x1 < x2 para os quais:<br />

f(x 1) ≥ f(x 2).<br />

Novamente o Teorema do Valor Médio <strong>de</strong> Lagrange aplicado a f : [x 1,x 2] → R dá<br />

que existe algum x ∈ (x 1,x 2) com:<br />

f ′ (x) = f(x2)−f(x 1)<br />

≤ 0,<br />

x2 −x1 contradizendo a hipótese <strong>de</strong> que f ′ (x) > 0 ∀x ∈ I.<br />

De iii) e iv): são completamente análogas, mutatis mutandis6 4. Uma confusão frequente sobre o significado do sinal da <strong>de</strong>rivada<br />

Peço atenção agora, para que se evite uma confusão que aparece em algumas<br />

exposições.<br />

As hipóteses dos itens ii) e iv) do Teorema 3.1 pe<strong>de</strong>m que o sinal da função<br />

<strong>de</strong>rivada seja positivo (ou negativo) em todo um intervalo aberto I.<br />

Seria falso um enunciado assim:<br />

(falso !) Seja f : (a,b) → R <strong>de</strong>rivável com algum x ∈ (a,b) on<strong>de</strong> f ′ (x) > 0<br />

(f ′ (x) < 0). Então existe um intervalo centrado em x on<strong>de</strong> a restrição da f é crescente<br />

(<strong>de</strong>crescente).<br />

Claro que isso po<strong>de</strong> até funcionar em alguns exemplos, mas um teorema tem que<br />

funcionar sempre !<br />

A Figura a seguir ilustra uma função f que existe, que é <strong>de</strong>rivável com f ′ (0) > 0,<br />

e que no entanto não é nem crescente nem <strong>de</strong>crescente em nenhum intervalo centrado<br />

em x (a Figura não mostra isso muito bem, mas as oscilações continuam a existir até<br />

a origem).<br />

6 Essa expressão latina quer dizer, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que adaptando, mudando, o que for conveniente; no<br />

nosso caso, sinais, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.


CAPÍTULO 10. SINAL DA DERIVADA E CRESCIMENTO 135<br />

Deduzimos então, após o Teorema 3.1, que a <strong>de</strong>rivada f ′ (x) muda <strong>de</strong> sinal tão<br />

perto <strong>de</strong> x = 0 quanto quisermos.<br />

0,08<br />

0,04<br />

0<br />

-0,2 -0,1 0<br />

x<br />

-0,04<br />

-0,08<br />

Figura: A função f oscila à esquerda e à direita <strong>de</strong> x = 0, embora f ′ (0) > 0.<br />

A única proprieda<strong>de</strong> que a f da Figura tem é que:<br />

f vale mais que f(0) em pontos x um pouco maiores que x = 0 e f vale menos<br />

que f(0) em pontos x um pouco menores que x = 0<br />

(é isso nós apren<strong>de</strong>mos na prova do Teorema <strong>de</strong> Rolle 1.1). Vamos <strong>de</strong>stacar isso<br />

como uma afirmação:<br />

Afirmação 4.1. Seja uma f <strong>de</strong>rivável e x um ponto do intervalo aberto I on<strong>de</strong> f<br />

está <strong>de</strong>finida.<br />

Se f ′ (x) > 0 então existe um intervalo J centrado em x, on<strong>de</strong> f(x) < f(x) se<br />

x < x, x ∈ J e f(x) < f(x) se x < x, x ∈ J.<br />

Se f ′ (x) < 0 então existe um intervalo J centrado em x, on<strong>de</strong> f(x) > f(x) se<br />

x < x, x ∈ J e f(x) > f(x) se x < x, x ∈ J.<br />

Demonstração.<br />

Contida na <strong>de</strong>monstração do Teorema <strong>de</strong> Rolle.<br />

5. Descontinuida<strong>de</strong> da função <strong>de</strong>rivada<br />

Voltando à f da Seção anterior 4, cuja <strong>de</strong>rivada f muda <strong>de</strong> sinal tão perto <strong>de</strong><br />

x = 0 quanto quisermos, somos obrigados a concluir que sua função <strong>de</strong>rivada f ′ (x)<br />

não é uma função contínua em x = 0.<br />

0,1<br />

0,2


6. EXERCÍCIOS 136<br />

De fato, se f ′ (x) fosse uma função contínua em x, então o princípio <strong>de</strong> inércia das<br />

funções contínuas (Afirm. 1.1 do Capítulo 6) diria que f ′ (x) teria que ser positiva em<br />

todo um intervalo centrado em x = 0. 7<br />

Conclusão: nem sempre vale f ′ (x) = limx→x f ′ (x). De fato nesse exemplo tratado<br />

se po<strong>de</strong> mostrar que a igualda<strong>de</strong> f ′ (x) = limx→x f ′ (x) não vale porque o lado direito<br />

limx→x f ′ (x) simplesmente não existe.<br />

Mas temos:<br />

Afirmação 5.1. Seja f : I → R on<strong>de</strong> I = (−δ+x,x+δ) é intervalo aberto centrado<br />

em x.<br />

Suponha que existe f ′ (x) ∀x ∈ I \{x} e que existe:<br />

lim<br />

x→x f′ (x) = L ∈ R.<br />

Então f ′ (x) existe também e seu valor é f ′ (x) = L<br />

Demonstração.<br />

Consi<strong>de</strong>re a restrição <strong>de</strong> f(x) a [x,x+h] para h > 0 e aplique o T.V. Médio <strong>de</strong><br />

Lagrange:<br />

f(x+h)−f(x)<br />

= f<br />

h<br />

′ (ξh), on<strong>de</strong> ξh ∈ (x,x+h).<br />

Quando dizemos na hipótese:<br />

lim<br />

x→x f′ (x) = L<br />

dizemos que não importa como x tenda a x, necessariamente f ′ (x) ten<strong>de</strong> a L. Ou<br />

seja, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da cara do x que ten<strong>de</strong> a x.<br />

Ora, quando h ց 0 temos que ξh ∈ (x,x+h) ten<strong>de</strong> a x e portanto<br />

L = lim<br />

hց0 f ′ (ξh) = lim<br />

hց0<br />

a <strong>de</strong>rivada à direita. Analogamente se obtém:<br />

L = lim<br />

hր0 f ′ (ξh) = lim<br />

hր0<br />

f(x+h)−f(x)<br />

h<br />

f(x+h)−f(x)<br />

h<br />

para a <strong>de</strong>rivada à esquerda e, portanto, f ′ (x) = L.<br />

6. Exercícios<br />

=: f ′ +(x),<br />

=: f ′ − (x)<br />

Exercício 6.1. A figura que exemplifica o T.V.M <strong>de</strong> Lagrange no texto é o gráfico <strong>de</strong><br />

y = x 3 . Quando x ∈ [−1,1] em quais pontos do gráfico a inclinação da reta tangente<br />

é 1 ?<br />

7 Se costuma chamar uma função f <strong>de</strong> classe C 1 se f é <strong>de</strong>rivável e se f ′ (x) ela mesma é uma<br />

função contínua.


CAPÍTULO 10. SINAL DA DERIVADA E CRESCIMENTO 137<br />

Exercício 6.2. 2) Explique (com os conceitos do Cálculo) o que se modifica e o que<br />

não se modifica nos gráficos a seguir quando variamos o parâmetro b = 0 em:<br />

i): y = fb(x) = bx 2<br />

ii) y = fb(x) = x 2 +b<br />

iii) y = fb(x) = x 2 +bx−1.<br />

(Obs.: nos itens i) e iii) há certos pontos em que se vê bem as diferenças entre os<br />

gráficos).<br />

Exercício 6.3. Encontre o ponto (ou os pontos) do gráfico <strong>de</strong> y = (x−1) 3 em que<br />

sua(s) reta(s) tangente(s) é (são) paralela(s) à reta y = 3x.<br />

Encontre o ponto (ou os pontos) do gráfico <strong>de</strong> y = x3 em que sua(s) reta(s)<br />

tangente(s) é (são) ortogonal (s) à reta y = −1 6x. Obs. Não precisa <strong>de</strong>senhar nada.<br />

Exercício 6.4. (resolvido)<br />

Consi<strong>de</strong>re a família <strong>de</strong> gráficos<br />

y = fb(x) := (−b+4/3)·x 2 +b·x+(2b−7/3), b ∈ R,<br />

dos quais plotei apenas 7 representantes (b = 1,1.2,1.3,4/3,1.6,1.8,2):<br />

5<br />

-5<br />

-10<br />

x<br />

-3-2-1 0<br />

0<br />

1 2 3 4<br />

Como se vê são gráficos bem diferentes, à medida que mudamos o parâmetro b.


6. EXERCÍCIOS 138<br />

Mas quando se faz um zoom na região x ∈ [0.3,0.7] do domínio, os pedaços dos 7<br />

gráficos <strong>de</strong> y = fb(x) se parecem muito:<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0,4 0,5 0,6 0,7<br />

x<br />

Explique o que aconteceu quando fizemos o zoom, após confirmar que que os pontos<br />

(−1,−1) e (2,3) pertencem a esses gráficos todos, ∀b ∈ R).<br />

Dica: Teorema Valor Médio <strong>de</strong> Lagrange.


CAPíTULO 11<br />

Aplicações da primeira e segunda <strong>de</strong>rivadas<br />

1. Primeiro critério <strong>de</strong> máximos e mínimos<br />

Se olharmos bem a <strong>de</strong>monstração que <strong>de</strong>mos do Teorema <strong>de</strong> Rolle, veremos que<br />

<strong>de</strong> fato já provamos o seguinte:<br />

Afirmação 1.1. Seja f : (a,b) → R <strong>de</strong>rivável. Se 1 x ∈ (a,b) é ponto <strong>de</strong> Mínimo<br />

Local ou <strong>de</strong> Máximo Local, então f ′ (x) = 0.<br />

A recíproca <strong>de</strong>ssa Afirmação é em geral falsa: f(x) = x 3 tem f ′ (0) = 0 e x = 0<br />

não é nem Mínimo nem Máximo local.<br />

No entanto temos o seguinte:<br />

Afirmação 1.2. Seja f : (a,b) → R <strong>de</strong>rivável, com x ∈ (a,b) on<strong>de</strong> f ′ (x) = 0.<br />

• i) Suponha que existe um intervalo J centrado em x on<strong>de</strong> a função <strong>de</strong>rivada<br />

vale f ′ ≤ 0, se x < x, e f ′ ≥ 0, se x < x. Então x é Mínimo Local da f.<br />

• ii) Suponhaque que existeum intervalocentrado emxon<strong>de</strong>afunção <strong>de</strong>rivada<br />

vale f ′ ≥ 0, se x < x, e f ′ ≤ 0, se x < x. . Então x é Máximo Local da f.<br />

Demonstração.<br />

De i): Temos que f ′ (x) ≤ 0 se x ∈ (−δ +x,x) e f ′ (x) ≥ 0 se x ∈ (x,x+δ).<br />

Mas então pelo item iii) do Teorema 3.1, a função original f(x) é <strong>de</strong>crescente em<br />

(−δ + x,x). E pelo item i) do Teorema 3.1 a função original f(x) é crescente em<br />

(x,x+δ).<br />

A conclusão é que x é ponto <strong>de</strong> Mínimo da f restrita a (−δ+x,x+δ), um Mínimo<br />

local portanto.<br />

De ii): completamente análoga, mutatis mutandis.<br />

<br />

2. Critério da segunda <strong>de</strong>rivada<br />

Primeiro vamos relembrar e reforçar o tema da segunda <strong>de</strong>rivada ou aceleração<br />

instantânea em termos físicos.<br />

Para <strong>de</strong>finir uma aceleração instantânea usamos um limite do tipo:<br />

lim<br />

h→0<br />

f ′ (x+h)−f ′ (x)<br />

,<br />

h<br />

1 É muito importante que (a,b) seja aberto, pois f : [0,1] → R, f(x) = x tem pontos <strong>de</strong> máximo<br />

e mínimo e no entanto f ′ (0) = f ′ (1) = 1, on<strong>de</strong> essas <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong>vem ser entendidas como <strong>de</strong>rivadas<br />

à direita f ′ + (0) e à esquerda f′ − (1).<br />

139


3. UM PROBLEMA TÍPICO PARA OS ENGENHEIROS 140<br />

on<strong>de</strong> f ′ (x) é a função velocida<strong>de</strong> instantânea (e on<strong>de</strong> a f(x) <strong>de</strong> partida era a função<br />

posição em cada instante).<br />

Segundo a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada, o que fizemos lá foi <strong>de</strong>rivar a função f ′ (x), ela<br />

mesma já uma <strong>de</strong>rivada da função f(x). Fizemos então uma segunda <strong>de</strong>rivada:<br />

f ′′ (x) := (f ′ (x) ) ′ .<br />

Sua <strong>de</strong>finição então é essencialmente a mesma que <strong>de</strong>mos para a <strong>de</strong>rivada (que passamos<br />

agora a chamar <strong>de</strong> primeira <strong>de</strong>rivada), só que a matéria-prima para compôr os<br />

quocientes incrementais não é uma função f(x) mas sim uma função f ′ (x).<br />

Desse modo, posso enunciar:<br />

Afirmação 2.1. Seja f : (a,b) → R <strong>de</strong>rivável, tal que f ′ (x) também seja <strong>de</strong>rivável.<br />

• i): se f ′ (x) = 0 e f ′′ (x) > 0 então 2 x é Mínimo local da f original.<br />

• ii): se f ′ (x) = 0 e f ′′ (x) < 0 então x é Máximo local da f original.<br />

Este teorema será generalizado na Afirmação 8.1, um critério da <strong>de</strong>rivada n-ésima.<br />

Demonstração. (da Afirmação 2.1)<br />

De i): Pela Afirmação 4.1 do Capítulo 10, aplicada agora à função <strong>de</strong>rivada f ′ (x),<br />

temos que para x ∈ J centrado em x, f ′ (x) < 0 = f ′ (0) se x < x e 0 = f ′ (x) < f ′ (x)<br />

se x < x.<br />

Então recaímos exatamente no item i) da Afirmação 1.2. A conclusão portanto é<br />

que x é Mínimo local.<br />

De ii): completamente análoga, mutatis mutandis.<br />

Com o material <strong>de</strong>ste Capítulo 11 e do Capítulo anterior 10 estamos em condições<br />

<strong>de</strong> confeccionar gráficos qualitativamente corretos <strong>de</strong> polinômios simples, <strong>de</strong> grau<br />

baixo, e é o que faremos como Exercício.<br />

3. Um problema típico para os engenheiros<br />

Suponha que você tem o seguinte problema prático:<br />

Construir um objeto retangular, on<strong>de</strong> a construção <strong>de</strong> cada x metros da largura<br />

custa a meta<strong>de</strong> da construção <strong>de</strong> cada z metros <strong>de</strong> comprimento. Gastando 10 reais<br />

na fabricação <strong>de</strong> cada unida<strong>de</strong>, quais as medidas <strong>de</strong> x e z que maximizam a área do<br />

objeto?<br />

Traduzimos o problema assim: queremos maximizar a área<br />

A(x,z) := z ·x<br />

com uma função custo 3 c(x,z) := x+2z fixada em c(x,z) = 10:<br />

x+2z = 10.<br />

2 Recíproca falsa: f(x) = x 4 tem Mínimo local em x = 0 e se po<strong>de</strong> provar que f ′ (0) = f ′′ (0) = 0<br />

3 Também po<strong>de</strong>ria dizer que a função custo é 2x+4z, já que há dois lados que são largura e dois<br />

que são comprimento. Mas a solução seria completamente análoga.


CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 141<br />

Note que a princípio a função área <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> tanto <strong>de</strong> x como <strong>de</strong> z. Mas a condição<br />

c(x,z) = 10 me permite escrever z = 10−x<br />

2 e a função área como <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo só <strong>de</strong><br />

uma variável:<br />

A(x) = ( 10−x<br />

)·x = 5x−<br />

2<br />

x2<br />

2 .<br />

O domínio natural <strong>de</strong> A(x) é I = (0,10), pois a largura x tem que ser positiva, e ao<br />

mesmo tempo a condição c(x,z) = 10 diz que, quando z se aproxima <strong>de</strong> zero, x se<br />

aproxima <strong>de</strong> 10.<br />

Mas consi<strong>de</strong>rar A(x) <strong>de</strong>finida num domínio um pouco maior, o intervalo [0,10],<br />

que tem a vantagem <strong>de</strong> ser um intervalo limitado e fechado, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos usar o<br />

Teorema 4.2 <strong>de</strong> Bolzano-Weiersstras, já que A(x) claramente é contínua.<br />

Esse Teorema garante que existe um ponto <strong>de</strong> Máximo global <strong>de</strong> A : [0,10] → R.<br />

Mas on<strong>de</strong> ? Não adianta só sabermos que há uma solução, queremos achá-la !<br />

Certamente não será em x = 0 ou em x = 10, pois nesses pontos a Área fica zero,<br />

já que não largura ou comprimento. Então esse ponto x buscado está em (0,10), o<br />

que é promissor, pois po<strong>de</strong>remos tentar usar a Afirmação 1.2.<br />

Para isso precisamos examinar alguns candidatos.<br />

Conforme a Afirmação 1.1, eles terão que ser pontos on<strong>de</strong><br />

A ′ (x) = 0.<br />

Ora, isso significa para A(x) = 5x− x2<br />

2 que:<br />

5−x = 0,<br />

pelo que já sabemos das <strong>de</strong>rivadas, ou seja, o ponto é x = 5.<br />

Mas claramente A ′ (x) = 5−x > 0 se x < 5 e A ′ (x) = 5−x < 0 se 5 < x. Logo<br />

o item ii) da Afirmação 1.2 diz que realmente x é um Máximo local e portanto o<br />

Máximo global, já que não há outro candidato. A área máxima <strong>de</strong>sses objetos então<br />

será<br />

A(5) = 25<br />

2 .<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

2<br />

4<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> A : [0,10] → R, A(x) = 5x− x2<br />

2 .<br />

Em geral, nos problemas <strong>de</strong>sse tipo, aparecem diferentes candidados a Máximos<br />

global, que foram aprovados no teste para Máximos locais dado pelo item ii) da<br />

Afirmação 1.2, e então se faz necessário comparar os valores da função em questão<br />

em cada um <strong>de</strong>les.<br />

6<br />

8<br />

10


4. MÍNIMOS DE DISTÂNCIAS E ORTOGONALIDADE 142<br />

4. Mínimos <strong>de</strong> distâncias e ortogonalida<strong>de</strong><br />

Suponha que P = (2,1) e queremos <strong>de</strong>scobrir qual o menor segmento <strong>de</strong> reta <strong>de</strong><br />

P até uma reta <strong>de</strong> equação y = ax+1 (com algum a = 0 fixado) que não passe por<br />

P.<br />

Vamos fazê-o <strong>de</strong> dois modos distintos, que esperamos que dêem os mesmos resultados.<br />

Primeiro vamosusar nossa intuição, que diz que <strong>de</strong>ve se tratar do segmento saindo<br />

<strong>de</strong> P que é ortogonal à reta y = ax+1. Ou seja, pelo que apren<strong>de</strong>mos na Seção 2 do<br />

Capítulo 8, <strong>de</strong>ve ser um ponto (x,ax+1) tal que:<br />

(ax+1)−1<br />

x−2<br />

= −1<br />

a ,<br />

pois o lado esquerdo é o ceoeficiente angular da reta contendo o segmento que sai <strong>de</strong><br />

(2,1). Então disso obtemos:<br />

x = 2<br />

a 2 +1<br />

e daí facilmente <strong>de</strong>scobrimos o tamanho do segmento.<br />

Por outro lado po<strong>de</strong>mos, via as técnicas <strong>de</strong> Cálculo, tentar <strong>de</strong>scobrir o mínimo da<br />

função que me<strong>de</strong> a distância <strong>de</strong> P aos pontos da reta dada.<br />

Para não cairmos numa <strong>de</strong>rivada mais complicada, vamos modificar um pouco o<br />

problema, tentando minimizar a função que é o quadrado da distância <strong>de</strong> P à reta,<br />

dará também o ponto que minimiza a própria distância 4<br />

Essa função quadrado da distância é dada por:<br />

(x−2) 2 +(y −1) 2 = (x−2) 2 +(ax+1−1) 2 =<br />

= (a 2 +1)x 2 −4x+5.<br />

Então essa f(x) = (a 2 +1)x 2 −4x+5 tem <strong>de</strong>rivada f ′ (x) = 2(a 2 +1)x−4 e f ′ (x) = 0<br />

exatamente em x = 2<br />

a 2 +1<br />

, o mesmo ponto encontrado acima.<br />

É claro que f ′ (x) < 0 para x < x = 2<br />

a 2 +1 e f′ (x) > 0 para x > x = 2<br />

a 2 +1<br />

. Portanto<br />

pelo item i) da Afirmação 1.2 f tem mínimo local, que <strong>de</strong> fato é o global nesse ponto<br />

x.<br />

Agora vejamos um Exemplo mais interessante. Quero minimizar a distância entre<br />

P = (0,7) e os pontos da parábola y = x2<br />

2 .<br />

Usando a intuição geométrica vou buscar esse ponto Q <strong>de</strong> mínima distância entre<br />

aqueles em que o segmento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> P é ortogonal à tangente da parábola em Q.<br />

Então, já que conheço as inclinações das tangentes à parabola em (x,ax2 ) como<br />

) = x, a ortogonalida<strong>de</strong> que busco é dada por:<br />

sendo 2( x<br />

2<br />

x 2<br />

2 −7<br />

x−0<br />

= −1<br />

x ,<br />

4 A Afirmação 2.1 do Capítulo 16 justificará rigorosamente o uso do quadrado da distância, ao<br />

invés da própria distância, nos problemas <strong>de</strong> máximos/mínimos.


CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 143<br />

ou seja,<br />

−6) = 0.<br />

2<br />

A solução x = 0, on<strong>de</strong> claramente há ortogonalida<strong>de</strong>, é nitidamente um ponto <strong>de</strong><br />

máximo local da distância entre P = (0,7) e a parábola.<br />

Mas as soluções x = √ 12 e x = − √ 12 correspon<strong>de</strong>rão, como veremos a seguir, a<br />

dois pontos <strong>de</strong> mínimos. A Figura a seguir mostra esses pontos <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong>.<br />

x·( x2<br />

5<br />

x<br />

-4 -2 0<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

Figura: No gráfico aparecem dois pontos on<strong>de</strong> há ortogonalida<strong>de</strong>.<br />

Visto<strong>de</strong>outromodo, viaatécnicadoCálculo, consi<strong>de</strong>roafunçãoqueéoquadrado<br />

da distância entre P = (0,7) e a parábola:<br />

2 4<br />

(x−0) 2 +(y −7) 2 = x 2 +( x2<br />

2 −7)2 =<br />

= x4<br />

4 −6x2 +49.<br />

A <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> f(x) = x4<br />

4 −6x2 +49 é<br />

f ′ (x) = x 3 −12x = x(x 2 −12).<br />

O zero da <strong>de</strong>rivada em x = 0 correspon<strong>de</strong> a um máximo local.<br />

Verificamos agora que os pontos x = √ 12 e x = − √ 12 são mínimos locais (e<br />

globais).<br />

Observe que se 0 < x < √ 12 temos x(x 2 − 12) < 0, enquanto que se x > √ 12<br />

temos x(x 2 −12) > 0. Logo o item i) da Afirmação 1.2 diz que x = √ 12 é mínimo <strong>de</strong><br />

f.<br />

Agora se x < − √ 12 temos x(x 2 −12) > 0, enquanto que se − √ 12 < x < 0 temos<br />

x(x 2 −12) > 0. Logo o item i) da Afirmação 1.2 diz que x = − √ 12 é mínimo <strong>de</strong> f.<br />

A Afirmação 4.1 a seguir justifica o uso da noção <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong> nos problemas<br />

<strong>de</strong> máximos/mínimos:


4. MÍNIMOS DE DISTÂNCIAS E ORTOGONALIDADE 144<br />

Afirmação 4.1.<br />

i) Se a distância entre um ponto P e o gráfico <strong>de</strong> y = f(x) tem valor mínimo<br />

ou máximo local PF > 0, on<strong>de</strong> F = (x,f(x)), então a reta tangente ao gráfico <strong>de</strong><br />

y = f(x) em F é ortogonal à reta PF.<br />

ii) Sejam um gráfico y = f(x) <strong>de</strong> uma f <strong>de</strong>rivável e uma reta r que não intersecta<br />

esse gráfico.<br />

Seja F ponto do gráfico <strong>de</strong> y = f(x) tal que PF > 0 realiza um valor mínimo ou<br />

máximo local da distância entre pontos do gráfico e a reta r. Então a reta tangente<br />

ao gráfico <strong>de</strong> y = f(x) em F é paralela à reta r.<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

Consi<strong>de</strong>re F = (x,f(x)) ponto que realiza valor minimo local ou valor máximo<br />

local da distância até um certo P = (x0,y0) que foi dado.<br />

Consi<strong>de</strong>re o círculo C <strong>de</strong> raio PF centrado em P (lembro que PF > 0):<br />

C = {(x,y); (x−x0) 2 +(y −y0) 2 = PF 2 }.<br />

Vou fazer aqui a suposição5 <strong>de</strong> que, perto <strong>de</strong> F, também C seja gráfico <strong>de</strong> uma função<br />

y = g(x); que <strong>de</strong> fato é:<br />

<br />

y = g(x) = y0 + PF 2 −(x−x0) 2 , ∀x ∈ (−δ +x,x+δ).<br />

Veja a Figura:<br />

Consi<strong>de</strong>re a função<br />

y<br />

F<br />

P<br />

φ(x) := f(x)−g(x), ∀x ∈ (−δ +x,x+δ).<br />

Suponha por absurdo que a reta tangente ao gráfico <strong>de</strong> y = f(x) em F não seja<br />

igual à reta tangente a C em F (esta sim sabemos que é ortogonal à reta PF).<br />

Por exemplo, suponha por absurdo que f ′ (x) > g ′ (x) (o caso < é completamente<br />

análogo).<br />

Então φ ′ (x) = f ′ (x)−g ′ (x) > 0.<br />

5 que exigiria mais justificação<br />

x


CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 145<br />

Então<br />

Como φ(x) = 0, a Afirmação 4.1 do Capítulo 10 dá que, para um certo ǫ > 0:<br />

Ora, mas então<br />

φ(x) > 0, ∀x ∈ (x,x+ǫ) e φ(x) < 0, ∀x ∈ (x−ǫ,x).<br />

f(x) > g(x) ∀x ∈ (x,x+ǫ) e f(x) < g(x), ∀x ∈ (x−ǫ,x).<br />

e portanto ∀x ∈ (x,x+ǫ):<br />

f(x)−y0 > g(x)−y0, ∀x ∈ (x,x+ǫ),<br />

(f(x)−y0) 2 +(x−x0) 2 > (g(x)−y0) 2 +(x−x0) 2 = PF 2 ,<br />

o que diz que F não é ponto <strong>de</strong> máximo local da distância <strong>de</strong> P = (x0,y0) até o<br />

gráfico <strong>de</strong> y = f(x).<br />

E do mesmo modo, obteremos ∀x ∈ (x−ǫ,x):<br />

(f(x)−y0) 2 +(x−x0) 2 < (g(x)−y0) 2 +(x−x0) 2 = PF 2 ,<br />

o que diz que F não é ponto <strong>de</strong> mínimo local da distância até P = (xo,y0).<br />

Essa contradição com a escolha <strong>de</strong> F termina a prova do item i).<br />

Item ii):<br />

Sejam R ∈ r e F = (x,f(x)) tais que RF realizam valor mínimo local ou valor<br />

máximo local da distância até o gráfico <strong>de</strong> y = f(x) e r.<br />

O raciocínio da prova do item i) aplicado a um círculo centrado em R <strong>de</strong> raio<br />

RF > 0 dirá que a reta tangente ao gráfico <strong>de</strong> y = f(x) em F é ortogonal à reta RF.<br />

Veja a Figura:<br />

R<br />

F<br />

Mas, por outro lado, o mesmo raciocínio agora aplicado a um círculo agora centrado<br />

em F <strong>de</strong> raio RF > 0 dirá que a reta r (que é sua própria reta tangente) é<br />

ortogonal à reta RF. Veja a Ffigura:


5. CONCAVIDADES DOS GRÁFICOS 146<br />

R<br />

F<br />

Um fato básico da geometria euclidiana diz que, se uma reta r1 é ortogonal a uma<br />

reta r2 e r2 é ortogonal a uma reta r3, então r1 e r3 são paralelas.<br />

Portanto a reta tangente ao gráfico <strong>de</strong> y = f(x) em F é paralela a r. <br />

Para concluir esta Seção, pensemos no caso da reta horizontal y = 0 e no gráfico<br />

<strong>de</strong> y = 1<br />

, ∀x > 0. x<br />

Como po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>finir a distância entre essas duas curvas ?<br />

Note que se <strong>de</strong>rmos qualquer tamanho ǫ > 0 existem pontos xǫ ∈ (y = 0) e<br />

zǫ ∈ (y = 1)<br />

tais que x<br />

xǫzǫ = ǫ.<br />

Basta tomarmos por exemplo xǫ := ( 1<br />

ǫ ,0) e zǫ := ( 1<br />

ǫ ,ǫ).<br />

Então seria natural dizer que a distância entre a reta horizontal y = 0 e o gráfico<br />

<strong>de</strong> y = 1 é zero ! x<br />

Mas note que essa distância zero entre curvas nunca é realizada por pontos <strong>de</strong><br />

y = 0 e <strong>de</strong> y = 1,<br />

já que distância zero entre dois pontos significa que são o mesmo<br />

x<br />

ponto e no entanto<br />

(y = 0)∩(y = 1<br />

) = ∅.<br />

x<br />

Outra maneira <strong>de</strong> ver que a distância zero entre essas curvas nunca é realizada por<br />

pontos <strong>de</strong> y = 0 e <strong>de</strong> y = 1<br />

x é o item ii) da Afirmação 4.1, pois y′ = −1<br />

x2 = 0, ∀x > 0.<br />

5. Concavida<strong>de</strong>s dos gráficos<br />

Na Definição 5.1 a seguir só me interesso no comportamento da função próxima<br />

a cada um dos pontos <strong>de</strong> seu gráfico.<br />

Definição 5.1. Diremos que uma função é localmente côncava para cima num ponto<br />

(x,f(x)) <strong>de</strong> seu gráfico se existe um intervalo Ix centrado em x em que<br />

f(x) > ax+b, ∀x ∈ Ix \{x},<br />

on<strong>de</strong> y = ax+b é a reta tangente ao gráfico em (x,f(x)).<br />

Para <strong>de</strong>finir localmente côncava para baixo num ponto (x,f(x)) basta trocar ><br />

por


CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 147<br />

-2<br />

-1<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

x<br />

Figura: Um função localmente côncava para cima em cada ponto do domínio<br />

Afirmação 5.1. Suponha uma função f : I → R duas vezes <strong>de</strong>rivável.<br />

• i) Se ∀x ∈ I, f ′′ (x) > 0 então, f é localmente côncava para cima em cada<br />

um dos pontos <strong>de</strong> seu gráfico.<br />

• ii) Se ∀x ∈ I, f ′′ (x) < 0 então f tem localmente côncava para baixo em<br />

cada um dos pontos <strong>de</strong> seu gráfico.<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

Tome um ponto (x,f(x)) do gráfico. Seja y = ax+b a equação da reta tangente<br />

ao gráfico nesse ponto.<br />

Note que a função<br />

φ(x) := f(x)−(ax+b)<br />

tem<br />

A<strong>de</strong>mais<br />

φ(x) = 0 e φ ′ (x) = f ′ (x)−a = 0.<br />

φ ′′ (x) = f ′′ (x) > 0.,<br />

já que supomos que sempre f ′′ (x) > 0.<br />

Então o Critério da Segunda Derivada (Afirmação 2.1, Capítulo 11) quando aplicado<br />

a φ diz que φ tem um mínimo local em x (local pois φ tem que ser restrita a um<br />

intervalo Ix centrado em x para ter aí um ponto <strong>de</strong> mínimo).<br />

Ou seja,<br />

φ(x) > φ(x), ∀x ∈ Ix \{x},<br />

que significa<br />

como queríamos provar.<br />

f(x) > ax+b, ∀x ∈ Ix \{x},<br />

De ii): Análogo, bastando usar o Critério da Segunda Derivada para ter um<br />

máximo local.<br />

<br />

1<br />

2


5. CONCAVIDADES DOS GRÁFICOS 148<br />

Na Definição 5.2 a seguir impomos um comportamento global sobre a função: ela<br />

terá que ficar por cima (ou por baixo) <strong>de</strong> todas as retas tangentes a seu gráfico.<br />

Definição 5.2. Direi que uma função f : I → R é côncava para cima se para todo<br />

ponto x ∈ I,<br />

f(x) > ax+b, ∀x ∈ I \{x}<br />

on<strong>de</strong> y = ax+b é a reta tangente ao gráfico em (x,f(x)).<br />

-3<br />

-2<br />

x<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

0<br />

-1 0<br />

Figura: Um função que não é côncava para cima, mas que<br />

é localmente localmente côncava para cima se x < 0.<br />

Afirmação 5.2. Suponha uma função f : I → R duas vezes <strong>de</strong>rivável.<br />

• i) Se ∀x ∈ I f ′′ (x) > 0 então f é côncava para cima.<br />

• ii) Se ∀x ∈ I f ′′ (x) < 0 então f é côncava para baixo.<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

Vamos fazer a prova por absurdo.<br />

Pela Afirmação 5.1 sabemos f é localmente concava para cima em cada ponto <strong>de</strong><br />

seu domínio. Ou seja, dado qualquer x ∈ I existe um intervalo Ix centrado nele on<strong>de</strong><br />

f(x) > ax+b, ∀x ∈ Ix \{x},<br />

para y = ax+b reta tangente em (x,f(x)).<br />

Portanto, se pensamos esta <strong>de</strong>monstração por absurdo, tem que existir 6 algum<br />

ponto (x,f(x)) para o qual existe um x0 /∈ Ix tal que<br />

5<br />

-5<br />

f(x0) ≤ ax0 +b,<br />

para y = ax+b reta tangente em (x,f(x)).<br />

Sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong> suponhamos x0 > x.<br />

Façoagoraumaalteraçãonaf,paraquearetatangentea(x,f(x))sejahorizontal.<br />

Defino<br />

φ(x) := f(x)−(ax+b).<br />

Note que φ(x) = φ ′ (x) = 0, mas φ ′′ (x) = f ′′ (x) > 0, ∀x ∈ I. Agora temos<br />

φ(x0) ≤ 0.<br />

6 Confira um exemplo disso na Figura anterior, com x ∼ −0.5 e x0 ∼ 1<br />

1


CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 149<br />

Caso φ(x0) = 0:<br />

Nesse caso, aplico o Teorema <strong>de</strong> Rolle a<br />

φ : [x,x0] → R<br />

e obtenho um ponto ξ ∈ (x,x0) on<strong>de</strong> φ ′ (ξ) = 0.<br />

Mas ξ > x e isso contradiz o fato que φ ′ (x) é uma função estritamente crescente<br />

(já que φ ′′ (x) > 0), que partiu do valor φ ′ (x) = 0.<br />

Caso φ(x0) < 0:<br />

Pelo que vimos na Afirmação 5.1, perto <strong>de</strong> x temos φ(x) > 0.<br />

Como φ(x) é contínua e φ(x0) < 0 então o T.V.I. diz que há um ponto ˆx0 ∈ [x,x0]<br />

on<strong>de</strong> φ(ˆx0) = 0. Portanto com esse novo ˆx0 recaio na situação do Caso φ(ˆx0) = 0 já<br />

tratado.<br />

De ii): completamente análoga. <br />

6. Mínimos quadrados e a média aritmética<br />

Dados x1,...,xk pontos na Reta dos Reais, que ponto x minimiza a soma dos<br />

quadrados das distâncias a todos eles ?<br />

Ointeresseprático<strong>de</strong>staquestãoéqueosvaloresx1,...,xk po<strong>de</strong>mtersidoobtidos<br />

após k aferições <strong>de</strong> um certo dado relevante (o comprimento <strong>de</strong> um objeto, uma<br />

temperatura, um peso, etc) e o ponto x servirá para corrigir os prováveis erros nas<br />

aferições.<br />

Afirmação 6.1. Sejam dados x1,...,xk ∈ R pontos. Então<br />

• i) o ponto <strong>de</strong> mínimo global da função<br />

é o ponto<br />

f(x) := (x−x1) 2 +...+(x−xk) 2<br />

x = x1 +...+xk<br />

,<br />

k<br />

chamado <strong>de</strong> média arimética dos valores x1,...xk.<br />

• ii) sempre vale a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

k ·(x 2 1 +...+x2 k ) > (x1 +...+xk) 2<br />

exceto se x1 = ... = xk, quando vale então:<br />

Demonstração.<br />

Item i)<br />

Trata-se então <strong>de</strong> minimizar a função:<br />

k ·(x 2 1 +...+x2 k ) = (x1 +...+xk) 2 .<br />

y = f(x) := (x−x1) 2 +...+(x−xk) 2 .<br />

que é uma parábola com concavida<strong>de</strong> para cima, já que:<br />

f(x) = k ·x 2 −2·(x1 +...xk)·x+(x 2 1 +...+x2 k ).


6. MÍNIMOS QUADRADOS E A MÉDIA ARITMÉTICA 150<br />

Portanto seu mínimo está on<strong>de</strong> f ′ (x) = 0, ou seja, na raíz <strong>de</strong>:<br />

ou seja, em<br />

2k ·x−2·(x1 +...xk) = 0,<br />

x = x1 +...+xk<br />

k<br />

que é chamada <strong>de</strong> média aritmética dos valores x1,...xk.<br />

Item ii)<br />

Note que, por ser uma soma <strong>de</strong> quadrados,<br />

y = f(x) = (x−x1) 2 +...+(x−xk) 2 ≥ 0<br />

e se para algum x0 ∈ R temos f(x0) = 0 então<br />

(x0 −x1) 2 +...+(x0 −xk) 2 = 0 ⇔ x0 = x1 = ... = xk.<br />

Portanto, se algum xi é diferente <strong>de</strong> algum outro xj, na lista que <strong>de</strong>mos <strong>de</strong> x1,...,xk,<br />

a equação quadrática em x:<br />

y = f(x) = k ·x 2 −2·(x1 +...xk)·x+(x 2 1 +...+x2 k ) = 0<br />

não tem solução Real. Ou seja, se seu discriminante é negativo. Mas esse discriminante<br />

é:<br />

ou seja,<br />

como queríamos.<br />

(2·(x1 +...xk)) 2 −4·k ·(x 2 1 +...+x2 k ) < 0,<br />

(x1 +...xk) 2 < k ·(x 2 1 +...+x2 k ),<br />

6.1. Retas <strong>de</strong> ajuste.<br />

Agora trato <strong>de</strong> um problema parecido, mas diferente. Que só será consi<strong>de</strong>rado no<br />

caso geral na Seção 3 do Capítulo 34.<br />

Consi<strong>de</strong>re o quadrado da distância vertical <strong>de</strong> um ponto (x1,y1) a uma reta y =<br />

ax+b, ou seja:<br />

(ax1 +b−y1) 2 ≥ 0<br />

e = 0 exatamente quando (x1,y1) está na reta.<br />

Suponhamos que queremos encontrar a reta pela origem y = ax (não vertical) que<br />

minimizaasomadosquadradosdasdistânciasverticaisaték pontos(x1,y1),...(xk,yk)<br />

(não todos os xi iguais a zero).<br />

Denote as retas pela origem por y = ξx para <strong>de</strong>ixar claro que a incógnita agora é<br />

o coeficiente angular ξ.<br />

E faça a função que dá a soma <strong>de</strong> quadrados <strong>de</strong> distâncias verticais:<br />

Note que<br />

f(ξ) := (ξx1 −y1) 2 +...+(ξxk −yk) 2 .<br />

f(ξ) = (x 2 1 +...+x2 k )·ξ2 −2(x1y1 +...+xkyk)ξ +y 2 1 +...+y2 k .


CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 151<br />

Então f(ξ) é uma parábola com concavida<strong>de</strong> para cima, já que<br />

x 2 1 +...+x2 k<br />

(se esse número fosse zero todos os pontos tem coor<strong>de</strong>nada x igual a zero).<br />

Portanto se procuramos por um mínimo <strong>de</strong> f basta procurarmos on<strong>de</strong> f ′ (ξ) = 0.<br />

Mas:<br />

f ′ (ξ) = 2(x 2 1 +...+x2 k )·ξ −2(x1y1 +...+xkyk),<br />

e portanto f ′ (ξ) = 0 se dá em:<br />

Ou seja a reta a ser escolhida é:<br />

> 0<br />

ξ = x1y1 +···+xkyk<br />

x2 1 +...+x 2 .<br />

k<br />

y = ( x1y1 +···+xkyk<br />

x2 1 +...+x2 )·x.<br />

k<br />

O problema interessante em geral é quando a reta buscada forma y = ξx+τ não<br />

precisa passsar pela origem.<br />

Essa reta aproximará simultâneamente vários pontos, que po<strong>de</strong>m ser resultado <strong>de</strong><br />

aferições <strong>de</strong> dados relevantes.<br />

O Capítulo 34 tratará <strong>de</strong> uma reta que minimiza soma <strong>de</strong> quadrados <strong>de</strong> distâncias<br />

verticais <strong>de</strong> pontos xi,yi <strong>de</strong> interesse na Biologia, e cujo coeficiente angular ξ é universal.<br />

7. Pontos <strong>de</strong> inflexões dos gráficos<br />

Definição 7.1. Seja f contínua em I, intervalo aberto, e duas vezes <strong>de</strong>rivável ao<br />

menos em I \{x}.<br />

Chamamos x <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> inflexão da f se o sinal da f ′′ (x) muda em torno <strong>de</strong> x.<br />

Ou seja, um ponto <strong>de</strong> inflexão marca a mudança <strong>de</strong> concavida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma função<br />

(se era para cima, vira para baixo e vice-versa).<br />

Exemplos:<br />

• y = f(x) = x 3 , que tem f ′′ (x) = 6x e ponto <strong>de</strong> inflexão em x = 0.<br />

• em geral, y = f(x) = x 2n+1 , ∀n ∈ N, têm inflexão em x = 0, já que<br />

3−x 4<br />

f ′′ (x) = 2n·(2n+1)·x 2n−1 .<br />

• a função y = 4x 1<br />

3 é contínua em torno da origem, mas tem reta tangente<br />

vertical na origem, ou seja não existe f ′ (0). Como<br />

f ′′ (x) = − 4(2+x)<br />

x 5<br />

3<br />

isso diz que f ′′ (x) > 0 para −2 < x < 0 e f ′′ (x) < 0 para x > 0, ou seja,<br />

x = 0 é ponto <strong>de</strong> inflexão. Também f ′′ (x) < 0 para x < −2 e portanto<br />

x = −2 é outro ponto <strong>de</strong> inflexão.


8. CRITÉRIO DA DERIVADA DE ORDEM N 152<br />

• o gráfico <strong>de</strong> y = f(x) (em vermelho) na Figura a seguir representa a população<br />

<strong>de</strong> bactérias colocada num meio favorável, no tempo x.<br />

A taxa <strong>de</strong> crescimento f ′ (x) (em ver<strong>de</strong>) vai aumentando até atingir um<br />

valor máximo (no ponto <strong>de</strong> inflexão x ≈ 1.1.), a partir do qual fatores como<br />

escassez <strong>de</strong> nutrientes, aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos, começam a diminuir essa taxa<br />

<strong>de</strong> crescimento.<br />

No ponto <strong>de</strong> inflexão a aceleração f ′′ (x) do processo (em amarelo) é nula.<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

0,5<br />

1<br />

x<br />

1,5<br />

2<br />

A função f(x) será dada explicitamente nas Seções 4 e 5 do Capítulo 38.<br />

2,5<br />

8. Critério da <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n<br />

Uma função como y = f(x) = sin 4 (x) claramente tem um ponto <strong>de</strong> mínimo local<br />

em x = 0, já que se anula em zero e é positiva por perto. No entanto<br />

f ′′ (x) = 4sin(x) 2 ·(4cos(x) 2 −1) e f ′′ (0) = 0,<br />

porisso não estáaoalcancedocritériodasegunda <strong>de</strong>rivada(Afirmação2.1). Também<br />

se anula em x = 0, porém:<br />

tem valor f (iv) (0) = 24.<br />

A Afirmação 2.1 se generaliza assim:<br />

f ′′′ (x) = 8sin(x)cos(x)·(8cos(x) 2 −5)<br />

f (iv) (x) = 256cos(x) 4 −272cos(x) 2 +40<br />

Afirmação 8.1. Suponha f : (a,b) → R com <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> todas as or<strong>de</strong>ns 7 . Seja<br />

n ∈ N.<br />

7 Não confunda a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n, f (n) , com a potência n-ésima f n .<br />

3


CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 153<br />

i) se f ′ (x) = f ′′ (x) = ... = f (2n−1) (x) = 0 mas f (2n) (x) > 0 então x é ponto <strong>de</strong><br />

mínimo local.<br />

ii) se f ′ (x) = f ′′ (x) = ... = f (2n−1) (x) = 0 mas f (2n) (x) < 0 então x é ponto <strong>de</strong><br />

máximo local.<br />

ii) se f ′ (x) = ... = f (2n) (x) = 0 mas f (2n+1) (x) = 0 então x é ponto <strong>de</strong> inflexão.<br />

Demonstração.<br />

Item i):<br />

A prova completa seria ∀n ∈ N e aí então a indução matemática seria exigida.<br />

Por isso, para simplificar mas mesmo assim dar uma ídéia da prova, me atenho ao<br />

primeiro caso relevante, ou seja quando<br />

Temos por hipótese:<br />

n = 2.<br />

f ′ (x) = f ′′ (x) = f ′′′ (x) = 0 mas f (iv) (x) > 0.<br />

Como há <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> todas as or<strong>de</strong>ns, a função f (iv) (x) é contínua em x, pois é até<br />

mesmo <strong>de</strong>rivável. Logo pelo princípio <strong>de</strong> inércia das funções contínuas, existe um<br />

intervalo Ix = (−δ +x,x++δ) centrado em x tal que<br />

f (iv) (x) > 0, ∀x ∈ Ix.<br />

Então no intervalo Ix a função f ′′′ (x) é uma função estritamente crescente. Como por<br />

hipótese f ′′′ (x) = 0, concluimos que:<br />

f ′′′ (x) < 0 em (−δ +x,x) e f ′′′ (x) > 0 em (x,x+δ).<br />

Ou seja que a função f ′′ (x) é estritamente <strong>de</strong>crescente em (−δ + x,x) e f ′′ (x) é<br />

estritamente crescente em (x,x+δ). Como f ′′ (x) = 0 isso diz que:<br />

f ′′ (x) > 0 em (−δ +x,x)∪(x,x+δ).<br />

Agora então f ′ (x) é estritamente crescente em (−δ+x,x)∪(x,x+δ). Como f ′ (x) = 0<br />

temos que<br />

f ′ (x) < 0 em (−δ +x,x) e f ′ (x) > 0 em (x,x+δ).<br />

Por último isso diz que f é estritamente <strong>de</strong>crescente em (−δ+x,x) e f é estritamente<br />

crescente em ((x,x+δ). Logo x é ponto <strong>de</strong> mínimo.<br />

Iem ii): Análogo, mutatis mutandis.<br />

Item iii):<br />

Temos por hipótese:<br />

f ′ (x) = f ′′ (x) = f ′′′ (x) = f (iv) (x) = 0<br />

mas f (v) (x) = 0. Por exemplo suponhamos<br />

o caso negativo é análogo.<br />

f (v) (x) > 0.


9. CONFECÇÃO DE GRÁFICOS DE POLINÔMIOS 154<br />

Como há <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> todas as or<strong>de</strong>ns, a função f (v) (x) é contínua em x, pois é<br />

até mesmo <strong>de</strong>rivável. Logo pelo princípio <strong>de</strong> inércia das funções contínuas, existe um<br />

intervalo Ix = (−δ +x,x++δ) centrado em x tal que<br />

f (v) (x) > 0, ∀x ∈ Ix.<br />

Então no intervalo Ix a função f (iv) (x) é uma função estritamente crescente. Como<br />

por hipótese f (iv) (x) = 0, concluimos que:<br />

f (iv) (x) < 0 em (−δ +x,x) e f (iv) (x) > 0 em (x,x+δ).<br />

Ou seja que a função f ′′′ (x) é estritamente <strong>de</strong>crescente em (−δ + x,x) e f ′′′ (x) é<br />

estritamente crescente em (x,x+δ). Como f ′′′ (x) = 0 isso diz que:<br />

f ′′′ (x) > 0 em (−δ +x,x)∪(x,x+δ).<br />

Agoraentão f ′′ (x)éestritamente crescente em(−δ+x,x)∪(x,x+δ). Comof ′′ (x) = 0<br />

temos que<br />

f ′′ (x) < 0 em (−δ +x,x) e f ′′ (x) > 0 em (x,x+δ).<br />

Por <strong>de</strong>finição, x é um ponto <strong>de</strong> inflexão.<br />

9. Confecção <strong>de</strong> gráficos <strong>de</strong> polinômios<br />

Consi<strong>de</strong>re a função polinomial y = f(x) = x3 −x.<br />

O objetivo é fazer seu gráfico, <strong>de</strong> modo qualitativamente correto, sem qualquer<br />

calculadora.<br />

Primeiro noto on<strong>de</strong> f = 0, on<strong>de</strong> f > 0 ou f < 0 (pois essas informações não serão<br />

fornecidas pela f ′ (x)).<br />

Ora f(x) = x·(x 2 −1) e daí sai que<br />

• f(x) = 0 exatamente para x = 0,−1,1;<br />

• f(x) > 0 para −1 < x < 0 ou x > 1;<br />

• f(x) < 0 para x < −1 ou 0 < x < 1.<br />

A <strong>de</strong>rivada é f ′ (x) = 3x2 −1 e portanto<br />

<br />

1 1<br />

• f ′ (x) = 0 em x =<br />

• f ′ (x) > 0 se x ><br />

• f ′ (x) < 0 se −<br />

• f ′ (0) = −1<br />

<br />

1<br />

3<br />

<br />

1<br />

3<br />

3 ,−<br />

3 .<br />

ou x < −<br />

<br />

1 < x < 3 .<br />

1<br />

Essas informações sobre f ′ (x) já dizem que x =<br />

<br />

1<br />

3<br />

<br />

1<br />

3<br />

3 .<br />

1<br />

3<br />

<br />

é ponto <strong>de</strong> mínimo local <strong>de</strong><br />

f(x) e que x = − é ponto <strong>de</strong> máximo local <strong>de</strong> f(x). E também que f é crescente<br />

<br />

1<br />

1 1<br />

se x > ou x < − e que f(x) é <strong>de</strong>crescente se − < x < . Por último,<br />

3 3 3<br />

f ′ (0) = −1 diz que o gráfico perto da origem se parece com y = −x.


CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 155<br />

Agora f ′′ (x) = 6x, ou seja f ′′ (0) = 0, e em x = 0 há mudança <strong>de</strong> sinal da f ′′ (x).<br />

Logo x = 0 é ponto <strong>de</strong> inflexão. Para x < 0 a concavida<strong>de</strong> <strong>de</strong> f é para baixo e para<br />

x > 0 a concavida<strong>de</strong> <strong>de</strong> f é para cima.<br />

A Figura a seguir recolhe essas informações, mas como as escalas são diferentes<br />

nos dois eixos a informação f ′ (0) = −1 não é respeitada:<br />

8<br />

4<br />

0<br />

-1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5<br />

-4<br />

-8<br />

x<br />

Figura: y = f(x) = x 3 −x (verm.), f ′ (x) (ver<strong>de</strong>), f ′′ (x) (amar.)<br />

Os Exercícios 10.5 e 10.6 <strong>de</strong>safiarão o leitor a fazer gráficos qualitativamente corretos<br />

<strong>de</strong> polinômios, sem usar nenhuma calculadora.<br />

Para compreen<strong>de</strong>r mais unificadamente a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gráficos <strong>de</strong> funções cúbicas<br />

do tipo y = ax 3 +bx 2 +cx+d, o leitor po<strong>de</strong> ler o Capítulo 32.<br />

Na Seção 4 do Capítulo 14 faremos gráficos <strong>de</strong> funções racionais, quocientes <strong>de</strong><br />

polinômios.<br />

10. Exercícios<br />

Exercício 10.1. 3) Encontre o ponto do gráfico <strong>de</strong> y = x2 que minimiza a distância<br />

2<br />

até P = (2,1) pelos metodos i): <strong>de</strong> buscar pontos <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong> com o gráfico e<br />

ii): via mínimo da função quadrado da distância.<br />

Exercício 10.2. 4) As Figuras i) e ii) abaixo dão dois exemplos <strong>de</strong> funções <strong>de</strong>rivadas<br />

f ′ (x), apenas dadas qualitativamente. Encontre f(x) (qualitativamente) que sejam<br />

compatíveis com cada f ′ dada.<br />

-3<br />

-2<br />

-1<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

x<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

1<br />

2<br />

3


10. EXERCÍCIOS 156<br />

Figura i): Gráfico <strong>de</strong> uma função <strong>de</strong>rivada f ′ .<br />

-2<br />

-1<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-20<br />

x<br />

1<br />

Figura ii): Gráfico <strong>de</strong> uma função <strong>de</strong>rivada f ′ .<br />

Exercício 10.3. A Figura mostra o gráfico <strong>de</strong> uma função e o <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>rivada. Qual<br />

é qual e por quê ? (Justifique analisando a relação entre zero/sinal da f ′ e a f ter<br />

máximo/mínimo ou ser crescente/<strong>de</strong>crescente).<br />

-2 -1<br />

80<br />

40<br />

0<br />

0<br />

-40<br />

-80<br />

x<br />

2<br />

1 2<br />

Exercício 10.4. Veja o gráfico a seguir como o gráfico <strong>de</strong> uma função <strong>de</strong>rivada<br />

y = f ′ (x).<br />

i) Sobreponha a ele o gráfico <strong>de</strong> uma y = f(x) qualitativamente compatível<br />

(Atenção à relação entre zero/sinal <strong>de</strong> f ′ (x) e máximo, mínimo, crecimento, <strong>de</strong>crescimento<br />

da f).<br />

ii) faça com <strong>de</strong>talhe a região da f que correspon<strong>de</strong> ao máximo da f ′ (x).<br />

-2<br />

-1<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

x<br />

Exercício 10.5. (resolvido)<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste Exercício é confeccionar gráficos apenas qualitativamente corretos,<br />

sem qualquer tipo <strong>de</strong> calculadora, <strong>de</strong> polinômios relativamente simples como:<br />

i) y = f1(x) = x 3 −x 2<br />

ii) y = f2(x) = x 2 −x 3 .<br />

1<br />

2<br />

3<br />

3<br />

4<br />

4<br />

3


CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 157<br />

iii) y = f3(x) = −2x 2 +x 3<br />

iv): y = f4(x) = x 4 −2x 2 .<br />

v): y = f5(x) = 3x 4 −4x 3 .<br />

Faça-o seguindo o seguinte roteiro:<br />

a) <strong>de</strong>termine os zeros <strong>de</strong> f, e em quais intervalos a função f é positiva ou negativa.<br />

b) calcule a <strong>de</strong>rivada f ′ .<br />

c)<strong>de</strong>termineoszerosdafunção<strong>de</strong>rivadaf ′ , eemquaisintervalosafunção<strong>de</strong>rivada<br />

é positiva ou negativa.<br />

d) calcule a segunda <strong>de</strong>rivada e <strong>de</strong>termine on<strong>de</strong> ela é zero, positiva e negativa.<br />

e) com as informações <strong>de</strong> a), b), c) e d) esboce o gráfico <strong>de</strong> f ′′ (x); com base nesse,<br />

o <strong>de</strong> f ′ (x) e com base nesse o <strong>de</strong> f(x).<br />

Dica: em cada item fatore a maior potência possível <strong>de</strong> x e então, para examinar<br />

on<strong>de</strong> cada função é positiva e negativa basta usar a regra <strong>de</strong> multiplicação dos sinais:<br />

+·+ = +, +·− = − e −·− = +.<br />

Depois <strong>de</strong> pensar bastante, pois cada item po<strong>de</strong> exigir tempo, confira seus resultados<br />

com as Soluções no Capítulo 52.<br />

Exercício 10.6. (resolvido)<br />

Suponhamos que, seguindo o roteiro do Exercício anterior, você enten<strong>de</strong>u o gráfico<br />

<strong>de</strong> y = x 3 −C ·x 2 , on<strong>de</strong> C ≥ 1 é uma constante.<br />

E que chegou em algo do seguinte tipo:<br />

-4<br />

-2<br />

0<br />

0<br />

-20<br />

-40<br />

-60<br />

-80<br />

x<br />

-100<br />

Sem fazer nenhuma conta mais, apenas raciocinando geometricamente, como <strong>de</strong>ve<br />

ser o gráfico <strong>de</strong> y = x 3 +C ·x 2 ? (para C ≥ 1).<br />

Exercício 10.7. Dê um exemplo bem simples <strong>de</strong> uma f : [a,b] → R contínua tal<br />

que f ′ (x) = 0 ∀x ∈ (a,b). Localize em seu exemplo on<strong>de</strong> estão o(s) máximo(s) e<br />

mínimo(s).<br />

Exercício 10.8. Consi<strong>de</strong>re o ângulo formado no primeiro quadrante pelo eixo dos<br />

y > 0 e a reta y = a·x, on<strong>de</strong> a > 0 será fixado.<br />

Consi<strong>de</strong>re um ponto (A,B) nessa região (ou seja suponho B > a·A > 0).<br />

2<br />

4


10. EXERCÍCIOS 158<br />

Qual a reta passando por (A,B) forma (no primeiro quadrante) um triângulo com<br />

o eixo dos y > 0 e a reta y = ax <strong>de</strong> menor Área ?<br />

Prove que a menor área é 2A·(B −Aa).<br />

A figura ilustra três candidatas:<br />

Dica: lembre como calcular a área <strong>de</strong> um triângulo via <strong>de</strong>terminante.<br />

1<br />

p<br />

z<br />

z<br />

Exercício 10.9. Encontredoisnúmerosx,y pertencentes aointervalo [0,1]cujasoma<br />

é x+y = 1 e tais que<br />

i) x 2 +y 2 é máximo (justifique)<br />

ii) x 2 +y 2 é mínimo (justifique).<br />

iii): para respon<strong>de</strong>r ao i) e ii) você estudou máximo e mínimo <strong>de</strong> uma função f(x).<br />

Esboce seu gráfico, indicando on<strong>de</strong> sua <strong>de</strong>rivada f ′ (x) é negativa, zero ou positiva.<br />

Exercício 10.10. Uma fábrica <strong>de</strong> azulejos fabrica pequenos revestimentos cerâmicos<br />

(pastilhas) retangulares, que têm x cm <strong>de</strong> largura e y cm <strong>de</strong> comprimento.<br />

O perímetro <strong>de</strong> cada pastilha será fixado em 2·(x+y) = 2.<br />

i) <strong>de</strong>screva a função que dá a Área <strong>de</strong> cada pastilha como uma função A(x) só <strong>de</strong><br />

x.<br />

ii) em qual domínio A(x) não é negativa ? On<strong>de</strong> A(x) se anula ? On<strong>de</strong> A(x) é<br />

positiva ?<br />

iii) Esboce o gráfico <strong>de</strong> A(x) (apenas qualitativamente). Como <strong>de</strong>terminar x para<br />

que o valor <strong>de</strong> A(x) seja máximo ?<br />

iv) qual o formato e medidas da pastilha <strong>de</strong> maior Área ?<br />

Exercício 10.11. O custo <strong>de</strong> fabricação um objeto Retangular é dado por C(x,y) =<br />

x3 +y, pois o material usado na fabricação da lateral x é muitíssimo mais caro que o<br />

6<br />

da frente y. Supondo que sempre 1 ≤ x e que a Área tem que ser igual a 8, quais as<br />

medidas x,y que minimizam o custo <strong>de</strong> fabricação ?<br />

Exercício 10.12. O custo <strong>de</strong> fabricação um objeto Retangular é dado por C(x,y) =<br />

x2 +y, pois o material usado na fabricação da lateral x é muito mais caro que o da<br />

frente y. Supondo que sempre 1 ≤ x e que a Área tem que ser igual a 16, quais as<br />

medidas x,y que minimizam o custo <strong>de</strong> fabricação ?<br />

t z<br />

r z


CAPÍTULO 11. APLICAÇÕES DA PRIMEIRA E SEGUNDA DERIVADAS 159<br />

Um aluno pensou assim sobre esse problema: já que o custo em função <strong>de</strong> x é<br />

muito maior que em função <strong>de</strong> y, por que não usar o mínimo <strong>de</strong> x, ou seja, x = 1 e<br />

y = 16, obtendo área <strong>de</strong> 16 e custo <strong>de</strong> 1 2 +16 = 17 ?<br />

Será que ele está certo ? Esse é mesmo o mínimo <strong>de</strong> custo ?<br />

Exercício 10.13. A área <strong>de</strong> um objeto retangular é A(x,y) = xy. O custo da<br />

construção <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das dimensões x e y segundo a fórmula C(x,y) = 5x 2 +y.<br />

Maxime a área supondo fixado o custo em C(x,y) = 30.<br />

Exercício 10.14. Explique com os conceitos do Cálculo que relação po<strong>de</strong> haver entre<br />

os dois gráficos apresentados em cada uma das três Figuras que seguem.<br />

ii) Que muda <strong>de</strong> uma Figura para a outra ? O que não muda ?<br />

iii)<strong>de</strong>staqueproprieda<strong>de</strong>sgeométricasrelevantes<strong>de</strong>cadaFigura(mínimos/máximos,<br />

inflexões, raízes, etc).<br />

10<br />

0<br />

-2 -1<br />

0<br />

1<br />

x<br />

5<br />

-5<br />

-10<br />

10<br />

0<br />

-2 -1<br />

0<br />

1<br />

x<br />

-2<br />

-1<br />

5<br />

-5<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

x<br />

-2<br />

-4<br />

Exercício 10.15. Enten<strong>de</strong>ndo zeros e sinais <strong>de</strong> , <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>rivada f ′ e da segunda<br />

<strong>de</strong>rivada f ′′ , confeccione o gráfico <strong>de</strong> f ′′ , o <strong>de</strong> f ′ e o <strong>de</strong> f, qualitativamente.<br />

Apresente um gráfico acima do outro, i<strong>de</strong>ntificando pontos importantes.<br />

Exercício 10.16. Enten<strong>de</strong>ndo zeros e sinais <strong>de</strong> f(x) = x 2 −x 3 , <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>rivada f ′ e<br />

dasegunda <strong>de</strong>rivadaf ′′ , confeccioneográfico<strong>de</strong>f ′′ , o<strong>de</strong>f ′ eo<strong>de</strong>f, qualitativamente.<br />

Apresente um gráfico acima do outro, i<strong>de</strong>ntificando pontos importantes.<br />

Exercício 10.17. (resolvido)<br />

Consi<strong>de</strong>re a Figura a seguir, que dá em vermelho o gráfico <strong>de</strong> y = x 3 restrito a<br />

x ∈ (−2,1) e, em ver<strong>de</strong>, o gráfico <strong>de</strong> x 3 −3x 2 +3x−2 também para x ∈ (−2,1).<br />

1<br />

2<br />

2<br />

2


10. EXERCÍCIOS 160<br />

Prove que existe uma reta que apenas tangencia o gráfico ver<strong>de</strong> e que consegue<br />

passar entre os dois gráficos sem intersectar o gráfico vermelho.<br />

Dica: a Figura sugere uma reta, prove que ela satisfaz o que se pe<strong>de</strong>.<br />

Exercício 10.18. (resolvido)<br />

Seja f <strong>de</strong>rivável (tantas vezes quanto quiser).<br />

Suponha que y = f(x) está <strong>de</strong>finida na semireta [0,+∞) e tem sempre f ′′ (x) < 0<br />

(concavida<strong>de</strong> para baixo em todo seu domínio).<br />

Suponha que em um certo x valem f(x) > 0 e f ′ (x) < 0.<br />

Determine um K para o qual se po<strong>de</strong> garantir que f(x) = 0 em algum ponto<br />

x ∈ [x,K].


CAPíTULO 12<br />

Derivadas <strong>de</strong> seno e cosseno e as leis <strong>de</strong> Hooke<br />

Hooke é sempre associado aos temas expostos na próxima Seção. Mas sua importância<br />

científica vai muito além disso, como mostra o trecho da carta <strong>de</strong> Hooke<br />

a Newton, <strong>de</strong> 1689, citado por James Gleick em Isaac Newton, uma biografia, Companhia<br />

das Letras, p.132:<br />

Resta agora conhecer as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma linha curva [...] feita por uma<br />

força atrativa central [...] em uma uma proporção duplicada em relação às distâncias<br />

tomadas reciprocamente. Não duvido que por seu excelente método o senhor <strong>de</strong>scobrirá<br />

[...]<br />

1. O cosseno como <strong>de</strong>rivada do seno<br />

No final <strong>de</strong> Star Wars <strong>de</strong>scobrimos queo mocinho é filho do gran<strong>de</strong> vilão. Pois<br />

nesta Seção vamos <strong>de</strong>scobrir que o cosseno é a <strong>de</strong>rivada do seno !<br />

A <strong>de</strong>rivada do seno em θ = 0 foi vista: sin ′ (0) = 1 (Seção 5 do Capítulo 5 da<br />

Parte 1).<br />

Ou seja, sin ′ (0) = cos(0). Será que isso é uma coincidência apenas? Ou será que<br />

sin ′ (θ) = cos(θ), ∀θ ∈ R ?<br />

Vamos pôr um gráfico abaixo do outro e ver se são os gráficos são coerentes com<br />

o que apren<strong>de</strong>mos no Capítulo 7 da Parte 1, sobre como a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong>termina o<br />

comportamento <strong>de</strong> uma função.<br />

Observe que:<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 1<br />

-0,5<br />

-1<br />

2<br />

3 4<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = sin(θ) (vermelho) e y = cos(θ)<br />

(ver<strong>de</strong>), para θ ∈ [0,2π].<br />

161<br />

5<br />

6


1. O COSSENO COMO DERIVADA DO SENO 162<br />

• em θ = π<br />

π<br />

≈ 1.6 o seno tem seu máximo e nesse ponto θ = o cosseno se<br />

2 2<br />

anula, passando <strong>de</strong> positivo para negativo.<br />

• emθ = π ≈ 3.1ocossenotemseumínimo−1enessepontoθ = π ainclinação<br />

do gráfico do seno parece ser −1. A<strong>de</strong>mais, as inclinações do gráfico do seno<br />

vinham ficando mais negativas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> π e a partir <strong>de</strong> θ = π vão ficando menos<br />

2<br />

negativas.<br />

• em θ = 3π ≈ 4.7 o cosseno se anula, passando <strong>de</strong> negativo a positivo e em<br />

2<br />

θ = 3π o seno tem seu mínimo.<br />

2<br />

• por último, on<strong>de</strong> o cosseno é positivo (negativo) o seno é crescente (<strong>de</strong>crescente).<br />

Todas essas observações são coerentes com o que apren<strong>de</strong>mos no final da Parte 1<br />

e <strong>de</strong> fato:<br />

Afirmação 1.1.<br />

sin ′ (θ) = cos(θ), ∀θ ∈ R.<br />

Demonstração.<br />

Começo com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada em algum θ0 fixado e uso <strong>de</strong>pois a formula<br />

<strong>de</strong> seno <strong>de</strong> uma soma:<br />

sin ′ sin(θ0 +θ)−sin(θ0)<br />

(θ0) = lim =<br />

θ→0 θ<br />

sin(θ0)cos(θ)+cos(θ0)sin(θ)−sin(θ0)<br />

= lim<br />

.<br />

θ→0 θ<br />

Para po<strong>de</strong>r continuar, agora vou usar o limite provado na Seção 3 do Capítulo 8:<br />

sin(θ)<br />

lim<br />

θ→0 θ<br />

e, a<strong>de</strong>mais, um outro limite fundamental:<br />

cos(θ)−1<br />

lim<br />

θ→0 θ<br />

cuja prova omito, mas que é no mesmo estilo.<br />

Então as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> limites <strong>de</strong> somas e produtos permitem que re-escreva o<br />

<strong>de</strong> acima como:<br />

= 1<br />

= 0,<br />

sin ′ (θ0) = lim<br />

θ→0 [sin(θ0)· (cos(θ)−1)<br />

+cos(θ0)·<br />

θ<br />

sin(θ)<br />

] =<br />

θ<br />

(cos(θ)−1) sin(θ)<br />

= sin(θ0)·lim +cos(θ0)· lim<br />

θ→0 θ<br />

θ→0 θ =<br />

= sin(θ0)·0+cos(θ0)·1 = cos(θ0),<br />

como queríamos. <br />

Um complemento:<br />

A Figura a seguir exibe os gráficos <strong>de</strong><br />

f1(θ) = sin(θ)<br />

, para θ = 0 e f1(0) := 1<br />

θ


CAPÍTULO 12. DERIVADAS DE SENO E COSSENO E AS LEIS DE HOOKE163<br />

e <strong>de</strong><br />

f2(θ) = cos(θ)−1<br />

, para θ = 0 e f2(0) := 0<br />

θ<br />

(note que <strong>de</strong>fino separadamente os valores para θ = 0, para que as funções resultantes<br />

sejam contínuas).<br />

-3<br />

-2<br />

0,8<br />

0,4<br />

0<br />

-1 0<br />

-0,4<br />

x<br />

Figura: O gráficos <strong>de</strong> y = f1(θ) (vermelho) e y = f2(θ)<br />

(ver<strong>de</strong>) para θ ∈ [−π,π].<br />

A vingança do cosseno ! Seu filho (sua <strong>de</strong>rivada) é o oposto do malvado avô, o<br />

seno:<br />

Afirmação 1.2.<br />

cos ′ (θ) = −sin(θ), ∀θ ∈ R.<br />

Demonstração. Seguindo as mesmas etapas da prova anterior, obtemos:<br />

cos ′ (θ0) = lim<br />

θ→0<br />

1<br />

cos(θ0 +θ)−cos(θ0)<br />

θ<br />

cos(θ0)cos(θ)−sin(θ0)sin(θ)−cos(θ0)<br />

= lim<br />

=<br />

θ→0 θ<br />

(cos(θ)−1) sin(θ)<br />

= cos(θ0)·lim −sin(θ0)·lim<br />

θ→0 θ<br />

θ→0 θ =<br />

= cos(θ0)·0−sin(θ0)·1 = −sin(θ0).<br />

como queríamos. <br />

2. Leis <strong>de</strong> Hooke com e sem atrito<br />

A lei <strong>de</strong> Hooke diz que a força que um objeto 1 sofre quando se estica uma mola<br />

presa a ele é do tipo<br />

F = −kf(x)<br />

1 Os objetos inicialmente serão tratados como pontos, o que é uma enorme simplificação da<br />

realida<strong>de</strong>. Na Seção 5 do Capítulo 23 falaremos <strong>de</strong> centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> objetos que não são<br />

pontos<br />

2<br />

3<br />

=


2. LEIS DE HOOKE COM E SEM ATRITO 164<br />

on<strong>de</strong> k > 0 é uma constante e f(x) é a posição do objeto (veja a Figura a seguir). O<br />

sinal negativo significa que a força é no sentido oposto do <strong>de</strong>slocamento. Se ignora o<br />

atrito entre o objeto e a superfície nessa formulação da lei.<br />

Se tomamos a força F como sendo o produto <strong>de</strong> massa m pela aceleração f ′′ (x)<br />

então a lei <strong>de</strong> Hooke é da forma<br />

mf ′′ (x) = −k ·f(x).<br />

A seguir, na Afirmação 2.1, para simplificar e dispensar a <strong>de</strong>rivada da composta<br />

(que não vimos ainda), ponho k = 1.<br />

Afirmação 2.1.<br />

i): As funções f(x) = a · cos(x) + bsin(x) são periódicas <strong>de</strong> período 2π, têm<br />

f(0) = a e f ′ (0) = b e satifazem<br />

f ′′ (x) = −f(x), ∀x ∈ R.<br />

ii): A<strong>de</strong>mais a·cos(x)+bsin(x) ≡ A·cos(x−q), on<strong>de</strong><br />

A = √ a 2 +b 2 e cos(q) =<br />

F<br />

a<br />

√ a 2 +b 2 .<br />

A Afirmação 2.1 será reforçada na Seção 8 do Capítulo 39, on<strong>de</strong> se mostrará, entre<br />

outras coisas, que as funções f(x) = a·cos(k·x)+bsin(k·x) são as únicas a satisfazer:<br />

f ′′ (x) = −k ·f(x), k ∈ R.<br />

Demonstração. (da Afirmação 2.1)<br />

De i):<br />

Como o seno e o cosseno têm período 2π essas funções também têm esse período.<br />

Pela <strong>de</strong>rivada da soma e <strong>de</strong> seno e cosseno, obtemos<br />

f ′′ (x) = (f ′ (x)) ′ = (a(−sin(x))+bcos(x)) ′ =<br />

= −acos(x)−bsin(x) = −f(x).<br />

A<strong>de</strong>mais, f(0) = acos(0) = a e f ′ (0) = bcos(0) = b.<br />

De ii):<br />

Note para o que segue que, se cos(q) = a<br />

√<br />

a2 +b2, então<br />

Temos então<br />

sin(q) =<br />

b<br />

√ a 2 +b 2 .<br />

A·cos(x−q) = A·[cos(x)·cos(−q)−sin(x)·sin(−q) =


CAPÍTULO 12. DERIVADAS DE SENO E COSSENO E AS LEIS DE HOOKE165<br />

= √ a 2 +b 2 ·<br />

= A·[cos(x)·cos(q)+sin(x)·sin(q)] =<br />

a<br />

√<br />

a2 +b2 ·cos(x)+√ a2 +b2 b<br />

· √ ·sin(x) =<br />

a2 +b2 = a·cos(x)+b·sin(x),<br />

Na figura a seguir note que não só a posição f(0) é relevante, mas que também a<br />

inclinação f ′ (0) <strong>de</strong>termina o tipo <strong>de</strong> oscilação que haverá.<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

Figura: Gráficos <strong>de</strong> y = asin(θ)+bcos(θ) para alguns a,b e θ ∈ [0,2π].<br />

Claro que na realida<strong>de</strong> física sempre há algum atrito entre o objeto e a superfície<br />

e sabemos que com o tempo o objeto pára. Uma lei <strong>de</strong> Hooke mais realista levaria<br />

em conta o atrito que surge com o <strong>de</strong>slocamento do objeto, ou seja, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da<br />

velocida<strong>de</strong> f ′ (x) do objeto e seria do tipo<br />

f ′′ (x) = −f(x)−kf ′ (x).<br />

Na Figura a seguir ponho uma função satisfazendo f ′′ (x) = −f(x) ao lado <strong>de</strong> uma<br />

função satisfazendo f ′′ (x) = −f(x)−0.1·f ′ (x). Uma função <strong>de</strong>ste último tipo envolve<br />

senos e cossenos e a função exponencial, que veremos mais adiante.<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 5 10 15 20<br />

-0,5<br />

-1<br />

x<br />

Figura: Funções satisfazendo a lei <strong>de</strong> Hooke<br />

sem atrito (vermelho) e com atrito (ver<strong>de</strong>).<br />

25<br />

30<br />

35<br />

6


3. EXERCÍCIOS 166<br />

E se o atrito for maior, por exemplo, em f ′′ (x) = −f(x)−0.3·f ′ (x), então nesse<br />

caso o objeto vai parar bem mais rápido, como na Figura a seguir:<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 5 10 15 20 25 30 35<br />

-0,5<br />

-1<br />

x<br />

Figura: Funções satisfazendo a lei <strong>de</strong> Hooke<br />

sem atrito (vermelho) e com muito atrito (ver<strong>de</strong>).<br />

Resolveremos explicitamente a equação diferencial:<br />

na Seção 2 do Capítulo 40.<br />

f ′′ (x)−f(x)−kf ′ (x)<br />

3. Exercícios<br />

Exercício 3.1. Determine se o ponto (0,0) é máximo/mínimo ou inflexão <strong>de</strong> f,<br />

sabendo que f ′ (x) = sen 5 (x)·cos(x).


CAPíTULO 13<br />

Derivada do produto, indução e a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> x n , n ∈ Z.<br />

Já vimos que a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> f(x) = 1 = x 0 é f ′ (x) = 0, que a <strong>de</strong> f(x) = x = x 1 é<br />

f ′ (x) = 1 = 1x 0 , que a <strong>de</strong> f(x) = x 2 é f ′ (x) = 2x 1 e até mesmo que a <strong>de</strong> f(x) = x 4 é<br />

f ′ (x) = 4x 3 .<br />

Ou seja, nos sentimos motivados a conjecturar que ∀n ∈ N, f(x) = x n tem<br />

f ′ (x) = nx n−1 .<br />

Como po<strong>de</strong>mos provar isso, se não po<strong>de</strong>mos percorrer todos os Naturais ? Isso se<br />

faz através do princípio <strong>de</strong> indução matemática.<br />

1. Princípio <strong>de</strong> indução matemática<br />

Em geral a palavra indução é usada nas ciências experimentais para referir ao<br />

processo pelo qual alguém tenta concluir após um certo número <strong>de</strong> evidências que<br />

certo fenômeno valerá sempre (ou qual a probabilida<strong>de</strong> disso ocorrer).<br />

Já em matemática o significado é o seguinte: quando queremos provar uma certa<br />

proprieda<strong>de</strong> para todo n ∈ N, o que fazemos é:<br />

• prová-la para n = 1,<br />

• supô-la válida até n−1 e<br />

• prová-la para o próximo natural, ou seja, para n.<br />

(A etapa em que supomos a proprieda<strong>de</strong> válida até n−1 é chamada <strong>de</strong> hipótese <strong>de</strong><br />

indução).<br />

Se conseguimos fazer essa última etapa, a proprieda<strong>de</strong> vale para todo n ∈ N.<br />

A valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste princípio está ligada à própria natureza (axiomas) dos números<br />

Naturais.<br />

Vejamostrêsexemplos, quealém<strong>de</strong>bonitosemsimesmos, serãoúteismaisadiante<br />

no Capítulo 21:<br />

Afirmação 1.1. ∀n ∈ N:<br />

i) 1+2+...+(n−1)+n = (n+1)·n<br />

. 2<br />

ii) (1+2+...+(n−1)+n) 2 = 13 +23 +...+(n−1) 3 +n3 .<br />

iii) 12 +22 +...+n 2 = n(n+1)(2n+1)<br />

6<br />

Demonstração.<br />

Prova <strong>de</strong> i): Para n = 1 a fórmula diz simplesmente 1 = 2·1 o que é óbvio.<br />

2<br />

A hipótese <strong>de</strong> indução é<br />

1+2+...+(n−1) = ((n−1)+1)·(n−1)<br />

2<br />

167<br />

= n(n−1)<br />

.<br />

2


1. PRINCÍPIO DE INDUÇÃO MATEMÁTICA 168<br />

De agora em diante temos que fazer algo para mostrar quanto vale 1+2+...+(n−<br />

1)+n. Ora<br />

1+2+...+(n−1)+n = (1+2+...+(n−1))+n =<br />

= n(n−1)<br />

2<br />

+n = n(n−1)+2n<br />

2<br />

= (n+1)·n<br />

,<br />

2<br />

como queríamos.<br />

Prova <strong>de</strong> ii): Para n = 1 a fórmula diz simplesmente que 1 2 = 1 3 o que é óbvio.<br />

Faço a hipótese <strong>de</strong> indução:<br />

(1+2+...+(n−2)+(n−1)) 2 = 1 3 +2 3 +...+(n−2) 3 +(n−1) 3 ,<br />

e quero saber se vale também:<br />

(1+2+...+(n−1)+n) 2 = 1 3 +2 3 +...+(n−1) 3 +n 3 .<br />

Agora vamos ter que fazer algo, trabalhar um pouco. Escrevo pelo binômio:<br />

(1+2+...+(n−1)+n) 2 = (1+2+...+(n−1)) 2 +2·(1+2+...+(n−1))·n+n 2<br />

e para continuar uso a hipótese <strong>de</strong> indução:<br />

(1+2+...+(n−1)+n) 2 = 1 3 +2 3 +...+(n−1) 3 +2·(1+2+...+(n−1))·n+n 2 .<br />

Para terminar on<strong>de</strong> gostaria, preciso ver que<br />

2·(1+2+...+(n−1))·n+n 2 = n 3 .<br />

Mas posso usar a parte i) já provada para qualquer n, mesmo que da forma n − 1,<br />

obtendo:<br />

(1+2+...+(n−1)) = n·(n−1)<br />

,<br />

2<br />

e portanto:<br />

como precisávamos.<br />

2·(1+2+...+(n−1))·n+n 2 = (n·(n−1))·n+n 2 =<br />

= n 3 ,<br />

Prova <strong>de</strong> iii): para n = 1 a fórmula está correta 1 = 1(1+1)(2+1)<br />

6 .<br />

suponha válida até n−1 e faço:<br />

como queríamos.<br />

1 2 +2 2 +...(n−1) 2 +n 2 = (n−1)(n−1+1)(2n−2+1)<br />

6<br />

= 2n3 −3n 2 +n<br />

6<br />

+n 2 =<br />

= 2n3 −3n 2 +n+6n 2<br />

2n 3 +3n 2 +n<br />

6<br />

6<br />

=<br />

=<br />

= n(n+1)(2n+1)<br />

,<br />

6<br />

+n 2 =


CAPÍTULO 13. DERIVADA DO PRODUTO, INDUÇÃO E A DERIVADA DE<br />

XN , N ∈ Z. 169<br />

2. Derivada do Produto<br />

Voltemos ao problema original: como <strong>de</strong>rivar f(x) = x n ? Para n = 1 já sabemos<br />

que a fórmula x ′ = 1x 0 está ok.<br />

Gostariamos <strong>de</strong> supor a fórmula até n−1 e prová-la então para n, <strong>de</strong> acordo com<br />

o princípio <strong>de</strong> indução.<br />

Mas quando escrevo x n e tento relacioná-lo com x n−1 só consigo imaginar a<br />

seguinte relação:<br />

x n = x·x n−1 .<br />

Quando for <strong>de</strong>rivar o lado esquerdo <strong>de</strong>ssa expressão terei que <strong>de</strong>rivar, no lado<br />

direito, um produto <strong>de</strong> funções.<br />

Como fazê-lo ? Certamente a <strong>de</strong>rivada do produto não é o produto das <strong>de</strong>rivadas,<br />

pois (x 2 ) ′ = x ′ ·x ′ = 1·1.<br />

Por isso precisamos <strong>de</strong>:<br />

Teorema 2.1. Sejam f(x) e g(x) duas funções <strong>de</strong>riváveis com mesmo domínio <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finição. Então a função produto (f ·g)(x) := f(x)·g(x) também é <strong>de</strong>rivável e<br />

(f ·g) ′ (x) := f ′ (x)·g(x)+f(x)·g ′ (x).<br />

Demonstração.<br />

Seja x e consi<strong>de</strong>re a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada:<br />

(f ·g) ′ (x) = lim<br />

h→0<br />

f(x+h)g(x+h)−f(x)g(x)<br />

.<br />

h<br />

Agora vou fazer um truque, para fazer aparecer f ′ (x) e g ′ (x) nessa estória. Escrevo<br />

f(x+h)g(x+h)−f(x)g(x) =<br />

= f(x+h)g(x+h)−f(x)g(x+h)+f(x)g(x+h) −f(x)g(x) =<br />

<br />

0<br />

= (f(x+h)−f(x))·g(x+h)+f(x)·(g(x+h)−g(x)).<br />

Portanto através <strong>de</strong>ste truque obtemos que<br />

(f ·g) ′ (x) = lim[<br />

h→0 (f(x+h)−f(x))<br />

·g(x+h)+f(x)<br />

h<br />

(g(x+h)−g(x))<br />

h<br />

Mas limh→0g(x+h) = g(x) pela continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> g e<br />

f(x+h)−f(x)<br />

lim<br />

h→0 h<br />

= f ′ g(x+h)−g(x)<br />

(x) e lim<br />

h→0<br />

= g<br />

h<br />

′ (x),<br />

portanto juntando isso (e lembrando que o produto <strong>de</strong> limites é o limite do produto):<br />

(f ·g) ′ (x) = f ′ (x)g(x)+f(x)g ′ (x)<br />

].


3. DERIVADAS DE X −N , ∀N ∈ N 170<br />

Agora estamos em condições <strong>de</strong> terminar a prova <strong>de</strong> que<br />

(x n ) ′ = nx n−1 .<br />

Pra n = 1 vale, suponho válida até n−1.<br />

Escrevo x n = x·x n−1 e aplico o teorema da <strong>de</strong>rivada do produto:<br />

(x·x n−1 ) ′ = 1·x n−1 +x·(x n−1 ) ′ =<br />

= x n−1 +x·(n−1)·x n−1−1 =<br />

= x n−1 +(n−1)·x n−1 =<br />

= n·x n−1 .<br />

3. Derivadas <strong>de</strong> x −n , ∀n ∈ N<br />

Se <strong>de</strong>fine x −n := 1<br />

x n, ∀n ∈ N, on<strong>de</strong> claramente x = 0.<br />

Com essa <strong>de</strong>finição se obtem:<br />

x −n ·x n = 1<br />

·n = 1<br />

n<br />

e portanto x−n ·xn = xn−n .<br />

Queremos<strong>de</strong>rivaressasfunçõesx −n ,enovamenteofaremosviaainduçãomatemática.<br />

, x = 0 diretamente pela <strong>de</strong>finição, na Parte 1<br />

Vimos a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> f(x) = x−1 = 1<br />

x<br />

<strong>de</strong>ste Curso. Como um Exercício, vejamos agora como re-obter a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> x−1 = 1<br />

x<br />

usando a regra da <strong>de</strong>rivada do produto.<br />

Escrevo a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para x = 0:<br />

e <strong>de</strong>rivo.<br />

1 = x −1 ·x<br />

Á esquerda na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> obtenho 0 e à direita a regra do produto dá:<br />

0 = (x −1 ) ′ ·x+x −1 ·1,<br />

ou seja (x −1 ) ′ = − 1<br />

x 2 = −x −2 .<br />

Ou seja, que vale (x −1 ) ′ = −1·x −1−1 .<br />

Suponha provada a fórmula até n−1 > 1: ou seja, que a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> x −(n−1) é<br />

−(n−1)·x −(n−1)−1 = −(n−1)·x −n .<br />

Então escrevo x −n = x −(n−1) ·x −1 e pela <strong>de</strong>rivada do produto:<br />

como queríamos.<br />

(x −n ) ′ = (x −(n−1) ) ′ ·x −1 +x −(n−1) ·(−x −2 ) =<br />

= −(n−1)·x −n ·x −1 −x −(n−1)−2 =<br />

= −(n−1)·x −n−1 −x −n−1 = −n·x −n−1 ,


CAPÍTULO 13. DERIVADA DO PRODUTO, INDUÇÃO E A DERIVADA DE<br />

XN , N ∈ Z. 171<br />

4. Raízes múltiplas e fatoração <strong>de</strong> polinômios<br />

Agora que sabemos <strong>de</strong>rivar x n , para qualquer n ∈ N, também saberemos <strong>de</strong>rivar<br />

qualquer polinômio <strong>de</strong> grau n:<br />

f(x) = anx n +an−1x n−1 +...+a0, an = 0,<br />

bastando para isso usar (n vezes) a regra da <strong>de</strong>rivada da soma/subtração:<br />

f ′ (x) = (anx n +an−1x n−1 +...+a0) ′ =<br />

= (anx n ) ′ +(an−1x n−1 ) ′ +...+a ′ 0 =<br />

= nanx n−1 +(n−1)an−1x n−2 +...+a1.<br />

Será conveniente chamar <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m zero <strong>de</strong> uma f(x) a própria<br />

função, em símbolos: f (0) (x) := f(x).<br />

Também chamar <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 1 a <strong>de</strong>rivada usual: f (1) (x) := f ′ (x), bem<br />

como f (2) (x) := f ′′ (x) e assim por diante.<br />

É fundamental o fato seguinte:<br />

Teorema 4.1. Seja f(x) um polinômio <strong>de</strong> grau n a coeficientes Reais.<br />

São equivalentes as seguintes afirmações:<br />

• i) f(x) = (x−x) k+1 ·g(x), on<strong>de</strong> g(x) é um polinômio <strong>de</strong> grau n−(k+1) a<br />

coeficientes Reais.<br />

• ii) f (0) (x) = f (1) (x) = ... = f (k) (x) = 0 , on<strong>de</strong> 0 ≤ k ≤ n−1.<br />

Demonstração.<br />

i) implica ii) :<br />

Suponho f(x) = (x−x) k+1 ·g(x), on<strong>de</strong> g(x) é um polinômio <strong>de</strong> grau n−(k+1).<br />

Note que f ′ (x) = (k+1)(x−x) k g(x)+(x−x) k+1 g ′ (x) é uma soma e cada parcela<br />

<strong>de</strong>ssa soma tem um fator (x−x) k ou (x−x) k+1 . Asssim também ocorre com qualquer<br />

das <strong>de</strong>rivadas f (i) (x), com 0 ≤ i ≤ k ≤ n−1: são somas on<strong>de</strong> cada parcela da soma<br />

tem algum fator <strong>de</strong>ntre:<br />

Logo f (i) (x) = 0, se 0 ≤ i ≤ k.<br />

(x−x) k+1 , (x−x) k , ..., (x−x) 2 , (x−x).<br />

ii) implica i) :<br />

Proce<strong>de</strong>remos por indução em k.<br />

Se k = 0, ou seja, k +1 = 1, já vimos no Teorema 7.1 do Capítulo 6 que<br />

f (0) (x) := f(x) = 0 ⇒ f(x) = (x−x)·g(x),<br />

on<strong>de</strong> o grau <strong>de</strong> g é n−1.<br />

Tentemos provar para k = m ≤ n − 1, supondo válido o resultado para todo<br />

k ≤ m−1.<br />

Nossa hipótese será que<br />

f (0) (x) = f (1) (x) = ... = f (m) (x) = 0.


4. RAÍZES MÚLTIPLAS E FATORAÇÃO DE POLINÔMIOS 172<br />

Em particular:<br />

f (0) (x) = f (1) (x) = ... = f (m−1) (x) = 0<br />

e a hipótese <strong>de</strong> indução dá:<br />

f(x) = (x−x) m ·g(x)<br />

para um polinômio g(x) <strong>de</strong> grau n−m. Precisamos ver que<br />

para termos o resultado <strong>de</strong>sejado:<br />

g(x) = (x−x)·g(x)<br />

f(x) = (x−x) m ·[(x−x)·g(x)] = (x−x) m+1 ·g(x).<br />

Pensemos por absurdo, que<br />

g(x) = (x−x)·g(x)<br />

para todo g(x) <strong>de</strong> grau n−m−1.<br />

Pelo Teorema 7.1 do Capítulo 6 aplicado ao g(x):<br />

Mas como<br />

g(x) = 0.<br />

f(x) = (x−x) m ·g(x) = (x−x) k ·g(x)<br />

então a <strong>de</strong>rivada f (m) (x) = f (k) (x) é uma soma on<strong>de</strong> cada parcela tem algum fator<br />

<strong>de</strong>ntre<br />

(x−x) k , ..., (x−x) 2 , (x−x)<br />

exceto uma última parcela que é do tipo C ·g(x), C ∈ R\{0}.<br />

As parcelas todas que formam f (m) (x) = f (k) (x) se anulam x, exceto a parcela<br />

que contém o fator C ·g(x). Logo f (m) (x) = 0: contradição.<br />

Portanto, como queríamos:<br />

g(x) = (x−x)·g(x).<br />

Paraenten<strong>de</strong>roqueacontecenumentorno<strong>de</strong>umaraízmúltiplax<strong>de</strong>umpolinômio<br />

y = p(x) temos:<br />

Afirmação 4.1. Se x é uma raíz <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m exatamente 2n, n ∈ N, então (x,0) é<br />

ponto <strong>de</strong> máximo ou <strong>de</strong> mínimo local <strong>de</strong> y = p(x).<br />

Se x é uma raíz <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m exatamente 2n + 1, n ∈ N, então (x,0) é ponto <strong>de</strong><br />

inflexão <strong>de</strong> y = p(x).<br />

Demonstração.<br />

A suposição <strong>de</strong> que x é uma raíz <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m exatamente 2n, n ∈ N significa que:<br />

f(x) = (x−x) 2n ·g(x),<br />

on<strong>de</strong> g(x) é um polinômio a coeficientes Reais tal que<br />

g(x) = 0.<br />

Então, como vimos na Afirmação anterior,<br />

p(x) = p ′ (x) = p ′′ (x) = ... = p (2n−1) (x) = 0


CAPÍTULO 13. DERIVADA DO PRODUTO, INDUÇÃO E A DERIVADA DE<br />

XN , N ∈ Z. 173<br />

mas se fizermos a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2n temos algo do tipo:<br />

e portanto<br />

p (2n) (x) = (2n)!·g(x)+(x−x)·h(x)<br />

p (2n) (x) = 0.<br />

A Afirmação 8.1 do Capítulo 11 diz que há máximo ou mínimo local.<br />

Já a suposição <strong>de</strong> que x é uma raíz <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m exatamente 2n+1, n ∈ N significa<br />

que:<br />

f(x) = (x−x) 2n+1 ·g(x),<br />

on<strong>de</strong> g(x) é um polinômio a coeficientes Reais tal que<br />

Então<br />

g(x) = 0.<br />

p(x) = p ′ (x) = p ′′ (x) = ... = p (2n) (x) = 0<br />

mas se fizermos a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2n+1 temos algo do tipo:<br />

e portanto<br />

p (2n+1) (x) = (2n+1)!·g(x)+(x−x)·h(x)<br />

p (2n+1) (x) = 0.<br />

A Afirmação 8.1 do Capítulo 11 diz que há uma inflexão.<br />

5. A Regra <strong>de</strong> Sinais <strong>de</strong> Descartes para as raízes <strong>de</strong> um polinômio<br />

Neste Capítulo, que trata da indução matemática po<strong>de</strong>remos provar uma regra<br />

clássica, que possivelmente remonta a Harriot (1631) e que teria chegado a Descartes<br />

via a obra <strong>de</strong> Cardano.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma estimativa dos número <strong>de</strong> raízes Reais <strong>de</strong> um polinômio. Inicialmente<br />

se estima as raízes positivas, mas facilmente se adapta para as negativas.<br />

Precisaremos da indução matemática sobre o grau n do polinômio. O procedimento<br />

para recair em grau n−1 será <strong>de</strong>rivar o polinômio dado.<br />

Começemos introduzindo algumas convenções e notações.<br />

Quando x é uma raíz <strong>de</strong> p(x) <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m exatamente n diremos que, contada com<br />

multiplicida<strong>de</strong>, ela vale por n raízes. O número <strong>de</strong> raízes positivas <strong>de</strong> um polinômio<br />

p(x) contadas com multiplicida<strong>de</strong> será <strong>de</strong>notado a seguir ZP(p).<br />

Or<strong>de</strong>nados pelo grau crescente <strong>de</strong> cada monômio, consi<strong>de</strong>re o número <strong>de</strong> vezes<br />

que muda o sinal dos coeficientes sucessivos <strong>de</strong> um polinômio p(x). Esse número será<br />

<strong>de</strong>notado por MS(p). Por exemplo,<br />

MS(−1+3x−3x 2 +x 3 ) = 3 e ZP(p) = 3, 0 < x = 1<br />

MS(−1−3x−3x 2 +x 3 ) = 1 e ZP(p) = 1, 0 < x = 2 2/3 +2 1/3 +1<br />

MS(1+x 2 ) = 0 e ZP(p) = 0,<br />

MS(−1+x) = 1 e ZP(p) = 1, 0 < x = 1.


5. A REGRA DE SINAIS DE DESCARTES PARA AS RAÍZES DE UM<br />

POLINÔMIO 174<br />

Em seu livro Geometria, Descartes dá como exemplo:<br />

p(x) = −120+106·x−19·x 2 −4·x 3 +x 4<br />

para o qual<br />

MS = 3 e ZP(p) = 3, 0 < x = 2,3,4.<br />

Posso dar mais dois exemplos:<br />

tem<br />

tem<br />

p(x) = 2−3·x+3·x 2 −3·x 3 +x 4<br />

MS = 4 e ZP(p) = 2, 0 < x = 1,2;<br />

p(x) = 8−12·x+14·x 2 −15·x 3 +7·x 4 −3·x 5 +x 6<br />

MS = 6 e ZP(p) = 2, 0 < x = 1,2.<br />

Afirmação 5.1. (parte da Regra <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> Descartes)<br />

Seja p(x) = a0+ak1 ·x k1 +ak2 ·x k2 +...+an·x n , polinômio a coeficientes Reais<br />

<strong>de</strong> grau n ≥ 1 com<br />

Então:<br />

a0 ·aki = 0 e 1 ≤ k1 ≤ k2 ≤ ... ≤ n.<br />

i) Se a0 ·an > 0 então ZP(p) é um número par 1 . Se a0 ·an < 0 então ZP(p) é<br />

um número ímpar.<br />

ii) ZP(p) = MS(p) ou ZP(p) = MS(p)−2·j para algum j ∈ N.<br />

Claro que o número <strong>de</strong> raízes negativas <strong>de</strong> p(x) po<strong>de</strong> também ser estimado,<br />

consi<strong>de</strong>rando-se a mesma Afirmação 5.1, mas aplicada agora para o novo polinômio:<br />

Demonstração. (da Afirmação 2 5.1)<br />

Prova do item i):<br />

Caso a0 ·an > 0:<br />

q(x) := p(−x).<br />

Após possível multiplicação por −1, posso supôr que<br />

a0 > 0 e an > 0.<br />

Ou bem o gráfico <strong>de</strong> y(x) não intersecta o eixo dos x > 0 - e nesse caso ZP(p) = 0<br />

- ou bem o faz <strong>de</strong> dois modos possíveis:<br />

1 Adoto a convenção <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar 0 como número par.<br />

2 A prova que dou <strong>de</strong>sta Afirmação expõe o que se apren<strong>de</strong> no artigo <strong>de</strong> Xiaoshen Wang, A<br />

simple proof of Descartes’s rule of signs, The American Mathematical Monthly, Vol. 111, No. 6, p.<br />

525-526. 2004


CAPÍTULO 13. DERIVADA DO PRODUTO, INDUÇÃO E A DERIVADA DE<br />

XN , N ∈ Z. 175<br />

• i): tangenciando o eixo. Formando portanto máximos ou mínimos locais <strong>de</strong><br />

y = p(x): nesse caso araíztemmultiplicida<strong>de</strong> par(comparecomaAfirmação<br />

4.1). A contribução a ZP(p) <strong>de</strong>ssas tangências é par.<br />

• ii): atravessando o eixo x > 0. O que po<strong>de</strong> ser feito transversalmente ou<br />

formando inflexões. Neste caso cada raíz tem multiplicida<strong>de</strong> ímpar (compare<br />

com a Afirmação 4.1). Mas como<br />

p(0) = a0 > 0 e lim p(x) = +∞,<br />

x→+∞<br />

pois an > 0, concuimos que cada vez que o eixo x > 0 é atravessado pelo<br />

gráfico no ponto x 1 no sentido do semi-plano y > 0 ao semiplano y < 0<br />

<strong>de</strong>verá haver uma outra raíz x 2 em que o gráfico atravessa o eixo x > 0 no<br />

sentido do semi-plano y < 0 ao semiplano y > 0. Então as raízes x 1 e x 2<br />

contribuem juntas para ZP(p) com um número par, soma <strong>de</strong> dois ímpares.<br />

Logo ZP(p) é par (incluindo o 0).<br />

Caso a0 ·an < 0:<br />

Após possível multiplicação por −1, posso supôr que<br />

a0 > 0 e an < 0.<br />

Como<br />

p(0) = a0 > 0 e lim p(x) = −∞,<br />

x→+∞<br />

pois an < 0, o T.V.I. nos garante que há alguma raíz e portanto ZP(p) ≥ 1. O<br />

mesmo tipo <strong>de</strong> argumento do Caso anterior agora dá que ZP(p) é ímpar.<br />

Prova do item ii):<br />

Será feita por indução no grau n.<br />

Para n = 1 temos p(x) = a0 +a1 ·x.<br />

A condição MS(p) = 0 equivale a a0 ·a1 > 0. E nesta situação a raíz<br />

x = − a0<br />

dá que ZP(p) = 0.<br />

A condição MS(p) = 1 equivale a a0 ·a1 < 0. E nesta situação a raíz<br />

a1<br />

x = − a0<br />

a1<br />

< 0<br />

> 0<br />

dá que ZP(p) = 1.<br />

Portanto ZP(p) = MS(p) e o item ii) vale para n = 1.<br />

Suponhamos como hipótese <strong>de</strong> indução que a afirmação do item ii)<br />

ZP(p) = MS(p) ou ZP(p) = MS(p)−2·j, j ∈ N<br />

valha para quaisquer polinômios <strong>de</strong> grau ≤ n−1.<br />

Será útil re-enunciar esta hipótese da seguinte maneira equivalente:


5. A REGRA DE SINAIS DE DESCARTES PARA AS RAÍZES DE UM<br />

POLINÔMIO 176<br />

Hipótese: para quaisquer polinômios <strong>de</strong> grau ≤ n−1 vale ZP(p) ≤ MS(p) e, ou<br />

bem ZP(p) e MS(p) são pares ou bem ZP(p) e MS(p) são ímpares.<br />

Seja agora o polinômio a coeficientes Reais <strong>de</strong> grau n ≥ 2:<br />

p(x) = a0 +ak1 ·x k1 +ak2 ·x k2 +...+an ·x n ,<br />

a0 ·aki = 0 e 1 ≤ k1 ≤ k2 ≤ ... ≤ n.<br />

Se divi<strong>de</strong> o resto da prova em dois casos:<br />

Caso 1) a0 ·ak1 > 0:<br />

Consi<strong>de</strong>ro a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> p(x)<br />

p ′ (x) = (k1 ·ak1 ·x k1−1 +k2 ·ak2 ·x k2−1 +...+n·an ·x n ,<br />

Note que a0 ·ak1 > 0 garante que<br />

MS(p) = MS(p ′ ).<br />

A<strong>de</strong>mais, como a0 e ak1 têm o mesmo sinal e como o sinal do coeficiente do termo<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m mais alta <strong>de</strong> p e <strong>de</strong> p ′ é o mesmo, a aplicação do Item i) já provado a p(x)<br />

e <strong>de</strong>pois a p ′ (x) dirá que ou bem ZP(p) e ZP(p ′ ) são números pares ou bem ZP(p)<br />

e ZP(p ′ ) são números ímpares.<br />

Aplico a hipótese <strong>de</strong> indução a p ′ (x), cujo grau é n−1: ZP(p ′ ) ≤ MS(p ′ ) e, ou<br />

bem ZP(p ′ ) e MS(p ′ ) são pares ou bem ZP(p ′ ) e MS(p ′ ) são ímpares.<br />

Concluo por enquanto que ou bem ZP(p) e MS(p) são pares ou bem ZP(p) e<br />

MS(p) são ímpares. Isso já prova parte do Item ii).<br />

Agora, pelo Teorema <strong>de</strong> Rolle:<br />

ZP(p ′ ) ≥ ZP(p)−1<br />

pois não po<strong>de</strong>m haver duas raízes sucessivas <strong>de</strong> p(x) sem que entre elas haja uma raíz<br />

<strong>de</strong> p ′ (x).<br />

Então:<br />

ou seja,<br />

MS(p) = MS(p ′ ) ≥ ZP(p ′ ) ≥ ZP(p)−1,<br />

MS(p)+1 ≥ ZP(p).<br />

Como sabemos que ou bem ZP(p) e MS(p) são pares ou bem ZP(p) e MS(p) são<br />

ímpares isso força que:<br />

MS(p) ≥ ZP(p),<br />

como queríamos para completar o Item ii).<br />

Caso 2) a0 ·a1 < 0: a prova é bem parecida.


CAPÍTULO 13. DERIVADA DO PRODUTO, INDUÇÃO E A DERIVADA DE<br />

XN , N ∈ Z. 177<br />

6. Exercícios<br />

Exercício 6.1. (resolvido)<br />

Prove por indução: n! ≥ 2 n−1 , ∀n ≥ 2.<br />

Exercício 6.2. Derive o produto <strong>de</strong> três funções (<strong>de</strong>riváveis):<br />

(f(x)·g(x)·h(x)) ′<br />

Exercício 6.3. Produza 4 exemplos <strong>de</strong> polinômios p <strong>de</strong> grau 6 em que, no item ii)<br />

da Afirmação 5:<br />

ZP(p) = MS(p)−2·j,<br />

o número j ∈ N vale j = 0,1,2,3.


CAPíTULO 14<br />

Derivada da composição <strong>de</strong> funções<br />

A composição <strong>de</strong> funções simples produzindo funções complicadas é o análogo<br />

matemático da composição <strong>de</strong> processos simples que produzem efeitos complicados<br />

na natureza, nas reações químicas, nos processos biológicos, etc.<br />

Daí a importância <strong>de</strong> sabermos <strong>de</strong>rivar composições.<br />

1. Regra da composta ou da ca<strong>de</strong>ia<br />

A palavra que costuma se usar regra ca<strong>de</strong>ia po<strong>de</strong>ria ser substituída pelo sinônimo<br />

regra da corrente, pois uma corrente é algo feito <strong>de</strong> elos simples.<br />

A regra <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação da função composta combina as <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> cada constituinte<br />

da corrente <strong>de</strong> um modo bem <strong>de</strong>terminado, como veremos.<br />

Antes <strong>de</strong> enunciá-la em geral, consi<strong>de</strong>ro algumas composições específicas, que nos<br />

ajudarão a enten<strong>de</strong>r a regra geral.<br />

Consi<strong>de</strong>reasfunçõesfn(x) := n·x,comn ∈ Nfixado, g(x) = sin(x)eascompostas<br />

(g ◦ fn)(x) = sin(n · x). Suponha que fazemos a restrição g : [0,2π] → R. Então<br />

quando x percorre [0,2π] o parâmetro z := n·x percorre n vezes esse intervalo. Ou<br />

seja que o gráfico da a função sin(n·x) é formado por n cópias do gráfico do seno,<br />

claro que mais comprimidas. Abaixo pot o seno e sin(3x):<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

1 2 3 4 5<br />

x<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> y = sin(x) (vermelho) e <strong>de</strong> y = sin(3x)<br />

(ver<strong>de</strong>) para x ∈ [0,2pi].<br />

Como vimos no Capítulo 12, o cosseno é a <strong>de</strong>rivada do seno: on<strong>de</strong> o cosseno é<br />

positivo (negativo) o seno é crescente (<strong>de</strong>crescente), on<strong>de</strong> o cosseno se anula o seno<br />

tem seus máximos ou mínimos, etc. Ora, a função cos(nx) satisfaz qualitativamente<br />

todas essas exigências, ou seja, se comporta qualitativamente como se fosse a <strong>de</strong>rivada<br />

<strong>de</strong> sin(nx). Ou seja, como fizemos na Parte 1 <strong>de</strong>ste curso, on<strong>de</strong> os gráficos <strong>de</strong> f ′ e f<br />

eram corretos apenas qualitativamente.<br />

179<br />

6


1. REGRA DA COMPOSTA OU DA CADEIA 180<br />

Veja isso na próxima Figura, com n = 3:<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

0,5 1<br />

x<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> y = sin(3x) (vermelho) e <strong>de</strong> y = cos(3x)<br />

(ver<strong>de</strong>) para x ∈ [0,2π].<br />

Mas o que esta Figura não tem <strong>de</strong> quantitativamente correto é o fato <strong>de</strong> que para<br />

que sin(3x) faça 3 vezes o que o seno usual faz quando x percorre [0,2π], sin(3x) tem<br />

que ser mais rápido que o seno usual. Ou seja, em cada ponto as inclinações das<br />

tangentes <strong>de</strong> sin(3x) são maiores que as do seno usual. Quanto maiores? Exatamente<br />

3 vezes maiores.<br />

Por isso a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> sin(3x) quantitativamente correta não é cos(3x) mas sim:<br />

e mais em geral:<br />

Mostro isso na Figura a seguir:<br />

sin(3x) ′ = 3cos(3x)<br />

sin(nx) ′ = ncos(nx)<br />

3<br />

2<br />

1<br />

-3<br />

1,5<br />

0<br />

0 0,5 1 1,5 2<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> y = sin(3x) (vermelho) e <strong>de</strong> sua<br />

<strong>de</strong>rivada (ver<strong>de</strong>) para x ∈ [0,2π].<br />

Agora consi<strong>de</strong>r uma outra composição: f(x) = x 2 e g(x) = sin(x), ou seja (g ◦<br />

f)(x) = sin(x 2 ). A diferença para o exemplo anterior, sin(3x) é que à medida que x<br />

se aproxima <strong>de</strong> 2π x 2 cresce cada vez mais rápido e a função sin(x 2 ) faz aquilo que o<br />

seno faz em cada vez menores intervalos, como mostra a figura a seguir:<br />

2


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 181<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 1 2 3 4<br />

-0,5 x<br />

-1<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> y = sin(x) (vermelho) e<br />

<strong>de</strong> y = sin(x 2 ) (ver<strong>de</strong>) para x ∈ [0,2π].<br />

Qualitativamente falando, cos(x 2 ) se comporta como esperamos da <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong><br />

sin(x 2 ):<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 1 2 3 4<br />

-0,5 x<br />

-1<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> y = sin(x 2 ) (vermelho) e<br />

<strong>de</strong> y = cos(x 2 ) (ver<strong>de</strong>) para x ∈ [0,2π].<br />

De novo, o que está quantitativamente errado: as inclinações do gráfico <strong>de</strong> y =<br />

sin(x 2 ) estão ficando cada vez maiores quando x se aproxima <strong>de</strong> 2π. De quanto precisamos<br />

multiplicar a função qualitativamente correta da <strong>de</strong>rivada para termos uma<br />

função quntitativamente exata da <strong>de</strong>rivada ? A resposta como vermos é: precisamos<br />

multiplicar pela função 2x ! Ou seja, para cada x > 0 a correção muda neste exemplo:<br />

A Figura a seguir superpõe os gráficos y = sin(x 2 ) e <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>rivada, que veremos<br />

é cos(x 2 ) · 2x, e, a<strong>de</strong>mais dá os gráficos <strong>de</strong> y = 2x e y = −2x. Essas retas passam<br />

pelos pontos <strong>de</strong> máximo e mínimo locais da <strong>de</strong>rivada.<br />

5<br />

5<br />

6<br />

6


1. REGRA DA COMPOSTA OU DA CADEIA 182<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0 1 2 3 4 5 6<br />

-5<br />

-10<br />

x<br />

Figura: y = sin(x 2 ) (vermelho), sua <strong>de</strong>rivada (ver<strong>de</strong>), y = 2x e<br />

y = −2x, para x ∈ [0,2π].<br />

Por último, volto num limite calculado como Exercício 5.4 do Capítulo 8:<br />

lim<br />

x→0<br />

Po<strong>de</strong>mos olhá-lo do seguinte modo:<br />

sin(k ·x)<br />

x<br />

= k.<br />

sin(k ·x)−sin(k ·0)<br />

lim = k<br />

x→0 x<br />

e reconhecemos então a <strong>de</strong>finição da <strong>de</strong>rivada da composta sin(k ·x) em x = 0.<br />

O Teorema a seguir generaliza essas observações:<br />

Teorema 1.1. Sejam f : I → J e g : K → L funções <strong>de</strong>finidas em intervalos, com<br />

a imagem J <strong>de</strong> f contida no domínio K <strong>de</strong> g, J ⊂ K. Se f e g são seriváveis então<br />

a função composta (g ◦ f) : I → L, <strong>de</strong>finida por (g ◦ f)(x) := g(f(x)) também é<br />

<strong>de</strong>rivável e a<strong>de</strong>mais:<br />

(g ◦f) ′ (x) = g ′ (f(x))·f ′ (x).<br />

A notação <strong>de</strong> Leibniz:<br />

A notação <strong>de</strong> G. Leibniz para a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> y = f(x) é dy<br />

. O valor <strong>de</strong> sua notação<br />

dx<br />

fica claro quando escrevemos a regra da <strong>de</strong>rivada da composta. Para y = f(x),<br />

u = g(y) e u = g(f(x)):<br />

du du dy<br />

= ·<br />

dx dy dx .<br />

O leitor verá, por exemplo no Capítulo 37, como é útil e confortável a notação <strong>de</strong><br />

Leibniz.<br />

A prova da Afirmação 1.1 é técnica, prefiro tirar consequências.<br />

A primeira consequência é que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivar um número qualquer <strong>de</strong> composições.<br />

Por exemplo, para tres funções po<strong>de</strong>mos afirmar:


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 183<br />

Afirmação 1.1. Sejam f : I → J, g : K → L e h : M → N, com J ⊂ K e L ⊂ M.<br />

Se f,g,h são <strong>de</strong>riváveis, então a função composta (h ◦ g ◦ f) : I → L, <strong>de</strong>finida por<br />

(h◦g ◦f)(x) := h(g(f(x))) é <strong>de</strong>rivável e a<strong>de</strong>mais:<br />

(h◦g ◦f) ′ (x) = h ′ (g(f(x)))·g ′ (f(x))·f ′ (x).<br />

Demonstração. De fato, associo h◦g◦f = h◦(g◦f) e uso o Teorema 1.1 duas<br />

vezes:<br />

(h◦(g ◦f)) ′ (x) = h ′ (g(f(x)))·(g ◦f) ′ (x) =<br />

= h ′ (g(f(x)))·g ′ (f(x))·f ′ (x).<br />

NoCapítulo16sobrefunçõesinversasvamosdaraplicaçõesimportantesda<strong>de</strong>rivada<br />

da composta.<br />

Vejamos agora alguns exemplos simples:<br />

• f = sin(x), g = x 2 , então (g ◦f) ′ = 2·(sin(x))·cos(x)<br />

• f = cos(x), g = x 2 , (g ◦f) ′ = 2·(cos(x))·(−sin(x)) = −2·cos(x)·sin(x).<br />

• como consequência <strong>de</strong>sse dois itens e da <strong>de</strong>rivada da soma:<br />

(sin(x) 2 +cos(x) 2 ) ′ = 2·sin(x)·cos(x)−2·cos(x)·sin(x) ≡ 0,<br />

o que é natural já que sin(x) 2 +cos(x) 2 ≡ 1.<br />

• f(x) = x 2 e g(x) = sin(x), então (g ◦f) ′ (x) = cos(x 2 )·2·x.<br />

2. A <strong>de</strong>rivada do quociente<br />

Agora uma aplicação da regra da composta aos quocientes <strong>de</strong> funções:<br />

Afirmação 2.1. Sejam f e g funções <strong>de</strong>riváveis com g nunca nula. Então<br />

Em particular:<br />

( f(x)<br />

Demonstração.<br />

Vou escrever primeiro<br />

e <strong>de</strong>rivar esse produto:<br />

g(x) )′ (x) = f′ (x)·g(x)−f(x)·g ′ (x)<br />

g2 (x)<br />

( 1<br />

g )′ (x) = − g′ (x)<br />

g 2 (x) .<br />

f(x)<br />

g(x)<br />

( f(x)<br />

g(x) )′ (x) = f ′ (x)·<br />

= f(x)·<br />

1<br />

g(x)<br />

1 1<br />

+f(x)·(<br />

g(x) g(x) )′ (x),<br />

Agora olho 1<br />

g(x) como a composição <strong>de</strong> duas funções f1(x) = g(x) e f2(x) = 1<br />

x = x−1 :<br />

1<br />

g(x) = (f2 ◦f1)(x).<br />

.


2. A DERIVADA DO QUOCIENTE 184<br />

Já sabemos <strong>de</strong>rivar f2(x) = 1<br />

da composta dá:<br />

Junto tudo:<br />

x = x−1 , <strong>de</strong> fato: f ′ 2<br />

( 1<br />

g(x) )′ (x) = (f2 ◦f1) ′ (x) =<br />

( f(x)<br />

g(x) )′ (x) = f ′ (x)·<br />

= f ′ (x)·<br />

= f ′ 2(f1(x))·f ′ 1(x) =<br />

= − 1<br />

g 2 (x) ·g′ (x).<br />

(x) = − 1<br />

x 2 = −x −2 . Então a regra<br />

1 1<br />

+f(x)·(<br />

g(x) g(x) )′ (x) =<br />

1 1<br />

+f(x)·(−<br />

g(x) g2 (x) ·g′ (x)) =<br />

= f′ (x)·g(x)−f(x)·g ′ (x)<br />

g2 ,<br />

(x)<br />

como queríamos. <br />

Exemplos:<br />

• Funções racionais são quocientes <strong>de</strong> polinômios f<br />

. On<strong>de</strong> g não se anula, a<br />

g<br />

fórmula da Afirmação 2.1 nos diz como <strong>de</strong>rivá-las.<br />

• A tangente é um quociente <strong>de</strong> funções <strong>de</strong>riváveis tan(x) = sin(x)<br />

cos(x)<br />

cosseno não se anula po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>rivá-la obtendo:<br />

tan ′ (x) = cos(x)·cos(x)−sin(x)·(−sin(x))<br />

cos 2 (x)<br />

=<br />

1<br />

cos 2 (x)<br />

e com a nomenclatura conhecida sec(x) := 1<br />

cos(x)<br />

tan ′ (x) = sec 2 (x).<br />

Então claramente tan ′ (0) = 1<br />

cos 2 (0)<br />

lim<br />

xր π<br />

2<br />

tan ′ (x) = lim<br />

xւ −π<br />

2<br />

= 1 e<br />

tan ′ (x) = +∞.<br />

=<br />

o que temos é<br />

. On<strong>de</strong> o<br />

A seguir plotei os gráficos da tangente e <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>rivada restritas ao<br />

intervalo (−1,1). Não pu<strong>de</strong> usar um intervalo mais parecido com o domínio<br />

) porque os valores da tangente ficam muito gran<strong>de</strong> em módulo.<br />

(−π π , 2 2


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 185<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-1 -0,5 0 0,5 1<br />

x<br />

-1<br />

Figura: A função tangente (vermelho) e sua <strong>de</strong>rivada (ver<strong>de</strong>) restritas a (−1,1).<br />

3. Uma função que ten<strong>de</strong> a zero oscilando<br />

Afirmação 3.1. A funçãof : [1,+∞) → R dadapor f(x) = sin(x2 )<br />

x tem limx→+∞f(x) =<br />

0 mas não existe limx→+∞f ′ (x).<br />

Demonstração.<br />

Como |sin(x2 )| ≤ 1 e limx→+∞ 1<br />

x = 0 então limx→+∞ sin(x2 )<br />

x<br />

Para x > 0, a <strong>de</strong>rivada do quociente dá:<br />

f ′ (x) = cos(x2 )·2x−sin(x 2 )·1<br />

x 2<br />

= 0.<br />

= 2 cos(x 2 )− sin(x2 )<br />

x 2<br />

e portanto quando x é muito gran<strong>de</strong> f ′ (x) ≈ 2 cos(x 2 ), ou seja, f ′ (x) percorre muitos<br />

valores no intervalo [−1,1], portanto f ′ (x) não ten<strong>de</strong> a nenhum valor específico.<br />

<br />

A Figura a seguir ilustra em vermelho a f e em ver<strong>de</strong> f ′ , com x ∈ [1,10]:<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

2 4 6 8<br />

10


4. CONFECÇÃO DE GRÁFICOS DE FUNÇÕES RACIONAIS 186<br />

Já o comportamento <strong>de</strong> f(x) = sin(x2 )<br />

x quando x → 0 será tema do Exercício 16.10<br />

no Capítulo 22.<br />

4. Confecção <strong>de</strong> gráficos <strong>de</strong> funções racionais<br />

Exemplo: Consi<strong>de</strong>re y = f(x) = 1<br />

2<br />

− 4<br />

x 2 +4 .<br />

Talvez a primeira coisa a se observar é que f(x) é uma função par, f(x) = f(−x),<br />

pois essa simetria em relação ao eixo dos y ajuda muito para confeccionar o gráfico.<br />

Como f(x) = x2−4 2(x2 , essa função se anula quando x = ±2 e é positiva exatamente<br />

+4)<br />

quando |x| > 2.<br />

A<strong>de</strong>mais, uma bonita simplificação dá f ′ (x) = 8x<br />

(x 2 +4) 2. Ou seja que, x = 0 é ponto<br />

crítico e, a<strong>de</strong>mais, é mínimo local pois nele a f ′ (x) passa <strong>de</strong> negativa para positiva.<br />

Também é fácil ver que:<br />

1<br />

lim f(x) = lim f(x) =<br />

x→+∞ x→−∞ 2 ,<br />

embora sempre f(x) < 1 1 ; ou seja, y = é assíntota horizontal.<br />

2 2<br />

Para ver se há inflexões faço uma conta um pouco maior e obtenho:<br />

f ′′ (x) = − 8(3x2 −4)<br />

(x 2 +4) 3<br />

que se anula em x = ± 2<br />

√<br />

3. Ou seja, a concavida<strong>de</strong> <strong>de</strong> y = f(x) é para baixo<br />

3<br />

em (−∞,− 2<br />

√ √ √<br />

2 2<br />

3), muda para cima em (− 3, 3) e volta a ser para baixo em<br />

3<br />

3 3<br />

( 2<br />

√<br />

3,+∞). 3<br />

A figura a seguir ilustra tudo isso (apenas qualitativamente, já que as escalas nos<br />

eixos são diferentes):<br />

Exemplo:<br />

-10<br />

0,4<br />

0,2<br />

x<br />

-5 0<br />

0<br />

-0,2<br />

-0,4<br />

5<br />

10


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 187<br />

Agora vamos fazer o gráfico da função racional<br />

f : R\{−1,1} → R, f(x) = x3 +8x<br />

x 2 −1 .<br />

Novamente queremos estar corretos apenas qualitativamente.<br />

Como o numerador <strong>de</strong> f(x) é x·(x 2 +8), temos que f(x) = 0 exatamente se x = 0.<br />

O numerador <strong>de</strong> f é negativo se x < 0 e positivo se x > 0. Já o <strong>de</strong>nominador <strong>de</strong> f(x)<br />

é negativo se −1 < x < 1 e positivo no resto do domínio.<br />

Ou seja,<br />

• f(x) = 0 exatamente se x = 0;<br />

• f(x) > 0 se −1 < x < 0 ou x > 1.<br />

• f(x) < 0 se x < −1 ou se 0 < x < 1.<br />

Não é difícil ver que:<br />

lim f(x) = −∞ lim f(x) = +∞,<br />

xր−1 xց−1<br />

lim f(x) = −∞ lim f(x) = +∞.<br />

xր1 xց1<br />

Agora examino (<strong>de</strong>rivando pela regra do quociente):<br />

f ′ (x) = x4 −11x2 −8<br />

(x2 −1) 2<br />

.<br />

O numerador é do tipo z 2 −11z −8, com z = x 2 .<br />

Então f ′ (z) = 0 exatamente se<br />

z = 11± (11) 2 +4·8<br />

2<br />

= 11±√ 153<br />

2<br />

= 11±3·√ 17<br />

.<br />

2<br />

Mas 11−3·√ 17<br />

2 < 0, portanto, se queremos <strong>de</strong>terminar x ∈ R on<strong>de</strong> f ′ (x) = 0, <strong>de</strong>vemos<br />

tomar:<br />

Po<strong>de</strong>mos aproximar grosseiramente √ 17 ≈ 4 e<br />

<br />

11+3·<br />

x = ±<br />

√ 17<br />

.<br />

2<br />

√<br />

11+3· 17 ≈ 2 √ 15 ≈ 3.<br />

Ou seja que a <strong>de</strong>rivada f ′ (x) se anula num ponto x 1 ≈ 3 e noutro x 2 ≈ −3.<br />

Antes <strong>de</strong> examinar f ′′ (x), note que não é difícil se convencer <strong>de</strong> que:<br />

lim f(x) = +∞,<br />

x→+∞<br />

Como limxց1 f(x) = +∞ isso indica que x 1 ≈ 3 é ponto <strong>de</strong> mínimo local da f (sem<br />

usar qualquer teste).<br />

Por outro lado como<br />

lim f(x) = −∞<br />

x→−∞<br />

e limxր−1 f(x) = −∞, isso indica que x 2 ≈ −3 é máximo local da f (sem usar<br />

qualquer teste).


4. CONFECÇÃO DE GRÁFICOS DE FUNÇÕES RACIONAIS 188<br />

Agora, com a regra da <strong>de</strong>rivada do quociente, da composta e após simplificações,<br />

obtemos:<br />

f ′′ (x) = 18x(x2 +3)<br />

(x2 .<br />

−1) 3<br />

Claramente f ′′ (x) se anula apenas em x = 0 e nesse ponto muda <strong>de</strong> sinal. Logo<br />

x = 0 é um ponto <strong>de</strong> inflexão.<br />

Para −1 < x < 0 ou para x > 1 temos f ′′ (x) > 0 e concavida<strong>de</strong> para cima.<br />

Mas para x < −1 ou 0 < x < 1 temos concavida<strong>de</strong> para baixo.<br />

Em particular, f ′′ (x 1) > 0 e f ′′ (x2) < 0 o que comprova que são mínimo e máximo<br />

locais respectivamente.<br />

As três Figuras a seguir resumem essas observações: a primeira pega parte da<br />

região x < −1, a segunda, parte da região −1 < x < 1 e a terceira, parte da região<br />

x > 1.<br />

-5<br />

-4,5<br />

-4<br />

-3,5<br />

x<br />

-3<br />

-2,5<br />

-2<br />

-1,5<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = x3 +8x<br />

x2 , x ∈ [−5,−1.5].<br />

−1<br />

-0,8<br />

-0,4<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0<br />

-5<br />

x<br />

-10<br />

-15<br />

0,4<br />

-7<br />

-8<br />

-9<br />

0,8<br />

-10<br />

-11<br />

-12


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 189<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = x3 +8x<br />

x2 , x ∈ [−0.8,0.8].<br />

−1<br />

12<br />

11<br />

10<br />

9<br />

8<br />

7<br />

2<br />

3<br />

4<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = x3 +8x<br />

x2 , x ∈ [1.5,5]. −1<br />

5. Involuções fracionais lineares<br />

Vimos nos Exercícios do Capítulo 7 que f(x) = 1<br />

x tem f = f−1 , ou seja, é uma<br />

involução.<br />

Agora que sabemos <strong>de</strong>rivar as funções racionais, vamos po<strong>de</strong>r mostrar que há<br />

involuções que são quocientes <strong>de</strong> funções lineares:<br />

Afirmação 5.1. As funções racionais f : R\{ α}<br />

→ R dadas por<br />

γ<br />

f(x) = α·x+β<br />

γ ·x−α , com α2 +β ·γ = 0<br />

(on<strong>de</strong> α,β,γ ∈ R) são inversíveis, são involuções e portanto têm gráficos simétricos<br />

relativos à diagonal.<br />

A<strong>de</strong>mais, funções racionais do tipo<br />

f(x) = α·x+β<br />

, com α·δ −β ·γ = 0<br />

γ ·x+δ<br />

(on<strong>de</strong> α,β,γ,δ ∈ R) são inversíveis e são involuções somente se δ = −α.<br />

Demonstração.<br />

Note que as funções<br />

não estão <strong>de</strong>finidas em α<br />

γ<br />

também em α<br />

γ<br />

. Mas então −β<br />

α<br />

5<br />

6<br />

f(x) = α·x+β<br />

γ ·x−α<br />

. De fato só estariam <strong>de</strong>finidas aí se αx + β se anulasse<br />

7<br />

= α<br />

γ , ou seja, α2 +β ·γ = 0 contrariando a hipótese.<br />

Agora calculo a <strong>de</strong>rivada, pela regra do quociente e obtenho após simplificação:<br />

f ′ (x) = − α2 +β ·γ<br />

< 0,<br />

(γ ·x−α) 2<br />

portanto f(x) é estritamente <strong>de</strong>crescente, logo invertível.


6. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 1, 1938 190<br />

Sua inversa é obtida:<br />

y = α·x+β<br />

γ ·x−α<br />

⇔ y ·γ ·x−y ·α = α·x+β ⇔<br />

α·y +β<br />

⇔ y ·γ ·x−α·x = y ·α+β ⇔ x =<br />

γ ·y −α ,<br />

ou seja, x = x(y) tem exatamente a mesma expressão <strong>de</strong> y = y(x).<br />

Por isso são involuções e por isso são simétricas em relação à diagonal.<br />

A<strong>de</strong>mais, se<br />

f(x) = α·x+β<br />

γ ·x+δ<br />

então<br />

f ′ (x) =<br />

Se obtém, como antes, <strong>de</strong> y = y(x):<br />

x = x(y) =<br />

α·δ −β ·γ<br />

= 0.<br />

(γ ·x+β) 2<br />

−δ ·y +β<br />

γ ·y −α .<br />

Portanto se queremos um involução precisamos que δ = −α.<br />

A Figura a seguir dá três exemplos:<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

1 2 3 4 5<br />

x<br />

Figura: Em vermelho a diagonal, em ver<strong>de</strong> y = 1<br />

x<br />

amarelo y = 0.1·x+2<br />

3·x−0.1<br />

e em azul y = 0.1·x+4<br />

9·x−0.1 .<br />

6. Um problema da Putnam Competition, n. 1, 1938<br />

Dada a parábola y = 1<br />

2m ·x2 , <strong>de</strong>termine a menor corda ortogonal ao gráfico em<br />

um dos extremos.<br />

Solução:<br />

Minha solução não é das mais elegantes, pois é na força bruta. Farei o seguinte:


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 191<br />

• <strong>de</strong>terminarei os pontos que são os extremos (x0, x2 0<br />

2m ) e (x1, x2 1 ) <strong>de</strong> uma corda<br />

2m<br />

ortogonal ao gráfico em (x0, x2 0<br />

2m ),<br />

• pensarei no quadrado do comprimento1 da corda:<br />

(x1 −x0) 2 +( x21 2m − x20 2m )2<br />

como uma função f(x0) <strong>de</strong> x0.<br />

• procurarei f ′ (x0) = 0 e <strong>de</strong>pois verei se f ′′ (x0) > 0.<br />

A reta que passa por (x0, x2 0<br />

2m<br />

equação:<br />

) e é ortogonal ao gráfico da parábola dada tem<br />

y = −m<br />

x0<br />

·x+ 2m2 +x 2 0<br />

2m .<br />

(posso supor x 0 = 0 pois a reta ortogonal ao gráfico pela origem é vertical e não<br />

intersecta o gráfico da parábola em nenhum outro ponto).<br />

Essa reta intersecta <strong>de</strong> novo a parábola em<br />

x1 = −x0 − 2·m2<br />

,<br />

como se <strong>de</strong>scobre resolvendo uma equação quadrática.<br />

A expressão do quadrado da distância entre esses dois pontos admite um boa<br />

simplificação:<br />

x0<br />

φ(x0) := (x1 −x0) 2 +( x2 1<br />

2m − x2 0<br />

2m )2 =<br />

= (2x0 + 2m2<br />

x0<br />

) 2 +( (x0 + 2m2<br />

x0 )2<br />

−<br />

2m<br />

x20 2m )2 =<br />

= 4(x20 +m2 ) 3<br />

x4 0<br />

Agora <strong>de</strong>rivo φ(x0) como função <strong>de</strong> x0, obtendo:<br />

Portanto φ ′ (x 0) = 0 para dois valores:<br />

φ ′ (x0) = −8·(x2 0 +m2 ) 2 ·(−x2 0 +2m2 )<br />

x5 .<br />

0<br />

x = ± √ 2·m.<br />

Para ver que esses pontos são mínimos locais <strong>de</strong> φ(x0) (e portanto globais, por falta<br />

<strong>de</strong> outros candidatos) po<strong>de</strong>mos analisar o sinal <strong>de</strong> φ ′ (x0) à esquerda e à direita <strong>de</strong>les.<br />

Para x = √ 2·m: note que para x0 < x e próximo <strong>de</strong>le, temos<br />

−x 2 0 +m2 > 0<br />

e portanto φ ′ (x0) < 0; para x0 > x e próximo <strong>de</strong>le, temos φ ′ (x0) > 0.<br />

Analogamente para x = − √ 2m.<br />

1 A Afirmação 2.1 do Capítulo 16 justificará essa troca do comprimento pelo quadrado do<br />

comprimento. O que ganhamos nessa troca é não precisar <strong>de</strong>rivar a raíz quadrada<br />

.


7. UMA FUNÇÃO COM DERIVADA, MAS SEM A SEGUNDA DERIVADA 192<br />

7. Uma função com <strong>de</strong>rivada, mas sem a segunda <strong>de</strong>rivada<br />

Agora que já sabemos <strong>de</strong>rivar quocientes, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar novamente a função<br />

f : R → (−1,1), f(x) = x<br />

|x|+1 ,<br />

estudada na Seção 4 do Capítulo 5.<br />

Afirmação 7.1. Seja f : R → (−1,1) dada por f(x) = x<br />

|x|+1 .<br />

• f ′ (x) = 1<br />

(x+1) 2 se x > 0; f ′ 1 (x) = (−x+1) 2 se x < 0 e f ′ (0) = 1.<br />

• f ′′ (x) = −2<br />

(x+1) 3 se x > 0; f ′′ (x) = −2<br />

(−x+1) 3 se x < 0; mas não existe f ′′ (0).<br />

Demonstração.<br />

No Exercício 6.4 do Capítulo 9 já vimos que f ′ (0) = 1.<br />

Se x > 0 po<strong>de</strong>mos usar a regra da <strong>de</strong>rivada do quociente:<br />

e analogamente, se x < 0:<br />

f(x) ′ = [ x<br />

x+1 ]′ = x·(x+1)′ −x ′ ·(x+1)<br />

(x+1) 2<br />

Agora sobre f ′′ (x). Se existisse<br />

f(x) ′ x<br />

= [<br />

−x+1 ]′ =<br />

f ′′ (0) := lim<br />

h→0<br />

teriam que exister ambos lmites laterais<br />

lim<br />

hց0<br />

e a<strong>de</strong>mais serem iguais !<br />

Porém, já que f ′ (0) = 1:<br />

enquanto que<br />

lim<br />

hց0<br />

lim<br />

hր0<br />

f ′ (h)−f ′ (0)<br />

h<br />

f ′ (h)−f ′ (0)<br />

h<br />

1<br />

(−x+1) 2.<br />

f ′ (h)−f ′ (0)<br />

.<br />

h<br />

e lim<br />

hր0<br />

= lim<br />

hց0<br />

=<br />

f ′ (h)−f ′ (0)<br />

h<br />

1<br />

(h+1) 2 −1<br />

h<br />

= lim<br />

hց0 (−h−2) = −2,<br />

f ′ (h)−f ′ (0)<br />

h<br />

= lim<br />

hր0<br />

= lim<br />

hր0 (2−h) = 2.<br />

=<br />

1<br />

(−h+1) 2 −1<br />

=<br />

h<br />

1<br />

(x+1) 2


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 193<br />

Os gráficos <strong>de</strong> f ′ e <strong>de</strong> f ′′ são mostrados a seguir:<br />

-3 -2 -1<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

1 2 3<br />

Figura: Note que f ′ (x) (vermelho) tem um bico em (0,1).<br />

Em ver<strong>de</strong> está f ′′ (x). Note que f ′′ (0) não está <strong>de</strong>finido.<br />

8. Máximos e mínimos: o problema do freteiro<br />

Agoraquejásabemos<strong>de</strong>rivarumconjuntogran<strong>de</strong><strong>de</strong>funções, po<strong>de</strong>mosnoscolocar<br />

problemas <strong>de</strong> máximos e mínimos mais interessantes.<br />

Imagine que você está transportando, numa mudança, um objeto retangular <strong>de</strong><br />

largura L dada. Durante o transporte ele não po<strong>de</strong>rá ser <strong>de</strong>formado, nem vergado.<br />

Você vem com ele por um corredor que me<strong>de</strong> l1 <strong>de</strong> largura e que dobra em ângulo<br />

reto, chegando numa sala <strong>de</strong> largura l2 = k ·l1 ≥ l1, como mostra a Figura a seguir:<br />

Pensando o problema como um problema no plano, não espacial, trata-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar<br />

o comprimento máximo do objeto retangular para que você consiga passá-lo<br />

para a sala.<br />

8.1. Caso L ≈ 0. Vamos primeiro consi<strong>de</strong>rar o caso em que a largura L do<br />

objeto retangular é muito pequena (por exemplo, uma vara <strong>de</strong> alumínio <strong>de</strong> diâmetro<br />

muito pequeno mas bem comprida). Vamos pensar então que L = 0 e o objeto é<br />

uni-dimensional.


8. MÁXIMOS E MÍNIMOS: O PROBLEMA DO FRETEIRO 194<br />

Primeiro noto que, se consigo passar uma vara <strong>de</strong> um certo tamanho para a sala<br />

sem ter tocado o ponto C da Figura, então certamente passaria uma vara um pouco<br />

maior, apoiando-me e pivotando em C.<br />

Por isso, <strong>de</strong> agora em diante, posso pensar que me apoiarei em C, pivotando nesse<br />

ponto.<br />

A chave da resolução do problema é a seguinte: é notar que a restrição, o impedimento,<br />

para se passar a vara está no mínimo da distância do segmento P1P2, à<br />

medida que muda θ ∈ [0, π].<br />

Veja a Figura que segue:<br />

2<br />

P 1<br />

d 1<br />

θ<br />

l 1<br />

d 2<br />

C<br />

θ<br />

P 2<br />

l 2<br />

Portanto trata-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir qual o mínimo <strong>de</strong> P1P2. Para isso, penso em<br />

P1P2 = P1C +CP2<br />

e a<strong>de</strong>mais noto (i<strong>de</strong>ntificando ângulos opostos pelo vértice) que:<br />

Ou seja:<br />

cos(θ) = l1<br />

P1C<br />

l2<br />

e sin(θ) = .<br />

CP2<br />

P1P2(θ) = P1C(θ)+CP2(θ) =<br />

= l1 l2<br />

+<br />

cos(θ) sin(θ) .<br />

Repare que é natural que quando θ ≈ π (antes <strong>de</strong> começar a esquina) tenhamos<br />

2<br />

CP2(θ) ≈ l2 mas P1C(θ) fique arbitrariamente gran<strong>de</strong>, ou seja não há retrições sobre<br />

ele. Porém se θ ≈ 0 (após vencer a esquina) aí P1C(θ) ≈ l1 enquanto CP2(θ) fica<br />

arbitrariamente gran<strong>de</strong>.<br />

Agora:<br />

e portanto<br />

′ l1 ·sin(θ)<br />

P1P2 (θ) =<br />

cos2 (θ) + −l2 ·cos(θ)<br />

sin 2 (θ) =<br />

P1P2<br />

= l1 ·sin 3 (θ)−l2 ·cos3 (θ)<br />

sin 2 (θ)cos2 ,<br />

(θ)<br />

′ (θ) = 0 ⇔ tan(θ) = ( l2<br />

l1<br />

) 1<br />

3 = k 1<br />

3.


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 195<br />

Ou seja, a <strong>de</strong>rivada se anula em um único ponto: θ0 = arctan(k 1<br />

3).<br />

Para concluir que θ0 é o ponto <strong>de</strong> mínimo, basta conferir que<br />

e<br />

lim<br />

θց0<br />

lim<br />

θր π<br />

2<br />

l1 l2<br />

+ = +∞<br />

cos(θ) sin(θ)<br />

l1 l2<br />

+ = +∞.<br />

cos(θ) sin(θ)<br />

Assim o valor máximo do comprimento da vara que po<strong>de</strong>remos passar é<br />

P1P2(θ0) = l1 l2<br />

+<br />

cos(θ0) sin(θ0) .<br />

Vejamos Exemplos:<br />

′<br />

A Figura a seguir mostra a função P1P2 (θ), para l1 = 1.2 e l2 = 2.4, quando<br />

θ0 = arctan(2 1<br />

3) ≈ 0.8999083481 e o valor máximo <strong>de</strong> comprimento é 4.99432582244<br />

(plotado como reta horizontal em ver<strong>de</strong>)<br />

5,06<br />

5,04<br />

5,02<br />

5<br />

0,8 0,84<br />

0,88<br />

x<br />

′<br />

Já a próxima figura dá a função P1P2 (θ) no caso l1 = l2 = 1.2, em que θ0 =<br />

arctan(1) = π ≈ e o valor máximo da vara é 3.394112550 (horizontal em ver<strong>de</strong>).<br />

4<br />

3,56<br />

3,52<br />

3,48<br />

3,44<br />

3,4<br />

x<br />

0,92<br />

0,96<br />

0,65 0,7 0,75<br />

0,8 0,85 0,9


8. MÁXIMOS E MÍNIMOS: O PROBLEMA DO FRETEIRO 196<br />

8.2. Para um objeto retangular. Agora vamos para o caso em que a largura<br />

não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada zero, ou seja L > 0, quando o objeto é bi-dimensional.<br />

AFiguraaseguirdáageometriadasituação(notequeparalelismo/ortogonalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> retas transportam o ângulo θ para dois triângulos retângulos):<br />

Note que<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong>:<br />

P 1<br />

θ<br />

d 1<br />

D1− d1<br />

θ<br />

l 1<br />

C<br />

θ<br />

cos(θ) = l1<br />

D1<br />

D1 = (D1 −d1)+d1 = l1<br />

cos(θ)<br />

e portanto:<br />

o que dá:<br />

d 2<br />

P 2<br />

L·tan(θ)+d1 = l1<br />

cos(θ)<br />

θ<br />

D2 − d2<br />

l 2<br />

e sin(θ) = l2<br />

D2<br />

,<br />

e D2 = (D2 −d2)+d2 = l2<br />

sin(θ) ,<br />

e<br />

L<br />

tan(θ) +d2 = l2<br />

sin(θ) ,<br />

(d1 +d2)(θ) = l1 l2 1<br />

+ −L·(tan(θ)+ ) =<br />

cos(θ) sin(θ) tan(θ)<br />

= l1 l2<br />

+<br />

cos(θ) sin(θ) −<br />

L<br />

sin(θ)·cos(θ) .<br />

Essa é a função que quero minimizar, pois seu mínimo é o impedimento, a obstrução<br />

para que continue se movendo a face externa (relativa a C) do objeto retangular.<br />

A sua <strong>de</strong>rivada é:<br />

(d1 +d2) ′ (θ) = l1 ·sin 3 (θ)−l2 ·cos3 (θ)−L·(2·cos 2 (θ)−1)<br />

sin 2 (θ)cos2 .<br />

(θ)<br />

Queremos saber on<strong>de</strong> (d1 + d2) ′ (θ) = 0, e no caso L > 0 <strong>de</strong>vemos usar métodos<br />

numéricos (aproximações). Os programas como Maple/ Xmaxima , etc a resolvem<br />

numericamente.<br />

Aparecem algumas soluções complexas e uma solução Real positiva.<br />

Para concluir que θ0 é o ponto <strong>de</strong> mínimo, basta conferir que<br />

lim<br />

θց0 (d1 +d2)(θ) = +∞


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 197<br />

e<br />

Como<br />

basta analisar<br />

Mas<br />

e como l2 ≥ l1 > L, então<br />

lim<br />

θ→0<br />

lim<br />

θ→0<br />

lim<br />

θր π (d1 +d2)(θ) = +∞.<br />

2<br />

= lim<br />

θ→0<br />

lim<br />

θ→0<br />

l2<br />

sin(θ) −<br />

l1<br />

cos(θ)<br />

= l1<br />

L<br />

sin(θ)·cos(θ) =<br />

1<br />

sin(θ) ·(l2 − L<br />

cos(θ) ).<br />

lim<br />

θ→0<br />

L<br />

cos(θ)<br />

= L<br />

1<br />

sin(θ) ·(l2 − L<br />

) = lim<br />

cos(θ) θ→0<br />

1<br />

= +∞.<br />

sin(θ)<br />

Quando θ se aproxima <strong>de</strong> π pela direita então é o sin(θ) que se aproxima <strong>de</strong> 1 e o<br />

2<br />

cos(θ) se aproxima <strong>de</strong> 0. Analogamente com o caso anterior, se obtém:<br />

lim<br />

θր π<br />

2<br />

(d1 +d2)(θ) = lim<br />

θր π<br />

2<br />

1<br />

cos(θ)<br />

= +∞.<br />

Também se po<strong>de</strong> avaliar (d1 +d2) ′′ (θ0) e o valor dá positivo.<br />

Uma questão aparece naturalmente:<br />

Questão 1: haverá outromodo<strong>de</strong>resolver oproblema comL > 0emqueasolução<br />

(θ0) seja dada por um expressão exata ?<br />

Um Exemplo: a figura a seguir dá a função P1P2(θ), para um objeto <strong>de</strong> largura<br />

′<br />

L = 1, quando l1 = 1.2, l2 = 2.4. Nesse caso o ponto θ0 on<strong>de</strong> P1P2 (θ0) = 0 é<br />

θ0 ≈ 1.065134018eovalor máximo <strong>de</strong> comprimento do objeto é 2.860890636(plotado<br />

como reta horizontal em ver<strong>de</strong>).


8. MÁXIMOS E MÍNIMOS: O PROBLEMA DO FRETEIRO 198<br />

2,94<br />

2,92<br />

2,9<br />

2,88<br />

2,86<br />

0,9<br />

Outra questão é natural:<br />

0,95<br />

1 1,05<br />

x<br />

Questão 2: Qual amo<strong>de</strong>lagem matemática do problema em dimensão 3 ? Ouseja,<br />

quando damos largura e espessura fixadas, mas po<strong>de</strong>mos girar o objeto no espaço ?<br />

Dito <strong>de</strong> outro modo, o que fazer quando queremos passar um objeto como uma escada<br />

bem comprida numa esquina ?<br />

8.3. Área máxima do retângulo que dobra a esquina? Qual aáreamáxima<br />

<strong>de</strong> uma figura retangular que consiga dobrar a esquina, no caso l1 = l2 = 1 ?<br />

Se a figura é um quadrado <strong>de</strong> lado l é fácil <strong>de</strong> ver que l = 1 é o máximo, como na<br />

Figura a seguir.<br />

1<br />

C<br />

Portanto a área máxima <strong>de</strong> um quadrado que dobra essa esquina é 1. Mas, e se<br />

fosse um retângulo não-quadrado ?<br />

Como antes vou imaginar os retângulos se apoiando em C.<br />

Pela simetria (l1 = l2 = 1 e o ângulo reto na esquina), posso pensar que a figura<br />

retangular que se apoia em C é formada <strong>de</strong> duas partes <strong>de</strong> mesma área e formato,<br />

uma para a direita <strong>de</strong> C e outra para a esquerda <strong>de</strong> C.<br />

1<br />

1,1<br />

1,15<br />

1,2


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 199<br />

A<strong>de</strong>mais, para um mesmo perímetro, o quadrado é o retângulo <strong>de</strong> maior área (ver<br />

Exercício 10.10). Por isso, imagino à esquerda <strong>de</strong> C um quadrado <strong>de</strong> lado l e à esquerda<br />

<strong>de</strong> C, outro, também <strong>de</strong> lado l, formando então um retangulo <strong>de</strong> comprimento<br />

2l e largura l. Veja a Figura:<br />

P 1<br />

l<br />

l<br />

l<br />

C<br />

P 2<br />

l<br />

Agora continuo o lado da figura, <strong>de</strong> modo a obter triângulos como na figura que<br />

segue:<br />

P 1<br />

Dos triângulos formados obtemos:<br />

1 l<br />

= sin(θ) e = tan(θ).<br />

l +r r<br />

Logo<br />

l<br />

r = e l +r =<br />

tan(θ)<br />

1<br />

sin(θ) ,<br />

ou seja:<br />

l·(1+ 1 1<br />

) =<br />

tan(θ) sin(θ)<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong>:<br />

tan(θ)<br />

l(θ) =<br />

sin(θ)·(1+tan(θ)) ,<br />

l<br />

l<br />

l<br />

C<br />

P 2<br />

θ<br />

l<br />

r<br />

θ<br />

1


8. MÁXIMOS E MÍNIMOS: O PROBLEMA DO FRETEIRO 200<br />

Se encontramos um mínimo <strong>de</strong>ssa função l(θ), para 0 < θ < π,<br />

esse será o imped-<br />

2<br />

imento a passar a figura retangular pela esquina, ou seja, dará o máximo da medida<br />

l do retângulo (e com esse valor saberemos a área máxima da figura retangular).<br />

Mas<br />

l ′ (θ) = sin(θ)−cos(θ)<br />

1+2·sin(θ)cos(θ) .<br />

Claramente, para 0 < θ < π<br />

2 :<br />

l ′ (θ) = 0 ⇔ sin(θ) = cos(θ) ⇔ θ = π<br />

4 .<br />

1 Como limθ→0 = 1, então<br />

1+tan(θ)<br />

e como limθ→ π<br />

2<br />

1<br />

sin(θ)<br />

lim l(θ) = lim<br />

θց0 θց0<br />

= 1, então<br />

lim<br />

θր π<br />

2<br />

tan(θ)<br />

sin(θ)<br />

l(θ) = lim<br />

θր π<br />

2<br />

= lim<br />

θց0<br />

tanθ<br />

1+tan(θ)<br />

Então<br />

l( π<br />

4 ) = 1 √<br />

2<br />

é o mínimo global <strong>de</strong> l(θ). Veja a Figura:<br />

0,9<br />

0,85<br />

0,8<br />

0,75<br />

0,2 0,4 0,6<br />

0,8<br />

theta<br />

1<br />

1,2<br />

1<br />

cos(θ)<br />

= 1.<br />

1,4<br />

= 1,<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> y = l(θ), θ ∈ (0.1, π π −0.1), on<strong>de</strong> 2 4<br />

≈ 0.78<br />

Portanto a área máxima da figura retangular que dobra a esquina é:<br />

2·( 1<br />

√ 2 ) 2 = 1,<br />

a mesma que encontramos para o quadrado <strong>de</strong> área máxima que dobra essa esquina.<br />

Está ainda um problema em aberto <strong>de</strong>terminar a área máxima da figura capaz <strong>de</strong><br />

dobrar a esquina, mesmo no caso l1 = l2 = 1, se <strong>de</strong>ixamos livre o formato da figura.<br />

Ou seja, valem figuras feitas <strong>de</strong> pedaços distintos, alguns curvados , etc.


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 201<br />

Há cotasmáximas para a área, mas não se obteve ainda explicitamente uma figura<br />

da qual se possa dizer: é esta ! É conhecido na literatura como o problema do sofá.<br />

8.4. O caso L ≈ 0, mas com uma pare<strong>de</strong> suave. Retomo o caso em que<br />

L ≈ 0 e ainda na situação bem simples em que l1 = l2 = 1.<br />

Coloque a Figura <strong>de</strong> um corredor que dobra em ângulo reto num sistema <strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong>nadas cartesianas (x,y) <strong>de</strong> modo que:<br />

• o ponto C seja C = (1,1),<br />

• a pare<strong>de</strong> vertical externa faça parte da reta x = 0,<br />

• a vertical interna, <strong>de</strong> x = 1,<br />

• a pare<strong>de</strong> horizontal externa faça parte <strong>de</strong> y = 2 e<br />

• a vertical interna, <strong>de</strong> y = 1.<br />

Imagine agora que as pare<strong>de</strong>s internas (vertical e horizontal) da Figura sejam<br />

<strong>de</strong>rrubadas e substituídas por uma pare<strong>de</strong> suave, curvada, que faça parte do gráfico<br />

<strong>de</strong>:<br />

y = fǫ(x) := 1− ǫ<br />

, x > 1,<br />

1−x<br />

on<strong>de</strong> sempre ǫ > 0.<br />

A figura a seguir mostra o que acontece para três escolhas <strong>de</strong> ǫ:<br />

Gráficos <strong>de</strong> y = 1− ǫ<br />

com ǫ = 1 (vermelho)<br />

1−x<br />

ǫ = 0.5 (ver<strong>de</strong>), ǫ = 0.2 (amarelo), y = 1 em azul<br />

Diminuindo ǫ o gráfico <strong>de</strong> y = 1− ǫ vai se apertando sobre a pare<strong>de</strong> horizontal<br />

1−x<br />

interna (em azul y = 1): <strong>de</strong> fato, cada x > 1 fixado,<br />

fǫ(x) > fǫ ′(x), se ǫ < ǫ′ .<br />

E também é claro que, fixado qualquer ǫ > 0,<br />

lim<br />

x→+∞ fǫ(x) = 1<br />

Note que se ǫ = 0, ainda que pequeno, a função é <strong>de</strong>rivável e<br />

f ′ ǫ (x) =<br />

ǫ<br />

(x−1) 2.


8. MÁXIMOS E MÍNIMOS: O PROBLEMA DO FRETEIRO 202<br />

Então<br />

lim<br />

xց1 f′ ǫ (x) = +∞,<br />

o que mostra que os gráficos <strong>de</strong> fǫ vão ficando cada vez mais verticais próximos <strong>de</strong><br />

x = 1.<br />

Você também po<strong>de</strong> escrever a partir <strong>de</strong> fǫ(x):<br />

(y −1)·(x−1) = −ǫ,<br />

o que mostra que quando ǫ → 0 obtemos 2 :<br />

(y −1)·(x−1) = 0<br />

que é a união <strong>de</strong> retas x = 1 e y = 1.<br />

Ou seja que as pare<strong>de</strong>s internas foram substituídas por um curvada como na<br />

Figura a seguir (fixado um ǫ) e que a medida que o ǫ fica pequeno mais vai ficando<br />

próxima da pare<strong>de</strong> interna original em formato <strong>de</strong> letra L.<br />

O Problema agora para o freteiro:<br />

Problema: passar a maior vara possível, sem entortá-la, possivelmente apoiando<br />

a vara em algum ponto da pare<strong>de</strong> interna suavizada.<br />

A solução que proponho é a seguinte:<br />

Estratégia: usar a resposta do caso original, com pare<strong>de</strong> em forma <strong>de</strong> letra L,<br />

para solucionar o caso em que a pare<strong>de</strong> é suave<br />

Comecemos com l1 = l2 = 1 (<strong>de</strong>pois passo ao geral, l1, l2 quaisquer).<br />

Quero encontrar o ponto Cǫ = (x,fǫ(x)) e a inclinação da vara V em Cǫ tais que<br />

seja minimizada a distância P1P2 on<strong>de</strong><br />

28<br />

P1 := V ∩(x = 0) e P2 := V ∩(y = 2).<br />

2 Acurvaturaκǫ <strong>de</strong>ssesgráficose seulimite quandoǫ → 0serãoestudadosnaSeção7doCapítulo


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 203<br />

Meu candidato a ponto Cǫ será o ponto (x ǫ,fǫ(x ǫ)) do gráfico <strong>de</strong> y = fǫ(x) que<br />

tem<br />

f ′ ǫ (x ǫ) = ( l2<br />

já que a solução do caso original era em<br />

θ0 = arctan(( l2<br />

l1<br />

l1<br />

) 1<br />

3 = 1<br />

) 1<br />

3) = arctan(1) = π<br />

4 .<br />

E as retas que se apoiam na pare<strong>de</strong> curvada serão as suas retas tangentes.<br />

As soluções <strong>de</strong> f ′ ǫ (x) = 1 são<br />

1+ǫ 1/2<br />

e 1− √ ǫ.<br />

Fico apenas com<br />

xǫ := 1+ √ ǫ,<br />

pois a outra solução está à esquerda da reta x = 1.<br />

As retas tangentes <strong>de</strong> y = fǫ(x) num ponto geral (x,fǫ(x)) são:<br />

ǫ<br />

y =<br />

(x−1) 2 ·x+ x2 −2(1+ǫ)·x+1+ǫ<br />

(x−1) 2<br />

.<br />

e em particular em (x ǫ,fǫ(x ǫ)) a reta tangente é:<br />

y = x−2ǫ 1/2 .<br />

A intersecção <strong>de</strong> y = x−2 √ ǫ com y = 2 é o ponto:<br />

P2 := (2+2 √ ǫ,2)<br />

enquanto que a intersecção <strong>de</strong>la com x = 0 é:<br />

A distância P1P2 é (para l1 = l2 = 1):<br />

e note que<br />

mǫ :=<br />

P1 := (0,−2 √ ǫ).<br />

<br />

(2+2 √ ǫ) 2 +(2+2 √ ǫ) 2 = √ 2·<br />

<br />

(2+2 √ ǫ) 2 ,<br />

lim<br />

ǫ→0 mǫ = 2 √ 2 ≈ 2.828427124,<br />

o comprimento da diagonal do quadrado <strong>de</strong> lado 2, solução do caso original na figura<br />

em forma <strong>de</strong> L.<br />

Queremos ver se mǫ é o mínimo das distâncias P1P2 on<strong>de</strong> P2 é a intersecção <strong>de</strong><br />

uma reta tangente genérica <strong>de</strong> y = fǫ(x) com y = 1 + l2 = 2 e P1 a intersecção da<br />

reta tangente genérica com x = 0.<br />

Ora,<br />

e<br />

P1P2(x) =<br />

P1 = (0,− 2ǫx−ǫ−x2 +2x−1<br />

(x−1) 2 ),<br />

P2 = ( 2ǫx−ǫ+x2 −2x+1<br />

ǫ<br />

<br />

(2ǫx−ǫ+x 2 −2x+1) 2<br />

ǫ 2<br />

, 2),<br />

+(2+ 2ǫx−ǫ−x2 +2x−1<br />

(x−1) 2 ) 2 .


8. MÁXIMOS E MÍNIMOS: O PROBLEMA DO FRETEIRO 204<br />

O numerador da fração3 ′<br />

que é P1P2 (x) é dado pelo polinômio <strong>de</strong> grau 8 em x:<br />

(ǫx 5 −5ǫx 4 +10ǫx 3 −10ǫx 2 +5ǫx−ǫ+x 6 −6x 5 +15x 4 −20x 3 +15x 2 −6x+1−ǫ 3 x)·<br />

·2·(2ǫx−ǫ+x 2 −2x+1),<br />

e verifica-se que em x0 = 1+ √ ǫ:<br />

′ √<br />

P1P2 (1+ ǫ) = 0<br />

pois x0 = 1+ √ ǫ é raiz do fator <strong>de</strong> grau 5 em x:<br />

ǫx 5 −5ǫx 4 +10ǫx 3 −10ǫx 2 +5ǫx−ǫ+x 6 −6x 5 +15x 4 −20x 3 +15x 2 −6x+1−ǫ 3 x.<br />

′′<br />

Já a enorme fração que é P1P2 (x) avaliada em x0 = 1+ √ ǫ vale:<br />

2 √ 2(2ǫ 2 +3+15ǫ+11 √ ǫ+9ǫ 3/2 )<br />

ǫ(1+ √ ǫ) 3<br />

Logo x0 = 1+ √ ǫ é minimo local <strong>de</strong> P1P2(x).<br />

Mas é bem claro que, para cada ǫ fixado:<br />

= lim<br />

xց1<br />

assim como<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

<br />

(2ǫx−ǫ+x 2 −2x+1) 2<br />

ǫ 2<br />

<br />

(2ǫx−ǫ+x 2 −2x+1) 2<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

ǫ 2<br />

lim<br />

xց1 P1P2(x) =<br />

> 0.<br />

+(2+ 2ǫx−ǫ−x2 +2x−1<br />

(x−1) 2<br />

) 2 = +∞<br />

lim<br />

x→+∞ P1P2(x) =<br />

1,5 2<br />

+(2+ 2ǫx−ǫ−x2 +2x−1<br />

(x−1) 2 ) 2 = +∞.<br />

2,5<br />

x<br />

3 3,5 4<br />

As funções P1P2(x) para ǫ = 1 (vermelho) e ǫ = 0.1 (ver<strong>de</strong>)<br />

x0 = 2 e 1.316227766 resp., m1 = 5.656854249 e m0.1 = 3.722854312.<br />

3 Conferi as contas que seguem no Maple, pois ficam gran<strong>de</strong>s.


CAPÍTULO 14. DERIVADA DA COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 205<br />

9. Exercícios<br />

Exercício 9.1. Usando a regra do quociente e <strong>de</strong>finições/relações trigonométricas,<br />

prove que<br />

cot ′ (x) = −csc 2 (x),<br />

on<strong>de</strong> cot(x) = 1<br />

tan(x)<br />

Também mostre que:<br />

on<strong>de</strong> sec(x) := 1<br />

cos(x) .<br />

e csc(x) := 1<br />

sin(x) .<br />

sec ′ (x) = tan(x)sec(x),<br />

Exercício 9.2. Consi<strong>de</strong>re f(x) = x<br />

x 2 +1 .<br />

i) note que ela está <strong>de</strong>finida em todos os reais.<br />

ii) mostre que limx→+∞f(x) = limx→−∞f(x) = 0.<br />

iii) <strong>de</strong>termine seus pontos <strong>de</strong> máximo e mínimo locais (usando f ′ (x) e/ou f ′′ (x)).<br />

iv) com o item ii) e iii) conclua que os máximos e mínimos locais são globais.<br />

v) <strong>de</strong>termine seus dois pontos <strong>de</strong> inflexão. (Dica: se você fizer cuidadosamente o<br />

cálculo <strong>de</strong> f ′′ (x) verá que há simplificações no numerador e que fica fácil <strong>de</strong>terminar<br />

on<strong>de</strong> f ′′ (x) = 0.)<br />

Exercício 9.3. Consi<strong>de</strong>re o gráfico da função y = A<br />

, on<strong>de</strong> A > 0 fixado, para x > 0.<br />

x<br />

Consi<strong>de</strong>re retângulos formados pelos pontos (0,0),P1.P2,P3, on<strong>de</strong> P1 = (x,0),<br />

P2 = (x, A<br />

x ) e P3 = (0, A<br />

x ).<br />

i) Note que todos eles têm a mesma área = A.<br />

ii) Qual <strong>de</strong>les tem o menor perímetro ? (Dica: <strong>de</strong>termine um mínimo local e prove<br />

que ele é <strong>de</strong> fato mínimo global)<br />

Exercício 9.4. Consi<strong>de</strong>re as funções y = fn(x) := x 2n + 1<br />

x 2n, on<strong>de</strong> n ∈ N.<br />

i) Determine limx→0 fn(x), limx→+∞ fn(x) e limx→−∞ fn(x).<br />

ii) Determine seus pontos <strong>de</strong> mínimos locais / globais.<br />

iii) Prove que a concavida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses gráficos é sempre para cima.<br />

Exercício 9.5. Calcule a segunda <strong>de</strong>rivada da função<br />

tan(x) := sin(x)<br />

cos(x) .<br />

Exercício 9.6. (resolvido)<br />

Imagine que voce se lembra <strong>de</strong> cor da fórmula do seno da soma:<br />

sin(x+y) = sin(x)·cos(y)+cos(x)·sin(y),<br />

mas que se esqueceu completamente da fórmula do cosseno da soma.<br />

i) Como o Cálculo po<strong>de</strong> obter a formula para o cosseno? Ou seja, como saber<br />

<strong>de</strong>rivar po<strong>de</strong> ajudar ?<br />

ii) E se sei a do cosseno da soma, como obter a do seno da soma via Cálculo ?<br />

Exercício 9.7. Um ponto P move-se sobre a curva <strong>de</strong> equação y 3 −x 2 = 0.<br />

Determine a taxa <strong>de</strong> variação da coor<strong>de</strong>nada y no instante em que P = (8,4), se<br />

a taxa <strong>de</strong> variação da coor<strong>de</strong>nada x no mesmo instante é 1cm/s.


9. EXERCÍCIOS 206<br />

Em outras palavras, a coor<strong>de</strong>nada y ao longo <strong>de</strong>ssa curva aumenta ou diminui, no<br />

ponto P, quando aumentamos a coor<strong>de</strong>nada x.<br />

Obs. você não precisa esboçar a curva.


CAPíTULO 15<br />

Derivadas <strong>de</strong> funções Implícitas<br />

1. Curvas versus gráficos<br />

Comecemos com a equação do círculo <strong>de</strong> raio r:<br />

x 2 +y 2 = r 2 .<br />

É importante nos darmos conta <strong>de</strong> que o círculo como um todo não é gráfico <strong>de</strong><br />

nenhuma função f : R → R 1 .<br />

Mas, dado um ponto P(x,y) do círculo, uma porção do círculo perto <strong>de</strong> P po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>scrita:<br />

• como gráfico <strong>de</strong> y = y(x), para x num intervalo centrado em x, ou<br />

• como gráfico <strong>de</strong> x = x(y), para y num intervalo centrado em y.<br />

De fato, há dois casos a consi<strong>de</strong>rar:<br />

Caso 1: se P = (x,y) no círculo tem coor<strong>de</strong>nada<br />

x = −r,r,<br />

então perto <strong>de</strong> P o círculo é gráfico <strong>de</strong> y = √ 1−x 2 ou <strong>de</strong> y = − √ 1−x 2 .<br />

Caso 2: se P é (−r,0) ou P = (r,0), então perto <strong>de</strong> P o círculo é gráfico <strong>de</strong> x =<br />

1−y 2 ou <strong>de</strong> x = − 1−y 2 .<br />

No Caso 1 po<strong>de</strong>mos calcular a <strong>de</strong>rivada da função y = y(x), para x num intervalo,<br />

do seguinte modo: <strong>de</strong>rivo a expressão x 2 +y(x) 2 = r 2 pela regra da composta:<br />

(x 2 +y(x) 2 ) ′ = (r 2 ) ′ ⇔ 2x+2y(x)y ′ (x) = 0 ⇔<br />

⇔ y ′ (x) = −2x<br />

2y(x) .<br />

E agora substituindo y(x) por √ 1−x 2 , se y > 0, ou por y = − √ 1−x 2 se y < 0,<br />

temos:<br />

y ′ (x) = −2x −x<br />

= √ , se y > 0,<br />

2y(x) 1−x 2<br />

ou<br />

y ′ (x) = −2x<br />

2y(x) =<br />

x<br />

√ , se y < 0.<br />

1−x 2<br />

1 Não confunda essa afirmação com o fato do círculo ser uma curva <strong>de</strong> nível r 2 da função F :<br />

R 2 → R, F(x,y) = x 2 +y 2 .<br />

207


1. CURVAS VERSUS GRÁFICOS 208<br />

No Caso 2 po<strong>de</strong>mos obter a <strong>de</strong>rivada da função x = x(y), para y num intervalo , do<br />

seguinte modo: <strong>de</strong>rivo a expressão (x(y)) 2 +y 2 = r 2 em y, pela regra da composta:<br />

((x(y)) 2 +y 2 ) ′ = (r 2 ) ′ ⇔ 2x(y)x ′ (y)+2y = 0 ⇔<br />

⇔ x ′ (y) = −2y<br />

2x(y) .<br />

E agora substituindo x(y) por 1−y 2 , se x > 0, ou por x = − 1−y 2 se x < 0:<br />

ou<br />

x ′ (y) = −2y −y<br />

= , se x > 0,<br />

2x(y) 1−y 2<br />

x ′ (y) = −2y<br />

2x(y) =<br />

y<br />

, se x < 0.<br />

1−y 2<br />

Isso que fizemos se chama <strong>de</strong>rivação implícita. É útil mesmo quando não sabemos<br />

a expressão explícita <strong>de</strong> y = y(x) ou <strong>de</strong> x = x(y).<br />

Por exemplo, se nos damos uma curva no plano através <strong>de</strong> uma equação do tipo:<br />

x 2 y 2 −3y 2 +y 4 −8y +2y 3 −4 = 0<br />

verificamos facilmente que (0,2) é um ponto <strong>de</strong>ssa curva.<br />

Será que, num pequeno trecho perto <strong>de</strong> (0,2) temos a curva dada como um gráfico<br />

y = y(x) ? Ou seja, ∀x num intervalo aberto centrado em x = 0, será que<br />

x 2 y(x) 2 −3y(x) 2 +y(x) 4 −8y(x)+2y(x) 3 −4 = 0 ?.<br />

Veremos que neste Exemplo esse é o caso (graças ao Teorema 2.1 a seguir).<br />

Então supondo por um momento que sabemos que há um gráfico y = y(x) perto<br />

<strong>de</strong> (0,2) qual o valor <strong>de</strong> y ′ (x) em (x,y) = (0,2) ?<br />

Fazemos a <strong>de</strong>rivada em x:<br />

(x 2 y(x) 2 −3y(x) 2 +y(x) 4 −8y(x)+2y(x) 3 −4) ′ = 0 ⇔<br />

2xy(x) 2 +x 2 2y(x)y ′ (x)−6y(x)y ′ (x)+4y(x) 3 y ′ (x)−8y ′ (x)+6y(x) 2 y ′ (x) = 0<br />

⇔ 2xy(x) 2 +y ′ (x)[x 2 2y(x)−6y(x)+4y(x) 3 −8+6y(x) 2 ] = 0<br />

⇔ y ′ (x) =<br />

que dá em (x,y) = (0,2)<br />

−2xy(x) 2<br />

x 2 2y(x)−6y(x)+4y(x) 3 −8+6y(x) 2<br />

y ′ (0) = 0<br />

= 0,<br />

48<br />

ou seja que o gráfico y = y(x) em torno <strong>de</strong> (x,y) = (0,2) tem reta tangente horizontal<br />

nesse ponto.


CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 209<br />

2. Teorema da função implícita<br />

Como saberemos se lidamos com y = y(x) ou x = x(y) em torno <strong>de</strong> um ponto<br />

P = (x,y) <strong>de</strong> uma curva F(x,y) = 0 ?<br />

O Teorema 2.1 a seguir dá uma resposta (sua prova se vêem Análise <strong>Matemática</strong>):<br />

Para po<strong>de</strong>r enunciá-lo vamos introduzir um símbolo novo: dada uma expressão<br />

F(x,y) em duas variáveis, <strong>de</strong>fino ∂F(x,y)<br />

∂x como sendo a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong>ssa expressão em<br />

x (se houver), on<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>ra y fixado. Por exemplo: se F(x,y) = yx 2 +y 2 então<br />

∂F(x,y)<br />

∂x = 2yx. Se F(x,y) = y2 então ∂F(x,y)<br />

∂x ≡ 0. Se F(x,y) = exp(x)y2 , então<br />

∂F(x,y)<br />

∂x = exp(x)y2 .<br />

E analogamente, ∂F(x,y)<br />

se <strong>de</strong>fine como a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong>ssa expressão em y (se hou-<br />

∂y<br />

ver), on<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>ra x fixado.<br />

Teorema 2.1. (Teorema da função Implícita).<br />

Seja F(x,y) um polinômio em duas variáveis. 2<br />

Suponha que exista (x,y) com F(x,y) = 0 3<br />

Se ∂F(x,y)<br />

∂y = 0 quando avaliada em (x,y), então para x,y em (possivelmente pequenos)<br />

intervalos abertos centrados em x,y:<br />

• a curva F(x,y) = 0 é um gráfico do tipo y = y(x) e<br />

• y ′ (x) = − ∂F(x,y)<br />

∂x<br />

∂F(x,y)<br />

∂y<br />

.<br />

Se ∂F(x,y)<br />

∂x = 0 quando avaliada em (x,y), então para x,y em (possivelmente pequenos)<br />

intervalos abertos centrados em x,y::<br />

• a curva F(x,y) = 0 é um gráfico do tipo x = x(y) e<br />

• x ′ (y) = −<br />

∂F(x,y)<br />

∂y<br />

∂F(x,y)<br />

∂x<br />

.<br />

Esse Teorema tem vários <strong>de</strong>talhes, que se vêem melhor nos Exemplos.<br />

Exemplo 2.1. No círculo F(x,y) = x 2 +y 2 −r 2 = 0 temos ∂F(x,y)<br />

∂y<br />

Nesse caso:<br />

y ′ ∂F(x,y)<br />

∂x (x) = − ∂F(x,y)<br />

∂y<br />

= − 2x<br />

2y(x) ,<br />

= 2y = 0 se y = 0.<br />

como vimos antes.<br />

Mas se P no círculo tem y = 0 então P = (−r,0) ou P = (r,0) e nesse caso<br />

∂F(x,y)<br />

∂x<br />

= 2x = 0. Então é preciso usar funções x = x(y) para <strong>de</strong>screver o círculo<br />

como gráfico.<br />

O Teorema 2.1 tem sutilezas que ficam evi<strong>de</strong>ntes no Exemplo a seguir:<br />

2há versões mais gerais <strong>de</strong>sse enunciado, on<strong>de</strong> F é muito geral, sujeito apenas a certas exigências<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivabilida<strong>de</strong><br />

3 2 2 Não queremos ter conjuntos vazios como F(x,y) = x +y +3 = 0.


2. TEOREMA DA FUNÇÃO IMPLÍCITA 210<br />

Exemplo 2.2. Voltando ao exemplo que analisamos acima,<br />

F(x,y) = x 2 y 2 −3y 2 +y 4 −8y +2y 3 −4 = 0<br />

temos<br />

∂F(x,y)<br />

= 2xy<br />

∂x<br />

2 ,<br />

que se anula em P = (0,2), mas temos<br />

∂F(x,y)<br />

∂y<br />

= x 2 2y −6y +4y 3 −8+6y 2<br />

que não se anula em P = (0,2). Logo há um gráfico y = y(x) em torno <strong>de</strong> (0,2) e já<br />

calculamos y ′ (0) = 0 acima.<br />

Até agora não comentei o fato <strong>de</strong> que P = (0,−1) também satisfaz:<br />

x 2 y 2 −3y 2 +y 4 −8y +2y 3 −4 = 0.<br />

Isso é interessante pois diz que para o mesmo valor x = 0 há dois valores y que<br />

satisfazem F(x,y) = 0 !<br />

Ou seja que é só num pequeno entorno <strong>de</strong> (0,2) que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito como gráfico<br />

<strong>de</strong> y = y(x) , mas não todo o conjunto F(x,y) = 0.<br />

Por outro lado, em (0,−1) tanto ∂F(x,y)<br />

∂x = 2xy2 quanto<br />

∂F(x,y)<br />

= x<br />

∂y<br />

2 2y −6y +4y 3 −8+6y 2<br />

se anulam !<br />

Nessa caso o Teorema 2.1 não tem nada a dizer ! Ele não po<strong>de</strong> garantir nenhum<br />

tipo <strong>de</strong> gráfico local y = y(x) ou x = x(y).<br />

Ainda bem que o Teorema se calou nessa caso, poisem (0,−1) a curva F(x,y) = 0<br />

tem uma espécie <strong>de</strong> laço, que não se <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong>screver nem como gráfico <strong>de</strong> y = y(x)<br />

nem como gráfico <strong>de</strong> x = x(y).<br />

A Figura a seguir dá uma idéia da curva, que não por acaso se chama conchói<strong>de</strong>:<br />

-4<br />

-2<br />

y<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 2<br />

-1x<br />

-2<br />

4


CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 211<br />

Figura: Em (0,2) vemos um pequeno gráfico horizontal y = y(x). Mas<br />

em (0,−1) forma-se um laço.<br />

Exemplo 2.3. O caso <strong>de</strong><br />

expõe outra sutileza do Teorema 2.1.<br />

x 3 +xy 2 − 3x2<br />

2 −y2 = 0<br />

Note que essa curva tem sobre o eixo dos x exatamente dois pontos: (0,0) e (0, 3<br />

2 ).<br />

Em (0, 3)<br />

temos (como o leitor po<strong>de</strong> verificar)<br />

2<br />

∂F(x,y)<br />

∂y<br />

= 0,<br />

∂F(x,y)<br />

∂x<br />

e o Teorema 2.1 diz que a curva F(x,y) = 0 se representa localmente como gráfico<br />

) como<br />

x = x(y). A<strong>de</strong>mais calcula x ′ ( 3<br />

2<br />

ou seja que o gráfico é vertical.<br />

Mas em (0,0) temos<br />

x ′ ( 3<br />

2<br />

∂F(x,y)<br />

∂y<br />

0<br />

) = − = 0,<br />

)<br />

( 9<br />

4<br />

= ∂F(x,y)<br />

∂x<br />

De fato esse ponto é completamente isolado do resto da curva ! Ou seja, não po<strong>de</strong><br />

ser visto como gráfico <strong>de</strong> uma função cujo domínio é um intervalo aberto em torno <strong>de</strong><br />

x = 0.<br />

Na Figura a seguir o Maple não enxerga o (0,0) na curva !<br />

3<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

1,1<br />

1,2<br />

x<br />

1,3<br />

1,4<br />

= 0.<br />

= 9<br />

4<br />

1,5


3. RETA TANGENTE DE CURVA E PLANO TANGENTE DE SUPERF ÍCIE212<br />

3. Reta tangente <strong>de</strong> curva e plano tangente <strong>de</strong> superfície<br />

O Teorema 2.1 nos diz que, se uma curva F(x,y) = 0 é localmente, em torno <strong>de</strong><br />

(x,y), da forma y = y(x) então<br />

y ′ ∂F<br />

∂x<br />

(x) = −<br />

(x,y)<br />

∂F<br />

∂y (x,y).<br />

A reta tangente em (x,y) ao pedaço <strong>de</strong> gráfico y = y(x) foi <strong>de</strong>finida na Seção 2 do<br />

Capítulo 8 como:<br />

y = y ′ (x)+(y −y ′ (x)·x),<br />

ou seja,<br />

∂F<br />

∂x y = − ∂F<br />

∂y<br />

·x+(y −<br />

∂F<br />

∂x<br />

∂F<br />

∂y<br />

Multiplicando por ∂F (x,y) e simplificando obtemos:<br />

∂y<br />

por isso <strong>de</strong>fino:<br />

·x).<br />

∂F ∂F<br />

(x,y)·(x−x)+ (x,y)·(y −y) = 0,<br />

∂x ∂y<br />

Definição 3.1. Seja F(x,y) = 0 curva contendo o ponto (x,y) para o qual ∂F(x,y)<br />

= ∂x<br />

0 ou ∂F(x,y)<br />

= 0. Então sua reta tangente em (x,y) é <strong>de</strong>finida por:<br />

∂y<br />

∂F ∂F<br />

(x,y)·(x−x)+ (x,y)·(y −y) = 0,<br />

∂x ∂y<br />

Po<strong>de</strong>mos dar uma <strong>de</strong>finição análoga quando ao invés <strong>de</strong> uma curva no plano (x,y)<br />

tivermos uma superfície no espaço (x,y,z), dada em forma implícita pela equação<br />

F(x,y,z) = 0:<br />

Definição 3.2.<br />

Seja F(x,y,z) = 0 contendo o ponto (x,y,z).<br />

Se ∂F<br />

∂F<br />

∂F<br />

(x,y,z)) = 0 ou (x,y,z) = 0 ou (x,y,z) = 0, então seu plano tangente<br />

∂x ∂y ∂y<br />

em (x,y,z) é <strong>de</strong>finido por:<br />

∂F ∂F ∂F<br />

(x,y,z)·(x−x)+ (x,y,z)·(y −y)+ (x,y,z)·(z −z) = 0.<br />

∂x ∂y ∂z<br />

Exemplos:<br />

• por essa <strong>de</strong>finição a esfera <strong>de</strong> raio 1 dada por x 2 +y 2 +z 2 −1 = 0 tem em<br />

(0,0,1) o plano tangente<br />

∂F<br />

(0,0,1)·(z −1) = 2·(z −1) = 0,<br />

∂z<br />

que é o mesmo que o plano horizontal z = 1 no espaço (x,y,z).


CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 213<br />

• a equação z 2 − x 2 − y 2 = 0 <strong>de</strong>fine uma superfície conhecida como cone <strong>de</strong><br />

duas folhas. No ponto (0,0,0):<br />

∂F<br />

∂x<br />

= ∂F<br />

∂y<br />

= ∂F<br />

∂x<br />

= 0,<br />

e nele portanto não está <strong>de</strong>finido um plano tangente. Por isso esse ponto é<br />

especial ou singular.<br />

4. Tangentes, pontos racionais <strong>de</strong> cúbicas e códigos secretos<br />

Consi<strong>de</strong>remos uma cúbica em forma implícita, ou seja, uma curva dada por:<br />

ou equivalentemente:<br />

y 2 −x 3 −bx−a = 0, a,b ∈ R,<br />

y 2 = x 3 +bx+a a,b ∈ R.<br />

Quando se trabalha comcomputadores, o melhor dosmundos élidar com números<br />

Racionais. E duas questões muito importantes e atuais, que estão relacionadas com<br />

a aplicação da matemática à criptografia, são:<br />

Questão 1: Seja a curva dada por<br />

y 2 = x 3 +bx+a a,b ∈ Q.<br />

Quem são ou quantos são os pontos P = (x,y) da curva que têm ambas coor<strong>de</strong>nadas<br />

Racionais ?<br />

Questão 2: Dado um ponto P <strong>de</strong>ssa curva com coor<strong>de</strong>nadas Racionais, como<br />

produzir outros pontos <strong>de</strong>la que também tenham coor<strong>de</strong>nadas Racionais ?<br />

Usaremos a notação P = (x,y) ∈ Q×Q para dizer que ambas as coor<strong>de</strong>nadas são<br />

Racionais.<br />

A seguinte Afirmação é um método para atacar a segunda questão:<br />

Afirmação 4.1. (Método das secantes e das tangentes)<br />

Consi<strong>de</strong>re uma cúbica com coeficientes Racionais da forma<br />

F(x,y) = y 2 −x 3 −bx−a a,b ∈ Q.<br />

• i) sejam P1 = (x1,y ) ∈ Q × Q e P2 = (x<br />

1 2,y ) ∈ Q × Q <strong>de</strong> F(x,y) = 0,<br />

2<br />

distintos. Se a reta que os liga não é vertical então ela intersecta a cúbica<br />

em P3 = (x3,y ) ∈ Q×Q.<br />

3<br />

• ii) Suponha que ∂F = 2y não se anula em P = (x,y) ∈ Q×Q. Então a reta<br />

∂y<br />

tangente a F(x,y) em P intersecta a cúbica num ponto Q que também tem<br />

coor<strong>de</strong>nadas Racionais.<br />

Demonstração.<br />

De i):


4. TANGENTES, PONTOS RACIONAIS DE CÚBICAS E CÓDIGOS<br />

SECRETOS 214<br />

A reta ligando P1 e P2 é:<br />

y = ( y 2 −y 1)·x+<br />

x2 −x1 x2y −x<br />

1 1y<br />

2<br />

x2 −x1 = A·x+b,<br />

ou seja, tem coeficientes angular A e linear B Racionais.<br />

Queremos resolver a equação<br />

mas<br />

(Ax+B) 2 −x 3 −bx−a = 0,<br />

(Ax+B) 2 −x 3 −bx−a = (x−x 1)·(x−x 2)·q(x),<br />

on<strong>de</strong> o grau do polinômio q(x) é 3−2 = 1.<br />

Mas, como se viu na prova do Teorema 7.1 do Capítulo 6 e na Digressão que se<br />

seguiu, os coeficientes <strong>de</strong> q(x) são Racionais.<br />

Logo a terceira solução é a raíz <strong>de</strong><br />

p(x) = p1<br />

q1<br />

·x+ p2<br />

q2<br />

= 0<br />

e portanto produz um ponto P3 da cúbica com coor<strong>de</strong>nadas Racionais.<br />

De ii):<br />

Pelo Teorema 2.1, F(x,y) localmente em torno <strong>de</strong> P é um gráfico <strong>de</strong> y = y(x),<br />

com<br />

y ′ ∂F<br />

∂x (x) = − ∂F<br />

∂y<br />

= − −3x2 −b<br />

.<br />

2y<br />

Como b,x,y ∈ Q então y ′ (x) avaliada em P = (x,y) é um número Racional, que<br />

<strong>de</strong>noto aqui <strong>de</strong> A.<br />

A equação da reta tangente é do tipo:<br />

rP : y = Ax+B<br />

on<strong>de</strong> o valor do coeficiente linear B se obtêm <strong>de</strong>:<br />

y = Ax+B ⇔ B = y −Ax,<br />

e portanto B também é um número Racional.<br />

As coor<strong>de</strong>nadas x dos pontos na intersecção F(x,y)∩rP são as soluções <strong>de</strong>:<br />

ou seja, soluções <strong>de</strong><br />

ou, equivalentemente,<br />

F(x,y) = 0 e y = Ax+B,<br />

(Ax+B) 2 −x 3 −bx−a = 0,<br />

−x 3 +A 2 x 2 +(2AB −b)x+B 2 −a = 0.<br />

Agora é o momento <strong>de</strong> lembrar que a coor<strong>de</strong>nada x <strong>de</strong> P = (x,y) é uma raíz dupla<br />

ou tripla <strong>de</strong>sse polinômio, já que rP é tangente à curva F(x,y) nesse ponto (tripla<br />

seria o caso <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> inflexão).<br />

=


CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 215<br />

No caso em que x é raíz dupla exatamente, pelo Teorema 4.1 do Capítulo 13:<br />

−x 3 +A 2 x 2 +(2AB −b)x+B 2 −a = (x−x) 2 ·q(x).<br />

on<strong>de</strong> o grau do polinômio q(x) é 3 − 2 = 1. A<strong>de</strong>mais os coeficientes <strong>de</strong> q(x) são<br />

Racionais (Teorema 7.1, Capítulo 6 e Digressão).<br />

Ou seja, q(x) = q1x+q0, com q0,q1 ∈ Q e a raíz <strong>de</strong> q(x) é<br />

O ponto Q = P buscado é portanto:<br />

Q = ( −q0<br />

q1<br />

−q0<br />

.<br />

q1<br />

, A( −q0<br />

)+B),<br />

q1<br />

que nitidamente tem coor<strong>de</strong>nadas Racionais.<br />

Se P é ponto <strong>de</strong> inflexão, então Q = P, ou seja,<br />

rP ∩F(x,y) = {P,Q} = {P}.<br />

Exemplo 4.1. Consi<strong>de</strong>re a curva analisada por Billing, em 1937:<br />

y 2 −x 3 +82x = 0.<br />

Fora o óbvio (0,0) há três pontos com coor<strong>de</strong>nadas Racionais relativamente simples<br />

P1 = (−1,9), P2 = (−8,12), P3 = ( 49 231<br />

,<br />

4 8 ).<br />

A Figura a seguir mostra como o Maple plota para essa curva:<br />

y<br />

-5<br />

100<br />

50<br />

0<br />

0<br />

-50<br />

-100<br />

5<br />

x<br />

Vou implementar neste Exemplo o que a prova da Afirmação 4.1 nos ensinou (as<br />

contas tediosas foram feita com o Maple).<br />

10<br />

15<br />

20


4. TANGENTES, PONTOS RACIONAIS DE CÚBICAS E CÓDIGOS<br />

SECRETOS 216<br />

A reta tangente ao gráfico local y = y(x) <strong>de</strong> F(x,y) = 0 em P1 = (−1,9) é:<br />

rP1 : − 79 83<br />

x+<br />

18 18 .<br />

A intersecção rP1 ∩F(x,y) = {P1,Q1} tem<br />

Ver a Figura:<br />

Q1 = ( 6889<br />

324 ,−517339)<br />

∼ (21,−88).<br />

5832<br />

-10<br />

y<br />

-5<br />

100<br />

50<br />

0<br />

0<br />

-50<br />

-100<br />

5<br />

x<br />

10 15 20<br />

Agora po<strong>de</strong>mos continuar o processo.<br />

Tomo Q1, a tangente rQ1 e <strong>de</strong>termino rQ1 ∩ F(x,y) = {q1,Q2} on<strong>de</strong> Q2 terá<br />

coor<strong>de</strong>nadas Racionais.<br />

Faço as contas e obtenho:<br />

rQ1 : − 44588977<br />

6208068<br />

Q2 = ( 3143435938720609<br />

346860974633616<br />

A Figura a seguir mostra isso:<br />

x+ 4653507299<br />

72701712<br />

, −6994054838592555031151)<br />

∼ (9,−1).<br />

6460009551215289641664


CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 217<br />

100<br />

50<br />

y 0<br />

-10 -5 0 5 10 15<br />

-50<br />

-100<br />

x<br />

Um Teorema <strong>de</strong> Billing diz que se continuamos o processo, agora em Q2 e assim<br />

sucessivamente, produzimos uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pontos da curva com coor<strong>de</strong>nadas<br />

Racionais.<br />

O mesmo ocorreria se tivéssemos começado com P2 ou P3.<br />

4.1. Códigos secretos.<br />

Agora imagine que alguém quer criar uma operação <strong>de</strong> duplicação muito estranha.<br />

Po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>finir que, para 4<br />

P1 := (−1,9),<br />

2⋆P1 := Q1 = ( 6889<br />

324 ,−517339<br />

5832 ).<br />

E <strong>de</strong>pois, do mesmo modo5 Ou seja:<br />

2⋆Q1 := Q2<br />

4⋆P1 = ( 3143435938720609<br />

, −6994054838592555031151<br />

346860974633616 6460009551215289641664 ).<br />

Agora note que:<br />

• 4 ⋆ P1 é obtido a partir <strong>de</strong> P1 <strong>de</strong> modo exato (por ser Racional), computacionalemte<br />

<strong>de</strong> modo rápido, apesar <strong>de</strong> ser completamente diferente <strong>de</strong> P1<br />

• mas a natureza <strong>de</strong> 4 ⋆ P1 torna-se impenetrável se não digo quem é P1 ou<br />

qual a equação da cúbica que usei.<br />

4De fato na teoria<strong>de</strong> curvaselípticasse tomarianolugar<strong>de</strong> Q1 oponto da cúbica que é simétrico<br />

<strong>de</strong> Q1 em relação ao eixo dos x.<br />

5Novamente, se usa <strong>de</strong> fato que o ponto da cúbica que é simétrico <strong>de</strong> Q2 em relação ao eixo dos<br />

x.<br />

20


5. DERIVAÇÃO IMPLÍCITA DE SEGUNDA ORDEM 218<br />

• essa enorme assimetria entre a passagem<br />

e a passagem<br />

P1 ↦→ 4⋆P1<br />

4⋆P1 ↦→ P1<br />

é a base <strong>de</strong> um código secreto po<strong>de</strong>roso.<br />

Oleitorquesesentiuinstigado<strong>de</strong>veprocurarentãoestudar ateoria<strong>de</strong>criptografia<br />

sobre as chamadas cúbicas na forma <strong>de</strong> Wierstrass.<br />

5. Derivação implícita <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m<br />

Na Seção 5 do Capítulo 3 associamos a Figura:<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1 -0,5 0 0,5 1<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

à curva y 2 −x 3 −1 = 0. Mas tem algo que não ficou plenamente justificado. Parece<br />

na Figura que há 2 pontos <strong>de</strong> inflexão, em torno <strong>de</strong> x ∼ 0.8.<br />

Vamosconsi<strong>de</strong>rar aoinvés daquela curva, outrabemparecida (masmaisa<strong>de</strong>quada<br />

para nossas contas):<br />

F(x,y) = y 2 −x 3 −4x = 0.<br />

A inflexão <strong>de</strong>ve aparecer on<strong>de</strong> a segunda <strong>de</strong>rivada y ′′ (x) muda <strong>de</strong> sinal, ou seja<br />

on<strong>de</strong> y ′′ (x) = 0.<br />

Só que já sabemos que aqui não se trata <strong>de</strong> um gráfico, mas apenas <strong>de</strong> uma curva.<br />

Por isso precisamos da <strong>de</strong>rivação implícita, só que agora para calcular a segunda<br />

<strong>de</strong>rivada.<br />

Já sabemos que se y = 0:<br />

y ′ ∂F<br />

∂x (x) = − ∂F<br />

∂y<br />

1,5<br />

= 3x2 +4<br />

.<br />

2y<br />

Então calculo<br />

y ′′ (x) = ( 3x2 +4<br />

)<br />

2y<br />

′<br />

pela regra do quociente, obtendo:<br />

y ′′ (x) = 12x·y −(3x2 +4)·2y ′ (x)<br />

4y 2<br />

2<br />

=


CAPÍTULO 15. DERIVADAS DE FUNÇÕES IMPLÍCITAS 219<br />

= 12x·y −(3x2 +4)·2( 3x2 +4 ) 2y<br />

4y2 =<br />

= 12xy2 −9x4 −24x2 −16<br />

4y3 .<br />

Preciso ver as raízes <strong>de</strong> y ′′ (x), ou seja, as raízes <strong>de</strong><br />

já que posso substituir<br />

Ora,<br />

12x(x 3 +4x)−9x 4 −24x 2 −16<br />

y 2 = x 3 +4x.<br />

12x(x 3 +4x)−9x 4 −24x 2 −16 = 3x 4 +24x 2 −16,<br />

que sabemos resolver (pense em z = x 2 e resolva 15z 2 +72z −16 = 0).<br />

Assim obtenho as raízes:<br />

− 2<br />

3<br />

<br />

−9+6 √ 3,<br />

2<br />

3<br />

das quais a única Real e positiva é<br />

<br />

−9+6 √ 3, − 2<br />

3<br />

<br />

−9−6 √ 3,<br />

x := 2<br />

<br />

−9+6<br />

3<br />

√ 3 ∼ 0.78.<br />

Para este valor <strong>de</strong> x há dois valores <strong>de</strong> y na curva y 2 = x 3 +4x:<br />

e<br />

<br />

2<br />

6(−9+6<br />

9<br />

√ 3) 3/2 <br />

+54 −9+6 √ 3 ∼ 1.9<br />

− 2<br />

<br />

6(−9+6<br />

9<br />

√ 3) 3/2 <br />

+54 −9+6 √ 3 −1.9<br />

<br />

2<br />

−9−6<br />

3<br />

√ 3,<br />

Agora, já que já temos y ′ (x), é um trabalho tedioso achar a equação da reta tangente<br />

em por exemplo:<br />

( 2<br />

<br />

−9+6<br />

3<br />

√ 3, 2<br />

<br />

6(−9+6<br />

9<br />

√ 3) 3/2 <br />

+54 −9+6 √ 3).<br />

Com essa equação posso plotar a cúbica e sua tangente, que mostra bem que há<br />

uma inflexão nesse ponto:


6. EXERCÍCIOS 220<br />

-2<br />

8<br />

4<br />

y 0<br />

-1 0<br />

-4<br />

-8<br />

1 2 3 4<br />

x<br />

6. Exercícios<br />

Exercício 6.1. (resolvido)<br />

Consi<strong>de</strong>re F(x,y) = y 2 −x 3 = 0. Consi<strong>de</strong>re o ponto (1,1) <strong>de</strong>ssa curva.<br />

i) usando o Teorema 2.1 verifique que perto <strong>de</strong> (1,1) essa curva é o gráfico <strong>de</strong> uma<br />

função y = y(x).<br />

ii) calcule a <strong>de</strong>rivada da função do item i) em (1,1).<br />

iii) note que (1,−1) também está na curva F(x,y) = y 2 −x 3 = 0 e portanto ela<br />

não é globalmente um gráfico <strong>de</strong> y = y(x).<br />

Exercício 6.2. Consi<strong>de</strong>re a cúbica F(x,y) = y 2 −x 3 −4x = 0.<br />

Umfato muitobonitoéqueestacurvasótem3pontoscomcoor<strong>de</strong>nadasRacionais:<br />

Suponha esse fato.<br />

Por outro lado ∂F(x,y)<br />

∂y<br />

(0,0), (2,4) e (2,−4).<br />

= 2y não se anula em (2,4) nem em (2,−4), o que nos dá<br />

a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar o método das tangentes (Afirmação 4.1) para obter pontos<br />

racionais a partir <strong>de</strong>les.<br />

i) conclua sem fazer nenhuma conta que as retas tangentes a F(x,y) em (2,4) e<br />

em (2,−4) passam pela origem (0,0).<br />

ii) faça as contas e obtenha as equações <strong>de</strong>ssas duas retas tangentes.<br />

5


CAPíTULO 16<br />

Funções inversas e suas <strong>de</strong>rivadas<br />

Vimos na Seção 1.2 do Capítulo 5 da Parte 1, que quando referidos ao mesmo<br />

sistema cartesiano os gráficos <strong>de</strong> y = f(x) e <strong>de</strong> sua inversa y = f−1 (x) , então elas se<br />

relacionam por uma reflexão na diagonal y = x.<br />

Logo uma reta tangente aográfico y = f(x) <strong>de</strong> coeficiente angular a = B/A = 0 se<br />

transforma numa reta tangente ao gráfico refletido, mas agora <strong>de</strong> coeficiente angular<br />

1 = A/B (já que os acréscimos na coor<strong>de</strong>nada x e y que <strong>de</strong>finem A e B ficam<br />

a<br />

invertidos quando refletimos na diagonal). Ilustro isso nas Figura a seguir:<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

-0,2<br />

-0,4<br />

0,2<br />

0,4<br />

x<br />

Figura: Reflexão na diagonal <strong>de</strong> um gráfico e <strong>de</strong> sua reta tangente<br />

Quero motivar com isso o seguinte fato:<br />

Teorema 0.1. Seja y = f(x) <strong>de</strong>rivável com f ′ (x) = 0 e com uma função inversa<br />

f −1 (x) também <strong>de</strong>rivável. Então:<br />

f −1′ (x) =<br />

0,6<br />

0,8<br />

1<br />

f ′ (f −1 (x)) .<br />

Demonstração. Consi<strong>de</strong>ro a composição entre f e g = f −1 , que resulta em uma<br />

anular o efeito da outra:<br />

(f ◦f −1 )(x) ≡ x.<br />

Então o Teorema 1.1 dá:<br />

Mas por outro lado:<br />

(f ◦f −1 ) ′ (x) = f ′ (f −1 (x))·(f −1 ) ′ (x).<br />

1 ≡ (f ◦f −1 ) ′ (x)<br />

221


1. DERIVADA DE Y = √ X 222<br />

pois (f ◦f −1 )(x) ≡ x. Asim que:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

1 ≡ f ′ (f −1 (x))·(f −1 ) ′ (x),<br />

(f 1 ) ′ (x) =<br />

1<br />

f ′ (f −1 (x)) .<br />

1. Derivada <strong>de</strong> y = √ x<br />

Vejamos o que é a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> y = √ x <strong>de</strong> dois modos distintos, um pela <strong>de</strong>finição<br />

e outro lembrando que √ :R >0 → R >0 é a inversa <strong>de</strong> y = x2 : R >0 → R >0 .<br />

Pela <strong>de</strong>finição temos:<br />

√ √<br />

√ ′ x+h− x<br />

x (x) := lim<br />

h→0 h<br />

e para x > 0 e h com |h| suficientemente pequeno para que x+h > 0, escrevo:<br />

√ √ √ √ √ √<br />

x+h− x x+h− x x+h+ x<br />

lim = lim · √ √ .<br />

h→0 h h→0 h x+h+ x<br />

Agora uso que (+△)·(−△) = 2 −△ 2 , para obter que:<br />

√ x ′ (x) = lim<br />

h→0<br />

= lim<br />

h→0<br />

x+h−x<br />

h·( √ x+h+ √ x) =<br />

1<br />

√ x+h+ √ x .<br />

E agora uso a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> y = √ x (por ser inversa <strong>de</strong> função contínua <strong>de</strong>finida<br />

num intervalo) para fazer:<br />

Observe que<br />

√ x ′ (x) = lim<br />

h→0<br />

1<br />

√ x+h+ √ x = 1<br />

2· √ x .<br />

1<br />

lim<br />

xց0 2· √ x<br />

= +∞<br />

o que diz que o gráfico <strong>de</strong> y = √ x fica vertical na origem.<br />

Agora quero comparar esse resultado com o que obtemos pelo Teorema 0.1 sobre<br />

a <strong>de</strong>rivada da inversa.<br />

Seja f : R >0 → R >0 dada por f(x) = x 2 e sua inversa f −1 (x) = √ x. Como<br />

f ′ (x) = 2x, então<br />

f ′ ( √ x) = 2· √ x<br />

e portanto pelo Teo 0.1:<br />

√ x ′ (x) = 1<br />

2· √ x ,<br />

como queríamos.


CAPÍTULO 16. FUNÇÕES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 223<br />

2. Distância versus quadrado da distância<br />

No Capítulo 11 usamos a função que dava o quadrado da distância <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um<br />

ponto, ao invés da distância ela mesma, para evitar <strong>de</strong>rivar a raíz quadrada, que<br />

aparece na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> distância (euclidiana) entre dois pontos.<br />

A Afirmação a seguir justifica isso:<br />

Afirmação 2.1. Seja f : [a,b] → R, <strong>de</strong>rivável, com f(x) > 0 ∀x ∈ [a,b].<br />

Então f tem ponto <strong>de</strong> mínimo/máximo global em x ∈ [a,b] se e somente se f 2 (x)<br />

tem tem ponto <strong>de</strong> mínimo/máximo global em x ∈ [a,b].<br />

Demonstração.<br />

Se a é tal que 0 < f(a) ≤ f(x) ∀x ∈ [a,b] então 0 < f 2 (a) ≤ f 2 (x), pois a função<br />

y = z 2 é estritamente crecente em (0,+∞).<br />

Se a é tal que 0 < f 2 (a) ≤ f 2 (x) ∀x ∈ [a,b] então<br />

0 < f 2 (a) ≤ f 2 (x),<br />

pois a função y = √ z é estritamente crescente em (0,+∞), já que sua <strong>de</strong>rivada é<br />

1<br />

2 √ > 0. Ou seja, 0 < f(a) ≤ f(x) ∀x ∈ [a,b].<br />

z<br />

Analogamente para o caso 0 < f(x) ≤ f(a) e para o caso do outro extremo b <strong>de</strong><br />

[a,b].<br />

Se x é ponto do intervalo aberto (a,b) que é mínimo global <strong>de</strong> f então f ′ (x) = 0,<br />

f ′ (x) ≤ 0 num pequeno intervalo à esquerda <strong>de</strong> x e f ′ (x) ≥ 0 num pequeno intervalo<br />

à direita <strong>de</strong> x. Mas então<br />

(f 2 ) ′ (x) = 2·f(x)·f ′ (x) = 0<br />

e (f 2 ) ′ tem os mesmo sinais que f ′ próximos <strong>de</strong> x. Logo x é mínimo global <strong>de</strong> f 2 (x).<br />

Reciprocamente, se x ∈ (a,b) é mínimo global <strong>de</strong> f 2 (x) então (f 2 ) ′ (x) = 0, com<br />

(f 2 ) ′ ≤ 0 à esquerda <strong>de</strong> x e (f 2 ) ′ ≥ 0 à direita <strong>de</strong> x. Mas como<br />

(f 2 ) ′ (x) = 2·f(x)·f ′ (x) e f(x) > 0,<br />

então f ′ (x) = 0 e os sinais <strong>de</strong> f ′ próximo a x são os mesmos <strong>de</strong> (f 2 ) ′ : concluo que x<br />

é mínimo global <strong>de</strong> f(x).<br />

Analogamente para ponto do intervalo aberto (a,b) que seja máximo global <strong>de</strong> f<br />

ou f 2 . <br />

O Exercício 6.10 usa <strong>de</strong> outro modo o que apren<strong>de</strong>mos na prova da Afirmação 2.1.<br />

3. Derivada da “função”x 1<br />

n, <strong>de</strong> x m<br />

n e <strong>de</strong> x −m<br />

n<br />

Seja a função f(x) = x n . Se n é par, precisamos restringir f a um semi-eixo para<br />

termos uma função inversa f −1 (uma raíz n-ésima).<br />

Comessa ressalva, consi<strong>de</strong>re g = f −1 ainversa <strong>de</strong>f(x) = x n . Ouseja g(f(x)) = x.<br />

A notação usual para g(x) é g(x) = x 1<br />

n, feita <strong>de</strong> propósito a que valha<br />

g(f(x)) = (x n ) 1<br />

n = x = x n<br />

n.


1<br />

3. DERIVADA DA “FUNÇÃO”X N, DE X M<br />

N E DE X −M<br />

N 224<br />

Afirmação 3.1. Consi<strong>de</strong>re a função x 1<br />

n, para n ∈ N, (com a ressalva acima). Então<br />

para x = 0 vale que<br />

(x 1<br />

n) ′<br />

(x) = 1 1<br />

xn n −1 .<br />

Demonstração.<br />

O Teorema 0.1 diz que para x = 0, combinado com a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> x n , dá:<br />

(x 1<br />

n) ′<br />

=<br />

1<br />

n·(x 1<br />

n) n−1.<br />

De aí em diante basta fazer algumas manipulações (usando (x 1<br />

n) k = x k<br />

n):<br />

x 1 ′<br />

n = 1<br />

n ·<br />

1<br />

x n−1<br />

n<br />

= 1<br />

n ·x−n−1 n = .<br />

= 1<br />

n ·x1−n n = 1 1<br />

·x n<br />

n −1 .<br />

Po<strong>de</strong>mos agora <strong>de</strong>rivar funções do tipo x m<br />

n com m,n ∈ N usando as regras da<br />

composta e da inversa, pois<br />

x m<br />

n = (x 1<br />

n) m .<br />

Então pelo Teorema 1.1 (a regra da composta) e o que já sabemos para x 1<br />

n:<br />

(x 1<br />

n) m′<br />

= m·(x 1<br />

n) m−1<br />

·( 1 1<br />

·x n<br />

n −1 ) =<br />

= m<br />

n ·xm−1 n ·x 1<br />

n−1 = m<br />

n ·xm n −1<br />

Para po<strong>de</strong>rmos <strong>de</strong>rivar funções do tipo x −m<br />

n com m,n ∈ N po<strong>de</strong>mos escrever<br />

x −m<br />

n = 1<br />

x m n<br />

e usar o que sabemos <strong>de</strong> quocientes e <strong>de</strong> xmn:<br />

( 1<br />

x m<br />

′<br />

)<br />

n<br />

= −m<br />

nxm n −1<br />

x 2m<br />

n<br />

= − m<br />

n ·xm n −1−2m n =<br />

− m<br />

n ·x−m n −1 .<br />

Qual o sentido <strong>de</strong> dizermos que em geral se f(x) = x α então f ′ (x) = αx α−1 ?<br />

E se α ∈ Q? Por exemplo α = √ 2 ou α = π? Após darmos um sentido a essa<br />

expressão (e precisaremos da função exponencial para isso), será que essa função é<br />

<strong>de</strong>rivável ? Será que sua <strong>de</strong>rivada também é α·x α−1 ? Voltaremos...


CAPÍTULO 16. FUNÇÕES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 225<br />

4. Derivadas do arcoseno e do arcocosseno<br />

É claro que o seno visto como função periódica sin : R → R ou mesmo visto em<br />

sin : [0,2π] → R não tem uma função inversa.<br />

Mas sua restrição sin : (−π π , ) → (−1,1) mostrada na Figura a seguir sim tem<br />

2 2<br />

função inversa ! De fato, nessa região (− π π<br />

, ) o seno é uma função injetora, pois sua<br />

2 2<br />

<strong>de</strong>rivada sin ′ (x) = cos(x) é sempre positiva em (−π π , ), logo sin(x) é estritamente<br />

2 2<br />

crescente e portanto uma função injetora.<br />

-1,5 -1<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-0,5 0<br />

x<br />

-0,5<br />

-1<br />

Figura: Restrição do seno ao intervalo ((−π π , 2 2 ).<br />

A inversa <strong>de</strong> sin : (− π π<br />

, ) → R é chamada <strong>de</strong> valor principal do arco seno ou<br />

2 2<br />

apenas arcoseno, no sentido <strong>de</strong> que dado sin(θ) em (−1,1) ela diz <strong>de</strong> que arco θ ele<br />

proveio, π<br />

2<br />

< θ < π<br />

2 .<br />

É <strong>de</strong>notada arcsin. Guardaremos o símbolo sin(x) −1 para <strong>de</strong>notar 1<br />

sin(x) .<br />

-1<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-0,5 0<br />

x<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> arcoseno, domínio (−1,1) e imagem (−π π , 2 2 ).<br />

Como explicado no Teorema que trata da inversa <strong>de</strong> funções contínuas, o arcoseno<br />

e o arcocosseno são funções contínuas. Mas vamos assumir que seja <strong>de</strong>rivável, para<br />

calcularmos sua <strong>de</strong>rivada.<br />

Agora consi<strong>de</strong>re na Figura a seguir a restrição do cosseno ao intervalo [0.π].<br />

0,5<br />

0,5<br />

1<br />

1<br />

1,5


4. DERIVADAS DO ARCOSENO E DO ARCOCOSSENO 226<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 0,5<br />

-0,5<br />

-1<br />

1<br />

1,5<br />

x<br />

É uma função estritamente <strong>de</strong>crescente, cuja inversa (também estritamente <strong>de</strong>crescente)<br />

é <strong>de</strong>notada arccos : [−1,1] → [π,0].<br />

Afirmação 4.1.<br />

i) A <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> arcsin : (−1,1) → (− π<br />

2<br />

arcsin ′ (x) =<br />

Para a > 0, a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> arcsin( x<br />

a<br />

arcsin ′ ( x<br />

) =<br />

a<br />

2<br />

2,5<br />

π , ) é 2<br />

1<br />

√ 1−x 2 .<br />

) : (−a,a) → (−π<br />

2<br />

1<br />

√ a 2 −x 2 .<br />

ii) A <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> arccos : (−1,1) → [π,0] é<br />

arccos ′ 1<br />

(x) = −√<br />

1−x 2 .<br />

iii) arccos(x) = π −arcsin(x), ∀x ∈ [−1,1].<br />

2<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

Pelo Teorema 0.1:<br />

arcsin ′ 1<br />

(x) =<br />

sin ′ (arcsin(x)) .<br />

Mas já sabemos que a <strong>de</strong>rivada do seno é o cosseno, logo:<br />

arcsin ′ 1<br />

(x) =<br />

cos(arcsin(x)) .<br />

Agora uso a relação trigonométrica<br />

e<br />

para obter:<br />

3<br />

π , ) é: 2<br />

cos 2 (arcsin(x))+sin 2 (arcsin(x)) ≡ 1<br />

sin 2 (arcsin(x)) = (sin(arcsin(x)) 2 = x 2<br />

cos 2 (arcsin(x)) = 1−x 2 ,<br />

e como cos(arcsin(x)) > 0 quando arcsin(x) ∈ (− π<br />

2<br />

, π<br />

2<br />

cos(arcsin(x)) = + √ 1−x 2<br />

) então obtenho:


CAPÍTULO 16. FUNÇÕES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 227<br />

e portanto<br />

arcsin ′ (x) =<br />

1<br />

√ 1−x 2 ,<br />

como queríamos.<br />

Quando tomo a > 0, então pela regra da <strong>de</strong>rivada da composta:<br />

De ii):<br />

Pelo Teorema 0.1:<br />

arcsin ′ ( x<br />

) =<br />

a<br />

= 1<br />

√ a 2<br />

1 1<br />

· x 1−( )2 a<br />

a =<br />

1<br />

= x 1−( )2<br />

a<br />

arccos ′ (x) =<br />

1<br />

√ a 2 −x 2 .<br />

1<br />

cos ′ (arccos(x)) .<br />

Mas já sabemos a <strong>de</strong>rivada do cosseno, logo:<br />

arccos ′ −1<br />

(x) =<br />

sin(arccos(x)) .<br />

Exatamente como fizemos antes, a relação trigonométrica entre seno e cosseno e o<br />

fato <strong>de</strong> que o seno restrito a [0,π] é ≥ 0, dão:<br />

De iii):<br />

Os itens i) e ii) já provados dão que:<br />

arccos ′ (x) = −1<br />

√ 1−x 2 .<br />

arccos ′ (x) = −arcsin ′ (x), ∀x ∈ (−1,1).<br />

Portanto existe uma constante C ∈ R tal que:<br />

Mas<br />

o que nos diz que<br />

A<strong>de</strong>mais também:<br />

bem como:<br />

arccos(x) = −arcsin(x)+C, ∀x ∈ (−1,1).<br />

π<br />

2<br />

= arccos(0) = −arcsin(0)+C = 0+C,<br />

C = π<br />

2 .<br />

π = arccos(−1) = π π<br />

+<br />

2 2<br />

0 = arccos(1) = − π π<br />

+<br />

2 2<br />

= −arcsin(−1)+ π<br />

2 ,<br />

= −arcsin(1)+ π<br />

2 .


5. DERIVADA DO ARCOTANGENTE 228<br />

O Exercício 6.8 propõe comprovar geometricamente (qualitativamente ao menos)<br />

que arccos(x) = −arcsin(x)+ π<br />

2 .<br />

Note agora que a função 1<br />

√ 1−x 2 para x ∈ (−1,1) é sempre positiva, vale 1 na<br />

origem e tem<br />

lim<br />

xր1<br />

1<br />

√ 1−x 2<br />

= +∞, e lim<br />

xց1<br />

1<br />

√ 1−x 2<br />

= +∞.<br />

Tudo isso se vê na figura abaixo, on<strong>de</strong> plotei o arcoseno e sua <strong>de</strong>rivada, para<br />

x ∈ [−0.95,0.95] (não posso me aproximar <strong>de</strong>mais <strong>de</strong> −1 ou <strong>de</strong> 1 se não o gráfico fica<br />

muito alto !)<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-0,8-0,4 0 0,4 0,8<br />

x<br />

-1<br />

Figura: Gráfico <strong>de</strong> y = arcsin(x) (vermelho) e <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>rivada y = 1<br />

√ 1−x 2 (ver<strong>de</strong>).<br />

Essa figura é tão parecida (qualitativamente) com a que já vimos no Capítulo<br />

anterior da função y = tan(x) e sua <strong>de</strong>rivada que resolvi plotá-las juntas, para que o<br />

leitor possa fazer comparações:<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-0,8-0,4 0 0,4 0,8<br />

x<br />

-1<br />

Figura: y = tan(x) (vermelho), sua <strong>de</strong>rivada (ver<strong>de</strong>), y = arcsin(x)<br />

(amarelo) e sua <strong>de</strong>rivada (azul) restritas a (−0.9,0.9).<br />

Se x ∈ (− π<br />

2<br />

π , ) então 2<br />

5. Derivada do arcotangente<br />

tan ′ (x) =<br />

1<br />

cos 2 (x)<br />

> 0,


CAPÍTULO 16. FUNÇÕES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 229<br />

o que diz que para x ∈ (−π π , ) a função y = tan(x) é estritamente crescente.<br />

2 2<br />

Logo é injetora e tem função inversa <strong>de</strong>notada:<br />

arctan : R → (− π π<br />

,<br />

2 2 ).<br />

Afirmação 5.1.<br />

arctan ′ (x) = 1<br />

1+x 2, ∀x ∈ R<br />

e para a > 0 :<br />

1<br />

a ·arctan′ ( x 1<br />

) =<br />

a a2 +x2, ∀x ∈ R<br />

Demonstração.<br />

Pelo Teorema 0.1 e pela <strong>de</strong>rivada da função tan(x):<br />

arctan ′ (x) =<br />

=<br />

1<br />

tan ′ (arctan(x)) =<br />

1<br />

1 ( cos2 =<br />

) (arctan(x))<br />

= cos 2 (arctan(x)).<br />

Agora arctan(x) é um arco/ângulo e portanto vale para ele a relação trigonométrica<br />

básica:<br />

sin 2 (arctan(x))+cos 2 (arctan(x)) = 1<br />

e daí, dividindo por cos 2 (arctan(x)) > 0, temos:<br />

ou seja<br />

e como<br />

quer dizer:<br />

Logo<br />

sin2 (arctan(x))<br />

cos2 +1 =<br />

(arctan(x))<br />

tan 2 (arctan(x))+1 =<br />

1<br />

cos 2 (arctan(x))<br />

1<br />

cos 2 (arctan(x)) ,<br />

tan 2 (arctan(x)) = (tan(arctan(x))) 2 = x 2 ,<br />

x 2 +1 =<br />

1<br />

cos 2 (arctan(x))<br />

cos 2 (arctan(x)) = 1<br />

1+x 2<br />

arctan ′ (x) = 1<br />

1+x 2.<br />

Se a > 0 a <strong>de</strong>rivada da composta dá:<br />

arctan ′ ( x<br />

) =<br />

a<br />

1<br />

1+( x<br />

a<br />

)2 · 1<br />

a<br />

= a·<br />

1<br />

a 2 +x 2.


5. DERIVADA DO ARCOTANGENTE 230<br />

1<br />

0,5<br />

-3 -2<br />

0<br />

-1 0<br />

-0,5<br />

x<br />

-1<br />

1 2 3<br />

Figura: A função arcotangente (vermelho) e sua <strong>de</strong>rivada<br />

(ver<strong>de</strong>) restritas a (−4,4)<br />

Exemplo:<br />

Para completar essa Seção, vou mostra neste Exemplo como informação qualitativa<br />

po<strong>de</strong> servir para dar informação quantitativa !<br />

Consi<strong>de</strong>re<br />

y = F(x) = x<br />

2 −2arctan(x<br />

2 ).<br />

Apergunta é: emquepontosF(x)seanula, alémdox = 0? Oupelomenos, como<br />

dar uma aproximação <strong>de</strong>ssas raízes ? Nem pensar em tentar resolver explicitamente<br />

F(x) = 0 ...<br />

Já inicialmente é bom observar que F(x) é uma função ímpar, F(−x) = −F(x).<br />

Portanto vamos pensar no eixo x > 0 apenas, <strong>de</strong>pois fica fácil o eixo x < 0.<br />

Note que<br />

F ′ (x) = 1 1<br />

−2·<br />

2 2 ·<br />

1<br />

1+( x<br />

2<br />

1 4<br />

= −<br />

)2 2 x2 +4<br />

e esta última função teve seu gráfico esboçado na Seção 4 do Capítulo 14.<br />

Vimoslánaquela SeçãoqueF ′ (x)seanula, noeixo x > 0, emx = 2, queF ′ (x) < 0<br />

em (0,2) e que F ′ (x) > 0 em (2,+∞).<br />

Então, como F(0) = 0, concluo que y = F(x) < 0 em (0,2), assume um mínimo<br />

em x = 2 e <strong>de</strong>pois começa a crescer.<br />

Como<br />

temos<br />

lim<br />

x+∞ arctan(x<br />

π<br />

) =<br />

2 2<br />

lim F(x) = +∞.<br />

x+∞<br />

Ou seja, como F(x) é contínua, tem que voltar a se anular em algum ponto à direita<br />

<strong>de</strong> x = 2.<br />

Só que, para x > 0,<br />

F(x) = x<br />

2 −2arctan(x<br />

x π<br />

) > −2·<br />

2 2 2 .


CAPÍTULO 16. FUNÇÕES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 231<br />

Como a reta y = x<br />

2<br />

− π corta o eixo x > 0 em x = 2π ∼ 6.3, concluo que F(x) se<br />

anula 1 em x ∈ (2,6.3).<br />

Pela proprieda<strong>de</strong> ímpar, F(x) se anula em −x ∈ (−6.3,2).<br />

Note que:<br />

lim<br />

x+∞ F′ (x) = lim F<br />

x−∞ ′ (x) = 1<br />

2<br />

ou seja que a inclinação ten<strong>de</strong> a 1/2 quando |x| → ∞.<br />

Como<br />

lim<br />

x−∞ arctan(x)<br />

= −π<br />

2 2<br />

vemos que o gráfico <strong>de</strong> y = F(x) se aproxima <strong>de</strong><br />

y = x<br />

2 +π<br />

quando x → −∞.<br />

A figura a seguir ilustra F(x) em vermelho, F ′ (x) em ver<strong>de</strong>, y = y = x<br />

2<br />

azul e y = x −π em amarelo.<br />

2<br />

8<br />

4<br />

0<br />

-10 -5<br />

0<br />

5 10<br />

-4<br />

-8<br />

x<br />

6. Exercícios<br />

Exercício 6.1. (resolvidos: iii, iv, v, xv.)<br />

Derive usando regras <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação <strong>de</strong> +,−,x,/, √ e a <strong>de</strong>rivada da composta:<br />

i) sin(x 3 ), se sin(x 3 ) > 0 ii) cos 5 (x)+sin(x 5 ),<br />

+π em<br />

1 Com o método <strong>de</strong> Newton do Capítulo 18, começando com 6.3 obtive na quinta iteração x ∼<br />

4.662244741


6. EXERCÍCIOS 232<br />

iii) sin 3 (x 3 ), iv) sin(x)cos(x), v) x4 +x 2 +1<br />

3x 4 +4x 2 +1 ,<br />

vi) √ 1−x 2 , se |x| < 1, vii)sin(x 3 ), viii)cos 3 (x)+sin 3 (x),<br />

ix) x7 −x 2 −1<br />

x 4 +4x 2 +8<br />

, x)<br />

x 3 −x+1<br />

x 4 −x 3 +x 2 −1 ,<br />

xi) sin 3 (x)−sin(x 3 ), xii) 2<br />

x3, 0 < x,<br />

xiii)(sin(x)·cos 2 (x)) 2 , xiv)(x+3) 100 , xv) (3x+4) 100 .<br />

Exercício 6.2. Determine o domínio <strong>de</strong> cada uma das quatro funções a seguir e em<br />

que que pontos do domínio existe a <strong>de</strong>rivada. Derive-as usando as regras <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação<br />

(produto, soma, composição, etc).<br />

i) y =<br />

√<br />

x<br />

x2 1<br />

, ii) y =<br />

−1 sin(x) ,<br />

iii) y = tan(x)·sin(cos(x)), iv) y = x 4 ·x 1<br />

4.<br />

Exercício 6.3. No Capítulo 28 vamos <strong>de</strong>finir<br />

κ(x) :=<br />

|f ′′ (x)|<br />

(1+(f ′ (x)) 2 ) 3<br />

2<br />

como sendo a curvatura do gráfico <strong>de</strong> y = f(x) em cada ponto x.<br />

Verifique que<br />

i) κ(x) ≡ 0 para uma reta y = a·x+b e<br />

ii) κ(x) ≡ 1<br />

r para a parte do círculo x2 +y 2 = r 2 que fica no primeiro quadrante.<br />

Exercício 6.4. Suponha que você só conhece a reta tangente ao Círculo como o<br />

fizemos aqui neste curso <strong>de</strong> Cálculo, ou seja, como reta cujo coeficiente angular é<br />

dado por uma <strong>de</strong>rivada, etc.<br />

Prove que essa reta tangente é ortogonal ao raio do Círculo, ou seja, que coinci<strong>de</strong><br />

com a <strong>de</strong>finição do Ensino Médio (dica: basta consi<strong>de</strong>rar pontos do círculo x 2 +y 2 = 1<br />

com coor<strong>de</strong>nada y > 0).<br />

Exercício 6.5. Consi<strong>de</strong>re a função f : R >0 → [−1,1] dada por f(x) = sin( 1<br />

x ).<br />

i) <strong>de</strong>rive-a pela regra da composta, ii) comprove que |f ′ (x)| fica arbitrariamente<br />

gran<strong>de</strong> quando x ten<strong>de</strong> a zero, iii) interprete geometricamente o resultado, sobre o<br />

que acontece com o gráfico <strong>de</strong> f próximo à origem, iv) agora consi<strong>de</strong>re a função dada<br />

por f(x) = x2 · sin( 1<br />

) (para x > 0). v) <strong>de</strong>rive-a , vi) veja se o módulo da <strong>de</strong>rivada<br />

x<br />

f ′ (x) fica arbitrariamente gran<strong>de</strong> próximo à origem, ou não.<br />

Exercício 6.6. Consi<strong>de</strong>re a Figura a seguir, que dá o gráficos <strong>de</strong> f(x) = arctan(x)<br />

(função inversa da tangente), <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>rivada f ′ (x) = 1<br />

1+x 2 (assuma que sua <strong>de</strong>rivada


CAPÍTULO 16. FUNÇÕES INVERSAS E SUAS DERIVADAS 233<br />

é essa) e <strong>de</strong> sua segunda <strong>de</strong>rivada f ′′ (x), restritas ao eixo positivo x > 0.<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

0,5<br />

1 1,5<br />

x<br />

Vemos que o gráfico <strong>de</strong> f ′ (x) = 1<br />

1+x 2 tem um ponto <strong>de</strong> inflexão, ou seja, on<strong>de</strong> as<br />

inclinações <strong>de</strong> suas tangentes tem um mínimo e <strong>de</strong>pois vão aumentando, ficando cada<br />

vez mais próximas <strong>de</strong> zero quando x >> 1. Dito <strong>de</strong> outro modo, um ponto on<strong>de</strong> a<br />

segunda <strong>de</strong>rivada f ′′ (x) = (f ′ (x) ′ ) têm um mínimo.<br />

Para encontrar on<strong>de</strong> é esse mínimo <strong>de</strong> f ′′ (x), calcule pela regra do quociente a<br />

terceira<strong>de</strong>rivadaf ′′′ (x)eprocureporseuszeros! (Vãoserduassoluções, umapositiva<br />

e outra negativa, pois o gráfico <strong>de</strong> f ′ (x) = 1<br />

1+x 2 é simétrico em relação ao eixo dos y).<br />

Exercício 6.7. Consi<strong>de</strong>re a função g : (−1,1) → R dada por<br />

g(y) = y<br />

, se y ∈ [0,1),<br />

1−y<br />

g(y) = y<br />

, se y ∈ (−1,0].<br />

1+y<br />

(Chamo a variável <strong>de</strong> y pois foi assim que a vimos na Parte 1 do Curso). Já vimos<br />

que g é uma tremenda expansão, pois a imagem do intervalo pela g é toda a reta R !<br />

1<br />

Prove que a <strong>de</strong>rivada da g em y ∈ [0,1) é (1−y) 2 e que a <strong>de</strong>rivada da g em y ∈ (−1,0]<br />

1 é <strong>de</strong> (1+y) 2. Chamamos essas <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> expansão.<br />

Exercício 6.8. Comprove geometricamente que:<br />

arccos(x) = −arcsin(x)+ π<br />

, ∀x ∈ [−1,1].<br />

2<br />

Para isso:<br />

i) faça o gráfico qualitativamente correto do seno restrito a [−π π , 2 2 ],<br />

ii) reflita o gráfico <strong>de</strong> i) na diagonal para obter o <strong>de</strong> arcsin.<br />

iii) reflita no eixo dos x o gráfico <strong>de</strong> ii) para obter o <strong>de</strong> −arcsin<br />

iv) Transla<strong>de</strong> o gráfico <strong>de</strong> iii) verticalmente por π<br />

para obter o <strong>de</strong> −arcsin+π<br />

2 2 .<br />

v) reflita o gráfico <strong>de</strong> iv) na diagonal para obter um gráfico qualitativamente<br />

correto do cosseno a [0,π].<br />

Exercício 6.9. Descreva <strong>de</strong> modo qualitativamente correto a curva x 1<br />

2 + y 1<br />

2 = a 1<br />

2,<br />

para a > 0 fixado e x,y ≥ 0.<br />

Para isso mostre que:<br />

i) y = y(x) = (a 1<br />

2−x 1<br />

2<br />

2,5<br />

3<br />

3,5<br />

2) 2 é <strong>de</strong>rivável para 0 < x ≤ a e tem y ′ (x) ≤ 0 em 0 < x ≤ a.<br />

ii) y ′ (a) = 0, ou seja, o gráfico tangencia o eixo x em x = a.<br />

iii) por simetria se obtém o mesmo tipo <strong>de</strong> fenômeno para x = x(x) = (a 1<br />

2 −y 1<br />

2) 2 .


6. EXERCÍCIOS 234<br />

iv) a inclinação da curva no ponto ( a a , ) é −1. 4 4<br />

v) sempre o gráfico y = y(x) tem concavida<strong>de</strong> para cima.<br />

Exercício 6.10. Se alguém pe<strong>de</strong> para traçarmos qualitativamente o gráfico <strong>de</strong> y =<br />

x 6 −6x 4 +9x 2 po<strong>de</strong> parecer muito difícil.<br />

Mas se notamos que y = x 6 −6x 4 +9x 2 = (x 3 −3x) 2 então o que apren<strong>de</strong>mos na<br />

prova da Afirmação 2.1 torna a tarefa fácil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que saibamos o <strong>de</strong> y = x 3 −3x.


CAPíTULO 17<br />

Taxas relacionadas<br />

Uma utilida<strong>de</strong> da regra da <strong>de</strong>rivada da composta é a <strong>de</strong> permitir estabelecer <strong>de</strong><br />

modo quantitativamente exato como a variação <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong>za afeta a variação <strong>de</strong><br />

outra.<br />

1. Como varia um ângulo<br />

Vou consi<strong>de</strong>rar primeiro uma interessante aplicação da <strong>de</strong>rivada do arcotangente,<br />

que vimos no Capítulo anterior.<br />

Um objeto tem posição P(t) = (x(t),y(t)) no plano em cada instante t. Ambas<br />

coor<strong>de</strong>nadas po<strong>de</strong>m mudar com o tempo e suas velocida<strong>de</strong>s em cada instante - suas<br />

<strong>de</strong>rivadas - são <strong>de</strong>notadas x ′ (t) e y ′ (t) (que suponho existem).<br />

Na origem alguém observa o objeto com uma câmera e o ângulo anti-horário que a<br />

câmera faz com o eixo dos x será <strong>de</strong>notado θ(t). Que suponho é uma função <strong>de</strong>rivável<br />

<strong>de</strong> t.<br />

Como mostra a figura, on<strong>de</strong> o vetor em preto dá a posição em cada instante e o<br />

vetor em vermelho indica a velocida<strong>de</strong> em cada instante:<br />

A questão é: como muda a câmera quando o objeto muda <strong>de</strong> posição ? Ou seja,<br />

como x ′ (t) e y ′ (t) e a posição do objeto em cada instante afetam θ ′ (t) ?<br />

Supondo para simplificar que<br />

x(t) > 0, y(y) ≥ 0 e 0 ≤ θ(t) < π<br />

∀t,<br />

2<br />

então:<br />

θ(t) = arctan( y(t)<br />

x(t) ).<br />

Derivo em t, pela regra da composta:<br />

θ ′ (t) = arctan ′ ( y(t)<br />

) =<br />

x(t)<br />

235<br />

1<br />

1+( y(t) ·(y(t)<br />

)2<br />

x(t)<br />

x(t) )′ (t) =


2. COMO VARIA UMA DISTÂNCIA 236<br />

= y′ (t)·x(t)−y(t)·x ′ (t)<br />

x(t) 2 +y(t) 2<br />

.<br />

Essa fórmula dá várias informações, que servem para resolver vários problemas<br />

práticos:<br />

• se o objeto se move apenas verticalmente, então x ≡ x > 0, x ′ (t) ≡ 0 e<br />

quando está numa altura y(t) num instante t:<br />

θ ′ (t) = y′ (t)·x<br />

x 2 +y(t) 2,<br />

o que se simplifica ainda mais quando y(t) = 0 para:<br />

θ ′ (t) = y′ (t)<br />

x .<br />

• se o objeto se move apenas horizontalmente, então y ≡ y ≥ 0, y ′ (t) ≡ 0 e<br />

quando está numa posição x(t) num instante t:<br />

θ ′ (t) = −y ·x′ (t)<br />

x(t) 2 +y 2.<br />

• quando o objeto se move radialmente temos:<br />

e então:<br />

y ′ (t)<br />

x ′ (t)<br />

= y(t)<br />

x(t)<br />

θ ′ (t) = 0.<br />

• quando objeto se move num círculo <strong>de</strong> raio r > 0 centrado na origem então:<br />

θ ′ (t) = y′ (t)·x(t)−y(t)·x ′ (t)<br />

r2 .<br />

Há vários modos <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver esse movimento, por exemplo com:<br />

(x(t),y(t)) = (r ·cos(k ·t), r ·sin(k ·t)), k ∈ R<br />

pois claramente x 2 (t)+y 2 (t) ≡ r 2 . Então nesse caso teremos, usando <strong>de</strong> novo<br />

a regra da <strong>de</strong>rivada da composta:<br />

θ ′ (t) = y′ (t)·x(t)−y(t)·x ′ (t)<br />

r 2<br />

= k, ∀t<br />

2. Como varia uma distância<br />

Imagine dois objetos cujas posições P1 = (x1(t),y1(t)) e P2 = (x2(t),y2(t)) variam<br />

ao longo <strong>de</strong> segmentos <strong>de</strong> retas c1 e c2 que se encontram em ângulo α (constante)<br />

num ponto I, como na figura a seguir:


CAPÍTULO 17. TAXAS RELACIONADAS 237<br />

I<br />

α<br />

c 1<br />

c<br />

2<br />

A questão é: como variam as distâncias relativas umas às outras ?<br />

Denoto d(t) a distância entre P1 e P2. Temos pela lei dos cossenos (Afirmação<br />

3.1, na próxima Seção):<br />

P<br />

1<br />

d 2 (t) = c 2 1 (t)+c2 2 (t)−c1(t)·c2(t)cos(α).<br />

Note que se α = π (ângulo reto) o tamanho d(t) é o que se espera por Pitágoras. Se<br />

2<br />

0 < α < π (ângulo agudo) então d(t) fica menor que o que se espera por Pitágoras,<br />

2<br />

mas se π < α < π (ângulo obtuso) então d(t) fica maior que o que se espera por<br />

2<br />

Pitágoras.<br />

Então:<br />

2·d(t)·d ′ (t) = 2·c1(t)·c ′ 1 (t)+2·c2(t)·c ′ 2 (t)−[c′ 1 (t)·c2(t)+c1(t)·c ′ 2 (t)]·cos(α),<br />

ou seja:<br />

d ′ (t) = c1(t)·c ′ 1(t)+c2(t)·c ′ 2(t)− cos(α)<br />

·[c 2 ′ 1(t)·c2(t)+c1(t)·c ′ 2(t)]<br />

.<br />

d(t)<br />

Essa fórmula se presta para resolver vários problemas práticos, mesmo em casos<br />

bem particulares:<br />

• Se<br />

Então c ′ 2<br />

ou seja,<br />

c2(t) ≡ C e α = π<br />

2 .<br />

(t) ≡ 0 e cos(α) = 0 e obtemos da expressão acima:<br />

d<br />

P 2<br />

2·d(t)·d ′ (t) = 2·c1(t)·c ′ 1(t),<br />

d ′ (t) = c1(t)<br />

d(t) ·c′ 1 (t).<br />

• quando uma escada <strong>de</strong>sliza ao longo <strong>de</strong> uma pare<strong>de</strong> então d(t) ≡ d > 0 é o<br />

. Então a expressão acima vira:<br />

tamanho da escada e α = π<br />

2<br />

0 = c1(t)·c ′ 1 (t)+c2(t)·c ′ 2 (t)<br />

que diz como o aumento/diminuição da posição <strong>de</strong> um extremo repercute no<br />

outro extremo da escada.


3. LEI DOS COSSENOS E PRODUTO ESCALAR DE VETORES 238<br />

3. Lei dos cossenos e produto escalar <strong>de</strong> vetores<br />

Falta explicar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surge a:<br />

Afirmação 3.1. (Lei dos cossenos)<br />

Consi<strong>de</strong>re um triângulo △ABC com ângulo α em A.<br />

Então<br />

BC 2 = AB 2 +AC 2 −2·AB ·AC ·cos(α).<br />

Demonstração.<br />

Como para ângulo reto a fórmula é o Pitágoras, o correto seria consi<strong>de</strong>rar ângulos<br />

agudos e obtusos. Por brevida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ro apenas o caso <strong>de</strong> ângulo agudo α e <strong>de</strong>ixo<br />

o caso <strong>de</strong> obtuso como exercício para o leitor.<br />

Escolho H no segmento AC tal que BH seja ortogonal a AC em H, como mostra<br />

a figura:<br />

A<br />

Então Pitágoras se aplica em dois triângulos retângulos:<br />

De on<strong>de</strong>:<br />

Mas<br />

e portanto:<br />

ou seja:<br />

α<br />

AB 2 = BH 2 +AH 2<br />

B<br />

H<br />

C<br />

e BC 2 = BH 2 +CH 2 .<br />

BC 2 −AB 2 = CH 2 −AH 2 .<br />

CH = CA−AH<br />

BC 2 −AB 2 = (CA 2 −2·CA·AH +AH 2 )−AH 2 = CA 2 −2·CA·AH,<br />

Para terminar note que:<br />

BC 2 = AB 2 +AC 2 −2·AC ·AH.<br />

AH = AB ·cos(α).<br />

A lei dos cossenos embasa as proprieda<strong>de</strong>s do produto escalar <strong>de</strong> vetores.<br />

Definição 3.1. Dados vetores v1 = (x1,y1) e v2 = (x2,y2) <strong>de</strong>fino seu produto escalar<br />

como:<br />

v1 ·v2 = x1 ·x2 +y1 ·y2.


CAPÍTULO 17. TAXAS RELACIONADAS 239<br />

Observação:<br />

Quando usar · entre vetores se trata <strong>de</strong>sse produto. Mas. quando fizer, para<br />

λ ∈ R, o produto λ·v trata-se então <strong>de</strong> multiplicar cada coor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> v por λ.<br />

Afirmação 3.2.<br />

i):<br />

v1 ·v2 = v2 ·v1, v1 ·v1 = ||v1|| 2 , e v1 ·(v2 +v3) = v1 ·v2 +v1 ·v3.<br />

ii) Dados vetores v1 = (x1,y1) e v2 = (x2,y2), então<br />

v1 ·v2 = ||v1||·||v2||·cos(θ)<br />

on<strong>de</strong> θ é o ângulo orientado <strong>de</strong> v1 para v2 (como cos(−θ) = cos(θ) dá o mesmo que<br />

consi<strong>de</strong>rar o ângulo <strong>de</strong> v2 para v1)<br />

iii) Se ||v2|| = 1 então<br />

(v1 ·v2)·v2<br />

é o vetor que correspon<strong>de</strong> à projeção ortogonal <strong>de</strong> v1 no eixo orientado gerado por v2.<br />

Demonstração.<br />

O item i) é imediato das <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> módulo, produto escalar e <strong>de</strong> soma <strong>de</strong><br />

vetores.<br />

De ii):<br />

O item i) aplicado ao vetor diferença v1 −v2:<br />

ou seja:<br />

||v1 −v2|| 2 = (v1 −v2)·(v1 −v2) = v1 ·v1 +v2 ·v2 −2·v1 ·v2 =<br />

= ||v1|| 2 +||v2|| 2 −2·v1 ·v2,<br />

v1 ·v2 = ||v1 −v2|| 2 −||v1|| 2 −||v2|| 2 .<br />

Mas como mostra a figura a seguir posso aplicar a Lei dos cossenos para ter o<br />

módulo <strong>de</strong> v1 −v2:<br />

v2<br />

θ<br />

v1<br />

v1 − v2<br />

||v1 −v2|| 2 = ||v1|| 2 +||v2|| 2 −2·||v1||cot||v2||·cos(θ),<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> sai ii).<br />

De iii):<br />

O item ii) aplicado a um vetor unitário v2 dá<br />

v1 ·v2 = ||v1||·cos(θ).


3. LEI DOS COSSENOS E PRODUTO ESCALAR DE VETORES 240<br />

Então<br />

está no eixo gerado por v2 e tem módulo:<br />

(v1 ·v2)·v2<br />

||v1||·|cos(θ)|.<br />

Para comprovar que (v1 ·v2)·v2 é realmente a projeção ortogonal <strong>de</strong> v1 sobre o eixo<br />

gerado por v2, po<strong>de</strong>mos fazer uma conta:<br />

v2 ·[v1 −(v1 ·v2)·v2] = v2 ·v1 −(v1 ·v2)·v2 ·v2 = v2 ·v1 −v1 ·v2 = 0<br />

o que diz pelo item ii) que v2 e v1 −(v1 ·v2)·v2 são ortogonais.<br />

Ilustro a seguir:<br />

(v1.v2) . v2<br />

v2<br />

θ<br />

v1<br />

v1 − (v1.v2).v2<br />

3.1. Uma interpretação vetorial da Seção 1. A fórmula<br />

θ ′ (t) = y′ (t)·x(t)−y(t)·x ′ (t)<br />

x(t) 2 +y(t) 2<br />

que <strong>de</strong>mos na Seção 1 <strong>de</strong>ste Capítulo admite uma interpretação vetorial importante,<br />

que será retomada na Seção 5 do Capítulo 39.<br />

Consi<strong>de</strong>ro o vetor velocida<strong>de</strong> V := (x ′ (t),y ′ (t)) e o vetor unitário<br />

N := (−y(t),x(t))<br />

x(t) 2 +y(t) 2 ,<br />

que é ortogonal ao vetor posição P := (x(t),y(t)). O módulo do vetor posição é<br />

||P|| := x(t) 2 +y(t) 2 .<br />

O produto escalar <strong>de</strong> vetores:<br />

V ·N = (x ′ (t),y ′ (t))·<br />

(−y(t),x(t))<br />

<br />

x(t) 2 +y(t) 2 := y′ (t)·x(t)−y(t)·x ′ (t)<br />

<br />

x(t) 2 +y(t) 2<br />

dá a projeção do vetor V := (x ′ (t),y ′ (t)) na direção do vetor unitário N (item iii) da<br />

Afirmação 3.2). Veja a figura a seguir:


CAPÍTULO 17. TAXAS RELACIONADAS 241<br />

E po<strong>de</strong>mos então escrever na linguagem vetorial:<br />

θ ′ (t) = 1<br />

·V ·N =<br />

||P||<br />

V<br />

N<br />

= y′ (t)·x(t)−y(t)·x ′ (t)<br />

x(t) 2 +y(t) 2<br />

.<br />

4. Exercícios<br />

Exercício 4.1. Consi<strong>de</strong>re um paralepípedo reto (ou seja, um objeto com a forma <strong>de</strong><br />

um tijolo maciço), cuja largura x(t), profundida<strong>de</strong> 2x(t) e altura y(t) mudam com o<br />

tempo t.<br />

Suponha que, em um instante t0, sua altura é 1 cm e aumenta na taxa <strong>de</strong> 7 cm/s<br />

e sua largura é 4 cm e <strong>de</strong>cresce na taxa <strong>de</strong> −1 cm/s.<br />

Qual a taxa <strong>de</strong> variação do Volume no instante t0 ? O Volume está aumentando<br />

ou diminuindo em t0 ?<br />

P<br />

V


CAPíTULO 18<br />

O Método <strong>de</strong> aproximação <strong>de</strong> Newton<br />

No Exercício 9.11 do Capítulo 6 vimos que o polinômio<br />

y = x 5 −2x 4 +x 3 +x 2 +1<br />

tem uma raíz no intervalo [−1,1]. Mas para isso <strong>de</strong> usa o Teorema do Valor Intermediário,<br />

que não diz quanto é a raíz, apenas que ela existe.<br />

Imagine quantas vezes Newton se viu <strong>de</strong>frontado com equações como essa, além<br />

<strong>de</strong> outras não-polinomiais, 1 por exemplo:<br />

cos(x)+x·sin(x)−1 = 0,<br />

e certamente ele precisava ter informação sobre essas Raízes.<br />

A idéia do método é bastante geométrica. Se queremos <strong>de</strong>terminar uma raíz <strong>de</strong><br />

f(x) = 0, trata-se <strong>de</strong>:<br />

• escolher um ponto no eixo x, chamado <strong>de</strong> x0, tal que f ′ (x 0) = 0.<br />

• <strong>de</strong>terminar a reta tangente r0 ao gráfico <strong>de</strong> y = f(x) em (x0,f(x0))<br />

• intersectar r0 com o eixo dos x, chamando essa intersecção <strong>de</strong> x1<br />

• recomeçar o processo a partir do ponto obtido.<br />

Afirmação 0.1. O x 1 obtido pelo método é da forma:<br />

x 1 = x 0 − f(x 0)<br />

f ′ (x 0) .<br />

Demonstração.<br />

A reta tangente r0 ao gráfico <strong>de</strong> y = f(x) em (x0,f(x0)) tem equação:<br />

Intersectá-la com y = 0 dá:<br />

y = f ′ (x 0)·x+(f(x 0)−f ′ (x 0)·x 0).<br />

x = f′ (x 0)·x 0 −f(x 0)<br />

f ′ (x 0)<br />

= x 0 − f(x 0)<br />

f ′ (x 0) .<br />

1 Como salienta S. Chandrasekharna página 142do seu livro Newton’s Principia for the common<br />

rea<strong>de</strong>r, Oxford University Press , 1995.<br />

243<br />

=


Se a tangente num ponto (x,f(x)) do gráfico for uma reta horizontal então<br />

teríamos que resolver a equação:<br />

f(x) = f(x),<br />

que é tão difíl como o problema original em geral. Ou seja, o método po<strong>de</strong> parar se<br />

f ′ (x) = 0.<br />

Exemplos:<br />

• Para a raíz <strong>de</strong><br />

y = x 5 −2x 4 +x 3 +x 2 +1<br />

em [−1,1] começo com<br />

x0 := 1<br />

e obtenho<br />

x1 = 0.<br />

Mas f ′ (0) = 0 e páro.<br />

Nova tentativa, partindo agora <strong>de</strong><br />

obtenho<br />

x0 := 1/2,<br />

x1 := −0.7058823529, x2 := −0.8206076715,<br />

244<br />

x3 := −0.7982163995, x4 := −0.7970632182, x5 := −0.7970602776,<br />

e a partir daí a calculadora não muda mais o resultado. Então essa é a<br />

aproximação buscada da raíz.<br />

A Figura a seguir indica como é o gráfico do polinômio.<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-1 -0,5 0 0,5 1<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

• Agora quero uma raíz <strong>de</strong> cos(x)+x·sin(x)−1 = 0 no intervalo [0,π]ecomeço<br />

com x 0 = 3.14.<br />

Então:<br />

x1 := 2.504649576, x2 := 2.348555437,<br />

x3 := 2.331341479, x4 := 2.331122406,x5 := 2.331122370<br />

a partir daí a calculadora passa <strong>de</strong>sse valor para<br />

x6 := 2.331122371


CAPÍTULO 18. O MÉTODO DE APROXIMAÇÃO DE NEWTON 245<br />

e <strong>de</strong>pois volta para o x5, sucessivamente.<br />

0,5<br />

0 0,5<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

1<br />

x<br />

1,5<br />

y = cos(x)+x·sin(x)−1, x ∈ [0,π].<br />

2<br />

2,5<br />

3


CAPíTULO 19<br />

O Princípio <strong>de</strong> Fermat e a refração da luz<br />

1. Princípio <strong>de</strong> Fermat<br />

Suponhamos dois pontos P1 = (x 1,y 1 ) e P2 = (x 2,y 2 ) com coor<strong>de</strong>nadas y > 0.<br />

O problema é: Encontrar o ponto P = (x,0) no eixo dos x que minimiza a soma<br />

das distâncias PP1 +PP2.<br />

Não é uma perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> supôr que P1 = (0,1) (basta<br />

escolher sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas a<strong>de</strong>quado).<br />

Chamemos o ângulo 1 ) formado em P pelo eixo dos x e a reta P P1 <strong>de</strong> ângulo <strong>de</strong><br />

incidência; e <strong>de</strong> ângulo refletido o ângulo formado pelo eixo dos x e a reta P P2.<br />

Afirmação 1.1. (Princípio <strong>de</strong> Fermat)<br />

• i) o ponto no eixo dos x que minimiza a soma <strong>de</strong> distâncias a P1 := (0,1) e<br />

a P2 := (x 2,y 2 ), com y 2 > 0, é<br />

P = (x,0) = ( x2 ,0).<br />

1+y<br />

2<br />

• ii) os ângulos <strong>de</strong> incidência e refletido formados nesse P são iguais.<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 0,5<br />

1<br />

1,5<br />

x<br />

Figura: Três exemplos do princípio <strong>de</strong> Fermat, com P1 = (0,1)<br />

P2: (3,1),(3,2),(3,3) e P: ( 3<br />

2 ,0),(1,0),(3 ,0) respectivamente.<br />

4<br />

Demonstração.<br />

Do Item i):<br />

Queremos encontrar o ponto P = (x,0) no eixo dos x que minimiza a função:<br />

d(x) := (x−0) 2 +(0−1) 2 <br />

+ (x−x 2) 2 +(0−y )<br />

2 2 =<br />

1 convexo, ou seja, 0 ≤ θ ≤ π, e não-orientado, ou seja, não distingo entre ângulos horários e<br />

anti-horários.<br />

247<br />

2<br />

2,5<br />

3


1. PRINCÍPIO DE FERMAT 248<br />

= √ x2 <br />

+1+ (x−x 2) 2 +y2 2 .<br />

Queremos usar o critério da segunda <strong>de</strong>rivada (Afirmação 2.1 do Capítulo 10)<br />

para <strong>de</strong>terminar o mínimo <strong>de</strong> d(x).<br />

Para isso precisamos calcular d ′ (x), o que ainda não sabemos fazer.<br />

Então, adiantando o que apren<strong>de</strong>remos sobre <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> funções compostas e<br />

da raíz quadrada, Afirmo que:<br />

e claramente:<br />

d ′ (x) =<br />

x<br />

√ x 2 +1 +<br />

x−x 2<br />

<br />

(x−x 2) 2 +y 2<br />

2<br />

<br />

x· (x−x 2)<br />

=<br />

2 +y2 2 +(x−x 2)· √ x2 +1<br />

√ <br />

x2 +1· (x−x 2) 2 +y2 ,<br />

2<br />

d ′ (x) = 0 ⇔ x·<br />

<br />

(x−x 2) 2 +y 2<br />

2 +(x−x 2)· √ x 2 +1 = 0.<br />

Ao invés <strong>de</strong> resolver diretamente:<br />

<br />

x· (x−x 2) 2 +y2 2 = (x2 −x)· √ x2 +1,<br />

elevo ambos os lados ao quadrado, obtendo:<br />

x 2 ·[(x−x 2) 2 +y 2<br />

2 ] = (x2 −x) 2 ·(x 2 +1),<br />

o que equivale, após simplificações, a resolver:<br />

(y 2<br />

2 −1)x2 +2x 2x−x 2 2 = 0.<br />

Aqui há dois casos a consi<strong>de</strong>rar (dos quais daremos o significado geométrico a seguir):<br />

= ±1, então a solução buscada é<br />

Caso y 2<br />

2 −1 = 0, ou seja, y 2<br />

P = (x,0) = ( x2 2 ,0).<br />

Caso y2 −1 = 0, então temos uma equação quadrática em x, cujas soluções são:<br />

2<br />

x2 x2 e .<br />

1+y 1−y<br />

2 2<br />

Note que o ponto Q := ( x2 ,0) é colinear com (0,1) e (x 1−y 2,y ) (basta calcular os<br />

2<br />

2<br />

coeficientes angulares das retas por dois <strong>de</strong>les). Então essa solução não nos interessa.<br />

Porém a solução<br />

P = (x,0) = ( x2 ,0)<br />

1+y<br />

2<br />

é interessante. Note que se y2 = 1 esse ponto se reduz a P = ( x2 2<br />

com a solução obtida no caso y2 −1 = 0.<br />

Temos d ′ ( x 2<br />

1+y 2<br />

2<br />

) = 0 e agora precisaríamos ver que d ′′ ( x 2<br />

1+y 2<br />

=<br />

,0), ou seja, coinci<strong>de</strong><br />

) > 0, para termos um<br />

mínimo <strong>de</strong> d(x).<br />

A segunda <strong>de</strong>rivada d ′′ (x) existe, como veremos nos Capítulos seguintes sobre<br />

regras <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação.


CAPÍTULO 19. O PRINCÍPIO DE FERMAT E A REFRAÇÃO DA LUZ 249<br />

O cálculo <strong>de</strong> d ′′ (x) é tedioso e ainda mais tedioso 2 é obter:<br />

d ′′ ( x2 ) =<br />

1+y<br />

2<br />

y 2<br />

(1+y )<br />

2 4<br />

<br />

(x2 2 +1+2y +y<br />

2 2<br />

2 )3<br />

e vemos que d ′′ ( x2 ) é positivo se y > 0.<br />

1+y<br />

2<br />

2<br />

Está provado que o ponto minimiza a soma <strong>de</strong> distâncias.<br />

Do Item ii):<br />

Calculo o coeficiente angular da reta P P1:<br />

a := 1−0<br />

0− x 2<br />

1+y 2<br />

= − (1+y 2 )<br />

.<br />

x2 Agora calculo o coeficiente angular da reta P P2:<br />

a ′ := y 2 −0<br />

x 2 − x 2<br />

1+y 2<br />

= 1+y 2,<br />

x2 logo a ′ = −a, ou seja, formam o mesmo ângulo (não-orientado) com a reta vertical.<br />

Portanto também há igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ângulos formados em P com a horizontal.<br />

<br />

2. Refração, distâncias pon<strong>de</strong>radas e Lei <strong>de</strong> Snell<br />

Na Seção anterior buscamos minimizar a soma das distâncias<br />

PP1+PP2,<br />

on<strong>de</strong> P1,P2 estão no semi-plano superior e P no eixo dos x<br />

Agora imaginemos um problema um pouco mais geral.<br />

Suponha que no semiplano superior nos movimentamos com uma velocida<strong>de</strong> constante<br />

v1 enquanto no semiplano inferir nos movimentamos com uma velocida<strong>de</strong> constante<br />

v2. E que queremos sair <strong>de</strong> P1 no semiplano superior, atingir P no eixo dos x<br />

e daí, no semiplano-inferior, ir até P2, fazendo isso no menor tempo possível. Como<br />

escolher P ?<br />

Esse problema está ainda relacionado comoprincípio <strong>de</strong> Fermat, que em geral não<br />

é simplesmente <strong>de</strong> minimar distância entre dois pontos, mas <strong>de</strong> minimizar o tempo<br />

gasto para ir <strong>de</strong> um a outro ponto.<br />

Na prática é o problema do salva-vidas, que, estando em P1, tem correr pela<br />

areia (com velocida<strong>de</strong> v1) e escolher o ponto P na praia <strong>de</strong> on<strong>de</strong> sair nadando (com<br />

velocida<strong>de</strong> v2 < v1) até chegar em algum banhista P2. Veja Exercício 3.1 abaixo.<br />

2 É útil para essas contas tediosas usar algum programa como o Maple.<br />

,


2. REFRAÇÃO, DISTÂNCIAS PONDERADAS E LEI DE SNELL 250<br />

Claro que se v2<br />

v1 = 1, a solução é seguir a reta que liga P1 a P2. E se v2 d no semiplano-inferior, on<strong>de</strong> sou mais lento.<br />

Po<strong>de</strong>mos então reformular o problema do seguinte modo:<br />

Como minimizar a soma das distâncias pon<strong>de</strong>radas<br />

d1,k(x) := PP1 +k ·PP2 ?<br />

(on<strong>de</strong> P1,P2 estão em semi-planos diferentes e P no eixo dos x)<br />

Isso é o que acontece quando a luz passa <strong>de</strong> um meio para outro. Por exemplo, a<br />

razão entre velocida<strong>de</strong> da luz no ar (v1) e na água (v2) é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

v2<br />

v1<br />

= 1<br />

1.33 ,<br />

ou seja, <strong>de</strong>vemos usar a soma <strong>de</strong> distâncias pon<strong>de</strong>radas 3 :<br />

d1,1.33(x) := PP1 +1.33·PP2,<br />

(on<strong>de</strong> P1 está no ar e P2 na água).<br />

Suponha que P1 = (0,1) e que por exemplo<br />

P2 = (x 2,−1), x 2 > 0.<br />

Imitando o que fizemos na Seção anterior, vamos querer <strong>de</strong>rivar d1,k(x) e saber on<strong>de</strong><br />

d1,k ′ (x) = 0.<br />

Agora, <strong>de</strong>rivando obtemos:<br />

Como<br />

d1,k ′ (x) =<br />

x (x−x<br />

√ +k <br />

2)<br />

x2 +1 (x−x2) 2 +1 =<br />

= x· (x−x 2) 2 +1+k √ x2 +1·(x−x<br />

√ <br />

2)<br />

x2 +1· (x−x2) 2 .<br />

+1<br />

d1,k ′′ (x) = ( √ )<br />

x2 +1 ′ +(k<br />

1<br />

(x2 +<br />

+1) 3/2<br />

x<br />

(x−x 2)<br />

(x−x2) 2 +1 )′ =<br />

k<br />

(x2 2 −2x2x+x 2 > 0,<br />

+1) 3/2<br />

a solução <strong>de</strong> d1,k ′ (x) = 0 será um ponto <strong>de</strong> mínimo <strong>de</strong> d1,k.<br />

Mas<br />

d1,k ′ (x) = 0 ⇔ x· (x−x 2) 2 +1 = k √ x 2 +1·(x 2 −x)<br />

3 O chamado optical path length- OPL é <strong>de</strong>finido como o produto da distância usual pelo índice<br />

<strong>de</strong> refração - suposto constante - do meio on<strong>de</strong> a luz se propaga. Então no nosso caso d1,1.33(x) =<br />

OPL( ar )+OPL( água )


CAPÍTULO 19. O PRINCÍPIO DE FERMAT E A REFRAÇÃO DA LUZ 251<br />

e elevando ao quadrado ambos os lados, obtenho:<br />

x 2 ((x−x 2) 2 +1) = k 2 (x 2 +1)(x 2 −x) 2 ,<br />

ou seja, temos que resolver uma equação <strong>de</strong> grau 4:<br />

(1−k 2 )x 4 +(−2x2 +2k 2 x2)x 3 +(x 2 2 +1−k2 x 2 2 −k2 )x 2 +2k 2 x2x−k 2 x 2 2 = 0.<br />

Claro que se k = 1 (ou seja, d1,1(x) é a soma <strong>de</strong> distâncias usuais), a equação<br />

acima vira uma equação quadrática:<br />

2x2x−x 2 = 0 ⇔ x = x2 2 .<br />

Logo P = ( x2 2 ,0) está na reta ligando P1 e P2.<br />

Mas se k = 1 temos uma verda<strong>de</strong>ira equação <strong>de</strong> grau 4.<br />

Resovi fazer três exemplos, com o k = 1.33 (índice <strong>de</strong> refração da água) on<strong>de</strong><br />

sempre P1 = (0,1), mas P2 assume três valores<br />

(2,−1), (3,−1), (4,−1).<br />

Nesses três casos o Maple resolve as equações <strong>de</strong> grau 4 acima 4 , dando em cada<br />

caso um par <strong>de</strong> soluções complexas, uma solução real negativa e uma real positiva.<br />

Listo as soluções reais positivas <strong>de</strong> cada um dos três casos:<br />

se P2 = (2,−1), P = (1.268409214,0),<br />

se P2 = (3,−1), P = (2.078744326,0),<br />

se P2 = (4,−1), P = (2.983414222,0).<br />

A Figura a seguir representa as linhas quebradas ligando P1 a P e daí passando<br />

por P2, em cada um dos três casos, com k = 1.33:<br />

1<br />

0 1 2<br />

3<br />

4<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

A figura a seguir dá os gráficos das d1,1.33 para<br />

x<br />

P2 = (2,−1),(3,−1),(4,−1).<br />

4 Pois existe a fórmula <strong>de</strong> Tartaglia para equações <strong>de</strong> grau 4.


2. REFRAÇÃO, DISTÂNCIAS PONDERADAS E LEI DE SNELL 252<br />

7<br />

6,5<br />

6<br />

5,5<br />

5<br />

4,5<br />

4<br />

3,5<br />

0<br />

1<br />

2<br />

x<br />

Gráficos <strong>de</strong> y = d1,1.33(x) para três escolhas <strong>de</strong> P2<br />

Voltando ao que obtivemos como <strong>de</strong>rivada:<br />

d1,k ′ (x) = 0 ⇔ x· (x−x 2) 2 +1 = k √ x 2 +1·(x 2 −x),<br />

note que essa última expressão equivale a:<br />

Agora note que<br />

x (x2 −x)<br />

√ = k <br />

x2 +1 (x−x2) 2 +1 .<br />

sin(α) =<br />

on<strong>de</strong> α é o ângulo em P = (x,0) do triângulo<br />

E veja que<br />

sin(β) =<br />

3<br />

x<br />

√ x 2 +1<br />

∆P P1(x,1).<br />

on<strong>de</strong> β é o ângulo em P = (x,0) do triângulo<br />

ou seja<br />

Essa é a lei <strong>de</strong> refração <strong>de</strong> Snell:<br />

(x 2 −x)<br />

(x−x2) 2 +1<br />

∆P P2(x,−1).<br />

sin(α) = k ·sin(β).<br />

Para uso posterior, po<strong>de</strong>mos reescrever a lei <strong>de</strong> Snell assim:<br />

sin(α) = v1<br />

,<br />

sin(α)<br />

v1<br />

v2<br />

= sin(β)<br />

.<br />

v2<br />

4


CAPÍTULO 19. O PRINCÍPIO DE FERMAT E A REFRAÇÃO DA LUZ 253<br />

Para terminar, é natural nos perguntarmos que acontece com a trajetória da luz<br />

ao viajar por um meio com índice <strong>de</strong> refração variável. Qual o formato da trajetória<br />

da luz, qual a sua equação ?<br />

A resposta a esse tipo <strong>de</strong> pergunta <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais teoria matemática, por exemplo<br />

do Cálculo <strong>de</strong> Variações.<br />

3. Exercícios<br />

Exercício 3.1. (O Problema do salva-vidas)<br />

Estando no ponto (8,0), na areia da praia, o salva-vidas tem que sair correndo<br />

para salvar alguém que se afoga no ponto B = (0,5), <strong>de</strong>ntro do mar. Veja a Figura.<br />

Suponha que a velocida<strong>de</strong> do salva-vidas na praia é v1 m/s e na água é v2 < v1,<br />

com razão:<br />

k := v2<br />

< 1.<br />

v1<br />

A questão é a seguinte: para que ele chegue o mais rápido possível, até que ponto<br />

(x,0) comx ∈ [0,8]ele <strong>de</strong>ve correr pela praia, para daí então ir em linha reta nadando<br />

até B ?<br />

Na solução a coor<strong>de</strong>nada x do ponto buscado será função <strong>de</strong> k, ou seja, x(k).<br />

Também mostre que:<br />

i) se k verifica k2 · (k2 − 1) < 0 então sair já <strong>de</strong> (8,0) nadando não é a melhor<br />

estratégia para o salva-vidas.<br />

ii) mostre que limk→0 x(k) = 0. Ou seja, para valores <strong>de</strong> k muito pequenos o<br />

melhor é correr pela areia até quase a origem e dali sair nadando em ângulo reto.<br />

iii) Para um salva-vidas que corresse como Usain Bolt e nadasse como César Cielo<br />

teríamos k ∼ 0.22. Mas se nadasse como Cielo e corresse como uma pessoa normal,<br />

então5 k ∼ 0.55.<br />

Confirme que nesses dois casos<br />

x(k) = x(0.22) ∼ 1.12 e x(k) = x(0.55) ∼ 3.34.<br />

5 Esses valores <strong>de</strong> k foram calculados pelo estudante Rafael Kuch, a quem agra<strong>de</strong>ço


CAPíTULO 20<br />

As Cônicas e suas proprieda<strong>de</strong>s refletivas<br />

1. Distância até uma parábola<br />

Começo este Capítulo consi<strong>de</strong>rando o seguinte problema: dada uma parábola<br />

y = C ·x 2 , com C > 0 fixado, e dado um ponto (0,a) no eixo positivo dos y, qual a<br />

distância mínima entre ele e os pontos do gráfico da parábola ? Já o caso C = 1 é<br />

interessante:<br />

Afirmação 1.1. Seja o ponto (0,a) do eixo dos y com a > 0 e seja da(x) a distância<br />

entre esse ponto e os pontos (x,x 2 ) do gráfico da parábola y = x 2 .<br />

• i) se a > 1<br />

2 então da(x) tem um máximo local em x = 0 e dois pontos <strong>de</strong><br />

d1<br />

2<br />

mínimo absoluto em x = ± √ 2a−1<br />

√ 2<br />

.<br />

• ii) se a ≤ 1<br />

2 então da(x) tem apenas um ponto <strong>de</strong> mínimo absoluto, em x = 0.<br />

A<strong>de</strong>mais, se a = 1<br />

4<br />

então d1<br />

4<br />

(x) = x 2 + 1<br />

4 .<br />

A Figura a seguir ilustra a Afirmação: em vermelho y = d3(x),<br />

em ver<strong>de</strong> y =<br />

4<br />

(x), em amarelo y = d1(x),<br />

em azul y = d1(x)<br />

e em lilás y = d1(x).<br />

3<br />

4<br />

9<br />

-1<br />

1,4<br />

1,2<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

-0,5 0 0,5<br />

Veremos na próxima Seção 2, Definição 2.1, que<br />

(0,a) = (0, 1<br />

4 )<br />

é o foco da parábola y = x2 e que y = −1 é a sua reta diretriz.<br />

4<br />

Demonstração.<br />

x<br />

255<br />

1


1. DISTÂNCIA ATÉ UMA PARÁBOLA 256<br />

Temos<br />

da(x) := (x−0) 2 +(x 2 −a) 2 = x 2 +(x 2 −a) 2 ,<br />

cujo domínio são todos os Reais.<br />

Então máximos/mínimos são <strong>de</strong>tectados por<br />

Ou seja, d ′ a(x) = 0 em<br />

d ′ a(x) = x·(2x2 +1−2a)<br />

x 2 +(x 2 −a) 2<br />

= 0.<br />

• i) x = 0 e em mais dois pontos x = ± √ 2a−1<br />

√ , <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que 2a−1 > 0<br />

2<br />

• ii) apenas em x = 0, se 2a−1 ≤ 0.<br />

Po<strong>de</strong>mos usar o Critério da primeira <strong>de</strong>rivada para <strong>de</strong>tectar máximos/mínimos<br />

locais. Como claramente<br />

os mínimos locais serão também globais.<br />

No caso i),<br />

e<br />

lim<br />

x→+∞ da(x) = lim<br />

x→−∞ da(x)+∞<br />

d ′ a (x) < 0 se 0 < x <<br />

d ′ a(x) > 0 se −<br />

d ′ a (x) > 0 se<br />

√ 2a−1<br />

√ 2<br />

√ 2a−1<br />

√ 2 < x < 0.<br />

o que diz que x = 0 é ponto <strong>de</strong> máximo local <strong>de</strong> da(x).<br />

Ainda no caso i),<br />

√<br />

2a−1<br />

√ < x<br />

2<br />

e<br />

d ′ √<br />

2a−1<br />

a (x) < 0 se x < − √ ,<br />

2<br />

o que diz que x = ± √ 2a−1<br />

√<br />

2<br />

Já no caso ii), temos 2x2 +1−2a ≥ 0 e o sinal <strong>de</strong> d ′ a<br />

e<br />

são pontos <strong>de</strong> mínimo local da da(x).<br />

(x) é o mesmo sinal <strong>de</strong> x:<br />

d ′ a (x) > 0 se 0 < x<br />

d ′ a (x) < 0 se x < 0,<br />

o que diz que x = 0 é ponto <strong>de</strong> mínimo local.


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 257<br />

2. Definição unificada das cônicas<br />

No colégio se insiste em apresentar cada cônica separadamente, sem que se dê<br />

uma <strong>de</strong>finição unificada.<br />

A Definição 2.1 a seguir englobará todas as cônicas, menos uma, o Círculo. Mas<br />

veremos em seguida que a Definição 2.1 compreen<strong>de</strong> a Definição 2.3, a qual se esten<strong>de</strong><br />

naturalmente ao Círculo.<br />

Lembre que a distância <strong>de</strong> um ponto P a uma reta r, <strong>de</strong>notada Pr a seguir, é a<br />

distância do ponto P ao pé da perpendicular a r traçada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> P.<br />

Definição 2.1. Fixe uma reta r e um ponto F /∈ r. Uma cônica é o lugar geométrico<br />

no plano dos pontos P cuja distância PF está numa razão constante para a distância<br />

P r. Ou seja:<br />

PF<br />

= e, e > 0.<br />

P r<br />

A gran<strong>de</strong>za e será chamada <strong>de</strong> excentricida<strong>de</strong> da cônica, F, <strong>de</strong> foco e r, <strong>de</strong> diretriz.<br />

Afirmação 2.1. Consi<strong>de</strong>reuma cônica <strong>de</strong> foco F, diretriz r e excentricida<strong>de</strong>e. Então<br />

existe um sistema cartesiano <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas em que<br />

• a origem (0,0) pertence à conica,<br />

• a diretriz vira a reta vertical x = −ρ, com ρ > 0,<br />

• o foco é F = (eρ,0)<br />

• os pontos P = (x,y) da cônica satisfazem a equação:<br />

A<strong>de</strong>mais, se e = 1 a equação vira:<br />

(1−e 2 )·x 2 −2e(1+e)ρ·x+y 2 = 0.<br />

x = 1<br />

4ρ ·y2<br />

assim como o foco vira F = (ρ,0) e a diretriz, x = −ρ.<br />

Se e < 1 , a equação geral vira<br />

x2 2<br />

−<br />

a2 a<br />

y2<br />

·x+ = 0,<br />

b2 on<strong>de</strong><br />

a := eρ<br />

1−e > 0 e b := a2 ·(1−e 2 ) > 0.<br />

Se e > 1, a equação geral vira:<br />

on<strong>de</strong><br />

x2 2<br />

+<br />

a2 a<br />

y2<br />

·x− = 0,<br />

b2 a := eρ<br />

e−1 > 0 e b := a 2 (e 2 −1) > 0.


2. DEFINIÇÃO UNIFICADA DAS CÔNICAS 258<br />

Definição 2.2. A cônica<br />

x = 1<br />

4ρ ·y2 ,<br />

do caso e = 1 da Afirmação 2.1, é chamada parábola.<br />

• Elatemóbviasimetrianoeixodosy eoeixoxéchamado<strong>de</strong>eixo daparábola.<br />

• Um reta vertical pelo foco F = (ρ,0) intersecta a parábola em dois pontos<br />

(ρ,±2ρ). A distância <strong>de</strong> F a cada um <strong>de</strong>les, que é 2ρ, é chamada semi-latus<br />

rectum 1 da parábola.<br />

• Numnovosistemacartesiano(x,y)emqueovérticeP0 estáem(x,y) = (h,k)<br />

e o foco está na reta y = k a parábola<br />

se escreve como:<br />

que expandido dá:<br />

y 2 = 4ρx<br />

(y −k) 2 = 4ρ(x−h)<br />

y 2 −2ky −4ρx+k 2 +4h = a1y 2 +a2y +a3x+a4 = 0.<br />

Em Exercícios po<strong>de</strong> se pedir para, a partir <strong>de</strong> uma equação do tipo:<br />

a1y 2 +a2y +a3x+a4 = 0<br />

<strong>de</strong>terminar a parábola, com o vértice, o foco e a diretriz.<br />

Também o papel <strong>de</strong> x e y po<strong>de</strong> estar trocado.<br />

• A pista para chegar na parábola está em que só há grau 2 em uma das<br />

coor<strong>de</strong>nas.<br />

Para enten<strong>de</strong>rmos melhor as cônicas nos casos e = 1:<br />

Afirmação 2.2. No caso 0 < e < 1 da Afirmação 2.1, existe um novo sistema <strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong>nadas (x,y) dado por<br />

x = x−a e y = y<br />

em que a equação vira:<br />

x y<br />

+ = 1<br />

a2 b2 e no qual as coor<strong>de</strong>nadas do foco são<br />

para<br />

A<strong>de</strong>mais 2 :<br />

F = (− √ a 2 −b 2 , 0),<br />

a := eρ<br />

1−e > 0 e b := a 2 ·(1−e 2 ) > 0.<br />

e =<br />

1 semi largura ortogonal<br />

2 Na apostila c := √ a 2 −b 2 para elipses<br />

√ a 2 −b 2<br />

a<br />

.


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 259<br />

No caso 1 < e da Afirmação 2.1, existe um novo sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas (x,y)<br />

dado por<br />

x = x−a e y = y<br />

em que a equação vira:<br />

x y<br />

− = 1<br />

a2 b2 e no qual as coor<strong>de</strong>nadas do foco são<br />

on<strong>de</strong><br />

A<strong>de</strong>mais 3 :<br />

F = ( √ a 2 +b 2 , 0),<br />

a := eρ<br />

e−1 > 0 e b := a 2 (e 2 −1) > 0.<br />

e =<br />

√ a 2 +b 2<br />

Definição 2.3. A cônica do caso 0 < e < 1 da Afirmação 2.2 é chamada elipse.<br />

Um reta vertical por F1 = (− √ a2 −b2 ,0) intersecta a elipse em dois pontos<br />

(− √ a2 −b2 ,± b2<br />

a ). A distância <strong>de</strong> F1 a cada um <strong>de</strong>les, que é b2,<br />

é o semi-latus rectum<br />

a<br />

da elipse.<br />

a<br />

Note que:<br />

• A elipse tem simetria tanto no eixo dos x como no eixo dos y. Daí se obtem<br />

que ela po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>finida também com base num segundo foco F2 :=<br />

( √ a 2 −b 2 , 0) como o foi com base em F1 := F = (− √ a 2 −b 2 ,0). Haverá<br />

umasegundadiretriz, cujadistânciaaofocoF2 éamesmadaprimeiradiretriz<br />

a F1.<br />

• Se na equação<br />

r 1 r 2<br />

b<br />

ρ<br />

F 1<br />

a<br />

x 2<br />

a<br />

b<br />

2 + y2<br />

3 Na apostila, c := √ a 2 +b 2 para hipérboles<br />

= 1<br />

b2 .<br />

a<br />

F 2<br />

ρ


2. DEFINIÇÃO UNIFICADA DAS CÔNICAS 260<br />

fazemos a = b então os dois focos coinci<strong>de</strong>m em (0,0) e temos o Círculo <strong>de</strong><br />

raio a.<br />

• O raio a = a2 do círculo é um caso particular <strong>de</strong> semi-latus rectum.<br />

a<br />

• Numnovosistemacartesiano(x,y)emqueovérticeP0 estáem(x,y) = (h,k)<br />

e os focos estão na reta y = k, a elipse<br />

x2 y2<br />

+ = 1<br />

a2 b2 se escreve como:<br />

(x−h) 2<br />

a2 + (y −k)2<br />

b2 = 1<br />

que expandido dá uma expressão do tipo:<br />

a1x 2 +a2x+a3y +a4y 2 +a5 = 0.<br />

Em Exercícios po<strong>de</strong> se pedir para, a partir <strong>de</strong> uma equação <strong>de</strong> elipse do tipo<br />

a1x 2 +a2x+a3y +a4y 2 +a5 = 0<br />

<strong>de</strong>terminar focos, eixos e a excentricida<strong>de</strong>.<br />

Também o papel <strong>de</strong> x e y po<strong>de</strong> estar trocado.<br />

• A pista para chegar na elipse na forma (x−h)2<br />

a2 + (y−k)2<br />

b2 = 1 está em completar<br />

os quadrados, ou seja, agrupar os termos em x separadamente dos em y e<br />

forçar a parecer binômios (x−h) 2 e (y −k) 2<br />

Definição 2.4. A cônica do caso 1 < e da Afirmação 2.2 é chamada hipérbole e tem<br />

simetria 4 no eixo x e no eixo y.<br />

Um reta vertical por F1 = ( √ a 2 +b 2 ,0) intersecta a elipse em dois pontos<br />

( √ a 2 +b 2 ,± b2<br />

a ).<br />

A distância <strong>de</strong> F1 a cada um <strong>de</strong>les, que é b2<br />

, é o semi-latus rectum da hipérbole.<br />

a<br />

Demonstração. (da Afirmação 2.1)<br />

Seja então R ∈ r o pédaperpendicular a r traçada<strong>de</strong>s<strong>de</strong> F. Consi<strong>de</strong>re o segmento<br />

<strong>de</strong> reta RF.<br />

Afirmo que existe apenas um ponto 5 P0 no segmento RF tal que<br />

P0F = e·P0r.<br />

De fato, se i<strong>de</strong>ntificamos a reta RF com os Reais, e se usamos a coor<strong>de</strong>nada 0<br />

para R e f > 0 para F, queremos resolver a equação:<br />

o que dá:<br />

f −x = e·(x−0) = e·x,<br />

(e+1)·x = f,<br />

cuja única solução é x0 = f<br />

e+1 . Noto que 0 < x0 < f, pois e > 0.<br />

4 Daíseobtemquepo<strong>de</strong>riaser<strong>de</strong>finidatambémcombasenumsegundofocoF2 := (− √ a 2 +b 2 ,0)<br />

como o foi com base em F1 := F = ( √ a 2 +b 2 ,0).<br />

5 Será chamado <strong>de</strong> vértice


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 261<br />

Escolho como sistema cartesiano <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas (x,y) aquele que tem origem em<br />

P0, eixo horizontal P0F (orientado <strong>de</strong> R para F) e eixo vertical a perpendicular a<br />

P0F por P0.<br />

Nesse sistema, P0 = (0,0) e se ρ := P0r > 0 a diretriz é<br />

x = −ρ e F = (eρ,0).<br />

A<strong>de</strong>mais, pela sua Definição, qualquer ponto P = (x,y) da cônica verifica:<br />

(x−eρ) 2 +y 2 = e· (x+ρ) 2 ,<br />

pois PF = (x−eρ) 2 +y 2 e Pr = (x+ρ) 2 . Portanto os pontos da cônica satisfazem:<br />

(x−eρ) 2 +y 2 = e 2 ·(x+ρ) 2 ,<br />

ou seja, após simplificar:<br />

Caso e = 1:<br />

Nesse caso a equação acima vira:<br />

com F = (ρ,0) e a diretriz vira x = −ρ.<br />

Caso 0 < e < 1:<br />

Nesse caso po<strong>de</strong>mos dividir a equação<br />

por 1−e 2 obtendo:<br />

(1−e 2 )·x 2 −2e(1+e)ρ·x+y 2 = 0.<br />

4ρ·x = y 2 ,<br />

(1−e 2 )·x 2 −2e(1+e)ρ·x+y 2 = 0<br />

x 2 − 2eρ y2<br />

·x+ = 0.<br />

1−e 1−e 2<br />

Introduzo uma constante a e <strong>de</strong>pois uma b pela regra:<br />

a := eρ<br />

e b :=<br />

1−e<br />

a2 ·(1−e 2 ).<br />

Já é bom notar que:<br />

0 < b < a, pois 0 < 1−e 2 < 1.<br />

Então a última equação vira:<br />

que dividida por a 2 dá:<br />

x 2 −2ax+ a2<br />

b 2 ·y2 = 0<br />

x 2<br />

2<br />

−<br />

a2 a<br />

·x+ y2<br />

= 0.<br />

b2 Caso 1 < e: Nesse caso, analogamente ao que fizemos no Caso anterior, mas com<br />

a := eρ<br />

e−1 > 0 e b := a2 (e2 −1) > 0<br />

obtemos a equação:<br />

x2 2<br />

+<br />

a2 a<br />

y2<br />

·x− = 0.<br />

b2


2. DEFINIÇÃO UNIFICADA DAS CÔNICAS 262<br />

Demonstração. (da Afirmação 2.2)<br />

No caso 0 < e < 1 já temos a equação<br />

x2 2<br />

−<br />

a2 a<br />

y2<br />

·x+ = 0<br />

b2 para a cônica, on<strong>de</strong><br />

a := eρ<br />

> 0.<br />

1−e<br />

Portanto vemos que essa cônica intersecta a reta y = 0 em P0 = (0,0) e em<br />

P1 := (2a,0).<br />

Consi<strong>de</strong>re o ponto médio do segmento P0P1:<br />

C := (a,0).<br />

Vamos transladar a origem do sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas para C. Para isso estabeleçamos<br />

um novo sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas (x,y) on<strong>de</strong>:<br />

Então a equação da cônica vira:<br />

x = x−a e y = y.<br />

(x+a) 2<br />

a2 − 2 y2<br />

·(x+a)+ = 0,<br />

a b2 ou seja:<br />

x2 y2<br />

+ = 1.<br />

a2 b2 O foco F tinha coor<strong>de</strong>nada x dada por eρ e agora, no novo sistema, terá coor<strong>de</strong>nada<br />

x dada por:<br />

eρ−a = eρ− eρ<br />

1−e = − e2ρ 1−e =<br />

<br />

e4ρ2 e2ρ2 −e2ρ2 (1−e 2 )<br />

= − = − =<br />

1−e 1−e<br />

<br />

= −<br />

e2ρ2 (1−e) 2 − e2ρ2 (1−e 2 )<br />

(1−e)<br />

= − √ a 2 −b 2 .<br />

Das duas primeiras igualda<strong>de</strong>s acima temos:<br />

e do anterior:<br />

eρ−a = −ae<br />

e =<br />

Já no caso 1 < e temos a equação<br />

x2 2<br />

+<br />

a2 a<br />

√ a 2 −b 2<br />

a<br />

.<br />

y2<br />

·x− = 0<br />

b2 2 =


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 263<br />

para a cônica.<br />

Portanto essa cônica intersecta a reta y = 0 em P0 = (0,0) e em<br />

P1 := (−2a,0).<br />

Consi<strong>de</strong>re o ponto médio do segmento P0P1:<br />

F ’<br />

r ’<br />

ρ<br />

C := (−a,0).<br />

C<br />

a a<br />

Vamos transladar a origem do sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas para C. Para isso usamos<br />

um novo sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas (x,y) on<strong>de</strong>:<br />

Então a equação da cônica vira:<br />

x = x+a e y = y.<br />

(x−a) 2<br />

a2 + 2 y2<br />

·(x−a)− = 0,<br />

a b2 ou seja:<br />

x2 y2<br />

− = 1.<br />

a2 b2 O foco F tinha coor<strong>de</strong>nada x dada por eρ e agora, no novo sistema, terá coor<strong>de</strong>nada<br />

x dada por:<br />

eρ+a = eρ+ eρ<br />

e−1 = e2ρ e−1 =<br />

<br />

e4ρ2 =<br />

e−1 =<br />

<br />

e2ρ2 +e2ρ2 (e2 −1)<br />

=<br />

e−1<br />

<br />

=<br />

e2ρ2 (e−1) 2 + e2ρ2 (e2 −1)<br />

(e−1)<br />

r<br />

= √ a 2 +b 2 .<br />

ρ<br />

F<br />

2 =


2. DEFINIÇÃO UNIFICADA DAS CÔNICAS 264<br />

A simetria no eixo x da equação x2<br />

a 2 − y2<br />

b 2 = 1 indica que a hipérbole po<strong>de</strong>ria ser<br />

<strong>de</strong>finida em relação a um foco F ′ = (− √ a 2 +b 2 ,0) e uma diretriz r ′ , como mostra a<br />

Figura acima.<br />

A relação e = √ a 2 +b 2<br />

a é imediata das <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> a e b.<br />

<br />

Uma observação final. Como para as elipses<br />

e para as hipérboles<br />

e =<br />

e =<br />

√ a 2 −b 2<br />

a<br />

√ a 2 +b 2<br />

vemos que as expansões/contrações dadas por<br />

φ(x,y) = (λ·x,λ·y), λ > 0<br />

não mudam a excentricida<strong>de</strong>. A figuras a seguir mostram elipses e hipérboles com a<br />

mesma excentricida<strong>de</strong>:<br />

-10 -5<br />

y<br />

4<br />

2<br />

a<br />

,<br />

0<br />

0 5<br />

-2x<br />

-4<br />

10


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 265<br />

Figura: Elipses <strong>de</strong> excentricida<strong>de</strong> igual a e = √ 9−1<br />

3<br />

y<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-4 x<br />

-15 -10 -5 0<br />

-2<br />

5<br />

Figura: Hipérboles <strong>de</strong> excentricida<strong>de</strong> igual a e = √ 9+1<br />

3<br />

Voltaremos ao estudo das cônicas na Seção 7 do Capítulo 39, on<strong>de</strong> as <strong>de</strong>screveremos<br />

em coor<strong>de</strong>nas polares. Papel especial será <strong>de</strong>sempenhado pelas elipses.<br />

3. A Parábola e sua proprieda<strong>de</strong> refletiva<br />

A parábola também aparecerá com <strong>de</strong>staque mais adiante, na Seção 8 do Capítulo<br />

35, associada à balística.<br />

Um dos casos mais simples em que a reta tangente muda <strong>de</strong> acordo com o ponto<br />

escolhido no gráfico é o caso das parábolas.<br />

Mesmoassimjápo<strong>de</strong>mosobteralgumasinformaçõesinteressantes, comoomostrarão<br />

as Seções seguintes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que soubermos calcular essas tangentes.<br />

Afirmação 3.1. Um ponto P satisfaz a equação<br />

10<br />

y = Cx 2 , C ∈ R<br />

se e somente se P equidista da reta horizontal y = − 1<br />

(chamado <strong>de</strong> foco).<br />

15<br />

4C<br />

e do ponto F = (0, 1<br />

4C )<br />

Demonstração.<br />

Para provarmos isso, basta usarmos o caso e = 1 da Afirmação 2.1, trocando x<br />

por y e fazendo C = 1<br />

4ρ .<br />

Mas também po<strong>de</strong>mos fazer uma conta explícita, como segue.<br />

Temos para P = (x,Cx 2 ):<br />

PF =<br />

=<br />

<br />

<br />

(x−0) 2 +(Cx 2 − 1<br />

4C )2 =<br />

x 2 +C 2 x 4 − x2<br />

2<br />

1<br />

+<br />

42 =<br />

C2


3. A PARÁBOLA E SUA PROPRIEDADE REFLETIVA 266<br />

=<br />

<br />

C 2 x 4 + x2<br />

2<br />

=<br />

<br />

e a distância <strong>de</strong> P até a reta y = − 1<br />

4C<br />

então<br />

<br />

Reciprocamente, se P = (x,y) satisfaz<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong>:<br />

<br />

1<br />

+<br />

42 =<br />

C2 (Cx 2 + 1<br />

4C )2<br />

é dada pelo tamanho<br />

(Cx 2 + 1<br />

4C )2 .<br />

x 2 +(y − 1<br />

4C )2 =<br />

<br />

(y + 1<br />

4C )2<br />

x 2 +(y − 1<br />

4C )2 = (y + 1<br />

4C )2<br />

x 2 +y 2 − y<br />

2C<br />

+ 1<br />

4 2 C 2 = y2 + y<br />

2C<br />

x 2 = y<br />

C e y = Cx2 .<br />

+ 1<br />

4 2 C 2,<br />

Consi<strong>de</strong>re então a parábola y = Cx2 , com foco F := (0, 1 ) e reta diretriz hori-<br />

4C<br />

zontal y = − 1<br />

4C .<br />

Dado um ponto P = (x,Cx2 ) qualquer <strong>de</strong> seu gráfico, <strong>de</strong>note p sua a projeção<br />

vertical na reta diretriz:<br />

p := (x,− 1<br />

4C ).<br />

Afirmação 3.2.<br />

A reta rx que liga os pontos p = (x,− 1 1<br />

) e F = (0, ) é ortogonal à reta tangente<br />

4C 4C<br />

Tx ao gráfico <strong>de</strong> y = Cx2 em P = (x,Cx2 ).<br />

A<strong>de</strong>mais, rx e Tx se intersectam em Mx := ( x<br />

,0), que é o ponto médiodo segmento<br />

2<br />

<strong>de</strong> p e F.<br />

Em suma, Tx é a reta mediatriz do segmento ligando p e F.<br />

As Figuras a seguir ilustram a Afirmação:


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 267<br />

-4 -2<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

x<br />

Fig: y = x2,<br />

tangente y = x−1 em P = (2,1),<br />

4<br />

on<strong>de</strong> F = (0,1), M = (1,0) e p = (2,−1).<br />

-4 -2 0<br />

0<br />

2<br />

Fig: A Figura <strong>de</strong> antes e a<strong>de</strong>mais a tangente y = 3<br />

2<br />

4<br />

2<br />

x<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

-8<br />

em P = (3,1), M = ( 3<br />

2<br />

Demonstração.<br />

Já sabemos que a reta tangente Tx tem equação:<br />

y = (2Cx)·x−Cx 2 .<br />

E a reta rx ligando p e F tem coeficiente angular:<br />

1 −1 − 4C 4C<br />

0−x<br />

2<br />

4<br />

4<br />

,0) e p = (3,−1).<br />

= −1<br />

2Cx ,<br />

logo rx e Tx são ortogonais.<br />

Por passar por F = (0, 1<br />

4C ) a equação <strong>de</strong> rx é:<br />

rx : y = −1 1<br />

·x+<br />

2Cx 4C .<br />

x− 9<br />

4<br />

Avaliando ambas as equações <strong>de</strong> retas em Mx = ( x<br />

2 ,0) vemos que Tx e rx contêm<br />

Mx = ( x<br />

2 ,0).


3. A PARÁBOLA E SUA PROPRIEDADE REFLETIVA 268<br />

A<strong>de</strong>mais as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> Mx são média aritmética das coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> (x,− 1<br />

4C )<br />

e (0, 1<br />

4C ), logo Mx é ponto médio do segmento que os une.<br />

<br />

Agora vamos extrair consequências da Afirmação 3.2.<br />

Note que os triângulos retângulos ∆F P Mx e ∆pP Mx são congruentes: <strong>de</strong> fato,<br />

PF = Pp já que P está na parábola, FMx = Mxp por Mx ser ponto médio e PMx<br />

ser lado comum a ambos.<br />

Logo os ângulos ∠F P Mx e ∠MxP p são congruentes.<br />

Consi<strong>de</strong>re em torno <strong>de</strong> P os ângulos ∠MxP p e seu ângulo oposto pelo vértice.<br />

Como são congruentes, temos que o ângulo que a reta vertical pP faz com a tangente<br />

Tx é congruente com o ângulo ∠F P Mx.<br />

F<br />

M<br />

Em Ótica se postula que a luz se reflete numa curva da seguinte forma:<br />

o ângulo <strong>de</strong> incidência que se forma entre o raio <strong>de</strong> luz e a tangente da curva é<br />

igual ao ângulo (não orientado) formado pelo raio refletido e a tangente da curva.<br />

Pelo que vimos acima, isso quer dizer que raios <strong>de</strong> luz que chegam verticalmente<br />

<strong>de</strong>vem refletir na parábola y = Cx2 e passar todos pelo ponto F = (0, 1 ) que por 4C<br />

isso merece o nome <strong>de</strong> foco, por concentrar a luz. Esse fato é usado em antenas,<br />

microfones, espelhos <strong>de</strong> formato parabólico, para concentrar ondas, som, calor, luz<br />

em um ponto, que é o Foco.<br />

Como não posso plotar retas verticais, não pu<strong>de</strong> fazer o Exemplo a seguir na<br />

posição vertical. Tive que colocar na horizontal. E só pu<strong>de</strong> usar meta<strong>de</strong> da parábola,<br />

para ter um gráfico. Então a Figura a seguir ilustra a concentração <strong>de</strong> 5 raios horizontais<br />

refletidos no Foco:<br />

p<br />

P


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 269<br />

Figura: Braço da parábola x = y2<br />

4<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 0,20,40,60,8 1<br />

x<br />

refletindo 5 raios horizontais no Foco F = (1,0).<br />

4. Prova analítica da proprieda<strong>de</strong> do foco<br />

Vou dar uma prova analítica do fato <strong>de</strong> que os raios verticais que inci<strong>de</strong>m numa<br />

parábola são todos refletidos para o foco.<br />

A afirmação a seguir será útil em outros contextos 6 :<br />

Afirmação 4.1. Seja (x,y) ponto do gráfico <strong>de</strong> y = f(x) em que o gráfico não tem<br />

inclinação zero.<br />

Se uma reta vertical por esse ponto é refletida no gráfico <strong>de</strong> tal modo que o ângulo<br />

<strong>de</strong> incidência que forma com a reta tangente é igual ao ângulo que a reta refletida<br />

forma coma reta tangente, então a equação da reta refletida é:<br />

y = ( f′ (x) 2 −1<br />

2f ′ (x)<br />

)·x+f(x)−( f′ (x) 2 −1<br />

2f ′ )·x.<br />

(x)<br />

Demonstração.<br />

Na figura a seguir em azul estão os ângulos <strong>de</strong> incidência e <strong>de</strong> reflexão, supostos<br />

iguais (congruentes). A reta horizontal é h.<br />

Também t e n são as retas tangente e normal. Dois ângulos retos dão indicados.<br />

6 Aprendi isso no Tomo 3 do Traité <strong>de</strong>s courbes speciales remarquables, planes et gauches, <strong>de</strong> F.<br />

Gomes Teixeira, 1971, Chelsea Publishing Company


4. PROVA ANALÍTICA DA PROPRIEDADE DO FOCO 270<br />

n<br />

Na figura a seguir veja: α = f ′ (x) o ângulo que a reta tangente t faz com o eixo<br />

horizontal, β o ângulo que o raio refletido faz com o eixo horizontal, α1 o ângulo que<br />

a normal faz com a vertical e α2 o ângulo que o raio refletido faz com a normal.<br />

n<br />

α 2<br />

α<br />

1<br />

Note que que α1 é congruente com α. A<strong>de</strong>mais, da hipótese sai que α2 ≡ α1 E<br />

daí:<br />

Então<br />

β<br />

α2 ≡ α1 ≡ α.<br />

α<br />

t<br />

t<br />

y = f(x)<br />

y = f(x)<br />

β = π<br />

2 +α1 +α2 = π<br />

2 +2·α.<br />

Na linha a seguir uso algumas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s trigonométricas:<br />

tan(β) = tan( π<br />

1<br />

−(−2α)) = cot(−2α) = −cot(2α) = −<br />

2 tan(2α) .<br />

h<br />

h


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 271<br />

Ou seja, usando agora a fórmula da tangente <strong>de</strong> 2α,<br />

1<br />

tan(β) = −<br />

Então o coeficiente angular da reta refletida é:<br />

e o coeficiente linear é imediato.<br />

( 2tan(α) .<br />

1−tan(α) 2)<br />

tan(β) = tan(α)2 −1<br />

2tan(α) = f′ (x) 2 −1<br />

2f ′ (x)<br />

No caso da parábola y = C · x 2 a equação da reta refletida, <strong>de</strong> acordo com a<br />

Afirmação 4.1, é então:<br />

portanto todas passam por (0, 1<br />

4C<br />

y = ( 4C2x2 −1<br />

)·x+Cx<br />

4Cx<br />

2 − 4C2x2 −1<br />

=<br />

4C<br />

= ( 4C2x2 −1<br />

)·x+<br />

4Cx<br />

1<br />

4C ,<br />

), o foco.<br />

5. A Elipse e sua proprieda<strong>de</strong> refletiva<br />

Afirmação 5.1. Um ponto P = (x,y) satisfaz a equação<br />

se e somente se<br />

x 2<br />

a<br />

2 + y2<br />

= 1<br />

b2 PF1 +PF2 = 2a,<br />

on<strong>de</strong> F1 = (−c,0) e F2 = (c,0) são os dois focos e<br />

.<br />

a 2 = b 2 +c 2<br />

Observe que esta Afirmação 5.1 dá um método prático para traçar uma elipse: fixe<br />

dois pontos F1 e F2, com dois pregos, e ligue-os por um cordão maior que a distância<br />

F1F2. Com um lápis estique o cordão e agora mova o lápis, sempre mantendo o<br />

barbante esticado, traçando pontos P. Você traçará uma elipse, pois F1P + PF2 é<br />

constante.<br />

Demonstração. (da Afirmação 5.1)<br />

Como notamos após a Definição 2.3, uma elipse po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida com relação a<br />

dois pares Foco/diretriz: F,r ou F ′ r ′ .<br />

Para qualquer ponto P da elipse temos<br />

on<strong>de</strong> r,r ′ são as retas diretrizes.<br />

PF = e·P r e PF ′ = e·P r ′ ,


5. A ELIPSE E SUA PROPRIEDADE REFLETIVA 272<br />

Logo<br />

r<br />

ρ<br />

F F ’<br />

a<br />

a<br />

PF +PF ′ = e·rr ′ ,<br />

on<strong>de</strong> rr ′ é a distância entre essas duas retas (paralelas).<br />

Ou seja, que PF +PF ′ ≡ C é constante para pontos na elipse.<br />

Na <strong>de</strong>scrição que <strong>de</strong>mos, a excentricida<strong>de</strong> e da elipse verifica:<br />

a = eρ<br />

1−e<br />

ou seja, 2a−2ae = 2eρ e portanto<br />

Ora, como nos lembra a Figura acima:<br />

2a = e·(2a+2p).<br />

2a+2ρ = rr ′<br />

é a distância entre as duas retas diretrizes da elipse. Logo<br />

PF +PF ′ ≡ 2a.<br />

A Afirmação 2.2 e a simetria no eixo x dão que as coor<strong>de</strong>nadas dos focos são<br />

F1 = (−c,0) e F2 = (c,0), on<strong>de</strong><br />

c = √ a 2 −b 2 .<br />

A elipse tem a notável proprieda<strong>de</strong> seguinte:<br />

se P é um ponto da elipse e PF1, PF2 duas semiretas que ligam P aos focos,<br />

então os ângulos formados por PF1 e a tangente em P e o formado por PF2 e a<br />

tangente em P são iguais.<br />

Em outras palavras, se um raio <strong>de</strong> luz sai <strong>de</strong> um foco e reflete na elipse então<br />

ele passa no outro foco.<br />

Para provar isso, notamos primeiro o seguinte:<br />

ρ<br />

r ’


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 273<br />

Afirmação 5.2. Se uma reta só intersecta uma elipse num único ponto P, então<br />

essa reta é a reta tangente à elipse em P.<br />

Demonstração.<br />

Consi<strong>de</strong>rarei apenas pontos da elipse x2<br />

a2 + y2<br />

b2 = 1 com coor<strong>de</strong>nada y > 0, ou seja,<br />

on<strong>de</strong> posso representar a elipse pelo gráfico <strong>de</strong><br />

<br />

y = b· 1− x2<br />

a2, pois para os outros é análogo, usando outros gráficos<br />

<br />

do tipo y = y(x) ou x = x(y).<br />

Uma reta y = A·x+B que passa por (x,b· 1− x2<br />

a2) tem equação:<br />

<br />

y = Ax+(b· 1− x2<br />

−Ax).<br />

a2 Se a intersecto com a elipse x2 y2<br />

+ a b2 = 1 obtemos:<br />

x2 <br />

(Ax+b 1−<br />

+<br />

a2 x2<br />

a2 −Ax) 2<br />

b2 −1 = 0,<br />

que é uma equação quadrática em x:<br />

( A2 1<br />

+<br />

b2 a2)·x2 +( −2A2 <br />

x 2 1−<br />

+<br />

b2 x2<br />

a2 A<br />

)·x+<br />

b<br />

a2x2 b<br />

(note que <strong>de</strong> fato é quadrática em x, pois A2<br />

b2 + 1<br />

a2 > 0).<br />

O dicriminante <strong>de</strong>sta função quadrática em x é:<br />

<br />

1− x2<br />

4(−a 4 A 2 +a 2 A 2 x 2 −2a 2 b<br />

b 2 a 4<br />

a 2 Ax−b 2 x 2 )<br />

2 − x2<br />

,<br />

= 0<br />

a2 e procuramos valores <strong>de</strong> A tais que, ∀x, anulem esse discriminante (pois isso dirá que<br />

para esses valores <strong>de</strong> A há apenas 1 intersecção da reta com a elipse).<br />

Ou seja, buscamos A que anulem o numerador<br />

<br />

Uma conta tediosa prova que:<br />

−a 4 A 2 +a 2 A 2 x 2 −2a 2 b<br />

−a 4 A 2 +a 2 A 2 x 2 −2a 2 b<br />

<br />

1− x2<br />

a 2 Ax−b2 x 2 .<br />

1− x2<br />

a 2 Ax−b2 x 2 =<br />

= (−a 4 +a 2 x 2 )·(A+<br />

bx<br />

a2 <br />

1− x2<br />

a2 ) 2<br />

e portanto<br />

A =<br />

−bx<br />

a2 <br />

1− x2<br />

a2 é o valor <strong>de</strong> A que anula o discriminante acima, ∀x.


5. A ELIPSE E SUA PROPRIEDADE REFLETIVA 274<br />

Por outro lado reconhecemos que<br />

−bx<br />

a2 <br />

1− x2<br />

a2 = f ′ (x),<br />

on<strong>de</strong><br />

<br />

f(x) = b· 1− x2<br />

a2. Logo a reta que só corta a elipse em P é <strong>de</strong> fato a sua reta tangente.<br />

A seguinte afirmação explica o fato <strong>de</strong> que um raio e luz saindo <strong>de</strong> um foco da<br />

elipse e refletindo na elipse passará necessariamente pelo outro foco:<br />

Afirmação 5.3. As semiretas que ligam um ponto P da elipse aos dois focos F1,F2<br />

formam os mesmos ângulos (não-orientados) com a tangente à elipse passando por<br />

P.<br />

Demonstração.<br />

Consi<strong>de</strong>re P na elipse e o triângulo ∆F1PF2 .<br />

Tome um ângulo externo α <strong>de</strong>sse triângulo (veja a Figura).<br />

F1<br />

Consi<strong>de</strong>re a bissectriz <strong>de</strong>sse ângulo (ou seja, uma semireta que o divi<strong>de</strong> em dois<br />

ângulos iguais, <strong>de</strong> valores α<br />

2 ).<br />

Marque um ponto F ′ 2 no ângulo externo, cuja distância até P seja a mesma <strong>de</strong> F2<br />

). Veja a Figura:<br />

(<strong>de</strong>note essas distâncias por PF2 = PF ′ 2<br />

F1<br />

r<br />

β<br />

α/2<br />

α/2<br />

F2<br />

F2<br />

α<br />

F2 ’<br />

F2 ’<br />

Q


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 275<br />

Tome qualquer ponto Q da reta r que contém essa bissectriz, Q = P. Já que o Q<br />

não está alinhado com F1 e F ′ 2, temos:<br />

F1Q+QF ′ 2 > F1P +PF ′ 2 =<br />

= F1P +PF2.<br />

Já que a elipse é o lugar dos pontos P com<br />

F1P +PF2 ≡ 2a<br />

vemos que Q não está na elipse.<br />

Ou seja que o único ponto da reta r que está na elipse é P.<br />

A Afirmação 5.2 anterior garante então que r é a tangente por P.<br />

Mas o ângulo β é oposto pelo vértice ao ângulo que me<strong>de</strong> α<br />

2 .<br />

Ou seja que as semiretas ligando P aos focos <strong>de</strong>terminam ângulos com reta tangente<br />

que me<strong>de</strong>m ambos α<br />

2 .<br />

<br />

6. A Hipérbole e o análogo da proprieda<strong>de</strong> refletiva<br />

Afirmação 6.1. Um ponto P = (x,y) satisfaz a equação<br />

se e somente se<br />

x 2<br />

a<br />

2 − y2<br />

= 1<br />

b2 |PF1−PF2| = 2a,<br />

on<strong>de</strong> F1 = (−c,0) e F2 = (c,0) são os dois focos e b 2 = c 2 −a 2 .<br />

Demonstração.<br />

Por exemplo suponhamos que PF1 −PF2 ≥ 0, como na Figura a seguir:.<br />

ρ<br />

F1<br />

a a<br />

F2<br />

Por <strong>de</strong>finição<br />

PF1 −PF2 = e·Pr1 −e·Pr2.<br />

= e·r1r2<br />

logo PF1 −PF2 ≡ C é constante.<br />

ρ<br />

P


6. A HIPÉRBOLE E O ANÁLOGO DA PROPRIEDADE REFLETIVA 276<br />

Pela Afirmação 2.2,<br />

ou seja 2ae−2a = 2eρ e<br />

Mas<br />

a = eρ<br />

e−1 ,<br />

2a = e·(2a−2ρ).<br />

2a−2ρ = r1r2,<br />

como se vê na Figura acima.<br />

Também a Afirmação 2.2 e a simetria da hipérbole no eixo x dão que os focos têm<br />

essas coor<strong>de</strong>nadas.<br />

<br />

A hipérbole tem uma proprieda<strong>de</strong> do mesmo tipo da elipse, a saber:<br />

Os segmentos <strong>de</strong> reta que ligam um ponto <strong>de</strong> uma hipérbole aos seus dois focos<br />

ficam bissectados pela reta tangente naquele ponto.<br />

Para provarmos isso, como fizemos no caso da elipse, primeiro provaremos o<br />

seguinte:<br />

Afirmação 6.2. Se uma reta só intersecta uma hiperbole <strong>de</strong> equação x2<br />

a,b > 0 ) num único ponto P, então<br />

• i) essa reta é reta tangente à hiperbole em P ou<br />

• ii) é uma reta paralela à reta y = b ·x ou a<br />

• iii) é uma reta paralela à reta y = −b a ·x.<br />

3<br />

2<br />

1<br />

-6 -4<br />

y 0<br />

-2 0<br />

-1<br />

x<br />

-2<br />

-3<br />

Figura: a hipérbole x2<br />

2 2 −y 2 = 1 e retas paralelas<br />

às retas y = 1<br />

2<br />

Demonstração. (Afirmação 6.2)<br />

2<br />

4<br />

·x e y = −1<br />

2 ·x.<br />

6<br />

a 2 − y2<br />

b 2 = 1 (


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 277<br />

Consi<strong>de</strong>ro pontos da hipérbole x2<br />

a2 − y2<br />

b2 = 1 com coor<strong>de</strong>nada y > 0, ou seja, on<strong>de</strong><br />

posso representar a hipérbole pelo gráfico <strong>de</strong><br />

<br />

x2 y = b· −1.<br />

a2 Quero intersectar com a hipérbole uma reta qualquer y = A·x+B que passa por<br />

<br />

x2 P = (x,b· −1),<br />

a2 ou seja, uma reta da forma:<br />

<br />

x2 y = A·x+b −1−Ax.<br />

a2 Obtenho então <strong>de</strong><br />

x2 <br />

(A·x+b 1−<br />

−<br />

a2 x2<br />

a2 −Ax) 2<br />

b2 −1 = 0,<br />

a equação em x:<br />

( 1 A2<br />

−<br />

a2 b2 )x2 +( 2A2 <br />

x2 x 2 a<br />

−<br />

b2 2 −1A<br />

)x−<br />

b<br />

x2<br />

a2 − A2x2 <br />

x2 2 a<br />

+<br />

b2 2 −1Ax<br />

b2 = 0.<br />

Essa equação <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma equação quadrática em x quando<br />

1 A2<br />

− = 0.<br />

a2 b2 Ou seja, as retas passando por P com coeficientes angulares<br />

A = ± b<br />

a<br />

só cortam a hipérbole em P.<br />

Quando 1<br />

a2 − A2<br />

b2 = 0 e a equação é quadrática, para termos P como única intersecção<br />

da reta e da hipérbole precisamos ter a anulação do dicriminante da função<br />

quadrática em x. Ou seja, buscamos a condição:<br />

4(−a4A2 +a2A2x2 −2a2 <br />

x2 b a2 −1Ax+b 2x2 )<br />

b 2 a 4<br />

on<strong>de</strong> procuramos por coeficientes angulares A tais que, ∀x, seja nulo esse discriminante.<br />

Ou seja, queremos A que anule o numerador<br />

<br />

x2 −a 4 A 2 +a 2 A 2 x 2 −2a 2 b<br />

Mas uma conta tediosa mostra que:<br />

−a 4 A 2 +a 2 A 2 x 2 −2a 2 b<br />

x 2<br />

a 2 −1Ax+b2 x 2 .<br />

a 2 −1Ax+b2 x 2 =<br />

= 0,


6. A HIPÉRBOLE E O ANÁLOGO DA PROPRIEDADE REFLETIVA 278<br />

e portanto<br />

= (−a 4 +a 2 x 2 )·(A−<br />

A =<br />

a 2<br />

bx<br />

a 2<br />

<br />

x2 a2 −1<br />

é o valor <strong>de</strong> A que anula o discriminante acima, ∀x.<br />

Por outro lado reconhecemos que<br />

on<strong>de</strong><br />

a 2<br />

bx<br />

<br />

x2 a2 −1<br />

f(x) = b·<br />

= f ′ (x),<br />

x 2<br />

−1.<br />

a2 bx<br />

<br />

x2 a2 −1<br />

Logo, se uma reta corta a hipérbole em um único P, então é a reta tangente em P<br />

ou paralelas a y = b<br />

a<br />

·x ou y = −b<br />

a ·x.<br />

Afirmação 6.3. Quando |x| → ∞ os pontos da hiperbole x2<br />

a 2 − y2<br />

x 2 = 1 se aproximam<br />

das reta y = b<br />

a<br />

·x ou da reta y = −b<br />

a<br />

) 2<br />

·x (chamadas <strong>de</strong> assíntotas).<br />

Com esta Afirmação e a Afirmação 6.2 po<strong>de</strong>mos dizer:<br />

fora as tangentes, as únicas retas que só cortam a hipérbole em 1 ponto são as<br />

retas paralelas às assíntotas da hipérbole dada.<br />

<strong>de</strong><br />

Demonstração. (Afirmação 6.3)<br />

Cada ponto da hipérbole x2<br />

a 2 − y2<br />

b 2 = 1 po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito ou como ponto do gráfico<br />

ou como ponto do gráfico <strong>de</strong><br />

f1(x) = b·<br />

f2(x) = −b·<br />

x 2<br />

x 2<br />

b<br />

−1 =<br />

a2 a ·√x2 −a2 ,<br />

−1 = −b<br />

a2 a ·√x2 −a2 .<br />

Se vamos fazer |x| → ∞, obviamente po<strong>de</strong>mos supôr |x| = 0 e escrever:<br />

f1(x) = b<br />

<br />

x<br />

a<br />

2 (1− a2 b<br />

x2) =<br />

a |x|<br />

<br />

1− a2<br />

x2, f2(x) = − b<br />

<br />

x<br />

a<br />

2 (1− a2<br />

x2) = −b<br />

a |x|<br />

<br />

1− a2<br />

x2,


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 279<br />

e claramente:<br />

lim<br />

|x|→+∞<br />

<br />

1− a2<br />

= 1.<br />

x2 Ou seja, quando |x| → ∞ o gráfico <strong>de</strong> f1 ten<strong>de</strong> ao gráfico <strong>de</strong> y = b ·|x| enquanto que<br />

a<br />

o <strong>de</strong> f2 ten<strong>de</strong> ao <strong>de</strong> y = −b ·|x| . a<br />

Po<strong>de</strong>mos ser mais <strong>de</strong>talhados:<br />

Se x → +∞, temos o gráfico <strong>de</strong> f1(x) se aproximando do <strong>de</strong> y = b<br />

· x. Mas se a<br />

x → −∞ temos f1(x) se aproximando <strong>de</strong><br />

y = b<br />

·(−x) = −b<br />

a a ·x.<br />

Se x → +∞, temos o gráfico <strong>de</strong> f2(x) se aproximando do <strong>de</strong> y = −bx. Mas se a<br />

x → −∞ temos f2(x) se aproximando do <strong>de</strong><br />

y = − b b<br />

·(−x) =<br />

a a ·x.<br />

Afirmação 6.4. As semiretas que ligam um ponto P da hipérbole aos dois focos<br />

F1,F2 formam os mesmos ângulos (não-orientados) com a tangente à hipérbole em<br />

P.<br />

Demonstração.<br />

Consi<strong>de</strong>re P um ponto da hipérbole. Como |PF1 −PF2| ≡ C > 0 posso supor<br />

que tomei P no ramo da hipérbole on<strong>de</strong> PF1 −PF2 ≡ C > 0 (seria análogo o outro<br />

caso, trocando os papéis <strong>de</strong> F1 e F2).<br />

F2 ’<br />

α/2 α/2<br />

F1 F2<br />

Marque no segmento <strong>de</strong> reta [F1P] o ponto F ′ 2 que tem PF2 = PF ′ 2 .<br />

Consi<strong>de</strong>re a bissectriz r do ângulo α em P que faz parte do triângulo ∆F1PF2.<br />

P<br />

Q


6. A HIPÉRBOLE E O ANÁLOGO DA PROPRIEDADE REFLETIVA 280<br />

Tome um ponto Q ∈ r, Q = P.<br />

Caso 1: Suponhamos QF1 ≥ QF ′ 2:<br />

Então como Q não está alinhado com F1,F ′ 2 ,P, temos:<br />

e portanto:<br />

QF ′ 2 +F ′ 2F1 > F1Q,<br />

F ′ 2F1 > F1Q−QF ′ 2 ≥ 0.<br />

Note que a nossa reta r funciona também como mediatriz do segmento [F ′ 2 F2] (por<br />

ser a bissectriz do triângulo isósceles ∆F ′ 2PF ′ 2). Logo<br />

e portanto:<br />

QF ′ 2 = QF2<br />

F ′ 2 F1 > F1Q−QF2.<br />

Por outro lado, já que o ponto F ′ 2 está no segmento [F1P], temos:<br />

F ′ 2F1 = PF1 −PF ′ 2 =<br />

= PF1 −PF2.<br />

Como este último valor é positivo, pela escolha <strong>de</strong> P,<br />

e<br />

|PF1 −PF2| = PF1 −PF2 ≡ C > 0<br />

|PF1−PF2| > F1Q−QF2 ≥ 0<br />

nos faz concluir que Q não pertence à elipse.<br />

Ou seja, que da reta r somente o ponto P está na elipse.<br />

Vemos em seguida que r não é paralela a nenhuma das assíntotas da hipérbole.<br />

Portanto, pela Afirmação 6.2, conclímos que r é a tangent à hipérbole no ponto P.<br />

Caso 2: Suponhamos QF ′ 2 ≥ QF1:<br />

Então como Q não está alinhado com F1,F ′ 2 ,P, temos:<br />

e portanto:<br />

QF1 +F1F ′ 2 > QF ′ 2,<br />

F ′ 2F1 > QF ′ 2 −QF1 ≥ 0.<br />

O Resto da prova neste Caso 2 é exatamente igual ao do Caso 1.


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 281<br />

7. Família <strong>de</strong> cônicas co-focais ortogonais<br />

Consi<strong>de</strong>re a seguinte família <strong>de</strong> cônicas:<br />

x 2<br />

λ<br />

y2<br />

+ = 1, k > 0,<br />

λ−k 2<br />

com k fixado e o parâmetro λ > 0, λ = k 2 .<br />

A Figura a seguir ilustra o caso em que k = 2, on<strong>de</strong> escolhi 10 valores<br />

λ = 15,10,8,6,5,3.5,3,2,1,0.3<br />

y 0<br />

-4 -2 0<br />

2<br />

4<br />

2<br />

-2<br />

-4<br />

x<br />

A Afirmação a seguir <strong>de</strong>screve a família em <strong>de</strong>talhe. O item iv) é surpreen<strong>de</strong>nte !<br />

Afirmação 7.1.<br />

• i ) todas as cônicas <strong>de</strong>ssa família têm os mesmos Focos (k,0) e (−k,0). Se<br />

λ − k2 > 0 a cônica correspon<strong>de</strong>nte ao λ é uma elipse com excentricida<strong>de</strong><br />

√k . Se λ − k<br />

λ 2 < 0 a cônica correspon<strong>de</strong>nte ao λ é uma hipérbole com<br />

excentricida<strong>de</strong> k<br />

√ λ .<br />

4


7. FAMÍLIA DE CÔNICAS CO-FOCAIS ORTOGONAIS 282<br />

• ii) em cada ponto (x,0) do eixo dos x, diferente dos dois Focos (k,0) e (−k,0)<br />

e da origem, só passa um elemento da família <strong>de</strong> cônicas. De fato, se |x| > k<br />

então passa só uma elipse cujo parâmetro é λ = x2 e cuja excentricida<strong>de</strong> é<br />

e = a < 1. E se |x| < k então só passa uma hipérbole cujo parâmetro é<br />

|x|<br />

λ = x2 e cuja excentricida<strong>de</strong> é e = a > 1. |x|<br />

• iii) em cada ponto (0,y) do eixo dos y, diferente da origem só passa uma<br />

elipse da família, com parâmetro λ = k2 +y2 k e excentricida<strong>de</strong> √k<br />

2 +y2 • iv) em cada ponto (x,y) com x · y = 0 passam dois elementos da família,<br />

uma elipse e uma hipérbole, e a intersecção é ortogonal7 Demonstração.<br />

Do item i):<br />

Basta aplicar a Afirmação 2.2 para encontrar os focos e a excentricida<strong>de</strong>. Note<br />

que se λ−k 2 < 0 as hipérboles são:<br />

x 2<br />

λ<br />

De ii):<br />

Dado o ponto (x,0) a expressão:<br />

y2<br />

−<br />

k2 = 1.<br />

−λ<br />

x2 y2<br />

+ = 1, k > 0<br />

λ λ−k 2<br />

produz a seguinte equação quadrática em λ:<br />

λ 2 −λ·(k 2 +x 2 )+k 2 ·x 2 = 0.<br />

Se x 2 −k 2 > 0 (ou seja, |x| > k) o discriminante <strong>de</strong>ssa equação vira:<br />

e obtemos duas soluções:<br />

λ = x 2<br />

x 2 −k 2<br />

e λ = k 2<br />

mas por hipótese excluímos λ−k 2 . Analogamente se x 2 −k 2 < 0.<br />

De iii): Para um ponto (0,y) equação em λ agora é linear:<br />

y 2<br />

λ−k 2 = 1 ⇔ λ = k2 +y 2 .<br />

De iv):<br />

Deixo para o leitor verificar que para cada ponto (x,y) com x·y = 0 passam duas<br />

cônicas diferentes, uma com excentricida<strong>de</strong> > 1 e a outra < 1. A única coisa que<br />

quero <strong>de</strong>stacar é que os parâmetros λ1,λ2 são as soluções da equação quadrática em<br />

λ:<br />

λ 2 −λ·(k 2 +x 2 +y 2 )+x 2 ·k 2 = 0<br />

7 Quandoduascurvasseintersectam, oânguloqueformamémedidocombasenoânguloformado<br />

por suas retas tangentes.


CAPÍTULO 20. AS CÔNICAS E SUAS PROPRIEDADES REFLETIVAS 283<br />

que sai <strong>de</strong><br />

já que<br />

Lembro que:<br />

x 2<br />

λ<br />

λ1 +λ2 = k 2 +x 2 +y 2<br />

y2<br />

+ = 1.<br />

λ−k 2<br />

e λ1 ·λ2 = x 2 ·k 2 ,<br />

λ 2 −λ·(k 2 +x 2 +y 2 )+x 2 ·k 2 = (λ−λ1)·(λ−λ2).<br />

Nesses pontos (x,y) com x · y = 0, as duas curvas da família que passam pelo<br />

ponto não são verticais, ou seja, localmente em torno <strong>de</strong> cada ponto as duas curvas<br />

são gráficos da forma y = fλ1(x) e y = fλ2(x). De fato,<br />

∂( x2<br />

λ<br />

y2<br />

+ λ−k2 −1)<br />

= 0 ⇔ y = 0<br />

∂y<br />

e po<strong>de</strong>mos usar o Teorema 2.1 do Capítulo 15.<br />

Também por esse mesmo Teorema calculo:<br />

enquanto que<br />

f ′ λ1<br />

(2x<br />

λ1 (x) = − )<br />

2y<br />

( λ1−k<br />

Agora noto que termos a condição:<br />

equivale a termos<br />

−x<br />

=<br />

2) y ·(λ1 −k2 ),<br />

λ1<br />

f ′ −x<br />

λ2 (x) =<br />

y ·(λ2 −k2 ).<br />

λ2<br />

f ′ −1<br />

λ1 (x) =<br />

f ′ λ2 (x)<br />

(x 2 +y 2 )·λ1 ·λ2 −x 2 ·k 2 ·(λ1 +λ2)+x 2 ·k 4 = 0,<br />

o que conseguimos que seja verda<strong>de</strong> se usamos:<br />

Ora,<br />

λ1 ·λ2 = x 2 ·k 2<br />

e λ1 +λ2 = k 2 +x 2 +y 2 .<br />

f ′ −1<br />

λ1 (x) =<br />

f ′ λ2 (x)<br />

é a condição <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong>, por isso cada par elipse-hipérbole que se encontra<br />

num ponto é ortogonal.<br />

<br />

Para vermos exemplos <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> cúbicas ortogonais precisaremos da Seção 3<br />

do Capítulo 50.


8. EXERCÍCIOS 284<br />

8. Exercícios<br />

Exercício 8.1.<br />

Chamamos uma hipérbole x2<br />

a2 − y2<br />

b2 = 1 <strong>de</strong> retangular se suas assíntotas são ortogonais<br />

entre si.<br />

Qual a relação entre a e b que é necessária e suficiente para termos uma hipérbole<br />

retangular ?<br />

Exercício 8.2. (resolvido)<br />

Um planeta <strong>de</strong> move em trajetória elíptica, em que o Sol é um dos focos da elipse.<br />

Observado a partir <strong>de</strong> um ponto (x,y) = (0,0), o planeta está, num certo instante<br />

t0, na posição (x0,y0), on<strong>de</strong> x0 > y0 > 0.<br />

A<strong>de</strong>mais, suacoor<strong>de</strong>nadaxtememt0 umataxa<strong>de</strong>variação<strong>de</strong>−1UA/s, enquanto<br />

que sua coor<strong>de</strong>nada y tem taxa <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> 1 UA/s.<br />

i) Determine a equação (padrão) da elipse que <strong>de</strong>screve sua trajetória.<br />

ii) Determine as posições possíveis do Sol.<br />

iii) A distância do foco on<strong>de</strong> está o Sol até o vértice mais próximo é chamado <strong>de</strong><br />

perihélio do planeta. Determine-o.


CAPíTULO 21<br />

Integração e o Primeiro Teorema Fundamental<br />

1. Área sob um gráfico positivo<br />

Dado um gráfico <strong>de</strong> uma função contínua y = f(x) ≥ 0 quero enten<strong>de</strong>r qual a<br />

Área compreendida sob esse gráfico e acima do eixo x, da vertical x = a até a vertical<br />

x = b.<br />

Se y = f(x) = ax+b é uma reta tudo ok, já sabemos o que são áreas <strong>de</strong> triângulos,<br />

retângulo, trapézios, etc. Mas e se y = f(x) não for uma reta ? Se f(x) não é a<br />

equação <strong>de</strong> uma reta, vemos que realmente precisamos <strong>de</strong>finir <strong>de</strong> maneira matematicamente<br />

correta a intuição que temos <strong>de</strong> que há uma figura sob esse gráfico e que ela<br />

tem uma certa área.<br />

A idéia <strong>de</strong> Bernard Riemann é <strong>de</strong> ir subdividindo o domínio da f e colocando lado<br />

aladoretângulossobográfico(vouchamá-los<strong>de</strong>retângulos justapostos sob o gráfico).<br />

A soma das áreas <strong>de</strong>sses retângulos é menor que a área buscada, mas a medida que<br />

se refina a subdivisão do domínio a soma <strong>de</strong> áreas dos retângulos justapostos sob o<br />

gráfico se aproxima <strong>de</strong> um certo valor.<br />

Isso funciona bem por exemplo se f : [a,b]] → R é contínua.<br />

Se f não fosse contínua em [a,b], quem sabe os valores da f ficassem tão altos<br />

quanto quiséssemos, o que levaria em muitos casos a que a área da região sob seu<br />

gráfico <strong>de</strong>vesse ser consi<strong>de</strong>rada infinita, não um número <strong>de</strong>terminado. 1<br />

1 Veremos mais adiante, quando tratarmos <strong>de</strong> integrais impróprias que, às vezes, a integração<br />

consegue domar o infinito, tanto do tamanho do intervalo on<strong>de</strong> se integra, quanto dos valores da<br />

função em [a,b].<br />

285


2. QUAL FUNÇÃO DESCREVE AS ÁREAS SOB GRÁFICOS? 286<br />

Figura: Cinco retângulos sob o gráfico, <strong>de</strong> mesma largura (1/5 do intervalo).<br />

Figura: 12 retângulos sob o gráfico, <strong>de</strong> mesma largura ( 1<br />

12<br />

Figura: 24 retângulos sob o gráfico, <strong>de</strong> mesma largura ( 1<br />

24<br />

do intervalo).<br />

do intervalo).<br />

Nem precisam ser retângulos <strong>de</strong> mesma largura, como nas Figuras acima. Basta<br />

que o máximo das larguras dos retângulos tenda a zero à medida que refinamos as<br />

escolhas dos retângulos.<br />

Issopareceaindaumpoucovago,masnaSeção2aseguirfaremosalgunsExemplos<br />

explícitos, on<strong>de</strong> fazemos a partição da base ficar cada vez mais fina e obtemos, via um<br />

limite, um valor bem <strong>de</strong>terminando, que será a área. É possível provar um teorema<br />

geral do seguinte tipo:<br />

Afirmação 1.1. (B. Riemann) 2 Seja f : [a,b] → R, f(x) ≥ 0 contínua.<br />

Esse número é por <strong>de</strong>finição a Área sob o gráfico <strong>de</strong> f, <strong>de</strong> a até b, <strong>de</strong>notada por<br />

Af,a(b).<br />

2. Qual função <strong>de</strong>screve as Áreas sob gráficos?<br />

Dado uma função y = f(x) não-negativa, fixado um ponto inicial a<strong>de</strong> seu domínio<br />

<strong>de</strong>finimos acima a área sob seu gráfico até b.<br />

Vamos agora fixar a e mudar o nome <strong>de</strong> b, passando a chamar-se agora x para<br />

significar que vamos variar o b.<br />

Então a área sob o gráfico vira uma nova função Af,a(x), que para cada valor <strong>de</strong><br />

x dá um resultado <strong>de</strong> Área.<br />

Qual é essa função A(x)? E que proprieda<strong>de</strong>s ela tem?<br />

Certamente é uma função crescente, será que Af,a(x) é contínua? Será que ela é<br />

<strong>de</strong>rivável ?<br />

Com o que sabemos do colégio, só consigo ver dois tipos <strong>de</strong> exemplos simples <strong>de</strong><br />

f, on<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>ríamos facilmente sobre Af,a(x):<br />

2 Observo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já que se po<strong>de</strong> dar versões bem mais fortes <strong>de</strong>sse teorema <strong>de</strong> Riemann.


CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL 287<br />

• Exemplo 1 : Se y = C ≥ 0 é constante e a = 0, então AC,0(x) é a área <strong>de</strong> um<br />

retângulo <strong>de</strong> largura x e altura C. Po<strong>de</strong>mos tomar como um Axioma que<br />

sua área é dada por<br />

AC,0(x) = C ·x.<br />

• Exemplo 2 : Se y = Cx e a = 0 então ACx,a(x) é a área <strong>de</strong> um triângulo <strong>de</strong><br />

largura x e altura Cx. Sabemos da geometria elementar que área é dada por<br />

C ·x2<br />

ACx,a(x) = .<br />

2<br />

Mas que tal re-obter esse valor agora <strong>de</strong> um jeito novo, que servirá para<br />

enten<strong>de</strong>r a área <strong>de</strong> muitos outros exemplos?<br />

Particione o intervalo [0,x] em n intervalos <strong>de</strong> mesmo tamanho:<br />

[0,x] = [0, x<br />

n<br />

] ∪ [x<br />

n<br />

, 2x<br />

n<br />

] ∪...∪ [(n−1)x ,<br />

n<br />

nx<br />

n ].<br />

Tome um primeiro retângulo posto sob o gráfico <strong>de</strong> y = C·x, <strong>de</strong> base [ x<br />

n<br />

e altura C · x<br />

n<br />

, um segundo retângulo <strong>de</strong> base [2x<br />

n<br />

3x 2x<br />

, ] e altura C · n n<br />

, 2x<br />

n ]<br />

e assim<br />

até um (n−1)-ésimo retângulo, cuja base é [ (n−1)x<br />

, n nx (n−1)x<br />

] e altura C · .<br />

n n<br />

Dado n ∈ N, a soma das áreas dos (n−1) retângulos acima é:<br />

x x x 2x x (n−1)x<br />

·C · + ·C · +...+ ·C ·<br />

n n n n n n<br />

= C · x2<br />

·[1+2+...(n−1)] =<br />

n2 = C · x2<br />

·[(n−1)·n ],<br />

n2 2<br />

on<strong>de</strong> na última linha usamos o item i) da Afirmação 1.1, do Capítulo 13.<br />

Se fazemos n → +∞ estamos cada vez mais nos aproximando da área do<br />

triângulo, <strong>de</strong> fato:<br />

lim<br />

n→+∞<br />

C · x2<br />

n<br />

·[(n−1)·n ] = 2 2<br />

C ·x2<br />

.<br />

2<br />

• Exemplo 3: Seja y = C ·x2 , C ≥ 0, a = 0 escolha um x, 0 < x.<br />

Faça a partição do intervalo [0,x] como no Exemplo anterior. Tome como<br />

primeiro retângulo sob o gráfico <strong>de</strong> y = C ·x2 o retângulo <strong>de</strong> base [ x 2x<br />

, ] e n n<br />

altura C( x<br />

n )2 , o segundo retângulo <strong>de</strong> base [ 2x 3x<br />

, ] e altura C(2x<br />

n n n )2 e assim<br />

até o (n−1)-ésimo retângulo, cuja base é [ (n−1)x<br />

, n nx<br />

] e altura C((n−1)x<br />

n n )2 .<br />

Como esses retângulos estão sob o gráfico, a soma <strong>de</strong> suas áreas é certamente<br />

menor que a área real sob o gráfico.<br />

Mas se fazemos n cada vez maior, a soma <strong>de</strong> área <strong>de</strong> retângulos vai ten<strong>de</strong>r<br />

à área real, que queremos conhecer.<br />

De fato, dado n ∈ N, a soma das áreas dos (n−1) retângulos é:<br />

x<br />

n<br />

x2 x<br />

·C · +<br />

n2 n ·C · 22x2 n<br />

=<br />

x<br />

+...+<br />

2 n ·C · (n−1)2 x2 n2 =


2. QUAL FUNÇÃO DESCREVE AS ÁREAS SOB GRÁFICOS? 288<br />

· x2<br />

n 2 ·[12 +2 2 +...(n−1) 2 ].<br />

= C · x<br />

n<br />

No item iii) da Afirmação 1.1 vimos a fórmula:<br />

1 2 +2 2 +...+n 2 = n(n+1)(2n+1)<br />

6<br />

que dá quando aplicada ao nosso n−1:<br />

, ∀n ∈ N,<br />

1 2 +2 2 +...+(n−1) 2 = (n−1)(n−1+1)(2(n−1)+1)<br />

6<br />

= (n−1)n(2n−1)<br />

=<br />

6<br />

= 2n3 −3n2 +n<br />

, ∀n ∈ N.<br />

6<br />

Ora, então a soma <strong>de</strong> áreas dos (n−1) retângulos é <strong>de</strong> fato:<br />

C · x x2<br />

·<br />

n n2 · 2n3 −3n2 +n<br />

= Cx<br />

6<br />

32n3 −3n2 +n<br />

6n3 .<br />

Mas pelo que já vimos na Parte 1 (já que C e x não mudam com n):<br />

Então é A Cx 2 ,0(x) = Cx3<br />

3 .<br />

lim<br />

n→+∞ C ·x3 · 2n3 −3n2 +n<br />

6n3 = Cx3<br />

3 .<br />

• Exemplo 4: Seja y = C · x3 , C ≥ 0. Mais uma vez, faça a partição do<br />

intervalo [0,x] como no Exemplo anterior. Tome como primeiro retângulo<br />

sob o gráfico o retângulo <strong>de</strong> base [ x<br />

n<br />

<strong>de</strong> base [ 2x<br />

n<br />

, 2x<br />

n<br />

] e altura C(x<br />

n )3 , o segundo retângulo<br />

3x<br />

, ] e altura C(2x<br />

n n )3 e assim até o (n−1)-ésimo retângulo, cuja<br />

base é [ (n−1)x<br />

, n nx<br />

] e altura C((n−1)x<br />

n n )3 .<br />

Dado n ∈ N, a soma das áreas <strong>de</strong>sses (n−1) retângulos é:<br />

x<br />

n<br />

x3 x<br />

·C · +<br />

n3 n ·C · 23x3 n<br />

x<br />

+...+<br />

3 n ·C · (n−1)3 x3 n3 =<br />

= C · x x3<br />

·<br />

n n3 ·[13 +2 3 +...(n−1) 3 ].<br />

Os itens i) e ii) da Afirmação 1.1 dão juntos a fórmula:<br />

1 3 +2 3 +...+n 3 = ( n(n+1)<br />

2<br />

que dá quando aplicada ao nosso n−1:<br />

1 3 +2 3 +...+(n−1) 3 = (n−1)2 (n) 2<br />

) 2 ,) ∀n ∈ N,<br />

4 4<br />

, ∀n ∈ N.<br />

Ora, então a soma <strong>de</strong> áreas dos (n−1) retângulos é <strong>de</strong> fato:<br />

C · x x3<br />

·<br />

n n3 · n4 −2n3 +n2 4<br />

= n4 −2n 3 +n 2<br />

= Cx 3 · n4 −2n3 +n2 4n4 .<br />

=


CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL 289<br />

Mas pelo que já vimos na Parte 1 (já que C e x não mudam com n):<br />

lim<br />

n→+∞ Cx3 · n4 −2n3 +n2 4n4 = Cx4<br />

4 .<br />

Então A Cx 3 ,0(x) = Cx4<br />

4 .<br />

• Exemplo 5) Também po<strong>de</strong>mos combinar dois Exemplos <strong>de</strong>sses <strong>de</strong> acima, por<br />

exemplo perguntar pela área sob o gráfico <strong>de</strong><br />

y = C1x 2 +C2x 3 , C1,C2 ≥ 0,<br />

<strong>de</strong> 0 até x. A soma <strong>de</strong> área <strong>de</strong> retângulos sob o gráfico será:<br />

x<br />

n ·(C1<br />

x2 x<br />

+C2<br />

n2 3 x<br />

n3)+...+ n ·(C1<br />

x<br />

= C1<br />

3<br />

(n−1) 2 x 2<br />

n 2<br />

(n−1)<br />

+C2<br />

3x3 n3 ) =<br />

n3 ·(12 +2 2 +...+(n−1) 2 )+C2<br />

n4 ·(13 +2 3 +...+(n−1) 3 ),<br />

e pelo que vimos nos dois exemplos anteriores 3),4) (e pelo limite <strong>de</strong> somas):<br />

x 3<br />

lim<br />

n→+∞ C1<br />

n3 ·(12 +2 2 +...+(n−1) 2 )+C2<br />

n4 ·(13 +2 3 +...+(n−1) 3 ) =<br />

x<br />

= C1<br />

3<br />

3 +C2<br />

Nos 5 Exemplos acima há, digamos assim, uma coincidência notável:<br />

A Área como função <strong>de</strong> x é uma função <strong>de</strong>rivável e a<strong>de</strong>mais a <strong>de</strong>rivada da Área<br />

é a função <strong>de</strong> partida<br />

x 4<br />

x 4<br />

x 4<br />

4 .<br />

A(x) = Cx ⇒ A ′ (x) = C, A(x) = Cx2<br />

2 ⇒ A′ (x) = Cx,<br />

A(x) = Cx3<br />

3 ⇒ A′ (x) = Cx 2 , A(x) = Cx4<br />

4 ⇒ A′ (x) = Cx 3 .<br />

3 4 C1x C2x<br />

A(x) = +<br />

3 4 ⇒ A′ (x) = C1x 2 +C2x 3 .<br />

Como veremos isso não é uma coincidência ! O fato geral por trás disso, <strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>rivando a função Área sob o gráfico voltamos na função que dá o gráfico, será o<br />

Primeiro Teorema Fundamental do Cálculo.<br />

E <strong>de</strong> fato é a chave para se calcular áreas sob gráficos incrivelmente complicados<br />

(no Segundo Teorema fundamental do Cálculo).<br />

3. Primeira Versão do Primeiro Teorema fundamental do Cálculo<br />

A princípio não sabemos muito sobre o gráfico <strong>de</strong> Af,a(x), porém o próximo teorema<br />

vai nos dizer muito.<br />

Para <strong>de</strong>monstrarmos o Teorema, começo com uma Afirmação, ilustrada na figura<br />

que segue:


3. PRIMEIRA VERSÃO DO PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL DO<br />

CÁLCULO 290<br />

Afirmação 3.1. Suponha f : [a,b] → R é contínua e f(x) ≥ 0.<br />

Tome x ∈ [a,b) e h > 0 suficientemente pequeno para que x+h ∈ [a,b]. Então:<br />

para algum ponto ξ ∈ [x,x+h].<br />

M_f<br />

f ( ξ )<br />

m_f<br />

Af,x(x+h) = f(ξ)·h,<br />

Figura: A área sob o gráfico é igual à do retângulo <strong>de</strong> altura f(ξ), mf < f(ξ) < Mf<br />

Demonstração.<br />

Começo observando que, dado o h > 0, o valor Af,x(h) tem que estar entre:<br />

mf ·h ≤ Af,x(x+h) ≤ Mf ·h<br />

on<strong>de</strong> mf ·h é a Área <strong>de</strong> uma retângulo com base h e altura mf (o mínimo <strong>de</strong> f em<br />

[x,x+h]) e Mf ·h é a Área <strong>de</strong> uma retângulo com base h e altura Mf (o máximo <strong>de</strong><br />

f em [x,x+h]).<br />

Divido por h > 0:<br />

mf ≤ Af,x(x+h)<br />

h<br />

≤ Mf,<br />

e portanto Af,x(x+h)<br />

h é um valor intermediário da f : [a,b] → R, um valor entre seu<br />

mínimo e seu máximo.<br />

Logo pelo T.V.I. existe ξ ∈ [x,x+h] tal que<br />

logo Af,x(x+h) = f(ξ)·h.<br />

Af,x(x+h)<br />

h<br />

= f(ξ),<br />

O Teorema a seguir diz que sempre a <strong>de</strong>rivada da função que me<strong>de</strong> áreas sob um<br />

gráfico é a função original que dá o gráfico.<br />

Também po<strong>de</strong> ser lido assim: a operação <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivar cancela o efeito da operação<br />

<strong>de</strong> tomar área sob o gráfico:<br />

Teorema 3.1. (Primeira versão)<br />

Seja f : [a,b] → R contínua, f ≥ 0 e x ∈ [a,b). Então<br />

A ′ f,a(x) = f(x).


CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL 291<br />

Demonstração.<br />

Como essa ainda é uma versão light do Primeiro Teorema, me permito mostrar<br />

apenas que a <strong>de</strong>rivada à direita da Área é igual a f(x), ou seja, que fixado x ∈ [a,b]<br />

vale:<br />

Af,a(x+h)−Af,a(x)<br />

lim<br />

= f(x)<br />

hց0 h<br />

Ora, pela aditivida<strong>de</strong> da Área, para h > 0:<br />

Af,a(x+h) = Af,a(x)+Af,x(x+h),<br />

portanto<br />

Af,a(x)+Af,x(x+h)−Af,a(x)<br />

lim<br />

=<br />

hց0 h<br />

Af,x(x+h)<br />

= lim .<br />

h→0 h<br />

Agora uso a Afirmação 3.1 acima, <strong>de</strong> que<br />

on<strong>de</strong> ξ ∈ [x,x+h]. Então juntando tudo:<br />

Para terminar basta ver que<br />

Af,x(x+h) = f(ξ)·h,<br />

Af,x(x+h)<br />

lim =<br />

h→0 h<br />

f(ξ)·h<br />

lim =<br />

h→0 h<br />

= lim f(ξ).<br />

h→0<br />

lim f(ξ) = f(x).<br />

h→0<br />

Ora, quando h ten<strong>de</strong> a zero, ξ ∈ [x,x+h] ten<strong>de</strong> a x.<br />

Logo f(ξ) ten<strong>de</strong> a f(x), porque f é contínua.<br />

4. A Integral e suas proprieda<strong>de</strong>s<br />

Até aqui só falamos <strong>de</strong> funções contínuas que são f ≥ 0, pois queriamos falar <strong>de</strong><br />

áreas sob seu gráfico e acima do eixo dos x.<br />

Mas é claro que se f < 0 na região [a,b] faz sentido <strong>de</strong>finir a área da região<br />

compreendida entre o eixo dos x e seu gráfico, que <strong>de</strong>notaremos ainda por Af,a(b).<br />

Sem entrar em <strong>de</strong>talhes técnicos, quero apresentar uma operação chamada integral<br />

<strong>de</strong>finida <strong>de</strong> f <strong>de</strong> a até b, <strong>de</strong> uma função f contínua <strong>de</strong>finida em [a,b] <strong>de</strong>notada:<br />

b<br />

a<br />

f(x)dx.<br />

Dada y = f(x) contínua em [a,b] escolha uma lista <strong>de</strong> pontos, começando em a e<br />

terminando em b:<br />

a = x 0 < x1 < ... < xn = b,


4. A INTEGRAL E SUAS PROPRIEDADES 292<br />

que chamamos <strong>de</strong> partição <strong>de</strong> [a,b].<br />

Chamamos <strong>de</strong> norma <strong>de</strong>ssa partição o máximo dos tamanhos |xi − xi−1|. dizer<br />

que a norma fica pequena é dizer que aumenta o número <strong>de</strong> pontos xi e também que<br />

eles ficam bem distribuídos em [a,b].<br />

Dada uma partição, escolha uma lista <strong>de</strong> pontos ξi ∈ [xi,xi+1]. Tome os valores<br />

da f nesses ξi e faça a soma:<br />

(x1 −x0)·f(ξ0)+(x2 −x1)·f(ξ1)+...+(xn −xn−1)·f(ξn−1)<br />

que chamaremos <strong>de</strong> somas <strong>de</strong> Riemann.<br />

Note que agora po<strong>de</strong> haver parcelas negativas nessa soma, se f < 0.<br />

Fig.: Retângulos na parte y > 0 contribuem sua área na soma <strong>de</strong> Riemann,<br />

enquanto os na parte y < 0 contribuem com o negativo da área<br />

Se acontecer <strong>de</strong> f ≥ 0 então essa soma se parece muito com as somas <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong><br />

retângulos sob o gráfico, que fizemos na Seção 2.<br />

É possível refinarmos as partições [a,b], colocando mais pontos xi e escolhendo<br />

mais pontos ξi. Isso produz novas somas <strong>de</strong> Riemann, como acima.<br />

E po<strong>de</strong>mos passar ao limite, fazendo a norma das partições ten<strong>de</strong>r a zero (ou seja,<br />

o número n <strong>de</strong> pontos é feito n → +∞).<br />

Teorema 4.1. (Integral e suas proprieda<strong>de</strong>s)<br />

Seja f(x) contínua em [a,b]. Então<br />

• i) passando ao limite, com as normas das partições ten<strong>de</strong>ndo a zero, as somas<br />

<strong>de</strong> Riemann<br />

(x1 −x0)·f(ξ0)+(x2 −x1)·f(ξ1)+...+(xn −xn−1)·f(ξn−1)<br />

convergem para um número <strong>de</strong>notado b<br />

a f(x)dx.<br />

• ii) esse limite não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tipo particular <strong>de</strong> soma <strong>de</strong> Riemann, apenas<br />

<strong>de</strong> que as normas das partiões <strong>de</strong> [a,b] tendam a zero.<br />

• iii) se f ≥ 0 então b<br />

f(x)dx = Af,a(b).<br />

a<br />

• iv) se f < 0 então b<br />

a f(x)dx = −Af,a(b), on<strong>de</strong> esta área Af,a(b) é compreendida<br />

entre o eixo dos x e o gráfico.


CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL 293<br />

• v) c<br />

c<br />

f(x)dx = 0 para qualquer c ∈ [a,b].<br />

• vi) se escolhemos c com a < c < b então vale<br />

c<br />

a<br />

f(x)dx+<br />

b<br />

• vii) a<br />

b f(x)dx = − b<br />

a f(x)dx.<br />

• viii) | b<br />

a f(x)dx| ≤ b<br />

a |f(x)|dx.<br />

c<br />

f(x)dx =<br />

b<br />

a<br />

f(x)dx.<br />

• ix) Se f,g são contínuas em [a,b] e c1,c2 ∈ R, então<br />

b<br />

a<br />

(c1 ·f(x)±c2 ·g(x))dx = c1 ·<br />

b<br />

a<br />

f(x)dx±c2 ·<br />

b<br />

a<br />

g(x)dx.<br />

Observações:<br />

• Complementando os itens iii) e iv), se f tem valores positivos e negativos,<br />

então a integral b<br />

fdx dá a área líquida da região compreendida entre o eixo<br />

a<br />

dos x e o gráfico da f.<br />

Um exemplo importante disso é quando uma função f é ímpar (isto é,<br />

f(x) = −f(−x)) que terá a<br />

f(x)dx = 0. −a<br />

Chamo a atenção que quando tivermos b<br />

f(x)dx = 0 isto não dirá em<br />

a<br />

geral que f ≡ 0. Por exemplo se tomo [a,b] = [0,2π] e f(x) = sin(x), então<br />

o fato que veremos a seguir:<br />

2π<br />

0<br />

sin(x)dx = 0<br />

significa que a área sob o gráfico do seno, <strong>de</strong> [0,π], é a mesma área da região<br />

sobre o gráfico, <strong>de</strong> [π,2π].<br />

• Se f e g são contínuas e <strong>de</strong>finidas em [a,b] em geral:<br />

b<br />

a<br />

f(x)·g(x)dx =<br />

b<br />

a<br />

f(x)dx·<br />

o que se vê comparando áreas A x 2 ,0(x) = x3<br />

3<br />

Ax,0(x) = x2<br />

2<br />

· x2<br />

2<br />

b<br />

a<br />

g(x)dx,<br />

com o produto <strong>de</strong> áreas Ax,0(x)·<br />

. Veremos mais tar<strong>de</strong> uma técnica para fazer as<br />

b<br />

a<br />

f(x)·g(x)dx<br />

chamada integração por partes.<br />

Demonstração. (do Teorema 4.1)<br />

Me contentarei com dar algumas idéias sobre cada item. Os <strong>de</strong>talhes se vêem em<br />

cursos <strong>de</strong> Análise <strong>Matemática</strong>.<br />

i), ii) e iii) são técnicas, e nos dão a liberda<strong>de</strong> na escolha das partições.<br />

iv): óbvia se sabemos iii).<br />

v): óbvia, pois posso pensar em no domínio [a ′ ,b ′ ] := {c}.


5. TEOREMA DO VALOR MÉDIO DE INTEGRAIS 294<br />

vi): <strong>de</strong>corre da liberda<strong>de</strong> que temos nas partições <strong>de</strong> [a,b] = [a,c]∪[c,b].<br />

vii): po<strong>de</strong> ser tomado como uma <strong>de</strong>finição.<br />

viii): Decorre da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> triangular que:<br />

|(x1 −x0)·f(ξ0)+(x2 −x1)·f(ξ1)+...+(xn −xn−1)·f(ξn−1)| ≤<br />

≤ |(x1 −x0)·f(ξ0)|+|(x2 −x1)·f(ξ1)|+...+|(xn −xn−1)·f(ξn−1)| =<br />

= (x1 −x0)·|f(ξ0)|+(x2 −x1)·|f(ξ1)|+...+(xn −xn−1)·|f(ξn−1)|,<br />

e reconhecemos que esta última expressão é uma soma <strong>de</strong> Riemann da função<br />

|f(x)|.<br />

Logo ao passar ao limite obtemos a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre as integrais.<br />

ix) Decorre <strong>de</strong><br />

(x1 −x0)·(c1f(ξ0)±c2g(x0))+...+(xn −xn−1)·(c1f(ξn−1)±c2g(xn−1)) =<br />

= c1 ·[(x1 −x0)·f(ξ0)+...+(xn −xn−1)·f(ξn−1)]±<br />

±c2 ·[(x1 −x0)·g(ξ0)+...+(xn −xn−1)·g(ξn−1)].<br />

5. Teorema do valor médio <strong>de</strong> integrais<br />

O Lema 3.1 po<strong>de</strong> ser retomado, e a nova prova é análoga:<br />

Afirmação 5.1. (Teorema do Valor Médio para integrais)<br />

Seja f : [a,b] → R contínua. Então existe um ponto ξ ∈ [a,b] tal que:<br />

b<br />

a f(ξ) =<br />

f(t)dt<br />

b−a .<br />

Demonstração.<br />

Sejam<br />

m := min{f(x);x ∈ [a,b]} = f(x1)<br />

e<br />

M := max{f(x);x ∈ [a,b] = f(x2),<br />

(ambos números existem pois f é contínua e [a,b] é fechado).<br />

Então<br />

m·(b−a) ≤<br />

b<br />

a<br />

f(t)dt ≤ M ·(b−a),<br />

o que se vê se lembramos que b<br />

f(t)dt é um limite <strong>de</strong> somas <strong>de</strong> Riemann.<br />

a<br />

Então dividindo por b−a > 0:<br />

b<br />

a f(x1) = m ≤<br />

f(t)dt<br />

≤ M = f(x2),<br />

b−a<br />

o que diz que o número<br />

b<br />

a f(t)dt<br />

b−a é uma valor intermediário da função contínua f. Ou<br />

seja, pelo T.V.I. existe algum ξ ∈ [a,b] tal que f(ξ) =<br />

b<br />

a f(t)dt<br />

b−a como afirmamos.


CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL 295<br />

Esse valor f(ξ) que aparece na Afirmação 5.1 po<strong>de</strong> ser interpretado como uma<br />

generalização da média aritmética <strong>de</strong> um número finito <strong>de</strong> valores da f:<br />

f(ξ1)+...f(ξn)<br />

.<br />

n<br />

Isso se justifica claramente se os pontos ξi forem escolhidos bem distribuídos no intervalo<br />

[a,b]. Pois tomando partições <strong>de</strong> [a,b] do tipo:<br />

x0 := a < x1 := a+ (b−a)<br />

n<br />

afirmo que po<strong>de</strong>mos ver f(ξ1)+...f(ξn)<br />

n<br />

b<br />

a f(t)dt<br />

b−a =<br />

De fato, como<br />

temos<br />

f(ξ1)· 1 1<br />

+...f(ξn)·<br />

n n<br />

< ... < xn := a+ n(b−a)<br />

n<br />

= b,<br />

como uma soma <strong>de</strong> Riemann da integral<br />

b<br />

a<br />

f(t)<br />

b−a dt.<br />

xi −xi−1 = b−a<br />

n<br />

= f(ξ1)<br />

b−a ·(x1 −x0)+...+ f(ξn)<br />

b−a ·(xn −xn−1).<br />

e supondo ξi ∈ [xi−1,xi] a expressão da direita é uma soma <strong>de</strong> Riemann <strong>de</strong> b<br />

a<br />

6. A integral in<strong>de</strong>finida e o Primeiro Teorema fundamental<br />

f(t)<br />

b−a dt.<br />

O Teorema 3.1 que vimos acima, tem uma versão mais geral que usa, ao invés <strong>de</strong><br />

Af,a(x), a noção <strong>de</strong> integral in<strong>de</strong>finida. Trata-se <strong>de</strong> uma função do tipo:<br />

F(x) :=<br />

x<br />

a<br />

f(t)dt<br />

que realmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> x. Note que usei t em f(t)dt para <strong>de</strong>ixar x indicando o<br />

ponto escolhido.<br />

Teorema 6.1. (Primeiro Teorema fundamental do Cálculo)<br />

Seja f : [a,b] → R contínua e x ∈ [a,b]. Então<br />

Observações:<br />

(<br />

x<br />

a<br />

f(t)dt) ′ (x) = f(x).<br />

• O Teorema diz que F(x) := x<br />

a f(t)dt é uma primitiva <strong>de</strong> f, pois F′ (x) =<br />

f(x). JásabemosqueduasprimitivasF1,F2 daf <strong>de</strong>finidasnummesmo intervalo<br />

só diferem por uma constante F1(x) ≡ F2(x)+C. Então po<strong>de</strong>mos usar<br />

x<br />

a f(t)dt ou abreviadamente fdx como símbolo para todas as primitivas <strong>de</strong><br />

f.


6. A INTEGRAL INDEFINIDA E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL296<br />

• Alguns estudantes confun<strong>de</strong>m duas coisas diferentes:<br />

(<br />

b<br />

a<br />

f(x)dx) ′ = (<br />

x<br />

a<br />

f(t)dt) ′ (b).<br />

Mas a da esquerda ( b<br />

a f(x)dx)′ é a <strong>de</strong>rivada em x <strong>de</strong> um número e sempre<br />

será zero. Enquanto que a da direita ( x<br />

a f(t)dt)′ (b) é a <strong>de</strong>rivada em x da<br />

função G(x) := x<br />

f(t)dt, ou seja, f(x), que é <strong>de</strong>pois avalida em x = b,<br />

a<br />

dando f(b). E só dará zero se f(b) = 0.<br />

Demonstração. (do Teorema 6.1)<br />

Seja fixado x ∈ [a,b].<br />

Queremos saber se para F(x) := x<br />

f(t)dt vale que<br />

a<br />

F ′ (x) = f(x).<br />

Ou seja, se<br />

lim<br />

h→0<br />

x+h<br />

a f(t)dt− x<br />

a f(t)dt<br />

h<br />

= f(x).<br />

Se x = a ou x = b po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar apenas h > 0 ou h < 0. Mas para x ∈ (a,b)<br />

precisamos consi<strong>de</strong>rar as duas possibilida<strong>de</strong>s.<br />

Caso h > 0:<br />

Como x+h > x ≥ a:<br />

x+h<br />

A Afirmação 5.1 diz que:<br />

Então<br />

lim<br />

h→0<br />

a<br />

x+h<br />

x<br />

f(t)dt−<br />

x<br />

a<br />

f(t)dt =<br />

x+h<br />

x<br />

f(t)dt.<br />

f(t)dt = h·f(ξh), ξh ∈ [x,x+h].<br />

x+h<br />

a f(t)dt− x<br />

a f(t)dt<br />

= lim<br />

h→0 f(ξh) = f(x),<br />

por ser f contínua e por estarem ξh ∈ [x,x+h].<br />

Caso h < 0:<br />

Como agora a ≤ x+h < x, então<br />

portanto:<br />

x+h<br />

a<br />

x+h<br />

a<br />

h<br />

f(t)dt+<br />

f(t)dt−<br />

x<br />

a<br />

x<br />

x+h<br />

f(t)dt =<br />

h·f(ξh)<br />

= lim<br />

h→0 h<br />

x<br />

a<br />

f(t)dt,<br />

x<br />

f(t)dt = − f(t)dt =<br />

x+h<br />

=


CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL 297<br />

=<br />

x+h<br />

que foi a mesma conclusão do caso h > 0.<br />

Por outro lado, a Afirmação 5.1 diz que:<br />

x<br />

x+h<br />

x<br />

f(t)dt,<br />

f(t)dt = −h·f(ξh), ξh ∈ [x+h,x].<br />

Então x+h<br />

f(t)dt = h·f(ξh), ξh ∈ [x+h,x],<br />

x<br />

que é a mesma conclusão do caso h > 0, exceto que agora ξh está em [x+h,x].<br />

O resto do argumento é igual ao do caso h > 0.<br />

O Teorema 6.1 admite uma generalização, que é útil:<br />

Afirmação 6.1. Seja g(x) função <strong>de</strong>rivável e f(x) contínua.<br />

g(x)<br />

(<br />

a<br />

f(t)dt) ′ (x) = f(g(x))·g ′ (x).<br />

Demonstração.<br />

Consi<strong>de</strong>re g(x)<br />

f(t)dt como uma composição F ◦g on<strong>de</strong><br />

a<br />

Então pela <strong>de</strong>rivada da composta:<br />

F(u) :=<br />

Mas pelo Primeiro Teorema do Cálculo:<br />

u<br />

a<br />

f(t)dt.<br />

(F(g(x)) ′ (x) = F ′ (g(x))·g ′ (x).<br />

F ′ (u) = f(u).<br />

7. Existem funções com primeira <strong>de</strong>rivada, mas sem segunda <strong>de</strong>rivada<br />

Acostumados com os polinômios, que têm <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> todas as or<strong>de</strong>ns (mesmo<br />

que ≡ 0 a partir <strong>de</strong> um a certa or<strong>de</strong>m), po<strong>de</strong>ríamos pensar que sempre que uma<br />

função tem alguma <strong>de</strong>rivada tenha também as <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m seguinte.<br />

Isso é falso. Por exemplo, consi<strong>de</strong>re a função<br />

F1 : [−1,1] → R, F1(x) :=<br />

x<br />

|t|dt.<br />

−1<br />

Pelo Primeiro Teorema Fundamental, F ′ 1 (x) = |x|.<br />

Logo F1 não terá F ′′ (0) (já que sabemos que |x| não tem <strong>de</strong>rivada em x = 0).


8. EXERCÍCIOS 298<br />

Agora façamos,<br />

F2 : [−1,1] → R, F2(x) :=<br />

x<br />

−1<br />

F1(t)dt.<br />

Pelo Primeiro Teorema fundamental, F ′ 2(x) = F1(x) e F ′′<br />

2(x) = |x|. Logo F2 tem<br />

primeira esegunda <strong>de</strong>rivadas em todosospontos <strong>de</strong>seu domínio, mas não terá F ′′′<br />

2 (0).<br />

E assim sucessivamente, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir Fn, que vai bem até as <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m n, mas que não terá F (n+1) (0).<br />

8. Exercícios<br />

Exercício 8.1. (resolvido)<br />

O computador da as seguintes aproximações para:<br />

x1 := π<br />

2 ·(sin(π)+sin(π))<br />

= 1.570796327,<br />

2<br />

x2 := π<br />

3 ·(sin(π<br />

3 )+sin(2π)+sin(π))<br />

= 1.813799365,<br />

3<br />

x3 := π<br />

4 ·(sin(π<br />

4 )+sin(2π<br />

4 )+sin(3π)+<br />

sin(π)) = 1.896118898,<br />

4<br />

x4 := π<br />

5 ·(sin(π<br />

5 )+sin(2π)+...+sin(π))<br />

= 1.933765598.<br />

5<br />

i) qual uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> termo geral da sequência xn da qual exibimos os<br />

quatro primeiros termos ?<br />

ii) Por quê os itens i) e ii) do Teorema 4.1 implicam que existe limn→∞ xn ?<br />

Exercício 8.2. Digo que g : I → R é uma função ímpar se g(x) = −g(−x) ∀x,−x ∈<br />

I. E digo que é uma função par se g(x) = g(−x) ∀x,−x ∈ I.<br />

Prove que:<br />

i) Se f(x) é uma função ímpar, qualquer primitiva F(x) <strong>de</strong>la é uma função par.<br />

ii) Se f(x) é uma função par, qualquer primitiva F(x) <strong>de</strong>la é uma função ímpar.<br />

Dê exemplos on<strong>de</strong> f(x) é polinomial ou trigonométrica.<br />

Exercício 8.3. (resolvido)<br />

i) Descreva a função F : [−1,1] → R dada por<br />

on<strong>de</strong> |t| é o módulo.<br />

Como é o gráfico <strong>de</strong> F(x) ?<br />

F(x) =<br />

x<br />

−1<br />

|t|dt,<br />

Exercício 8.4. Ao invés <strong>de</strong> ser 1 exercício, este aqui serve <strong>de</strong> protótipo <strong>de</strong> uma<br />

infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercícios.<br />

Suponha que você tem informação sobre uma função f : [a,b] → R contínua dada.<br />

E consi<strong>de</strong>re a integral in<strong>de</strong>finida G(x) := x<br />

a f(t)dt.<br />

Suponha que te pe<strong>de</strong>m pra encontrar máximos/mínimos <strong>de</strong> G(x).<br />

Ataque o problema assim:


CAPÍTULO 21. INTEGRAÇÃO E O PRIMEIRO TEOREMA FUNDAMENTAL 299<br />

• Note que G : [a,b] → R é contínua e que [a,b] fechado e limitado. Logo<br />

existem máximos e mínimos globais da G(x).<br />

• Esses pontos estão nos extremos a,b ou em (a,b).<br />

• Mas os que estão em (a,b) são pontos críticos da G, ou seja G ′ (x) = 0 nesses<br />

pontos.<br />

• Ora, G ′ (x) = f(x) e f foi dada.<br />

Exercício 8.5. Defina F : [0,π] → R como F(x) = x<br />

0 sin(t2 )dt.<br />

Usando o Primeiro Teorema do Cálculo, <strong>de</strong>termine os 4 pontos <strong>de</strong> [0,π] on<strong>de</strong><br />

F ′ (x) = 0.<br />

Um <strong>de</strong>les é ponto <strong>de</strong> mínimo global da F. Pelo Teste da segunda <strong>de</strong>rivada, <strong>de</strong>termine<br />

quais dos três outros são mínimos ou máximos locais.<br />

Exercício 8.6. (resolvido) Verifique que<br />

F(x) = x√<br />

1<br />

1−x 2 +<br />

2 2 arcsin(x)<br />

é primitiva <strong>de</strong> y = √ 1−x 2 , para x ∈ [0,1].


CAPíTULO 22<br />

Logaritmo natural e sua inversa, a exponencial<br />

1. Existe uma função f ≡ 0 que seja imune à <strong>de</strong>rivação ?<br />

Exceto pela função f ≡ 0, todas as funções que vimos até agora mudam ao serem<br />

<strong>de</strong>rivadas (os polinômios per<strong>de</strong>m grau, etc). Como po<strong>de</strong>ríamos criar uma função f(x)<br />

imune à <strong>de</strong>rivada ? Ou seja, com<br />

f ′ (x) = f(x) ?<br />

Imagine que tivéssemos uma função f : R> 0 → R com<br />

f ′ (x) = 1<br />

x .<br />

Então f ′ (x) > 0 ∀x ∈ R> 0 e daí f(x) é estritamente crescente. Logo f−1 : R → R >0<br />

existiria e se fosse <strong>de</strong>rivável, pelo Teorema 0.1 da <strong>de</strong>rivada da inversa, teríamos:<br />

(f −1 ) ′ (x) =<br />

=<br />

1<br />

f ′ (f −1 (x)) =<br />

1<br />

1 ( f−1 =<br />

) (x)<br />

= f −1 (x).<br />

Ou seja (f−1 ) ′ = f−1 : voilà a função imunizada.<br />

Ou seja a sonhada função imune será a inversa daquela f(x) que tem f ′ (x) = 1<br />

x .<br />

Mas será que já não temos uma função com f ′ (x) = 1<br />

em nossa lista <strong>de</strong> funções<br />

x<br />

já conhecidas ?<br />

Se quiséssemos ao invés <strong>de</strong> f ′ (x) = x−1 algo do tipo f ′ (x) = x−k , k = 1, bastaria<br />

tomar<br />

1<br />

f(x) =<br />

−k +1 ·x−k+1<br />

e pelo que já apren<strong>de</strong>mos f ′ (x) = x−k 1<br />

. Mas, justamente, não po<strong>de</strong>mos escrever −k+1<br />

se k = 1.<br />

Assim como vimos que há leis físicas importantes mo<strong>de</strong>ladas a partir da proprieda<strong>de</strong><br />

f ′′ (x) = −f(x) do seno e do cosseno, há processos muito importantes mo<strong>de</strong>lados<br />

matematicamente pela relação:<br />

f ′ (x) = f(x).<br />

Essa relação entre a <strong>de</strong>rivada e a função diz por exemplo que quanto mais f(x) fica<br />

positivo mais aumenta sua velocida<strong>de</strong>. É a mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong> algum processo que tem<br />

um crescimento extraordinário.<br />

301


1. EXISTE UMA FUNÇÃO F ≡ 0 QUE SEJA IMUNE À DERIVAÇÃO ? 302<br />

Por exemplo, f(x) po<strong>de</strong> ser uma população em um certo tempo, e que quanto<br />

mais elementos tem mais cruzamentos efetua, aumentando a população, e assim por<br />

diante. Ou por exemplo uma dívida, sobre a qual inci<strong>de</strong>m juros que aumentam a<br />

dívida e sobre ela mais juros inci<strong>de</strong>m, assim por diante.<br />

1.1. Quantas funções são imunes à <strong>de</strong>rivação ?<br />

Acima propusemos um método para criar uma função imune à <strong>de</strong>rivação (como<br />

inversa <strong>de</strong> uma outa função) Chamemos nossa função imune f1(x) (com f ′ 1 (x) = f1(x)<br />

∀x portanto).<br />

Suponhamos por um momento que f1(x) nunca se anula (será verda<strong>de</strong>!).<br />

Será que há alguma outra função f2(x) com f ′ 2 (x) = f2(x) ∀x, bem diferente<br />

da nossa f1(x) e que quem sabe será criada por um outro método completamente<br />

diferente <strong>de</strong>sse nosso? A resposta é que essencialmente não !<br />

E o argumento é o seguinte. Suponha outra f2(x) com f ′ 2(x) = f2(x) ∀x e <strong>de</strong>fina:<br />

Então a <strong>de</strong>rivada do quociente dá:<br />

f2(x)<br />

f1(x) .<br />

( f2(x)<br />

f1(x) )′ (x) = f′ 2(x)·f1(x)−f2(x)·f ′ 1(x)<br />

f2 1 (x)<br />

=<br />

f2(x)·f1(x)−f2(x)·f1(x)<br />

f 2 1 (x)<br />

= 0<br />

f 2 1(x)<br />

≡ 0.<br />

Mas então pela Parte 1 do Curso concluímos que<br />

f2(x)<br />

f1(x)<br />

on<strong>de</strong> C é uma constante. Dito <strong>de</strong> outro modo f2(x) = C · f1(x) ou seja que f2 é<br />

apenas f1 multiplicada por uma constante.<br />

Note que se C = 0 então f2(x) ≡ 0 é imune à <strong>de</strong>rivação.<br />

Então mãos à obra:<br />

Definição 1.1. Consi<strong>de</strong>re a função<br />

A função <strong>de</strong> R >0 → R dada por<br />

é o logaritmo natural <strong>de</strong> x.<br />

≡ C<br />

f : R >0 → R >0 , f(x) = 1<br />

x .<br />

ln(x) :=<br />

x<br />

1<br />

1<br />

x dx<br />

=


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 303<br />

Pelo Primeiro Teorema Fundamental(Teorema 6.1, Capítulo 21) ln(x) tem a proprieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que<br />

ln ′ (x) = 1<br />

x ,<br />

o que precisávamos.<br />

Sua inversa (como ln ′ (x) = 1 > 0, o ln(x) é uma função estritamente crescente)<br />

x<br />

então será a função imune a <strong>de</strong>rivações.<br />

Observe que:<br />

• ln(1) = 0<br />

• se 1 < x então ln(x) = A1<br />

x ,1(x) > 0.<br />

• se x < 1 então<br />

x 1<br />

1 1<br />

dx = −<br />

x x x dx<br />

e 1<br />

x<br />

1<br />

x<br />

1<br />

dx = A1 ,x(1) > 0 é uma área. Logo ln(x) < 0 se 0 < x < 1.<br />

x<br />

• como ln ′′ (x) = − 1<br />

x 2 < 0 é uma função com concavida<strong>de</strong> para baixo.<br />

• na Afirmação 6.1 veremos que limx→+∞ln(x) = +∞ e que limxց0ln(x) =<br />

−∞.<br />

A importância prática dos logaritmos é enorme, <strong>de</strong>vido a algumas proprieda<strong>de</strong>s<br />

básicas que veremos nas próximas Seções.<br />

Denoto a função inversa do logaritmo natual, <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> R → R >0 , por exp(y):<br />

exp(ln(x))) = x, ∀x ∈ R >0 .<br />

Em particular o número exp(1) será <strong>de</strong>notado por e, ou seja<br />

ln(e) = ln(exp(1)) = 1.<br />

A área sob o gráfico <strong>de</strong> 1<br />

, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 até 2, é menor que a área do quadrado <strong>de</strong> base<br />

x<br />

1 e altura 1. Logo<br />

2 < e.<br />

Consi<strong>de</strong>re agora a reta tangente ao gráfico <strong>de</strong> y = 1<br />

x<br />

Ela passa por (1, 3<br />

4<br />

) e por (3, 1<br />

4<br />

y = − x<br />

4 +1.<br />

). Então área sob o gráfico <strong>de</strong> 1<br />

x<br />

que a área do trapézio <strong>de</strong> base 2 formado pelos pontos (1, 3<br />

4<br />

que passa pelo ponto (2, 1<br />

2 ):<br />

, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 até 3, é maior<br />

), (1,0), (3,0) e (3, 1<br />

4 ).<br />

Mas a área <strong>de</strong>sse trapézio é a mesma do retângulo <strong>de</strong> base 2 e altura 1<br />

2 (basta<br />

pivotar no ponto (2, 1<br />

2<br />

) a reta ligando (1, 3<br />

4<br />

e < 3.<br />

1 ) e (3, ), veja a Figura). Logo<br />

4


2. PROPRIEDADES FUNDAMENTAIS DO LOGARITMO E DA<br />

EXPONENCIAL 304<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

1<br />

1,5<br />

2<br />

x<br />

2. Proprieda<strong>de</strong>s fundamentais do logaritmo e da exponencial<br />

Afirmação 2.1. No que segue x,x1,x2 são positivos enquanto que y,y1,y2 são quaisquer.<br />

• i) ∀x1,x2 > 0 vale ln(x1 ·x2) = ln(x1)+ln(x2).<br />

• ii) ∀x, ln( 1)<br />

= −ln(x). x<br />

• iii) ∀m,n ∈ N ln(x m<br />

n) = m<br />

n ·ln(x).<br />

• iv) ∀m,n ∈ N ln(x −m<br />

n ) = −m<br />

n ·ln(x).<br />

• v) exp(y1 +y2) = exp(y1)·exp(y2)<br />

• vi) exp(−y) = 1<br />

exp(y) .<br />

• vii) exp( m<br />

) = exp(1)mn<br />

= e n m<br />

n.<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

Para recairmos em uma variável fixe x2 e olhe a função diferença:<br />

2,5<br />

φ(x1) := ln(x1 ·x2)−ln(x1)−ln(x2),<br />

como função <strong>de</strong> x1 apenas.<br />

Temos pela regra da composta e pelo Primeiro Teorema Fundamental:<br />

φ ′ (x1) = 1<br />

·x2 − 1<br />

x1 ·x2<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivei x1·x2 como função apenas <strong>de</strong> x1, para cada x2 fixado, obtendo (x1·x2) ′ =<br />

x2. Ora então φ ′ (x1) ≡ 0, portanto φ(x1) ≡ C.<br />

Qual C ? Avalio em x1 = 1: φ(1) = ln(1x2)−0−ln(x2) = 0, logo C = e φ(x1) ≡ 0<br />

como queríamos.<br />

De ii):<br />

Análoga à <strong>de</strong> i), <strong>de</strong>rivando agora a função diferença<br />

φ(x) := ln( 1<br />

x )+ln(x),<br />

x1<br />

3


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 305<br />

que é:<br />

De iii):<br />

Análoga, <strong>de</strong>rivando agora:<br />

φ ′ (x) = x· (−1) 1<br />

+<br />

x2 x<br />

≡ 0.<br />

φ(x) := ln(x m<br />

n)− m<br />

n ·ln(x),<br />

φ ′ (x) = x −m<br />

n · m<br />

n ·xm n −1 − m<br />

n ·x−1 ≡ 0.<br />

De iv): sai <strong>de</strong> ii) e iii), já provadas.<br />

De v):<br />

Usando que exp é inversa <strong>de</strong> ln e a proprieda<strong>de</strong> i) obtemos:<br />

exp(y1 +y2) = exp(ln(x1)+ln(x2)) = exp(ln(x1 ·x2)) =<br />

= x1 ·x2 = exp(y1)·exp(y2).<br />

De vi):<br />

Se aplicamos a v), já provada, para y1 = −y e y2 = y:<br />

exp(−y +y) = exp(−y)·exp(y).<br />

Mas exp(−y +y) = exp(0) = 1. Logo exp(−y) = 1<br />

exp(y) .<br />

De vii):<br />

Obviamente:<br />

Ou seja,<br />

Por iii) temos então:<br />

Logo pela injetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> y = ln(x):<br />

ou seja:<br />

ln(exp( m m<br />

)) =<br />

n n .<br />

n<br />

m ·ln(exp(m))<br />

= 1.<br />

n<br />

ln(exp( m n<br />

) m) = 1.<br />

n<br />

exp( m n<br />

) m = exp(1),<br />

n<br />

exp( m<br />

) = exp(1)mn.<br />

n


3. LOGAX , ∀A > 0 E LN|X| 306<br />

Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir:<br />

3. log ax , ∀a > 0 e ln|x|<br />

Definição 3.1. Defino ∀x > 0 e a > 0,a = 1, log a(x) := ln(x)<br />

ln(a)<br />

Na Biologia e na Química é importante a base 10, por exemplo.<br />

Afirmação 3.1. Para x > 0 e a > 0,a = 1:<br />

• o) loga(1) = 0 e loga(a) = 1.<br />

• i) (loga(x)) ′ (x) = 1<br />

ln(a)·x , portanto loga(x) é estritamente crescente se a > 1<br />

e loga(x) é estritamente <strong>de</strong>crescente se 0 < a < 1.<br />

• ii) (loga(x)) ′ (x) = −1<br />

ln(a)·x2, portanto o gráfico <strong>de</strong> loga(x) tem concavida<strong>de</strong> para<br />

baixo se a > 1 e concavida<strong>de</strong> para cima se 0 < a < 1.<br />

• iii) ∀x1,x2 > 0 vale loga(x1 ·x2) = loga(x1)+loga(x2). • iv) ∀x, loga( 1<br />

x ) = −loga(x). • v) ∀m,n ∈ N loga(x m<br />

n) = m<br />

n ·log a(x).<br />

• vi) ∀m,n ∈ N log a(x −m<br />

n ) = −m<br />

n ·log a(x).<br />

• vii) Se a1,a2 > 0: log a2<br />

(x) = ln(a1)<br />

ln(a2) ·log a1 (x).<br />

• viii): a função ln|x| está <strong>de</strong>finida ∀x = 0 e sua <strong>de</strong>rivada é (ln|x|) ′ (x) = 1<br />

x<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0,40,81,21,6 2<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

Figura: Gráficos <strong>de</strong> y = ln(x) (vermelho),<br />

y = log 0.5(x) (ver<strong>de</strong>) e y = log 10(x) (amarelo), x ∈ [0.1,2].


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 307<br />

-4<br />

-2<br />

0<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = ln|x|.<br />

Demonstração. (da Afirmação 3.1)<br />

De o):<br />

log a(1) := ln(1)<br />

ln(a) = 0, e log a(a) := ln(a)<br />

ln(a)<br />

De i): ao <strong>de</strong>rivar a constante<br />

1<br />

ln(a) sai.<br />

De ii): <strong>de</strong>rive a expressão <strong>de</strong> i).<br />

De iii) páro x2 e consi<strong>de</strong>ro a função diferença:<br />

φ(x1) := log a(x1 ·x2)−log a(x1)−log a(x2),<br />

como função só <strong>de</strong> x1.<br />

Então já usando i) e a regra da composta:<br />

Logo<br />

φ ′ 1 1<br />

(x1) = ·x2 − ≡ 0.<br />

ln(a)·x1 ·x2 ln(a)x1<br />

2<br />

4<br />

= 1.<br />

φ(x1) := log a(x1 ·x2)−log a(x1)−log a(x2) ≡ C<br />

e avaliando em x1 = 1 obtenho C = 0.<br />

Deixo para o leitor a prova <strong>de</strong> iv) - vi), pois são análogas.<br />

De vii): imediata, das <strong>de</strong>finições.<br />

De viii): se x > 0 já sabemos que ln ′ (x) = 1<br />

x<br />

Cálculo.<br />

Se x < 0, então |x| := −x e temos pela regra da composta<br />

como queríamos.<br />

pelo Primeiro Teorema Fundamental do<br />

(ln(−x)) ′ = 1 1<br />

·(−1) =<br />

(−x) x , on<strong>de</strong> −1 = (−x)′ ,


4. AS FUNÇ ÕES EX E A X , PARA A > 0 308<br />

4. As funções e x e a x , para a > 0<br />

Vimos no item vi) da Afirmação 2.1 que:<br />

exp( m<br />

) = exp(1)mn<br />

= e<br />

n m<br />

n, ∀m,n ∈ N<br />

Isso motiva <strong>de</strong>finir:<br />

e x := exp(x),∀x ∈ R.<br />

Com essa <strong>de</strong>finição e o item v) da Afirmação 2.1 temos garantida:<br />

e x1+x2 = e x1 ·e x2 , ∀x1,x2 ∈ R.<br />

Definição 4.1. Para qualquer número Real positivo a > 0, <strong>de</strong>fina:<br />

a x := e xln(a) .<br />

Afirmação 4.1. Seja a número Real positivo.<br />

• i) log a(a x ) = x.<br />

• ii) a x1+x2 = a x1 ·a x2<br />

• iii) (a x1 ) x2 = a x1·x2<br />

• iv) (a x ) ′ (x) = ln(a)·a x .<br />

• v): a x é estritamente <strong>de</strong>crescente se a < 1, constante = 1 se a = 1 e a x é<br />

estritamente crescente se a > 1.<br />

• vi) os gráficos <strong>de</strong> a x sempre têm concavida<strong>de</strong> para cima.<br />

-3<br />

-2<br />

-1<br />

x<br />

Figura: Os gráficos <strong>de</strong> y = e x em vermelho, <strong>de</strong> y = (0.5) x em ver<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> y = 10 x em amarelo, x ∈ [−3,1].<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

log a(a x ) := ln(ax )<br />

ln(a) =<br />

1


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 309<br />

= ln(ex·ln(a) )<br />

ln(a)<br />

De ii): Pela <strong>de</strong>finição e pela proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> e x :<br />

De iii): Aqui uso duas vezes a <strong>de</strong>finição :<br />

= x.<br />

a x1+x2 := e (x1+x2)·ln(a) = e x1·ln(a)+x2·ln(a) =<br />

= e x1·ln(a) ·e x2·ln(a) =: a x1 ·a x2 .<br />

(a x1 ) x2 := (e x1·ln(a) ) x2 :=<br />

:= e x2·ln(e x 1 ·ln(a) ) =<br />

= e x2·x1ln(a) =: a x1·x2 .<br />

De iv): para <strong>de</strong>rivar uso a regra da composta:<br />

(a x ) ′ (x) := (e xln(a) ) ′ (x) = e xln(a) ·ln(a) =: ln(a)·a x .<br />

De v): O sinal <strong>de</strong> a x ) ′ (x) só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do sinal <strong>de</strong> ln(a).<br />

De vi): Devido a que:<br />

(a x ) ′′ (x) = ln 2 (a)·a x > 0, ∀x ∈ R<br />

5. x a e sua <strong>de</strong>rivada, a ∈ R.<br />

Para sermos coerentes com a Definição 4.1 vamos <strong>de</strong>finir:<br />

Definição 5.1. Para x > 0 e a um Real qualquer, <strong>de</strong>fino<br />

x a := e aln(x)<br />

on<strong>de</strong> x = 1 na última <strong>de</strong>finição.<br />

e log x(a) := ln(a)<br />

ln(x) ,<br />

O leitor verá a importância <strong>de</strong>ssas funções para resolver equações diferenciais na<br />

Seção 1 do Capítulo 40.<br />

Afirmação 5.1. Para x > 0 e a qualquer:<br />

• i) (x a ) ′ (x) = a·x a−1<br />

• ii) ln(x a ) = a·ln(x)<br />

• iii) log x(x a ) = a.


6. CRESCIMENTO LENTO DO LOGARITMO E RÁPIDO DA EXPONENCIAL 310<br />

Por exemplo, o gráfico<strong>de</strong> x π émuito parecido como<strong>de</strong>x 3 , mas x π só fazsentido<br />

para x > 0:<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

0,2<br />

0,4<br />

x<br />

0,6<br />

0,8 1<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = x π em vermelho e <strong>de</strong> y = x 3 em ver<strong>de</strong>, x ∈ (0,1]<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

De ii):<br />

De iii): Basta concatenar <strong>de</strong>finições:<br />

(x a ) ′ (x) := (e aln(x) ) ′ = e aln(x) · a<br />

x = a·xa−1 .<br />

ln(x a ) := ln(e aln(x) ) = a·ln(x).<br />

log x(x a ) := log x(e aln(x) ) := ln(ealn(x) )<br />

ln(x)<br />

= a.<br />

6. Crescimento lento do logaritmo e rápido da exponencial<br />

A Afirmação a seguir diz que o logaritmo natural cresce, mas cresce mais lentamente<br />

até que y = x. E que, por outro lado, a exponencial cresce mais rápido que<br />

qualquer n, n ∈ N:<br />

Afirmação 6.1.<br />

i) lim<br />

x→∞ ln(x) = +∞, e lim<br />

xց0 ln(x) = −∞,<br />

ii) lim<br />

x→∞<br />

ln(x)<br />

x<br />

Por outro lado, para qualquer n ∈ N:<br />

= 0 e lim x·ln(x) = 0<br />

xց0<br />

iii) lim<br />

x→∞<br />

xn = 0.<br />

ex


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 311<br />

Demonstração.<br />

De i): Por <strong>de</strong>finição ln(x) para x > 1 é a área sob o gráfico <strong>de</strong> 1<br />

, <strong>de</strong> x = 1 até x.<br />

x<br />

Precisamos mostrar que à medida que x cresce a área cresce ano quanto quisermos.<br />

Dito <strong>de</strong> outro modo, precisamos mostrar que a área sob o gráfico <strong>de</strong> 1 à direita <strong>de</strong> x<br />

x = 1 é tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que avancemos para a direita o suficiente.<br />

Note que posso tomar os retângulos justpostos<br />

[1,2]×[0, 1 1<br />

1<br />

]∪[2,3]×[0, ]∪...∪[n−1,n]×[0,<br />

2 3 n<br />

cuja soma <strong>de</strong> áreas é<br />

1 1 1<br />

+ +...+<br />

2 3 n .<br />

Agora vamos ver que essa soma se faz tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos, quando n cresce,<br />

o que implica que a área sob o gráfico à direita <strong>de</strong> 1 fica tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos.<br />

De fato, <strong>de</strong>note:<br />

sn := 1 1 1<br />

+ +...+<br />

2 3 n<br />

e portanto com essa notação:<br />

1 1<br />

s2n := + (1 +<br />

2 3 4 )<br />

<br />

21 +(<br />

parcelas<br />

1 1 1 1<br />

+ + +<br />

5 6 7 8 )<br />

<br />

22 +...+<br />

parcelas<br />

1<br />

+(<br />

2n−1 +1 +<br />

1<br />

2n−1 1<br />

+...<br />

+2 2n) <br />

2n−1parcelas .<br />

Olhando para o menor termo em cada grupo <strong>de</strong>stacado, acima, vemos que<br />

1 1<br />

s2n ≥ +2·<br />

2 22 +22 · 1 2n−1 1<br />

+...+ = n·<br />

23 2n 2 .<br />

Oracomolimn→+∞ n<br />

2 = +∞obtemosquelimn→+∞s2n = +∞eportantolimn→+∞sn =<br />

+∞. Isso diz que 1 1 1 + + ... + fica tão gran<strong>de</strong> quanto eu quiser, se n crescer o<br />

2 3 n<br />

suficiente.<br />

Para vermos o que acontece com<br />

note que<br />

lim<br />

xց0 ln(x)<br />

limln(x)<br />

= lim<br />

xց0 z→+∞ ln(1)<br />

=<br />

z<br />

= lim −ln(z) = − lim ln(z) = −∞.<br />

z→+∞ z→+∞<br />

De ii):<br />

Só com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ln(x) é imediato que:<br />

ln(x) < x−1, ∀x > 1,<br />

pois x−1 é quanto vale a área do retângulo <strong>de</strong> altura 1 e base [1,x].


6. CRESCIMENTO LENTO DO LOGARITMO E RÁPIDO DA EXPONENCIAL 312<br />

E como x−1 < x concluo:<br />

Por outro lado é claro que<br />

0 < ln(x) < x, ∀x ≥ 1.<br />

x > 1 ⇔ x 1<br />

2 > 1<br />

(passe da esquerda para a direita tirando a raíz quadrada, e da dirita para a esquerda<br />

elevando ao quadrado).<br />

Ou seja:<br />

e pela proprieda<strong>de</strong> do logaritmo:<br />

0 < ln(x 1<br />

2) < x 1<br />

2, se x > 1,<br />

0 < 1<br />

ln(x) < x1 2, se x > 1.<br />

2<br />

Agora eleve tudo ao quadrado obtendo:<br />

e daí<br />

0 < (ln(x))2<br />

4<br />

0 < ln(x)<br />

x<br />

< x, se x > 1<br />

4<br />

< , se x > 1.<br />

ln(x)<br />

Como sabemos que<br />

4<br />

lim = 0<br />

x→+∞ ln(x)<br />

fazendo x → +∞ na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> obtemos:<br />

Agora trato <strong>de</strong><br />

Note que:<br />

Se faço z := 1<br />

x temos:<br />

lim<br />

xց0<br />

0 = lim<br />

x→∞<br />

ln(x)<br />

x .<br />

lim<br />

xց0 x·ln(x).<br />

x·ln(x) = ln(x) −ln(x)<br />

=<br />

) ( −1<br />

x = −ln(1<br />

) )<br />

( 1 .<br />

)<br />

−ln(x)<br />

( −1<br />

x<br />

( 1<br />

x<br />

) = −lim<br />

xց0<br />

ln( 1<br />

x )<br />

( 1<br />

x<br />

x<br />

) = − lim<br />

z→+∞<br />

x<br />

ln(z)<br />

z<br />

pelo que já sabemos <strong>de</strong> ii).<br />

De iii):<br />

Agora vamos ver que do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> sua inversa temos o efeito contrário,<br />

ou seja, que a exponencial cresce mais rápido que qualquer polinômio.<br />

Como observamos acima, ln(x) < x−1, se x > 1. Um tal x > 1 se escreve como<br />

x = 1+x com x > 0. Ou seja, obtenho:<br />

ln(1+x) < (1+x)−1 = x, se x > 0.<br />

= 0,


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 313<br />

Agora que já sei isso volto à notação anterior, escrevendo:<br />

Já que isso vale ∀x > 0 uso para x<br />

n+1<br />

Agora tomo exponencial, obtendo:<br />

e portanto:<br />

Elevo tudo à n+1:<br />

ln(1+x) < x, se x > 0.<br />

> 0 obtendo:<br />

ln(1+ x x<br />

) < , se x > 0.<br />

n+1 n+1<br />

( x<br />

1+ x<br />

n+1<br />

x<br />

n+1<br />

< e x<br />

n+1<br />

x<br />

< en+1. n+1 )n+1 < (e x<br />

n+1) n+1<br />

e usando a proprieda<strong>de</strong> da exponencial (e x<br />

m) m = e<br />

e portanto<br />

x n ·<br />

m x<br />

x n+1<br />

(n+1) n+1 < ex , ∀x > 0<br />

x<br />

(n+1) n+1 < ex , ∀x > 0<br />

e finalmente:<br />

xn (n+1)n+1<br />

< , ∀x > 0.<br />

ex x<br />

Mas n é fixado e x cresce, logo:<br />

lim<br />

x→+∞<br />

xn = 0,<br />

ex m = e x obtemos<br />

como queríamos. <br />

7. Uma observação sobre o termo geral <strong>de</strong> uma série infinita<br />

Vimos na prova do item i) Afirmação 6.1 que apesar <strong>de</strong> que:<br />

a série +∞ 1<br />

n=1 n<br />

1<br />

lim = 0<br />

n→+∞ n<br />

fica tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos, ou seja,<br />

+∞<br />

n=1<br />

1<br />

n<br />

= +∞.


8. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITON, N. 11, 1951 314<br />

Definição 7.1. Diremos que uma soma infinita<br />

+∞<br />

converge se existe o limite<br />

on<strong>de</strong> a sequência sn é dada por:<br />

n=1<br />

an<br />

lim<br />

n→+∞ sn = L ∈ R,<br />

sn := a1 +a2 +...+an.<br />

Afirmação 7.1. Se a série infinita +∞<br />

n=1 an converge então necessariamente:<br />

Demonstração.<br />

Como<br />

então também vale:<br />

lim<br />

n→+∞ an = 0.<br />

lim<br />

n→+∞ sn = L ∈ R,<br />

lim<br />

n→+∞ sn−1 = L ∈ R.<br />

Portanto pela proprieda<strong>de</strong> do limite da diferença <strong>de</strong> duas sequências:<br />

0 = lim<br />

n→+∞ (sn −sn−1) = lim<br />

n→+∞ an.<br />

8. Um problema da Putnam Competiton, n. 11, 1951<br />

Problema: Prove que vale:<br />

Solução:<br />

Consi<strong>de</strong>re a função:<br />

e note que<br />

Temos<br />

ln(1+ 1 1<br />

) > , ∀x > 0.<br />

x 1+x<br />

φ(x) = ln( x+1 1<br />

)−<br />

x 1+x<br />

φ(x) := ln(1+ 1 1<br />

)−<br />

x 1+x<br />

= ln(x+1)−ln(x)− 1<br />

1+x .<br />

lim<br />

xց0 φ(x) = +∞.<br />

Portanto para x > 0 e pequeno vale φ(x) > 0.<br />

Massuponhapor absurdo queparaalgumpontoxsuficientemente gran<strong>de</strong>aconteça<br />

que<br />

φ(x) ≤ 0.


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 315<br />

Como:<br />

φ ′ (x) = 1 1 1<br />

− −(<br />

1+x x 1+x )′ 1<br />

= − < 0<br />

x·(1+x) 2<br />

se x > 0 então φ(x) é uma função estritamente <strong>de</strong>crescente.<br />

Portanto<br />

φ(x) < φ(x) ≤ 0, ∀x > x.<br />

Mas<br />

1 1<br />

lim φ(x) = lim [ln(1+ )− ] = 0,<br />

x→+∞ x→+∞ x 1+x<br />

portanto não po<strong>de</strong> acontecer que<br />

φ(x) < φ(x) ≤ 0, ∀x > x<br />

pois os valores φ(x) têm que se aproximar <strong>de</strong> zero tanto quanto quisermos.<br />

Essa contradição prova que φ(x) > 0 ∀x > 0, como queríamos.<br />

9. A regra <strong>de</strong> L’Hôpital<br />

O Teorema <strong>de</strong> L’Hôpital é apresentado em muitos textos <strong>de</strong> Cálculo logo no início<br />

e sem absolutamente nenhuma justificação.<br />

É um exemplo típico <strong>de</strong> umtópico <strong>de</strong><strong>Matemática</strong> Superior ensinado do pior modo<br />

possível.<br />

Teno visto alunos justificarem limites absolutamente simples como:<br />

lim<br />

x→+∞<br />

x2 +1<br />

= 1,<br />

x2 através do L’Hôpital <strong>de</strong>corado.<br />

Por isso resolvi explicar (como se apren<strong>de</strong> no Spivak) pelo menos as formulações<br />

mais fundamentais <strong>de</strong>ssa regra.<br />

A utilida<strong>de</strong> da regra <strong>de</strong> L’Hôpital é dar um critério para <strong>de</strong>cidir o que acontece<br />

quando, num quociente, tanto o numerador quanto o <strong>de</strong>nominador ten<strong>de</strong>m a zero.<br />

Ou, como se diz, quando há uma in<strong>de</strong>terminação do tipo 0<br />

0 .<br />

Afirmação 9.1. (versão , 0<br />

, x ∈ R, L ∈ R)<br />

0<br />

Sejam1 f : I \{x} → R e g : I \{x} → R on<strong>de</strong> I é um intervalo centrado em x.<br />

Suponha:<br />

• limx→x f(x) = limx→x g(x) = 0<br />

• f ′ (x) e g ′ (x) estão <strong>de</strong>finidas em I \{x} e g ′ (x) = 0 em I \{x}.<br />

= L ∈ R.<br />

• limx→x f′ (x)<br />

g ′ (x)<br />

Então:<br />

• g(x) = 0 em I \{x} e<br />

= L ∈ R.<br />

• limx→x f(x)<br />

g(x)<br />

O mesmo vale se nas hipótese e conclusões trocamos os limites plenos por algum<br />

limite lateral como x ց x ou x ր x.<br />

1 Dizer que uma função está <strong>de</strong>finida em I\{x} não quer dizer que ela também não possa estar<br />

<strong>de</strong>finida em x. Mas apenas que só precisamos que ela esteja <strong>de</strong>finida num certo entorno <strong>de</strong> x.


9. A REGRA DE L’HÔPITAL 316<br />

Demonstração.<br />

Se f ou g não estão <strong>de</strong>finidas em x ou mesmo se o valor <strong>de</strong> alguma <strong>de</strong>las em x<br />

não é zero, re<strong>de</strong>fina-as em x como:<br />

f(x) = g(x) = 0,<br />

<strong>de</strong>ixando-as inalteradas 2 em I \{x}.<br />

Com essa (re-)<strong>de</strong>finição em x, as funções f,g são contínuas em x, a<strong>de</strong>mais <strong>de</strong><br />

serem contínuas em I \{x}, já que aí são até <strong>de</strong>riváveis.<br />

Consi<strong>de</strong>re h > 0 pequeno para que<br />

(x,x+h) ⊂ (I \{x})<br />

e note que g(x) não po<strong>de</strong> se anular em nenhum ponto x ∈ (x,x+h): caso contrário,<br />

teríamos g(x) = g(x) = 0 e o Teorema <strong>de</strong> Rolle aplicado ao intervalo [x,x] diria que<br />

existe algum<br />

ξh ∈ (x,x) ⊂ (I \{x})<br />

on<strong>de</strong> g ′ (ξh) = 0, contrariando uma hipótese <strong>de</strong> que g ′ (x) = 0 em todo I \{x}.<br />

Portanto faz sentido o quociente:<br />

f(x)<br />

, ∀x ∈ (x,x+h) ⊂ (I \{x}).<br />

g(x)<br />

Agora aplico o T. V. Médio <strong>de</strong> Cauchy (Afirmação 1.3 Capítulo 10) a f,g restritas<br />

ao intervalo [x,x] . Então existe<br />

ϑx ∈ (x,x)<br />

com :<br />

A hipótese<br />

f ′ (ϑx)<br />

g ′ (ϑx)<br />

= f(x)−f(x)<br />

g(x)−g(x)<br />

L = lim<br />

x→x<br />

f ′ (x)<br />

g ′ (x)<br />

= f(x)<br />

g(x) .<br />

diz que para qualquer tipo <strong>de</strong> ponto x que ten<strong>de</strong> a x, o quociente f′ (x)<br />

g ′ (x)<br />

Ora, quando x ց x temos ϑx ց x. Portanto<br />

Mas então<br />

L = lim<br />

x→x<br />

L = lim<br />

xցx<br />

f ′ (x)<br />

g ′ (x)<br />

f ′ (ϑx)<br />

g ′ (ϑx)<br />

= lim<br />

xցx<br />

= lim<br />

xցx<br />

f ′ (ϑx)<br />

g ′ (ϑx) .<br />

f(x)<br />

g(x) .<br />

ten<strong>de</strong> a L.<br />

Analogamente para mostrar que L = limxրx f(x)<br />

. <br />

g(x)<br />

Afirmação 9.2. (versão 0,<br />

x = ∞, L ∈ R)<br />

0<br />

Suponha:<br />

2 Isso não vai alterar os cálculo dos limites, pois como sabemos limites só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do compor-<br />

tamento em pontos próximos <strong>de</strong> x.


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 317<br />

• limx→+∞ f(x) = limx→+∞ g(x) = 0<br />

• f ′ (x) e g ′ (x) estão <strong>de</strong>finidas para x > K e g ′ (x) = 0 para x > K.<br />

= L ∈ R.<br />

• limx→+∞ f′ (x)<br />

g ′ (x)<br />

Então:<br />

• g(x) = 0 se x > K e<br />

= L ∈ R.<br />

• limx→+∞ f(x)<br />

g(x)<br />

Demonstração.<br />

Vou fazer essa Afirmação recair na Afirmação 9.1 (para o limite lateral x ց x),<br />

já provada.<br />

Para isso <strong>de</strong>fina:<br />

ˆf(x) := f( 1<br />

) e ˆg(x) := g(1<br />

x x ).<br />

Com essas <strong>de</strong>finições, nossas hipóteses sobre f e g se traduzem nas seguintes hipóteses<br />

sobre ˆ f e ˆg:<br />

• limxց0 ˆ f(x) = limxց0 ˆg(x) = 0<br />

• ˆ f ′ (x) = − f′ ( 1<br />

x )<br />

x2 e ˆg ′ (x) = − g′ ( 1<br />

x )<br />

x2 estão <strong>de</strong>finidas para x da forma 0 < x < 1<br />

K .<br />

E a<strong>de</strong>mais ˆg ′ (x) = 0 se 0 < x < 1<br />

K .<br />

= L ∈ R.<br />

• limxց0<br />

ˆf ′ (x)<br />

ˆg ′ (x)<br />

Então a Afirmação 9.1 (adaptada para limite lateral x ց 0) quando aplicada a ˆ f<br />

e ˆg e x = 0 dá que:<br />

• ˆg(x) = 0 não se anula para 0 < x < 1<br />

• limxց0<br />

ˆf(x)<br />

ˆg(x)<br />

= L<br />

Ou seja, g(x) = 0 se x > K e<br />

lim<br />

x→+∞<br />

f(x)<br />

g(x)<br />

K<br />

= L.<br />

Se examinamos as provas das duas Afirmações 9.1 e 9.2 vemos que valeriam<br />

também se L = ∞. Nos referiremos a essas adaptações como versões 0 e L = ∞ 0<br />

do L ’Hopital.<br />

Há também versões análogas, cuja prova exige algumas adaptações, para tratar<br />

casos em que<br />

lim |f(x)| = lim |g(x)| = +∞,<br />

x→x x→x<br />

ou como se diz, em que a in<strong>de</strong>terminação é do tipo ∞<br />

∞ .<br />

Exemplos:<br />

• Com a Afirmação 9.2 aplicada n+1-vezes obtemos:<br />

lim<br />

x→∞<br />

xn = lim<br />

ex x→∞<br />

n·x n−1<br />

e x = ... =


9. A REGRA DE L’HÔPITAL 318<br />

n! 0<br />

= lim = lim = 0.<br />

x→∞ ex x→∞ ex • Consi<strong>de</strong>re a composição eex. Vejamos que ela cresce mais rápido que a<br />

própria exponencial. Pela Afirmação 9.2 adaptada para a in<strong>de</strong>terminação<br />

se obtêm:<br />

∞<br />

∞<br />

e<br />

lim<br />

x→∞<br />

x<br />

eex e<br />

= lim<br />

x→∞<br />

x<br />

eex 1<br />

= lim<br />

·ex x→∞ eex = 0.<br />

• quando numa expressão que é uma soma, uma parcela ten<strong>de</strong> a +∞ e a outra<br />

ten<strong>de</strong> a −∞ nitidamente há uma in<strong>de</strong>terminação, chamada ∞−∞. Vejamos<br />

um exemplo em que essa in<strong>de</strong>terminação se reduz a outrado tipo 0,<br />

que po<strong>de</strong> 0<br />

ser consi<strong>de</strong>rada via aplicação <strong>de</strong> L’Hôpital por duas vezes. Consi<strong>de</strong>re:<br />

lim<br />

xց0 (1<br />

1<br />

−<br />

x ex e<br />

) = lim<br />

−1 xց0<br />

x −1−x<br />

x·(e x −1) =<br />

= lim<br />

xց0<br />

e x −1<br />

ex =<br />

−1+x·e x<br />

e<br />

= lim<br />

xց0<br />

x<br />

ex +ex 1<br />

=<br />

+x·e x 2 .<br />

• quando numa expressão que é um produto, um fator ten<strong>de</strong> a ∞ e o outro<br />

ten<strong>de</strong> a 0 nitidamente há uma in<strong>de</strong>terminação, chamada ∞·0. Vejamos um<br />

exemplo em que essa in<strong>de</strong>terminação se reduz a outra do tipo ∞,<br />

que po<strong>de</strong> ∞<br />

ser consi<strong>de</strong>rada via L’Hôpital. Consi<strong>de</strong>re:<br />

lim ln(x)·tan(x) = lim<br />

xց0 xց0<br />

= lim<br />

xց0<br />

( 1<br />

x )<br />

(− sec2 (x)<br />

tan 2 (x)<br />

) = lim<br />

xց0<br />

ln(x)<br />

=<br />

)<br />

( 1<br />

tan(x)<br />

−sin 2 (x)<br />

x<br />

−sin(x)<br />

= lim ·sin(x) = −1·0 = 0.<br />

xց0 x<br />

• note que não há in<strong>de</strong>terminação nenhuma se ambas parcelas <strong>de</strong> uma soma<br />

ten<strong>de</strong>m a +∞ ou se ambas ten<strong>de</strong>m a −∞.<br />

• também não há in<strong>de</strong>terminação se numa soma ou subtração uma parcela<br />

ten<strong>de</strong> a zero e a outra também. Pois, se ǫ1 > 0 e ǫ2 > 0 são pequenos temos<br />

|ǫ1 ±ǫ2| ≤ ǫ1 +ǫ2 que é pequeno também.<br />

Veremos na Seção 13 exemplos difíceis que precisam da regra <strong>de</strong> L’Hôpital.<br />

Mas às vezes, em exemplos relativamente simples, não é claro se é mellhor usá-la<br />

ou fazer diretamente. Por exemplo3 :<br />

Diretamente:<br />

lim<br />

x→+∞<br />

=<br />

√ a·x 2 +b·x− √ a·x, a,b > 0.<br />

lim<br />

x→+∞ (√a·x 2 +b·x− √ a·x) =<br />

3 agra<strong>de</strong>ço ao estudante Daniel Manica por este exemplo


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 319<br />

= lim<br />

x→+∞ (√a·x 2 +b·x− √ √ √<br />

a·x 2 +b·x+ a·x<br />

a·x)·( √ √ ) =<br />

a·x 2 +b·x+ a·x<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

b·x<br />

√ a·x 2 +b·x+ √ ax = lim<br />

x→+∞<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

Agora via L’Hôpital para o tipo 0<br />

0 :<br />

b<br />

<br />

a+ b<br />

x +√ a<br />

b·x<br />

<br />

x·( a+ b<br />

x +√a) = b<br />

2· √ a .<br />

lim<br />

x→+∞ (√ a·x 2 +b·x− √ a·x) = lim<br />

x→+∞ x·(<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

<br />

a+ b<br />

x −√ a<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

<br />

√<br />

b<br />

2· a+ x<br />

x−1 = lim<br />

x→+∞<br />

( −b·x−2<br />

)<br />

−x−2 =<br />

b<br />

<br />

2· a+ b<br />

=<br />

x<br />

b<br />

2· √ a .<br />

10. A função x x<br />

A função y = f(x) = x x está <strong>de</strong>finida por:<br />

x x := e x·ln(x) , ∀x ∈ R.<br />

Afirmação 10.1. Para todo x > 0:<br />

• i) (x x ) ′ = (ln(x)+1)·x x .<br />

• ii) a concavida<strong>de</strong> do gráfico <strong>de</strong> x x é para cima<br />

• iii) x x tem um mínimo global em e −1 .<br />

• iv) limxց0 x x = 1<br />

• v) limx→∞ ex<br />

x x = 0; em particular, limx→+∞ x x = +∞.<br />

Demonstração.<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0 0,2<br />

0,4<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = x x para x ∈ (0,1]<br />

0,6<br />

0,8<br />

1<br />

=<br />

a+ b<br />

x −√ a) =


10. A FUNÇ ÃO XX 320<br />

De i):<br />

De ii):<br />

Basta notar que<br />

De iii): Notar que:<br />

(x x ) ′ := (e x·ln(x) ) ′ (x) = e xln(x) ·(x·ln(x)) ′ = (ln(x)+1)·x x .<br />

e usar ii).<br />

De iv): Pela continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> e x :<br />

(x x ) ′′ (x) = 1<br />

x ·xx +(ln(x)+1) 2 ·x x > 0, ∀x > 0.<br />

Mas pelo item ii) da Afirmação 6.1,<br />

portanto<br />

(x x ) ′ = 0 ⇔ ln(x)+1 = 0 ⇔ x = e −1<br />

lim<br />

xց0 exln(x) = e limxց0 xln(x)<br />

.<br />

lim xln(x) = 0,<br />

xց0<br />

lim<br />

xց0 exln(x) = e 0 = 1.<br />

De v):<br />

O item iii) da Afirmação 6.1 implica que limx→+∞ e x = +∞. E<br />

Portanto limx→∞ ex<br />

para ∞<br />

∞ :<br />

Mas:<br />

e xln(x) ≥ e x , se x ≥ e.<br />

xx é uma in<strong>de</strong>terminação ∞.<br />

Uso então a Afirmação 9.2 adaptada<br />

∞<br />

lim<br />

x→∞<br />

lim<br />

x→∞<br />

ex = lim<br />

xx x→∞<br />

ex ex·ln(x) ≤ lim<br />

·(ln(x)+1) x→∞<br />

= lim<br />

x→∞<br />

on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> vale <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que x ≥ e.<br />

e x<br />

e x·ln(x) ·(ln(x)+1) .<br />

1<br />

ln(x)+1<br />

e x<br />

e x ·(ln(x)+1) =<br />

= 0,<br />

A Figura a seguir ilustra on<strong>de</strong> x x passa a ser maior que e x


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 321<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3<br />

x<br />

Figura: Gráficos <strong>de</strong> y = x x em vermelho e y = e x em ver<strong>de</strong>, x ∈ (0,3]<br />

11. Um problema da Putnam Competition, n. 22, 1961<br />

Problema: A curva no plano <strong>de</strong>finida por x y = y x , para x,y > 0, consiste <strong>de</strong> duas<br />

componentes, uma que é uma reta e <strong>de</strong> uma outra curva.<br />

Encontre as coor<strong>de</strong>nadas do ponto <strong>de</strong> intersecção da reta com a outra curva.<br />

Solução:<br />

Vou me ater apenas à pergunta, sem tentar <strong>de</strong>screver em mais <strong>de</strong>talhes a curva<br />

<strong>de</strong>finida por x y = y x , para x,y > 0.<br />

Em primeiro lugar a curva em questão é:<br />

F(x,y) = x y −y x := e xln(y) −e yln(x) = 0.<br />

É imediato que a reta diagonal faz parte <strong>de</strong>sa curva, pois sobre a diagonal temos:<br />

x y −y x = x x −x x = 0.<br />

Supondo o que foi dito, que a reta diagonal corta uma segunda componente, nesse(s)<br />

ponto(s) <strong>de</strong> interseção(ões) <strong>de</strong>ve valer<br />

∂F<br />

∂x<br />

= 0 e<br />

pois o Teorema 2.1 do Capítulo 15 diz que se<br />

∂F<br />

∂x<br />

∂F<br />

∂y<br />

= 0 ou ∂F<br />

∂y<br />

então a curva F = 0 é localmente um gráfico regular e portanto, em torno <strong>de</strong> cada<br />

ponto da diagonal F = 0 é exatamente um pedaço da reta diagonal.<br />

Ora,<br />

∂F<br />

∂x = exln(y) ·ln(y)−e yln(x) · y<br />

x<br />

∂F<br />

∂y = exln(y) · x<br />

y −eyln(x) ·ln(x)<br />

= 0,<br />

= 0


12. UM MODO DE APROXIMAR E POR NÚMEROS RACIONAIS 322<br />

que ao serem avaliadas em pontos da diagonal y = x dão:<br />

e xln(x) ·ln(x)−e xln(x) · x<br />

x = exln(x) ·(ln(x)−1)<br />

e essa expressão se anula exatamente se:<br />

ln(x) = 1,<br />

ou seja, o ponto <strong>de</strong> intersecção é (x,y) = (e,e).<br />

12. Um modo <strong>de</strong> aproximar e por números Racionais<br />

Com um pouquinho <strong>de</strong> geometria básica conseguimos já <strong>de</strong>terminar que:<br />

2 < e < 3.<br />

Agora vamos mostrar um modo <strong>de</strong> aproximar e com a precisão que quisermos:<br />

Afirmação 12.1.<br />

Em particular 4 ,<br />

Demonstração.<br />

Antecipando a próxima Seção, <strong>de</strong>fino<br />

e = lim (1+x)<br />

x→0 1<br />

x<br />

1<br />

e = lim (1+<br />

n→+∞ n )<br />

n<br />

, on<strong>de</strong> n ∈ N.<br />

(1+x) 1<br />

x := e 1<br />

x ·ln(1+x) , x > −1.<br />

Antes <strong>de</strong> passar ao limite x → 0, tomo o logaritmo natural:<br />

ln((1+x) 1<br />

x ) = ln(e 1<br />

x ·ln(1+x) ) = 1<br />

x ·ln(1+x).<br />

e tento enten<strong>de</strong>r primeiro o que acontece com:<br />

Ora,<br />

1<br />

lim<br />

x→0 x ·ln(1+x).<br />

1 ln(1+x)−ln(1)<br />

lim ·ln(1+x) = lim<br />

x→0 x x→0 x<br />

=: (ln(1+x)) ′ (0) = 1.<br />

Tomando a exponencial, que é contínua, concluo que<br />

lim<br />

x→0 (1+x)1 x = lim e<br />

x→0 ln(1+x)<br />

x =<br />

ln(1+x)<br />

limx→0 = e x = e 1 = e.<br />

A segunda afirmação é apenas uma discretização <strong>de</strong>sse fato, ou seja, on<strong>de</strong> o modo<br />

como x → 0 é através da sequência <strong>de</strong> números Racionais 1 com n → +∞.<br />

n<br />

<br />

4 Se po<strong>de</strong> provar, via o Cálculo, que e ∈ Q, apesar <strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r ser aproximado por Racionais,<br />

como diz esta afirmação<br />

=:


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 323<br />

Na Seção 5 do Capítulo 30 analisaremos uma aproximação mais eficiente <strong>de</strong> e.<br />

13. Funções f(x) g(x) em geral e suas in<strong>de</strong>terminações<br />

Que sentido dar a funções do tipo f(x) g(x) ? Já vimos alguns casos particulares.<br />

Defino:<br />

f(x) g(x) := e g(x)·ln(f(x)) , <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que f(x) > 0.<br />

Com essa <strong>de</strong>finição garantimos proprieda<strong>de</strong>s como:<br />

bem como:<br />

ln(f(x) g(x) ) = ln(e g(x)·ln(f(x)) ) = g(x)·ln(f(x)),<br />

f(x) g(x)+h(x) = e (g(x)+h(x))·ln(f(x)) =<br />

= e g(x)·ln(f(x)) ·e h(x)·ln(f(x)) = f(x) g(x) ·f(x) h(x) .<br />

Exemplos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>terminações:<br />

• Note que po<strong>de</strong>m aparecer in<strong>de</strong>terminações do tipo 1∞ , como já vimos no<br />

caso (1+x) 1<br />

x. Vejamos outro exemplo <strong>de</strong>sse tipo:<br />

Tome o logaritmo:<br />

e examine primeiro<br />

como uma in<strong>de</strong>terminação 0<br />

0<br />

lim<br />

xց0 (ex +x) 1<br />

x.<br />

ln((e x +x) 1<br />

x) = 1<br />

x ·ln(ex +x)<br />

ln(e<br />

lim<br />

xց0<br />

x +x)<br />

x<br />

Logo, tomando exponencial:<br />

ln(e<br />

lim<br />

xց0<br />

x +x)<br />

x<br />

. Então:<br />

(<br />

= lim<br />

xց0<br />

ex +1<br />

ex +x )<br />

1<br />

lim<br />

xց0 (ex +x) 1<br />

x = e 2 .<br />

= 2.<br />

• Existem também in<strong>de</strong>terminações ∞ 0 , como é o caso <strong>de</strong><br />

Novamente tomo logaritmo:<br />

e examine primeiro<br />

lim<br />

x→+∞ (ex +x) 1<br />

x.<br />

ln((e x +x) 1<br />

x) = 1<br />

x ·ln(ex +x)<br />

ln(e<br />

lim<br />

x→+∞<br />

x +x)<br />

x<br />

como uma in<strong>de</strong>terminação ∞<br />

. Então: ∞<br />

ln(e<br />

lim<br />

x→+∞<br />

x +x)<br />

x<br />

(<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

ex +1<br />

ex +x )<br />

= 1<br />

1


14. DERIVADA LOGARÍTMICA 324<br />

e tomando exponencial obteremos:<br />

lim<br />

x→+∞ (ex +x) 1<br />

x = e.<br />

• Notequenão existem in<strong>de</strong>terminações dotipo0 ∞ : <strong>de</strong>fato, suponhaf(x) > 0<br />

com limx→xf(x) = 0. Se a<strong>de</strong>mais limx→xg(x) = −∞, então:<br />

lim<br />

x→x f(x)g(x) := lim<br />

x→x e g(x)·ln(f(x)) = +∞,<br />

enquanto que se vale limx→xg(x) = +∞ então:<br />

lim<br />

x→x eg(x)·ln(f(x)) = 0.<br />

14. Derivada logarítmica<br />

Se f(x) > 0 a <strong>de</strong>rivada da composição ln(f(x)) é:<br />

ln(f(x)) ′ = 1<br />

f(x) ·f′ (x).<br />

Note que o lado direito da expressão, ou seja,<br />

f ′ (x)<br />

f(x)<br />

faz sentido mesmo se f(x) < 0, basta que não seja nula.<br />

Definição 14.1. Seja f(x) qualquerfunção <strong>de</strong>rivável. On<strong>de</strong>ela nãose anula, chamamos<br />

a expressão<br />

f ′ (x)<br />

f(x)<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada logarítmica <strong>de</strong> f(x)<br />

A Afirmação a seguir diz, do item i) ao iv) que a <strong>de</strong>rivada logarítmica tem um<br />

comportamento análogo ao do logaritmo, com respeito a produtos, quocientes e expoentes.<br />

O item v) dá a utilida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>rivada logaritmica, para calcular a própria f ′ (x),<br />

quando f(x) envolve produtos, quocientese expoentes.<br />

Afirmação 14.1. Sejam f,f1,...,fn diversas funções da variável x, <strong>de</strong>riváveis e que<br />

não se anulam na região consi<strong>de</strong>rada.<br />

Então:<br />

(f1·...·fn) ′<br />

• i) (f1·f2·...·fn) = f′ 1<br />

f1 +... f′ 1<br />

f1 ,<br />

• ii) (fn ) ′<br />

fn = n· f′<br />

f .<br />

• iii) (f 1)<br />

f2 ′<br />

( f1) f2 = f′ 1<br />

f1 − f′ 2<br />

f2 .<br />

• iv) para qualquer a ∈ R e f(x) > 0, (fa ) ′<br />

fa = a· f′<br />

f .


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 325<br />

• v): suponha f(x) := f a1<br />

1 · ...f an<br />

n , on<strong>de</strong> os expoentes ai são números Reais<br />

quaiquer (suponha fi > 0 se for necessário). Então:<br />

f ′ (x) = f(x)·(a1 · f′ 1<br />

Demonstração.<br />

De i): Basta <strong>de</strong>rivar o produto e simplificar:<br />

f1<br />

(f1 ·...·fn) ′<br />

(f1 ·f2 ·...·fn) =<br />

+...+an · f′ n<br />

).<br />

f ′ 1 ·f2 ·...·fn<br />

(f1 ·f2 ·...·fn) +...+ f1 ·...fn−1 ··f ′ n<br />

(f1 ·...·fn−1fn) =<br />

= f′ 1<br />

f1<br />

+...+ f′ n<br />

De ii): Uso a <strong>de</strong>rivada da composta e simplifico:<br />

(fn ) ′<br />

fn = n·fn−1 ·f ′<br />

fn De iii): Uso a <strong>de</strong>rivada do quociente e simplifico:<br />

( f1<br />

f2 )′<br />

( f1<br />

fn<br />

f2 ) = (f′ 1 ·f2 −f1 ·f ′ 2<br />

f2 2<br />

= f′ 1 ·f2 −f1 ·f ′ 2<br />

f1f2<br />

.<br />

= f′ 1<br />

f1<br />

= n· f′<br />

f .<br />

)· f2<br />

f1<br />

=<br />

− f′ 2<br />

.<br />

f2<br />

De iv): análoga à <strong>de</strong> ii), só que <strong>de</strong>rivando a composição f(x) a := e a·ln(x) .<br />

De v): basta usar os itens anteriores, pois f é <strong>de</strong>finida através <strong>de</strong> produto/quocientes<br />

e expoentes.<br />

<br />

Exemplos:<br />

• Suponha que te pe<strong>de</strong>m para <strong>de</strong>rivar<br />

f(x) = sin2 (x)·x 3<br />

e2x .<br />

Com o item v) da Afirmação 14.1 se obtém:<br />

f ′ (x) = ( sin2 (x)·x 3<br />

e2x )·(2 cos(x) 3<br />

+ −2) =<br />

sin(x) x<br />

= 2sin(x)·cos(x)·x3 +3·sin 2 (x)·x 2 −2·sin 2 (x)·x 3<br />

e2x .<br />

fn


15. UMA FUNÇÃO EXTREMAMENTE ACHATADA 326<br />

• como fazer tan(x)dx. Note que:<br />

tan(x) := sin(x)<br />

cos(x) dx = −f′ (x)<br />

f(x) ,<br />

on<strong>de</strong> f(x) = cos(x). Então:<br />

′ f (x)<br />

tan(x)dx = − dx =<br />

f(x)<br />

= −ln||f(x)||+C = −ln||cos(x)||+C =<br />

= ln(||cos(x)|| −1 1<br />

)+C = ln(|| ||)+C =<br />

cos(x)<br />

= ln||sec(x)||+C.<br />

15. Uma função extremamente achatada<br />

As funções y = f(x) = x n com n ∈ N se anulam em x = 0 e tem até a <strong>de</strong>rivada<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n−1 nula em x = 0:<br />

f(0) = f ′ (0) = ... = f (n−1) (0) = 0.<br />

Quando n ∈ N cresce cada vez mais o gráfico <strong>de</strong>ssas funções se achata cada vez mais<br />

em torno ao x = 0:<br />

-1<br />

-0,5<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

x<br />

Figura: Os gráficos <strong>de</strong> y = x 2 (vermelho), y = x 4 (ver<strong>de</strong>)<br />

e y = x 6 (amarelo) para x ∈ [−1,1].<br />

Seriapossívelumafunção(diferentedafunçãonula, obviamente)quetenha<strong>de</strong>rivadas<br />

<strong>de</strong> todas as or<strong>de</strong>ns nulas em x = 0 ? Será que se todas as (infinitas !) <strong>de</strong>rivadas são<br />

nulas em x = 0 mesmo assim a função consegue <strong>de</strong>colar ?<br />

Vamos ver que sim, usando o que apren<strong>de</strong>mos na Seção 6.<br />

A função que consi<strong>de</strong>raremos é:<br />

f(x) = e −x−2<br />

0,5<br />

= e −1<br />

x 2 , se x = 0, e f(0) = 0.<br />

Voumecontentaremmostrarquesuaprimeiraesegunda <strong>de</strong>rivadasãozeronaorigem,<br />

mas o leitor verá que o que uso para isso servirá em todas as <strong>de</strong>rivadas.<br />

1


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 327<br />

Paracalcularmossua<strong>de</strong>rivada foradaorigempo<strong>de</strong>mosusararegrada<strong>de</strong>rivadada<br />

composta. Mas para calcular sua <strong>de</strong>rivada em x = 0 vamos precisar usar a <strong>de</strong>finiçãod<br />

e <strong>de</strong>rivada:<br />

Ora isso é o mesmo que:<br />

e mudando <strong>de</strong> notação com z = 1<br />

h<br />

f ′ (0) = lim<br />

h→0<br />

f ′ (0) = lim<br />

h→0<br />

e−h−2 −0<br />

.<br />

h<br />

é o mesmo que<br />

f ′ z<br />

(0) = lim<br />

z→∞ ez2 (<strong>de</strong>veríamosconsi<strong>de</strong>rarseparadamenteocasoh ց 0ez → +∞eaoutrapossibilida<strong>de</strong><br />

h ր 0 e z → −∞, mas veremos que o resultado final não se altera). Mas vimos acima<br />

que<br />

z<br />

lim = 0<br />

z→∞ ez e portanto, como ez2 > ez se |z| > 1, com mais razão:<br />

z<br />

lim<br />

z→∞ ez2 = 0<br />

logo f ′ (0) = 0.<br />

Agora para a segunda <strong>de</strong>rivada, lembro a <strong>de</strong>finição:<br />

f ′′ (0) = lim<br />

h→0<br />

1<br />

h<br />

e 1<br />

h2 f ′ (h)−f ′ (0)<br />

.<br />

h<br />

Se h = 0, o valor <strong>de</strong> f ′ (h) é dado pela regra da composta:<br />

Logo:<br />

f ′ (h) = 2e −h−2<br />

·h −3 .<br />

f ′′ (0) = lim<br />

h→0<br />

Agora com a notação z = 1<br />

h 2 temos<br />

e já vimos que<br />

logo<br />

= 2<br />

2e−h−2 ·h−3 =<br />

h<br />

1<br />

h4 e 1<br />

h2 f ′′ (0) = lim<br />

z→+∞<br />

lim<br />

z→+∞<br />

.<br />

z2 = 0<br />

ez f ′′ (0) = 0.<br />

Deixo como exercício para o leitor mostrar, do mesmo jeito, que f ′′′ (0) = 0 e assim<br />

sucessivamente.<br />

O Maple dá ao seu gráfico o seguinte formato:<br />

z 2<br />

e z,


15. UMA FUNÇÃO EXTREMAMENTE ACHATADA 328<br />

-1<br />

-0,5<br />

0,35<br />

0,3<br />

0,25<br />

0,2<br />

0,15<br />

0,1<br />

0,05<br />

0<br />

0<br />

x<br />

Fig.: Como o Maple representa a função extremamente achatada, x ∈ [−1,1].<br />

Mas note que parece que ela é zero em todo esse intervalo. Se diminuo o intervalo<br />

ainda assim o gráfico dado pelo programa é enganador : parece que se anula ainda<br />

em todo esse intervalo.<br />

-0,4 -0,2<br />

0,016<br />

0,012<br />

0,008<br />

0,004<br />

0<br />

0<br />

x<br />

Figura: Assim o Maple representa a função extremamente achatada...<br />

Porissoésempreimportanteateoriajuntocomousodocomputadorpoissabemos<br />

que a função<br />

f(x) = e −x−2<br />

, se x = 0, e f(0) = 0<br />

só se anula em x = 0 !<br />

Para terminar, um comentário.<br />

Em geral, dada uma função f com todas as <strong>de</strong>rivadas, on<strong>de</strong> f(x) = f (0) (x) é<br />

<strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 0 e f (i) (x) é a <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m i, a série:<br />

+∞<br />

i=0<br />

f (i) (0)<br />

i!<br />

é a chamada série <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> f em x = 0 (continuo este tema na Seção 3 do<br />

Capítulo 31)<br />

No nosso caso como f(0) = f (i) (0) = 0, ∀i ∈ N, então a sua série <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> f<br />

em x = 0 é i<strong>de</strong>nticamente nula. Como cada série <strong>de</strong> Taylor converge em um intervalo<br />

0,2<br />

0,5<br />

x i ,<br />

0,4<br />

1


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 329<br />

(po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>generar a um ponto) teremos que dizer que a série <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> nossa f<br />

achatada converge em toda a reta.<br />

Mas no entanto essa série só coinci<strong>de</strong> com o valor da f em x = 0 !<br />

Exercício 16.1. Derive:<br />

16. Exercícios<br />

i) e xln(x) , ii) x 2 ln(x 2 )+x, iii) ln( √ x 2 +1),<br />

iv) ln(x 2 +1), v)x 2 ln(x), sex > 0, vi)e x2 ln(x) , vii) ln(x 4 ),<br />

viii) ln( 1<br />

x ), 0 < x ≤ 1, ix) ln(x6 +4x 2 ).<br />

Exercício 16.2. (resolvido)<br />

O programa Maple plota y = ln(1+x)<br />

x para x ∈ [−0.9,2]:<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

-0,5 0 0,5<br />

x<br />

1<br />

sem se questionar sobre o que fazer em x = 0. Explique o que está acontecendo, com<br />

os conceitos do Cálculo. Dica: Existe:<br />

ln(1+x)<br />

lim ?<br />

x→0 x<br />

Quanto vale? Por quê ?<br />

Exercício 16.3. (resolvido)<br />

Vimos dois fatos importantes do Cálculo:<br />

ln(x)<br />

lim ln(x) = +∞ mas lim<br />

x→+∞ x→+∞<br />

Ou seja que o logaritmo natural cresce, mas cresce mais lentamente que a própria<br />

função y = x. A Figura mostra o gráfico <strong>de</strong> y = ln(x)<br />

x , para x ∈ [1,10], on<strong>de</strong> se ve<br />

que há um ponto <strong>de</strong> máximo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le a função y = ln(x)<br />

mais próximo do zero.<br />

Determine o ponto <strong>de</strong> máximo <strong>de</strong> y = lnx<br />

x .<br />

0,35<br />

0,3<br />

0,25<br />

0,2<br />

0,15<br />

0,1<br />

0,05<br />

0<br />

2<br />

4<br />

6<br />

x<br />

8<br />

1,5<br />

2<br />

10<br />

x<br />

x<br />

= 0.<br />

vai caindo para cada vez


16. EXERCÍCIOS 330<br />

Exercício 16.4. Vimos que que:<br />

lim<br />

x→+∞ ex = +∞ e ainda lim<br />

x→+∞<br />

x n<br />

= 0, ∀n ∈ N.<br />

ex Ou seja, que a exponencial cresce e cresce mais rapidamente que qualquer polinômio<br />

xn .<br />

A Figura mostra o gráfico <strong>de</strong> y = xn<br />

ex, para n = 2,3 e para x ∈ [0,4], on<strong>de</strong> se vê<br />

que que cada um <strong>de</strong>les tem um ponto <strong>de</strong> máximo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le a função vai caindo<br />

ficando cada vez mais próxima <strong>de</strong> zero.<br />

Para cada n fixado, <strong>de</strong>termine em que intervalos a função:<br />

f : [0,+∞) → R, f(x) = xn<br />

e x<br />

é crescente, em que intervalo é <strong>de</strong>crescente e qual seu ponto <strong>de</strong> máximo (as respostas<br />

são em função <strong>de</strong> n).<br />

Exercício 16.5. Derive:<br />

i) ex2, ii) e cos(x) ,<br />

iii) e cos6 (x) ,<br />

iv) e1 x<br />

, se x > 0, x<br />

v) etan(x) ,<br />

vi) eeex. Exercício 16.6. Mostre que a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> ln( x2 ·e x<br />

cos 2 (x)·e<br />

1,2<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

1<br />

2<br />

x<br />

1+ 2 2sin(x)<br />

+<br />

x cos(x) .<br />

Conclua daí, sem fazer a <strong>de</strong>rivada do quociente, que :<br />

3<br />

4<br />

π<br />

), para x ∈ (0, ), é 2<br />

( x2 ·ex cos2 (x)·e )′ = (1+ 2 2sin(x)<br />

+<br />

x cos(x) )·<br />

x2 ·ex cos2 (x)·e .<br />

Exercício 16.7. Vamos <strong>de</strong>finir as seguintes funções<br />

Prove que vale:<br />

f1(x) := ex −e −x<br />

2<br />

e f2 := ex +e −x<br />

f2(x) 2 −f1(x) 2 ≡ 1, ∀x<br />

<strong>de</strong> dois modos:<br />

i) só fazendo contas que usam potências e produtos <strong>de</strong> exponenciais.<br />

2


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 331<br />

ii) usando a filosofia do Cálculo, ou seja, <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivar uma função, ver que sua<br />

<strong>de</strong>rivada é zero, logo a função é constante e essa constante é zero.<br />

Exercício 16.8. Seja um k > 0. Prove a equivalência:<br />

lim<br />

x→+∞ ekx = +∞ ⇔ lim<br />

x→+∞ e−kx = 0.<br />

2) Os gráficos a seguir são <strong>de</strong> funções f(x) = f(0)·e −x , para diferentes valores <strong>de</strong><br />

f(0).<br />

i) Confira que esses gráficos nunca se intersectam, mesmo quando x fica muito<br />

gran<strong>de</strong>.<br />

ii) mostre que em todos esses gráficos as inclinações ten<strong>de</strong>m a zero quando x<br />

cresce.<br />

iii) Calcule em cada x qual é quociente das inclinações <strong>de</strong> dois <strong>de</strong>sses gráficos.<br />

Exercício 16.9. Prove que:<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 1 2 3 4<br />

x<br />

lim<br />

x→+∞ ln(xn )−x = −∞, n ∈ N.<br />

Dica: aplique exponencial para transformar a diferença num quociente. Depois volte<br />

na expresssão original tomando logaritmo natural.<br />

Exercício 16.10. Seja f : [0,+∞) → R dada por f(0) = 0 e por f(x) = sin(x2 )<br />

x se<br />

x > 0.<br />

Prove que:<br />

lim<br />

x→0 f(x) = 0, f′ (0) = 1 e lim<br />

xց0 f ′ (x) = 1.


16. EXERCÍCIOS 332<br />

A Figura a seguir plota em vermelho f e em ver<strong>de</strong> f ′ para x ∈ [0,5]:<br />

2<br />

1<br />

0 1<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

2 3<br />

Exercício 16.11. Usando a Regra <strong>de</strong> l’Hôpital prove por indução em n ∈ N que:<br />

(ln(x))<br />

lim<br />

x→+∞<br />

n<br />

x<br />

Exercício 16.12. Usando L’ Hôpital prove que:<br />

= 0, ∀n ∈ N.<br />

1<br />

lim(1+<br />

x→0 x )x = 1.<br />

Exercício 16.13. (resolvido)<br />

A função y = f(x) = e−x2 (vermelho), sua <strong>de</strong>rivada f ′ (x) (ver<strong>de</strong>) e sua segunda<br />

<strong>de</strong>rivada f ′′ (x) (amarelo) são dadas na Figura a seguir, para x ∈ [−2,2]:<br />

-2<br />

-1<br />

1<br />

0,5<br />

x<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

i) Calcule f ′ (x), f ′ (0), f ′′ (x) e f ′′ (0).<br />

Note que o gráfico <strong>de</strong> f ′ (x) tem um máximo local e um mínimo local (que são<br />

pontos <strong>de</strong> inflexão da f, portanto).<br />

ii) Determine os pontos <strong>de</strong> mínimo/máximo locais <strong>de</strong> f ′ (x) resolvendo f ′′ (x) = 0.<br />

Exercício 16.14. (resolvido)<br />

Prove que a tangente ao gráfico <strong>de</strong> y = ln(x) no ponto (e,1) é uma reta que passa<br />

pela origem. Dica: equação <strong>de</strong> uma reta dado um ponto e o coeficiente angular.<br />

Então conclua, <strong>de</strong>preferência semfazercontas, queatangenteaográfico<strong>de</strong>y = e x<br />

no ponto (1,e) também é uma reta que passa pela origem.<br />

1<br />

4<br />

2<br />

5


CAPÍTULO 22. LOGARITMO NATURAL E SUA INVERSA, A<br />

EXPONENCIAL 333<br />

1<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

0,5 1<br />

x<br />

1,5 2 2,5 3 3,5 4<br />

Exercício 16.15. (resolvido)<br />

Neste exercício trata-se <strong>de</strong> encontrar primitivas sem ajuda <strong>de</strong> técnica nenhuma.<br />

Tenha em mente que a primitiva <strong>de</strong> um produto não é o produto <strong>de</strong> primitivas.<br />

Quando aparecer um produto f ·g, lembre que a <strong>de</strong>rivada da composta faz aparecer<br />

produtos ! Por exemplo (sin(x 2 )) ′ = cos(x 2 )·2x.<br />

i) sin(x)cos(x)<br />

, ii)xsin(x<br />

6<br />

2 )cos(x 2 ),<br />

iii) 2x+cos(x)<br />

x2 +sin(x) , se x2 +sin(x) ≥ 1,<br />

iv) 1+x<br />

, se x > 0, v) xmn,<br />

m,n ∈ N, vi)2xcos(x<br />

x 2 ),<br />

vii) x<br />

2 cos(x2 ), viii) xe x2<br />

, ix) e x cos(e x ),<br />

x)f(x) = a0x n +a1x n−1 +...+an, ai ∈ R,<br />

xi) 4x3 +4x<br />

x4 +2x2 +1 , xii)x19 ex20 20<br />

xiii) e1 x<br />

x2, xiv) sin(x)sin(cos(x)),<br />

xv) (e x ) n , n ∈ N xvi)<br />

6x5 +4x<br />

x6 +2x2 +1 , xvii) x19ex20 20<br />

xviii) 7<br />

x7, xix) cos(x)cos(sin(x)).<br />

,


CAPíTULO 23<br />

Segundo Teorema Fundamental e Áreas<br />

1. A <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Gregory e Sarasa sobre área<br />

A proprieda<strong>de</strong> ln(xy) = ln(x)+ln(y), que vimos na Seção 2 do Capítulo anterior,<br />

tem uma contrapartida geométrica interessante.<br />

Suponha x ≥ 1 e y ≥ 1. Como xy ≥ x e as áreas as áreas sob o gráfico <strong>de</strong> 1<br />

x são<br />

aditivas, po<strong>de</strong>mos escrever:<br />

Mas<br />

A1 ,1(xy) = A1<br />

x x ,1(x)+A1 x ,x(xy).<br />

ln(xy) := A1 ,1(xy), ln(x) := A1 ,1(x) e ln(y) := A1<br />

x x x ,1(y).<br />

Obtemos pela proprieda<strong>de</strong> do logaritmo:<br />

e portanto:<br />

A1<br />

x ,1(x)+A1 x<br />

,1(y) = A1<br />

x ,1(x)+A1<br />

x ,x(xy)<br />

A1 ,1(y) = A1<br />

x x ,x(xy).<br />

Por exemplo, com x = 2 e y = 2, A1 ,1(2) = A1 ,2(4) (quem consegue consegue intuir<br />

x x<br />

isso na Figura abaixo?)<br />

1<br />

0,9<br />

0,8<br />

0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

1<br />

1,5<br />

Figura: As áreas sob 1<br />

x<br />

2<br />

2,5<br />

x<br />

3<br />

3,5<br />

entre 1 e 2 ou entre 2 e 4 são iguais !.<br />

335<br />

4


2. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL DO CÁLCULO 336<br />

Como se apren<strong>de</strong> no livro C.H. Edwards, The historical <strong>de</strong>velopment of the Calculus,<br />

Springer, 1979 esta proprieda<strong>de</strong><br />

A1 ,1(y) = A1<br />

x x ,x(xy),<br />

foi observada por Gregory St. Vincent e A.A. Sarasa, antes do Cálculo.<br />

Será que conseguimos verificar que<br />

A1 ,1(y) = A1<br />

x x ,x(xy)<br />

diretamente, apenas com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Área da Seção 1 do Capítulo 21 ?<br />

Para <strong>de</strong>finir A1 ,1(y) a primeira etapa é partimos o intervalo [1,y] em n subinter-<br />

x<br />

valos <strong>de</strong> tamanho y−1<br />

1<br />

, e levantarmos retângulos com altura f(x) = , somando as<br />

n x<br />

suas Áreas. Depois a segunda etapa é passar ao limite n → +∞.<br />

Façamos a primeira etapa:<br />

y −1 y −1<br />

·[(1+<br />

n n )−1 2(y −1)<br />

+(1+ )<br />

n<br />

−1 n(y −1)<br />

+...+(1+ )<br />

n<br />

−1 ].<br />

Por outro lado, a primeira etapa da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> A1 ,x(xy) é levantarmos retângulos<br />

x<br />

<strong>de</strong> base xy−x<br />

e somarmos suas áreas, ou seja:<br />

n<br />

xy −x xy −x<br />

·[(x+ )<br />

n n<br />

−1 2(xy −x)<br />

+(x+ )<br />

n<br />

−1 x+n(xy −x)<br />

+...+( )<br />

n<br />

−1 ] =<br />

y −1<br />

= x·<br />

n ·[x−1 (y −1)<br />

·(1+ )<br />

n<br />

−1 +x −1 2(y −1)<br />

·(1+ )<br />

n<br />

−1 +...+x −1 n(y −1)<br />

·(1+ )<br />

n<br />

−1 ],<br />

que, após cancelar x, dá o mesmo <strong>de</strong> antes ! Por isso ao passar ao limite n → +∞<br />

dará o mesmo e:<br />

A1 ,1(y) = A1<br />

x x ,x(xy).<br />

2. Segundo Teorema Fundamental do Cálculo<br />

Teorema 2.1. Seja f : [a,b] → R contínua. Então<br />

b<br />

on<strong>de</strong> F(x) é qualquer função com<br />

Ou seja,dito <strong>de</strong> outro modo b<br />

a<br />

f(x)dx = F(b)−F(a),<br />

F ′ (x) = f(x), ∀x ∈ [a,b].<br />

a<br />

F ′ (x)dx = F(b)−F(a).<br />

Essa função F com F ′ (x) = f(x) ∀x é chamada <strong>de</strong> primitiva da f.<br />

Demonstração.<br />

Tome uma F(x) com F ′ (x) = f(x) ∀x ∈ [a,b] (não importa como se achou).


CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 337<br />

x<br />

a<br />

Agora lembre que o Primeiro Teorema Fundamental 6.1 diz que a função G(x) :=<br />

f(x)dx tem<br />

Então<br />

o que diz que<br />

G ′ (x) = f(x), ∀x ∈ [a,b].<br />

F ′ (x) = G ′ (x), ∀x ∈ [a,b],<br />

F(x) = G(x)+C, ∀x ∈ [a,b],<br />

pelo Teorema Fundamental das Equações diferenciais (ver Capítulo 7 da Parte 1 <strong>de</strong>ste<br />

Curso). em particular:<br />

F(b) = G(b)+C.<br />

Mas que constante C é essa ? Temos que G(a) = a<br />

a<br />

ou seja C = −F(a) e<br />

e portanto:<br />

como queríamos.<br />

G(b) :=<br />

F(a) = 0+C,<br />

F(b) = G(b)−F(a)<br />

b<br />

Exemplo: Agora po<strong>de</strong>mos justificar que<br />

pois pelo Teroema 2.1:<br />

2π<br />

0<br />

a<br />

2π<br />

0<br />

f(x)dx = F(b)−F(a),<br />

sin(x)dx = 0,<br />

f(x)dx = 0, logo<br />

sin(x)dx = −cos(2π)−(−cos(0)) = −1+1 = 0.<br />

3. Regiões entre dois gráficos<br />

Começo com um exemplo: <strong>de</strong>termine a área da pétala compreendida entre os<br />

gráficos <strong>de</strong> y = x n e y = n√ x para x ∈ [0,1].<br />

Há duas maneiras <strong>de</strong> ver essa pétala:<br />

• como uma região abaixo do gráfico <strong>de</strong> y = n√ x e acima do <strong>de</strong> y = x n<br />

• como formada por duas meta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pétala<strong>de</strong> mesma área. A meta<strong>de</strong> inferior<br />

<strong>de</strong>terminada pela região entre o gráfico da diagonal y = x e o <strong>de</strong> y = x n . A<br />

pétala tem simetria na reta diagonal.


3. REGIÕES ENTRE DOIS GRÁFICOS 338<br />

Visto do primeiro modo, a área da pétala é uma diferença do tipo:<br />

1<br />

=<br />

0<br />

1<br />

0<br />

n√ xdx−<br />

1<br />

0<br />

x 1<br />

1<br />

n dx−<br />

0<br />

x n dx =<br />

x n dx =<br />

= ( x1+n n<br />

1+n )(1)−0−(<br />

n<br />

xn+1<br />

(1)−0) =<br />

n+1<br />

= n 1 n−1<br />

− =<br />

n+1 n+1 n+1 .<br />

Claro que se n = 1 a área é zero, pois a pétala <strong>de</strong>genera a um segmento <strong>de</strong> reta.<br />

Note também que se fazemos n → +∞ obtemos como limite das áreas o valor<br />

n−1<br />

1 = lim<br />

n→+∞ n+1 ,<br />

que é a área do quadrado do qual a pétala vai se aproximando. Veja as Figura:<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

0,2<br />

0,4 0,6<br />

x<br />

Figura: y = x 2 , y = √ x e y = x, x ∈ [0,1]<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

0,2<br />

0,4 0,6<br />

x<br />

Figura: y = x 3 , y = 3√ x e y = x, x ∈ [0,1]<br />

Do segundo modo, que é o mais fácil, tomamos a área <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da pétala e a<br />

multiplicamos por 2:<br />

2·[ 1<br />

2 −<br />

1<br />

x n dx] =<br />

0<br />

2·[ 1 1<br />

− ] =<br />

2 n+1<br />

= 1− 2 n−1<br />

=<br />

n+1 n+1 .<br />

Uma maneira mais geral <strong>de</strong> tratar a área da região compreendida entre dois<br />

gráficos é dada a seguir:<br />

0,8<br />

0,8<br />

1<br />

1


CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 339<br />

Afirmação 3.1. Suponha f,g duas funções contínuas tais que no intervalo [a,b]<br />

tenham:<br />

f(x) ≥ g(x), ∀x ∈ [a,b].<br />

Então a área da região, <strong>de</strong> x = a até x = b, abaixo do gráfico <strong>de</strong> f(x) mas acima<br />

do gráfico <strong>de</strong> g(x) é dada por:<br />

b<br />

a<br />

f(x)−g(x)dx.<br />

Demonstração.<br />

Suponhamos primeiramente o caso em que<br />

g(x) ≥ 0, ∀x ∈ [a,b].<br />

Então f(x) ≥ 0, ∀x ∈ [a,b], já que f(x) ≥ g(x).<br />

Por um lado, b<br />

f(x)dx é a Área da região <strong>de</strong> x = a até x = b abaixo do gráfico<br />

a<br />

<strong>de</strong> f(x) e acima do eixo dos x, já que f(x) ≥ 0.<br />

Enquanto que b<br />

g(x)dx é a Área da região <strong>de</strong> x = a até x = b abaixo do gráfico<br />

a<br />

<strong>de</strong> g(x) e acima do eixo dos x, já que g(x) ≥ 0.<br />

Por uma proprieda<strong>de</strong> da Integral:<br />

b<br />

a<br />

f(x)−g(x) dx =<br />

b<br />

a<br />

f(x)dx−<br />

b<br />

a<br />

g(x)dx<br />

e, como f(x) ≥ g(x), b<br />

f(x)−g(x)dx dá área da região <strong>de</strong> x = a até x = b, abaixo<br />

a<br />

do gráfico <strong>de</strong> f(x) mas acima do gráfico <strong>de</strong> g(x).<br />

Agora, no caso geral, po<strong>de</strong> acontecer que g(x) < 0 para algum ponto no intervalo<br />

[a,b].<br />

Como g(x) é contínua, ela tem um valor mínimo global em [a,b]. Chame-o <strong>de</strong><br />

−C < 0. Então as novas funções<br />

f(x) := f(x)+C e g(x) := g(x)+C<br />

têm<br />

g(x) ≥ 0, ∀x ∈ [a,b],<br />

(se não fosse assim para algum x ∈ [a,b] então g(x) + C < 0 e g(x) < −C, contradizendo<br />

a escolha <strong>de</strong> −C como mínimo da g) e<br />

f(x) ≥ g(x), ∀x ∈ [a,b].<br />

-1 -0,5<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0<br />

-2<br />

x<br />

-1<br />

0,5<br />

1


4. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 54, 1993. 340<br />

<strong>de</strong><br />

Figura: f vermelho, g ver<strong>de</strong>, f amarelo, g azul, [a,b] = [−1,1].<br />

Pelo que já vimos no primeiro caso da <strong>de</strong>monstração, agora aplicado a f,g, o valor<br />

b<br />

a<br />

f(x)−g(x) dx<br />

dá a área da região <strong>de</strong> x = a até x = b, abaixo do gráfico <strong>de</strong> f(x) mas acima do<br />

gráfico <strong>de</strong> g(x).<br />

Como os gráficos <strong>de</strong> f(x) = f(x) + C e g(x) = g(x) + C diferem dos <strong>de</strong> f(x) e<br />

g(x) apenas por uma translação vertical, então<br />

b<br />

a<br />

f(x)−g(x)dx<br />

dá a área da região <strong>de</strong> x = a até x = b, abaixo do gráfico <strong>de</strong> f(x) mas acima do<br />

gráfico <strong>de</strong> g(x).<br />

Finalmente:<br />

b<br />

o que conclui a <strong>de</strong>monstração.<br />

a<br />

b<br />

a<br />

f(x)−g(x)dx =<br />

(f(x)+C)−(g(x)+C)dx =<br />

=<br />

b<br />

a<br />

f(x)−g(x)dx,,<br />

4. Um problema da Putnam Competition, n. 54, 1993.<br />

Problema 1: A reta horizontal y = C > 0 corta a curva y = 2x − 3x 3 no primeiro<br />

quadrante como na Figura abaixo.<br />

Encontre o valor <strong>de</strong> C que faz com que as áreas das duas regiões <strong>de</strong>limitadas pelos<br />

gráficos sejam iguais.


CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 341<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0<br />

0,2<br />

Aproveito para resolver um problema um pouco mais geral do que esse:<br />

0,4<br />

x<br />

Problema 2: A reta horizontal y = C > 0 corta a curva y = A·x+B·x 3 , com A > 0<br />

e B < 0, no primeiro quadrante como na Figura (basta exigir A > 0 e B < 0 para<br />

termos qualitativamente a mesma figura).<br />

Encontre o valor <strong>de</strong> C que faz com que as áreas das duas regiões <strong>de</strong>limitadas pelos<br />

gráficos sejam iguais.<br />

Solução dos Problemas 1 e 2:<br />

A igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> áreas das duas regiões <strong>de</strong>limitadas pelos gráficos siginifica, pela<br />

Afirmação 3.1, que:<br />

x<br />

on<strong>de</strong> o limite <strong>de</strong> integração x é solução <strong>de</strong>:<br />

Mas pelo Segundo Teorema Fundamental:<br />

x<br />

0<br />

0<br />

0,6<br />

0,8<br />

(A·x+B ·x 3 −C)dx = 0,<br />

A·x+B ·x 3 −C = 0.<br />

(A·x+B ·x 3 −C)dx = A· x2<br />

2<br />

Ou seja, vemos que x satisfaz duas equações:<br />

A·x+B ·x 3 −C = 0 e A· x2<br />

2<br />

+B · x4<br />

4 −Cx<br />

+B · x4<br />

4<br />

−Cx = 0.<br />

A primeira dá C = A·x+B·x 3 , que po<strong>de</strong> ser substuído na segunda, dando a equação:<br />

x 2 ·(− A<br />

2<br />

Como certamente x = 0, então:<br />

on<strong>de</strong> lembre que A > 0 e B < 0.<br />

− 3B<br />

4 ·x2 ) = 0.<br />

x = 2·√ A<br />

√ 2 √ 3 √ −B ,


4. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 54, 1993. 342<br />

Agora<br />

2·<br />

C = A·(<br />

√ A 2·<br />

√ √ √ )+B ·(<br />

2 3 −B √ A<br />

√ √ √ )<br />

2 3 −B 3 =<br />

√ √ √<br />

A3 · 2 3<br />

=<br />

9 √ −B .<br />

No caso particular do Problema 1, on<strong>de</strong> A = 2 e B = −3 obtemos então<br />

Veja a Figura a seguir:<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0<br />

x = 2<br />

3<br />

0,2<br />

e C = 4<br />

9 .<br />

0,4<br />

x<br />

No Livro do Anton, Calculo v. 1, Exercício 40 da Seção 7.1, ele propõe uma<br />

variante <strong>de</strong>sse problema, o Problema 3. Porém como o gráfico não é mais <strong>de</strong> função<br />

polinomial a resposta não é exata, mas sim aproximada:<br />

Problema 3: A reta horizontal y = C, C > 0 corta y = sin(x), com x ∈ [0,π], em<br />

dois pontos.<br />

Encontre o valor <strong>de</strong> C que faz com que as áreas das duas regiões <strong>de</strong>limitadas pelos<br />

gráficos sejam iguais.<br />

Solução do Problema 3:<br />

Como antes, a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> áreas quer dizer:<br />

x<br />

Pelo Segundo Teorema do Cálculo:<br />

x<br />

0<br />

0<br />

0,6<br />

sin(x)−Cdx = 0.<br />

sin(x)−Cdx = (−cos(x)−Cx)−(−cos(0)−0) =<br />

= −cos(x)−Cx+1.<br />

0,8


CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 343<br />

Ou seja, x satisfaz as equações:<br />

−cos(x)−Cx+1 = 0 e sin(x)−C = 0.<br />

A segunda dá C = sin(x) que colocado na primeira dá:<br />

−cos(x)−sin(x)·x+1 = 0.<br />

Portanto preciso resolver esta equação e, <strong>de</strong> posse <strong>de</strong>sse resultado, basta fazer C =<br />

sin(x) para terminar o Problema.<br />

A solução que daremos <strong>de</strong>sta equação não será exata, mas sim aproximada. Pelo<br />

Método <strong>de</strong> Newton, que foi exposto no Capítulo 18, o resultado que se obtém é<br />

Veja a Figura a seguir:<br />

x ≈ 2,33112237 e C ≈ 0,7246113541.<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0 0,5 1<br />

1,5<br />

x<br />

2 2,5 3<br />

5. Integral e centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong><br />

Quando <strong>de</strong>screvemos o efeito da gravida<strong>de</strong> sobre objetos, fizemos, e o faremos<br />

mais algumas vezes neste Curso, a super simplificação <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar esses objetos<br />

como sendo pontos.<br />

Suponhamos, um pouquinho mais realisticamente, que o objeto tenha pelo menos<br />

dimensão 1ouseja, seja dadopor umintervalo [a,b] eque sua <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> ρ(x) <strong>de</strong>penda<br />

<strong>de</strong> cada ponto x ∈ [a,b].<br />

A massa do objeto [a,b] é então dada por:<br />

m =<br />

b<br />

a<br />

ρ(x)dx.<br />

A lei <strong>de</strong> Newton se expressa para [a,b] então como:<br />

F =<br />

b<br />

a<br />

ρ(x)dx·g =<br />

b<br />

a<br />

ρ(x)·gdx.<br />

Por outro lado, num objeto 1-dimensional do tipo [0,r] a gran<strong>de</strong>za interessante é<br />

o momento em torno <strong>de</strong> 0 produzido pela força gravitacional. Essa gran<strong>de</strong>za não


5. INTEGRAL E CENTRO DE GRAVIDADE 344<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> somente do peso concentrado numa região mas da distância <strong>de</strong>la até 0 (por<br />

isso é mais fácil abrir uma porta segurando pelo trinco do que junto da dobradiça).<br />

Para um ponto x ∈ [0,r] com massa mx o momento em torno <strong>de</strong> 0 é <strong>de</strong>finido<br />

como:<br />

mx ·g ·x.<br />

É natural, num objeto do tipo [0,r], <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> variável ρ(x), <strong>de</strong>finir o momento<br />

produzido pela gravida<strong>de</strong> por:<br />

M :=<br />

r<br />

0<br />

ρ(x)·g ·xdx,<br />

pois essa integral po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada limite <strong>de</strong> somas <strong>de</strong> Riemann do tipo:<br />

n<br />

ρ(xi)·g ·xi.<br />

i=1<br />

Quando fazemos a simplificação <strong>de</strong> pensar que o objeto não-pontual é pontual,<br />

estamos concentrando todos o efeito da gravida sobre um ponto x ∈ [0,r]. Ou seja,<br />

fazemos<br />

que significa:<br />

ou seja:<br />

Exemplos:<br />

r<br />

0<br />

M := F ·x,<br />

ρ(x)·g ·xdx =<br />

x =<br />

b<br />

a<br />

r<br />

0 ρ(x)·xdx<br />

b<br />

a<br />

ρ(x)dx .<br />

ρ(x)·gdx·x,<br />

• Se a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> ρ(x) ≡ ρ é constante para o objeto [0,r] então:<br />

x = ρ· r<br />

0 xdx<br />

ρ· r<br />

0<br />

dx =<br />

r 2<br />

2<br />

r<br />

= r<br />

2 ,<br />

que é o ponto médio <strong>de</strong> [0,r]. O Exercício 7.2 mostra que x = r<br />

2 po<strong>de</strong><br />

acontecer mesmo se ρ(x) não é constante.<br />

• Se <strong>de</strong>fino ρ(x) := C ·x então:<br />

x =<br />

r<br />

0 C ·x2 dx<br />

b<br />

a<br />

2<br />

=<br />

C ·xdx 3 ·r,<br />

ou seja, o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sloca do ponto médio para um ponto<br />

do comprimento r do segmento.<br />

situado a 2<br />

3<br />

Voltaremos a esses dois últimos exemplos na Seção 6.


CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 345<br />

6. Arquime<strong>de</strong>s e a parábola: prova versus heurística<br />

Na antiguida<strong>de</strong> se discutia o problema da quadradura <strong>de</strong> figuras planas. Ou seja,<br />

<strong>de</strong> obter figuras retangulares ou triangulares com a mesma área que uma figura curvada<br />

dada.<br />

Na Afirmação a seguir damos uma prova completamente automática (graças ao<br />

Teorema Fundamental do Cálculo) <strong>de</strong> um teorema <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s:<br />

Afirmação 6.1. Seja a parábola y = C ·x2 , com C > 0 e a reta y = a·x+b com<br />

a,b > 0. Sejam P1 := (x1,y1) e P2;= (x2,y2) os dois pontos <strong>de</strong> intersecção da reta<br />

com a parábola.<br />

Seja P3 = (x3,y3) ponto da parábola que tem reta tangente paralela ao segmento<br />

P1P2. Então a área do setor compreendido entre a reta e a parábola é 4 da área do 3<br />

Triângulo ∆P1P2P3.<br />

A Figura ilustra as hipóteses do Teorema:<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

0,5<br />

Demonstração.<br />

As coor<strong>de</strong>nadas x1,x2 são as soluções <strong>de</strong>:<br />

ou seja:<br />

1<br />

1 1,5 2<br />

x<br />

C ·x 2 −a·x1 −b = 0,<br />

x1 = a−√a 2 +4Cb<br />

2C<br />

O ponto P3 tem coor<strong>de</strong>nada x3 que verifica<br />

ou seja,<br />

Note que então<br />

x3 = x1 +x2<br />

2<br />

e<br />

2·C ·(x3) = a,<br />

P3 = ( a a<br />

C ·(<br />

2C 2C )2 ).<br />

e y3 = y1 +y2<br />

2<br />

a+ √ a2 +4Cb<br />

.<br />

2C<br />

− a2 +4·b·C<br />

.<br />

4C


6. ARQUIMEDES E A PARÁBOLA: PROVA VERSUS HEURÍSTICA 346<br />

Aáreadotriângulo∆P1P2P3 po<strong>de</strong>sercalculadacomo 1||D||on<strong>de</strong>D<br />

éo<strong>de</strong>terminante:<br />

2<br />

<br />

<br />

<br />

D = <br />

<br />

<br />

x1 y1 1<br />

x2 y2 1<br />

0 − a2 +4·b·C<br />

4C 0<br />

x1 y1 1<br />

x2 y2 1<br />

x3 y3 1<br />

Esse <strong>de</strong>terminante se calcula fácil, pois pela proprieda<strong>de</strong> do <strong>de</strong>terminante:<br />

<br />

<br />

x1 y1 1 <br />

<br />

x2 y2 1 <br />

<br />

x3 y3 1 =<br />

<br />

x1 y1 <br />

1<br />

x2 y2 <br />

1<br />

x3 − x1+x2<br />

y3 − 2 y1+y2 1− 2 1+1<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

2<br />

=<br />

<br />

<br />

<br />

= <br />

<br />

= (x1 −x2)· a2 +4·b·C<br />

= −<br />

4C<br />

(a2 +4Cb) 3<br />

2<br />

4C2 <strong>de</strong> on<strong>de</strong>:<br />

1<br />

2 ||D|| = (a2 +4Cb) 3<br />

2<br />

8C2 .<br />

Por outro lado a área compreendida entre a reta e a parábola é:<br />

O que queríamos.<br />

x2<br />

x1<br />

(a·x+b−C ·x 2 )dx = (a2 +4Cb) 3<br />

2<br />

6C 2 .<br />

A prova original <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s é totalmente diferente, lida com somas infinitas.<br />

Mas a gran<strong>de</strong> questão é:<br />

Como foi que ele imaginou, conjecturou, que existia essa relação tão precisa entre<br />

as duas áreas ?<br />

Isso é parte da heurística, a arte/ciência <strong>de</strong> se <strong>de</strong>scobrir candidatos a teoremas,<br />

ou seja, conjecturas razoáveis que <strong>de</strong>pois se prova rigorosamente.<br />

Um pouco da heurística <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> ser explicada se consi<strong>de</strong>ramos uma<br />

situação mais simples que a da Afirmação 6.1, mas claramente muito relacionada com<br />

ela.<br />

Imagine o triângulo ∆ formado pelos três pontos (0,0),(x,0),(x,C · x), on<strong>de</strong><br />

C > 0. Sua base é o segmento (0,0)(x,0), com ângulo reto em (x,0), e sua altura é<br />

C ·x. Denote<br />

x·C ·x<br />

A∆ =<br />

2<br />

sua área.<br />

E consi<strong>de</strong>re também o gráfico da parábola y = C ·x2 para x ∈ [0,x]. Denote por<br />

A a área da região sob o gráfico da parábola e acima do eixo dos x, para x ∈ [0,x]<br />

Vamos ver qual a heurística <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s para conjecturar que<br />

A = 2<br />

3 ·x·A∆ = 2 C ·x2<br />

·x·<br />

3 2<br />

C ·x3<br />

= .<br />

3


CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 347<br />

Ele pensa numa figura plana como sendo um objeto <strong>de</strong> espessura negligenciável,<br />

com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> constante (vamos supor = 1), para o qual o peso é proporcional à<br />

área. O intervalo [0,x] para ele é uma alavanca apoiada no (0,0) que sofre o efeito<br />

do peso do triângulo ∆. Sobre cada ponto x ∈ [0,x] há uma fatia (infinitamente fina)<br />

do triângulo, <strong>de</strong> peso C ·x·g. Dessa forma o momento relativo a (0,0) produzindo<br />

pelo peso da fatia acima <strong>de</strong> x ∈ [0,x] é:<br />

Mas obviamente vale a igualda<strong>de</strong><br />

x·(C ·x·g).<br />

x· (C ·x·g) = 1·(C ·x 2 ·g)<br />

eportantoomomentoproduzidopelafatia<strong>de</strong>∆sobrexéigualaomomentoproduzido<br />

pelo peso da fatia da parábola sobre x colocada a distância 1 da origem. Por exemplo<br />

na posição (−1,0) <strong>de</strong> uma alavanca [−1,1] que se apoia em 0.<br />

Como fatia por fatia estabelecemos uma igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> momentos, concluimos que<br />

o momento exercido pelo triângulo ∆ todo é igual ao <strong>de</strong> toda a região sob a parábola<br />

se fosse pendurada no ponto (−1,0). A alavanca ficaria assim em equilíbrio, veja a<br />

Figura:<br />

Mas Arquime<strong>de</strong>s sabia que, quando se trata do efeito da gravida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se substituir<br />

∆ todo por um ponto, pelo seu baricentro B.<br />

Como vimos na Seção 4 do Capítulo 7, o baricentro se encontra a 2 da distância 3<br />

entre o vértice e o ponto médio do lado oposto.<br />

Como consequência do Teorema <strong>de</strong> Tales, a projeção vertical <strong>de</strong> B no intervalo<br />

[0,x] é o ponto ( 2x<br />

,0): portanto po<strong>de</strong>mos pensar que todo o peso do triângulo é<br />

3<br />

exercido nesse ponto, produzindo um momento relativo a (0,0) da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

O<br />

2<br />

3 ·x·A∆ ·g.


7. EXERCÍCIOS 348<br />

O B<br />

Pelo equilíbrio da alavanca [−1,1] que já tinhamos obtido, concluimos que:<br />

ou seja:<br />

1·A·g = 2x<br />

3 ·A∆ ·g,<br />

A = 2<br />

3 ·x·A∆,<br />

como queríamos.<br />

Vejamos ainda <strong>de</strong> outro modo a heurística <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s.<br />

A área do triângulo e a área da região sob a parábola são, na nossa linguagem:<br />

A :=<br />

x<br />

0<br />

C ·x 2 dx e A∆ =<br />

x<br />

O que queremos enten<strong>de</strong>r é <strong>de</strong> on<strong>de</strong> saiu a conjectura:<br />

x<br />

0 C ·x2 dx<br />

Agora lembre, da Seção 5, que:<br />

x<br />

0<br />

x =<br />

2x<br />

=<br />

C ·xdx 3 .<br />

x<br />

0 C ·x2 dx<br />

x<br />

0<br />

C ·xdx<br />

0<br />

C ·xdx.<br />

é o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> do objeto unidimensional [0,x] cuja função <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> é<br />

ρ(x) := C ·x.<br />

Essa função ρ(x) associaria a cada ponto no intervalo [0,1] uma massa/peso correspon<strong>de</strong>nte<br />

à altura do segmento vertical sobre x que faz parte do triângulo ∆.<br />

Foi isso que Arquime<strong>de</strong>s fez !<br />

7. Exercícios<br />

Exercício 7.1. O seguinte caso particular do Teorema <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> ser feito<br />

sem dificulda<strong>de</strong>.<br />

Seja um parábola y = Cx 2 , C > 0 e a reta horizontal y = b, que a intersecta em<br />

dois pontos P1 e P2. Denote a origem por O = (0,0). Então a área da região abaixo<br />

da área do triângulo ∆P1OP2.<br />

da reta e acima da parábola é exatamente 4<br />

3<br />

Exercício 7.2. Consi<strong>de</strong>re um objeto 1-dimensional, que é um intervalo [0,r].<br />

Suponha que sua <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> é dada por ρ(x) = r ·x−x 2 .<br />

i) Mostre, calculando integrais, que o centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> x ainda é o ponto médio<br />

r<br />

2 .


CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 349<br />

ii) encontre uma explicação conceitual para i), que permitirá gerar outras funções<br />

ρ(x) para as quais ainda x = r<br />

2 .<br />

Exercício 7.3. Usando oSegundo Teorema Fundamental do Cáculo <strong>de</strong>termine aárea<br />

compreendida entre os gráficos <strong>de</strong> y = x3 e <strong>de</strong> y = x 1<br />

3.<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2<br />

x<br />

Obs. Nesse tipo <strong>de</strong> questão é preciso verificar on<strong>de</strong> os gráficos se intersectam e<br />

qual gráfico está por cima do outro.<br />

Exercício 7.4. (resolvido)<br />

Determine a área da região em forma <strong>de</strong> (meia) pétala compreendida entre o<br />

gráfico <strong>de</strong> y = 8x+2 e o gráfico <strong>de</strong> y = x 4 +2.<br />

Exercício 7.5. (resolvido)<br />

É um fato que para b = −2+√ 22<br />

3 ∼ 0,9 vale:<br />

b<br />

x−x<br />

0<br />

2 −x 3 dx = 0.<br />

Interprete isso geometricamente, como sendo equivalente a uma igualda<strong>de</strong> entre duas<br />

Áreas <strong>de</strong> duas regiões comprendidas entre gráficos <strong>de</strong> certas funções.<br />

Dica: po<strong>de</strong>s ser útil saber que √ 5 ∼ 2.2.<br />

Exercício 7.6. Através do Teorema Fundamental, <strong>de</strong>termine a área da região compreendida<br />

entre os gráficos <strong>de</strong> y = x 2 e y = −x 2 +8.<br />

Exercício 7.7. Encontre a reta y = a · x a<strong>de</strong>quada para que a área compreendida<br />

entre seu gráfico e o <strong>de</strong> y = x 2 seja exatamente 1. Dica: vá té o fim sem <strong>de</strong>terminar<br />

o a, ao final, peça que a área seja 1 e obtenha assim o a.<br />

Exercício 7.8. (resolvido)<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0<br />

0,5 1<br />

x<br />

1,5 2


7. EXERCÍCIOS 350<br />

Determine o valor a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> a para que a área da região comprendida entre os<br />

gráficos <strong>de</strong> y = x 4 e y = a seja exatamente A = 1.<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-1 -0,5 0<br />

x<br />

Exercício 7.9. A figura a seguir mostra os gráficos <strong>de</strong> y = x n , para n = 1,2,3,4,5,6,<br />

na região x ∈ [0,1].<br />

i) na região x ∈ [0,1] o gráfico <strong>de</strong> y = x n está por cima ou por baixo do <strong>de</strong><br />

y = x n+1 ?<br />

ii) Determine para qual n a região compreendida entre os gráficos <strong>de</strong> y = x n e<br />

y = x n+1 tem área exatamente igual a 1<br />

12 .<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

0,2<br />

0,4 0,6<br />

x<br />

Exercício 7.10. A figura a seguir mostra os gráficos <strong>de</strong> y = x n − x n+1 , para n =<br />

1,2,3,4, x ∈ [0,1]. Determine para qual n a região sob o gráfico <strong>de</strong> y = x n −x n+1<br />

tem área 1<br />

20 .<br />

0,25<br />

0,2<br />

0,15<br />

0,1<br />

0,05<br />

0<br />

0<br />

0,2<br />

0,4 0,6<br />

x<br />

Exercício 7.11. A figura a seguir mostra os gráficos <strong>de</strong> y = fn(x) := x n −x 2n , para<br />

n = 1,2,3,4, no domínio x ∈ [0,1] (que se parecem com chicotes):<br />

0,25<br />

0,2<br />

0,15<br />

0,1<br />

0,05<br />

0<br />

0 0,2<br />

0,5<br />

0,8<br />

0,8<br />

0,4 0,6 0,8<br />

x<br />

i) Calcule f ′ n (x), ∀n ∈ N.<br />

ii) Determine a equação y = ax+b da reta tangente ao gráfico <strong>de</strong> fn(x) no ponto<br />

(1,0).<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1


CAPÍTULO 23. SEGUNDO TEOREMA FUNDAMENTAL E ÁREAS 351<br />

iii) Explique o que acontece com os coeficientes angulares das retas <strong>de</strong> ii), quando<br />

n cresce.<br />

iv) Se vê que cada y = fn(x) tem um ponto <strong>de</strong> máximo em seu domínio [0,1].<br />

Determine-o (claro <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> n).<br />

v) todas as fn valem o mesmo nos seus pontos <strong>de</strong> máximo, quanto ?<br />

vi) Determine a área An da região sob o gráfico <strong>de</strong> y = fn(x) = x n −x 2n , <strong>de</strong> x = 0<br />

até x = 1.<br />

vii) A quanto ten<strong>de</strong>m essas áreas quando n aumenta? Ou seja, qual o<br />

lim<br />

n→+∞ An ?<br />

Exercício 7.12. A figura a seguir mostra os gráficos <strong>de</strong> y = fn(x) := x−x 2n+1 , para<br />

n = 3,6,10,50, x ∈ [0,1]:<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0<br />

0,2 0,4 0,6 0,8 1<br />

x<br />

i) Calcule f ′ n(x), ∀n ∈ N.<br />

ii) Determine as equações y = ax+b das retas tangentes ao gráfico <strong>de</strong> fn(x) no<br />

ponto (0,0), ∀n.<br />

iii) Determine as equações y = ax+b das retas tangentes ao gráfico <strong>de</strong> fn(x) no<br />

ponto (1,0), ∀n.<br />

iv) O que acontece com as retas dos itens ii) e iii), quando n → +∞ ?<br />

v) Se vê que cada y = fn(x) tem um ponto <strong>de</strong> máximo em [0,1]. Determine-o<br />

(<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> n).<br />

vi) Determine a área An da região sob o gráfico <strong>de</strong> y = fn(x) = x − x 2n+1 , <strong>de</strong><br />

x = 0 até x = 1.<br />

vii) O que acontece com An quando n → +∞, ou seja, existe o limn→+∞An ? Se<br />

existe quanto é ?


CAPíTULO 24<br />

Integração por partes<br />

Vamos explicar agora uma técnica útil para encontrar primitivas <strong>de</strong> funções e<br />

expressá-las concretamente como funções.<br />

Lembro primeiro que criamos uma função completamente nova ao fazermos<br />

ln(x) :=<br />

x<br />

1<br />

1<br />

x dx.<br />

Uma pergunta natural é: será criamos algo radicalmente novo se fazemos x<br />

a ln(x)dx<br />

ou essa x<br />

ln(x)dx se po<strong>de</strong> expressar através <strong>de</strong> funções conhecidas ?<br />

a<br />

Veremos que sim, se po<strong>de</strong> expressar através <strong>de</strong> funções conhecidas, <strong>de</strong> fato:<br />

x<br />

a<br />

ln(x)dx = xln(x)−x+C.<br />

Verificamos facilmente que (xln(x)−x+C) ′ = ln(x).<br />

Mas como chegamos numa primitiva <strong>de</strong>ssas? Há alguma técnica ? O Teorema<br />

a seguir dá uma técnica útil, embora à primeira vista não pareça, para encontrar<br />

primitivas:<br />

Teorema 0.1. Sejam f e g <strong>de</strong>finidas num intervalo, com f ′ e g ′ funções contínuas.<br />

Então x<br />

a f′ (x)·g(x)dx = x<br />

a f(x)·g(x)dx− x<br />

a f(x)·g′ (x)dx.<br />

Demonstração.<br />

Note que ( x<br />

a (f(x)·g(x))′ dx) ′ (x) = (f(x)·g(x)) ′ (x) pelo Primeeiro Teorema Fundamental<br />

do Cálculo.<br />

Logo x<br />

a (f(x)·g(x))′ dx = f(x)·g(x)+C pelo Teorema Fundamnal da Equações<br />

Diferenciais.<br />

Mas pela <strong>de</strong>rivado do produto:<br />

(f(x)·g(x)) ′ = f ′ (x)·g(x)+f(x)·g ′ (x).<br />

Logo pelas proprieda<strong>de</strong>s aditivas da integral:<br />

e portanto:<br />

x<br />

a<br />

x<br />

a<br />

(f(x)·g(x)) ′ dx =<br />

=<br />

x<br />

a<br />

x<br />

(f<br />

a<br />

′ (x)·g(x)+f(x)·g ′ (x))dx =<br />

x<br />

f ′ (x)·g(x)dx+<br />

f ′ (x)·g(x)dx = f(x)·g(x)−<br />

353<br />

a<br />

f(x)·g ′ (x)dx<br />

x<br />

a<br />

f(x)·g ′ (x)dx+C


como queríamos <br />

Vamos aplicá-lo nos exemplos a seguir, on<strong>de</strong> se vê que<br />

• cuidado ao escolher quem fará o papel <strong>de</strong> f ′ e quem será g<br />

• po<strong>de</strong> ser preciso usá-lo mais <strong>de</strong> uma vez<br />

Exemplo 0.1. i) ln(x)dx:<br />

<br />

1ln(x)<br />

<br />

f ′ <br />

dx = xln(x) −<br />

<br />

g fg<br />

ii) xln(x)dx:<br />

iii) ln(x)<br />

x dx:<br />

Logo:<br />

ou seja<br />

<br />

= xln(x)−x+C.<br />

xln(x)<br />

<br />

f ′ dx =<br />

g<br />

x2<br />

2 ln(x)<br />

<br />

fg<br />

= x2<br />

2<br />

x 1<br />

x<br />

<br />

fg ′<br />

2 x<br />

−<br />

ln(x)− x2<br />

4 +C.<br />

<br />

1<br />

x ln(x)<br />

<br />

f ′ <br />

dx = ln(x)ln(x) −<br />

<br />

fg<br />

g<br />

2·<br />

2<br />

1<br />

x<br />

<br />

fg ′<br />

ln(x)<br />

x dx = ln2 (x)+C<br />

ln(x)<br />

x dx = ln2 (x)<br />

2 +C,<br />

dx =<br />

dx =<br />

ln(x) 1<br />

x<br />

fg ′<br />

( 1<br />

2 ·C é outra constante, mas que sigo chamando <strong>de</strong> C). iv) ln(x)<br />

x2 dx:<br />

<br />

1<br />

ln(x)<br />

x2 <br />

f ′ dx =<br />

g<br />

−1<br />

x ln(x)<br />

<br />

−11<br />

−<br />

x x<br />

fg fg ′<br />

dx =<br />

= −ln(x)<br />

<br />

1<br />

+<br />

x x2dx =<br />

= −ln(x)<br />

−<br />

x<br />

1<br />

x +C.<br />

v) cos2 (x)dx:<br />

<br />

cos(x)cos(x)<br />

<br />

f ′ <br />

dx = sin(x)cos(x) −<br />

<br />

sin(x)(−sin(x))<br />

<br />

g<br />

fg<br />

fg ′<br />

dx =<br />

dx.<br />

354


CAPÍTULO 24. INTEGRAÇÃO POR PARTES 355<br />

Logo<br />

e portanto:<br />

Logo<br />

<br />

3·<br />

vi) cos 3 (x)dx:<br />

<br />

e portanto:<br />

<br />

= sin(x)cos(x)+ sin 2 (x)dx =<br />

<br />

= sin(x)cos(x)+ (1−cos 2 (x))dx =<br />

<br />

= sin(x)cos(x)+x+C − cos 2 (x)dx.<br />

<br />

2·<br />

<br />

cos 2 (x)dx = sin(x)cos(x)+x+C<br />

cos 2 (x)dx = sin(x)cos(x)+x<br />

2<br />

+C.<br />

cos(x)cos 2 (x)<br />

<br />

f ′ dx = sin(x)cos<br />

g<br />

2 <br />

(x) −<br />

<br />

sin(x)(−2cos(x)sin(x))<br />

<br />

fg<br />

fg ′<br />

dx =<br />

= sin(x)cos 2 <br />

(x)+2 sin 2 (x)cos(x)dx =<br />

= sin(x)cos 2 <br />

(x)+2 (1−cos 2 (x))·cos(x)dx =<br />

= sin(x)cos 2 <br />

(x)+2 cos(x)dx−2 cos 3 (x)dx.<br />

cos 3 (x)dx = sin(x)cos 2 <br />

(x)+2<br />

<br />

cos 3 (x)dx = sin(x)cos2 (x)+2sin(x)<br />

3<br />

cos(x)dx = sin(x)cos 2 (x)+2sin(x)+C,<br />

+C.<br />

vii) x2cos(bx)dx: <br />

cos(bx)x 2<br />

<br />

f ′ dx =<br />

g<br />

sin(bx)<br />

x<br />

b<br />

2<br />

<br />

sin(bx)<br />

− 2x<br />

b<br />

<br />

fg fg ′<br />

dx =<br />

= sin(bx)<br />

x<br />

b<br />

2 − 2<br />

<br />

sin(bx)x =<br />

b<br />

sin(bx)<br />

x<br />

b<br />

2 − 2<br />

<br />

sin(bx)·x<br />

b <br />

F ′ dx =<br />

G<br />

= sin(bx)<br />

x<br />

b<br />

2 − 2<br />

b [−cos(bx)<br />

<br />

·x − −<br />

b<br />

<br />

FG<br />

cos(bx)<br />

·1<br />

b <br />

F ′ dx =] =<br />

G


1. EXERCÍCIOS 356<br />

= sin(bx)<br />

x<br />

b<br />

2 + 2 2<br />

cos(bx)·x− sin(bx)+C.<br />

b2 b3 viii) eaxcos(bx)dx: <br />

cos(bx)e ax<br />

<br />

f ′ dx =<br />

g<br />

sin(bx)<br />

e<br />

b<br />

ax<br />

<br />

sin(bx)<br />

− ae<br />

b<br />

fg<br />

ax<br />

<br />

fg ′<br />

dx =<br />

= sin(bx)<br />

e<br />

b<br />

ax − a<br />

<br />

sin(bx)e<br />

b<br />

ax<br />

<br />

F ′ dx =<br />

G<br />

= sin(bx)<br />

e<br />

b<br />

ax − a<br />

b [−cos(bx) e<br />

b<br />

ax<br />

<br />

−cos(bx)<br />

− ae<br />

b<br />

FG<br />

ax<br />

<br />

FG ′<br />

].<br />

Logo<br />

(1+ a2<br />

b2)· <br />

cos(bx)e ax dx = sin(bx)eax<br />

+<br />

b<br />

a<br />

b2 cos(bx)eax +C<br />

e <br />

cos(bx)e ax dx = 1<br />

1+ a2<br />

b2 ( sin(bx)eax<br />

+<br />

b<br />

a<br />

b2 cos(bx)eax )+C.<br />

1. Exercícios<br />

Exercício 1.1. Dê um argumento para provar que ∀n ∈ N:<br />

π<br />

−π<br />

sem fazer contas !<br />

Integrando por partes, prove que:<br />

π<br />

−π<br />

t·cos(nt)dt = 0<br />

t·sin(nt)dt = (−1) n+1 · 2·π<br />

n ,<br />

Exercício 1.2.<br />

i) verifique que se x ∈ [0, π]<br />

então 2<br />

x ≥ xsin(x) ≥ 0.<br />

ii) Usando integração por partes e o segundo teorema fundamental, calcule a área<br />

da região compreendida entre os gráficos <strong>de</strong> y = x e <strong>de</strong> y = xsin(x) <strong>de</strong> x = 0 até<br />

, mostrada na figura a seguir:<br />

x = π<br />

2<br />

1,6<br />

1,2<br />

0,8<br />

0,4<br />

0<br />

0 0,2<br />

0,4 0,6 0,8 1<br />

x<br />

1,2 1,4


CAPÍTULO 24. INTEGRAÇÃO POR PARTES 357<br />

Exercício 1.3.<br />

Se f ′ (x) = x 2 ·ln(x) e a<strong>de</strong>mais f(e) = 0, qual é a f(x) ?<br />

Exercício 1.4. Prove que:<br />

π<br />

0<br />

sin 2n+1 (θ)dθ = 2n<br />

2n+1 ·<br />

π<br />

0<br />

sin 2n−1 (θ)dθ.


CAPíTULO 25<br />

Integração por substituição<br />

Suponha uma f : J → R contínua e uma g : I → J contínua também. A variável<br />

do domínio <strong>de</strong> f será u, f = f(u), e no domínio <strong>de</strong> g será x, g = g(x).<br />

Como g(I) ⊂ J, então u = g(x) e faz sentido a composição <strong>de</strong> funções f(g(x)).<br />

Note que em geral:<br />

b<br />

a<br />

f(g(x))dx =<br />

g(b)<br />

g(a)<br />

Por exemplo, se f(u) = u e u = g(x) = x 2 então:<br />

b 3 −a 3<br />

b<br />

b 2<br />

f(u)du.<br />

3<br />

=<br />

a<br />

x 2 dx =<br />

a2 udu = b4 −a4 2<br />

O que precisamos para corrigir esse erro é dado pelo seguinte Teorema:<br />

Teorema 0.1. Seja f : J → R contínua e g : I → J <strong>de</strong>rivável, u = g(x) com g ′ (x)<br />

contínua. Então:<br />

• faz sentido a composição f(g(x)),<br />

• f(g(x))g ′ (x) é integrável e <strong>de</strong> fato<br />

b<br />

a<br />

f(g(x))g ′ (x)dx =<br />

g(b)<br />

g(a)<br />

f(u)du.<br />

Supondo por um momento esse resultado, corrigimos o erro anterior:<br />

b<br />

b 2<br />

2( b4 −a4 ) =<br />

4 a<br />

x 2 2xdx =<br />

a2 udu = b4 −a4 .<br />

2<br />

O Teorema 0.1<br />

b<br />

f(g(x)) g<br />

a<br />

′ (x)dx<br />

=<br />

g(b)<br />

f(u) du<br />

g(a)<br />

.<br />

sugere uma notação:<br />

du = g ′ (x)dx,<br />

que sugere por sua vez, para u = g(x), a notação:<br />

du<br />

dx = g′ (x).<br />

O lado esquerdo du<br />

é o modo como Leibniz se referia à <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> u = g(x),<br />

dx<br />

que na notação do Newton é g ′ (x). Ou seja, a última expressão que escrevemos<br />

correspon<strong>de</strong> a dois modos <strong>de</strong> se escrever a mesma coisa.<br />

359


Demonstração. (do Teorema 0.1)<br />

Note que pelo Segundo Teorema do Cálculo:<br />

g(b)<br />

g(a)<br />

f(u)du = F(g(b))−F(g(a)),<br />

on<strong>de</strong> F(u) é uma primitiva <strong>de</strong> f(u). Mas por outro lado, pela regra da composta:<br />

(F(g(x))) ′ = F ′ (g(x))g ′ (x) = f(g(x))g ′ (x)<br />

ou seja que F(g(x)) é primitiva da função:<br />

f(g(x))g ′ (x).<br />

Portanto se aplico o Segundo Teorema para calcular<br />

tenho b<br />

Logo<br />

a<br />

b<br />

a<br />

f(g(x))g ′ (x)dx<br />

f(g(x))g ′ (x)du = F(g(b))−F(g(a)).<br />

g(b)<br />

g(a)<br />

f(u)du =<br />

b<br />

a<br />

f(g(x))g ′ (x)dx.<br />

Exemplo 0.1. Vamos provar aqui que a área sob o gráfico <strong>de</strong> 2ln(x)<br />

x , <strong>de</strong> x = 1 até<br />

x = e := exp(1) vale exatamente 1.<br />

Ou seja, que e<br />

2ln(x)<br />

dx = 1.<br />

1 x<br />

Faço u = ln(x), du = 1 dx e acerto os liitesd e integração:<br />

e<br />

1<br />

x<br />

2ln(x)<br />

x<br />

dx =<br />

1<br />

0<br />

2udu = 2[ u2<br />

2<br />

u2<br />

(1)− (0)] = 1.<br />

2<br />

Vamos ver como a linguagem da Integração por Substituição se aplicaria pra<br />

encontrar algumas primitivas.<br />

Exemplo 0.2. Por exemplo, para começar, primitivas <strong>de</strong><br />

sin(x)·cos(x).<br />

Deixando <strong>de</strong> lado os limites <strong>de</strong> integração estamos <strong>de</strong>ixando livre a escolha da constante<br />

C. Portanto com:<br />

temos pelo Teorema 0.1: <br />

u = sin(x), du = cos(x)dx<br />

<br />

sin(x)·cos(x)dx = udu =<br />

360


CAPÍTULO 25. INTEGRAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO 361<br />

= u2<br />

2<br />

+C =<br />

= sin2 (x)<br />

+C.<br />

2<br />

Se quisermos <strong>de</strong>stacar os limites <strong>de</strong> integração então faremos:<br />

b<br />

Exemplo 0.3. Agora primitivas <strong>de</strong><br />

a<br />

sin(x)·cos(x)dx =<br />

sin(b)<br />

sin(a)<br />

= sin2 (b)<br />

2 − sin2 (a)<br />

.<br />

2<br />

sin n (x)·cos(x), n ∈ N.<br />

Sem nos fixarmos em limites <strong>de</strong> integração. com:<br />

temos pelo Teorema 0.1: <br />

u = sin(x), du = cos(x)dx<br />

sin n <br />

(x)·cos(x)dx =<br />

= un+1<br />

+C =<br />

n+1<br />

= sinn+1 (x)<br />

n+1 +C.<br />

Se atentamos aos limites <strong>de</strong> integração:<br />

b<br />

a<br />

sin n (x)cos(x)dx =<br />

sin(b)<br />

sin(a)<br />

= sinn+1 (b)<br />

n+1 − sinn+1 (a)<br />

n+1 .<br />

Exemplo 0.4. Agora quero as primitivas <strong>de</strong><br />

Para isso faço<br />

e portanto pelo Teorema 0.1:<br />

<br />

4x 3 +4x<br />

x 4 +2x 2 +1 .<br />

udu =<br />

u n du =<br />

u n du =<br />

u = x 4 +2x 2 +1, du = (4x 3 +4x)dx<br />

4x3 +4x<br />

x4 +2x2 dx =<br />

+1<br />

= ln(u)+C =<br />

<br />

1<br />

du =<br />

u<br />

= ln(x 4 +2x 2 +1)+C.


1. A SUBSTITUIÇÃO TRIGONOMÉTRICA X = SIN(θ) 362<br />

Exemplo 0.5.<br />

Faço<br />

<br />

x 3 · √ x−5dx, x−5 > 0.<br />

u = x−5, du = dx<br />

e escrevo x3 = (u+5) 3 . Daí:<br />

<br />

x 3 · √ <br />

x−5dx =<br />

Exemplo 0.6.<br />

Faço<br />

logo<br />

<br />

=<br />

(u+5) 3 u 1<br />

2 du =<br />

(u 3 +15u 2 +75u+125)u 1<br />

2 du =<br />

= u 7<br />

2 +15u 5<br />

2 +75u 3<br />

2 +125u 1<br />

2 du =<br />

= 2<br />

9 u9 2 + 30<br />

7 u7 2 +30u 5<br />

2 + 250<br />

3 u3 2 +C =<br />

= 2<br />

9 (x−5)9 2 + 30<br />

7 (x−5)7 2 +30(x−5) 5<br />

2 + 250<br />

3 (x−5)3 2 +C.<br />

<br />

<br />

1<br />

√ xe √ x dx, x > 0.<br />

u = √ x, du = 1<br />

2 √ x ,<br />

<br />

1<br />

√ √ dx =<br />

xe x<br />

e −u 2du =<br />

= 2(−e −u )+C = −2 1<br />

e √ x +C.<br />

1. A substituição trigonométrica x = sin(θ)<br />

A integral por substituição que quero tratar agora é (r > 0):<br />

x = r ·sin(θ) ou seja θ = arcsin( x<br />

r ),<br />

para<br />

− π π<br />

< θ < e −1 <<br />

2 2<br />

x<br />

< 1.<br />

r<br />

O primeiro uso <strong>de</strong>la é obter <strong>de</strong> novo que:<br />

<br />

1<br />

√ dx =<br />

1−x 2<br />

=<br />

<br />

1<br />

1−sin 2 (θ) cos(θ)dθ =<br />

<br />

cos(θ)<br />

dθ = θ +C = arcsin(x)+C.<br />

cos(θ)


CAPÍTULO 25. INTEGRAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO 363<br />

2. Áreas do Círculo e Elipse<br />

Até aqui usamos as substituições u = g(x) e du = g ′ (x)dx para simplificar a expressão<br />

queestamos integrando. Aseguir usamosoTeorema 0.1<strong>de</strong> umjeitodiferente,<br />

que parece complicar o integrando: mas no final tudo acaba bem !<br />

Por ter sido <strong>de</strong>monstrado há tanto tempo por Arquime<strong>de</strong>s que a área do círculo<br />

<strong>de</strong> raio r é πr2 , acabamos por trivializar esse fato notável.<br />

Vejamos o que dá se tento calcular a área do Círculo usando integrais/primitivas.<br />

Vamos fazer o seguinte, vamos calcular primeiro a área <strong>de</strong> um quarto <strong>de</strong> Círculo<br />

<strong>de</strong> raio r, aquele que fica no primero quadrante e multiplicar <strong>de</strong>pois o resultado por<br />

4.<br />

A área do Círculo no primeiro quadrante é a área sob o gráfico <strong>de</strong> y = f(x) =<br />

+ √ r2 −x2 , para x ∈ [0,r]. Quero calcular portanto:<br />

r √<br />

r2 −x2dx. Faço a substituição:<br />

0<br />

x = rsin(θ).<br />

Pelo Teorema 0.1 acima tenho que calcular:<br />

π<br />

2<br />

0<br />

Ora como na região 0 ≤ θ ≤ π<br />

2<br />

então escrevo:<br />

π<br />

2<br />

0<br />

<br />

r 2 −r 2 sin 2 (θ) ·rcos(θ) dθ =<br />

<br />

r 2 −r 2 sin 2 (θ)·rcos(θ)dθ = r 2<br />

r=rsin( π<br />

2 )<br />

0=rsin(0)<br />

temos cos(θ) ≥ 0 posso dizer que:<br />

<br />

cos(θ) = 1−sin 2 (θ)<br />

= r 2<br />

Já fizemos no Capítulo 24 a integral: <br />

π<br />

2<br />

e obtivemos como primitiva 1 <strong>de</strong> cos 2 (θ):<br />

0<br />

π<br />

2<br />

0<br />

cos 2 (θ)dθ.<br />

cos 2 (θ)dθ<br />

sin(θ)cos(θ)+θ<br />

.<br />

2<br />

√ r 2 −x 2 dx.<br />

<br />

1−sin 2 (θ)·cos(θ)dθ =<br />

1 Outra opção para continuar seria usar a fórmula trigonométrica: cos 2 (θ) = 1+cos(2θ)<br />

2 e <strong>de</strong>pois<br />

uma primitiva <strong>de</strong> 1+cos(2θ)<br />

2 , que é naturalmente<br />

θ sin(2θ)<br />

+<br />

2 4<br />

= sin(θ)cos(θ)+θ<br />

.<br />

2


2. ÁREAS DO CÍRCULO E ELIPSE 364<br />

Logo o Segundo Teorema do Cálculo dá:<br />

π<br />

2<br />

0<br />

cos 2 (θ)dθ = ( sin(θ)cos(θ)+θ<br />

)(<br />

2<br />

π<br />

2 )−(sin(θ)cos(θ)+θ<br />

2<br />

)(0) =<br />

= π<br />

4 .<br />

Logo a área do setor no primeiro quadrante é π<br />

4 r2 e a área do círculo é πr 2 .<br />

É claro que po<strong>de</strong>mosinverter a questão e, supondo que sabemos a área <strong>de</strong> círculos,<br />

usar isso para calcular integrais.<br />

Por exemplo, para r > 0 e r2 −x4 > 0, vamos provar que<br />

√ r√<br />

r2 −x4 ·xdx.<br />

π = 8<br />

·<br />

r2 0<br />

De fato fazendo u = x 2 , du = 2xdx e acertando os limites <strong>de</strong> integração temos:<br />

pois r<br />

0<br />

√ r 2 −u 2 du é área <strong>de</strong> 1<br />

4<br />

√ r√<br />

r<br />

r2 −x4 ·xdx =<br />

0<br />

0<br />

= 1 1<br />

·<br />

2 4 ·πr2 ,<br />

<strong>de</strong> Círculo <strong>de</strong> raio r.<br />

√ r 2 −u 2 du<br />

2 =<br />

Agora mostro que uma pequena adaptação do que fizemos para calcular a área do<br />

círculo nos dá a área <strong>de</strong> Elipses.<br />

Consi<strong>de</strong>re a Elipse x2<br />

a 2 + y2<br />

b 2 = 1.<br />

Vamos primeiro consi<strong>de</strong>rar 1<br />

4<br />

<br />

b 2 (1− x2<br />

a 2), com x ∈ [0,a].<br />

Então quero calcular:<br />

e o farei com a substituição:<br />

que nos dá:<br />

a<br />

0<br />

<br />

a<br />

0<br />

<strong>de</strong> sua área, que é a área sob o gráfico <strong>de</strong> y =<br />

<br />

b 2 (1− x2<br />

a 2)dx<br />

x = asin(u), dx = acos(u)du,<br />

b2 (1− x2<br />

a2)dx =<br />

Mas pelo que já vimos acima:<br />

= ab<br />

π<br />

2<br />

0<br />

π<br />

2<br />

0<br />

π<br />

2<br />

0<br />

<br />

b 2 (1−sin 2 (u))acos(u)du =<br />

cos 2 (u)du.<br />

cos 2 (u)du = π<br />

4


CAPÍTULO 25. INTEGRAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO 365<br />

e portanto<br />

a<br />

0<br />

<br />

b2 (1− x2 π<br />

a2)dx = ab<br />

4 .<br />

Logo a área toda da elipse x2<br />

a 2 + y2<br />

b 2 = 1 é πab.<br />

Quando b = a temos um círculo x 2 +y 2 = a 2 , cuja área é πa 2 .<br />

então:<br />

Note que se<br />

3. √ r 2 −x 2 dx<br />

x = rsin(θ) e θ = arcsin( x<br />

r ),<br />

sin(θ)cos(θ)+θ<br />

=<br />

2<br />

1<br />

2 ·[x<br />

r ·cos(arcsin(x<br />

r ))+arcsin(x)]<br />

=<br />

r<br />

= 1<br />

2 ·[x<br />

r ·<br />

√<br />

r2 −x2 +arcsin(<br />

r<br />

x<br />

r )],<br />

on<strong>de</strong> a última igualda<strong>de</strong> fica clara se usarmos a Figura a seguir:<br />

θ<br />

r<br />

2 2<br />

r − x<br />

Ou seja, pelo que fizemos na Seção anterior:<br />

<br />

√r r 2 −x2 dx = 2<br />

2<br />

x<br />

·[ x<br />

r 2 ·√ r 2 −x 2 +arcsin( x<br />

r )]+C<br />

ou finalmente √r 2 −x 2 dx = 1<br />

2 ·[x·√ r 2 −x 2 +r 2 arcsin( x<br />

r )]+C.<br />

4. Mais exemplos da substituição x = sin(θ)<br />

Na integral a seguir note que faço a substituição<br />

x<br />

= sin(θ)<br />

3<br />

para ter:<br />

<br />

x2 <br />

x<br />

√ dx =<br />

9−x 2 2<br />

<br />

x 9·(1−( 3 )2 1<br />

dx =<br />

) 3 ·<br />

<br />

x2 = 1<br />

<br />

9·sin<br />

3<br />

2 <br />

(θ)<br />

·3cos(θ)dθ = 9· sin<br />

2<br />

(1−sin (θ)) 2 (θ)dθ<br />

dx = x 1−( )2<br />

3


4. MAIS EXEMPLOS DA SUBSTITUIÇÃO X = SIN(θ) 366<br />

e esta última integral sabemos fazê-la: seja pelo método por partes do Capítulo 24<br />

ou usando a relação trigonométrica:<br />

Sai então:<br />

<br />

x2 √ dx = 9·(θ<br />

9−x 2 2<br />

Na integral a seguir, faço<br />

para ter:<br />

<br />

sin 2 (θ) = 1−cos(2θ)<br />

.<br />

2<br />

sin(2θ)<br />

− )+C = 9·(<br />

4<br />

θ<br />

2<br />

= 9·( arcsin(x 3 )<br />

−<br />

2<br />

1 x<br />

·<br />

2 3 ·<br />

√<br />

9−x 2<br />

)+C.<br />

3<br />

x3 <br />

√ dx =<br />

1−x 2<br />

<br />

=<br />

sin 3 <br />

(θ)dθ =<br />

<br />

= (1−cos 2 <br />

(θ))·sin(θ)dθ =<br />

= −(1−x 2 ) 1<br />

x = sin(θ)<br />

sin 3 (x)<br />

1−sin 2 (θ) cos(θ)dθ =<br />

sin 2 (θ)·sin(θ)dθ =<br />

<br />

sin(θ)θ+<br />

= −cos(θ)+ cos3 (θ)<br />

3<br />

2 + (1−x2 ) 3<br />

2<br />

3<br />

+C =<br />

sin(θ)cos(θ)<br />

− )+C =<br />

2<br />

cos 2 (θ))·(−sin(θ))dθ =<br />

= √ 1−x 2 ·(−1+ 1−x2<br />

)+C.<br />

3<br />

Agora faremos a próxima integral com a substituição x = 3·sin(θ):<br />

<br />

1<br />

x2 · √ <br />

1<br />

dx =<br />

9−x 2 9sin2 (θ)· 9−9sin2 3cos(θ)dθ =<br />

(θ)<br />

= 1<br />

9 ·<br />

<br />

= 1<br />

9 ·<br />

<br />

1<br />

sin 2 dθ =<br />

(θ)<br />

csc 2 (θ)dθ =<br />

= − 1<br />

·cot(θ)+C = −1<br />

9 9 ·<br />

√<br />

9−x 2<br />

+C.<br />

x


CAPÍTULO 25. INTEGRAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO 367<br />

para:<br />

A substituição<br />

permite reobter: <br />

5. Substituição trigonométrica x = tan(θ)<br />

x = tan(θ) ou θ = arctan(x),<br />

− π π<br />

< θ < e x ∈ R,<br />

2 2<br />

1<br />

x2 <br />

1<br />

dx =<br />

+1 tan2 (θ)+1 sec2 (θ)dθ =<br />

<br />

= dθ = θ +C = arctan(x)+C.<br />

6. Mais exemplos da substituição x = tan(θ)<br />

As integrais do tipo <br />

po<strong>de</strong>m ser feitas com a substituição 2 :<br />

x<br />

√ 1+x 2 dx<br />

x = tan(θ), dx = sec 2 (θ)dθ.<br />

Como <br />

1+tan 2 (θ) = sec 2 (θ) = sec(θ), se− π<br />

2<br />

então <br />

x tan(x)<br />

√ dx =<br />

1+x 2 sec(θ) sec2 (θ)du =<br />

<br />

= tan(θ)sec(θ)du = sec(θ)+C =<br />

= sec(arctan(x))+C = √ 1+x 2 +C,<br />

on<strong>de</strong> a última igualda<strong>de</strong> fica clara se usarmos a Figura a seguir:<br />

As integrais do tipo <br />

são um bom exemplo da substituição:<br />

θ<br />

1 x 2 +<br />

1<br />

1<br />

√ 1+x 2 dx<br />

x = tan(θ), dx = sec 2 (θ)dθ.<br />

x<br />

< θ < π<br />

2<br />

2 Apesar <strong>de</strong> que a substituição u = 1+x 2 e du = 2xdx dá o resultado imediatamente


6. MAIS EXEMPLOS DA SUBSTITUIÇÃO X = TAN(θ) 368<br />

Como<br />

então<br />

<br />

1+tan 2 (θ) = sec 2 (θ) = sec(θ), se− π<br />

2<br />

<br />

<br />

1<br />

√ dx =<br />

1+x 2<br />

<br />

=<br />

1<br />

sec(θ) sec2 (θ)du =<br />

sec(θ)du.<br />

Só que agora somos obrigados a saber fazer esta última integral.<br />

Para isso vamos fazer uns pequenos malabarismos 3 :<br />

<br />

<br />

=<br />

<br />

sec(u)du :=<br />

1<br />

du =<br />

cos(u)<br />

1+sin(u)<br />

du =<br />

cos(u)(1+sin(u))<br />

2 2 sin (u)+cos (u)+sin(u)<br />

=<br />

du =<br />

cos(u)(1+sin(u))<br />

<br />

cos(u) sin(u)<br />

= + du =<br />

1+sin(u) cos(u)<br />

<br />

cos(u)<br />

=<br />

1+sin(u) du−<br />

<br />

−sin(u)<br />

du ==<br />

cos(u)<br />

= ln|1+sin(u)|−ln| cos(u)|+C =<br />

= ln| 1+sin(u)<br />

cos(u)<br />

|+C =<br />

=: ln| sec(u)+tan(u)|+C.<br />

< θ < π<br />

2<br />

Finalmente então po<strong>de</strong>mos completar a integração anterior:<br />

<br />

1<br />

√ dx = ln| sec(θ)+tan(θ)|+C =<br />

1+x 2<br />

= ln| sec(arctan(x))+tan(arctan(x))|+C = ln( √ x 2 +1+x)+C.<br />

3 Adaptando esses passos se prova também que<br />

<br />

csc(u)du = −ln|csc(u)+cot(u)|+C


CAPÍTULO 25. INTEGRAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO 369<br />

7. √ r 2 +x 2 dx<br />

Faço a seguir a substituição x = r ·tan(θ):<br />

<br />

√r<br />

<br />

2 +x2 2<br />

dx = r · 1+tan 2 (θ) sec 2 (θ)dθ =<br />

<br />

= sec 3 (θ)dθ.<br />

Agora para calcular esta integral faço por partes:<br />

<br />

sec 3 <br />

(θ)dθ = sec(θ)·sec 2 (θ)dθ =<br />

<br />

= sec(θ)dθ + sec(θ)·tan 2 (θ)dθ =<br />

<br />

= sec(θ)dθ+ sec(θ)·tan(θ)<br />

<br />

g ′<br />

·tan(θ) dθ =<br />

<br />

<br />

<br />

f<br />

= sec(θ)dθ +sec(θ) tan(θ) −<br />

<br />

<br />

sec(θ) sec<br />

<br />

g f g<br />

2 (θ)<br />

<br />

f ′<br />

dθ,<br />

portanto: <br />

sec 3 (θ)dθ = 1<br />

2 ·[<br />

<br />

sec(θ)dθ +sec(θ)·tan(θ)]+C.<br />

Voltando ao que queremos, como θ = arctan( x<br />

r ) e como já temos sec(θ)dθ:<br />

<br />

√r<br />

<br />

2 +x2 2<br />

dx = r · sec 3 (θ)dθ = r2<br />

2 ·[<br />

<br />

sec(θ)dθ+sec(θ)·tan(θ)]+C =<br />

= r2<br />

2 ·[ln(<br />

√<br />

x2 +r2 r<br />

= r2<br />

2 ·ln(<br />

√ x 2 +r 2<br />

r<br />

+ x<br />

r )+<br />

√ x 2 +r 2<br />

r<br />

· x<br />

]+C =<br />

r<br />

+ x 1<br />

)+<br />

r 2 ·x√x 2 +r2 +C.<br />

8. Substituição trigonométrica x = sec(θ)<br />

Quando falamos em x = sec(θ) e θ = arcsec(x) vamos pensar que<br />

1 < |x| e θ ∈ [0, π<br />

2 )∪(π<br />

2 ,π].<br />

On<strong>de</strong> a<strong>de</strong>mais, se x > 1 então 0 < θ < π<br />

2 .<br />

O primeiro uso <strong>de</strong>sta substituição será, supondo x > 1 e r > 0:<br />

<br />

1<br />

x· √ x2 dx =<br />

−r2 <br />

1<br />

=<br />

rsec(θ)· r2sec2 rsec(θ)tan(θ)dθ =<br />

(θ)−r 2<br />

= 1<br />

r ·<br />

<br />

dθ = 1 1<br />

·θ+C =<br />

r r arcsec(x)+C.


9. MAIS EXEMPLOS PARA A SUBSTITUIÇÃO X = SEC(θ). 370<br />

9. Mais exemplos para a substituição x = sec(θ).<br />

As integrais do tipo <br />

1<br />

√ x 2 −1 dx<br />

para 1 < x são um bom exemplo para a substituição:<br />

on<strong>de</strong><br />

De fato, como<br />

se 0 < θ < π<br />

2 , então <br />

x = sec(θ), dx = sec(θ)tan(θ)dθ,<br />

θ = arcsec(x)<br />

1 < x e 0 < θ < π<br />

2 .<br />

√ x 2 −1 =<br />

<br />

1<br />

√ dx =<br />

x2 −1<br />

<br />

=<br />

<br />

tan 2 (θ) = tan(θ),<br />

1<br />

tan(θ)<br />

sec(θ)dθ =<br />

= ln(sec(θ)+tan(θ))+C<br />

sec(θ)tan(θ)du =<br />

= ln(x+tan( √ x 2 −1))+C,<br />

on<strong>de</strong> a última igualda<strong>de</strong> fica clara se usarmos a Figura a seguir:<br />

com<br />

A integral a seguir<br />

θ<br />

x<br />

1<br />

x 2 1<br />

√<br />

x2 −9<br />

dx =<br />

x<br />

x = 3·sec(θ), dx = 3·sec(θ)tan(θ)dθ,<br />

vira: √ <br />

x2 −9 9sec2 (θ)−9<br />

dx = sec(θ)tan(θ)dθ =<br />

x 3sec(θ)<br />

<br />

= 3·<br />

<br />

tan(θ)dθ =<br />

= 3· (sec 2 (θ)−1)dθ =<br />

= 3·tan(θ)−3·θ +C =


CAPÍTULO 25. INTEGRAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO 371<br />

= 3·<br />

√ x 2 −9<br />

3<br />

−3·arcsec( x<br />

3 )+C.<br />

10. √ x 2 −r 2 dx<br />

A seguir |x| > r > 0. Faço a mudança x = r ·sec(θ) e <strong>de</strong>pois integro por partes:<br />

<br />

√x<br />

<br />

2 −r2 2<br />

dx = r · tan(θ)·sec(θ)tan(θ)dθ =<br />

= r 2 <br />

·(tan(θ)sec(θ)− sec 3 (θ)dθ).<br />

Mas já calculamos<br />

<br />

sec 3 (θ)dθ = 1<br />

2 ·[tan(θ)sec(θ)−ln(sec(θ)+tan(θ))]+C.<br />

Portanto:<br />

<br />

√x r 2 −r2 dx = 2<br />

·[tan(θ)sec(θ)−ln(sec(θ)+tan(θ))]+C =<br />

2<br />

= r2<br />

2 ·[x<br />

r<br />

√ x 2 −r 2<br />

r<br />

−ln(<br />

= 1<br />

2 x√ x 2 −r 2 − r2<br />

2 ·ln(<br />

11. E as da forma <br />

√ x 2 −r 2<br />

r<br />

√ x 2 −r 2<br />

r<br />

+ x<br />

)+C =<br />

r<br />

+ x<br />

r )+C.<br />

√ 1<br />

Ax3 +Bx2 dx ?<br />

+Cx+D<br />

Nas Seções anteriores tivemos sucesso ao integrarmos<br />

<br />

1<br />

√ dx,<br />

ax2 +bx+c<br />

fazendo uma mudança <strong>de</strong> variável do tipo x = sin(θ), x = tan(θ) ou x = sec(θ).<br />

Mas, em geral, ou seja, para polinômios Ax 3 +Bx 2 +Cx+D <strong>de</strong> grau três gerais,<br />

as integrais <br />

1<br />

√ Ax 3 +Bx 2 +Cx+D dx<br />

não po<strong>de</strong>m ser expressas em termos <strong>de</strong> funções conhecidas, são chamadas <strong>de</strong> integrais<br />

elípticas.<br />

12. Exercícios<br />

Exercício 12.1. Fizemos ln(x)<br />

dx por partes.<br />

x<br />

Veja que, neste exemplo, é mais fácil fazer por substituição.<br />

Calcule pelos dois métodos:<br />

e 3<br />

e 2<br />

ln(x)<br />

x dx.


12. EXERCÍCIOS 372<br />

Exercício 12.2. Para fazer e √ x dx use uma substituição e <strong>de</strong>pois uma integração<br />

por partes.<br />

Exercício 12.3. Faça por substituição as integrais a seguir. Dica: O lado direito<br />

das igualda<strong>de</strong>s dá uma pista das substituições u = g(x) e du = g ′ (x)dx a<strong>de</strong>quadas.<br />

<br />

1<br />

i) tan(x)dx = −<br />

cos(x) ·(−sin(x))dx,<br />

<br />

1<br />

ii) cot(x)dx =<br />

sin(x) ·cos(x)dx,<br />

<br />

1 sin(x) −1<br />

iii) sec(x)tan(x)dx := dx =<br />

cos(x) cos(x) cos2 (x) ·(−sin(x))dx<br />

<br />

1 1 1<br />

iv) dx = ·<br />

ln(x)x ln(x) x dx.<br />

Exercício 12.4. Prove que ∀n ∈ N:<br />

1<br />

(1−x<br />

−1<br />

2 ) n π<br />

dx =<br />

0<br />

(sin(θ)) 2n+1 dθ.


CAPíTULO 26<br />

Integração <strong>de</strong> funções racionais<br />

Não há uma solução para o problema <strong>de</strong> como integrar quocientes em geral; por<br />

exemplo, sin(x)<br />

dx não po<strong>de</strong> ser expressa em termos <strong>de</strong> funções elementares.<br />

x<br />

A questão que vamos respo<strong>de</strong>r nesta Seção é a <strong>de</strong> como integrar<br />

<br />

p(x)<br />

q(x) dx<br />

on<strong>de</strong> p(x),q(x) são polinômios.<br />

A técnica geral para integrar essa funções racionais (quocientes <strong>de</strong> polinômios)<br />

é conhecida como integração por frações parciais (ou frações simples, elementares,<br />

como alguns chamam).<br />

Proce<strong>de</strong>remos por etapas, começando com casos simples.<br />

Mais adiante, na Seção 4, daremos enunciados gerais.<br />

1. (ax 2 +bx+c) −1 dx<br />

Começo explicando o que fazer para calcular:<br />

<br />

1<br />

ax2 dx, com 0 = a,b,c ∈ R.<br />

+bx+c<br />

Há três casos a consi<strong>de</strong>rar, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do discriminante b 2 −4ac:<br />

• i) b 2 −4ac = 0, ou seja, ax 2 +bx+c = (x−x) 2 tem uma raíz real dupla,<br />

• ii) b 2 −4ac > 0, ou seja, ax 2 +bx+c = (x−x 1)·(x−x 2) tem duas raízes<br />

reais diferentes ou<br />

• iii) b 2 −4ac < 0, ou seja, ax 2 +bx+c tem duas raízes complexas conjugadas<br />

(não tem raízes Reais).<br />

No caso i):<br />

Faço u = x−x, du = dx e<br />

<br />

1<br />

ax2 <br />

1<br />

dx = dx =<br />

+bx+c (x−x) 2<br />

<br />

1 −1 1<br />

= du = +C =<br />

u2 u x−x +C.<br />

No caso ii):<br />

373


1.<br />

(AX 2 +BX +C) −1 DX 374<br />

Gostaria <strong>de</strong> escrever, para A e B números bem escolhidos:<br />

1<br />

ax 2 +bx+c =<br />

pois então teríamos:<br />

<br />

<br />

1<br />

dx =<br />

(x−x 1)·(x−x 2)<br />

1 A<br />

= +<br />

(x−x 1)·(x−x 2) x−x 1<br />

B<br />

,<br />

x−x 2<br />

= A·<br />

<br />

A<br />

dx+<br />

x−x 1<br />

<br />

1 1<br />

du+B ·<br />

u v dv,<br />

B<br />

dx =<br />

x−x 2<br />

on<strong>de</strong> u = x−x 1e v = x−x 2 e daqui chegamos em:<br />

<br />

1<br />

(x−x 1)·(x−x 2) dx = A·ln|x−x 1|+B ·ln|x−x 2|+C.<br />

Como encontrar A e B como queremos ? Queremos que valha:<br />

ou seja, somando as frações à direita:<br />

1 A<br />

= +<br />

(x−x 1)·(x−x 2) x−x 1<br />

B<br />

,<br />

x−x 2<br />

1<br />

(x−x 1)·(x−x 2) = (A+B)x−Ax 2 −Bx1 .<br />

(x−x 1)·(x−x 2)<br />

Para que (A+B)x−Ax 2 −Bx 1 = 1 precisamos ter<br />

ou seja, as escolhas <strong>de</strong> A e B são:<br />

B = −A e −Ax 2 +Ax 1 = 1,<br />

A =<br />

1<br />

x 1 −x 2<br />

e B = −1<br />

.<br />

x1 −x2 Em suma, no caso ii) (x1,x2 raízes Reais distintas):<br />

<br />

1<br />

ax2 dx =<br />

+bx+c<br />

1<br />

·ln|x−x 1|−<br />

No caso iii):<br />

Primeiro faço, já que a = 0:<br />

<br />

1<br />

ax2 <br />

dx =<br />

+bx+c<br />

x 1 −x 2<br />

1<br />

a·(x 2 + b<br />

a<br />

1<br />

x 1 −x 2<br />

1<br />

dx = c x+ ) a<br />

a ·<br />

<br />

·ln|x−x 2|+C.<br />

1<br />

x2 + b c x+ a a<br />

dx.


CAPÍTULO 26. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES RACIONAIS 375<br />

Então<br />

Agora escrevo 1 :<br />

Agora faço a substituição:<br />

Então (já que 4ac−b 2 > 0):<br />

<br />

<br />

x 2 + b c<br />

x+<br />

a a<br />

= (x+ b<br />

2a )2 − b2<br />

4a<br />

= (x+ b<br />

2a )2 + 4ac−b2<br />

4a 2 .<br />

1<br />

ax2 1<br />

dx =<br />

+bx+c a ·<br />

<br />

u = x+ b<br />

2a<br />

1<br />

(x+ b<br />

2a )2 + 4ac−b2<br />

4a2 = 1<br />

a ·<br />

1<br />

<br />

4ac−b2 4a 2<br />

c<br />

+<br />

2 a =<br />

1<br />

(x+ b<br />

2a )2 + 4ac−b2<br />

4a2 e du = dx.<br />

dx = 1<br />

<br />

a<br />

·arctan(<br />

1<br />

u 2 + 4ac−b2<br />

4a 2<br />

u<br />

4ac−b 2<br />

4a 2<br />

)+C,<br />

conforme a Seção 5 do Capítulo 16. Simplificando:<br />

<br />

1<br />

ax2 2<br />

dx = √<br />

+bx+c 4ac−b 2 ·arctan(<br />

u<br />

<br />

4ac−b2 2. αx+β<br />

ax 2 +bx+c dx<br />

Agora trato o caso mais geral:<br />

<br />

αx+β<br />

ax2 dx, α,β ∈ R.<br />

+bx+c<br />

4a 2<br />

dx.<br />

du =<br />

)+C.<br />

1 Se continuamos um pouquinho obteremos a fórmula <strong>de</strong> Báskara: já que a = 0,<br />

De on<strong>de</strong>, se queremos que 0 = x2 + b c<br />

ax+ a ,<br />

e finalmente:<br />

x 2 + b c b<br />

x+ = (x+<br />

a a 2a )2 + 4ac−b2<br />

4a2 .<br />

(x+ b<br />

2a )2 = b2 −4ac<br />

4a 2 ,<br />

x+ b<br />

2a = ±±√ b2 −4ac<br />

,<br />

2a<br />

x = −b±√b 2 −4ac<br />

.<br />

2a


2.<br />

αX+β<br />

AX2 DX 376<br />

+BX+C<br />

Na situação discutida em iii), em que 4ac−b 2 > 0, temos:<br />

<br />

αx+β<br />

ax2 1<br />

dx =<br />

+bx+c a ·<br />

<br />

αx+β<br />

e a mudança<br />

produz:<br />

= 1<br />

a ·[α·<br />

<br />

u<br />

u 2 + 4ac−b2<br />

4a 2<br />

u 2 + 4ac−b2<br />

4a 2<br />

u = x+ b<br />

2a<br />

(x+ b<br />

2a )2 + 4ac−b2<br />

4a2 e du = dx<br />

1<br />

a ·<br />

b<br />

α(u− 2a )+β<br />

u2 + 4ac−b2<br />

4a2 du =<br />

du+(β − α·b<br />

2a )·<br />

<br />

1<br />

dx<br />

u 2 + 4ac−b2<br />

4a 2<br />

du] = .<br />

A integral mais à direita já sabemos resolvê-la com a função arcotangente:<br />

<br />

1 1 x<br />

du = ·arctan( )+C.<br />

4ac−b2 4ac−b2 Já <br />

u<br />

u 2 + 4ac−b2<br />

4a 2<br />

u 2 + 4ac−b2<br />

4a 2<br />

4a 2<br />

du = 1<br />

2 ·<br />

<br />

2u<br />

4a 2<br />

u 2 + 4ac−b2<br />

4a 2<br />

e aí reconhecemos uma <strong>de</strong>rivada logarítmica; logo:<br />

1<br />

2 ·<br />

<br />

2u<br />

du = 1<br />

2 ·ln(u2 + 4ac−b2<br />

4a2 )+C =<br />

= 1 b<br />

·ln((x+<br />

2 2a )2 + 4ac−b2<br />

4a2 )+C.<br />

Juntando esses resultados concluímos o resultado.<br />

Já no caso ii) discutido antes, em que há duas raízes reais distintas x1 = x2, ou<br />

seja: <br />

αx+β<br />

axa <br />

αx+β<br />

dx =<br />

+bx+c (x−x 1)·(x−x 2) dx,<br />

vou tentar escrever:<br />

αx+β<br />

(x−x 1)·(x−x 2) =<br />

A<br />

(x−x 1) +<br />

B<br />

(x−x 2) ,<br />

para A e B bem escolhidos, pois daí em diante saberemos fazer :<br />

<br />

A<br />

(x−x 1) +<br />

B<br />

(x−x 2) dx<br />

usando o logaritmo natural. Como<br />

preciso ter:<br />

A<br />

(x−x 1) +<br />

du<br />

B<br />

(x−x 2) = (A+B)·x+(−Ax 2 −Bx1) ,<br />

(x−x 1)·(x−x 2)<br />

α = A+B e β = −Ax 2 −Bx 1,


CAPÍTULO 26. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES RACIONAIS 377<br />

que dão:<br />

Resta o caso em que:<br />

<br />

que dá:<br />

A = αx 1 +β<br />

x 1 −x 2<br />

<br />

αx+β<br />

dx = α·<br />

(x−x) 2<br />

e B = α−A.<br />

αx+β<br />

axa <br />

αx+β<br />

dx = dx,<br />

+bx+c (x−x) 2<br />

<br />

x<br />

(x−x) 2dx+β ·<br />

<br />

1<br />

= α· [<br />

x−x +<br />

<br />

x<br />

(x−x) 2]dx+β ·<br />

= α·ln||x−x||−αx·<br />

3. <br />

1<br />

dx =<br />

(x−x) 2<br />

1<br />

dx =<br />

(x−x) 2<br />

1 1<br />

−β ·<br />

x−x x−x +C.<br />

1<br />

Ax3 +Bx2 +Cx+D dx<br />

Agora quero tratar do quê fazer para calcularmos:<br />

<br />

1<br />

Ax3 +Bx2 dx, A = 0.<br />

+Cx+D<br />

Vimos, na Proposição 6.1 do Capítulo 6 que sempre um polinômio <strong>de</strong> grau ímpar<br />

com coeficientes Reais tem ao menos uma raíz Real x = x 1.<br />

Portanto há 4 caso possíveis a consi<strong>de</strong>rar 2 :<br />

• i) Ax 3 +Bx 2 +Cx+D tem uma raíz tripla Real,<br />

• ii) Ax 3 +Bx 2 +Cx+D tem uma raíz dupla e uma simples, todas Reais,<br />

• iii) Ax 3 +Bx 2 +Cx+D tem três raízes Reais distintas, x 1,x 2,x 3.<br />

• iv) Ax 3 + Bx 2 + Cx + D tem apenas uma raíz simples Real e duas raízes<br />

complexas (conjugadas).<br />

São representados na figura a seguir:<br />

2 Qual o análogo do discriminante b 2 −4ac <strong>de</strong> ax 2 +bx+c no caso <strong>de</strong> Ax 3 +Bx 2 +Cx+D ?<br />

Isso se trata no Capítulo 32. Mas e como encontrar raízes <strong>de</strong> Ax 3 +Bx 2 +Cx+D? Em geral, nos<br />

Exercícios básicos, uma raíz do polinômio <strong>de</strong> grau 3 é evi<strong>de</strong>nte. Ou pelo menos se po<strong>de</strong> usar o Teste<br />

da Raíz Racional (Afirmação 8.1 do Capítulo 6). Após fatoração <strong>de</strong>ssa primeira raíz Real (talvez<br />

até Rational) sobra um polinômio <strong>de</strong> grau 2. Em geral, será preciso usar a fórmula <strong>de</strong> Cardano do<br />

Capítulo 32


3. <br />

1<br />

AX3 +BX2 DX 378<br />

+CX+D<br />

-1 -0,5<br />

3<br />

2<br />

1<br />

x<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

Figura: Casos i) em vermelho, ii) em ver<strong>de</strong>, iii) em amarelo e iv) em azul.<br />

No que segue suponhamos que conhecemos as raízes Reais do Ax3 +Bx2 +Cx+D<br />

Então no caso i), já sabemos o que fazer:<br />

<br />

1<br />

Ax3 +Bx2 <br />

1 −1<br />

dx = dx = +C<br />

+Cx+D (x−x 3<br />

1) (x−x 2<br />

1)<br />

No caso ii):<br />

<br />

1<br />

Ax3 +Bx2 <br />

1<br />

dx =<br />

+Cx+D (x−x 1) 2 ·(x−x 2) dx<br />

vamos ser otimistas e tentar escrever, para ci constantes bem escolhidas:<br />

1<br />

(x−x 1 ) 2 ·(x−x 2 ) =<br />

0,5<br />

c1<br />

(x−x 1 ) +<br />

1<br />

c2<br />

+<br />

(x−x 1 ) 2<br />

c3<br />

(x−x 2 )<br />

pois então obteríamos:<br />

<br />

1<br />

(x−x 1) 2 (x−x 2) dx = c1 ·ln|x−x 1|+c2 · −1<br />

+c3 ·ln|x−x<br />

x−x<br />

2|+C.<br />

1<br />

Para encontrarmos ci a<strong>de</strong>quadas, façamos primeiro a soma <strong>de</strong> frações à direita:<br />

c1<br />

(x−x 1) +<br />

c2<br />

+<br />

(x−x 2<br />

1)<br />

c3<br />

(x−x 2) =<br />

= c1(x−x 1 )(x−x 2 )+c2(x−x 2 )+c3(x−x 1 ) 2<br />

(x−x 1) 2 (x−x 2)<br />

= (c1 +c3)x2 +(c2 −c1(x1 +x2)−2c3x 1)x+(c1x 1x2 −c2x2 +c3x2 1 )<br />

(x−x 1) 2 .<br />

(x−x 2)<br />

Comoonumerador<strong>de</strong>ssaúltimaexpressãotemqueigualaonumerador<strong>de</strong> 1<br />

(x−x 1 ) 2 (x−x 2 )<br />

otemos um sistema <strong>de</strong> três equações:<br />

c1 +c3 = 0, c2 −c1(x 1 +x 2)−2c3x 1 = 0<br />

e c1x1x2 −c2x2 +c3x 2 1 = 1.<br />

=


CAPÍTULO 26. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES RACIONAIS 379<br />

As duas primeiras equações dão:<br />

c3 = −c1, c2 = c1(x 2 −x 1),<br />

que, quando substituidas na terceira equação, dão:<br />

1<br />

c1 =<br />

2x1x2 −x2 1 −x2 −1<br />

=<br />

2 (x1 −x2) 2.<br />

Ou seja encontramos assim c1 e com ele obtemos c2 e c3, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que conheçamos as<br />

raízes Reais x1 = x2. No caso iii):<br />

Gostaríamos <strong>de</strong> escrever :<br />

1<br />

(x−x 1)(x−x 2)(x−x 3)<br />

pois então integraríamos usando a primitiva ln| |.<br />

Somamos<br />

c1<br />

x−x 1<br />

c1<br />

= +<br />

x−x 1<br />

c2<br />

+<br />

x−x 1<br />

c3<br />

x−x 3<br />

+ c2<br />

+<br />

x−x 1<br />

c3<br />

x−x 3<br />

= (c1 +c2 +c3)x 2 −(c1(x2 +x3)+c2(x 1 +x3)+c3(x 1 +x2))x +<br />

(x−x 1)(x−x 2)(x−x 3)<br />

+ c1x 2x 3 +c2x 1x 3 +c3x 1x 2<br />

(x−x 1)(x−x 2)(x−x 3)<br />

e igualo seu numerador a 1, obtendo um sistema <strong>de</strong> três equações:<br />

c1 +c2 +c3 = 0, c1(x 2 +x 3)+c2(x 1 +x 3)+c3(x 1 +x 2) = 0,<br />

c1x 2x 3 +c2x 1x 3 +c3x 1x 2 = 1.<br />

Da primeira posso pôr c3 em função dos outros, da segunda posso por c2 em função<br />

<strong>de</strong> c1<br />

c3 = −(c1 +c2), c2 = − c1(x 3 −x 1)<br />

(x 3 −x 2) ,<br />

e substituindo na terceira <strong>de</strong>terminamos o c1.<br />

Caso iv):<br />

Aqui temos<br />

Ax 3 +Bx 2 +Cx+D = (x−x 1)·(ax 2 +bx+c),<br />

on<strong>de</strong> ax2 + bx + c não tem raízes Reais, apenas raízes complexas (conjugadas). Se<br />

conhecemos x1, também conhecemos a,b,c por divisão <strong>de</strong> polinômios.<br />

Portanto no que segue consi<strong>de</strong>ro conhecidos esses coeficientes a,b,c.<br />

Seremos otimistas tentando escrever3 , para c1,c2,c3 a<strong>de</strong>quados:<br />

1<br />

(x−x 1)·(ax 2 c1<br />

= +<br />

+bx+c) x−x 1<br />

c2x+c3<br />

ax2 +bx+c .<br />

3 Note que ∀c1,c2:<br />

1<br />

(x−x 1 )·(ax 2 +bx+c) =<br />

c1<br />

x−x 1<br />

+<br />

=<br />

c2<br />

ax 2 +bx+c ,


4. FRAÇÕES PARCIAIS EM GERAL 380<br />

Como<br />

c1<br />

+<br />

x−x 1<br />

c2x+c3<br />

ax2 +bx+c = (ac1 +c2)x2 +(bc1 −c2x1 +c3)x+(c1c−c3x 1)<br />

(x−x 1)(ax2 ,<br />

+bx+c)<br />

temos que resolver as equações:<br />

ac1 +c2 = 0, bc1 −c2x 1 +c3 = 0 e c1c−c3x 1 = 1.<br />

A primeira me permite escrever c2 = −ac1 e a segunda dá<br />

c3 = −bc1 +x 1c2 = −bc1 −x 1ac1.<br />

Ou seja c3 é função <strong>de</strong> c1. Substituido c3 na terceira equação<br />

c1c−c3x 1 = 1,<br />

esta vira uma equação <strong>de</strong> grau um em c1 e <strong>de</strong>scobrimos o valor <strong>de</strong> c1.<br />

Achados os c1,c2,c3 basta calcular<br />

<br />

c2x+c3<br />

ax 2 +bx+c dx,<br />

(o que apren<strong>de</strong>mos no início da Seção 2) para termos então finalmente:<br />

<br />

1<br />

Ax3 +Bx2 +Cx+D dx = c1<br />

<br />

c2x+c3<br />

·ln|x−x 1|+<br />

ax2 +bx+c dx.<br />

4. Frações parciais em geral<br />

A situação que <strong>de</strong>veríamos tratar a seguir, após a Seção 3, seria:<br />

<br />

αx 2 +βx+γ<br />

Ax 3 +Bx 2 +Cx+D dx.<br />

Vamos tratá-la já num contexto geral.<br />

Suponho que quero fazer<br />

P(x)<br />

Q(x) dx<br />

on<strong>de</strong> P(x) é polinômio <strong>de</strong> grau p e Q(x) <strong>de</strong> grau q, sem fatores em comum, com<br />

Então divido P(x) por Q(x), obtendo:<br />

pois se por absurdo fazemos:<br />

poduzimos equações:<br />

p ≥ q.<br />

P(x) = Q(x)·H1(x)+R1(x)<br />

1<br />

(x−x 1 )(ax2 c1 c2<br />

= +<br />

+bx+c) x−x 1 ax2 +bx+c =<br />

= ac1x 2 +(bc1 +c2)x+(c1c−c2x 1 )<br />

(x−x 1 )(ax 2 +bx+c)<br />

ac1 = 0 e bc1 +c2 = 0.<br />

Como a = 0 neste caso, então c1 = 0 e daí obtemos c2 = 0, absurdo.


CAPÍTULO 26. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES RACIONAIS 381<br />

on<strong>de</strong> o grau do polinômio H1(x) é h1 = p−q e on<strong>de</strong> o grau do resto R1(x) é<br />

Se r1 ≥ q posso dividir <strong>de</strong> novo:<br />

r1 < p.<br />

R1(x) = Q(x)·H2(x)+R2(x)<br />

on<strong>de</strong> h2 = r1 −q e r2 < r1.<br />

E assim por diante: o processo só pára quando algum resto Rk(x) tem grau rk < q<br />

(note que Rk(x) ≡ 0 pois P(x) e Q(x) foram supostos ser fator comum).<br />

Então<br />

P(x)<br />

Q(x)<br />

= Q(x)·(H1(x)+H2(x)+...+Hk(x))+Rk(x)<br />

Q(x)<br />

= H1(x)+H2(x)+...+Hk(x)+ Rk(x)<br />

Q(x) .<br />

Ora, integrar o polinômio H1(x) + H2(x) + ... + Hk(x) é fácil; logo, o problema se<br />

reduz a integrar uma fração do tipo:<br />

Rk(x)<br />

Q(x) ,<br />

on<strong>de</strong> o grau do numerador é menor que o do <strong>de</strong>nominador.<br />

Por isso essa será a situação daqui para diante: consi<strong>de</strong>raremos P(x) <strong>de</strong> grau p e<br />

Q(x) <strong>de</strong> grau q, com<br />

p < q<br />

e sem fatores comuns.<br />

Queremos fazer: <br />

P(x)<br />

Q(x) dx.<br />

Claro que, se pu<strong>de</strong>rmos fazer<br />

P(x)<br />

Q(x) = Q′ (x)<br />

Q(x)<br />

então P(x)<br />

dx = ln||Q(x)||+C.<br />

Q(x)<br />

Mas e quando não for assim, o que fazer?<br />

Se usam então dois fatos puramente algébricos, que já vimos funcionarem concretamente<br />

em casos particulares:<br />

Fato 1: (Teorema <strong>de</strong> Fatoração)<br />

Há sempre uma fatoração <strong>de</strong> Q(x) em produtos <strong>de</strong> potências <strong>de</strong> fatores lineares<br />

e/ou quadráticos:<br />

on<strong>de</strong><br />

Q(x) = L m1<br />

1 ·...·L mk<br />

k ·Q n1<br />

1 ·...·Qnj<br />

j , mi,ni ∈ N,<br />

m1 +...+mk +2·(n1 +...+nj) = q,<br />

Li := aix+bi e Qi := cix 2 +dix+ei, ai,...,ei ∈ R.<br />

=


4. FRAÇÕES PARCIAIS EM GERAL 382<br />

Note: bastam lineares ou quadráticos, não precisa mais do que isso.<br />

O exemplo q(x) = x 4 +1 por exemplo se <strong>de</strong>compõe assim:<br />

x 4 +1 = (x 2 +1) 2 −2x 2 = (x 2 − √ 2·x+1)·(x 2 + √ 2·x+1) =: Q1 ·Q2,<br />

on<strong>de</strong> Q1 e Q2 são polinômios irredutíveis sobre 4 os Reais (i.e. não são produtos <strong>de</strong><br />

polinômios Reais <strong>de</strong> grau 1), já que seus disciminantes valem −2.<br />

Depois se usa:<br />

Fato 2: (Decomposição em Frações Simples)<br />

Se P(x) tem grau p e Q(x) grau q, com p < q e se<br />

Q(x) = L m1<br />

1 ·...·L mk<br />

k ·Q n1<br />

1 ·...·Qnr<br />

r , mi,ni ∈ N<br />

então existem números Reais Ai,j, Bi,j e Ci,j tais que:<br />

P(x)<br />

Q(x)<br />

+ B1,1 ·x+C1,1<br />

Q1<br />

= A1,1<br />

L1<br />

+...+ A1,m1<br />

L m1<br />

1<br />

+...+ B1,n1 ·x+C1,n1<br />

Q n1<br />

1<br />

+...+ Ak,1<br />

Lk<br />

+ Br,1 ·x+Cr,1<br />

Qr<br />

+...+ Ak,mk<br />

L mk +<br />

k<br />

Agora temos do lado direito um soma <strong>de</strong> integrais para fazer:<br />

<br />

P(x)<br />

Q(x) dx = A1,1<br />

<br />

1<br />

· dx+...<br />

L1<br />

+... B1,nr ·x+C1,nr<br />

Q nr .<br />

1<br />

O leitor po<strong>de</strong> conferir que, pelo que já expusemos neste Capítulo, conseguiríamos<br />

fazer cada uma das integrais do lado direito, exceto as do tipo:<br />

<br />

1<br />

dx, para n ≥ 2,<br />

Q(x) n<br />

on<strong>de</strong> Q(x) é quadrático e irredutível.<br />

Note que <br />

Como esses polinômios Qi(x) = ax2 +bx+c se <strong>de</strong>ixam escrever (como vimos na<br />

Seção 2) como<br />

x<br />

(x2 +1) n dx = 1<br />

2 · 1<br />

un du se faço u = x2 +1 e portanto sabemos fazê-la.<br />

Qi(x) = (x+ b<br />

2a )2 + 4ac−b2<br />

4a2 , com 4ac−b2<br />

> 0,<br />

4a2 o problema se reduz essencialmente (quer dizer, módulo substituições u = x+ b ) a 2a<br />

integrar: <br />

1<br />

(x2 +1) n, para n ≥ 2.<br />

4 Sobre os complexos sim são redutíveis:<br />

(x 2 − √ √<br />

2<br />

2x+1) = (x−(<br />

2 −<br />

√ √<br />

2√<br />

2<br />

−1))·(x−(<br />

2 2 +<br />

√<br />

2√<br />

−1))<br />

2<br />

(x 2 + √ √<br />

2<br />

2x+1) = (x−(−<br />

2 +<br />

√ √<br />

2√<br />

2<br />

−1))·(x−(−<br />

2 2 −<br />

√<br />

2√<br />

−1))<br />

2


CAPÍTULO 26. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES RACIONAIS 383<br />

Isso trato na Seção 5 a seguir.<br />

5. <br />

1<br />

(1+x2 ) n dx, n ≥ 2<br />

Vou fazer para n = 2 em <strong>de</strong>talhe e apenas enunciar o resultado geral ∀n ≥ 2.<br />

Afirmação 5.1. <br />

1<br />

(x2 1 1<br />

dx = ·arctan(x)+<br />

+1) 2 2 2 ·<br />

x<br />

x 2 +1 +C.<br />

Vou dar duas provas. a primeira é curta mas não ensina muito.<br />

Demonstração. (Primeira <strong>de</strong>montração)<br />

Para fazer <br />

escrevo (e o leitor confere):<br />

<br />

1<br />

(x2 =<br />

+1) 2<br />

<br />

1<br />

(x2 dx<br />

+1) 2<br />

[<br />

1<br />

x 2 +1 −<br />

x2 (x2 ]dx =<br />

+1) 2<br />

<br />

= [ 1<br />

2 ·<br />

1<br />

x2 1<br />

+<br />

+1 2 ·<br />

1<br />

x2 +1 −<br />

x2 (x2 ]dx =<br />

+1) 2<br />

<br />

1<br />

=<br />

2 ·<br />

1<br />

x2 +1 dx+<br />

<br />

[ 1<br />

2 ·<br />

1<br />

x2 +1 −<br />

= 1 1<br />

·arctan(x)+<br />

2 2 ·<br />

x<br />

x2 +1 +C,<br />

é a primitiva certa.<br />

on<strong>de</strong> se verifica por <strong>de</strong>rivação direta que 1<br />

2 · x<br />

x 2 +1<br />

x2 (x2 ]dx =<br />

+1) 2<br />

A segunda é longa mas revisa várias coisas que apren<strong>de</strong>mos:<br />

Demonstração. (Segunda <strong>de</strong>monstração - Do estudante Walter Ferreira Diniz<br />

Júnior)<br />

Fazemos uma integração por partes:<br />

<br />

1<br />

(x2 dx =<br />

+1) 2<br />

1<br />

x ·<br />

x<br />

(x2 dx =<br />

+1) 2<br />

= 1<br />

x ·(−<br />

1<br />

2(1+x 2 ) )−<br />

<br />

(− 1<br />

x2)·(− 1<br />

2(1+x 2 )dx =<br />

)<br />

1<br />

= −<br />

2x·(1+x 2 ) −<br />

<br />

1<br />

2x2 (1+x 2 ) dx.<br />

E agora uso o Teorema <strong>de</strong> Frações simples:<br />

<br />

1<br />

(x2 1<br />

dx = −<br />

+1) 2 2x·(1+x 2 1<br />

−<br />

) 2 ·<br />

<br />

( A A Cx+D<br />

+ + )dx =<br />

x x2 1+x 2<br />

on<strong>de</strong> se calcula sem muita dificulda<strong>de</strong> que:<br />

A = 0, B = 1, C = 0 e D = −1.


6. EXEMPLOS 384<br />

Então:<br />

<br />

1<br />

(x2 1<br />

dx = −<br />

+1) 2 2x·(1+x 2 )<br />

1<br />

= −<br />

2x·(1+x 2 )<br />

1<br />

−<br />

2 ·<br />

<br />

( 1 1<br />

−<br />

x2 x2 )dx =<br />

+1<br />

1 1<br />

+ + ·arctan(x)+C =<br />

2x 2<br />

= 1 1<br />

·arctan(x)+<br />

2 2 ·<br />

x<br />

x2 +1 +C.<br />

Em geral, há uma fórmula <strong>de</strong> redução válida ∀n ≥ 2:<br />

<br />

1<br />

(x2 2n−3<br />

dx =<br />

+1) n 2n−2 ·<br />

<br />

1<br />

(x2 dx+<br />

+1) n−1<br />

6. Exemplos<br />

x<br />

(2n−2)·(x 2 +1) n−1.<br />

Vimos alguns exemplos <strong>de</strong>ssa escritura nas Seções anteriores, on<strong>de</strong> também se vê<br />

que Ai,j, Bi,j e Ci,j são soluções <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> equações que surgem ao se comparar<br />

os coeficientes <strong>de</strong> polinômios.<br />

Vejamos mais exemplos:<br />

• 3x 3 +5x 2 +40<br />

x 4 +2x 2 dx. Quero escrever:<br />

3x 3 +5x 2 +40<br />

x 4 +2x 2<br />

= 3x3 +5x 2 +40<br />

x 2 ·(x 2 +2) =<br />

= A B Cx+D<br />

+ +<br />

x x2 x2 +2 .<br />

Somando essas frações temos:<br />

A<br />

x<br />

B Cx+D<br />

+ +<br />

x2 Ou seja, quero:<br />

x2 +2 = (A+C)·x3 +(B +D)·x 2 +2A·x+2B<br />

x2 ·(x2 +2)<br />

A+C = 3, B +D = 5, 2A = 0 e 2B = 40.<br />

Obtenho: A = 0, B = 20, C = 3 e D = −15. Então:<br />

3 2 3x +5x +40<br />

x4 +2x2 <br />

20 3x−15<br />

dx = dx+<br />

x2 x2 dx =<br />

+2<br />

<br />

1 3<br />

= 20· dx+<br />

x2 2 ·<br />

<br />

2x<br />

x2 +2 dx−15·<br />

<br />

1<br />

x2 dx =<br />

+2<br />

= −20 3<br />

+<br />

x 2 ·ln(x2 +2)−15· 1<br />

√ ·arctan(<br />

2 x √ )+C.<br />

2<br />

.


CAPÍTULO 26. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES RACIONAIS 385<br />

• <br />

<br />

x+5<br />

x3 +4x2 dx. Quero escrever:<br />

+4x<br />

Como:<br />

A<br />

x<br />

x+5<br />

x 3 +4x 2 +4x =<br />

+ B<br />

x+2 +<br />

obtenho o sistema:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

Então:<br />

x+5 A B<br />

= +<br />

x·(x+2) 2 x x+2 +<br />

C<br />

(x+2) 2.<br />

C<br />

(x+2) 2 = (A+B)·x2 +(4A+2B +C)·x+4A<br />

x·(x+2) 2<br />

,<br />

A+B = 0, 4A+2B +C = 1 e 4A = 5,<br />

x+5<br />

x3 +4x2 5<br />

dx =<br />

+4x 4 ·<br />

A = 5 −5<br />

, B =<br />

4 4<br />

<br />

1 5<br />

dx−<br />

x 4 ·<br />

<br />

e C = −3<br />

2 .<br />

1 3<br />

dx−<br />

x+2 2 ·<br />

<br />

1<br />

dx =<br />

(x+2) 2<br />

= 5 5 3<br />

·ln||x||− ·ln||x+2||+<br />

4 4 2 ·<br />

1<br />

x+2 +C.<br />

• (do estudante Walter Ferreira Diniz Júnior)<br />

Como estou resumindo o Exemplo do Walter, <strong>de</strong>ixo para o leitor conferir<br />

os coeficientes da <strong>de</strong>composição em frações parciais:<br />

<br />

1<br />

x4 <br />

1<br />

dx =<br />

+1 (x2 − √ 2x+1)·(x 2 + √ dx =<br />

2x+1)<br />

−1<br />

2<br />

=<br />

√ 1 x+<br />

2 2<br />

x2 − √ 2x+1 dx+<br />

−1<br />

2 √ 1 x+<br />

2 2<br />

x2 − √ dx =<br />

2x+1<br />

Agora o problema se reduz a saber resolver:<br />

<br />

x<br />

x2 − √ 2x+1 dx,<br />

<br />

1<br />

x2 − √ 2x+1 dx,<br />

(analogamente para o caso em que o <strong>de</strong>nominador é x2 + √ 2x+1). A última<br />

é fácil, pois:<br />

<br />

1<br />

x2 − √ <br />

1<br />

dx =<br />

2x+1 (x− √ 2<br />

2 )2 + 1<br />

dx =<br />

2<br />

<br />

1<br />

= du<br />

u 2 + 1<br />

2<br />

e sabemos fazer esta com a função arcotangente.<br />

Já <br />

x<br />

x2 − √ <br />

dx =<br />

2x+1<br />

x<br />

(x− √ 2<br />

2 )2 + 1<br />

2<br />

dx =


6. EXEMPLOS 386<br />

• <br />

=<br />

u+ √ 2<br />

2<br />

u 2 + 1<br />

2<br />

on<strong>de</strong> novamente fizemos u = x− √ 2<br />

2 .<br />

Ora,<br />

u+ √ 2<br />

2<br />

u 2 + 1<br />

2<br />

on<strong>de</strong> v = u2 + 1<br />

2<br />

x+2<br />

x6 +2x4 +x2 dx<br />

Temos<br />

= 1<br />

2<br />

<br />

du =<br />

u<br />

u2 + 1<br />

2<br />

√<br />

1 2<br />

dv +<br />

v 2 ·<br />

du<br />

du+<br />

<br />

√<br />

2<br />

2<br />

u2 + 1 du =<br />

2<br />

1<br />

u2 + 1 du,<br />

2<br />

e essas últimas já sabemos fazer.<br />

x+2<br />

x6 +2x4 =<br />

+x2 e queremos encontrar a escritura:<br />

x+2<br />

x2 ·(x2 A<br />

=<br />

+1) 2 x<br />

Somo o lado direito e obtenho:<br />

x+2<br />

x 2 ·(x 2 +1) 2<br />

B Cx+D<br />

+ +<br />

x2 x2 Ex+F<br />

+<br />

+1 (x2 +1) 2.<br />

(A+C)x 5 +(B +D)x4 +(2A+C +E)x3 +(2B +D +F)x 2 +Ax+B<br />

x2 ·(x2 +1) 2<br />

,<br />

que, ao ser igualada ao esquerdo, dá:<br />

A = 1, B = 2, C = −1, D = −2, E = −1 e F = −2.<br />

Portanto:<br />

<br />

x+2<br />

x6 +2x4 dx =<br />

+x2 <br />

[ 1 2 x+2<br />

+ −<br />

x x2 x2 +1<br />

<br />

2 2<br />

dx−<br />

x2 <br />

x+2<br />

−<br />

(x2 ]dx =<br />

+1) 2<br />

<br />

1<br />

=<br />

x dx+<br />

x2 +1 dx−<br />

<br />

x<br />

−<br />

x2 +1 dx−<br />

<br />

x<br />

(x2 2<br />

dx−<br />

+1) 2 (x2 dx.<br />

+1) 2<br />

Dessas seis integrais por fazer, as primeiras quatro têm primitivas conhecidas<br />

(a menos <strong>de</strong> somar uma constante C):<br />

<br />

1 2 −2<br />

dx = ln|x|, dx =<br />

x x2 x ,<br />

<br />

2<br />

=<br />

x2 <br />

x<br />

dx = 2arctan(x) e<br />

+1 x2 1<br />

dx =<br />

+1 2 ·ln(x2 +1).<br />

A quinta se faz com a substituição u = x2 +1, du = 2xdx:<br />

<br />

x<br />

(x2 1<br />

dx =<br />

+1) 2 2 ·<br />

<br />

1 −1<br />

du =<br />

u2 2 ·<br />

1<br />

x2 +1 +C.


CAPÍTULO 26. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES RACIONAIS 387<br />

A última é <br />

2<br />

(x2 dx = arctan(x)+<br />

+1) 2<br />

x<br />

(x 2 +1) +C,<br />

pelo que vimos bem no final da Seção 4, no caso n = 2.<br />

7. Exercícios<br />

Exercício 7.1. Pelo método das frações parciais faça:<br />

<br />

x 2 +30<br />

x 3 +11x 2 +30x dx<br />

e <br />

x 2 +24<br />

x 3 +10x 2 +24x dx.


CAPíTULO 27<br />

Integrais impróprias<br />

Vimos na Afirmação 6.1 do Capítulo 22 que a área sob o gráfico <strong>de</strong> y = 1 à direita x<br />

<strong>de</strong> x = 1 é infinita, ou em outras palavras:<br />

lim ln(x) = +∞.<br />

n→+∞<br />

Mas uma conseguência do Teorema 2.1 escandalizou o filósofo Hobbes, no séc.<br />

XVII: existem regiões ilimitadas cuja Área é finita !<br />

Afirmação 0.1.<br />

Seja k ∈ R com k > 1. Então:<br />

•<br />

+∞<br />

1 1<br />

i) : dx =<br />

1 xk k −1 ,<br />

ou seja, a área da região que fica sob o gráfico <strong>de</strong> y = 1<br />

xk, para x ∈ [1,+∞)<br />

1<br />

é k−1 .<br />

•<br />

1<br />

1<br />

ii) : dx = 1+ 1<br />

k −1 ,<br />

0<br />

(1−x) 1<br />

k<br />

ou seja, a área da região sob o gráfico <strong>de</strong> y = 1<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

(1−x) 1 k<br />

para x ∈ [0,1) é 1+ 1<br />

k−1 .<br />

A área sob o gráfico <strong>de</strong> y = x−k , <strong>de</strong> a > 0 atéum certo x, épelo Segundo Teorema<br />

Fundamental:<br />

x<br />

x<br />

a<br />

−k 1<br />

dx = (<br />

−k +1 x−k+1 1<br />

)(x)−(<br />

−k +1 x−k+1 )(a), on<strong>de</strong> k = 1.<br />

A área <strong>de</strong> toda a região à direita <strong>de</strong> a > 0 é:<br />

lim<br />

x→+∞ [(<br />

1<br />

−k +1 x−k+1 1<br />

)(x)−(<br />

−k +1 x−k+1 )(a)) ] =<br />

= lim<br />

x→+∞ [<br />

1<br />

(−k +1)<br />

= 1<br />

k −1 ak−1 ,<br />

on<strong>de</strong> na última igualda<strong>de</strong> usei que k > 1.<br />

1 1<br />

+<br />

xk−1 k −1 ak−1 ] =<br />

389


Para a = 1 obtenho 1<br />

k−1 .<br />

390<br />

De ii):<br />

Vou dar duas <strong>de</strong>monstrações: uma calculatória, outra completamente geométrica.<br />

Na primeira fazemos uma integral:<br />

1<br />

0<br />

= lim<br />

Na segunda, vemos que:<br />

dá y k = 1<br />

1−x<br />

(1−x) −1<br />

k dx := lim<br />

aր1<br />

[<br />

aր1 −(1−x)−1 k +1<br />

−1 k +1<br />

=<br />

e 1−x = 1<br />

y k, ou seja:<br />

− 1<br />

k<br />

a<br />

0<br />

(1−x) −1<br />

k dx =<br />

(a)+ (1−x)−1 k +1<br />

− 1<br />

k +1<br />

1 1<br />

= 1+<br />

+1 k −1 .<br />

y = (1−x) −1<br />

k<br />

x = 1− 1<br />

y k.<br />

(0)] =<br />

Então 1<br />

0 (1−x)−1 k dx é a área do quadrado <strong>de</strong> lado 1 somada com a área da região<br />

à direita <strong>de</strong> y = 1 que fica sob o gráfico <strong>de</strong> x = 1− 1<br />

yk. Mas essa área é 1 pelo item k−1<br />

i). <br />

A Figura é apenas uma ilustração disso, pois não consegui usar as mesmas escalas<br />

nos eixos (o quadrado aparece como um retângulo, em ver<strong>de</strong>):<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0<br />

0,2 0,4 0,6 0,8<br />

x


CAPÍTULO 27. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS 391<br />

Figura: Ilustração para x = 1− 1<br />

y 2, y ∈ [1,+∞)<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

1<br />

1,5<br />

2<br />

x<br />

Figura: Ilustração para y = 1<br />

x 2, x ∈ [1,+∞).<br />

1. Um problema da Putnam Competition, n. 2, 1939<br />

Problema: Avalie as integrais:<br />

3<br />

e +∞<br />

1<br />

2,5<br />

1<br />

(3−x)·(x−1) dx<br />

1<br />

1<br />

ex+1 dx.<br />

+e3−x Solução<br />

Parte da questão é dar um sentido às integrais, pois numa o integrando não está<br />

<strong>de</strong>finido em x = 1 nem em x = 3 e na outra o intervalo <strong>de</strong> integração é infinito.<br />

O sentido que se <strong>de</strong>ve dar à primeira é, como vimos:<br />

Faço:<br />

Então<br />

3<br />

1<br />

1<br />

(3−x)·(x−1) dx := lim<br />

ǫ1ց0,ǫ2ց0<br />

3−ǫ2<br />

1+ǫ1<br />

3−ǫ2<br />

=<br />

3<br />

3−ǫ2<br />

1+ǫ1<br />

1<br />

(3−x)·(x−1) dx =<br />

1+ǫ1<br />

1−ǫ2<br />

=<br />

−1+ǫ1<br />

1<br />

dx =<br />

1−(x−2) 2<br />

1<br />

√ du =<br />

1−u 2<br />

= arcsin(1−ǫ2)−arcsin(−1+ǫ1).<br />

3−ǫ2<br />

lim<br />

ǫ1ց0,ǫ2ց0<br />

1+ǫ1<br />

1<br />

(3−x)·(x−1) dx =<br />

1<br />

(3−x)·(x−1) dx.<br />

= lim<br />

ǫ1ց0,ǫ2ց0 [arcsin(1−ǫ2)−arcsin(−1+ǫ1)] =


2. AS PRIMEIRAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE, A FUNÇÃO GAMA E<br />

O FATORIAL 392<br />

= π<br />

2 −(−π ) = π,<br />

2<br />

on<strong>de</strong> na última linha usei que arcsin(u) é contínua em todo [−1,1], apesar <strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>rivável apenas em (−1,1).<br />

Na segunda, temos:<br />

+∞<br />

1<br />

1 ex+1 a<br />

1<br />

dx := lim<br />

+e3−x a→+∞<br />

1 ex+1 dx.<br />

+e3−x Agora faço:<br />

1<br />

ex+1 1<br />

=<br />

+e3−x ex+1 + 1<br />

ex−3 1<br />

=<br />

( e2x−2 +1<br />

ex−3 ) =<br />

= ex−3<br />

e 2x−2 +1 = e−2 ·<br />

e integro via a substituição u = e x−1 :<br />

e portanto:<br />

o resultado.<br />

e −2 ·<br />

a<br />

1<br />

e x−1<br />

(e x−1 ) 2 +1<br />

1<br />

u 2 +1 du = e−2 ·(arctan(a)−arctan(1))<br />

lim<br />

a→+∞ e−2 ·(arctan(a)−arctan(1)) = e −2 ·( lim<br />

a→+∞<br />

= e −2 ·( π<br />

2<br />

π π<br />

− ) =<br />

4 4e2, π<br />

arctan(a)− ) =<br />

4<br />

2. As primeiras Transformadas <strong>de</strong> Laplace, a função Gama e o fatorial<br />

Afirmação 2.1. Seja k ∈ R, k > 0.<br />

i):<br />

+∞<br />

0<br />

e −kx ·dx = 1<br />

k<br />

ii): Suponha f : [0,+∞] → R contínua, f(x) ≥ 0 e que existam a,C,M > 0 tais<br />

que<br />

f(x) ≤ C ·e ax , ∀x ≥ M,<br />

então existe a integral imprópria<br />

+∞<br />

e −kx f(x)dx<br />

para qualquer k > a.<br />

Demonstração.<br />

Temos +∞<br />

0<br />

0<br />

e −kx dx := lim<br />

b→+∞<br />

+∞<br />

0<br />

e −kx dx =


CAPÍTULO 27. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS 393<br />

+∞<br />

= lim (<br />

b→+∞<br />

0<br />

e−kb 1<br />

+<br />

−kb k<br />

Para a segunda afirmação, escrevo para k > a:<br />

+∞<br />

0<br />

e −kx f(x)dx =<br />

M<br />

0<br />

e −kx f(x)dx+<br />

) = 1<br />

k .<br />

+∞<br />

M<br />

e −kx f(x)dx<br />

on<strong>de</strong>aprimeiraintegral M<br />

0 e−kxf(x)dxexistepoisointegrandoéumafunçãocontínua. Precisamos ver se existe<br />

Primeiro observo que<br />

lim<br />

b→+∞<br />

não cresce arbitrariamente.<br />

Ora, usando as hipóteses:<br />

lim<br />

b→+∞<br />

b<br />

M<br />

b<br />

M<br />

C · e−(k−a)M<br />

(k −a) e−kx f(x)dx.<br />

b<br />

lim<br />

b→+∞<br />

M<br />

e −kx f(x)dx<br />

b<br />

e −kx f(x)dx ≤ C · lim<br />

b<br />

b→+∞<br />

M<br />

= C · lim<br />

b→+∞<br />

e<br />

M<br />

−(k−a)x dx =<br />

e −kx e ax dx<br />

e−(k−a)b e−(k−a)M e−(k−a)M<br />

= C · lim ( + ) = C ·<br />

b→+∞ −(k −a) (k −a) (k −a) .<br />

Como b<br />

M e−kxf(x)dx é uma função crescente <strong>de</strong> b (pois e−kxf(x) ≥ 0), então:<br />

b<br />

M<br />

Isso garante 1 que existe<br />

e −kx f(x)dx ≤ C · e−(k−a)M<br />

(k −a)<br />

b<br />

lim<br />

b→+∞<br />

M<br />

As integrais impróprias do item ii):<br />

+∞<br />

0<br />

e −kx f(x)dx.<br />

e −kx f(x)dx,<br />

, ∀b ≥ M.<br />

para qualquer k > a, são chamadas Transformadas <strong>de</strong> Laplace da f(x).<br />

Portanto o item i) <strong>de</strong>u as Transformadas <strong>de</strong> f(x) ≡ 1, que são 1<br />

k .<br />

A Afirmação 2.2 a seguir po<strong>de</strong> ser lida do seguinte modo:<br />

para k = 1, a Transformada <strong>de</strong> Laplace <strong>de</strong> f(x) = x n é igual a n! (fatorial).<br />

1 <strong>de</strong>ixo <strong>de</strong>talhes mais próprios <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> Análise


2. AS PRIMEIRAS TRANSFORMADAS DE LAPLACE, A FUNÇÃO GAMA E<br />

O FATORIAL 394<br />

Afirmação 2.2. Para n ∈ {0}∪N:<br />

+∞<br />

e<br />

0<br />

−x x n dx = n!<br />

Demonstração.<br />

Para n = 0 uma aplicação imediata do Teorema Fundamental dá que:<br />

lim<br />

b→+∞<br />

b<br />

0<br />

e −x dx = lim<br />

b→+∞ (−e−b +1) = 1.<br />

Para prová-la para n = 1, integro por partes:<br />

+∞<br />

0<br />

e −x b<br />

xdx = lim<br />

b→+∞<br />

0<br />

= lim<br />

b→+∞ [−e−b b−<br />

b<br />

= − lim<br />

b→+∞ e−bb− lim<br />

b→+∞<br />

0<br />

= 0−(−1) = 1.<br />

Supondo válido até n−1 a fórmula:<br />

obtemos +∞<br />

0<br />

0<br />

e −x xdx =<br />

e −x dx] =<br />

b<br />

e −x dx =<br />

+∞<br />

e<br />

0<br />

−x x n−1 dx = (n−1)!<br />

e −x x n b<br />

dx = lim e<br />

b→+∞<br />

0<br />

−x x n dx =<br />

b<br />

e<br />

0<br />

−x x n−1 dx] =<br />

= lim<br />

b→+∞ [−e−b b n −n<br />

= 0−n·(n−1)! = n!<br />

Definimos o valor da Função Gama em cada n+1 por<br />

Γ(n+1) :=<br />

+∞<br />

e<br />

0<br />

−x x n dx = n!<br />

Afirmação 2.3. Para todo p ∈ R,p > −1, existe a integral imprópria:<br />

Demonstração.<br />

Se p > 0, o conhecido limite<br />

implica que<br />

+∞<br />

e<br />

0<br />

−x x p dx.<br />

lim<br />

x→+∞ xp+2 ·e −x = 0<br />

xp 1<br />

<<br />

ex x2,


CAPÍTULO 27. INTEGRAIS IMPRÓPRIAS 395<br />

se x > K (suficientemente gran<strong>de</strong>).<br />

Então para esse K > 0 escrevo:<br />

+∞<br />

e<br />

0<br />

−x x p K<br />

dx = e<br />

0<br />

−x x p +∞<br />

dx+ e<br />

K<br />

−x x p dx.<br />

A integral <strong>de</strong> 0 até K existe pois p > 0. Mas para vermos que existe também a<br />

integral<br />

escrevo, para x > K:<br />

+∞<br />

K<br />

+∞<br />

e<br />

K<br />

−x x p dx<br />

e −x x p dx ≤<br />

+∞<br />

(esta última conhecida da Seção 27 do Capítulo 23.)<br />

Se<br />

o problema agora na integral<br />

K<br />

−1 < p < 0<br />

+∞<br />

e<br />

0<br />

−x x p dx<br />

é quando x ց 0.<br />

Faço, para 0 < a < J, a integração por partes:<br />

J<br />

e observo que agora<br />

J<br />

0<br />

a<br />

e −x x p −J<br />

Jp+1 ap+1<br />

dx = e −e−a<br />

p+1 p+1 +<br />

e −x x p −J<br />

Jp+1<br />

dx = e<br />

p+1<br />

e esses limites existem pois 0 < p+1.<br />

1<br />

dx < +∞<br />

x2 J<br />

ap+1<br />

− lim[e−a<br />

aց0 p+1 +<br />

J<br />

a<br />

a<br />

−x<br />

xp+1<br />

e<br />

p+1 dx<br />

−x<br />

xp+1<br />

e<br />

p+1 dx]<br />

Portanto o valor da Função Gama em cada p ∈ R, p > −1, é dado por<br />

Γ(p+1) :=<br />

+∞<br />

e<br />

0<br />

−x x p dx<br />

O mesmo argumento dado na prova da Afirmação 2.2 dá agora que:<br />

Γ(p+1) = p·Γ(p), ∀p ∈ R,p > 0.


4. EXERCÍCIOS 396<br />

Afirmação 3.1. (L. Euler, 1730)<br />

Demonstração.<br />

Com a substituição:<br />

temos 1<br />

(−ln(u)) n du =<br />

0<br />

3. Fórmula <strong>de</strong> Euler para o fatorial<br />

n! =<br />

1<br />

0<br />

(−ln(u)) n du.<br />

x := −ln(u) ou seja u = e −x , du = −e −x dx,<br />

on<strong>de</strong> na última igualda<strong>de</strong> usei a Afirmação 2.2.<br />

0<br />

x<br />

+∞<br />

n (−e −x +∞<br />

)dx = x<br />

0<br />

n e −x dx = n!<br />

4. Exercícios<br />

Exercício 4.1. Defina cosh(x) := ex +e −x<br />

2 , o cosseno hiperbólico.<br />

Para a > 0 e k > a, mostre que a Transformada <strong>de</strong> Laplace:<br />

vale<br />

k<br />

k 2 −a 2.<br />

Exercício 4.2. Mostre que:<br />

apesar <strong>de</strong> que<br />

+∞<br />

0<br />

+∞<br />

2<br />

e −kx cosh(ax)dx<br />

1<br />

dx = +∞,<br />

ln(x)<br />

1<br />

lim = 0.<br />

x→+∞ ln(x)


CAPíTULO 28<br />

A curvatura dos gráficos<br />

1. O comprimento <strong>de</strong> um gráfico<br />

Consi<strong>de</strong>re o gráfico <strong>de</strong> uma função f : [a,b] → R. Gostaríamos nesta Seção <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finir e calcular o comprimento <strong>de</strong>sse gráfico.<br />

Na prática imagine uma curva feita <strong>de</strong> um material não-elástico, como um arame,<br />

que queremos <strong>de</strong>sentortar e calcular seu comprimento.<br />

Consi<strong>de</strong>re uma partição<br />

a = t0 < t1 < ... < tn = b<br />

do domínio [a,b] e consi<strong>de</strong>re o comprimento da poligonal inscrita no gráfico <strong>de</strong> f<br />

formada <strong>de</strong> n segmentos:<br />

pn := (t1 −t0) 2 +(f(t1)−f(t0)) 2 +...+ (tn −tn−1) 2 +(f(tn)−f(tn−1)) 2 .<br />

Ou seja,<br />

<br />

pn =<br />

1+( f(t1)−f(t0)<br />

)<br />

t1 −t0<br />

2 ·(t1 −t0)+...+<br />

<br />

1+( f(tn)−f(tn−1)<br />

)<br />

tn −tn−1<br />

2 ·(tn −tn−1).<br />

Se usamos em cada sub-intervalo [ti−1,ti] da partição o Teorema do Valor Médio<br />

<strong>de</strong> Lagrange, então:<br />

Então<br />

f(ti)−f(ti−1)<br />

ti −ti−1<br />

= f ′ (ξi), ξi ∈ (ti−1,ti).<br />

pn = 1+(f ′ (ξ1)) 2 ·(t1 −t0)+...+ 1+(f ′ (ξn)) 2 ·(tn −tn−1).<br />

Refinando a partição esperamos estar inscrevendo uma poligonal cujo tamanho<br />

cada vez mais aproxima o tamanho do gráfico <strong>de</strong> f. A passagem ao limite n → +∞,<br />

com a norma da partição <strong>de</strong> [a,b] ten<strong>de</strong>ndo a zero, sugere que <strong>de</strong>finamos<br />

Definição 1.1. Suponha um gráfico <strong>de</strong> f : [a,b] → R, com f <strong>de</strong>rivável e f ′ (x) uma<br />

função contínua.<br />

O comprimento do gráfico <strong>de</strong> (a,f(a)) até (b,f(b)) será <strong>de</strong>finido pela integral<br />

b<br />

a<br />

1+f ′ (x) 2 dx.<br />

A primeira coisa que vemos nessa Definição 1.1 é que provavelmente em muitos<br />

casos não será fácil calcular esse comprimento, pois dará uma integral complicada (às<br />

vezes irredutíveis a funções elementares).<br />

397


1. O COMPRIMENTO DE UM GRÁFICO 398<br />

Mas como f ′ (x) é contínua se vê que <strong>de</strong> qualquer forma existe a integral que dá<br />

o comprimento.<br />

Exemplos:<br />

• No caso y = f(x) = A·x+B uma reta, nossa <strong>de</strong>finição é apenas o conteúdo<br />

do teorema <strong>de</strong> Pitágoras:<br />

b √<br />

1+f ′ (x) 2dx = 1+A 2 ·(b−a) =<br />

a<br />

= (b−a) 2 +(A(b−a)) 2 = (b−a) 2 +(Ab+B −Aa−B)) 2 .<br />

• No caso y = x2 já não é tão evi<strong>de</strong>nte quanto me<strong>de</strong> seu gráfico:<br />

b <br />

b √<br />

1+f ′ (x) 2dx = 1+4x 2dx. Faço:<br />

a<br />

e b<br />

Uma primitiva <strong>de</strong> √ 1+u 2 é<br />

Logo:<br />

b<br />

a<br />

a<br />

u = 2x, e du = 2dx<br />

√ 1<br />

1+4x 2dx =<br />

2 ·<br />

2b √<br />

1+u 2du. 2a<br />

u<br />

2<br />

√ 1+u 2 + 1<br />

2 ln(u+√ 1+u 2 ).<br />

√ 1+4x 2 dx = 1<br />

2 ·[2b<br />

2 ·√ 1+4b 2 + 1<br />

2 ln(2b+√ 1+4b 2 )−<br />

− 2a<br />

2 ·√1+4a 2 − 1<br />

2 ln(2a+√1+4a 2 )].<br />

Para a = 0, b = 1 isso dá:<br />

1<br />

2 ·[√5+ 1<br />

2 ln(2+√5)] ∼ 1.478942857<br />

• Como o segmento <strong>de</strong> reta <strong>de</strong> (0,0) a (1,1) me<strong>de</strong> √ 2 ∼ 1.414213562, e como<br />

x 2 < x 3<br />

2 < x, se x ∈ [0,1],<br />

a<br />

é natural que o comprimento do gráfico <strong>de</strong> y = x 3<br />

2 <strong>de</strong> x = 0 até x = 1 seja<br />

um valor entre 1.414213562 e 1.478942857.<br />

De fato,<br />

b<br />

a<br />

1+f ′ (x) 2 dx =<br />

= 4<br />

9 ·<br />

13<br />

4<br />

1<br />

=<br />

1<br />

0<br />

<br />

1<br />

0<br />

<br />

1+( 3<br />

2 x1 2) 2dx =<br />

1+ 9<br />

xdx =<br />

4<br />

√ 4 2<br />

udu = ·<br />

9 3 ·[(13<br />

4 )<br />

3<br />

2<br />

−1] ∼


CAPÍTULO 28. A CURVATURA DOS GRÁFICOS 399<br />

∼ 1.439709873<br />

• Note no exemplo anterior que, se tivéssemos tomado uma função do tipo x m<br />

n<br />

com (m,n) = (3,2), não seria muito claro o que fazer. Cairíamos na integral:<br />

<br />

1<br />

1+ m2<br />

·x2(m n<br />

n2 −1) dx<br />

0<br />

que não temuma expressão através <strong>de</strong> funções conhecidas se(m,n) são escolhidos<br />

genéricamente. Veremos mais integrais intratáveis na Seção seguinte.<br />

2. Um problema da Putnam Competition, n.2, 1939<br />

Nem todos os problemas <strong>de</strong>ssa competição são difíceis, este aí é bem direto:<br />

Problema: Encontrar o comprimento da curva y 2 = x 3 da origem até o ponto on<strong>de</strong><br />

a reta tangente faz um ângulo <strong>de</strong> 45 graus com o eixo dos x.<br />

Solução:<br />

Essa curva associa a cada valor <strong>de</strong> x > 0 dois valores possíveis <strong>de</strong> y, a saber:<br />

y = √ x 3 e y = − √ x 3 . No ramo on<strong>de</strong> y = √ x 3 estão localizados os pontos on<strong>de</strong><br />

a retas tangentes têm inclinação positiva. E como estamos buscando o ponto on<strong>de</strong><br />

a inclinação é 1 (pois queremos 45 graus) po<strong>de</strong>mos pensar que perto <strong>de</strong>sse ponto a<br />

curva é o gráfico <strong>de</strong> y = √ x 3 .<br />

Assim buscamos x > 0 que verifica:<br />

ou seja, 9x<br />

= 1, que dá 4<br />

Agora é só calcular:<br />

4<br />

9<br />

on<strong>de</strong> F(u) = 2<br />

3 ·u3 2.<br />

0<br />

y ′ (x) = 3x2<br />

2 3<br />

=<br />

x3 2 x12<br />

= 1,<br />

x = 4<br />

9 .<br />

<br />

1+( 3<br />

2 x12)<br />

2dx =<br />

=<br />

2<br />

1<br />

4<br />

9<br />

0<br />

<br />

1+ 9<br />

xdx =<br />

4<br />

√ 4 4<br />

u du =<br />

9 9 ·(F(2)−F(1))<br />

3. Curvas parametrizadas e seu vetor velocida<strong>de</strong><br />

Será muito útil mais adiante trabalharmos também com curvas parametrizadas,<br />

ou seja, com aplicações<br />

Γ : R → R 2 , (x(t),y(t)), t ∈ [a,b]<br />

que supomos ter coor<strong>de</strong>nadas x(t) e y(t) <strong>de</strong>riváveis.


3. CURVAS PARAMETRIZADAS E SEU VETOR VELOCIDADE 400<br />

O traço <strong>de</strong> uma curva parametrizada Γ é o conjunto imagem Γ([a,b]). Observo<br />

que nem sempre Γ([a,b]) é gráfico <strong>de</strong> alguma função; por exemplo, Γ([0,2π]) é um<br />

círculo inteiro, quando tomamos<br />

Γ : R → R 2 , (cos(t),sin(t)), t ∈ [0,2π]<br />

O vetor velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Γ é <strong>de</strong>finido por:<br />

Note que:<br />

Γ ′ (t0) := (lim<br />

h→0<br />

= lim<br />

h→0<br />

Γ ′ (t0) := (x ′ (t0),y ′ (t0)).<br />

x(t0 +h)−x(t0)<br />

h<br />

, lim<br />

h→0<br />

y(t0 +h)−y(t0)<br />

, ) =<br />

h<br />

1<br />

h ·[(x(t0 +h),y(t0 +h))−(x(t0),y(t0))],<br />

on<strong>de</strong> a última igualda<strong>de</strong> é um pouco mais que uma <strong>de</strong>finição.<br />

A Figura a seguir ilustra os vetores<br />

Γ(t0) = (x(t0),y(t0)), Γ(t0 +h) = (x(t0 +h),y(t0 +h)) e Γ(t0 +h)−Γ(t0).<br />

Γ ( t_0<br />

Γ<br />

)<br />

Γ ( t_0 + h )<br />

O<br />

Γ (<br />

_<br />

t_0 + h ) Γ ( t_0 )<br />

A próxima ilustra a posição limite <strong>de</strong> 1<br />

h ·(Γ(t0 +h)−Γ(t0)), ou seja, Γ ′ (t0).<br />

E a Figura a seguir ilustra<br />

Γ<br />

Γ ( t_0 )<br />

Γ(t0)+Γ ′ (t0)<br />

O<br />

Γ ( t_0 )<br />

como vetor que pertence à reta tangente <strong>de</strong> Γ no ponto Γ(t0) = (x(t0),y(t0)).


CAPÍTULO 28. A CURVATURA DOS GRÁFICOS 401<br />

Para curvas parametrizadas<br />

Γ ( t_0 )<br />

Γ<br />

Γ ( t_0 ) + Γ ( t_0 )<br />

O<br />

Γ ( t_0 )<br />

4. Integrais que ninguém po<strong>de</strong> integrar<br />

Γ : R → R 2 , (x(t),y(t)), t ∈ [a,b]<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir seu comprimento por:<br />

b<br />

s := (x ′ (t) 2 +(y ′ (t)) 2dx. a<br />

Fazer integrais é um artesanato, on<strong>de</strong> é preciso ter um pacote <strong>de</strong> integrais conhecidas<br />

e tentar recair numa <strong>de</strong>ssas através <strong>de</strong> uma técnica ou outra (substituição , por<br />

partes, etc.) Porém existem integrais que não tem uma primitiva razoável,elementar<br />

como se costuma chamar. E essas integrais indomáveis rondam as conhecidas ...<br />

Vejamos um exemplo fundamental.<br />

Quando parametrizamos um círculo <strong>de</strong> raio a > 0 por<br />

(acos(t),asin(t))<br />

seu comprimento é dado por:<br />

2π<br />

a2sin(t) 2 +a2 cos(t) 2dt = a·<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

dt = 2πa.<br />

Porémsenossocírculoviraumaelipse x2 y2<br />

a2+ b2 = 1coma > b, então umaparametrização é:<br />

(acos(t),bsin(t))<br />

e seu comprimento é:<br />

2π<br />

a2sin 2 (t)+b 2cos2 (t)dt =<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

<br />

2π<br />

2π<br />

0<br />

<br />

a 2 sin 2 (t)+b 2 (1−sin 2 (t))dt =<br />

b 2 +(a 2 −b 2 )·sin 2 (t)dt =<br />

<br />

= b· 1−(1−<br />

0<br />

a2<br />

b2)·sin2 (t)dt.<br />

Eis uma integral sem primitiva elementar, chamada <strong>de</strong> integral elíptica.<br />

O que se faz é dar aproximações <strong>de</strong>ssa integral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma bem inocente:<br />

≈ 2·π ·( a+b<br />

2 )


5. VELOCIDADE DE UM GRÁFICO OU DE UMA CURVA 402<br />

até uma que exige o gênio <strong>de</strong> S. Ramanujan:<br />

≈ π ·(3·(a+b)− (a+3b)(3a+b)).<br />

Veremos na Seção 42 do Capítulo 40 que a função:<br />

E(x) :=<br />

π<br />

2<br />

0<br />

<br />

1−x 2 ·sin 2 (t)dt<br />

satisfaz uma equação diferencial e <strong>de</strong>pois que tem um <strong>de</strong>senvolvimento em série infinita,<br />

cujos truncamentos darão portanto aproximações do comprimento da elipse,<br />

que é, pela sua simetria:<br />

<br />

= 4·b·E( 1− a2<br />

b2). 5. Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um gráfico ou <strong>de</strong> uma curva<br />

Como pelo Primeiro Teorema do Cálculo:<br />

<br />

x <br />

1+(f ′ (x)) 2 = ( 1+f ′ (t) 2 ′<br />

dt)<br />

a<br />

é natural <strong>de</strong>notarmos<br />

ds<br />

dx = 1+(f ′ (x)) 2 .<br />

Essa gran<strong>de</strong>za será chamada velocida<strong>de</strong> do gráfico no instante x.<br />

Note que sempre<br />

ds<br />

> 0<br />

dx<br />

o que diz o comprimento do gráfico sempre é uma função estritamente crescente. E<br />

a<strong>de</strong>mais, isso diz que existe uma função inversa: x = x(s). Logo dado um comprimento<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> f(a) = A <strong>de</strong>termino univocamente x e daí um único ponto no gráfico.<br />

Portanto existe uma função bem <strong>de</strong>finida P = P(s) que <strong>de</strong>screve os pontos do gráfico.<br />

Para curvas parametrizadas<br />

seu comprimento foi <strong>de</strong>finido por:<br />

Γ : R → R 2 , (x(t),y(t)), t ∈ [a,b]<br />

s :=<br />

b<br />

a<br />

(x ′ (t) 2 +(y ′ (t)) 2 dx.<br />

Como Γ ′ (t) := (x ′ (t),y ′ (t)) é o vetor tangente a Γ então<br />

b<br />

s =<br />

a<br />

||Γ ′ (t)||dt.<br />

Também é natural consi<strong>de</strong>rar:<br />

ds<br />

dt = ||Γ′ (t)|| = (x ′ (x) 2 +(y ′ (x)) 2 .


CAPÍTULO 28. A CURVATURA DOS GRÁFICOS 403<br />

6. Definição <strong>de</strong> curvatura e sua fórmula<br />

A noção intuitiva <strong>de</strong> curvatura é a <strong>de</strong> uma medida <strong>de</strong> quanto mudam as direções<br />

das retas tangentes (em relação a algum eixo fixado como referência).<br />

Mas, para que a curvatura <strong>de</strong> um gráfico G seja um conceito geométrico, vamos<br />

<strong>de</strong>fini-la como uma medida <strong>de</strong> quanto mudam as direções das tangentes num trecho<br />

<strong>de</strong> um gráfico em relação a quanto vale o comprimento da porção do gráfico.<br />

Como critério <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> um possível <strong>de</strong>finição exigiremos que um círculo<br />

Cr <strong>de</strong> raio r tenha curvatura constante e <strong>de</strong> fato κ = 1<br />

r<br />

(para que os círculo muito<br />

gran<strong>de</strong>s se curvem muito pouco).<br />

Essa exigência é natural, pois quando percorremos todo o círculo, percorremos<br />

s = 2πr e o ângulo θ formado pelas retas tangentes variou 2π. Logo<br />

κ(Cr) := ∆θ 1<br />

=<br />

∆s r .<br />

Para motivarmos a Definição e Fórmula 6 abaixo, consi<strong>de</strong>ro θ = θ(s) uma função<br />

que me<strong>de</strong> como varia o ângulo formado pelas direções tangentes em relação ao comprimento<br />

do gráfico percorrido.<br />

Então a regra da <strong>de</strong>rivada da composta diz1 :<br />

Por outro lado,<br />

e a regra da composta dá:<br />

d tan(θ(s))<br />

ds<br />

d tan(θ(s))<br />

ds<br />

= d tan(θ(s))<br />

dθ<br />

= sec 2 (θ(s))· dθ(s)<br />

ds .<br />

dy<br />

(x(s)) = tan(θ(s))<br />

dx<br />

= d dy<br />

dx (x(s))<br />

dx<br />

· dθ(s)<br />

ds =<br />

· dx<br />

(s) =<br />

ds<br />

= d2y dx<br />

dx2(x(s))· ds (s).<br />

A taxa <strong>de</strong> variação que queremos para <strong>de</strong>finir curvatura é<br />

Até agora temos:<br />

dθ(s)<br />

ds =<br />

Mas <strong>de</strong>finimos na Seção 1 anterior:<br />

s(x) :=<br />

dθ(s)<br />

ds .<br />

d2 y dx<br />

dx2(x(s))· x<br />

a<br />

ds (s)<br />

sec2 .<br />

(θ(s))<br />

<br />

1+( dy<br />

dx )2 dt,<br />

1 A notação <strong>de</strong> Leibniz <strong>de</strong>ixa mas claro em relação a que variável <strong>de</strong>rivamos


6. DEFINIÇÃO DE CURVATURA E SUA FÓRMULA 404<br />

ou seja, pelo Primeiro Teorema do Cálculo:<br />

<br />

ds<br />

(x) = 1+(<br />

dx dy<br />

dx )<br />

Pela <strong>de</strong>rivada da função inversa teremos:<br />

E também po<strong>de</strong>mos escrever:<br />

Logo obtivemos:<br />

dx<br />

(s) =<br />

ds<br />

sec(θ(s)) =<br />

dθ(s)<br />

ds =<br />

1<br />

2<br />

<br />

1+( dy<br />

dx )2.<br />

<br />

Essa é a justificação da seguinte <strong>de</strong>finição:<br />

.<br />

1+( dy<br />

dx )2 .<br />

d 2 y<br />

dx 2(x(s))<br />

(1+( dy<br />

dx )2 ) 3<br />

2<br />

Definição 6.1. A curvatura 2 do gráfico <strong>de</strong> y = f(x) é:<br />

κ(x) :=<br />

| d2 y<br />

dx2 |<br />

(1+( dy<br />

dx )2 ) 3.<br />

2<br />

A Figura a seguir dá um exemplo <strong>de</strong> como varia a curvatura:<br />

0<br />

-2 -1 0<br />

1<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

x<br />

Figura: Em vermelho y = x 2 e em ver<strong>de</strong> sua função curvatura.<br />

Observação 6.1. Note que acima obtivemos:<br />

Como<br />

dx<br />

ds<br />

= cos(θ(s)).<br />

dy<br />

(x(s)) = tan(θ(s))<br />

dx<br />

2 por enquanto não nos interessa ter sinais, por isso tomamos o módulo<br />

.<br />

2


CAPÍTULO 28. A CURVATURA DOS GRÁFICOS 405<br />

então a regra da composta dá:<br />

dy<br />

ds<br />

dy dx<br />

= ·<br />

dx ds<br />

ou seja:<br />

dy<br />

= sin(θ(s)).<br />

ds<br />

Novamente, no caso <strong>de</strong> uma curva parametrizada, po<strong>de</strong>mos esten<strong>de</strong>r a Definição<br />

6.1 para:<br />

Definição 6.2. Se<br />

Γ : R → R 2 , (x(t),y(t)), t ∈ [a,b]<br />

é uma curva parametrizada então sua curvatura é dada por:<br />

κ(t) := |x′ (t)y ′′ (t)−x ′′ (t)y ′ (t)|<br />

(x ′ (t) 2 +y ′ (t) 2 ) 3 .<br />

2<br />

Note que esta Definição 6.2 é realmente é uma estensão da Definição 6.1, pois<br />

quando t = x, temos x ′ (x) ≡ 1 e x ′′ (x) ≡ 0.<br />

7. Qual a curvatura <strong>de</strong> uma quina ?<br />

A curvatura <strong>de</strong> uma reta certamente é zero, já que a segunda <strong>de</strong>rivada é zero.<br />

Mas numa linha quebrada, formada <strong>de</strong> pedaços <strong>de</strong> retas, que curvatura faria sentido<br />

associar à um ponto que é uma quina ??<br />

Após a Afirmação seguinte daremos uma resposta:<br />

Afirmação 7.1. Consi<strong>de</strong>re um braço <strong>de</strong> hipérbole:<br />

y = fǫ(x) = ǫ<br />

, ∀x > 0,<br />

x<br />

on<strong>de</strong> ǫ > 0 é fixado. Então:<br />

i) sua função curvatura é κ(x) = 2ǫ·x3<br />

(x4 +ǫ2 ) 3. 2<br />

ii) limx→+∞ κ(x) = 0 e limxց0 κ(x) = 0.<br />

iii) o ponto <strong>de</strong> máximo <strong>de</strong> κ(x) é em x = √ ǫ. Nele a curvatura é:<br />

√<br />

2<br />

2 √ ǫ .<br />

iv) limǫց0 κ( √ ǫ) = +∞.<br />

Demonstração.<br />

A função curvatura é para x > 0:<br />

Portanto:<br />

κ(x) =<br />

lim<br />

x→+∞<br />

2ǫ<br />

x 3<br />

(1+ ǫ2<br />

3<br />

2<br />

x4) 2ǫ·x 3<br />

(x 4 +ǫ 2 ) 3<br />

2<br />

= 2ǫ·x3<br />

(x4 +ǫ2 ) 3.<br />

2<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

x3 = 0<br />

x6


7. QUAL A CURVATURA DE UMA QUINA ? 406<br />

e, já que limxց0<br />

1<br />

(x 4 +ǫ 2 ) 3 2<br />

= 1<br />

ǫ 3 > 0, então claramente<br />

lim<br />

xց0<br />

2ǫ·x 3<br />

(x 4 +ǫ 2 ) 3<br />

2<br />

Para buscarmos mínimo <strong>de</strong> κ(x) a <strong>de</strong>rivamos:<br />

e vemos que:<br />

= 0,<br />

κ ′ (x) = −6ǫ·x2 ·(x4 −ǫ2 )<br />

(x4 +ǫ2 ) 5/2<br />

,<br />

κ ′ (x) > 0 se 0 < x < √ ǫ,<br />

κ ′ (x) = 0 se x = √ ǫ,<br />

κ ′ (x) < 0 se √ ǫ < x<br />

o que diz nitidamente que x = √ ǫ é o ponto <strong>de</strong> máximo <strong>de</strong> k(x). Que nele vale:<br />

κ( √ √<br />

2<br />

ǫ) =<br />

2 √ ǫ .<br />

A Figura a seguir dá o gráfico da curvatura para ǫ = 1:<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0,5 1<br />

1,5<br />

2<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = 1<br />

x (vermelho), sua κ(x) (ver<strong>de</strong>) e o valor y = 1 √ 2 em azul<br />

2,5<br />

Quando ǫ → 0 o ponto x = √ ǫ ten<strong>de</strong> a x = 0, assim como todo o gráfico <strong>de</strong><br />

ten<strong>de</strong> à união <strong>de</strong> retas x·y = 0, pois:<br />

y = fǫ(x) = ǫ<br />

x<br />

ao longo do gráfico <strong>de</strong> y = fǫ(x).<br />

E pelo item iv) da Afirmação 7.1:<br />

y ·x = ǫ<br />

lim<br />

ǫց0 κ( √ ǫ) = +∞<br />

3<br />

3,5<br />

4


CAPÍTULO 28. A CURVATURA DOS GRÁFICOS 407<br />

Assim se fôssemos atribuir um valor <strong>de</strong> curvatura a (0,0) como ponto da união <strong>de</strong><br />

retas<br />

y ·x = 0<br />

<strong>de</strong>veríamos pôr: κ = +∞.


CAPíTULO 29<br />

Séries convergentes<br />

1. Séries k-harmônicas, k > 1.<br />

Consi<strong>de</strong>remos novamente a Afirmação 0.1 do Capítulo 27, que dizia que:<br />

+∞<br />

1<br />

1 1<br />

dx =<br />

xk k −1 .<br />

Essa é a área da região à direita <strong>de</strong> 1 sob o gráfico <strong>de</strong> y = 1<br />

x k. Note que essa área<br />

é maior que a soma <strong>de</strong> áreas dos retângulos justapostos<br />

[1,2]×[0, 1 1<br />

2k] ∪ [2,3]×[0,<br />

3<br />

k] ∪ ...∪[n,n+1]×∪[0,<br />

1<br />

(n+1) k]...<br />

on<strong>de</strong> os três pontos significam que po<strong>de</strong>mos ir colocando sempre retângulos à direita.<br />

Mas a área <strong>de</strong>sses retângulos todos é (ainda num sentido vago) uma soma infinita:<br />

1 1 1<br />

+ +...+ ...<br />

2k 3k nk Pela Afirmação 0.1 -i), com a = 1 temos:<br />

1 1 1 1<br />

∀n ∈ N, + +...+ <<br />

2k 3k nk k −1 .<br />

O que significa essa soma infinita:<br />

1 1 1<br />

+ +...+ ... ?<br />

2k 3k nk Simplesmente quer dizer que existe o limite da sequência xn dada por<br />

xn := 1 1 1<br />

+ +...+<br />

2k 3k nk, k ≥ 2.<br />

Aqui é importante que k ≥ 2, pois pelo que vimos na prova da Afirmação 6.1 a<br />

soma infinita<br />

1 1 1<br />

+ +...+<br />

2 3 n ...<br />

tem um comportamento diferente, ela fica tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos.<br />

Definição 1.1. As séries 1<br />

2 k + 1<br />

3 k +...+ 1<br />

n k ... são chamadas k-harmônicas. A série<br />

1-harmônica 1<br />

2<br />

+ 1<br />

3<br />

+...+ 1<br />

n<br />

Como a Afirmação 0.1 diz que<br />

... é chamada apenas <strong>de</strong> harmônica.<br />

∀n ∈ N, xn < 1<br />

k −1<br />

409


1. SÉRIES K-HARMÔNICAS, K > 1. 410<br />

1<br />

dizemos que a sequência (xn)n é limitada superiormente por (a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> lim-<br />

k−1<br />

itada infeiormente é análoga). E nitidamente é crescente, ou seja:<br />

xn ≤ xn+1<br />

pois xn+1 = xn + 1<br />

(n+1) k (a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>crescente é análoga).<br />

Então a nossa (xn)n é um exemplo <strong>de</strong> sequência limitada superiormente e crescente,<br />

se<br />

xn := 1 1 1<br />

+ +...+<br />

2k 3k nk, k ≥ 2.<br />

A seguir dou princípios gerais e úteis para sequências e séries:<br />

Teorema 1.1. i) toda sequência (xn)n limitada superiormente e crescente tem<br />

lim<br />

n→+∞ xn.<br />

ii) toda sequência (xn)n limitada inferiormente e <strong>de</strong>crescente tem<br />

iii) sejam +∞<br />

i=1 ai e +∞<br />

i=1 bi com<br />

lim<br />

n→+∞ xn.<br />

0 < ai ≤ bi, ∀i ∈ N.<br />

Se +∞<br />

i=1 bi converge também +∞<br />

i=1 ai converge.<br />

Se +∞<br />

i=1 ai diverge então +∞<br />

i=1 bi diverge.<br />

Demonstração.<br />

A prova dos itens i) e ii) se discute em cursos <strong>de</strong> Análise matemática. A prova<br />

não dá nenhuma pista em geral <strong>de</strong> quanto vale esse limite, apenas que existe.<br />

Já iii) segue <strong>de</strong> i): <strong>de</strong> fato, se +∞<br />

i=1 bi converge então em particular fica limitada,<br />

por exemplo ≤ K.<br />

Mas então sn := a1 +...+an é uma sequência crescente, pois ai > 0, e limitada,<br />

já que<br />

a1 +...+an ≤<br />

+∞<br />

i=1<br />

bi ≤ K.<br />

Logo converge +∞<br />

i=1 ai por i).<br />

Agora, quando +∞<br />

i=1 ai diverge então sn := a1 + ... + an forma uma sequência<br />

<strong>de</strong><br />

<br />

números <strong>de</strong> tamanho tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos (caso contrário i) diria que<br />

+∞<br />

i=1 ai converge). Mas então<br />

b1 +...+bn ≥ a1 +...+an<br />

também forma uma sequência <strong>de</strong> números <strong>de</strong> tamanho tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos.<br />

Portanto +∞<br />

i=1 bi diverge.


CAPÍTULO 29. SÉRIES CONVERGENTES 411<br />

Somente no Exercício 7.1 do Capítulo 46 conseguiremos provar que:<br />

π 2<br />

6<br />

1 1 1<br />

= 1+ + + +...<br />

22 32 42 2. A série geométrica<br />

Afirmação 2.1. Seja r um número Real, com 0 ≤ |r| < 1. Defina a sequência cujo<br />

xn := 1+r+r 2 +...+r n . Então<br />

• i) ∀n ∈ N, xn = 1−rn+1<br />

1−r .<br />

• ii) limn→+∞ |r| n = 0 e limn→+∞ r n = 0.<br />

• iii) limn→+∞ xn = 1<br />

1−r n.<br />

Demonstração.<br />

Claro que se |r| = 0 então r = 0 e tudo que afirmamos é obviamente válido. Logo<br />

no que segue 0 < |r| < 1.<br />

e<br />

Prova <strong>de</strong> i), por indução:<br />

Se n = 1, então <strong>de</strong> fato vale 1+r = 1−r2<br />

1−r<br />

1+r +r 2 +...+r n−1 = 1−rn<br />

1−r<br />

. Supondo a fórmula até n−1:<br />

1+r +r 2 +...+r n−1 +r n = 1−rn<br />

1−r + rn ·(1−r)<br />

=<br />

1−r<br />

= 1−rn+1<br />

.<br />

1−r n<br />

Para provar ii), note que 0 < |r| < 1 implica (multiplicando por r positivo):<br />

e assim obtemos por indução:<br />

0 < |r| 2 < |r| < 1,<br />

0 < |r| n < |r| n−1 < 1, ∀n ∈ N<br />

Mas então a sequencia (|r| n )n é <strong>de</strong>crescente e obviamente limitada inferiormente pelo<br />

0. Pelo Teorema 1.1) existe<br />

lim<br />

n→+∞ |r|n = L.<br />

Mas afirmo que L = 0 (a principio seria apenas 0 ≤ L ≤ |r| < 1).<br />

Meu argumento agora usará uma analogia 1 : se uma fila completa <strong>de</strong> pessoas ten<strong>de</strong><br />

a um lugar, as pessoas nas posições pares também ten<strong>de</strong>m a esse lugar.<br />

Ou seja, quero dizer que:<br />

lim<br />

n→+∞ |r|n = L ⇒ lim<br />

n→+∞ |r|2n = L.<br />

1 Rigorosamente trata-se <strong>de</strong> argumentar com uma subsequência da sequência toda


3. O TESTE DA RAZÃO (QUOCIENTE) 412<br />

Por outro lado<br />

lim<br />

n→+∞ |r|2n = lim<br />

n→+∞ (|r|n ) 2<br />

e pelo limite <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> sequências:<br />

lim<br />

n→+∞ (|r|n ) 2 = lim<br />

n→+∞ |r|n · lim<br />

n→+∞ |r|n = L 2 .<br />

Então L = L 2 . Logo L(L−1) = 0 e L = 0 ou L = 1. Mas<br />

|r| n < |r| < 1.<br />

impe<strong>de</strong> que seja L = 1, ou seja, temos L = 0.<br />

Bom agora só resta obervar que também limn→+∞ r n = 0. Mas o que significa<br />

limn→+∞ r n = 0 ? Significa que se n é suficientemente gran<strong>de</strong> temos para qualquer ǫ<br />

dado:<br />

|r n −0| < ǫ,<br />

ou seja, pelas proprieda<strong>de</strong>s do módulo:<br />

|r n | = |r| n < ǫ.<br />

Mas temos já provado que<br />

lim<br />

n→+∞ |r|n = 0<br />

e isso diz que se n é suficientemente gran<strong>de</strong> temos para qualquer ǫ dado:<br />

como queríamos. ou seja:<br />

Prova <strong>de</strong> iii):<br />

Do item i) já temos que<br />

| |r| n −0 | < |r| n < ǫ,<br />

xn = 1−rn+1<br />

, ∀n ∈ N<br />

1−r<br />

edoitemii)temoslimn→+∞ rn = 0. Comasproprieda<strong>de</strong>s<strong>de</strong>limites<strong>de</strong>somas/produtos<br />

obtemos:<br />

lim<br />

n→+∞ xn<br />

n 1−limn→+∞r<br />

= =<br />

1−r<br />

1<br />

1−r .<br />

<br />

3. O teste da razão (quociente)<br />

Afirmação 3.1. (Teste da razão para séries positivas)<br />

Seja +∞<br />

i=1 ai com 0 < ai e suponha que existe:<br />

ai+1<br />

lim<br />

i→+∞ ai<br />

= L.<br />

Se L < 1 a série +∞<br />

i=1 ai converge, mas se L > 1 a série +∞<br />

i=1 ai diverge. Se L = 1<br />

o teste nada afirma em geral.


CAPÍTULO 29. SÉRIES CONVERGENTES 413<br />

Demonstração.<br />

No caso 1 > L := limi→+∞ ai+1<br />

ai<br />

tomamos<br />

ǫ := 1−L<br />

2<br />

e po<strong>de</strong>mos supor, a partir <strong>de</strong> um certo i0 que<br />

ou seja,<br />

Então<br />

etc até que<br />

ai+1<br />

ai<br />

> 0<br />

∈ (−ǫ+L,L+ǫ), ∀i ≥ i0,<br />

ai+1<br />

ai<br />

< r < 1 ∀i ≥ i0.<br />

ai0+1 < r ·ai0, ai0+2 < r ·ai0+1 < r 2 ai0<br />

ai0+j < r j ·ai0, ∀j ∈ N.<br />

Mas a série +∞<br />

i=1 rj · ai0 = ai0 · +∞<br />

i=1 rj é uma série geométrica convergente, pois<br />

r < 1. Então pelo item iii) do Teorema 1.1 a série<br />

converge e portanto a série toda:<br />

+∞<br />

i=1<br />

ai =<br />

+∞<br />

ai0+j<br />

j=1<br />

i0<br />

ai +<br />

i=1<br />

converge.<br />

No caso L > 1 se lida com a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

+∞<br />

ai0+j<br />

j=1<br />

1 < r < ai+1<br />

, ∀i ≥ i0<br />

e analogamente o item iii) do Teorema 1.1 dará agora que<br />

diverge.<br />

ai<br />

+∞<br />

ai<br />

i=1


4. UM ARGUMENTO GEOMÉTRICO PARA A SÉRIE GEOMÉTRICA 414<br />

4. Um argumento geométrico para a série geométrica<br />

Arquime<strong>de</strong>s provava com um argumento geométrico que<br />

1<br />

4 +(1<br />

4 )2 +( 1<br />

4 )3 +... = 1<br />

3<br />

o que dá em seguida<br />

1+ 1<br />

4 +(1<br />

4 )2 +( 1<br />

4 )3 +... = 1+ 1<br />

3 =<br />

= 4 1<br />

=<br />

3 1− 1,<br />

4<br />

em perfeita concordância com nossa Afirmação 2.1.<br />

Seu argumento é o seguinte. Tome um quadrado <strong>de</strong> lado 1 e inscreva nele um<br />

quadrado <strong>de</strong> lado 1 1 (e área portanto). a seguir a seguir é o maior quadrado em<br />

2 4<br />

vermelho. Note que à direita e acima <strong>de</strong>sse quadrado vermelho há quadrados ver<strong>de</strong> e<br />

amarelos <strong>de</strong> mesma área 1<br />

4 .<br />

Figura: Três etapas do processo <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s<br />

Agora justaponha ao quadrado vermelho um segundo quadrado vermelho, <strong>de</strong> lado<br />

1 1 e área 4 42 = 1 , como mostra a figuraa seguir (note que aparecem então dois quadra-<br />

16<br />

dos <strong>de</strong> área 1<br />

à direita e acima <strong>de</strong>le).<br />

16<br />

Assim sucessivamente, quadrados vermelhos <strong>de</strong> lado 1<br />

2n e área 1<br />

4n são justapostos,<br />

∀n ∈ N.<br />

Arquime<strong>de</strong>s argumenta que esse processo continuado preenche todo o quadrado<br />

<strong>de</strong> lado 1 com infinitos quadrados vermelhos, ver<strong>de</strong>s e amarelos. A soma das áreas<br />

dos vermelhos é a mesma soma das áreas dos ver<strong>de</strong>s e da dos amarelos. Mas então<br />

3·( 1 1 1<br />

+ + +...) = 1,<br />

4 42 43 e portanto<br />

1 1 1 1<br />

+ + +... =<br />

4 42 43 3 .


CAPíTULO 30<br />

Aproximação <strong>de</strong> Números e Funções importantes<br />

Neste Capítulo mostro que o cálculo permite, através da iteração das operações<br />

elementares +,−,/,x, obter aproximações com a precisão que se quiser <strong>de</strong>:<br />

• funções fundamentais como arctan(x),ln(x), etc<br />

• números como √ p (p primo), π, e = exp(1).<br />

Ou seja, o Cálculo transforma a gente num McGiver , aquele personagem que<br />

quase sem nenhum instrumento fabricava aparelhos incríveis em suas missões. Nós<br />

só com as quatro operações faremos tudo (e aí a gente enten<strong>de</strong> um pouco do que<br />

acontece quando se usa uma calculadora científica ...).<br />

1. Aproximações <strong>de</strong> raízes quadradas por números racionais<br />

Pensando bem, é curiosa a nomenclatura números Reais, pois esses números não<br />

estão próximos da nossa realida<strong>de</strong> nem são dados <strong>de</strong> forma natural. Quem aparece no<br />

dia-a-dia são os Naturais, os Inteiros e os Racionais, esses sim presentes nas operações<br />

matemáticas mais simples do dia a dia.<br />

Quando falamos números Reais estamos nos referindo a um conjunto <strong>de</strong> números<br />

muito maior que o conjunto dos números Racionais (isso s eprova nos cursos <strong>de</strong><br />

Análise <strong>Matemática</strong>). Apesar <strong>de</strong> que só saibamos citar um ou outro exemplo <strong>de</strong>cor :<br />

√ 2, π, etc.<br />

De fato quando Arquime<strong>de</strong>s se refere a π no seu trabalho A medida do círculo,<br />

ele o <strong>de</strong>fine como quociente entre o perímetro e o diâmetro <strong>de</strong> um círculo. Ele não<br />

prova que π /∈ Q, mas por outro lado dá um método para aproximá-lo tanto quanto<br />

se quiser por números racionais. E seu método, que é geométrico, usa em certos<br />

momentos aproximações <strong>de</strong> números como √ 3 por números Racionais.<br />

Essa é uma visão muito interessante (como todas as do gênio Arquime<strong>de</strong>s) <strong>de</strong> que<br />

números Reais são limites <strong>de</strong> sequências <strong>de</strong> números Racionais. Um ponto <strong>de</strong> vista<br />

bastante útil e prático para as aplicações da matemática e ao mesmo tempo um ponto<br />

<strong>de</strong> vista que, convenientemente adaptado produz um construção lógica dos Reais (um<br />

pouco mais adiante volto nisto).<br />

2. Raízes quadradas que são irracionais<br />

Que tal primeiro nos convercermos <strong>de</strong> que existem números Irracionais, por exemplo,<br />

que √ 2 /∈ Q ?<br />

Suponha por absurdo que sim √ 2 = p<br />

, on<strong>de</strong> p,q ∈ N com mdc(p,q) = 1 (máximo<br />

q<br />

divisor comum é um). Ou seja, uso por ex. por absurdo √ 2 = 1/3 ao invés <strong>de</strong> 2/6.<br />

415


3. COMO TIRAR RAÍZ QUADRADA SÓ COM +,−,×,/ 416<br />

Mas então obtenho: 2 = p2<br />

q2 e portanto: 2·q 2 = p2 . O número Natural p se escreve<br />

como um produto <strong>de</strong> números primos, e nesse produto o fator 2 aparece um c k ≥ 0<br />

<strong>de</strong> vezes. Por ex. no 12 = 22 · 3 o fator 2 aparece k = 2 vezes. Mas em p2 há 2k<br />

fatores 2 e 2k é sempre um número Par. Por outro lado p2 = 2·q 2 e na <strong>de</strong>composiçao<br />

do número 2 · q 2 em primos, o fator 2 aparece um número<br />

Ímpar <strong>de</strong> vezes. Essa<br />

contradição surgiu <strong>de</strong> supor que √ 2 é racional.<br />

Seolharmosbemoargumento que<strong>de</strong>mosparaconvencernos que √ 2 /∈ Q, notamos<br />

que serviria para provar que qualquer número primo P tem √ P /∈ Q.<br />

3. Como tirar raíz quadrada só com +,−,×,/<br />

Vamos aplicar alguns itens do Teorema 3.1 do Capítulo 4, que dá proprieda<strong>de</strong>s d<br />

elimites <strong>de</strong> sequências, para fazer uma mágica.<br />

Tome um número positivo A. Tome um número positivo arbitrário, qualquer<br />

x > 0 e <strong>de</strong>fina<br />

x0 := x<br />

e<br />

x1 := 1<br />

2<br />

Daí em diante, recursivamente, <strong>de</strong>fina<br />

Afirmação 3.1. 1<br />

Se a sequência<br />

·(x+ A<br />

x ).<br />

xn := 1<br />

2 ·(xn−1 + A<br />

xn−1<br />

xn := 1<br />

2 ·(xn−1 + A<br />

tem limn→+∞xn = L > 0 então <strong>de</strong> fato<br />

(a raíz positiva <strong>de</strong> A).<br />

L = √ A<br />

xn−1<br />

Em particular, se √ A for um número Irracional como por exemplo √ 2 e se x for<br />

Racional, então estamos dando um método para aproximar o número irracional pelos<br />

números Racionais<br />

xn := 1<br />

2 ·(xn−1 + A<br />

).<br />

xn−1<br />

Demonstração.<br />

Para começarmos a prova da Afirmação 3.1, argumentaremos através <strong>de</strong> uma<br />

analogia. 2<br />

1 Uma afirmação mais forte - e verda<strong>de</strong>ira - é <strong>de</strong> que <strong>de</strong> fato a sequência <strong>de</strong>finida recursivamente<br />

tem um limite L e esse limite é um número positivo.<br />

2 Rigorosamente trata-se <strong>de</strong> argumentar com uma subsequência da sequência toda<br />

)<br />

)


CAPÍTULO 30. APROXIMAÇÃO DE NÚMEROS E FUNÇÕES IMPORTANTES 417<br />

Imagine uma fila <strong>de</strong> pessoas e que a fila se move para algum lugar. Então vemos<br />

elemento n-ésimo caminhando em direção a esse lugar e o elemento (n−1)-ésimo que<br />

o segue para lá. Isso quer dizer em linguagem do dia a dia que:<br />

se limn→+∞xn = L (como supomos) então limn→+∞xn−1 = L também.<br />

Para provar a Afirmação toda, note que o Teorema 3.1 do Capítulo 4 vai dando,<br />

já que limn→+∞xn−1 = L :<br />

Mas temos<br />

lim<br />

n→+∞<br />

lim<br />

n→+∞<br />

A<br />

xn−1<br />

1<br />

xn−1<br />

= 1<br />

L ,<br />

= A· 1<br />

L<br />

= A<br />

L ,<br />

lim<br />

n→+∞ (xn−1 + A<br />

) = L+<br />

xn−1<br />

1<br />

L<br />

1<br />

lim<br />

n→+∞ 2 ·(xn−1 + A<br />

) =<br />

xn−1<br />

1 1<br />

·(L+<br />

2 L ).<br />

xn = 1<br />

2 ·(xn−1 + A<br />

e limn→+∞xn = L; logo juntando temos:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> obtemos<br />

xn−1<br />

L = 1 A<br />

·(L+<br />

2 L ),<br />

2L = L2 +A<br />

L<br />

e portanto L 2 = A; como L > 0 temos que L = √ A.<br />

Fiz um exemplo na Calculadora, on<strong>de</strong> a cada etapa a calculadora faz truncamentos.<br />

Pondo A = 2 e ∀n ≥ 1, xn := 1<br />

2 ·(xn−1 + 2<br />

xn−1 ):<br />

x0 := 390, x1 := 195.0025641 x2 := 97.50641019,<br />

x3 := 48.76346084, x4 := 24.40223758, x5 := 12.24209864,<br />

x6 := 6.202734661, x7 := 3.262586543, x8 := 1.937798551,<br />

x9 := 1.484948789, x10 := 1.415898291, x11 := 1.414214565,<br />

x12 := 1.414213562<br />

e aqui a calculadora não sai mais <strong>de</strong>sse número Racional, que para ela é a própria<br />

√ 2.<br />

De on<strong>de</strong> saiu esse formato:<br />

da sequência ?<br />

xn := 1<br />

2 ·(xn−1 + A<br />

xn−1<br />

)<br />

)


4. OS REAIS ATRAVÉS DE SEQUÊNCIAS DE NÚMEROS RACIONAIS 418<br />

Simplesmente note que é o formato dado pela Afirmação 0.1, do Capítulo 18 -<br />

Método <strong>de</strong> Newton - para a função<br />

pois:<br />

f(x) = x 2 −A,<br />

xn = xn−1 − f(xn−1)<br />

f ′ (xn−1) = xn−1 − x2 n−1 −A<br />

= 1<br />

2 ·(xn−1 + A<br />

xn−1<br />

2·xn−1<br />

4. Os Reais através <strong>de</strong> sequências <strong>de</strong> números Racionais<br />

Como sabemos, não se po<strong>de</strong> ver um buraco negro, pelo motivo <strong>de</strong> que ele atrai<br />

até mesmo os raios <strong>de</strong> luz. Então como os astrônomos po<strong>de</strong>m estar tão seguros <strong>de</strong><br />

que existem esses misteriosos objetos?<br />

O que eles vêem são estrelas sendo sugadas para um certa região, on<strong>de</strong> se acumulam<br />

milhares <strong>de</strong> estrelas, apertando-se cada vez mais numa pequena região do espaço.<br />

Daí <strong>de</strong>duzem que ali há um buraco negro.<br />

Voltando ao nosso tema, se um sequência <strong>de</strong> números xn ten<strong>de</strong> a um número L,<br />

então os seus termos vão se aproximando entre si:<br />

Afirmação 4.1. Suponha limn→+∞ xn = L. Então dado ǫ > 0 existe um nǫ tal que<br />

∀n1 ≥ nǫ e ∀n2 ≥ nǫ, |xn1 −xn2| < ǫ.<br />

Demonstração.<br />

Pela <strong>de</strong>finiçao <strong>de</strong> limn→+∞xn = L, dado ǫ > 0, existe nǫ tal que ∀n ≥ nǫ temos<br />

|xn −L| < ǫ<br />

2 .<br />

Então ∀n1,n2 ≥ nǫ temos (pela <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> triangular):<br />

|xn1 −xn2| = |xn1 −L+L−xn2| ≤<br />

≤ |xn1 −L|+|xn2 −L| < ǫ ǫ<br />

+ = ǫ.<br />

2 2<br />

Po<strong>de</strong>mos também inverter as coisas !<br />

QuetallidarmosinicialmenteapenascomnúmerosRacionaisefazermososeguinte:<br />

cada vez que vemos uma sequência <strong>de</strong> números Racionais cujos termos se aproximam<br />

entre si tanto quanto quisermos (como ocorre na conclusão da Afirmação 4.1), que<br />

tal imaginarmos, postularmos, que ali há um número Real que os atrai ?<br />

Chamaremosassequências<strong>de</strong>númerosRacionaiscujostermosseaproximamentre<br />

si <strong>de</strong> sequências fundamentais.<br />

Claro que po<strong>de</strong> acontecer que duas ou mais sequências fundamentais se acumulem<br />

na mesma região, e as imaginamos estarem sendo atraídas pelo mesmo número Real.<br />

).<br />

=


CAPÍTULO 30. APROXIMAÇÃO DE NÚMEROS E FUNÇÕES IMPORTANTES 419<br />

Diremos que duas sequências fundamentais xn e x ′ n<br />

Isso sugere então pensar que:<br />

lim<br />

n→+∞ (xn −x ′ n ) = 0.<br />

são equivalentes se<br />

cada número Real é uma classe <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> sequências fundamentais.<br />

5. Aproximações <strong>de</strong> e por números Racionais<br />

Esta Seção está <strong>de</strong>scrita <strong>de</strong> modo auto-suficiente, sem fazer apelo ao resultado da<br />

Seção 12 do Capítulo 22. Claro que o leitor tema liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> supôr aquele resultado<br />

e consi<strong>de</strong>rar esta Seção apaenas uma discretização daquela.<br />

A prova da irracionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> e = exp(1) é dada com <strong>de</strong>talhes no livro do M.<br />

Spivak, Calculus. Aqui o que discuto é como aproximá-lo por números Racionais.<br />

Primeiro veremos uma sequência que o aproxima, mas o faz <strong>de</strong> modo bastante<br />

lento, <strong>de</strong>pois indicaremos outro modo <strong>de</strong> aproximá-lo, este sim rápido.<br />

Sabemos pelo Teorema Fundamental e pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> logaritmo natural que:<br />

e portanto:<br />

ln ′ (x) = 1<br />

, ∀x > 0<br />

x<br />

ln ′ (1) = 1<br />

= 1.<br />

1<br />

Se olhamos isso pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada o que temos é que<br />

ln(1+h)−ln(1) ln(1+h)<br />

1 = lim = lim .<br />

h→0 h h→0 h<br />

Mas se isso vale para quaisquer números h ten<strong>de</strong>ndo a zero, po<strong>de</strong>mos tomá-los da<br />

forma:<br />

h = 1<br />

com n → +∞.<br />

n<br />

= 1 vira<br />

Ou seja que limh→0 ln(1+h)<br />

h<br />

Pela proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

obtenho:<br />

1 = lim<br />

n→+∞<br />

ln(1+ 1<br />

n )<br />

1<br />

n<br />

1<br />

= lim n·ln(1+<br />

n→+∞ n ).<br />

ln(x n ) = n·ln(x), ∀x > 0, ∀n ∈ N<br />

1<br />

1 = lim ln((1+<br />

n→+∞ n )n ).<br />

Suponha por um momento que a sequência xn := (1+ 1<br />

n )n tem um limite L.<br />

Então como o ln(x) é uma função contínua tenho<br />

lim<br />

n→+∞ ln((1+ 1<br />

n )n ) = ln( lim<br />

n→+∞ (1+ 1<br />

n )n ) = ln(L).


5. APROXIMAÇÕES DE E POR NÚMEROS RACIONAIS 420<br />

Aplicando exponencial:<br />

exp(1) = exp(ln(L)) = L,<br />

ou seja concluímos que xn := (1+ 1<br />

n )n é uma sequência <strong>de</strong> Racionais ten<strong>de</strong>ndo ao e.<br />

Vamos dar agora uma prova <strong>de</strong> que a sequência xn := (1+ 1<br />

n )n converge para um<br />

número entre 2 e 3:<br />

Afirmação 5.1. A sequência xn := (1+ 1<br />

n )n tem<br />

1<br />

lim (1+<br />

n→+∞ n )n = L, com 2 < L < 3.<br />

Demonstração.<br />

Basta verificar que que essa sequência é limitada superiormentemente por um<br />

número menor que 3. Pois como é nitidamente crescente e x1 = 2, o Teorema 1.1<br />

garantirá que ela converge.<br />

Começo escrevendo pela fórmula do binômio:<br />

(1+ 1<br />

n )n n<br />

<br />

n<br />

= (<br />

j<br />

1<br />

n )j =<br />

= 1+n· 1 n(n−1) 1 1<br />

+ +...+<br />

n 2! n2 nn. Agora vamos escrever essa soma <strong>de</strong> um jeito a<strong>de</strong>quado ao que segue:<br />

(1+ 1<br />

n )n =<br />

= 1+n· 1 n(n−1) 1 n(n−1)(n−2)...2 1<br />

+ +...+ =<br />

n 2! n2 n! nn = 1+1+ 1 1 1 1 2 n−2<br />

(1− )+...+ (1− )(1− )...(1−<br />

2! n n! n n n ).<br />

Agora vamos dar quotas superiores para cada parcela <strong>de</strong>sta soma, obtendo:<br />

1+1+ 1 1 1 1 2 n−2<br />

(1− )+...+ (1− )(1− )...(1− ) <<br />

2! n n! n n n<br />

< 1+1+ 1 1<br />

+...+<br />

2! n! .<br />

Para darmos novas cotas superiores a essa soma lembro um Exercício <strong>de</strong> Indução:<br />

Então<br />

1+1+ 1 1<br />

+...+<br />

2! n!<br />

j=0<br />

n! ≥ 2 n−1 ∀n ∈ N.<br />

1 1<br />

≤ 1+1+ ...+<br />

2 2n−1. ou seja, que (1+ 1<br />

n )n é sempre estritamente menor que<br />

1+1+ 1 1<br />

...+<br />

2 2n−1. É nítido que esta última soma é o resultado <strong>de</strong> adicionar 1 a um pedaço da série<br />

geométrica infinita:<br />

1+ 1<br />

2<br />

1<br />

...+ +...,<br />

2n−1


CAPÍTULO 30. APROXIMAÇÃO DE NÚMEROS E FUNÇÕES IMPORTANTES 421<br />

que já vimos vale:<br />

Logo ∀n ∈ N:<br />

como queríamos.<br />

1+ 1<br />

2<br />

1 1<br />

...+ +... =<br />

2n−1 1− 1<br />

2<br />

(1+ 1<br />

n )n < 1+(1+ 1<br />

2<br />

= 2.<br />

1<br />

...+ +...) = 3,<br />

2n−1 Fiz algumas contas no computador, obtendo os primeiros 10 valores (truncados<br />

na 10 casa após a virgula) para xn := (1+ 1<br />

n )n :<br />

x1 = 2, x2 = 2.250000000, x3 = 2.370370370, x4 = 2.441406250,<br />

x5 = 2.488320000, x6 = 2.521626372, x7 = 2.546499697,<br />

x8 = 2.565784514, x9 = 2.581174792, x10 = 2.593742460,<br />

e assim por diante, se vê que a sequência vai crescendo lentamente. Tive que ir<br />

até n = 120 para obter<br />

Se po<strong>de</strong> provar que a sequência x ′ n<br />

para e = exp(1).<br />

x120 = 2.707041491.<br />

:= 1+1/1!+1/2!+...+1/n! também ten<strong>de</strong><br />

Fiz as contas <strong>de</strong> n = 1 até n = 12 e já aqui o computador diz que cheguei no<br />

limite, ou seja o erro entre e = exp(1) e x ′ 12 está na décima-primeira casa <strong>de</strong>cimal:<br />

x ′ 1 = 2, x′ 2 = 2.500000000, x′ 3<br />

= 2.666666667,<br />

x ′ 4 = 2.708333333, x′ 5 = 2.716666667, x′ 6<br />

x ′ 7 = 2.718253968, x ′ 8 = 2.71827877, x ′ 9 = 2.718281526<br />

= 2.718055556,<br />

x ′ 10 = 2.718281801, x′ 11 = 2.718281826, x′ 12 = 2.718281828.<br />

Veja por comparação como a sequência anterior xn = (1 + 1/n) n é lenta em<br />

sua covergência para e, pois x112 = 2.707041491 ainda está bem longe <strong>de</strong> x ′ 12 =<br />

2.718281828.<br />

6. Arcotangente e cartografia<br />

Nos mapas as curvas <strong>de</strong> nível dão a informação <strong>de</strong> quanto variou a coor<strong>de</strong>nada<br />

vertical ∆y entre dois pontos e a escala do mapa te dá informação da variação da<br />

coor<strong>de</strong>nada horizontal ∆x.<br />

Logo se obtém um valor tan(α) = ∆y<br />

∆x<br />

e torna-se relevante calcular arctan(α).<br />

Logoéimportantesabermoscalcularoarcotangentecomaprecisãoquequisermos.<br />

Mas o que a calculadora científica <strong>de</strong> fato faz, quando calcula essa função ?<br />

E se eu tiver apenas uma calculadora que faz as 4 operações, será que consigo<br />

calcular arctan(α) com a precisão que quiser ?


6. ARCOTANGENTE E CARTOGRAFIA 422<br />

Vou explicar o que fazer, para dar o arctan(x) pelo menos para x ∈ (−1,1), com<br />

a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> precisão que se quiser, ou seja, com quantas casas quisermos <strong>de</strong>pois da<br />

vírgula, apenas fazendo repetidamente as 4 operações +,−,/,x.<br />

Primeiro começo lembrando da fórmula (Seção 5 do Capítulo 16 ):<br />

arctan ′ (x) = 1<br />

1+x 2,<br />

∀x ∈ R.<br />

Escrevendo:<br />

1<br />

=<br />

1+x 2<br />

1<br />

1−(−x 2 ) ,<br />

po<strong>de</strong>mos usar a Afirmação 2.1 na região x ∈ (−1,1):<br />

1<br />

1+x 2 = 1−x2 +x 4 −x 6 +... se |x| < 1.<br />

Sabemos pelo Primeiro Teorema Fundamental que:<br />

x<br />

1<br />

dt = arctan(x)−arctan(0) = arctan(x).<br />

1+t 2<br />

0<br />

Agora vamos ser otimistas 3 : vamos imaginar que po<strong>de</strong>mos usar a proprieda<strong>de</strong><br />

x<br />

a<br />

(f +g)dt =<br />

x<br />

a<br />

f dt+<br />

não apenas para a soma <strong>de</strong> duas funções f +g mas para a soma <strong>de</strong> uma infinida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> funções.<br />

Ou seja, com otimismo, asssumo que a integral <strong>de</strong> uma soma infinita <strong>de</strong> funções<br />

é a soma infinita <strong>de</strong> integrais. Esse otimismo nos permitiria escrever:<br />

x<br />

0<br />

(1−t 2 +t 4 −t 6 +...)dt = x− x3<br />

3<br />

+ x5<br />

5<br />

x<br />

a<br />

− x7<br />

7<br />

gdt<br />

+..., se |x| < 1.<br />

O fascinante é que sim, po<strong>de</strong>mos fazer isso ! pelo menos nessa situação específica...<br />

Ou seja, igualando o lado esquerdo com o direito:<br />

arctan(x) = x− x3 x5 x7<br />

+ − +..., se |x| < 1.<br />

3 5 7<br />

E é isso que a calculadora faz: ela trunca a soma<br />

x− x3<br />

x5 x7<br />

+ − +..., se |x| < 1<br />

3 5 7<br />

num grau suficientemente alto para termos a precisão <strong>de</strong>sejada do arctan(x). E fazer<br />

somas e produtos como os que aparecem em<br />

x− x3<br />

3<br />

+ x5<br />

5<br />

− x7<br />

7<br />

+..., se |x| < 1<br />

é fácil para uma calculadora !<br />

As Figuras a seguir comparam o gráfico real <strong>de</strong> arctan : (−1,1) → R com os<br />

gráficos dos truncamentos y = x : (−1,1) → R, y = x − x3<br />

3 : (−1,1) → R e<br />

x− x3<br />

3<br />

+ x5<br />

5<br />

: (−1,1) → R.<br />

3 Justificado na Afirmação 2.1 do Capítulo 31


CAPÍTULO 30. APROXIMAÇÃO DE NÚMEROS E FUNÇÕES IMPORTANTES 423<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-0,8 -0,4 0 0,4 0,8<br />

-0,5<br />

-1<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = arctan(x) (vermelho) e y = x (ver<strong>de</strong>) para x ∈ [−0.99,0.99].<br />

0,8<br />

0,4<br />

0<br />

-0,8 -0,4 0 0,4 0,8<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = arctan(x) (vermelho) e y = x− x3<br />

3<br />

-0,8<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = arctan(x) (vermelho) e y = x− x3<br />

3<br />

para x ∈ [−0.99,0.99].<br />

-0,4<br />

x<br />

-0,4<br />

-0,8<br />

0,8<br />

0,4<br />

0<br />

0<br />

x<br />

-0,4<br />

-0,8<br />

7. A aproximação <strong>de</strong> π dada por Leibniz<br />

0,4<br />

0,8<br />

(ver<strong>de</strong>) para x ∈ [−0.99,0.99].<br />

+ x5<br />

5 (ver<strong>de</strong>)<br />

Uma prova <strong>de</strong> que π é Irracional é dada no excelente livro Calculus, <strong>de</strong> M. Spivak,<br />

usando com astúcia o Cálculo.<br />

O que quero dar aqui é uma aproximação <strong>de</strong> π por Racionais, que remonta a<br />

Leibniz.<br />

Mostraremos aqui que a série<br />

arctan(x) = x− x3 x5 x7<br />

+ −<br />

3 5 7 +...<br />

, teremos:<br />

funciona para x = 1 ! E como arctan(1) = π<br />

4<br />

π<br />

4<br />

1 1 1<br />

= arctan(1) = 1− + −<br />

3 5 7 +...,


7. A APROXIMAÇÃO DE π DADA POR LEIBNIZ 424<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong>:<br />

.<br />

π = 4(1− 1 1 1<br />

+ −<br />

3 5 7 +...).<br />

Essa aproximação <strong>de</strong> π, apesar <strong>de</strong> bonita, é lenta e é feita por falta e excesso, <strong>de</strong><br />

modo oscilante: <strong>de</strong> fato as somas parciais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ímpar da soma são maiores que<br />

π e <strong>de</strong>crescem:<br />

s1 := 4·1 = 4, s3 := 4(1− 1<br />

3<br />

1<br />

+ ) = 3.466666667,<br />

5<br />

s5 = 4(1− 1 1 1 1<br />

+ − + ) = 3.339682540, ...<br />

3 5 7 9<br />

enquantos as somas parciais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m par são menores que π e crescem:<br />

s2 := 4(1− 1<br />

3 ) = 2.666666667, s4 := 4(1− 1 1<br />

+<br />

3 5<br />

1<br />

− ) = 2.895238095,<br />

7<br />

s6 := 4(1− 1 1 1 1 1<br />

+ − + − ) = 2.976046176, ...<br />

3 5 7 9 11<br />

Queremos provar que uma fila sn vai toda para algum lugar <strong>de</strong>terminando quando<br />

n cresce. Se mostro que as posições pares s2n a fila vão para o lugar L e se mostro<br />

que as posições ímpares s2n+1 também vão para esse lugar L, então a fila toda vai.<br />

É isso que queremos verificar, pois queremos mostrar que para<br />

sn := 4(1− 1 1<br />

+<br />

3 5 +...+(−1)n 1<br />

2n−1 )<br />

existe<br />

lim<br />

n→+∞ sn = L.<br />

Reparando no formato das somas sn, vemos que para n ≥ 2:<br />

• s2n+1 < s2(n−1)+1 pois<br />

1<br />

s2n+1 = s2(n−1)+1 −4(<br />

2(2n+1)−3 −<br />

1<br />

2(2n+1)−1 )<br />

eportantoassomasparciaisímparess2n+1 formamelasmesmasumasequência<br />

<strong>de</strong>crescente,<br />

• s2n > s2(n−1) pois<br />

s2n = s2(n−1) +4(<br />

1<br />

2n−3 −<br />

1<br />

2(2n)−1 )<br />

e portanto as somas parciais pares s2n+1 formam elas mesmas uma sequência<br />

crescente.<br />

• s2n ≤ s1 = 4 e s2 = 4(1− 1)<br />

< s2n+1 3<br />

Logo o Teorema 1.1 aplicado separadamente às sequências (s2n)n e (sn+1)n, diz<br />

que ambas convergem:<br />

lim<br />

n→+∞ s2n = L1 e lim<br />

n→+∞ s2n+1 = L2.


CAPÍTULO 30. APROXIMAÇÃO DE NÚMEROS E FUNÇÕES IMPORTANTES 425<br />

e<br />

Mas para terminar note que L1 = L2 pois<br />

|s2n+1 −s2n| =<br />

lim<br />

n→+∞<br />

4<br />

2(2n+1)−1<br />

4<br />

2(2n+1)−1<br />

= 0.<br />

8. Aproximações <strong>de</strong> logaritmos<br />

Se |x| < 1 então 1+x > 0 e posso tomar ln(1+x). Pela regra da composta:<br />

Agora escrevo:<br />

ln(1+x) ′ = 1<br />

1+x .<br />

1<br />

1+x =<br />

e uso a Afirmação 2.1 para x ∈ (−1,1):<br />

1<br />

1−(−x)<br />

1<br />

1−(−x) = 1−x+x2 −x 3 +..., se |x| < 1.<br />

O Teorema Fundamental do Cálculo dá:<br />

x<br />

1<br />

dt = ln(1+x)−ln(1+0) = ln(1+x)<br />

1+t<br />

0<br />

Vamossernovamenteotimistasnovamenteesupor queaintegral<strong>de</strong>umasomainfinita<br />

é uma soma infinita <strong>de</strong> integrais4 , obtendo então:<br />

ln(1+x) =<br />

x<br />

0<br />

(1−t+t 2 −t 3 +...)dt = x− x2<br />

2<br />

+ x3<br />

3<br />

− x4<br />

4<br />

..., |x| < 1.<br />

As Figuras a seguir comparam o gráfico real <strong>de</strong> ln(1 + x) : (−1,1) → R com<br />

os gráficos dos truncamentos y = x : (−1,1) → R, y = x − x2 : (−1,1) → R e<br />

2<br />

x− x2 x3<br />

+ : (−1,1) → R.<br />

2 3<br />

Para que os gráficos ficassem mais <strong>de</strong>stacados não usei a mesma escala nos eixos<br />

x e y:<br />

4 Justificado na Afirmação 2.1 do Capítulo 31<br />

-0,8<br />

-0,4<br />

1<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

x<br />

0,4<br />

0,8


9. APROXIMAÇÃO DE LOGARITMOS DE NÚMEROS QUAISQUER 426<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = ln(1+x) (vermelho) e y = x (ver<strong>de</strong>)<br />

para x ∈ [−0.99,0.99].<br />

-0,8 -0,4 0 0,4 0,8<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = ln(1+x) (vermelho) e y = x− x2<br />

2 (ver<strong>de</strong>)<br />

para x ∈ [−0.99,0.99].<br />

-0,8 -0,4 0 0,4 0,8<br />

0<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = ln(1+x) (vermelho) e y = x− x2<br />

2<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

x<br />

+ x3<br />

3 (ver<strong>de</strong>)<br />

9. Aproximação <strong>de</strong> logaritmos <strong>de</strong> números quaisquer<br />

Agora vamos ver o que fazer para aproximar ln(z) <strong>de</strong> um número z > 0 qualquer.<br />

Se |x| < 1 então 1 − x > 0 e posso tomar ln(1 − x). Pela regra da <strong>de</strong>rivada da<br />

composta:<br />

ln(1−x) ′ = 1 −1<br />

(−1) =<br />

1−x 1−x<br />

Se |x| < 1 escrevo pela Afirmação 2.1:<br />

1<br />

1−x = 1+x+x2 +x 3 +..., se|x| < 1<br />

e se po<strong>de</strong> também escrever (ver Afirmação 2.1 da Seção 31):<br />

Pelo Teorema Fundamental:<br />

−1<br />

1−x = −1−x−x2 −x 3 −..., se|x| < 1.<br />

ln(1−x)−ln(1−0) = ln(1−x) =<br />

x<br />

0<br />

−1<br />

1−t dt,


CAPÍTULO 30. APROXIMAÇÃO DE NÚMEROS E FUNÇÕES IMPORTANTES 427<br />

eseformosotimistastrocaremosaintegral<strong>de</strong>umasomainfinitapelasoma<strong>de</strong>infinitas<br />

integrais (ver Afirmação 2.1 do Capítulo 31):<br />

ln(1−x) =<br />

x<br />

0<br />

Agora vamos precisar <strong>de</strong> um truque:<br />

(−1−t−t 2 −t 3 −...)dt = −x− x2<br />

2<br />

− x3<br />

3<br />

Afirmação 9.1. Todo número z > 0 se escreve <strong>de</strong> modo único como:<br />

z = 1+x<br />

, com|x| < 1.<br />

1−x<br />

Demonstração.<br />

Dado z > 0 quero resolver em x a equação:<br />

1+x<br />

1−x<br />

= z.<br />

... |x| < 1.<br />

Para isso faço z·(1−x) = 1+x, logo −zx−x = 1−z, ou seja, −x(1+z) = 1−z e<br />

daí:<br />

x =<br />

z −1<br />

z +1 .<br />

Note que x < 1 pois z −1 < z < z +1.<br />

Também note −1 < x pois −(z +1) = −z −1 < z −1, já que 0 < z.<br />

Ou seja, |x| < 1. <br />

Usando <strong>de</strong>ssa Afirmação e da proprieda<strong>de</strong> do logaritmo do quociente, escrevo:<br />

ln(z) = ln( 1+x<br />

) = ln(1+x)−ln(1−x) z > 0, |x| < 1<br />

1−x<br />

e portanto, pelo que já vimos:<br />

ln(z) = (x− x2<br />

2<br />

+ x3<br />

3<br />

− x4<br />

4<br />

...)−(−x− x2<br />

2<br />

− x3<br />

3<br />

...), |x| < 1.<br />

Se as somas acima fossem finitas, po<strong>de</strong>ríamos subtrair termo a termo. Sejamos<br />

otimistas e imaginemos que po<strong>de</strong>mos subtrair termo a termo nas somas infinitas (ver<br />

Afirmação 1.1 do Capítulo 31), obtendo (já que os termos <strong>de</strong> grau par se cancelam):<br />

ln(z) = 2(x+ x3<br />

3<br />

+ x5<br />

5<br />

z −1<br />

+...), on<strong>de</strong> z > 0, x = , |x| < 1<br />

z +1


11. EXERCÍCIOS 428<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

10<br />

20<br />

z<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = ln(z) (vermelho), z ∈ [0.5,50], y = 2x (ver<strong>de</strong>)<br />

y = 2(x+ x3<br />

3<br />

) (amarelo) e y = 2(x+ x3<br />

3<br />

30<br />

40<br />

+ x5<br />

5<br />

10. Aproximação <strong>de</strong> ln(2)<br />

50<br />

) (azul), on<strong>de</strong> x = z−1<br />

z+1 .<br />

Lembro que só usando a <strong>de</strong>finição já sabíamos que<br />

1<br />

< ln(2) < 1.<br />

2<br />

Com os resultados anteriores, para z = 2 e portanto x = z−1<br />

z+1<br />

a precisão que quisermos:<br />

ln(2) = 2( 1 1 1 1 1 1 1<br />

+ + + ...).<br />

3 333<br />

535<br />

737<br />

Meu computador aproxima ln(2) ≈ 0.6931471806.<br />

Enquanto isso, obtenho:<br />

s1 := 2( 1<br />

3 ) = 0.6666666667, s2 := 2( 1 1 1<br />

+<br />

3 333)<br />

= 0.6913580247<br />

s3 := 2( 1 1 1 1 1<br />

+ +<br />

3 333<br />

535)<br />

= 0.6930041152<br />

s4 := 2( 1 1 1 1 1 1 1<br />

+ + +<br />

3 333<br />

535<br />

737)<br />

= 0.6931347573.<br />

s5 := 2( 1 1 1 1 1 1 1 1 1<br />

+ + + +<br />

3 333<br />

535<br />

737<br />

939)<br />

= 0.6931460474<br />

s6 := 2( 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1<br />

+ + + + +<br />

3 333<br />

535<br />

737<br />

939<br />

11311)<br />

= 0.6931470738.<br />

11. Exercícios<br />

1<br />

= , obtemos ln(2) com<br />

3<br />

Exercício 11.1. Obtenha uma sequência <strong>de</strong>finida recursivamente que ten<strong>de</strong> para a<br />

raíz cúbica <strong>de</strong> A. Para isso:<br />

i) levante (x0,0) verticalmente no gráfico <strong>de</strong> y = x 3 −A<br />

ii) encontre a tangente ao gráfico <strong>de</strong> y = x 3 −A no ponto obtido em i),<br />

iii) <strong>de</strong>sça pela tangente até encontrar o eixo x, <strong>de</strong>terminando x1 e assim sucessivamente.<br />

iv) teste a sequência obtida, numericamente, numa calculadora.


CAPíTULO 31<br />

Séries numéricas e <strong>de</strong> funções<br />

Um série infinita é uma soma infinita:<br />

1. Séries numéricas<br />

x1 +x2 +x3 +...<br />

O sentido preciso dos três pontinhos é o seguinte: consi<strong>de</strong>re uma soma parcial <strong>de</strong> or<strong>de</strong><br />

n:<br />

sn := x1 +x2 +...+xn.<br />

Quando cresce o n os números sn forma eles mesmos uma sequência infinta (sn)n .<br />

Então<br />

x1 +x2 +x3 +... := lim<br />

n→+∞ sn,<br />

que po<strong>de</strong> existir ou não.<br />

Quando existe esse limite dizemos que a soma infinita x1+x2+x3+... converge<br />

e quando não existe dizemos que x1 +x2 +x3 +... diverge.<br />

O símbolo x1 +x2 +x3 +... não é muito conciso, por isso uso:<br />

n<br />

+∞<br />

sn := xi, e x1 +x2 +x3 +... = xi.<br />

i=1<br />

A Afirmação a seguir justifica alguns dos truques usados nas Seções anteriores:<br />

Afirmação 1.1.<br />

i) Se +∞<br />

i=1 xi converge e C ∈ R então +∞<br />

i=1 C ·xi também converge e<br />

+∞<br />

i=1<br />

C ·xi = C ·<br />

ii) Se +∞<br />

i=1 xi e +∞<br />

i=1 yi são duas séries convergentes então também convergem<br />

as séries +∞<br />

i=1 (xi +yi) e +∞<br />

i=1 (xi −yi) e a<strong>de</strong>mais:<br />

+∞<br />

i=1<br />

+∞<br />

i=1<br />

(xi +yi) =<br />

(xi −yi) =<br />

+∞<br />

i=1<br />

+∞<br />

i=1<br />

xi +<br />

xi.<br />

+∞<br />

i=1<br />

+∞<br />

+∞<br />

xi −<br />

429<br />

i=1<br />

i=1<br />

yi,<br />

yi.<br />

i=1


1. SÉRIES NUMÉRICAS 430<br />

iii) Sejam xi > 0 e yi > 0. Se xi ≤ yi ∀i ∈ N e se +∞<br />

i=1 yi converge então também<br />

coverge +∞<br />

i=1 xi converge<br />

iv) Se +∞<br />

i=1 |xi| converge então +∞<br />

i=1 xi. A recíproca não é verda<strong>de</strong>ira.<br />

Demonstração.<br />

De i): Como +∞<br />

i=1 xi converge, então existe<br />

lim<br />

n→+∞ sn = L, on<strong>de</strong> sn :=<br />

Mas pelas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> limites <strong>de</strong> sequências:<br />

n<br />

xi.<br />

i=1<br />

lim<br />

n→+∞ C ·sn = C · lim<br />

n→+∞ sn := C ·<br />

Pela distributivida<strong>de</strong> do produto e soma (finita)<br />

n n<br />

C ·sn := C · xi = C ·xi,<br />

e portanto<br />

i=1<br />

lim<br />

n→+∞ C ·sn<br />

+∞<br />

=<br />

i=1<br />

i=1<br />

C ·xi,<br />

+∞<br />

xi<br />

como queríamos.<br />

De ii):<br />

Denoto por s x n := n<br />

i=1 xi e s y n := n<br />

i=1 yi. Temos por hipótese que existem<br />

i=1<br />

lim<br />

n→+∞ sxn = L1 e lim<br />

n→+∞ syn = L2.<br />

Então pelas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> soma/diferença <strong>de</strong> sequências, aplicadas às sequências<br />

(s x n )n e (s y n )n, temos:<br />

lim<br />

n→+∞ (sxn ±s y n) = lim<br />

n→+∞ sxn ± lim<br />

n→+∞ syn, que é o que queremos provar.<br />

De iii): Sem entrar m muitos <strong>de</strong>talhes,a idéia é que se consegui somar as infinitas<br />

parcelas <strong>de</strong> +∞<br />

i=1 yi com mais razão po<strong>de</strong>rei somas as infinitas parcelas <strong>de</strong> +∞<br />

i=1 xi,<br />

já que xi ≤ yi.<br />

De iv): Sem entrar em <strong>de</strong>talhes que se vêem em textos <strong>de</strong> Análise <strong>Matemática</strong>,<br />

o que posso dizer é que se conseguimos somar todos os módulos |xi| > 0 é razoável<br />

que consigamos também somar as parcelas xi, já que nessas há mudanças <strong>de</strong> sinais<br />

<strong>de</strong> > 0 para < 0, que produzem subtrações e cancelamentos.<br />

Sobre a recíproca : a série 1− 1 1 1 + − +... converge (e o argumento é análogo<br />

2 3 4<br />

ao que usamos na aproximação <strong>de</strong> π). Mas como vimos na prova da Afirmação 6.1,<br />

1+ 1 1 1 + + +... fica tão gran<strong>de</strong> quanto quisermos.<br />

2 3 4


CAPÍTULO 31. SÉRIES NUMÉRICAS E DE FUNÇÕES 431<br />

2. Séries <strong>de</strong> potências<br />

Agora precisamos justificar que, sob certas condições, a integral <strong>de</strong> uma soma<br />

infinita é a soma infinita <strong>de</strong> integrais. Por exemplo, o otimismo:<br />

x<br />

0<br />

(−1−t−t 2 −t 3 −...)dt = −x− x2<br />

2<br />

− x3<br />

3<br />

que po<strong>de</strong>mos reescrever, se preferirmos, numa nova notação:<br />

x +∞<br />

0<br />

i=0<br />

+∞<br />

=<br />

−t i dt =<br />

i=0<br />

+∞<br />

x<br />

i=0<br />

0<br />

−t i dt =<br />

−xi+1 , |x| < 1.<br />

i+1<br />

... |x| < 1,<br />

Esta últimaexpressão éumasérie infinita, masque<strong>de</strong>pen<strong>de</strong><strong>de</strong>cadaxcom|x| < 1<br />

para dar um valor <strong>de</strong>terminado.<br />

Por isso se chama série infinita <strong>de</strong> funções, e po<strong>de</strong> ser pensada como uma fábrica<br />

<strong>de</strong> séries <strong>de</strong> números, pois:<br />

x ↦−→<br />

+∞<br />

i=0<br />

−x i+1<br />

i+1<br />

∈ R,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que |x| < 1.<br />

Esse é só um exemplo, em geral uma série infinita <strong>de</strong> funções é algo do tipo:<br />

+∞<br />

fi(x)<br />

e o principal problema é saber para quais x as séries numéricas<br />

i=0<br />

x ↦−→<br />

+∞<br />

i=0<br />

fi(x)<br />

convergem.<br />

No que segue nos limitaremos apenas a funções<br />

fi(x) = aix i<br />

on<strong>de</strong> ai são números (chamadas séries <strong>de</strong> potências).<br />

Afirmação 2.1. Suponha uma série <strong>de</strong> funções +∞<br />

i=1 aiti tal que para um certo t =<br />

x > 0 convirja a série numérica:<br />

+∞<br />

|ai||x i |.<br />

Então:<br />

• convergem também as séries<br />

+∞<br />

|ait i | e<br />

i=1<br />

i=1<br />

+∞<br />

i=1<br />

ait i , ∀t ∈ [−x,x].


2. SÉRIES DE POTÊNCIAS 432<br />

• A função<br />

é integrável e<br />

x<br />

Demonstração.<br />

Temos para |t| ≤ x:<br />

0<br />

+∞<br />

i=1<br />

f : [−x,x] → R, f(t) :=<br />

ait i dt =<br />

+∞<br />

i=1<br />

|ait i | =<br />

+∞<br />

x<br />

i=1<br />

+∞<br />

i=1<br />

0<br />

ait i dt =<br />

|ai||t i | ≤<br />

+∞<br />

i=1<br />

+∞<br />

i=1<br />

+∞<br />

i=1<br />

ait i<br />

|ai|x i |<br />

ai<br />

i+1 xi+1 .<br />

e está última série converge por hipótese.<br />

Então também convergem as séries numéricas +∞<br />

i=1 |aiti |, obtidas escolhendo t<br />

com |t| ≤ x (para cada t, aplique a Afirmação 1.1 item iii)).<br />

Então para cada t escolhido com |t| ≤ x convergem +∞<br />

i=1 aiti (para cada t, aplique<br />

a Afirmação 1.1 item iv)).<br />

Logo a função<br />

f : [−x,x] → R, f(t) :=<br />

está bem <strong>de</strong>finida.<br />

A integrabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa f se explica nos textos <strong>de</strong> Análise <strong>Matemática</strong>.<br />

Me concentrarei apenas em mostrar que<br />

ou seja que<br />

x<br />

0<br />

x<br />

0<br />

f(t)dt =<br />

+∞<br />

x<br />

i=1<br />

f(t)dt = lim<br />

n→+∞<br />

0<br />

n<br />

i=1<br />

+∞<br />

i=1<br />

ait i dt,<br />

x<br />

0<br />

ait i<br />

ait i dt,<br />

ou ainda (já que integral <strong>de</strong> soma finita é a soma finita <strong>de</strong> integrais) que<br />

x x n<br />

f(t)dt = lim ( ait<br />

n→+∞<br />

i )dt.<br />

Para isso tenho que mostrar que:<br />

0<br />

dado ǫ > 0 qualquer, se n for suficientemente gran<strong>de</strong>, então<br />

x x n<br />

| f(t)dt− ( ait i )dt| < ǫ.<br />

0<br />

0<br />

0<br />

i=1<br />

i=1


CAPÍTULO 31. SÉRIES NUMÉRICAS E DE FUNÇÕES 433<br />

Ora, do item ix) do Teorema 4.1, Capítulo 21:<br />

x x n<br />

f(t)dt− ( ait i x<br />

)dt = (f(t)−<br />

0<br />

0<br />

i=1<br />

Pelo item viii) do Teorema 4.1, Capítulo 21:<br />

x n<br />

| (f(t)− ait i )dt| ≤<br />

0<br />

i=1<br />

Agora, por <strong>de</strong>finição f(t) := +∞<br />

i=1 aiti , logo<br />

n<br />

f(t)− ait i =<br />

e portanto<br />

≤<br />

|f(t)−<br />

+∞<br />

n+1<br />

i=1<br />

n<br />

ait i | = |<br />

i=1<br />

|ai||t i | ≤<br />

+∞<br />

n+1<br />

O que vem a ser esse termo +∞<br />

n+1 |ai||xi | ?<br />

Se <strong>de</strong>noto +∞<br />

n+1 |ai||xi | = L, então<br />

+∞<br />

|ai||x i | = L−<br />

i=n+1<br />

x<br />

0<br />

0<br />

|f(t)−<br />

+∞<br />

i=n+1<br />

+∞<br />

i=n+1<br />

ait i<br />

n<br />

ait i )dt.<br />

i=1<br />

n<br />

ait i |dt.<br />

i=1<br />

ait i | ≤<br />

|ai||x i |, se |t| ≤ x<br />

n<br />

|ai||x i |.<br />

Mas as somas parciais sn := n i=1 |ai||xi | convergem para o limite L, logo<br />

+∞<br />

|ai||x i | = L−sn<br />

i=n+1<br />

se faz tão pequeno quanto quisermos, se n cresce o suficiente. Posso tomar n tal que<br />

+∞<br />

|ai||x i | < ǫ<br />

, on<strong>de</strong> x > 0.<br />

x<br />

Em conclusão:<br />

|<br />

i=n+1<br />

x<br />

0<br />

f(t)dt−<br />

≤<br />

x<br />

+∞<br />

x<br />

0<br />

0 i=n+1<br />

x<br />

(<br />

i=1<br />

n<br />

ait i )dt| ≤<br />

i=1<br />

|ai||x i |dt ≤<br />

ǫ ǫ<br />

≤ dt = ·x = ǫ,<br />

0 x x<br />

se n cresce o suficiente. Era o que queríamos <strong>de</strong>monstrar.


3. SÉRIES DE TAYLOR E OS RESTOS DE LAGRANGE, CAUCHY E<br />

INTEGRAL 434<br />

Para usar a Afirmação anterior é preciso ter uma idéia <strong>de</strong> qual x tomar. Esse<br />

intervalo<br />

[−x,x]<br />

on<strong>de</strong> a série converge é chamado <strong>de</strong> intervalo <strong>de</strong> convergência.<br />

Para <strong>de</strong>terminar x, para cada t faça 1 :<br />

L(t) := lim<br />

i→+∞<br />

e imponha que:<br />

L(t) < 1.<br />

Por exemplo, para +∞<br />

i=1 (i+2−i )·t i temos:<br />

|ai+1|·|t| i+1<br />

|ai+1| |ai+1|<br />

= lim ·|t| = |t|· lim<br />

|ai|·|t| i i→+∞ |ai| i→+∞ |ai|<br />

|ai+1|<br />

L(t) := |t|· lim = |t|· lim<br />

i→+∞ |ai| i→+∞<br />

|i+2 −i +1+2 −1 |<br />

|i+2 −i |<br />

1+2−1<br />

= |t|· lim 1+ = |t|.<br />

i→+∞ i+2 −i<br />

Portanto uma escolha<br />

0 < x < 1<br />

garante que a série +∞<br />

i=1 (i+2−i )·t i converge ∀t ∈ [−x,x].<br />

3. Séries <strong>de</strong> Taylor e os Restos <strong>de</strong> Lagrange, Cauchy e Integral<br />

Definição 3.1. Dada uma função f(x) que se possa <strong>de</strong>rivar quantas vezes quisermos,<br />

o seu polinômio <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> grau n em a é dado por:<br />

pn,f,a := f(a)+f ′ (a)·(x−a)+ f′′<br />

2! (a)·(x−a)2 +...+ f(n)<br />

n! (a)·(x−a)n .<br />

AseguinteAfirmação mostraemquemedida f(x)éaproximada porseupolinômio<br />

<strong>de</strong> Taylor. Há três modos <strong>de</strong> expressar a diferença entre f e seu polinômio <strong>de</strong> Taylor,<br />

cada um com sua utilida<strong>de</strong>.<br />

Afirmação 3.1. (Restos da expansão <strong>de</strong> Taylor)<br />

Suponha que f tem <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> todas as or<strong>de</strong>ns.<br />

i): Um polinômio q(x) <strong>de</strong> grau n tem<br />

q(a) = f(a), q ′ (a) = f ′ (a),...,q (n) (a) = f (n) (a) ⇔ q(x) = pf,n,a.<br />

Nos itens a seguir trato do caso a < x, mas as conclusões são análogas se x < a,<br />

agora com x < x < a.<br />

ii): (Resto <strong>de</strong> Lagrange) Existe pelo menos um ponto x ∈ (a,x) tal que<br />

f(x) = pn,f,a + f(n+1) (x)<br />

(n+1)!<br />

·(x−a) n+1 .<br />

1 Há versõesmais geraisem que nem precisamosque exista esse limite, mas por enquanto ficamos<br />

com esta.<br />

=


CAPÍTULO 31. SÉRIES NUMÉRICAS E DE FUNÇÕES 435<br />

iii): (Resto <strong>de</strong> Cauchy) Existe pelo menos um ponto x ∈ (a,x) tal que<br />

f(x) = pn,f,a + f(n+1) (x)<br />

·(x−x)<br />

n!<br />

n ·(x−a).<br />

iv): (Resto Integral):<br />

Demonstração.<br />

f(x) = pn,f,a +<br />

x<br />

a<br />

f (n+1) (t)<br />

n!<br />

·(x−t) n dt.<br />

De i):<br />

Notequeda<strong>de</strong>finição pf,n,a(a) = f(a), (pf,n,a) ′ (a) = f ′ (a) eassim, sucessivamente,<br />

que<br />

(pf,n,a) (i) (a) = f (i) (a), i = 0,...,n.<br />

Por outro lado se<br />

q(x) = a0 +a1x+...+anx n<br />

então q(a) = f(a) implica que a0 = f(a); q ′ (a) = f ′ (a) implica que a1 = f ′ (a);<br />

q ′′ (a) = f ′′ (a) implica que<br />

2·a2 = f ′′ (a),<br />

ou seja, a2 = f′′ (a)<br />

2 e assim sucessivamente até<br />

an = f(n)<br />

n! .<br />

De ii)<br />

Fixados a e x, consi<strong>de</strong>re2 a seguinte função <strong>de</strong> t:<br />

φ : [a,x] → R,<br />

φ(t) := f(x)−[f(t)+f ′ (t)·(x−t)+ f′′<br />

2! (t)·(x−t)2 +...+ f(n)<br />

n! (t)·(x−t)n ].<br />

Temos claramente φ(x) = 0, mas em geral<br />

φ(a) = 0<br />

já que<br />

φ(a) := f(x)−pn,f,a.<br />

Se acontece que φ(a) = 0 então o Teorema <strong>de</strong> Rolle diz que existe x ∈ (a,x) com<br />

φ ′ (x) = 0. Mas<br />

φ ′ (t) = −f ′ (t)−f ′′ (t)·(x−t)+f ′ (t)− f′′′<br />

2! (t)·(x−t)2 +2 f′′<br />

2! (t)·(x−t)+...+<br />

− f(n+1)<br />

(t)·(x−t)<br />

n!<br />

n +n· f(n)<br />

n! (t)·(x−t)n−1 .<br />

Note como os termos aparecem repetidos, mas com sinais opostos. Portanto após<br />

cancelamentos:<br />

φ ′ (t) = − f(n+1)<br />

(t)·(x−t)<br />

n!<br />

n .<br />

2 Se fosse x < a a função φ(t) seria <strong>de</strong>finida do mesmo jeito, no domínio [x,a]


3. SÉRIES DE TAYLOR E OS RESTOS DE LAGRANGE, CAUCHY E<br />

INTEGRAL 436<br />

Como φ ′ (x) = 0 e x = x então concluimos que<br />

f (n+1) (x) = 0<br />

e a Afirmação ii) vale.<br />

Mas no caso geral em que φ(a) = 0 faço:<br />

C := (n+1)!<br />

·φ(a).<br />

(x−a) n+1<br />

Então a nova função<br />

ψ : [a,x] → R,<br />

C<br />

ψ(t) := φ(t)−<br />

(n+1)! ·(x−t)n+1<br />

agora sim tem:<br />

ψ(x) = ψ(a) = 0.<br />

Pelo Teorema <strong>de</strong> Rolle existe algum x ∈ (a,x) on<strong>de</strong>:<br />

Ora,<br />

ψ ′ (t) = φ ′ (t)+ C<br />

ψ ′ (x) = 0.<br />

n! (x−t)n = − f(n+1)<br />

(t)·(x−t)<br />

n!<br />

n + C<br />

n! (x−t)n .<br />

Logo ψ ′ (x) = 0 e x = x dão que:<br />

f (n+1) (x) = C.<br />

Voltando na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ψ, agora com o valor <strong>de</strong> C = f (n+1) (x), obtemos<br />

0 = ψ(a) =<br />

= f(x)−[f(a)+f ′ (a)·(x−a)+ f′′<br />

2! (a)·(x−a)2 +...+ f(n)<br />

n! (a)·(x−a)n ]− f(n+1) (x)<br />

(n+1)! ·(x−a)n+1 ,<br />

o que conclui a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>ste item.<br />

De iii):<br />

Defina φ(t) como no item ii), para a qual sabemos que:<br />

φ ′ (t) = − f(n+1)<br />

(t)·(x−t)<br />

n!<br />

n .<br />

Agora aplique o Teorema do Valor Médio para ter algum x ∈ (a,x) tal que:<br />

φ(x)−φ(a)<br />

= φ<br />

x−a<br />

′ (x) = − f(n+1)<br />

(x)·(x−x)<br />

n!<br />

n .<br />

Como φ(x) = 0 sempre obtemos<br />

e portanto:<br />

φ(a)<br />

x−a<br />

f(n+1)<br />

= (x)·(x−x)<br />

n!<br />

n<br />

φ(a) = f(n+1)<br />

(x)·(x−x)<br />

n!<br />

n ·(x−a).<br />

Ora, φ(a) = f(x)−pn,f,a.


CAPÍTULO 31. SÉRIES NUMÉRICAS E DE FUNÇÕES 437<br />

De iv):<br />

Fazendo como no item i), temos<br />

φ ′ (t) = − f(n+1)<br />

(t)·(x−t)<br />

n!<br />

n<br />

e o Teorema Fundamental do Cálculo dá:<br />

Como φ(x) = 0, isso dá:<br />

φ(x)−φ(a) =<br />

x<br />

φ(a) = f(x)−pn,f,a =<br />

a<br />

− f(n+1)<br />

(t)·(x−t)<br />

n!<br />

n dt.<br />

x<br />

a<br />

f (n+1)<br />

(t)·(x−t)<br />

n!<br />

n dt.<br />

Chama-se <strong>de</strong> Resto <strong>de</strong> Lagrange <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m n+1 a expressão:<br />

Rn+1(x) := f(n+1) (x)<br />

(n+1)!<br />

·(x−a) n+1 ,<br />

on<strong>de</strong> tomo qualquer x ∈ (a,x) que verifica o item ii) da Afirmação 3.1.<br />

Se<br />

lim<br />

n→+∞ Rn(x) = 0<br />

então escrevo:<br />

Exemplos:<br />

f(x) =<br />

+∞<br />

i=0<br />

• Na Seção 6 vimos que<br />

f (i) (a)<br />

i!<br />

·(x−a) i := lim<br />

n→+∞ pf,n,a.<br />

arctan(x) = x− x3 x5 x7<br />

+ − +..., se |x| < 1,<br />

3 5 7<br />

ou seja, <strong>de</strong> uma função que é igual à sua série <strong>de</strong> Taylor em a = 0, pois como<br />

o leitor po<strong>de</strong> verificar:<br />

(arctan(x)) ′ (0) = 1, (arctan(x)) ′′ (0) = 0, (arctan(x)) ′′′ (0) = −2,<br />

(arctan(x)) (4) (0) = 0, (arctan(x)) (5) (0) = 24<br />

etc. A<strong>de</strong>mais, naquela Seção plotamos alguns polinômios <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong>ssa<br />

função.<br />

• Na Seção 8 vimos<br />

ln(1+x) = x− x2<br />

2<br />

+ x3<br />

3<br />

− x4<br />

4<br />

..., |x| < 1,


3. SÉRIES DE TAYLOR E OS RESTOS DE LAGRANGE, CAUCHY E<br />

INTEGRAL 438<br />

função que é igual sua série <strong>de</strong> Taylor em a = 0, pois como o leitor po<strong>de</strong><br />

verificar:<br />

(ln(1+x)) ′ (0) = 1, (ln(1+x)) ′′ (0) = −1, (ln(1+x)) ′′′ (0) = 2, (ln(1+x)) (4) (0) = −6,<br />

etc. Também naquela Seção plotamos alguns polinômios <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong>ssa<br />

função.<br />

• Como sin(0) = 0, sin ′ (0) = cos(0) = 1, sin ′′ (0) = −sin(0) = 0, sin ′′′ (0) =<br />

−cos(0) = −1 e em geral:<br />

então<br />

Mas<br />

e portanto:<br />

Logo<br />

sin (2i) (0) = 0 e sin (2i+1) (0) = (−1) i , i = 0...<br />

sin(x) =<br />

n (−1) i<br />

·x<br />

i!<br />

i +Rn+1(x).<br />

i=0<br />

|Rn+1(x)| = | sin(n+1) (x)<br />

(n+1)!<br />

sin(x) =<br />

lim<br />

n→+∞ Rn+1(x) = 0.<br />

+∞<br />

i=0<br />

·x n+1 | ≤ xn+1<br />

(n+1)!<br />

(−1) i<br />

(2i+1)! ·x2i+1 , ∀x ∈ R.<br />

• De modo completamente análogo se obtém<br />

cos(x) =<br />

+∞<br />

i=0<br />

(−1) i<br />

·x<br />

2i!<br />

2i , ∀x ∈ R.<br />

• Como exp (i) (x) = e x e exp (i) (0) = e 0 = 1 temos<br />

e x =<br />

n<br />

i=0<br />

1<br />

i! xi +Rn+1(x);<br />

mas como y = e x é uma função crescente, temos<br />

e<br />

|Rn+1(x) = |<br />

x<br />

(n+1)! ·(x−a)n+1 | ≤ exxn+1 (n+1)!<br />

e novamente limn→+∞Rn+1(x) = 0.<br />

Portanto<br />

e x =<br />

+∞<br />

i=0<br />

1<br />

i! xi , ∀x ∈ R.


CAPÍTULO 31. SÉRIES NUMÉRICAS E DE FUNÇÕES 439<br />

4. A série binomial e sua série <strong>de</strong> Taylor<br />

A questão que tratarei aqui é expressar<br />

(1+x) r := e r·ln(1+x) , r ∈ R<br />

através <strong>de</strong> sua série <strong>de</strong> Taylor.<br />

Como veremos, no caso geral em que r ∈ N trata-se <strong>de</strong> uma série infinita <strong>de</strong><br />

potências <strong>de</strong> x convergente para todo x com |x| < 1.<br />

Mas, no caso particular em que r = n ∈ N, a série infinita vira um polinômio <strong>de</strong><br />

Taylor <strong>de</strong> grau n em x. E esse polinômio tem como coeficientes os coeficientes usuais<br />

dados como símbolo combinatório.<br />

Importantes exemplos para nós serão:<br />

(1+x) 1<br />

2 e (1+x) −1 .<br />

O polinômio <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> f(x) = (1+x) r se obtêm facilmente, pois:<br />

f(0) = 1, f ′ (0) = r,<br />

e por indução:<br />

f (n) (0)<br />

n!<br />

Se r = n0 ∈ N teremos:<br />

f ′′ (0)<br />

2!<br />

r ·(r−1)<br />

= ,<br />

2!<br />

f ′′′ (0)<br />

3!<br />

r ·(r−1)...(r−(n−1))<br />

= , ∀n ∈ N.<br />

n!<br />

= r ·(r−1)(r−2)<br />

3!<br />

f (n) (0) r ·(r −1)...(r −n0)...(r−(n−1))<br />

= = 0, ∀n ≥ n0 +1.<br />

n! n!<br />

Nesse caso em que r = n0 ∈ N lembramos do símbolo combinatório:<br />

<br />

r r! r ·(r −1)...(r−(n−1))<br />

:= = , ∀n ≤ n0 = r.<br />

n (r−n)!n! n!<br />

Mas po<strong>de</strong>mos adotar esse símbolo:<br />

<br />

r r ·(r −1)...(r −(n−1))<br />

:=<br />

n n!<br />

mesmo se r ∈ N, pois faz sentido como um número Real ∀r ∈ R.<br />

Se usamos o Teste da Razão (cf. Seção 3 do Capítulo 29) po<strong>de</strong>mos ver que a série<br />

infinita:<br />

converge em módulo se |x| < 1, pois:<br />

lim<br />

n→+∞<br />

= lim<br />

n→+∞<br />

+∞<br />

n=0<br />

<br />

r<br />

·x<br />

n<br />

n<br />

| r n+1 ·x | n+1<br />

| r =<br />

·xn | n<br />

|r−n|<br />

n+1<br />

·|x| = |x|.


4. A SÉRIE BINOMIAL E SUA SÉRIE DE TAYLOR 440<br />

Mas não está nada claro que essa série coincida com (1+x) r . Claro que se (1+x) r<br />

tem um <strong>de</strong>senvolvimento em série infinita, então é esse. Mas falta ver que há esse<br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Afirmação 4.1. Se r ∈ N e se −1 < x < 1, então vale o <strong>de</strong>senvolvimento em série<br />

infinita:<br />

(1+x) r +∞<br />

<br />

r<br />

= ·x<br />

n<br />

n ,<br />

on<strong>de</strong> <br />

r<br />

:=<br />

n<br />

Demonstração.<br />

Caso 0 < x < 1:<br />

n=0<br />

n=0<br />

r ·(r −1)...(r −(n−1))<br />

.<br />

n!<br />

Nesse caso o item ii) da Afirmação 3.1 (Resto <strong>de</strong> Lagrange) dá:<br />

(1+x) r k<br />

<br />

r<br />

= ·x<br />

n<br />

n + f(k+1) (x)<br />

·x<br />

(k +1)!<br />

k+1 , para x ∈ (0,x) ⊂ (0,1)<br />

on<strong>de</strong><br />

f (k+1) (x)<br />

·x<br />

(k +1)!<br />

k+1 r ·(r−1)...(r −k)<br />

= ·(1+x)<br />

(k +1)!<br />

r−k−1 ·x k+1 .<br />

Observo que, para cada x fixado com |x| < 1, a sequência<br />

| r ·(r−1)...(r −k)<br />

·x<br />

(k +1)!<br />

k+1 |<br />

ten<strong>de</strong> para zero: <strong>de</strong> fato, o teste teste da razão diz que a série<br />

+∞<br />

k=0<br />

| r·(r −1)...(r −k)<br />

·x<br />

(k +1)!<br />

k+1 |,<br />

converge; logo a sequência dos termos gerais <strong>de</strong>ssa série ten<strong>de</strong> a zero.<br />

E se k +1 > r (o que mais cedo ou mais tar<strong>de</strong> vai acontecer):<br />

já que 1<br />

1+x<br />

lim<br />

k→+∞ (1+x)r−k−1 = 0<br />

< 1. Portanto o Resto <strong>de</strong> Lagrange ten<strong>de</strong> a zero, quando k → +∞, para<br />

cada x com 0 < x < 1.<br />

Caso −1 < x < 0:<br />

Nesse caso, se usássemos a mesma idéia do caso anterior, não saberíamos o que<br />

fazer na última etapa, pois agora:<br />

1<br />

> 1,<br />

1+x<br />

já que x < x < 0.


CAPÍTULO 31. SÉRIES NUMÉRICAS E DE FUNÇÕES 441<br />

Precisei <strong>de</strong> uma dica do M. Spivak, Calculus, p. 675, para terminar esta prova. A<br />

dica é combinar o o Lema 4.1 a seguir com o Resto <strong>de</strong> Cauchy (item iii da Afirmação<br />

3.1).<br />

Do seguinte modo. Tomo o resto <strong>de</strong> Cauchy:<br />

Escrevo:<br />

f (k+1) (x)<br />

k!<br />

= (k +1)·<br />

f (k+1) (x)<br />

k!<br />

·(x−x) k ·x.<br />

<br />

r<br />

·(1+x)<br />

k +1<br />

r−k−1 = r ·<br />

<br />

r −1<br />

·(1+x)<br />

k<br />

r−k−1 ,<br />

on<strong>de</strong> as igualda<strong>de</strong>s sobre os símbolos são fáceis <strong>de</strong> conferir.<br />

Portanto:<br />

| f(k+1) (x)<br />

·(x−x)<br />

k!<br />

k <br />

r −1<br />

·x| = |r · ·(1+x)<br />

k<br />

r−k−1 ·(x−x) k ·x| =<br />

<br />

r −1<br />

= |r· ·(<br />

k<br />

x−x<br />

1+x )k ·(1+x) r−1 ·x| ≤<br />

<br />

r −1<br />

≤ |r· |·|x|<br />

k<br />

k ·M ·|x|,<br />

on<strong>de</strong> na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> usei o Lema 4.1 a seguir.<br />

O caso já justificado (0 < x < 1) nos <strong>de</strong>u pelo menos que:<br />

lim<br />

k→+∞ |<br />

<br />

r−1<br />

·x<br />

k<br />

k | = 0, se |x| < 1.<br />

Portanto:<br />

lim |r ·<br />

k→+∞<br />

e o resto <strong>de</strong> Cauchy ten<strong>de</strong> a zero.<br />

r −1<br />

Lema 4.1. Se −1 < x < x < 0 então:<br />

on<strong>de</strong><br />

E também:<br />

Demonstração.<br />

Note que, se r −1 ≥ 0, a função<br />

k<br />

<br />

|·|x| k ·M ·|x| = 0<br />

(1+x) r−1 ≤ M,<br />

M := max{1,(1+x) r−1 }.<br />

| x−x<br />

x<br />

(1− x | = |x|·<br />

1+x )<br />

≤ |x|.<br />

1+x<br />

ψ : [x,0] → R >0 , ψ(x) := (1+x) r−1<br />

é crescente (incluindo o caso constante, se r = 1), portanto seu máximo é ψ(0) = 1.


5. UM DEVANEIO SOBRE OS NÚMEROS COMPLEXOS 442<br />

Se r −1 < 0 a função<br />

ψ : [x,0] → R >0 , ψ(x) := (1+x) r−1<br />

é <strong>de</strong>crescente, portanto seu máximo é ψ(x) = (1+x) r−1 .<br />

Por isso M := max{1,(1+x) r−1 }.<br />

Agora noto que:<br />

0 ≤<br />

(1− x<br />

x )<br />

1+x ,<br />

pois 0 < 1+x e x ≤ x.<br />

Para provar a segunda afirmação basta mostrar que:<br />

(1− x<br />

x )<br />

1+x<br />

≤ 1<br />

pois o resto sai imediatamente.<br />

Mas essa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é o mesmo que<br />

1− x<br />

≤ 1+x,<br />

x<br />

já que 0 < 1+x. E <strong>de</strong> fato:<br />

o que é verda<strong>de</strong>.<br />

− x<br />

x<br />

≤ x ⇔ x·(x+1) ≤ 0,<br />

5. Um <strong>de</strong>vaneio sobre os números Complexos<br />

Como não pretendo justificar minhas afirmações, apresento esta Seção como um<br />

<strong>de</strong>vaneio.<br />

Mas <strong>de</strong> fato tudo é verda<strong>de</strong>, pois a teoria <strong>de</strong> séries funciona ainda melhor sobre<br />

os números complexos.<br />

Consi<strong>de</strong>ro I = √ −1 (uso I maiúsculo para distinguir do índice i dos somatórios).<br />

Vamos <strong>de</strong>finir, continuando o que obtivemos na Seção anterior,<br />

e Ix :=<br />

+∞<br />

i=0<br />

1<br />

i! (Ix)i , ∀x ∈ R<br />

supondo que faça sentido a convergência da série da direita.<br />

Então, usando que I 2 = −1, I 3 = −I, I 4 = 1, I 5 = I, I 6 = −1, etc, supondo que<br />

possamos agrupar <strong>de</strong> modos diferentes as parcelas da série e que possamos fatorar<br />

constantes, obtemos:<br />

quer dizer:<br />

e Ix =<br />

+∞<br />

i=0<br />

(−1) i<br />

·x<br />

2i!<br />

2i +I ·<br />

+∞<br />

i=0<br />

e Ix = cos(x)+I ·sin(x).<br />

(−1) i<br />

(2i+1)! ·x2i+1 ,


CAPÍTULO 31. SÉRIES NUMÉRICAS E DE FUNÇÕES 443<br />

Em particular a notável fórmula:<br />

e Iπ = −1,<br />

on<strong>de</strong> estão unificadas a geometria (π), o Cálculo (e), a álgebra (−1), através da<br />

variável complexa (I).<br />

Essa fórmulas são chamadas fórmulas <strong>de</strong> Euler.<br />

A<strong>de</strong>mais, já que sonhar é livre que tal <strong>de</strong>finir para a+Ib ∈ C:<br />

e a+Ib := e a ·e Ib = e a ·(cos(b)+I ·sin(b)).<br />

Veremos na Seção 2 do Capítulo 40 a importância <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>finições.<br />

6. Exercícios<br />

Exercício 6.1. Se z := a+Ib ∈ C e <strong>de</strong>fino<br />

e z := e a+Ib := e a ·e Ib ,<br />

será que essa estensão da exponencial aos C ainda é uma função injetora ?<br />

Exercício 6.2. Usando a fórmula <strong>de</strong> Euler para e Ix e para e −Ix , escreva sin(x) e<br />

cos(x) em função <strong>de</strong> e Ix e e −Ix .<br />

Compareoresultadocomomodocomosão<strong>de</strong>finidososeno hiperbólico eocosseno<br />

hiperbólico, sinh(x) e cosh(x).


CAPíTULO 32<br />

O discriminante <strong>de</strong> polinômios <strong>de</strong> grau 3<br />

Neste Capítulo nos perguntamos sobre raízes múltiplas <strong>de</strong> polinômios. Ou seja<br />

pontos x ∈ R on<strong>de</strong> não somente o polinômio y = f(x) se anula mas on<strong>de</strong> há tangência<br />

do gráfico com o eixo dos x. Ou seja, pontos on<strong>de</strong> também valha f ′ (x) = 0.<br />

No caso <strong>de</strong> um polinômio <strong>de</strong> grau 2, f(x) = ax 2 +bx+c, o sistema<br />

significa:<br />

Da segunda equação temos x = −b<br />

2a<br />

f(x) = f ′ (x) = 0<br />

ax 2 +bx+c = 0 e 2ax+b = 0.<br />

e substituindo na primeira obtemos:<br />

0 = ab2 b2<br />

−<br />

4a2 2a +c = b2 −4ac<br />

4a2 ou seja, obtemos que on<strong>de</strong> há raíz dupla x é on<strong>de</strong> há a anulação do discriminante:<br />

b 2 −4ac = 0.<br />

A conhecida fórmula <strong>de</strong> Báskara dá a localização da raíz dupla: x = −b<br />

2a<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste Capítulo é explicar que há um discriminante <strong>de</strong> polinômios<br />

<strong>de</strong> grau 3 e que sua anulação <strong>de</strong>termina a existência <strong>de</strong> uma raíz Real dupla dos<br />

polinômiso <strong>de</strong> grau 3.<br />

1. Preparação para a fórmula <strong>de</strong> Cardano<br />

Consi<strong>de</strong>remos um polinômio <strong>de</strong> grau exatamente 3, que após divisão pelo seu<br />

coeficiente <strong>de</strong> grau 3 po<strong>de</strong> ser escrito como:<br />

f(x) = x 3 +a1x 2 +a2x+a3, ai ∈ R.<br />

É muito útil a mudança <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nada<br />

x = x− a1<br />

3 .<br />

Emtermosgeométricos, x = x− a1 <strong>de</strong>slocaográficohorizontalmente, comomostra<br />

3<br />

a figura a seguir:<br />

445


1. PREPARAÇÃO PARA A FÓRMULA DE CARDANO 446<br />

x<br />

-3 -2 -1 0 1 2<br />

0<br />

Figura: Os gráficos <strong>de</strong> y = x 3 +3x 2 e <strong>de</strong> y = (x−1) 3 +3(x−1) 2 .<br />

Mas em termos algébricos a mudança x = x − a1 produz o polinômio a seguir,<br />

3<br />

livre <strong>de</strong> monômio <strong>de</strong> grau 2:<br />

f(x) = x 3 +(a2 − a21 a1a2<br />

)x−<br />

3 3 +a3 + 2a31 27 .<br />

Essa notação está pesada, por isso volto a usar como variável x e ponho<br />

b = a2 − a2 1<br />

3<br />

20<br />

10<br />

-10<br />

-20<br />

a = − a1a2<br />

3 +a3 + 2a3 1<br />

27 .<br />

Ou seja que po<strong>de</strong>mos nos restringir a consi<strong>de</strong>rar:<br />

f(x) = x 3 +bx+a.<br />

Afirmação 1.1. Seja um polinômio <strong>de</strong> grau 3 da forma<br />

(sem termo quadrático).<br />

Então<br />

f(x) = x 3 +bx+a<br />

i) f(x) tem uma raíz múltipla (dupla ou tripla) se e somente se<br />

4b 3 +27a 2 = 0.<br />

ii) Se vale i) então a raíz simples é<br />

x1 = 2 3<br />

<br />

−a<br />

2<br />

e a raíz dupla é<br />

x2 = − 3<br />

<br />

−a<br />

2 .<br />

Se vale i), as raízes dupla e simples coinci<strong>de</strong>m, formando uma raíz tripla, exatamente<br />

quando a = b = 0.


CAPÍTULO 32. O DISCRIMINANTE DE POLINÔMIOS DE GRAU 3 447<br />

Demonstração.<br />

Primeiro provemos que 4b 3 +27a 2 = 0 é condição necessária para a existência <strong>de</strong><br />

raíz múltipla.<br />

Analisar as raízes Reais múltiplas <strong>de</strong> f(x) = x 3 +bx+a é analisar x on<strong>de</strong><br />

o que significa resolver o sistema:<br />

A segunda<br />

e substituindo na primeira obtemos:<br />

ou seja<br />

Então<br />

f(x) = f ′ (x) = 0,<br />

x 3 +bx+a = 0 3x 2 +b = 0.<br />

b 3 = −27x 6<br />

b = −3x 2<br />

−2x 3 +a = 0<br />

a = 2x 3 .<br />

e a 2 = 4x 6<br />

ou seja, que temos a anulação do seguinte discriminante:<br />

Agora vamos ver que a condição<br />

4b 3 +27a 2 = 0.<br />

4b 3 +27a 2 = 0<br />

nos permite encontrar as raízes <strong>de</strong> f(x) = x 3 + bx + a e ainda <strong>de</strong>terminar qual é a<br />

raíz múltipla.<br />

Começo com a fórmula do binômio:<br />

(v +u) 3 = v 3 +3v 2 u+3vu 2 +u 3 =<br />

= v 3 +u 3 +3uv(u+v).<br />

Portanto posso escrever a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>:<br />

(v +u) 3 −3uv(v+u)−(u 3 +v 3 ) ≡ 0.<br />

Pensemos por um momento em x = v +u e busquemos v,u satisfazendo:<br />

−3uv = b, e −(u 3 +v 3 ) = a.<br />

Se conseguimos estas duas últimas condições então<br />

diria que x = v +u seria raíz <strong>de</strong><br />

Ora, a primeira condição:<br />

dá (supondo u = 0)<br />

(v +u) 3 −3uv(v+u)−(u 3 +v 3 ) ≡ 0<br />

x 3 +bx+a = 0.<br />

−3uv = b,<br />

v = −b<br />

3u


1. PREPARAÇÃO PARA A FÓRMULA DE CARDANO 448<br />

e, substituindo isso na segunda, u 3 +v 3 = −a, obtemos:<br />

u 3 + −b3<br />

= −a.<br />

27u3 Se multiplicamos isso tudo por u3 , obtemos uma equação:<br />

Note que esta equação é do tipo:<br />

u 6 +au 3 − b3<br />

= 0.<br />

27<br />

(u 3 ) 2 +a(u 3 )− b3<br />

= 0,<br />

27<br />

ou seja , uma equação quadrática na nova variável u3 .<br />

Portanto as raízes u3 po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scobertas pela fórmula <strong>de</strong> Báskara:<br />

u 3 = −a±<br />

<br />

a2 −4 −b3<br />

27<br />

=<br />

2<br />

Logo<br />

= −a<br />

2 ±<br />

4a 2<br />

4<br />

+ 4b3<br />

27<br />

=<br />

2<br />

= −a<br />

2 ±<br />

<br />

a2 b3<br />

+<br />

4 27 .<br />

<br />

u = 3<br />

−a<br />

2 ±<br />

<br />

a2 b3<br />

+<br />

4 27<br />

Estamos supondo 27a 2 +4b 3 = 0, o que dá no mesmo que<br />

Logo obtenho<br />

e a condição v 3 +u 3 = −a dá<br />

a 2<br />

4<br />

b3<br />

+ = 0.<br />

27<br />

u = 3<br />

<br />

−a<br />

2<br />

v = 3<br />

<br />

−a<br />

2 .<br />

Logo<br />

x = v +u =<br />

= 2· 3<br />

<br />

−a<br />

2 .<br />

Esse ponto x1 = 2· 3<br />

<br />

−a<br />

2 é raíz <strong>de</strong> f(x) = x3 +bx+a, mas é raíz simples se a = 0.<br />

Observe agora que se <strong>de</strong>noto por x1,x2,x 3 as raízes Reais ou complexas <strong>de</strong> f(x) =<br />

x3 +bx+a, po<strong>de</strong>ndo ser repetidas no caso múltiplo (xi = xj ) temos:<br />

x1 +x 2 +x 3 = 0.


CAPÍTULO 32. O DISCRIMINANTE DE POLINÔMIOS DE GRAU 3 449<br />

Isso é fácil <strong>de</strong> se ver, pois se escrevo:<br />

x 3 +bx+a = (x−x1)(x−x2)(x−x3) =<br />

= x 3 +(−x1 −x3 −x2)·x 2 +(x1x3 +x1x2 +x2x3)·x−x1x2x3,<br />

temos que concluir que x1 +x2 +x3 = 0.<br />

Ou seja, no caso <strong>de</strong> raíz dupla x 2 temos que x 1 +x 2 +x 2 = 0, ou seja,<br />

Verifiquemos então que o ponto<br />

x 2 = −x 1<br />

2<br />

x 2 = −x 1<br />

2 .<br />

<br />

3 −a<br />

= −<br />

2<br />

é <strong>de</strong> fato raíz dupla <strong>de</strong> f(x) = x3 +bx+a, calculando primeiro f(x) nesse ponto:<br />

(− 3<br />

<br />

−a<br />

2 )3 +b(− 3<br />

<br />

−a<br />

)+a =<br />

2<br />

= a<br />

<br />

3<br />

− −<br />

2 27a4<br />

<br />

3 −a<br />

+a =<br />

4 2<br />

= a<br />

<br />

3 27a3 a 3a<br />

− +a = − +a = 0.<br />

2 8 2 2<br />

E a seguir calculando f ′ (x) nesse ponto:<br />

3(− 3<br />

<br />

−a<br />

2 )2 +b = 3 3<br />

<br />

a2 +b =<br />

4<br />

3 3<br />

<br />

−b3 +b = −b+b = 0<br />

27<br />

Claro que se a = 0 e a4 b3 + 4 27 = 0 então b = 0 e f(x) = x3 tem raíz tripla em x = 0.<br />

E também é claro que se a raíz dupla − 3<br />

<br />

−a<br />

3 −a<br />

coinci<strong>de</strong> com a raíz simples 2 2 2 então<br />

a = 0.<br />

<br />

2. A fórmula <strong>de</strong> Cardano para as três raízes Reais: viagem nos<br />

Complexos<br />

A Seção anterior foi <strong>de</strong>dicada ao caso em que x 3 +bx+a tem discriminante:<br />

∆ := a2 b3<br />

+ = 0.<br />

4 27<br />

Mas nesta estaremos consi<strong>de</strong>rando o caso:<br />

∆ := a2<br />

4<br />

b3<br />

+ = 0.<br />

27


2. A FÓRMULA DE CARDANO PARA AS TRÊS RAÍZES REAIS: VIAGEM<br />

NOS COMPLEXOS 450<br />

Retomemos a prova da Afirmação 1.1 <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo, com a notação que lá<br />

introduzimos, até o ponto em que obtivemos:<br />

u = 3<br />

<br />

−a<br />

2 ±<br />

<br />

a2 b3<br />

+<br />

4 27 .<br />

Escolho por exemplo 1 :<br />

Lá tínhamos a relação:<br />

<br />

u = 3<br />

−a<br />

2 +<br />

<br />

a2 b3<br />

+<br />

4 27 .<br />

v 3 +u 3 = −a,<br />

portanto<br />

v = 3<br />

<br />

−a−( −a<br />

2 +<br />

<br />

a2 b3<br />

+ ) =<br />

4 27<br />

= 3<br />

<br />

−a<br />

2 −<br />

<br />

a2 b3<br />

+<br />

4 27 .<br />

E também naquela prova:<br />

x = u+v =<br />

= 3<br />

<br />

−a<br />

2 +<br />

<br />

<br />

a2 b3 3 −a<br />

+ +<br />

4 27 2 −<br />

<br />

a2 b3<br />

+<br />

4 27<br />

é indicada como Raíz <strong>de</strong> x3 +bx+a = 0.<br />

Caso ∆ < 0:<br />

Ora é fácil dar um exemplo <strong>de</strong> um polinômio x3 +bx+a com três óbvias raízes<br />

Reais distintas para o qual:<br />

∆ < 0.<br />

Tome<br />

x 3 −7x+6<br />

com raízes −3,1,2 para o qual<br />

∆ = −100<br />

27 .<br />

Então a expressão anterior para a Raíz x é um pouco estranha, pois parece ser um<br />

número Complexo não Real.<br />

Este é o casus irreducibilis do tratado <strong>de</strong> Cardano, a Ars Magna.<br />

Note que se ∆ < 0:<br />

z := −a<br />

2 +√∆ e z := −a<br />

2 −√∆ são números complexos conjugados, não-Reais. Então chamemos x <strong>de</strong> x1 e notemos<br />

que ele é a soma <strong>de</strong> um número complexo com seu conjugado:<br />

x 1 := 3√ z + 3√ z =<br />

1 se po<strong>de</strong> checar que obteríamos os mesmos resultados finais com a escolha −


CAPÍTULO 32. O DISCRIMINANTE DE POLINÔMIOS DE GRAU 3 451<br />

= 3√ z + 3√ z<br />

e portanto x1 ∈ R.<br />

Mas se pensamos na operação <strong>de</strong> extrair raíz cúbica que produziu:<br />

u = 3<br />

<br />

−a<br />

2 +√∆ como operação sobre os complexos, então há <strong>de</strong> fato três raízes complexas diferentes.<br />

Essa proprieda<strong>de</strong> se origina do fato <strong>de</strong> que, sobre os complexos, há três raízes<br />

distintas da unida<strong>de</strong>:<br />

3√ 3√<br />

1 = 1, 1 = τ1 := −1<br />

2 +<br />

√<br />

3<br />

2 ·√ 3√<br />

−1 e 1 = τ1 := −1<br />

2 −<br />

√<br />

3<br />

2 ·√−1, on<strong>de</strong> τ1 e τ1 são conjugados.<br />

Então po<strong>de</strong>mos tomar também<br />

e <strong>de</strong>vido à relação<br />

somos obrigados a tomar:<br />

u = τ1 · 3√ z<br />

u·v = −b<br />

3<br />

∈ R<br />

v = τ1 · 3√ z,<br />

para termos outra raíz Real x 2 := u+v, já que 2<br />

que é um número Real.<br />

A terceira opção é:<br />

e<br />

que produz:<br />

x 2 := u+v =<br />

= τ1 · 3√ z +τ1 · 3√ z =<br />

= τ1 3√ z +τ1 3√ z<br />

u = τ1 · 3√ z<br />

v = τ1 · 3√ z,<br />

x 3 := τ1 · 3√ z +τ1 · 3√ z.<br />

No exemplo x 3 −7x+6 as raízes obtidas são<br />

x 1 = 2, x 2 = −3 e x 3 = 1.<br />

Caso ∆ > 0:<br />

Nesse se po<strong>de</strong> mostrar que a única Raíz Real é<br />

x = 3<br />

<br />

−a<br />

2 +√∆+ 3<br />

<br />

−a<br />

2 −√∆ 2 Lembre que ∀z1,z2 ∈ C, z1 +z2 = z1 +z2 e que z1 ·z2 = z1 ·z2. A proprieda<strong>de</strong> 3√ z = 3√ z sai<br />

<strong>de</strong> z 3 = z 3 .


3. O DISCRIMINANTE COMO CURVA 452<br />

e que há mais duas Raízes complexas conjugadas, as raízes do polinômio quadrático:<br />

da fatoração<br />

αx 2 +βx+γ<br />

x 3 +bx+c = (x−x)·αx 2 +βx+γ.<br />

3. O discriminante como curva<br />

Vamos interpretar geometricamente a Afirmação 1.1.<br />

Pensemos num plano cujas coor<strong>de</strong>nadas são (a,b) e o lugar <strong>de</strong> anulação 4b 3 +<br />

27a 2 = 0. Isso <strong>de</strong>fine uma curva Γ no plano (a,b).<br />

O traço da curva Γ : 4b 3 +27a 2 = 0 é dado na Figura a seguir:<br />

satifaz<br />

Note que a imagem <strong>de</strong><br />

-0,2<br />

-0,1<br />

0<br />

0<br />

-0,1<br />

-0,2<br />

-0,3<br />

-0,4<br />

-0,5<br />

-0,6<br />

-0,7<br />

γ : R → R 2 = (a,b), γ(t) := (2t 3 ,−3t 2 )<br />

0,1<br />

0,2<br />

4(−3t 2 ) 3 +27(2t 3 ) 2 ≡ 0.<br />

Por isso γ(t) é chamada <strong>de</strong> parametrização <strong>de</strong> Γ : 4b 3 +27a 2 = 0.<br />

Ou seja:<br />

todas as cúbicas do tipo y = ft(x) = x 3 −3t 2 x+2t 3 têm raíz múltipla.<br />

Pela Afirmação 1.1 a localização da raíz dupla é<br />

x2 = − 3<br />

<br />

−2t3 = t,<br />

2<br />

enquanto a raíz simples é<br />

x 1 = 2 3<br />

−2t 3<br />

Fiz quatro Exemplos na Figura a seguir:<br />

2<br />

= −2t.


CAPÍTULO 32. O DISCRIMINANTE DE POLINÔMIOS DE GRAU 3 453<br />

-4<br />

-2<br />

40<br />

20<br />

0<br />

0<br />

-20<br />

-40<br />

x<br />

Figura: Gráficos <strong>de</strong> <strong>de</strong> y = ft(x) = x 3 −3t 2 x+2t 3 , com t = −2,−1,1,2<br />

Quando t → 0 a raíz dupla <strong>de</strong> y = ft(x) = x 3 −3t 2 x+2t 3 coli<strong>de</strong> com a terceira<br />

raíz simples, formando a raíz tripla <strong>de</strong> y = f0(x) = x 3 . Veja a Figura a seguir:<br />

-4<br />

-2<br />

60<br />

40<br />

20<br />

x<br />

0<br />

0<br />

-20<br />

-40<br />

-60<br />

Figura: Gráficos <strong>de</strong> <strong>de</strong> y = ft(x) = x3 −3t2x+2t 3 , com t = −1, −1 −1 , 2 4<br />

A curva discriminante Γ separa o plano (a,b) em duas regiões, uma on<strong>de</strong> 4b 3 +<br />

27a 2 < 0, e que está acima da curva na Figura. Na figura a seguir escolhi 4 pontos<br />

(a,b) nessa região e plotei as cúbicas y = x 3 +bx+a resultantes:<br />

2<br />

2<br />

4<br />

4


4. A CURVA DISCRIMINANTE ENTRE AS CÚBICAS SINGULARES 454<br />

-4 -2<br />

100<br />

50<br />

0<br />

0<br />

-50<br />

x<br />

-100<br />

A outra região do plano, <strong>de</strong>terminada pela Γ, é on<strong>de</strong> 4b 3 + 27a 2 > 0, e que fica<br />

abaixo da curva na Figura. Na figura a seguir escolhi 4 pontos (a,b) nessa região e<br />

plotei as cúbicas y = x 3 +bx+a resultantes:<br />

800<br />

400<br />

0<br />

-10 -5 0<br />

5<br />

x<br />

-400<br />

-800<br />

4. A curva discriminante entre as cúbicas singulares<br />

Os pares or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> parâmetros (a,b) formam um plano, que será para nós<br />

agora um plano (x,y).<br />

É possível escolher novas coor<strong>de</strong>nadas (x,y) nesse plano, para que a curva discriminante<br />

seja dada por:<br />

4y 3 +27x 2 = 0<br />

y 2 −x 3 = 0,<br />

De fato, basta fazer uma mudança do tipo y := √ 27·x e x := − 3√ 4·y.<br />

2<br />

4<br />

10


CAPÍTULO 32. O DISCRIMINANTE DE POLINÔMIOS DE GRAU 3 455<br />

Definição 4.1. Um ponto P = (x,y) é uma singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma curva F(x,y) = 0<br />

se nesse ponto<br />

F(x,y) = ∂F(x,y)<br />

∂x<br />

= ∂F(x,y)<br />

∂y<br />

Por exemplo. se<br />

F(x,y) = y 2 −x 3 −bx−a = 0,<br />

para termos singularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssas cúbicas temos que ter:<br />

= 0.<br />

y 2 −x 3 −bx−a = 0, y = 0 e −3x 2 −b = 0,<br />

ou seja (já que o sinal não vai importar):<br />

x 3 +bx+a = 0 e 3x 2 +b = 0.<br />

Se <strong>de</strong>noto f(x) = x 3 +bx+a, as singularida<strong>de</strong>s terão coor<strong>de</strong>nada x verficando:<br />

f(x) = f ′ (x) = 0,<br />

quer dizer, raíz multipla <strong>de</strong> f(x) = 0.<br />

Mas então estamos recaindo no que apren<strong>de</strong>mos na Afirmação 1.1:<br />

A condição para termos singularida<strong>de</strong>s nas cúbicas y 2 = x 3 +bx+a é dada por<br />

4b 3 +27a 2 = 0.<br />

A Figura a seguir é o que o Maple consegue plotar da cúbica<br />

y 2 −x 3 +3x−2 = 0,<br />

que tem singularida<strong>de</strong>, pois 4·(−3) 3 +27·2 2 = 0.<br />

De fato o formato correto é o <strong>de</strong> um laço e a singularida<strong>de</strong> é o ponto (1,0).<br />

-2<br />

6<br />

4<br />

2<br />

y 0<br />

-1 0 1 2<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

x<br />

Figura: A curva y 2 −x 3 +3x−2 = 0.<br />

A Figura a seguir é como o Maple plota a curva<br />

y 2 −x 3 +3x+2 = 0,<br />

que tem singularida<strong>de</strong> pois 4·(−3) 3 +27·(−2) 2 = 0.<br />

3


4. A CURVA DISCRIMINANTE ENTRE AS CÚBICAS SINGULARES 456<br />

6<br />

4<br />

2<br />

y 0<br />

2<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

2,4<br />

2,8<br />

Figura: Atenção: esta curva y 2 −x 3 +3x+2 = 0<br />

tem um ponto isolado em (−1,0), que é a singularida<strong>de</strong> !<br />

De fato, (−1,0) está na curva, y 2 −x 3 +3x+2 = 0, pois esta é:<br />

A<strong>de</strong>mais ∂F<br />

∂y<br />

x<br />

3,2<br />

3,6<br />

y 2 −(x+1) 2 ·(x−2) = 0.<br />

= 2y e ∂F<br />

∂x = −3x2 +3 se anulam em (−1,0).<br />

Os dois últimos exemplos são casos da seguinte situação:<br />

Afirmação 4.1. Suponha y 2 = f(x) = x 3 +bx+a com<br />

(a,b) = (0,0) e 4b 3 +27a 2 = 0.<br />

• i) Se a < 0 então y 2 = f(x) tem um ponto singular isolado em (− 3<br />

e todos os outros pontos da curva tem coor<strong>de</strong>nada x ≥ 2 3<br />

<br />

−a<br />

2 .<br />

<br />

−a<br />

2<br />

• ii) Se a > 0 então y 2 = f(x) tem forma <strong>de</strong> laço com singularida<strong>de</strong> no ponto<br />

(− 3<br />

<br />

−a<br />

2<br />

, 0).<br />

Demonstração.<br />

Se f(x) = x 3 +bx+a tem<br />

(a,b) = (0,0) e 4b 3 +27a 2 = 0,<br />

então a Afirmação 1.1 diz que f(x) tem uma raíz dupla e uma simples, bem como<br />

que a raíz simples é<br />

x1 = 2 3<br />

<br />

−a<br />

2<br />

enquanto que a raíz dupla é<br />

x2 = − 3<br />

<br />

−a<br />

2 .<br />

Logo no caso i):<br />

a > 0 ⇒ x1 < x2, , 0)


CAPÍTULO 32. O DISCRIMINANTE DE POLINÔMIOS DE GRAU 3 457<br />

enquanto que, no caso ii):<br />

Caso i): como a < 0,<br />

se anulam em (− 3<br />

<br />

−a<br />

2<br />

<br />

−a<br />

2<br />

3(− 3<br />

∂F<br />

∂y<br />

,0), pois<br />

<br />

−a<br />

a < 0 ⇒ x 2 < x 1 .<br />

= 2y e<br />

2 )2 +b = 0 ⇔ ( 3<br />

∂F<br />

∂x = 3x2 +b<br />

<br />

−a<br />

2 )2 = − b<br />

3 ⇔<br />

⇔ a2<br />

= −<br />

2<br />

b3<br />

27 ⇔ 27·a2 = −4·b 3 .<br />

Logo (− 3 ,0) é singularida<strong>de</strong>, cuja coor<strong>de</strong>nada x negativa.<br />

Note que<br />

f(x) = x 3 +bx+a = (x−x 2) 2 ·(x−x 1).<br />

Como y2 = f(x), é necessário que<br />

x ≥ x1 = 2 3<br />

<br />

−a<br />

2<br />

para termos números Reais<br />

y = (x−x 2) 2 ·(x−x 1) ou y = − (x−x 2) 2 ·(x−x 1).<br />

Ou seja, fora o ponto (− 3<br />

x ≥ 2 3<br />

−a<br />

2 .<br />

<br />

−a<br />

2<br />

,0) todos os outros pontos <strong>de</strong>ssa curva tem coor<strong>de</strong>nada<br />

Caso ii): No caso a > 0 a verificação <strong>de</strong> que (x 2,0) é ponto singular <strong>de</strong> y 2 = f(x)<br />

é idêntica. O ponto (x 1,0) não é singular para a curva, que tem tangente vertical<br />

neste ponto.<br />

Agora, neste caso, como x 1 < x 2 e<br />

f(x) = (x−x1)·(x−x 2) 2 ,<br />

basta que x ≥ x 1 para que estejam <strong>de</strong>finidas nos Reais as raízes:<br />

y = (x−x 2) 2 ·(x−x 1) ou y = − (x−x 2) 2 ·(x−x 1).<br />

As duas opções distintas <strong>de</strong> raízes se colapsam para o valor y = 0 em x = x 1 . São<br />

distintas raízes no intervalo (x 1,x 2), pois nesse intervalo<br />

(x−x 2) 2 ·(x−x 1) > 0.<br />

E voltam a se colapsar para o valor y = 0 em x = x 2. Para x > x 2 há novamente<br />

duas opções distintas <strong>de</strong> raízes para y. Por isso se forma o laço em (x 2,0).


5. PARAMETRIZAÇÃO DOS PONTOS RACIONAIS DE CÚBICAS<br />

SINGULARES 458<br />

A Figura a seguir é um diagrama, on<strong>de</strong> a curva cuspidal em vermelho é a curva<br />

discriminante no plano (a,b). O complemento <strong>de</strong>ssa curva no plano é feito <strong>de</strong> duas<br />

regiões <strong>de</strong>sconexas. Em cada região está esboçada em azul o tipo <strong>de</strong> cúbica y 2 =<br />

x 3 +bx+a que é a curva no plano (x,y) que surge se tomamos o ponto (a,b) nessa<br />

região. No ponto (0,0) = (a,b) que é a singularida<strong>de</strong> da curva discriminante produzse<br />

a cúbica cuspidal y 2 = x 3 em azul. Se (a,b) pertence ao ramo superior da curva<br />

discriminante ou ao ramo inferior surgem no plano (x,y) cúbicas com laço ou com<br />

ponto singular isolado (indicadas em azul).<br />

5. Parametrização dos pontos racionais <strong>de</strong> cúbicas singulares<br />

As cúbicas que foram apresentadas na Seção 4 do Capítulo 15 são da forma:<br />

y 2 = x 3 +bx+a,<br />

mas para elas 4b3 + 27a2 = 0. Nesse tipo <strong>de</strong> cúbica po<strong>de</strong> haver infinitos pontos<br />

com coor<strong>de</strong>nadas racionais. Mas por um Teorema famoso <strong>de</strong> Mor<strong>de</strong>ll, esses pontos<br />

todos po<strong>de</strong>m ser obtidos com os métodos geométricos da Afirmação 4.1, a partir <strong>de</strong><br />

um número finito <strong>de</strong> pontos com coor<strong>de</strong>nadas Racionais. Por exemplo, na curva <strong>de</strong><br />

Billing,<br />

y 2 −x 3 +82x = 0<br />

a partir <strong>de</strong><br />

P1 = (−1,9), P2 = (−8,12) e P3 = ( 49 231<br />

,<br />

4 8 ).<br />

Já nas cúbicas singulares como<br />

y 2 −x 3 +3x−2 = 0<br />

é muito mais fácil <strong>de</strong> encontrar todos seus pontos com coor<strong>de</strong>nadas Racionais.<br />

Para isso, tome qualquer reta r passando por (1,0) (o ponto on<strong>de</strong> a cúbica tem<br />

um laço) da forma:<br />

r(x) = p p<br />

·x−<br />

q q ,<br />

p<br />

∈ Q.<br />

q<br />

Então a intersecção <strong>de</strong> r(x) com a cúbica se dá no ponto:<br />

( −2q2 +p 2<br />

q 2 , p·(−3q2 +p 2 )<br />

q 3<br />

)<br />

cujas coor<strong>de</strong>nadas são Racionais (além é claro do (1,0)).


CAPÍTULO 32. O DISCRIMINANTE DE POLINÔMIOS DE GRAU 3 459<br />

Por outro lado se ( p1<br />

q1<br />

então pertence à reta:<br />

on<strong>de</strong><br />

p2,<br />

, ) é um ponto <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas Racionais <strong>de</strong>ssa cúbica,<br />

q2<br />

r(x) = p<br />

q<br />

p<br />

q<br />

·x− p<br />

q ,<br />

= (p2<br />

q2 )<br />

( p1<br />

q1 −1).<br />

Ou seja, todos os pontos com coor<strong>de</strong>nadas racionais surgem por intersecção com as<br />

retas por (1,0) com coeficiente angular p<br />

∈ Q. q<br />

Já na cúbica:<br />

y 2 −x 3 +3x+2 = 0,<br />

cuja singularida<strong>de</strong> (−1,0) está separada do resto da cúbica, qualquer reta r passando<br />

por (−1,0) da forma:<br />

intersecta a cúbica no ponto:<br />

r(x) = p p<br />

·x+<br />

q q ,<br />

( 2q2 +p2 q2 , p·(3q2 +p2 )<br />

q3 )<br />

cujas coor<strong>de</strong>nadassão Racionais(além éclaro do (−1,0)). EtodosospontosRacinais<br />

da cúbica são assim obtidos, como vimos acima.<br />

p<br />

q<br />

∈ Q<br />

6. Cúbicas singulares aparecem como seções com o plano tangente<br />

Imagine a cúbica <strong>de</strong> Billing<br />

como uma seção da superfície<br />

y 2 −x 3 +82x = 0<br />

F(x,y,z) = z 2 +y 2 −x 3 +82x = 0,<br />

obtida ao cortá-la com o plano z = 0 do espaço (x,y,z).<br />

O que dá a intersecção da superfície com seu plano tangente no ponto (−1,9,0) ?<br />

Afirmação 6.1. A intersecção da superfície<br />

z 2 +y 2 −x 3 +82x = 0<br />

com o plano tangente em (−1,9,0) é a curva no plano (x,z) dada por:<br />

z 2 + 6241<br />

324 ·x2 + 6727 6889<br />

·x+<br />

162 324 −x3 = 0.<br />

A totalida<strong>de</strong> dos pontos <strong>de</strong>ssa curva com coor<strong>de</strong>nadas racionais é dada pelos pontos<br />

(x,z) = ( 6889q2 +324p 2<br />

324q 2<br />

, p·(7213q2 +324p 2<br />

324q 3 ), p,q ∈ Z,<br />

além do (−1,0), que é uma singularida<strong>de</strong> isolada do resto da curva.<br />

Também po<strong>de</strong>m surgir por intersecção <strong>de</strong> superfícies cúbicas com seus planos<br />

tangentes outros três tipo <strong>de</strong> curvas singulares:<br />

• com laço, do tipo visto acima,


6. CÚBICAS SINGULARES APARECEM COMO SEÇÕES COM O PLANO<br />

TANGENTE 460<br />

• cuspidais como y 2 −x 3 = 0 e<br />

• união <strong>de</strong> três retas concorrentes, como y ·x·(y −ax) = 0.<br />

Demonstração. (da Afirmação 6.1)<br />

Este tipo <strong>de</strong> Afirmação pe<strong>de</strong> que algumas das contas sejam checadas por exemplo<br />

com o Maple ou WXMaxima. Como envolvem só números Racionais esses programas<br />

as executam perfeitamente.<br />

Como <strong>de</strong>finimos na Seção 3 do Capítulo 15, o plano tangente <strong>de</strong>ssa superfíce no<br />

ponto (−1,9,0) é dado por:<br />

que nesse caso dá:<br />

∂F<br />

∂x<br />

·(x+1)+ ∂F<br />

∂y<br />

·(y −9)+ ∂F<br />

∂z<br />

79x−83+18y = 0.<br />

·(z −0) = 0<br />

O fato <strong>de</strong> que não aparece a variável z quer dizer que esse plano é obtido da reta<br />

tangente em (−1,9) à curva<br />

y 2 −x 3 +82x = 0<br />

apenas levantando-a verticalmente no eixo z.<br />

A equação<br />

z 2 + 6241<br />

324 ·x2 + 6727 6889<br />

·x+<br />

162 324 −x3 = 0<br />

surge <strong>de</strong> substituir<br />

na equação dada<br />

y = − 79 83<br />

·x+<br />

18 18<br />

z 2 +y 2 −x 3 +82x = 0.<br />

Seu significado geométrico é o da intersecção da superfície com o plano tangente<br />

Após a mudança <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nada<br />

79x−83+18y = 0.<br />

x = x+ 1 6241<br />

·<br />

3 324<br />

que vimos na Seção 1, obtemos no plano (x,z) uma nova equação da curva livre do<br />

termo em x2 :<br />

z 2 + 52027369 375273412597<br />

x+<br />

314928 459165024 −x3 = 0<br />

e a Afirmação 4.1 diz então que esta curva tem uma singularida<strong>de</strong> isolada no ponto:<br />

(x,z) = (− 7213<br />

972 ,0).<br />

Voltando às coor<strong>de</strong>nadas (x,z) vemos então que:<br />

(− 7213<br />

972<br />

é uma singularida<strong>de</strong> isolada.<br />

+ 1<br />

3<br />

6241<br />

· ,0) = (−1,0)<br />

324


CAPÍTULO 32. O DISCRIMINANTE DE POLINÔMIOS DE GRAU 3 461<br />

Cada reta<br />

r(x) = p p<br />

·x+<br />

q q ,<br />

p<br />

q<br />

∈ Q<br />

intersecta essa curva no ponto <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas racionais:<br />

(x,z) = ( 6889q2 +324p 2<br />

324q 2<br />

, p·(7213q2 +324p 2<br />

324q 3<br />

além do (−1,0).<br />

Como vimos no final da Seção anterior, todo ponto Racional se obtém intersectando<br />

a cúbica com uma reta por (−1,0) cujo coeficientes angular e linear são<br />

Racionais.<br />

<br />

100<br />

50<br />

y 0<br />

-10 -5 0 5 10 15<br />

-50<br />

-100<br />

x<br />

Figura: A curva <strong>de</strong> Billing e sua reta tangente<br />

40<br />

20<br />

z 0<br />

-20<br />

-40<br />

-10<br />

0<br />

10<br />

x<br />

20<br />

20<br />

20 40<br />

-20 0 y<br />

-40<br />

30<br />

Figura: A superfície que produz a curva <strong>de</strong> Billing como seção z = 0.<br />

)


6. CÚBICAS SINGULARES APARECEM COMO SEÇÕES COM O PLANO<br />

TANGENTE 462<br />

40<br />

20<br />

y 0<br />

-20<br />

-40<br />

-10 0 10 20 -40 -20 020<br />

40<br />

30<br />

x<br />

z<br />

Figura: A superfície e seu plano tangente.


CAPíTULO 33<br />

Discriminante dos polinômios <strong>de</strong> grau 4<br />

Uma equação quártica geral (após dividir pelo coeficiente <strong>de</strong> x 4 ):<br />

x 4 +dx 3 +cx 2 +bx+a = 0<br />

po<strong>de</strong> ser levada numa equação que não tem a potência 3, através da transformação:<br />

x = x− d<br />

4 ,<br />

a qual produz na nova variável x:<br />

x 4 +(c− 3d2<br />

8 )·x2 +( −cd d3 bd cd2 3d4<br />

+ +b)·x− +a+ − = 0.<br />

2 8 4 16 256<br />

Por isso vamos pensar no que segue que já lidamos com uma equação do tipo:<br />

x 4 +cx 2 +bx+a = 0.<br />

1. A andorinha: o discriminante como superfície<br />

O problema do discriminante <strong>de</strong>sta equação<br />

F(x) := x 4 +cx 2 +bx+a = 0<br />

aparecequandonosperguntamosporquaisparâmetrosa,b,c,dproduzemumaequação<br />

F(x) com alguma raíz múltipla.<br />

O discriminante ∆ = 0 é uma equação no espaço 3-dimensional dos parâmetros<br />

(a,b,c) = R 3 , já que a ∈ R, b ∈ R, c ∈ R. Por isso ∆ = 0 <strong>de</strong>termina uma superfície,<br />

ou seja, algo que intuitivamente é bi-dimensional.<br />

Ao invés <strong>de</strong> obter essa equação ∆ = 0, vou <strong>de</strong>screver a superfície que ela produz<br />

como uma superfície parametrizada, ou seja, vou dar uma aplicação:<br />

Γ : R 2 → R 3 = (a,b,c)<br />

cuja imagem satisfaz ∆ = 0.<br />

Para isso começo consi<strong>de</strong>rando F(x) := x 4 + cx 2 + bx + a = 0 com uma raíz<br />

múltipla x, ou seja:<br />

F(x) = 0 e F ′ (x) = 0.<br />

Temos então da primeira equação:<br />

e da segunda:<br />

ou seja,<br />

a = −x 4 −cx 2 −bx<br />

b = −4x 3 −2cx.<br />

a = −x 4 −cx 2 +x·(4x 3 +2cx) = 3x 4 +2cx 2 .<br />

463


1. A ANDORINHA: O DISCRIMINANTE COMO SUPERFÍCIE 464<br />

Po<strong>de</strong>mos então <strong>de</strong>finir uma aplicação φ : R 2 → R 3 :<br />

φ(x,c) = (3x 4 +cx 2 , −4x 3 −2cx,c) = (a,b,c)<br />

contida no discriminante ∆ = 0.<br />

Mas a imagem <strong>de</strong>ssa aplicação é uma superfície singular no sentido <strong>de</strong> que em<br />

certos pontos <strong>de</strong>la não está bem <strong>de</strong>terminado o plano tangente, pois há quinas, bicos,<br />

etc. Pelo seu formato ela é conhecida como andorinha ou rabo da andorinha.<br />

As Figuras a seguir dão duas imagens da andorinha:<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-4 -2 0 2 4<br />

0<br />

-0,2<br />

-0,4<br />

-0,6<br />

-0,8<br />

-1<br />

-1,2<br />

-1,4


CAPÍTULO 33. DISCRIMINANTE DOS POLINÔMIOS DE GRAU 4 465<br />

0,5<br />

0<br />

-4<br />

1,5<br />

1<br />

2,5<br />

2<br />

-2<br />

3<br />

0<br />

2<br />

4<br />

0<br />

-0,2<br />

-0,4<br />

-0,6<br />

-0,8<br />

-1<br />

-1,2<br />

-1,4<br />

2. Discriminante como envelope <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> retas ou planos<br />

O que fizemos para equações quadráticas e cúbicas no Capítulo 32 e agora para<br />

quárticas é parte <strong>de</strong> um processo geral <strong>de</strong> buscar num espaço <strong>de</strong> parâmetros<br />

(a0,a1,...,an−1)<br />

uma equação ∆ = 0 que dá a condição que <strong>de</strong>vem satisfazer os parâmetros para que<br />

o polinômios correspon<strong>de</strong>nte<br />

F(x) = x n +an−1x n−1 +an−2 ·x n−2 +...+a0 = 0<br />

tenha raíz múltipla.<br />

Essa equação ∆ = 0 surge <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar o sistema<br />

Que tal se agora consi<strong>de</strong>ramos<br />

F = ∂F<br />

∂x<br />

= 0.<br />

F(x) = x n +an−1x n−1 +an−2 ·x n−2 +...+a0 = 0<br />

<strong>de</strong> um outro ponto <strong>de</strong> vista. Pensemos nele como <strong>de</strong>terminando:<br />

• uma família <strong>de</strong> retas no plano (a,b) = R 2 , com parâmetro x, se F(x) =<br />

x 2 +ax+b = 0; ou<br />

• uma família <strong>de</strong> retas no plano (a,b) = R 2 , com parâmetro x, se F(x) =<br />

x 3 +bx+a = 0; ou<br />

• uma família <strong>de</strong> planos espaço (a,b,c) = R 3 , com parâmetro x, se F(x) =<br />

x 4 +cx 2 +bx+a = 0;


2. DISCRIMINANTE COMO ENVELOPE DE FAMÍLIAS DE RETAS OU<br />

PLANOS 466<br />

• e assim por adiante ...<br />

Já que ∆ = 0 surge <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar o sistema<br />

F = ∂F<br />

= 0.<br />

∂x<br />

vemos que, no sentido como foi <strong>de</strong>finido na Seção 11 do Capítulo 35:<br />

o discriminante∆ = 0 éo envelope das famílias<strong>de</strong> retas ou planoscom parâmetro<br />

x dadas por F(x) = 0.


CAPíTULO 34<br />

Apêndice: O expoente 3<br />

4<br />

comanda a vida !<br />

Neste capítulo dou uma aplicação à Biologia do logaritmo, da série geométrica e<br />

da teoria <strong>de</strong> mínimos do Cálculo. Não sou nenhum especialista em bio-matemática,<br />

minha intenção é apenas mostrar como conceitos matematicamente simples po<strong>de</strong>m<br />

ser úteis em outras ciências.<br />

A<strong>de</strong>mais, aquiexponhoapenasum argumentopara<strong>de</strong>monstrá-la,queusahipóteses<br />

fortesena etapafinal umtipo <strong>de</strong>limite nonúmero <strong>de</strong>níveis <strong>de</strong>ramificação do sistema<br />

circulatório.<br />

Mas a lei <strong>de</strong> Kleiber se aplica até a seres unicelulares. Portanto <strong>de</strong>ve haver um<br />

argumento bem mais geral para <strong>de</strong>monstrá-la !<br />

Minhas referências foram:<br />

• R. Dawkins, A gran<strong>de</strong> história da Evolução, Companhia das Letras, 2009.<br />

• J. West, J. Brown, B. Enquist, A general mo<strong>de</strong>l for the origin of allometric<br />

scaling laws in biology , Science, 1997.<br />

• M. Kleiber, Body size and metabolic rate, Physiological Reviews, vol. 27, n.4<br />

, 1947.<br />

• R. Etienne, M. Apol, H. Olff, Demystifying West, Brown, Enquist mo<strong>de</strong>l of<br />

the allometry of metabolism , Functional Ecology, 2006.<br />

Essencialmente o objetivo do Apêndice é apresentar algumas idéias do último<br />

artigo.<br />

1. Metabolismo versus massa corporal<br />

Questão 1: Quem produz mais calor ao longo <strong>de</strong> dia, estando em repouso, um<br />

homem ou um rato ?<br />

Questão 2: Quem tem a maior taxa <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> calor por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> peso,<br />

um homem ou um rato ?<br />

Os biólogos se interessam por essas questões, ou seja, enten<strong>de</strong>r a relação entre o<br />

crescimento da massa corporal e o crescimento do metabolismo basal dos organismos<br />

vivos.<br />

O metabolismo basal B é essencialmente o consumo <strong>de</strong> oxigênio por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

tempo (medido em kcal/dia).<br />

Em 1883 Rubner propôs um mo<strong>de</strong>lo geométrico para explicar essa relação:<br />

467


3. RETA DE AJUSTE - MÉTODO DE MÍNIMOS QUADRADOS 468<br />

• É preciso haver uma superfície <strong>de</strong> área A para as trocas <strong>de</strong> O2 entre o organismo<br />

e o ambiente. Ou seja<br />

B = τ1 ·A,<br />

(τ1 constante que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da massa).<br />

• Por outro lado, a massa corporal M verifica<br />

M = τ2 ·V.<br />

• Mas A = τ3·L 2 enquanto V = τ4·L 3 , on<strong>de</strong> L é uma medida <strong>de</strong> comprimento.<br />

Ou seja<br />

B = τ5 ·L 2<br />

e M = τ6 ·L 3 .<br />

Pelo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Rubner já se prevê que não po<strong>de</strong> aparecer <strong>de</strong> uma hora para outra<br />

uma aranha - Godzilla. Ela se sufocaria antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir qualquer coisa !<br />

2. Escalas log/log para um experimento<br />

A massa <strong>de</strong> um elefante é 10 21 vezes a massa <strong>de</strong> uma ameba. Por isso, quando se<br />

plota M versus B se usa log 10(M) versus log 10(B). Pois então se po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sfrutar da<br />

proprieda<strong>de</strong>:<br />

log 10(a k ) = k ·log 10(a).<br />

Escolha agora o grupo <strong>de</strong> seres vivos que mais lhe agrada (caninos, felinos, primatas,<br />

mamíferos, aves, peixes, crustáceos, plantas, etc). Depreferênciacombastante<br />

variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa corporal.<br />

Plote os pares (log 10(M), log 10(B)) obtidos por observação no grupo <strong>de</strong> seres<br />

vivos escolhidos.<br />

Suponha que voce tem então sua lista<br />

(log 10(M1),log 10(B1)), ..., (log 10(Mk),log 10(Bk))<br />

Agora o problema é <strong>de</strong>finir a Reta que mais se ajusta a esses pontos, pois é <strong>de</strong>la<br />

que trata a Lei <strong>de</strong> Kleiber.<br />

3. Reta <strong>de</strong> ajuste - método <strong>de</strong> mínimos quadrados<br />

Se o leitor já conhece esse conceito, po<strong>de</strong> ir para a Seção seguinte.<br />

Chamo <strong>de</strong> distância vertical <strong>de</strong> um ponto (x,y) a uma reta y = ax+b o número<br />

|(ax+b)−y| = (ax+b−y) 2 .<br />

Como há uma raíz quadrada, torna-se complicado <strong>de</strong>rivar. Por isso vamos elevar ao<br />

quadrado a distância e tentar minimizar o quadrado da soma <strong>de</strong> distâncias verticais<br />

até uma reta.<br />

Problema 2: Determinar reta y = ax + b que minimiza a soma dos quadrados das<br />

distâncias verticais até k pontos dados.<br />

Vamos mostrar apenas como obter um candidato a reta que minimiza a soma dos<br />

quadrados das distâncias. a verificação completa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> noções <strong>de</strong> Cálculo em<br />

duas variáveis.


3<br />

CAPÍTULO 34. APÊNDICE: O EXPOENTE 4<br />

Imagine para as retas a notação:<br />

y = ξx+β,<br />

COMANDA A VIDA ! 469<br />

já que os coeficientes angulares ξ e lineares β são os que queremos <strong>de</strong>terminar. O que<br />

quero dizer é que <strong>de</strong>vemos pensar na função:<br />

z = f(ξ,β) = (ξx 1 +β −y 1 ) 2 +(ξx 2 +β)−y 2 ) 2 +...(ξx k +β −y k ) 2 .<br />

como função <strong>de</strong> duas variáveis ξ,β.<br />

O gráfico<strong>de</strong>z = f(ξ,β)formauma superfície noespaço comcoor<strong>de</strong>nadas(ξ,β,z).<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> z = f(ξ,β)<br />

O ponto (ξ0,β0) que buscamos será um ponto <strong>de</strong> mínimo do gráfico <strong>de</strong> z = f(ξ,β),<br />

portanto esperamos que ao intersectar essa superfície com os planos ξ = ξ0 e com<br />

β = β0 produzam gráficos <strong>de</strong> funções z = f(ξ,β0 e z = f(ξ0,β) que tenham pontos<br />

<strong>de</strong> mínimo.<br />

Ou seja, esperamos que as <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> z = f(ξ,β0) e <strong>de</strong> z = f(ξ0,β) sejam zero<br />

em (ξ0,β0). Ou seja, <strong>de</strong>vemos parar a variável ξ e <strong>de</strong>rivar em β e vice-versa, e buscar<br />

pelos zeros <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>rivadas.<br />

Quando paramos ξ = ξ0 e <strong>de</strong>rivamos em β usamos o símbolo ∂g<br />

∂β<br />

β = β0 e <strong>de</strong>rivamos em ξ usamos o símbolo ∂g<br />

. Então ∂ξ<br />

e<br />

. Quando paramos<br />

∂g<br />

∂ξ = 2(ξx 1 +β −y 1 )x 1 +2(ξx 2 +β)−y 2 )x 2 +...2(ξx k +β −y k )x k =<br />

= 2·(ξ(<br />

k<br />

i=1<br />

x 2 i )+β(<br />

k<br />

xi)− i=1<br />

k<br />

xiy )<br />

i<br />

∂g<br />

∂β = 2(ξx 1 +β −y 1 )+2(ξx 2 +β)−y 2 )+...2(ξx k +β −y k ) =<br />

= 2(ξ(<br />

k<br />

xi)+k·β −<br />

i=1<br />

i=1<br />

k<br />

y ).<br />

i<br />

i=1


4. A LEI EXPERIMENTAL DE KLEIBER 470<br />

Fazendo<br />

∂g ∂g<br />

= = 0<br />

∂ξ ∂β<br />

estamos criando um sistema não-homogêneo <strong>de</strong> duas equações lineares, com duas<br />

incógnitas ξ,β:<br />

k<br />

ξ( x 2 i )+β(<br />

k k<br />

xi) = xiy ,<br />

i<br />

i=1<br />

ξ(<br />

i=1<br />

k<br />

xi)+k ·β =<br />

i=1<br />

i=1<br />

k<br />

y .<br />

i<br />

Po<strong>de</strong>mos usar a Regra <strong>de</strong> Cramer para resolvê-lo, pois o <strong>de</strong>terminante formado com<br />

os coeficientes do sistema é:<br />

k k<br />

k ·( xi) 2 > 0,<br />

i=1<br />

x 2 i )−(<br />

i=1<br />

pelo item ii) da Afirmação 6.1 do Capítulo 11.<br />

Obteremos por Cramer:<br />

e<br />

i=1<br />

ξ0 = k · k<br />

i=1 x iy i −( k<br />

i=1 x i)( k<br />

i=1 y i )<br />

k · k<br />

i=1 x2 i −( k<br />

i=1 x i) 2<br />

β0 = ( k<br />

i=1 x2 i )( k<br />

i=1 y i )−( k<br />

i=1 x i)( k<br />

i=1 x iy i )<br />

k · k<br />

i=1 x2 i −( k<br />

i=1 x i) 2<br />

4. A Lei experimental <strong>de</strong> Kleiber<br />

Se verifica experimentalmente (com as ressalvas como k suficientemente gran<strong>de</strong>,<br />

etc) que:<br />

(Lei <strong>de</strong> Kleiber - 1947) O coeficiente angular da reta <strong>de</strong> ajuste in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do<br />

grupo <strong>de</strong> seres vivos escolhidos e vale 3<br />

4 .<br />

Observo que 3 < 1 implica que há uma lentificação do metabolismo, à medida<br />

4<br />

que a massa corporal aumenta.<br />

Evidências:<br />

• M. Kleiber se baseia numa tabela <strong>de</strong> k = 26 pontos, com Massa M dada em<br />

kg e B dado em kcal/dia.<br />

• Atabelaanalisamamíferos. Começacomdadosdocamundongo,com(M,B) =<br />

(0.021,3.6), passa por exemplo pelo gato (M,B) = (3,162) e vai até dados<br />

da vaca (M,B) = (435,8166).<br />

• Usando sua tabela, se obtém (conferi !) a0 = 0.7497881511 ∼ 3<br />

4 .<br />

No livro <strong>de</strong> Dawkins (2004) a lei <strong>de</strong> Kleiber é aplicada em três grupos:<br />

• organismos unicelulares,<br />

• organismos <strong>de</strong> sangue frio e<br />

• <strong>de</strong> sangue quente.


3<br />

CAPÍTULO 34. APÊNDICE: O EXPOENTE 4<br />

COMANDA A VIDA ! 471<br />

Aí se vê que os coeficientes lineares b0 das retas <strong>de</strong> ajuste mudam bastante.<br />

Além disso, Dawkins usa a lei <strong>de</strong> Kleiber para estudar outra correlação: massa<br />

corporal versus massa cerebral.<br />

Das retas <strong>de</strong> ajuste log 10(B) = 3<br />

4 log 10(M)+b, obtemos:<br />

B = 10 b ·M 3<br />

4 = τ ·M 3<br />

4<br />

on<strong>de</strong> τ <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tipo <strong>de</strong> organismo (sangue frio x sangue quente, por ex.)<br />

Vou introduzir a notação<br />

B ∝ M 3<br />

4<br />

para dizer só nos interessa o expoente <strong>de</strong> M e expressar a Lei <strong>de</strong> Kleiber.<br />

Para termos uma comparação, a seguir plotei y = x (vermelho), y = x 2<br />

3 (ver<strong>de</strong>) e<br />

y = x 3<br />

4 (amarelo), para x ∈ [1,10]<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

2 4<br />

x<br />

6<br />

8 10<br />

5. Justificação racional da Lei <strong>de</strong> Kleiber<br />

Até 1997 não havia nenhuma justificação teórica da lei experimental <strong>de</strong> Kleiber.<br />

Entãoofísico WesteosbiólogosBrowneEnquist trataram<strong>de</strong> provar alei<strong>de</strong>Kleiber,<br />

em artigo publicado na Revista Science.<br />

A idéia <strong>de</strong>les foi <strong>de</strong> que a eficiência <strong>de</strong> um sistema metabólico está intimamente<br />

relacionada à eficiência do sistema respiratório/circulatório.<br />

A ”<strong>de</strong>monstração”’ <strong>de</strong>les se baseou em:<br />

• hipóteses sobre a geometria do sistema circulatório.<br />

• hipóteses da física <strong>de</strong> fluidos, sobre a eficiência do processo <strong>de</strong> distribuição<br />

(ou seja, minimização das perdas, resistência, etc)<br />

O artigo WEB teve um gran<strong>de</strong> impacto. Em 2004, R. Dawkins diz:<br />

(...) A Lei <strong>de</strong> Kleiber, seja para plantas, animais ou até mesmo no nível do<br />

transporte <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma única célula, encontrou finalmente sua base racional. Ela<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>rivada da física e da geometria das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suprimento.(...)<br />

No entanto, houve críticas. Fora <strong>de</strong>bates sobre as ”contas”que fizeram, criticou-se


6. O ARGUMENTO 472<br />

• que há hipóteses fortes sobre a geometria dos sistema circulatório (algumas<br />

retomaremos mais adiante)<br />

• que o postulado <strong>de</strong> eficiência do sistema circulatório parece sugerir que a<br />

Evolução já acabou, já estaríamos otimamente adaptados ...<br />

O artigo <strong>de</strong> Etienne, Apol e Olff, <strong>de</strong> 2006, esclarece quais as suposições <strong>de</strong> WBE,<br />

<strong>de</strong>staca pontos obscuros <strong>de</strong> WBE e permite dar uma versão light <strong>de</strong> WBE.<br />

Seguirei EAO, mas visando apenas explicar algumas das muitas idéias <strong>de</strong> WBE,<br />

aquelas que dispensam a física dos fluidos.<br />

6. O argumento<br />

6.1. Hipótese 1. Hip. 1: Os sistemas circulatórios são árvores, on<strong>de</strong>:<br />

• Cada ramo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um cilindro, <strong>de</strong> comprimento<br />

lk, cuja base é um disco <strong>de</strong> raio rk.<br />

r _k<br />

l _k<br />

• Há 1 =: N1 ramo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 1 (a aorta), que se subdivi<strong>de</strong> em ν1 ≥ 2 ramos<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2,<br />

• cada ramo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k se subdivi<strong>de</strong> em νk ≥ 2 ramos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k+1. Há Nk<br />

ramos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k.<br />

• Observe que<br />

6.2. Capilares.<br />

Nk = Nk<br />

Nk−1<br />

·...· N2<br />

1 = νk−1 ·...·ν1<br />

• o processo <strong>de</strong> ramificação da aorta em artérias e <strong>de</strong>pois arteríolas continua<br />

até ramos finais, chamados <strong>de</strong> capilares.


3<br />

CAPÍTULO 34. APÊNDICE: O EXPOENTE 4<br />

COMANDA A VIDA ! 473<br />

• cuja or<strong>de</strong>m na ramificação será <strong>de</strong>signada por C e cujo número total será<br />

NC.<br />

• Saiba que as pare<strong>de</strong>s dos capilares são unicelulares ! 0 diâmetro externo <strong>de</strong><br />

um capilar é <strong>de</strong> 5 a 10 µ m (micrômetros, 10 −6 m).<br />

• Nos capilares se dão os processos físicos como difusão, osmose, etc. Através<br />

dosquaisoxigênio/nutrientespassamparaostecidosenquantogáscarbônico/<br />

<strong>de</strong>jetos passam para o sangue.<br />

• esses dados dos capilares são praticamente universais.<br />

• Se sabe que no ser humano há ≈ 20 bilhões <strong>de</strong> capilares.<br />

• As hemáceas humanas tem 8 µ m <strong>de</strong> diâmetro. Para trafegarem pelos capilares<br />

elas formam fila indiana !<br />

• Para se ver o grau <strong>de</strong> ramificação do sistema circulatório, a aorta <strong>de</strong> uma<br />

baleia po<strong>de</strong> chegar a 23 cm <strong>de</strong> diâmetro.<br />

6.3. Relação com os Capilares. Como νk := Nk+1,<br />

<strong>de</strong>fino analogamente:<br />

Nk<br />

Note que vale<br />

Ou seja:<br />

λk := lk+1<br />

lk<br />

e ρk := rk+1<br />

rk ·ρk ·ρk+1...·ρC−1 = rk · rk+1<br />

rk =<br />

e exatamente do mesmo jeito se obtém:<br />

lk =<br />

lC<br />

C−1<br />

i=k λi<br />

rk<br />

rC<br />

C−1<br />

i=k ρi<br />

rk<br />

.<br />

·...· rC<br />

rC−1<br />

e Nk = NC<br />

C−1<br />

i=k νi<br />

= rC,<br />

Imagine cada ramo cheio <strong>de</strong> sangue ou <strong>de</strong> seiva (já pensamos em sistemas nãopulsáteis<br />

...)<br />

Consi<strong>de</strong>re πr 2 k ·lk o volume <strong>de</strong> cada ramo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k.<br />

A soma <strong>de</strong> todos os volumes <strong>de</strong> ramos <strong>de</strong> nível k é portanto:<br />

é:<br />

Logo o volume total no sistema<br />

Vs,k := Nk ·(πr 2 k ·lk) = π NC ·r2 C ·lC<br />

C−1 i=k νiρ2 i λi<br />

.<br />

Vs :=<br />

Vs = πNC ·r 2 C ·lC ·(<br />

C<br />

k=1<br />

C<br />

k=1<br />

Vs,k<br />

1<br />

C−1 i=k νiρ2 i λi<br />

).


6. O ARGUMENTO 474<br />

6.4. Definição <strong>de</strong> S1 e <strong>de</strong> S2. Para facilitar, chamar<br />

C 1<br />

S1 := C−1 k=1 i=k νiρ2 i λi<br />

.<br />

Com essa nova notação temos:<br />

Vs = πNC ·r 2 C ·lC ·S1.<br />

Consi<strong>de</strong>re<br />

• Ak o quociente das somas <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> seções transversas dos ramos<br />

• Ek o quociente <strong>de</strong> somas <strong>de</strong> volumes <strong>de</strong> esferas cujos diâmetros são o comprimento<br />

dos ramos.<br />

Ak := Nk+1πr2 k+1<br />

Nkπr2 = νk ·ρ<br />

k<br />

2 k ,<br />

4<br />

Nk+1 3π(lk+1 2 )3<br />

Nk 4<br />

3π(lk 2 )3 = νk ·λ 3 k .<br />

Ek :=<br />

Essa esferas <strong>de</strong> volume 4<br />

3π(lk 2 )3 serão supostos os volumes servidos pelos ramos,<br />

ou seja partes do corpo que recebem nutrientes dos ramos cilíndricos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k, <strong>de</strong><br />

comprimento lk.<br />

E agora <strong>de</strong>fino outra gran<strong>de</strong>za:<br />

C<br />

S2 :=<br />

Afirmação: S1 := C<br />

k=1<br />

k=1<br />

1<br />

C−1<br />

i=k νiρ 2 i λi<br />

N 1/3<br />

k<br />

De fato, como νi ·ρ2 i = Ai e λi = ( Ei<br />

νi )13:<br />

S1 =<br />

=<br />

l _k<br />

1<br />

C−1 i=k Ai ·E 1<br />

3<br />

i<br />

po<strong>de</strong> ser escrito como:<br />

S1 = N 1<br />

3<br />

C ·S2<br />

C<br />

1<br />

C−1 k=1 i=k Ai ·( Ei<br />

νi )13<br />

C<br />

1<br />

C−1 3<br />

i=k νi C−1 k=1 i=k Ai ·E 1 =<br />

3<br />

i<br />

=<br />

,


3<br />

CAPÍTULO 34. APÊNDICE: O EXPOENTE 4<br />

=<br />

C<br />

k=1<br />

= N 1<br />

3<br />

C ·<br />

o que prova a Afirmação. Portanto:<br />

Ou seja:<br />

( NC<br />

Nk )1 3<br />

C−1 i=k Ai ·E 1<br />

3<br />

i<br />

C<br />

k=1<br />

N 1<br />

3<br />

k<br />

1<br />

COMANDA A VIDA ! 475<br />

=<br />

C−1 i=k Ai ·E 1<br />

3<br />

i<br />

Vs = πNC ·r 2 C ·lC ·S1 = πN 4<br />

3<br />

C ·r2 C ·lC ·S2.<br />

Vs<br />

NC = (<br />

πr2 C ·lC<br />

)<br />

·S2<br />

6.5. Hipótese 2. Ahipótese a seguir fazmais sentido para sistemas circulatórios<br />

não-pulsáteis. Mas tomemo-a para simplificar a exposição.<br />

Hip. 2 O metabolismo basal B é proporcional ao fluxo total pela aorta Q1:<br />

B = τQ1,<br />

on<strong>de</strong> a constante τ não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da massa M.<br />

Se po<strong>de</strong> mostrar que a incompressibilida<strong>de</strong> do fluido (sangue/seiva) implica:<br />

3<br />

4<br />

Q1 = NkQk, ∀k = 1,...C,<br />

on<strong>de</strong> Qk é fluxo em cada ramo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m k.<br />

Logo:<br />

on<strong>de</strong> QC é o fluxo por cada capilar.<br />

B = τNCQC<br />

6.6. Hipótese 3. Obtemos da expresão anterior <strong>de</strong> NC:<br />

Vs<br />

3<br />

4<br />

B = τQC(<br />

πr2 C ·lC<br />

) .<br />

·S2<br />

Lembre que Vs é o volume total (sangue/seiva).<br />

Em mamíferos, o volume <strong>de</strong> sangue ocupa 6−7<br />

Há evidências experimentais para:<br />

Hip. 3 Vs = ηM, on<strong>de</strong> η não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da massa M.<br />

Ou seja, do anterior obtenho:<br />

B ∝ QC<br />

M 3<br />

4<br />

(r 2 C ·lC ·S2) 3<br />

4<br />

.


6. O ARGUMENTO 476<br />

6.7. Hipótese 4. Aqui retomamos o que já dissemos antes sobre o caráter universal<br />

dos capilares:<br />

Hip. 4 As gran<strong>de</strong>zas QC, rC, lC não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da massa M.<br />

• Esta hipótese tem evidências experimentais, diz por exemplo que os dados<br />

dos capilares <strong>de</strong> uma baleia e <strong>de</strong> um rato são essencialente os mesmos !<br />

• Isso <strong>de</strong>ve estar ligado ao fato <strong>de</strong> que, a partir dos capilares, o sistema <strong>de</strong><br />

distribuição só se baseia em processos físicos universais, como a difusão.<br />

• Ouvisto <strong>de</strong>outro modo, que ossistemas circulatórios todoscomeçarammo<strong>de</strong>stamente<br />

como re<strong>de</strong>s capilares ...<br />

• Porémonúmero<strong>de</strong>níveisC eNC claramente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><strong>de</strong>M: maioroanimal,<br />

maior o número <strong>de</strong> etapas <strong>de</strong> ramificação e maior o número <strong>de</strong> capilares.<br />

6.8. S2 invariante. Ou seja, do anterior obtenho agora:<br />

B ∝<br />

M 3<br />

4<br />

(S2) 3<br />

4<br />

EAO dão argumentos no sentido <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>pendência entre S2 e M é negligenciável,<br />

o que concluiria a <strong>de</strong>dução da Lei <strong>de</strong> Kleiber.<br />

Mas eu gostaria <strong>de</strong> seguir a exposição na linha do argumento original <strong>de</strong> WBE,<br />

on<strong>de</strong> há algumas hipóteses (fortes) a mais, com consequências sobre S2.<br />

6.9. Hipótese 5. A resistência ao fluxo <strong>de</strong> sangue/seiva fica diminuida pela suposição<br />

(natural para o sistema circulatório <strong>de</strong> plantas):<br />

Hip. 5 A soma das áreas das seções transversais é preservadaacada ramificação.<br />

Ou seja :<br />

Ak = 1, ∀k = 1,...,C.<br />

6.10. Hipótese 6. A hipótese a seguir diz uma soma <strong>de</strong> volumes ao redor dos<br />

vasos permanece constante em cada etapa da subdivisão:<br />

Hip. 6 As quantida<strong>de</strong>s Nk · 4<br />

3 π(lk<br />

2 )3 são preservadas nas ramificações.<br />

Ou seja:<br />

Ek ≡ 1, ∀k = 1,...C.<br />

Esta última hipótse <strong>de</strong>u origem a muita controvérsia.<br />

Como mostra EAO, as Hipóteses 5 e 6 são fortes, po<strong>de</strong>riam ser enfraquecidas pois<br />

em<br />

C 1<br />

S2 = ,<br />

k=1 N 1/3C−1<br />

k i=k Ai ·E 1<br />

3<br />

i<br />

os Ai e Ei po<strong>de</strong>m se compensar, mesmo que mu<strong>de</strong>m a cada etapa.<br />

.


3<br />

CAPÍTULO 34. APÊNDICE: O EXPOENTE 4<br />

6.11. Hipótese 7. Com as Hipóteses 5 e 6, S2 se reduz a:<br />

S2 =<br />

C<br />

k=1<br />

Nk −1/3 .<br />

COMANDA A VIDA ! 477<br />

A hipótese a seguir diz que ou sempre há dicotomias, ou sempre tricotomias , etc:<br />

Hipótese 7: νk = ν , ∀k = 1,...,C (on<strong>de</strong> o Natural ν ≥ 2 não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> M).<br />

6.12. Número <strong>de</strong> ramificações. Portanto da Hipótese 7,<br />

Nk = ν k−1 , k = 1...C.<br />

Por exemplo, em seres humanos, NC ≈ 2×10 10 . De<br />

obtemos:<br />

NC = ν C−1<br />

ν = 2 ⇒ C ≈ 35 e ν = 3 ⇒ C ≈ 22.<br />

Ou seja, chegamos da aorta ao capilar em 35 dicotomias !<br />

Ou chegamos da aorta ao capilar em 22 tricotomias !<br />

Voltando ao S2, note que ele se transforma numa soma geométrica (finita):<br />

S2 =<br />

=<br />

C<br />

k=1<br />

C<br />

k=1<br />

= 1−ν −C<br />

Nk −1/3 =<br />

ν −(k−1)<br />

3 =<br />

3<br />

1−ν −1<br />

3<br />

6.13. S2 como função <strong>de</strong> C.<br />

O número <strong>de</strong> níveis C <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> M.<br />

Portanto precisamos ver que a <strong>de</strong>pendência entre S2 e C é negligenciável.<br />

O argumento <strong>de</strong> EAO é o seguinte: vamos plotar S2 como função <strong>de</strong> C, bem como<br />

sua assíntota horizontal:<br />

lim<br />

C→+∞<br />

1−ν −C<br />

3<br />

1−ν −1<br />

3<br />

=<br />

.<br />

1<br />

1−ν −1<br />

3<br />

(queexistepoisν −1<br />

3 < 1). EvejamosseafunçãoS2 = S2(C)seaproximarapidamente<br />

<strong>de</strong> sua assíntota. Se isso acontecer, a conclusão será que a partir <strong>de</strong> uma certo C, S2<br />

pouco muda com C.<br />

Para ν = 2 obtemos y = S2(C):<br />

,


6. O ARGUMENTO 478<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

5 10 15 20 25 30<br />

x<br />

Note que a escala no eixo y é menor que no eixo x.<br />

Para ν = 3 obtemos y = S2(C):<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

5<br />

10<br />

x<br />

Note que a escala no eixo y é menor que no eixo x.<br />

A velocida<strong>de</strong> com que os gráficos se aproximam do limite é o que EAO consi<strong>de</strong>ram<br />

”<strong>de</strong>pendência negligenciável”entre S2 e C.<br />

E obtemos <strong>de</strong><br />

o resultado:<br />

B ∝<br />

M 3<br />

4<br />

15<br />

(S2) 3<br />

4<br />

B ∝ M 3<br />

4.<br />

20<br />

35


Parte 2<br />

Equações diferenciais ordinárias e<br />

Aplicações


CAPíTULO 35<br />

As primeiras equações diferenciais<br />

1. A exponencial e as equações diferenciais<br />

A função y = f(x) = e x já nasceu com a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> satisfazer a equação:<br />

f ′ (x) = f(x), ∀x ∈ R.<br />

Vamos ver agora algumas pequenas modificações da exponenciale e que tipo <strong>de</strong><br />

equações satisfazem:<br />

Afirmação 1.1. Seja y = f(x) <strong>de</strong>rivável e suponha que para k ∈ R tenhamos<br />

• Dado o valor f(0), então:<br />

f ′ (x) = k ·f(x), ∀x ∈ R.<br />

f(x) = f(0)·e kx , ∀x ∈ R.<br />

• Mais em geral, dado f(x) para algum x, então:<br />

f(x) = f(x)·e k(x−x) , ∀x ∈ R.<br />

A Figura a seguir ilustra as soluções <strong>de</strong> f ′ (x) = −2f(x) para quatro diferentes<br />

valores iniciais f(0): 0.5,1,2,3.<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0 0,5 1 1,5<br />

x<br />

Demonstração.<br />

Vamos provar diretamente o caso geral, on<strong>de</strong> nos damos o valor f(x).<br />

Se k = 0 então a hipótese vira f ′ (x) ≡ 0. Já sabemos que nesse caso f(x) ≡ C e<br />

portanto f(x) = f(x). Ou seja,<br />

como queríamos.<br />

2<br />

2,5<br />

f(x) = f(x)·1 = f(x)·e 0 ,<br />

481<br />

3


2. A DEFINIÇÃO ORIGINAL DE NAPIER PARA O LOGARITMO 482<br />

Logo po<strong>de</strong>mos supôr que k = 0.<br />

Consi<strong>de</strong>ro a função g(x) := e k(x−x) .<br />

Note que g(x) = e k(x−x) > 0 para todo x ∈ R.<br />

Verifico pela regra da <strong>de</strong>rivada da composta que:<br />

g ′ (x) = k ·e k(x−x) = kg(x), ∀x ∈ R.<br />

Se tomo qualquer outra função f satisfazendo f ′ (x) = k ·f(x), faço o quociente<br />

f<br />

g<br />

e <strong>de</strong>rivo pela regra da <strong>de</strong>rivada do quociente:<br />

o que nos faz concluir que f<br />

g<br />

Para <strong>de</strong>scobrir C avalio tudo em x:<br />

( f<br />

g )′ (x) = f′ g −fg ′<br />

g 2 =<br />

= (kf)g −f(kg)<br />

g2 ≡ 0,<br />

≡ C. Ou seja, f(x) = C ·g(x).<br />

f(x) = C ·g(x) =<br />

= C ·e k·0 = C.<br />

Portanto f(x) = f(x)·e k(x−x) como queríamos.<br />

2. A <strong>de</strong>finição original <strong>de</strong> Napier para o logaritmo<br />

A obra do escocês John Napier (1550-1617) é o começo da longa história do conceito<br />

<strong>de</strong> logaritmo.<br />

Seguindo a exposição <strong>de</strong> C.H. Edwards (op.cit), po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>finição<br />

original <strong>de</strong> logaritmo <strong>de</strong> Napier do ponto <strong>de</strong> vista do Cálculo, e qual a relação com o<br />

ln(x).<br />

Esse anacronismo serve para enten<strong>de</strong>r o que fez Napier, mas lembre que, historicamente,<br />

Napier trabalhou só com sua <strong>de</strong>finição e conseguiu fazer tabelas imensas <strong>de</strong><br />

logaritmos !<br />

A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Napier envolve dois pontos se movendo:<br />

• N um segmento [P0,O] <strong>de</strong> comprimento P0O = 10 7 , <strong>de</strong>terminamos a posição<br />

x(t) <strong>de</strong> um ponto P(t) que se move <strong>de</strong> P0 até O através da distância P(t)O:<br />

x(t) = P(t)O.<br />

• supomos que que a velocida<strong>de</strong> x ′ (t) <strong>de</strong> P(t) satisfaz ∀t<br />

x ′ (t) = −x(t).<br />

• ou seja, a velocida<strong>de</strong> inicial <strong>de</strong> P(t) é x ′ (0) = 10 7 = x(0), mas a velocida<strong>de</strong><br />

vai caindo e quando P(t) está chegando no ponto O ele está parando, pois<br />

x ′ (t) = −x(t) ≈ 0.


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 483<br />

• Com esse mesmo parâmetro <strong>de</strong> tempo t, num segundo segmento <strong>de</strong> origem<br />

Q0, se move um um ponto Q(t), se afastando <strong>de</strong> Q0 e a posição <strong>de</strong> Q(t) é<br />

Q(t) = 10 7 t (ou seja, Q(t) tem velocida<strong>de</strong> constante 10 7 ).<br />

• Napier <strong>de</strong>fine o tamanho Q0Q(t) como sendo o logaritmo <strong>de</strong> x(t) := P(t)O.<br />

• Chamemos o logaritmo <strong>de</strong>finido assim por Napier <strong>de</strong> Nog(x).<br />

Vamos traduzir isso na linguagem do Cálculo e obter:<br />

Afirmação 2.1.<br />

i) Nog(x) = 107ln( 107<br />

x ).<br />

ii) Nog(x1x2) = Nog(x1)+Nog(x2)−10 7ln(107 ).<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

A solução <strong>de</strong> x ′ (t) = −x(t) é x = x(0)e −t pela Afirmação 1.1, ou seja,<br />

Tomando logaritmo natural:<br />

logo<br />

e<br />

logo<br />

De ii)<br />

x = 10 7 e −t .<br />

ln(x) = ln(10 7 )+ln(e −t )<br />

ln(x)−ln(10 7 ) = −t<br />

t = ln( 107<br />

x )<br />

Nog(x) := 10 7 t = 10 7 ·ln( 107<br />

x ).<br />

Nog(x1x2) = 10 7 ·ln( 107<br />

) =<br />

x1x2<br />

= 10 7 (ln(10 7 )−ln(x1x2)) =<br />

= 10 7 ln(10 7 )−10 7 ln(x1)−10 7 ln(x2) =<br />

= 10 7 ln(10 7 )+10 7 ln( 1<br />

)+10<br />

x1<br />

7 ln( 1<br />

) =<br />

x2<br />

= 10 7 ln(10 7 )−2·10 7 ln(10 7 )+2·10 7 ln(10 7 )<br />

<br />

0<br />

+10 7 ln( 1<br />

)+10 7 ln( 1<br />

) =<br />

= −10 7 ln(10 7 )+10 7 ln(10 7 )+10 7 ln( 1<br />

)+10 7 ln(10 7 )+10 7 ln( 1<br />

x1<br />

= −10 7 ln(10 7 )+10 7 ln( 107<br />

x1 x2<br />

= −10 7 ln(10 7 )+Nog(x1)+Nog(x2).<br />

x1<br />

)+10 7 ln( 107<br />

) =<br />

x2<br />

x2<br />

) =


3. DECAIMENTO RADIOATIVO E DATAÇÃO 484<br />

3. Decaimento radioativo e datação<br />

Algumassubstânciasquímicastemestrutura nuclearesdiferentes mascompostamse<br />

do ponto <strong>de</strong> vista químico do mesmo jeito. São os chamados isótopos diferentes da<br />

mesma substância.<br />

Uma das mais importantes, por estar na base das moléculas orgânicas, é o Carbono.<br />

O isótopo chamado Carbono 14 é radioativo enquanto o isótopo mais comum,<br />

o Carbono 12 não é radioativo.<br />

A radioativida<strong>de</strong> surge com a <strong>de</strong>sintegração do núcleo e portanto as substâncias<br />

radioativas são instáveis, se <strong>de</strong>gradam com o passar do tempo. Por isso se fala em<br />

<strong>de</strong>caimento da substância, a quantida<strong>de</strong> ten<strong>de</strong> a zero com o tempo.<br />

Por exemplo, quando um organismo morre, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> assimilar Carbono à sua<br />

estrutura (ma<strong>de</strong>ira, ossos, etc) e a proporção entre o Carbono 14 e o Carbono 12 (<strong>de</strong><br />

um para um trilhão quando vivo) começa a mudar, já que o Carbono radioativo se<br />

<strong>de</strong>compõe.<br />

Se consi<strong>de</strong>ro a função y = f(x) para <strong>de</strong>screver a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma substância<br />

radioativa no tempo x, começando num tempo que fixo como x = 0, então<br />

• f é uma função <strong>de</strong>crescente,<br />

• f ′ (x) é sempre negativa<br />

• f(x) ten<strong>de</strong> a zero<br />

Mais precisamente, a quantida<strong>de</strong> y = f(x) <strong>de</strong> cada substância química radioativa<br />

satisfaz uma equação:<br />

f ′ (x) = −kf(x), k > 0,<br />

on<strong>de</strong> x ∈ R é o tempo e o valor <strong>de</strong> k > 0 <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> especialmente <strong>de</strong> cada substância.<br />

Já sabemos pela Afirmação 1.1 que<br />

f(x) = f(0)e −kx , ∀R<br />

e também pelo que sabemos sobre a exponencial:<br />

lim<br />

x→+∞ e−kx = 0, k > 0.<br />

3.1. Carbono 14.<br />

Para o Carbono 14, k ≈ 3.8394×10 −12 m/s (unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> massa por segundo).<br />

Ora, isso dá um <strong>de</strong>caimento em unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa por ano próximo <strong>de</strong>:<br />

3.8394·10 −12<br />

·60·60<br />

·24·365<br />

≈ 0.0001210793184.<br />

m/segundo<br />

<br />

m/minuto<br />

<br />

m/hora<br />

<br />

m/dia<br />

<br />

m/ano


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 485<br />

Define-se meia-vida como o tempo τ no qual a quantida<strong>de</strong> inicial f(0) <strong>de</strong> uma<br />

substancia radioativa se reduz à meta<strong>de</strong>, ou seja:<br />

Mas também temos:<br />

e daí:<br />

E tomando logaritmo:<br />

Como −ln( 1)<br />

= ln(2), obtemos:<br />

2<br />

No caso do Carbono 14 temos:<br />

τ =<br />

f(τ) := f(0)<br />

2 .<br />

f(0)<br />

2 = f(0)·e−kτ ,<br />

1<br />

2 = e−kτ .<br />

ln( 1<br />

) = −kτ.<br />

2<br />

τ = ln(2)<br />

k .<br />

ln(2)<br />

≈ 5724.736394<br />

0.0001210793184<br />

(e textos <strong>de</strong> física certamente o leitor encontrará aproximações mais corretas <strong>de</strong>ssa<br />

meia-vida)<br />

3.2. Potássio 40.<br />

Uma meia-vida relativamente curta (na escala geológica !) como a do Carbono 14<br />

serve para datar ma<strong>de</strong>ira ou a historia da humanida<strong>de</strong> (na arqueologia).<br />

Mas para datar rochas é preciso substâncias com meia-vida muito maiores. Por<br />

exemplo, a lava das erupções se esfria, cristalizando-se, formando rochas cujo surgimento<br />

po<strong>de</strong> ser datado. Isso porque ocorre o <strong>de</strong>caimento do potássio 40 (radioativo)<br />

em argônio 40 (estável), que é uma gás mas que fica retido na lava transformada em<br />

cristal. A meia vida do potássio 40 é 1,3 bilhão <strong>de</strong> anos e portanto rochas muito<br />

antigas po<strong>de</strong>m ser datadas 1<br />

Por coincidência, vendo um documentário sobre a Evolução aprendi o seguinte:<br />

foramencontrados restos <strong>de</strong>umhominídio que foraumdosprimeiros aandar emduas<br />

patas, e que se conjecturava ter em torno <strong>de</strong> 4 milhões <strong>de</strong> anos, quase um milhão a<br />

mais que a famosa Lucy. Mas sua ida<strong>de</strong> certamente não seria datável via Carbono<br />

14. Vieram então geólogos e <strong>de</strong>terminaram que os restos <strong>de</strong> ossos estavam localizados<br />

entre duas camadas distintas <strong>de</strong> sedimentos <strong>de</strong> erupçoes vulcânicas.<br />

Pelo método potássio/argônio as duas camadas <strong>de</strong> sedimentos vulcânicos forma<br />

datadas em torno <strong>de</strong> 4 milhões <strong>de</strong> anos. Logo esses ossos tinham essa ida<strong>de</strong> !<br />

1 Aprendi isso no livro <strong>de</strong> Richard Dawkins, A gran<strong>de</strong> história da evolução- Na trilha <strong>de</strong> nossos<br />

ancestrais, Companhia das Letras, 2009.


4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES COM COEFICIENTES<br />

CONSTANTES 486<br />

3.3. A meia-vida da luz das super-novas.<br />

O Professor Vítor Pereira, da Geologia da <strong>UFRGS</strong>, me explicou alguns fenômenos<br />

muito interessantes, que resumo a seguir.<br />

As super-novas são explosões <strong>de</strong> estrelas, catástrofes que acontecem com algumas<br />

estrelas, e que <strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong>s produzem luz que é percebida na Terra a olho nu ou<br />

por por lentes <strong>de</strong> telescópios amadores.<br />

Mas a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz que chega a partir <strong>de</strong>ssas explosões se reduz rapidamente:<br />

para um tipo <strong>de</strong> super-nova se constata que existe uma meia-vida da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sua luz, que se <strong>de</strong>terminou em 56 dias.<br />

Não <strong>de</strong>ve ser apenas coincidência que essa seja a meia-vida do Califórnio Cf 254 .<br />

Essa substância é produzida em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> nessas explosões. e isso se sabe<br />

por análise do espectro da luz das super-novas.<br />

Assuper-novassãoosverda<strong>de</strong>irosfornos cósmicosdoselementosquímicos: quanto<br />

maioraintensida<strong>de</strong> dasexplosões maispesadossãooselementos químicos produzidos.<br />

Porém esses elementos pesados em geral têm núcleos atômicos instáveis, se <strong>de</strong>sintegram<br />

e terminam sendo menos abundantes no Universo.<br />

4. Equações diferenciais lineares com coeficientes constantes<br />

A Afirmação a seguir resolve uma equação diferencial um pouco mais geral do que<br />

a que já resolvemos na Seção anterior:<br />

Afirmação 4.1. Uma equação do tipo:<br />

tem como solução:<br />

g ′ (x) = A·g(x)+B, ∀x, A,B ∈ R<br />

i) g(x) = B ·x+g(0), se A = 0,<br />

ii) g(x) = g(0)·e Ax , se B = 0,<br />

iii) g(x) = (g(0)+ B<br />

A )·eAx − B<br />

, se A·B = 0.<br />

A<br />

A<strong>de</strong>mais, em iii) temos<br />

ou<br />

lim g(x) = −B,<br />

se A < 0<br />

x→+∞ A<br />

lim g(x) = −B,<br />

se A > 0.<br />

x→−∞ A<br />

Note que a solução no caso mais geral, que é o iii), é uma soma (superposição) da<br />

solução<br />

g1(x) = c1 ·e Ax , c1 ∈ R<br />

da equação<br />

com a solução particular g2(x) ≡ − B<br />

A<br />

g ′ 1 (x) = A·g1(x)<br />

do problema que tratamos<br />

g ′ (x) = A·g(x)+B.


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 487<br />

Demonstração. (Afirmação 4.1)<br />

Os casos i) e ii) em que A = 0 ou B = 0 já nos são conhecidos. Por isso<br />

suponhamos AB = 0, ou seja, o situação <strong>de</strong> iii).<br />

Há uma solução constante do problema: f(x) ≡ −B<br />

A<br />

, já que:<br />

0 ≡ A·( −B<br />

A )+B.<br />

Então vamos consi<strong>de</strong>rá-la uma solução <strong>de</strong>sinteressante e procurar por outras interessantes,<br />

ou seja, não constantes. Por isso vou supor<br />

g(x) ≡ −B<br />

A<br />

e, o que é uma suposição a princípio mais forte 2 , que <strong>de</strong> fato:<br />

g(x) = −B<br />

A ,∀x.<br />

Então escrevo:<br />

g ′ (x) = A·(g(x)+ B<br />

A ),<br />

e agora, com a suposição extra <strong>de</strong> que ∀x: g(x)+ B<br />

= 0 obtenho: A<br />

g ′ (x)<br />

g(x)+ B<br />

A<br />

= A.<br />

Agora tomo primitivas. O lado esquerdo reconheço ter como primitivas:<br />

ln|g(x)+ B<br />

A |+C1<br />

on<strong>de</strong> C1 é qualquer constante e o lado direito tem como primitivas:<br />

Ax+C2<br />

on<strong>de</strong> C1 é qualquer constante. Ou seja, agrupando as constantes como C3 := C2−C1,<br />

obtenho tomando primitivas:<br />

Tomando exponencial:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

ln|g(x)+ B<br />

| = Ax+C3.<br />

A<br />

e ln|g(x)+B<br />

A | = e Ax+C3 ,<br />

|g(x)+ B<br />

A | = eAx ·e C3 .<br />

Como g(x)+ B é uma função contínua, ela não po<strong>de</strong> mudar <strong>de</strong> sinal sem se anular<br />

A<br />

(Teorema Valor Intermediário) e como supusemos que g(x)+ A nunca se anula, temos<br />

B<br />

que ∀x:<br />

• ou bem g(x)+ B<br />

A = eAx ·eC3 > 0<br />

• ou bem g(x)+ B<br />

A = −eAx ·eC3 < 0.<br />

2 Na verda<strong>de</strong>, através da Afirmação 3 do Capítulo 36 se mostra que são a mesma hipótese


4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES COM COEFICIENTES<br />

CONSTANTES 488<br />

Por isso agora adoto uma nova constante C, que po<strong>de</strong> ser positiva se C = e C3 ou<br />

neqativa se C = −e C3 e escrevo:<br />

g(x) = Ce Ax − B<br />

A .<br />

Para <strong>de</strong>terminar C avalio tudo em x = 0:<br />

g(0) = C − B<br />

A ,<br />

e portanto:<br />

C = g(0)+ B<br />

A ,<br />

o que dá<br />

g(x) = (g(0)+ B<br />

A )·eAx − B<br />

A .<br />

Agora volto à hipótese <strong>de</strong> que g(x)+ B<br />

A<br />

temos<br />

= 0. Observe que se pomos C = 0 em<br />

g(x) = Ce Ax − B<br />

A<br />

g(x) ≡ −B<br />

A .<br />

As observações sobre os limites <strong>de</strong> g(x) são imediatas das prprieda<strong>de</strong>s da exponencial.<br />

<br />

Na figura a seguir plotei a solução especial g(x) = −B junto <strong>de</strong> soluções g(x) =<br />

A<br />

(g(0) + B<br />

A ) · eAx − B para 4 esolhas <strong>de</strong> g(0). Note que, por ser A = −1, à medida<br />

A<br />

que x cresce os gráficos se aproximam da solução constante. Se tivéssemos escolhido<br />

A > 0 os gráficos se afastariam da solução constante, à medida que x crescesce.<br />

7,4<br />

7,2<br />

7<br />

6,8<br />

6,6<br />

0<br />

1 2<br />

3<br />

4<br />

x<br />

Fig.: Gráfico <strong>de</strong> y = 7 (vermelho) e gráficos <strong>de</strong> y = Ce−x +7,<br />

com C = −1 4 ,−1 1 1 , , 2 2 4 .


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 489<br />

5. Objetos em queda-livre vertical<br />

Vamos aplicar alguns conceitos que apren<strong>de</strong>mos para enten<strong>de</strong>r o que acontece<br />

quando um corpo 3 <strong>de</strong> massa m cai (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> um altura razoavelmente baixa).<br />

Sejamy = f(x)aposição docorpo noinstante x, quesupomos aumenta 4 àmedida<br />

que o corpo se aproxima da superfície da Terra e f ′ (x) sua velocida<strong>de</strong>.<br />

Segundo Newton a aceleração f ′′ (x) <strong>de</strong> um corpo é dada por<br />

f ′′ (x) = F<br />

m ,<br />

on<strong>de</strong> F é a força resultante sobre o corpo que cai e m sua massa (em geral F é uma<br />

gran<strong>de</strong>za vetorial, mas nesta situação particular po<strong>de</strong>mos pensá-la como escalar).<br />

Agora vamos postular que a Força resultante F tem duas origens: uma <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

apenas da atração gravitacional e outra <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da resistência que surge<br />

quando o objeto que se <strong>de</strong>sloca atinge uma velocida<strong>de</strong> alta.<br />

• Ao nível do mar, para quedas <strong>de</strong> não muito alto, a aceleração g impressa<br />

pela gravida<strong>de</strong> é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 9.8 m/s<br />

. Galileu já tinha estimativas <strong>de</strong>ssa<br />

s<br />

aceleração e foi o primeiro a notar que essa aceleração não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da massa<br />

do corpo (<strong>de</strong>sprezando-se o atrito).<br />

• Já o atrito e a resistência do ar contam no segundo tipo <strong>de</strong> força, do tipo5 −γ ·f ′ (x),<br />

on<strong>de</strong> γ > 0 <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da forma do objeto, do peso, do material, etc e on<strong>de</strong><br />

o sinal negativo tem a ver com o fato que aqui nos opomos ao efeito da<br />

gravida<strong>de</strong>.<br />

Então obtemos a aceleração:<br />

f ′′ (x) = −γ<br />

m f′ (x)+g<br />

Queremos <strong>de</strong>scobrir quem é f ′ (x) e <strong>de</strong>pois f(x).<br />

Como tratamos <strong>de</strong> uma queda-livre, ou seja, o objeto não <strong>de</strong>ve ser empurrado,<br />

vamos supor<br />

f ′ (0) = 0<br />

e também f(0) = 0 para começarmos a medir a distância percorrida a partir do<br />

instante x = 0.<br />

Vamos usar a Afirmação 4.1 da Seção 4, com:<br />

g(x) = f ′ (x), A = −γ<br />

, B = g<br />

m<br />

e<br />

f ′ (0) = 0.<br />

3 Aqui entendido como um ponto. Na Seção 5 do Capítulo 23 explicamos um pouco do que fazer<br />

no caso <strong>de</strong> um objeto não-pontual<br />

4 Também po<strong>de</strong>ríamos medir a posição <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o solo, e então adaptaríamos a gran<strong>de</strong>za g que<br />

aparecerá a seguir por −g, para indicar que a gravida<strong>de</strong> traz para o solo<br />

5 Esta é uma hipótese, pois em outros mo<strong>de</strong>los se supõe da forma −γ ·(f ′ (x)) 2 o que conduz a<br />

uma equação diferencial não-linear.


5. OBJETOS EM QUEDA-LIVRE VERTICAL 490<br />

Temos então<br />

ou<br />

f ′ (x) = gx, se γ = 0,<br />

f ′ (x) = −gm<br />

γ e−γ m x + gm<br />

, se γ = 0.<br />

γ<br />

Agora vamos impor que f(0) = 0 pois queremos medir a distância percorrida no<br />

tempo x > 0.<br />

Se γ = 0 obtemos<br />

Ma se γ = 0:<br />

e a imposição f(0) = 0 dá:<br />

e portanto:<br />

f(x) =<br />

g ·x2<br />

2 .<br />

<br />

f(x) = [ −gm<br />

γ e−γ m t + gm<br />

] dt =<br />

γ<br />

= −m<br />

γ (−gm<br />

γ )e−γ m x + gm<br />

γ x+C<br />

f(x) = − gm2<br />

γ 2<br />

C = −m<br />

γ (gm<br />

γ )<br />

·(1−e −γ<br />

m x )+ gm<br />

γ ·x.<br />

Seria muito interessante paraumpára-quedista tersua posição f(x)dada poruma<br />

função linear. Note que a função f(x) acima se aproxima da reta y = gm<br />

γ<br />

pois e −γ<br />

m x → 0.<br />

·x− gm2<br />

γ 2 ,<br />

Os valores <strong>de</strong> γ se <strong>de</strong>terminam experimentalmente. Por exemplo, para m = 10kg<br />

. A Figura a seguir compara a queda sem resistência<br />

po<strong>de</strong>-se6 atribuir o valor γ = 2 kg<br />

s<br />

(γ = 0) com a queda com resistência ( γ = 2 kg<br />

s ).<br />

6 Boyce e DiPrima, Equações diferencias elementares e problemas <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> contorno, LTC.


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 491<br />

1000<br />

800<br />

600<br />

400<br />

200<br />

0<br />

0<br />

-200<br />

2 4 6 8<br />

x<br />

Fig.: Gráficos <strong>de</strong> y = g·x2<br />

(vermelho) e y = − 2 gm2<br />

γ2 ·(1−e −γ<br />

m x )+ gm<br />

·x (azul) e γ<br />

y = − gm2<br />

γ2 + gm<br />

·x (ver<strong>de</strong>), g = 9.8, m = 10, γ = 2.<br />

γ<br />

A seguinte afirmação trata da conservação <strong>de</strong> energia 7 na queda-livre:<br />

Afirmação 5.1. Consi<strong>de</strong>re um objeto pontual <strong>de</strong> massa m que cai em queda-livre,<br />

verticalmente, sem efeito <strong>de</strong> atrito. Se f(x) dá a distância vertical percorrida <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que o objeto é largado em queda livre, então a gran<strong>de</strong>za chamada Energia Total:<br />

é constante ∀x.<br />

m· (f′ (x)) 2<br />

2<br />

10<br />

12<br />

−mg ·f(x)<br />

Demonstração.<br />

De fato, como vimos acima quando γ = 0, então f ′ (x) = g ·x e f(x) = g · x2<br />

2 .<br />

No que segue vamos supor a seguinte versão da:<br />

(Lei <strong>de</strong> Newton) se ds é a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> massa m ao longo <strong>de</strong> um<br />

dx<br />

gráfico, então a aceleração é:<br />

d2 s F<br />

=<br />

dx 2 m ,<br />

on<strong>de</strong> F é a força resultante que atua sobre o corpo.<br />

7 Se medíssemos a posição <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o solo, a energia total seria uma soma, não uma subtração<br />

14


5. OBJETOS EM QUEDA-LIVRE VERTICAL 492<br />

Afirmação 5.2. Consi<strong>de</strong>re dois pontos A, B num plano posicionado verticalmente.<br />

Suponha que B = (0,0) é a origem <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas cartesiano e que<br />

A = (a1,a2), a1 = 0, e a2 > 0.<br />

Suponha que o gráfico Γ <strong>de</strong> y = f(x) (<strong>de</strong>rivável) com f(a) = A a f(b) = B <strong>de</strong>screve<br />

a trajetória <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> massa m que cai ao longo <strong>de</strong> Γ, apenas sob o efeito<br />

da gravida<strong>de</strong>, sem atrito, partindo <strong>de</strong> A no tempo x = a com velocida<strong>de</strong> inicial 0 e<br />

chegando em B no tempo x = b.<br />

Então é constante, ∀x ∈ [a,b], a gran<strong>de</strong>za<br />

on<strong>de</strong> g = 9.8 m/s 2 .<br />

Demonstração.<br />

Derivando<br />

obtemos:<br />

m· (ds<br />

dx )2<br />

+g ·m·f(x),<br />

2<br />

m· (ds<br />

dx )2<br />

2<br />

m· ds d(ds<br />

dx ·<br />

dx ) ds<br />

= m·<br />

d x dx · d2 s<br />

dx2. Como vimos na Seção 5, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>terminar a posição <strong>de</strong> um ponto P do gráfico<br />

em função <strong>de</strong> quanto vale o comprimento do gráfico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> f(a) = A até f(x) = P.<br />

Ou seja, há uma função P = P(s).<br />

A força resultante F(P(s)) em cada ponto P(s) do gráfico Γ <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do efeito da<br />

gravida<strong>de</strong> na direção da tangente do gráfico, ou seja, é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

F(P(s)) = −gm·sin(θ(s)),<br />

on<strong>de</strong> θ(s) é o ângulo formado pela tangente <strong>de</strong> Γ em P(s) com a horizontal e o sinal<br />

− se <strong>de</strong>ve a que a força é no sentido oposto ao crescimento <strong>de</strong> y (se θ = π<br />

temos toda 2<br />

a força gravitacional gm agindo verticalmente).<br />

Lembrando a Observação 6.1, temos então:<br />

F(P(s))<br />

m<br />

e com a Lei <strong>de</strong> Newton obtemos:<br />

Logo a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong><br />

é:<br />

m· ds<br />

dx<br />

= −g ·sin(θ(s)) = −g · dy<br />

ds<br />

d2 s dy<br />

= −g ·<br />

dx2 ds .<br />

m( ds<br />

dx )2<br />

dy dy ds<br />

·(−g · ) = −mg ·<br />

ds ds dx =<br />

= −mg · dy<br />

dx ,<br />

se usamos na última igualda<strong>de</strong> a regra da <strong>de</strong>rivada da composta.


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 493<br />

Portanto, como y = f(x), a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong><br />

m( ds<br />

dx )2 +gm·f(x)<br />

é zero, o que diz que essa gran<strong>de</strong>za é constante.<br />

6. Queda ao longo <strong>de</strong> um gráfico<br />

Agora vamos consi<strong>de</strong>rar uma situação <strong>de</strong> interesse prático. Imagine um objeto<br />

pontual que cai, <strong>de</strong>slizando sem atrito, ao longo <strong>de</strong> um gráfico ou <strong>de</strong> uma curva,<br />

apenas sob o efeito da gravida<strong>de</strong>.<br />

Em geral um gráfico y = f(x) ou uma curva parametrizada<br />

Γ : R → R 2 , (x(u),y(u))<br />

tem um variável natural que <strong>de</strong>screve seus pontos(x ou u), mas que não tem nada a<br />

ver em geral com o tempo t que <strong>de</strong>screve a queda do objeto.<br />

Então a primeira questão que queremos tratar é saber como re-parametrixar a<br />

curva ou gráfico pelo tempo t <strong>de</strong> modo a <strong>de</strong>screver a queda do objeto ao longo do<br />

gráfico ou da curva.<br />

Para isso, usaremos a Afirmação 6.1 a seguir. Essa é uma estensão da Afirmação<br />

5.2 e sua prova <strong>de</strong>sta é essencialmente 8 a mesma da Afirmação 5.2. A diferença está<br />

apenas no uso <strong>de</strong> noções vetoriais, por isso a omitimos:<br />

Afirmação 6.1. Consi<strong>de</strong>re dois pontos A, B num plano posicionado verticalmente.<br />

Suponha que A = (0,0) é a origem <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas cartesiano e que<br />

Suponha que a curva parametrizada<br />

B = (b1,b2), b1 = 0, e b2 < 0.<br />

Γ : (x(t),y(t)), t ∈ [a,b]<br />

com A = (x(a),y(a)) a B = (x(b),y(b)), que <strong>de</strong>screve a trajetória <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong><br />

massa m no instante t caindo ao longo <strong>de</strong> Γ, apenas sob o efeito da gravida<strong>de</strong>, sem<br />

atrito, partindo <strong>de</strong> A no tempo t = a com velocida<strong>de</strong> inicial 0 e chegando em B no<br />

tempo t = b.<br />

Então é constante, ∀t ∈ [a,b], a gran<strong>de</strong>za<br />

m· (ds<br />

dt )2<br />

2 +gm·y(t),<br />

on<strong>de</strong> g = 9.8 m/s 2 e ds<br />

dt = (x ′ (t) 2 +(y ′ (t)) 2 .<br />

Como usaremos essa Afirmação para reparametrizar o gráfico ou curva pelo tempo<br />

t <strong>de</strong> queda ?<br />

8 De novo a gravida<strong>de</strong> atua no sentido oposto ao crescimento da coor<strong>de</strong>nada y(u) ≤ 0, por isso<br />

o sinal + na gran<strong>de</strong>za Energia total


6. QUEDA AO LONGO DE UM GRÁFICO 494<br />

Do seguinte modo. Começo com uma parametrização qualquer:<br />

ˆΓ : (x(u),y(u)), u ∈ [c,d]<br />

do traço da curva Γ.<br />

Denote t ∈ [a,b] o parâmetro <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> queda que queremos introduzir para<br />

<strong>de</strong>scrver os pontos da curva. A Afirmação 6.1, combinada com ds(a)<br />

= 0 e y(a) = 0,<br />

dt<br />

diz que<br />

( ds<br />

dt )2 = −2·g ·y(t), ∀t ∈ [a,b]<br />

ou seja,<br />

ds<br />

dt = −2·g ·y(t)<br />

e portanto<br />

dt<br />

ds =<br />

1<br />

.<br />

−2·g ·y(t)<br />

Portanto<br />

e<br />

t =<br />

dt dt ds<br />

= ·<br />

du ds du .<br />

<br />

x ′ (u) 2 +y ′ (u) 2<br />

= <br />

−2·g ·y(t(u))<br />

x ′ (u) 2 +y ′ (u) 2<br />

−2·g ·y(t(u)) du.<br />

Em particular o tempo necessário para sair <strong>de</strong> ˆ Γ(c) e chegar em ˆ Γ(d) é:<br />

<br />

d<br />

x ′ (u) 2 +y ′ (u) 2<br />

t = du.<br />

−2·g ·y(t(u))<br />

c<br />

6.0.1. Exemplo:<br />

Vamos fazer um exemplo bem simples. Na Seção seguinte haverá uns mais interessantes.<br />

Vamos aqui <strong>de</strong>screver a queda <strong>de</strong> (0,0) até B = (b1,b2) b1 = 0 e b2 < 0 ao<br />

longo <strong>de</strong> um segmento <strong>de</strong> reta. Para isso vamos parametrizar a reta que liga esses<br />

pontos pelo tempo <strong>de</strong> queda.<br />

O faremos <strong>de</strong> dois modos: um bem elementar, e o outro, como ensinamos acima,<br />

que expressa o tempo t como uma integral.<br />

A função <strong>de</strong> t que dá a posição a partir <strong>de</strong> A = (0,0) é parecida com aquela da<br />

queda-livre vertical: g · t2<br />

2 (já que f′ (0) = 0 e f(0) = 0 e a aceleração é constante<br />

ao longo da semireta AB). Mas a diferença com aquele caso já estudado é que a<br />

gravida<strong>de</strong> atua na semireta AB <strong>de</strong> acordo com a projeção <strong>de</strong> um vetor vertical <strong>de</strong><br />

módulo g nesta semireta; ou seja, com valor<br />

g ·sin(θ)<br />

on<strong>de</strong> θ é o ângulo entre a semireta AB e uma reta horizontal. Ou seja, o efeito da<br />

gravida<strong>de</strong> vira zero se θ = 0 e volta a ser máxima se θ = π<br />

2 .


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 495<br />

Por isso se tomamos um sistema cartesiano em que<br />

A = (0,0), B = (b1,b2), com b1 = 0, b2 < 0,<br />

então o <strong>de</strong>slizamento do objeto ao longo da semireta AB<br />

g ·sin(θ)· t2<br />

2 .<br />

será <strong>de</strong>scrito pela curva parametrizada:<br />

on<strong>de</strong> (<br />

b1 √<br />

b2 1 +b2 2<br />

Já que<br />

ficamos com:<br />

b1<br />

(x(t),y(t)) = ( <br />

2 b1 +b2 2<br />

,<br />

·gsin(θ)· t2<br />

2 ,<br />

b2<br />

<br />

2 b1 +b2 ·gsin(θ)·<br />

2<br />

t2<br />

2 ),<br />

b1 √<br />

b2 1 +b2) é um vetor <strong>de</strong> módulo 1 que gera a semireta AB.<br />

2<br />

sin(θ) = −b2<br />

b 2 1 +b 2 2<br />

(x(t),y(t)) = ( −b1 ·b2<br />

(b2 1 +b2 t2<br />

·g ·<br />

2 ) 2 , −b22 (b2 1 +b2 t2<br />

·g ·<br />

2 ) 2 ).<br />

O tempo que leva para chegar em B se obtém igualando:<br />

−b1 ·b2<br />

(b2 1 +b2 t2<br />

·g ·<br />

2 ) 2 = b1 ou<br />

−b 2 2<br />

(b 2 1 +b2 2<br />

) ·g · t2<br />

2<br />

= b2,<br />

o que dá:<br />

<br />

2·(b<br />

t =<br />

2 1 +b2 2)<br />

.<br />

−g ·b2<br />

Agoraretomoessemesmoexemplo, paraexpressar otempo<strong>de</strong>quedaviaumaintegral.<br />

Uma parametrização natural da reta é:<br />

com<br />

b1<br />

ˆΓ : (x(u),y(u)) = ( <br />

2 b1 +b2 b2<br />

·u, <br />

2<br />

2 b1 +b2 ·u)<br />

2<br />

<br />

u ∈ [0, b2 1 +b22 ].<br />

Então x ′ (u) 2 +y ′ (u) 2<br />

2·g ·y(t(u)) =<br />

e<br />

t =<br />

<br />

4 2 b1 +b2 2<br />

√<br />

−2g ·b2 · √ u<br />

4 b2 1 +b2 2<br />

√<br />

−2g ·b2 · √ du =<br />

u<br />

√<br />

4 2<br />

=<br />

b2 1 +b2 2<br />

√ ·<br />

−g ·b2<br />

√ u+C.<br />

Mas t = 0 correspon<strong>de</strong> a u = 0 e daí C = 0. Ou seja:<br />

u =<br />

−g ·b2<br />

<br />

2 b1 +b2 ·<br />

2<br />

t2<br />

2


7. A CURVA QUE MINIMIZA O TEMPO 496<br />

e portanto esta re-parametrização coinci<strong>de</strong> com a obtida pelo método elementar.<br />

7. A curva que minimiza o tempo<br />

Consi<strong>de</strong>ro o caso particular em que um objeto pontual <strong>de</strong> massa m = 1 cai pela<br />

reta ligando<br />

A = (0,0) a B = (π,−2)<br />

(e no qual uso para aceleração g o valor π 2 ≈ 9.869604404) Obtemos, segundo o<br />

Exemplo da Seção 6, uma parametrização do segmento <strong>de</strong> reta pelo tempo <strong>de</strong> queda<br />

t segundo a qual o tempo <strong>de</strong> queda é<br />

t =<br />

√ π 2 +4<br />

π<br />

≈ 1.185447061.<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta Seção é dar explicitamente outras curvas β ligando A = (0,0)<br />

até B = (π,−2), parametrizadas pelo tempo <strong>de</strong> queda t, mas que cheguem em B num<br />

tempo t < 1.18.<br />

É claro que o comprimento <strong>de</strong> β, <strong>de</strong> A até B, é maior que a distância b 2 1 +b2 2<br />

do segmento <strong>de</strong> reta, porém afirmo que <strong>de</strong>slizando por essas curvas β o objeto chega<br />

antes a B do que se <strong>de</strong>slizasse pela reta AB !<br />

Consi<strong>de</strong>re a curva<br />

Então<br />

α : x(u) := u5 u2<br />

√ , y(u) := −<br />

25 5√<br />

π2 , u ∈ [0,√2· 5√ π].<br />

x ′ (u) 2 +y ′ (u) 2<br />

2·g ·y(t(u)) =<br />

√ 25u 6 π 4/5 +128<br />

8π 6/5<br />

on<strong>de</strong> usei π 2 ≈ g e daí se po<strong>de</strong> avaliar numericamente no Maple o tempo da queda<br />

ao longo <strong>de</strong>sta curva como:<br />

t =<br />

√ 2· 5√ π<br />

0<br />

√ 25u 6 π 4/5 +128<br />

8π 6/5<br />

O traço <strong>de</strong> α é a curva no plano dada por<br />

dada na Figura a seguir.<br />

y = − 2x25<br />

π 2 , x ∈ [0,π],<br />

5<br />

du ≈ 1.008984423.<br />

,


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 497<br />

0 0,5 1 1,5<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

x<br />

Observe que α começa com inclinação vertical, o que aproveita bastante bem o<br />

efeito da gravida<strong>de</strong>. A<strong>de</strong>mais note que só conseguimos fazer com que a integral não<br />

tenha valor +∞ porque quando y(0) = 0 também ds = 0. du<br />

A curva que consi<strong>de</strong>ro a seguir é a ciclói<strong>de</strong>:<br />

β(t) := (πt−sin(πt), cos(πt)−1), t ∈ [0,1]<br />

que claramente sai <strong>de</strong> β(0) = A e chega em t0 = 1 em<br />

2<br />

2,5<br />

β(1) = (π,−2) = B.<br />

A figura a seguir compara o traço <strong>de</strong> α com o da ciclói<strong>de</strong> β:<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

0,5<br />

1<br />

1,5<br />

Em vermelho α e em ver<strong>de</strong> a ciclói<strong>de</strong> β.<br />

O que precisamos verificar é se a β(t) po<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a posição do objeto que<br />

<strong>de</strong>sliza. Para isso uso a Afirmação 6.1.<br />

Temos para esta curva:<br />

( ds<br />

dt )2 = (x ′ (t) 2 +(y ′ (t)) 2 = 2π 2 ·(1−cos(πt)).<br />

2<br />

2,5<br />

3<br />

3


7. A CURVA QUE MINIMIZA O TEMPO 498<br />

Usando para g o valor π 2 ≈ 9.869604404, após <strong>de</strong>rivar e simplificar obtemos:<br />

d( (ds<br />

dt )2<br />

2 +π2 ·y(t))<br />

≡ 0,<br />

d t<br />

on<strong>de</strong> y(t) = cos(π ·t)−1.<br />

A sequência <strong>de</strong> Figuras a seguir mostra a corrida entre a reta (em ver<strong>de</strong>) e a<br />

ciclói<strong>de</strong> (em vermelho), para ir <strong>de</strong> (0,0) até (π,−2). Cui<strong>de</strong> que as escalas dos eixos<br />

x,y vão mudando <strong>de</strong> figura para figura.<br />

Os tempos transcorridos são<br />

t = 0.05, 0.1, 0.3, 0.5, 0.7, 1.0, 1.18,<br />

e em t = 1 a ciclói<strong>de</strong> já chegou no ponto (π,−2).<br />

0 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005<br />

0<br />

-0,002<br />

-0,004<br />

-0,006<br />

-0,008<br />

-0,01<br />

-0,012<br />

0 0,0050,010,0150,02<br />

0<br />

-0,01<br />

-0,02<br />

-0,03<br />

-0,04<br />

0 0,05 0,1 0,15<br />

0,2<br />

0<br />

-0,1<br />

-0,2<br />

-0,3<br />

-0,4


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 499<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

0<br />

0<br />

-0,2<br />

-0,4<br />

-0,6<br />

-0,8<br />

-1<br />

0,5<br />

0,5<br />

0,5 1<br />

0,1 0,2 0,3 0,4<br />

1<br />

1<br />

1,5<br />

1,5<br />

1,5<br />

2<br />

0,5<br />

2<br />

2<br />

2,5<br />

3<br />

2,5<br />

2,5


8. BALÍSTICA E O SUPER MÁRIO 500<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

Johann Bernoulli colocou, em 1696, o seguinte problema:<br />

1<br />

2<br />

Problema da braquistócrona 9 :<br />

Sejam dados dois pontos A,B num plano vertical. Se A e B não estão numa reta<br />

vertical, encontrar qual a curva <strong>de</strong>scrita por um corpo M que sai <strong>de</strong> A e chega em B<br />

no menor tempo possível, sob efeito apenas da gravida<strong>de</strong>.<br />

É possível provar, com recursos mais avançados dos que dispomos no momento,<br />

que a curva que minimiza o tempo é uma ciclói<strong>de</strong>.<br />

8. Balística e o Super Mário<br />

VárioscientistasdoRenascimentoforam<strong>de</strong>frontadoscomproblemasfísico-matemáticos<br />

ligadosàbalística, por exemplo Galileu, Torricelli e outros. Naquela época osmecenas<br />

eram os Reis e os Reis sempre foram belicosos...<br />

Por isso vou explicar o problema mais básico <strong>de</strong> balística, mas o leitor pacifista<br />

po<strong>de</strong> adaptá-lo ao jogo Super Mário, mais <strong>de</strong> acordo com o espírito <strong>de</strong> nossa época.<br />

Nesse jogo o personagem salta para níveis mais altos. O que po<strong>de</strong> ser interpretado<br />

como o ponto mais alto da trajetória na Afirmação 8.1 a seguir.<br />

O problema mais básico para açguém que atira com um canhão é: dado um<br />

alvo encontrar o ângulo θ que se <strong>de</strong>ve levantar um canhão para atingir o alvo.<br />

Maisprecisamente, imagineoalvo noeixo x > 0ecomcoor<strong>de</strong>nada(x,0)enquanto<br />

o canhão está na origem (0,0). Em geral a velocida<strong>de</strong> escalar da bala do canhão não<br />

po<strong>de</strong> ser alterada, o que se po<strong>de</strong> é alterar o ângulo 0 < θ < π<br />

3<br />

4<br />

2<br />

que o canhão forma<br />

com o eixo x > 0.<br />

Também se supõe que a bala sofre apenas o efeito da gravida<strong>de</strong> (e que estamos a<br />

nível do mar), sem sofrer resistências extra ao seu <strong>de</strong>slocamento.<br />

Se meditamos um momento vemos que, se x for gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais em relação a v0<br />

po<strong>de</strong> acontecer da bala nunca alcançar o alvo. Aí é preciso aproximar o canhão do<br />

alvo.<br />

A Figura a seguir mostra 4 tentativas frustradas <strong>de</strong> se atingir o alvo, on<strong>de</strong> v0 = 5<br />

e x ≥ 3.<br />

9 braquistocrona vem do grego e significa menor tempo


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 501<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0 0,5 1<br />

Figura: A tentativa em ver<strong>de</strong> é a <strong>de</strong> θ = π<br />

4 .<br />

Afirmação 8.1. Seja v0 > 0 a velocida<strong>de</strong> escalar com que a bala sai do canhão e o<br />

alvo em (x,0), com x > 0.<br />

• o ângulo θ a ser escolhido para o tiro atingir o alvo (x,0) verifica<br />

1,5<br />

sin(2·θ) =<br />

2<br />

g ·x<br />

v2 ,<br />

0<br />

on<strong>de</strong> g = 9.8 (m/s2 ).<br />

• em geral, dado um 0 < θ < π<br />

, a trajetória da bala é <strong>de</strong>scrita pela parábola<br />

2<br />

g<br />

y = −<br />

2,5<br />

2·v 2 0 ·cos2 (θ) ·x2 +tan(θ)·x.<br />

Em particular, a partir da parábola vemos que:<br />

• o ponto mais alto atingido pela bala tem coor<strong>de</strong>nadas:<br />

( v2 0 ·sin(θ)cos(θ)<br />

g<br />

, v2 0 ·sin2 (θ)<br />

2g<br />

• o ponto on<strong>de</strong> a bala atinge o chão tem coor<strong>de</strong>nada<br />

x = sin(2θ)·v2 0<br />

.<br />

g<br />

Em particular o ponto mais longe que po<strong>de</strong> ser atingido tem coor<strong>de</strong>nada<br />

x = v2 0<br />

g<br />

e correspon<strong>de</strong> à escolha θ = π<br />

4 .<br />

• o ponto mais alto da trajetória se dá no tempo<br />

tM = v0 ·sin(θ)<br />

.<br />

g<br />

O tempo que transcorre entre a saída da bala e sua chegada ao chão é 2·tM.<br />

).


8. BALÍSTICA E O SUPER MÁRIO 502<br />

A Figura a seguir ilustra um tiro certeiro:<br />

1,6<br />

1,2<br />

0,8<br />

0,4<br />

0<br />

0<br />

2<br />

4<br />

x<br />

Figura: θ = π<br />

5 , v0 = 10, x ∼ 9.7, altura máxima ∼ 1.7.<br />

Demonstração.<br />

A velocida<strong>de</strong> v0 tem uma componente horizontal e uma vertical.<br />

A horizontal é x ′ (0) = v0 ·cos(θ) e a vertical y ′ (0) = v0 ·sin(θ).<br />

Não há componente horizontal da força <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>. Portanto, 10 se x(t) é a<br />

coor<strong>de</strong>nada horizontal da posição da bala:<br />

o que dá:<br />

6<br />

x ′′ (t) ≡ 0<br />

x ′ (t) ≡ C = x ′ (0)<br />

e portanto:<br />

x(t)−x(0) = x ′ (0)·t.<br />

Como (x(0),y(0)) = (0,0) temos:<br />

x(t) = x ′ (0)·t = v0 ·cos(θ)·t, ∀t ≥ 0.<br />

Mas a gravida<strong>de</strong> g afeta a componente vertical. De fato:<br />

y ′′ (t) = −g,<br />

(on<strong>de</strong> o sinal vem da oposição entre o sentidos).<br />

Logo<br />

y ′ (t)−y ′ (0) = −g ·t,<br />

ou seja,<br />

y ′ (t) = y ′ (0)−g ·t,<br />

e daí obtemos:<br />

Ou seja<br />

y(t)−y(0) = y ′ (0)·t−<br />

y(t) = v0sin(θ)·t−<br />

10 E se supõe que a bala não sofre resistência<br />

8<br />

g ·t2<br />

2 .<br />

g ·t2<br />

2 .


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 503<br />

Substituindo<br />

em<br />

obtemos a parábola<br />

y = −<br />

t = x(t)<br />

x ′ x<br />

=<br />

(0) x ′ (0)<br />

y(t) = v0sin(θ)·t−<br />

g<br />

g ·t2<br />

2<br />

2·v 2 0 ·cos 2 (θ) ·x2 +tan(θ)·x,<br />

que é a <strong>de</strong>scrição da trajetória da bala.<br />

Sabemos encontrar o ponto <strong>de</strong> máximo <strong>de</strong> uma parábola y = ax2 +bx+c, on<strong>de</strong><br />

. No caso da parábola acima obtemos:<br />

a < 0. Esse ponto é x = −b<br />

2a<br />

x = v2 0 ·sin(θ)cos(θ)<br />

g<br />

e daí obtemos a altura máxima.<br />

OtempotM emqueseatingeessa alturamáximaéobtido<strong>de</strong>igualaracomponente<br />

vertical da velocida<strong>de</strong> a zero:<br />

portanto:<br />

0 = y ′ (tM) = y ′ (0)−g ·tM,<br />

tM = y′ (0)<br />

g .<br />

E o tempo tF > 0 no qual a bala atinge o alvo é obtido <strong>de</strong> igualar y(tF) = 0 e resolver:<br />

cujas raízes são t = 0 e<br />

0 = v0sin(θ)·t−<br />

tF = 2·y′ (0)<br />

g<br />

g ·t2<br />

2<br />

= 2·tM.<br />

A coor<strong>de</strong>nada x do alvo atingido po<strong>de</strong> ser obtida ou avaliando x(t) em tF ou<br />

vendo-se a intersecção da parábola acima com o eixo x. De ambos os modos obtêmse:<br />

x = v2 0 ·sin(2·θ)<br />

.<br />

g


10. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N.14, 1954 504<br />

Deixo para o Exercício 14.7 a prova <strong>de</strong> uma proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> balística conhecida<br />

por Galileu, exemplificada na Figura a seguir:<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 2<br />

4<br />

6 8<br />

9. Equações diferenciais lineares em geral<br />

Uma equação diferencial <strong>de</strong>primeira or<strong>de</strong>mlinear geraléuma equação doseguinte<br />

tipo:<br />

f ′ (x) = a(x)·f(x)+b(x),<br />

on<strong>de</strong> a incógnita é a função y = f(x).<br />

Como veremos na Afirmação 11.1 a seguir (que generaliza a Afirmação 4.1) a<br />

solução <strong>de</strong>ssa equação não é única mas forma uma família <strong>de</strong> curvas, chamadas <strong>de</strong><br />

curvas integrais da equação. A curva solução só fica <strong>de</strong>terminada quando impomos<br />

que passe por algum ponto do plano.<br />

10. Um problema da Putnam Competition, n.14, 1954<br />

O que é interessante é que, antes <strong>de</strong> sabermos quem são as curvas integrais, já<br />

po<strong>de</strong>mos respon<strong>de</strong>r a um problema:<br />

Problema: Se a família <strong>de</strong> curvas integrais da equação:<br />

f ′ (x)+p(x)·f(x) = q(x), com p(x)·q(x) = 0<br />

é cortada pela reta vertical x = k, então as retas tangentes às curvas integrais pelos<br />

pontos <strong>de</strong> intersecção concorrem todas num mesmo ponto.<br />

Solução:<br />

Denoto por fα(x) e fβ(x) duas curvas integrais distintas.<br />

Vou tomar duas retas tangentes às curvas integrais fα(x) e fβ(x) por pontos<br />

distintos da reta x = k:<br />

(k,fα(k)) e (k,fβ(k)).<br />

A primeira verifica:<br />

y −fα(k)<br />

x−k = f′ α (k) = −p(k)·fα(k)+q(k)<br />

10


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 505<br />

enquanto que a segunda:<br />

y −fβ(k)<br />

x−k = f′ β(k) = −p(k)·fβ(k)+q(k).<br />

Ou seja, a primeira é a reta:<br />

y = (−p(k)·fα(k)+q(k))·x−k ·(−p(k)·fα(k)+q(k))+fα(k).<br />

enquanto a segunda é:<br />

y = (−p(k)·fβ(k)+q(k))·x−k ·(−p(k)·fβ(k)+q(k))+fβ(k).<br />

Quando consi<strong>de</strong>ramos a interseção <strong>de</strong>ssas retas temos que resolver a equação:<br />

−p(k)·fα(k)·x+(kp(k)+1)·fα(k) = −p(k)·fβ(k)·x+(kp(k)+1)·fβ(k)<br />

ou seja:<br />

x = (kp(k)+1)·(fβ(k)−fα(k))<br />

=<br />

p(k)·(fβ(k)−fα(k))<br />

kp(k)+1<br />

,<br />

p(k)<br />

que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das fα e fβ particulares que tomei. Portanto essa é a coor<strong>de</strong>nada x<br />

do ponto on<strong>de</strong> concorrem todas as retas tangentes.<br />

Fiz um Exemplo, antecipando o resultado da próxima Seção sobre quem são as<br />

curvas integrais da equação.<br />

Tomei<br />

f ′ (x)+p(x)·f(x) = q(x), com p(x) = 2<br />

, q(x) = cos(x), x ∈ [0.8,6]<br />

x<br />

pois <strong>de</strong> fato quem não po<strong>de</strong> se anular é p(x) = 2<br />

x .<br />

Escolhi k = 2 e tracei 11 curvas integrais, na próxima Figura:<br />

4<br />

2<br />

0<br />

1 2 3 4 5 6<br />

-2<br />

-4<br />

x<br />

Agora adicionei suas 11 retas tangentes nas interseções com x = 2. Segundo<br />

= 3, o que<br />

nossas contas <strong>de</strong>vem se encontrar no ponto cuja coor<strong>de</strong>nada x vale 2·2<br />

2 +1<br />

2<br />

2<br />

se vê bem na Figura:


11. SOLUÇÕES DAS EQUAÇÕES LINEARES GERAIS 506<br />

4<br />

2<br />

1<br />

0<br />

2 3 4 5 6<br />

-2<br />

-4<br />

x<br />

11. Soluções das equações lineares gerais<br />

Agoravamosverquemsãoassoluçõesdasequaçõesdiferenciaislineares<strong>de</strong>primeira<br />

or<strong>de</strong>m:<br />

Afirmação 11.1.<br />

Sejam a(x), b(x) e f(x) funções <strong>de</strong>finidas num intervalo aberto e com valores em<br />

R, tais que a(x) e b(x) são contínuas e f <strong>de</strong>rivável, com f ′ (x) função contínua ao<br />

menos.<br />

• i) Se f ′ (x) = a(x)·f(x) então<br />

Dado f(x 0) então<br />

f(x) = C ·e a(x)dx , com C ∈ R.<br />

x<br />

x a(t)dt<br />

f(x) = f(x0)·e 0 .<br />

• ii) Se f ′ (x) = a(x)·f(x)+b(x) então<br />

f(x) = e <br />

a(t)dt<br />

·<br />

• iii) se a(x) ≡ a e b(x) ≡ b, então ii) vira:<br />

e −a(t)dt ·b(x)dx+C ·e a(t)dt.<br />

f(x) = e ax · e−ax<br />

(−a) ·b+C ·eax = − b<br />

a +C ·eax .


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 507<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

Usaremos a mesma idéia da prova da Afirmação 4.1.<br />

Primeiro noto que a função f ≡ 0 é solução e correspon<strong>de</strong> a tomar C = 0.<br />

Po<strong>de</strong>mos então supôr no que segue que f ≡ 0.<br />

Faremos a suposição a princípio mais forte 11 <strong>de</strong> que:<br />

∀x ∈ R, f(x) = 0.<br />

Então posso fazer:<br />

f ′ (x)<br />

= a(x).<br />

f(x)<br />

Tomando primitivas (e colocando as constantes do lado direito):<br />

<br />

ln||f(x)|| = a(x)dx+C1.<br />

Logo<br />

||f(x)|| = e a(x)dx+C1 = e a(x)dx ·e C1 = C2 ·e a(x)dx .<br />

Pelo T.V.I. sabemos que ou bem f(x) > 0 ∀x ou bem f(x) < 0 ∀x.<br />

Então:<br />

f(x) = C2 ·e a(x)dx<br />

Em qualquer dos casos,<br />

ou f(x) = −C2 ·e a(x)dx .<br />

f(x) = C ·e a(x)dx , com C = 0.<br />

Se tomo x0 no domínio da f, acima po<strong>de</strong>ríamos ter escrito:<br />

e daí teríamos:<br />

ln||f(x)||−ln||f(x0)|| =<br />

x<br />

x0<br />

a(t)dt,<br />

x<br />

x<br />

a(t)dt+ln||f(x0)|| a(t)dt x ||f(x)|| = e 0 x = ||f(x0)||·e 0 .<br />

Em qualquer dos casos (f(x) > 0 ∀x ou f(x) < 0 ∀x):<br />

De ii):<br />

Agora temos:<br />

f(x) = f(x0)·e<br />

x<br />

x a(t)dt<br />

0 .<br />

f ′ (x) = a(x)·f(x)+b(x)<br />

e o leitor em seguida vê que a idéia da prova da Afirmação 4.1 já não funciona aqui:<br />

ou seja, não aparece mais uma <strong>de</strong>rivada logarítmica do lado esquerdo.<br />

O que faremos é multiplicar toda a equação dada por um fator µ(x) a<strong>de</strong>quadamente<br />

escolhido para que do lado esquerdo apareça a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> algo, apesar <strong>de</strong> que<br />

esse algo nem sempre será o logaritmo.<br />

Faço<br />

f ′ (x)−a(x)·f(x) = b(x)<br />

11 Na verda<strong>de</strong>, através da Afirmação 3 do Capítulo 36 se mostra que são a mesma hipótese


11. SOLUÇÕES DAS EQUAÇÕES LINEARES GERAIS 508<br />

e<br />

Quero que valha:<br />

e para isso temos que ter:<br />

já que:<br />

µ(x)·f ′ (x)−µ(x)·a(x) = µ(x)·b(x).<br />

µ(x)·f(x)−µ(x)·a(x) = (µ(x)·f(x)) ′<br />

µ ′ (x) = −a(x)·µ(x),<br />

(µ(x)·f(x)) ′ = µ(x)·f ′ (x)+µ ′ (x)·f(x).<br />

Ora, o item i) nos diz quem são as soluções µ(x) <strong>de</strong> µ ′ (x) = −a(x)·µ(x) e tomo uma<br />

com C = 1:<br />

µ(x) = e −a(t)dt .<br />

Portanto:<br />

(e −a(t)dt ·f(x)) ′ = e −a(t)dt ·b(x).<br />

Tomando primitivas e passando a constante para a direita:<br />

<br />

e portanto:<br />

e −a(t)dt ·f(x) =<br />

f(x) = e <br />

a(t)dt<br />

·<br />

Vejamos Exemplos para a Afirmação 11.1:<br />

• Tomemos as equações do tipo<br />

e −a(t)dt ·b(x)dx+C<br />

e −a(t)dt ·b(x)dx+C ·e a(t)dt.<br />

f ′ (x) = x k ·f(x), com k ∈ Z, para x > 0.<br />

Escolho o ponto x0 = 1.<br />

x<br />

1<br />

É claro que<br />

t k dt = xk+1 1<br />

−<br />

k +1 k +1<br />

se k = −1<br />

ou x<br />

t −1 dt = ln(x) se k = −1.<br />

Portanto pelo item i):<br />

ou<br />

1<br />

f(x) = f(1)· exk+1 k+1<br />

e 1<br />

k+1<br />

, se k = −1<br />

f(x) = f(1)·x, se k = −1.


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 509<br />

• Agora consi<strong>de</strong>re as equações do tipo<br />

f ′ (x) = −n<br />

x ·f(x)+2n·xn−1 , com n ∈ N, para x > 0<br />

Temos pelo item ii):<br />

mas agora:<br />

f(x) = e −n<br />

t dt ·<br />

enquanto que e −n<br />

t dt = 1<br />

<br />

Logo obtemos<br />

<br />

e n<br />

t dt ·b(x)dx+C ·e −n<br />

t dt .<br />

e n<br />

t dt = e n·ln(x) = x n , on<strong>de</strong> x > 0<br />

xn e daí:<br />

e n<br />

t dt <br />

·b(x)dx =<br />

f(x) = 1<br />

2n·x 2n−1 dx = x 2n .<br />

xn ·x2n + C<br />

xn = xn + C<br />

xn. A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> C <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha <strong>de</strong> um valor f(x0), pois C =<br />

xn 0 ·(f(x0)−x n 0 ).<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

1<br />

-2<br />

-4<br />

2<br />

x<br />

3 4 5<br />

Fig. As curvas y = x+ C com C = −3,−2,−1,0,1,2,3.<br />

x<br />

• Agora consi<strong>de</strong>re a equação<br />

f ′ (x) = −2<br />

·f(x)+cos(x), para x > 0<br />

x<br />

Pelo item ii):<br />

f(x) = e −2<br />

t dt <br />

· e 2<br />

t dt ·cos(x)dx+C ·e −2<br />

t dt ,<br />

on<strong>de</strong>, como antes,<br />

E <br />

e 2<br />

t dt = x 2<br />

e e −2<br />

t dt = 1<br />

x 2 on<strong>de</strong> x > 0.<br />

x 2 ·cos(x)dx = x 2 ·sin(x)+2x·cos(x)−2sin(x),


12. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 49, 1958. 510<br />

como vimos num dos Exemplos do Capítulo 24. Logo obtemos :<br />

f(x) = sin(x)+ 2cos(x)<br />

x<br />

− 2sin(x) C<br />

+<br />

x2 x2. A Figura a seguir mostra essas curvas para C = −3,−2,−1,0,1,2,3.<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-2<br />

2<br />

4<br />

x<br />

6<br />

8 10<br />

Note que à medida que x cresce essas as curvas todas se aproximam <strong>de</strong><br />

y = sin(x).<br />

12. Um problema da Putnam Competition, n. 49, 1958.<br />

Problema: Um erro comum no Cálculo é achar que:<br />

(f(x)·g(x)) ′ = f ′ (x)·g ′ (x).<br />

Se f(x) = ex2 prove que existe uma g(x) ≡ 0 <strong>de</strong>finida num intervalo aberto tal que<br />

para essas f e g vale:<br />

Solução:<br />

Queremos que<br />

mas por outro lado certamente:<br />

Então obtemos:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

supondo 2x−1 = 0.<br />

(e x2<br />

(f(x)·g(x)) ′ = f ′ (x)·g ′ (x).<br />

(e x2<br />

) ′ ·g ′ (x) = (e x2<br />

·g(x)) ′ ,<br />

·g(x)) ′ = (e x2<br />

) ′ ·g(x)+e x2<br />

·g ′ (x) =<br />

= 2x·e x2<br />

·g(x)+e x2<br />

2x·e x2<br />

·g ′ (x) = 2x·e x2<br />

·g ′ (x).<br />

·g(x)+e x2<br />

g ′ (x) = 2x<br />

2x−1 ·g(x),<br />

·g ′ (x),


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 511<br />

Esse tipo <strong>de</strong> equação é tratada pelo item i) da Afirmação 11.1: se g(x) > 0 e se<br />

2x−1 > 0, então<br />

g(x) = e C ·e <br />

2x<br />

2x−1 dx .<br />

Ora:<br />

2x 1<br />

= 1+<br />

2x−1 2x−1<br />

e portanto (módulo constantes)<br />

<br />

2x ln(2x−1)<br />

dx = x+ ,<br />

2x−1 2<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

g(x) = e x+ln(2x−1)<br />

2 = e x · √ 2x−1, para x > 1<br />

2 .<br />

13. As equações <strong>de</strong> Bernoulli e sua redução a equações lineares<br />

Jakob Bernoulli consi<strong>de</strong>rou uma classe <strong>de</strong> equações diferenciais extremamente<br />

úteis, como veremos em aplicações no Capítulo 38. Mas as equações <strong>de</strong>ssa vez são<br />

não-lineares (pois envolvem o termo f(x) r ).<br />

O que é incrível é que elas po<strong>de</strong>m ser transformadas em equações diferenciais<br />

lineares. O truque é do gran<strong>de</strong> Leibniz !<br />

Repare que os casos r = 0,1 na Afirmação 13.1 a seguir já estão resolvidos pela<br />

Afirmação 11.1 acima.<br />

Afirmação 13.1. Sejam a(x),b(x) contínuas, f(x) <strong>de</strong>rivável com f ′ (x) contínua.<br />

Suponha 12<br />

f ′ (x) = a(x)·f(x)+b(x)·f(x) r , r = 0,1, r ∈ R.<br />

Então<br />

• g(x) := f 1−r (x) satisfaz a equação diferencial linear:<br />

g ′ (x) = (1−r)·a(x)·g(x)+(1−r)·b(x)<br />

e portanto ou f(x) ≡ 0 ou13 <br />

f(x) = [e (1−r)a(t)dt ·<br />

e (r−1)a(t)dt ·(1−r)b(x)dx+C ·e (1−r)a(t)dt] 1<br />

1−r<br />

Demonstração.<br />

Mais uma vez, após consi<strong>de</strong>rar a situação em que f ≡ 0, trocaremos a condição<br />

f ≡ 0 pela condição a princípio mais forte 14<br />

Noto que se g(x) := f 1−r (x) , então:<br />

f(x) = 0, ∀x.<br />

g ′ (x)<br />

g(x) = (1−r)·f−r (x)·f ′ (x)<br />

f1−r (x)<br />

12 <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do r ∈ R po<strong>de</strong> ser necessário supôr que f(x) > 0 para que faça sentido f(x) r .<br />

13 On<strong>de</strong> aparece r −1 na fórmula a seguir ao invés <strong>de</strong> 1−r está correto, não inverta ...<br />

14 Na verda<strong>de</strong>, através da Afirmação 3 do Capítulo 36 se mostra que são a mesma hipótese<br />

=


14. EXERCÍCIOS 512<br />

e portanto multiplicando por g(x):<br />

= (1−r)· f′ (x)<br />

f(x) =<br />

= (1−r)·a(x)f(x)+(1−r)·b(x)fr<br />

f(x)<br />

= (1−r)·a(x)+(1−r)·b(x)f r−1 =<br />

= (1−r)·a(x)+(1−r)· b(x)<br />

g(x) ,<br />

g ′ (x) = (1−r)·a(x)g(x)+(1−r)·b(x).<br />

Como já sabemos resolver esta equação pela Afirmação 11.1, temos g(x) e daí a f(x).<br />

<br />

Um Exemplo:<br />

cuja solução portanto é:<br />

y = [−e −x2<br />

2 ·<br />

y ′ (x) = x·y(x)+y(x) 2 ,<br />

<br />

=<br />

e x2<br />

2 dx+C ·e −x2<br />

2 ] −1 , C ∈ R.<br />

14. Exercícios<br />

Exercício 14.1. (resolvido)<br />

A função representada a seguir é estritamente <strong>de</strong>crescente e ten<strong>de</strong> a zero. No<br />

entanto, afirmo que ela não po<strong>de</strong> representar a <strong>de</strong>sintegração <strong>de</strong> nenhuma substância<br />

radioativa, <strong>de</strong>vido a aspecto (s) qualitativo (s) <strong>de</strong> seu gráfico.<br />

Explique quê aspecto qualitativo é (são) esse(s), usando os conceitos e a teoria<br />

<strong>de</strong>senvolvida neste Curso.<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

0<br />

1<br />

2<br />

x<br />

Exercício 14.2. Quanto tempo tem que ter passado para que uma mostra <strong>de</strong> osso<br />

tenha menos que 10 −3 vezes a quantida<strong>de</strong> original <strong>de</strong> C14 ?<br />

Exercício 14.3. Em quanto tempo duplica uma dívida que cresce segundo a equação<br />

f ′ (x) = 2·f(x) ?<br />

3<br />

4


CAPÍTULO 35. AS PRIMEIRAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 513<br />

Exercício 14.4. (resolvido)<br />

A 1<br />

-vida é o tempo τ transcorrido para que uma substância radioativa tenha<br />

2<br />

massa f(τ) igual à meta<strong>de</strong> da massa inicial f(0).<br />

i) Suponha que <strong>de</strong>fino a 1-vida<br />

como o tempo ˆτ transcorrido para que uma<br />

4<br />

substância radioativa tenha massa f(ˆτ) igual a um quarto da massa inicial f(0).<br />

Qual a relação entre ˆτ e τ ?<br />

ii) Suponha agora que <strong>de</strong>fino a 1<br />

√ 2 -vida como o tempo ˇτ transcorrido para que<br />

uma substância radioativa tenha massa f(ˇτ) igual f(0)<br />

√ 2 . Qual a relação entre ˇτ e τ ?<br />

iii) Mais geralmente, chamo agora <strong>de</strong> 1<br />

2 1 n<br />

-vida o tempo τn transcorrido para que<br />

uma substância radiotiva tenha massa f(τn) igual f(0)<br />

. Qual a relação entre τn e τ ?<br />

Exercício 14.5. Em 10 anos a quantida<strong>de</strong> inicial f(0) <strong>de</strong> uma substância radioativa<br />

caiu para f(0)<br />

3 .<br />

i) qual o valor <strong>de</strong> k na equação f ′ (x) = −kf(x) do <strong>de</strong>caimento ?<br />

ii) qual a meia-vida <strong>de</strong>ssa substância (em função do k do item i) ?<br />

Exercício 14.6. (resolvido)<br />

Consi<strong>de</strong>re a equação f ′ (x) = −kf(x), com −k < −1 e f(0) = 1. Note que então<br />

f ′ (0) = −k < −1.<br />

Para qual tempo x temos que o coeficiente angular da tangente ao gráfico da<br />

solução y = f(x) é exatamente −1 ?<br />

Exercício 14.7. A Figura a seguir ilustra em vermelho a trajetória <strong>de</strong> uma bala <strong>de</strong><br />

canhão que forma ângulo <strong>de</strong> π com o eixo x, atingindo o alcance máximo.<br />

4<br />

E em amarelo e ver<strong>de</strong> dois lançamentos com ângulos π π +0.4 e −0.4, respecti-<br />

4 4<br />

vamente.<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 2<br />

Por quê atingiram o mesmo ponto ?<br />

Galileu já conhecia essa proprieda<strong>de</strong> !<br />

4<br />

6 8<br />

Exercício 14.8. Suponha que um objeto com temperatura t0 é colocado num ambiente<br />

com temperatura T (que é mantida constante). Suponha que t0 > T.<br />

2 1 n<br />

10


14. EXERCÍCIOS 514<br />

A lei <strong>de</strong> esfriamento <strong>de</strong> Newton diz que a taxa <strong>de</strong> variação da temperatura do<br />

objeto em cada instante é proporcional à diferença <strong>de</strong> temperatura entre o objeto e<br />

o ambiente naquele instante.<br />

Mo<strong>de</strong>le a equação diferencial do esfriamento e a resolva.<br />

Tendo obtido a solução, mostre que quando t → +∞ a temperatura do objeto<br />

ten<strong>de</strong> à do ambiente.<br />

Exercício 14.9. Suponha que y(x) é a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> uma espécie e<br />

que seu <strong>de</strong>senvolvimento é mo<strong>de</strong>lado pela equação:<br />

y ′ (x) = a·y(x)−x, on<strong>de</strong> a > 0,<br />

ou seja, on<strong>de</strong> supõe-se que os fatores adversos (ataques <strong>de</strong> predadores, escassez, etc)<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do tempo como a função −x.<br />

a) Prove que a população no tempo verifica:<br />

y(x) = 1 x 1<br />

+ +(f(0)−<br />

a2 a a2)·eax .<br />

b): discuta as condições iniciais f(0) que produzem superpolação ou extinção a<br />

longo prazo.<br />

c): para todo a > 0, calcule y ′ (0). Esboce as diferentes soluções.<br />

Exercício 14.10. (resolvido)<br />

Suponha que y(x) é a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> uma espécie e que seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />

é mo<strong>de</strong>lado pela equação:<br />

y ′ (x) = y(x)<br />

−x, x ≥ 0.<br />

x+1<br />

Ou seja, on<strong>de</strong> supõe-se que os fatores propícios (fertilida<strong>de</strong>, alimentos, etc) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

do tempo como 1<br />

enquanto que os fatores adversos (ataques <strong>de</strong> predadores,<br />

x+1<br />

escassez, etc) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do tempo como a função −x.<br />

a) Prove que a população no tempo verifica:<br />

y(x) = (1+x)·[y(0)+ln(1+x)−x], C ∈ R.<br />

b): dê um argumento para provar que, não importa qual C, sempre:<br />

lim<br />

x→+∞ y(x) = −∞,<br />

ou seja, que essa população está fadada à extinção.


CAPíTULO 36<br />

Aspectos gerais das equações <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m<br />

1. Equações diferenciais e metamorfoses <strong>de</strong> curvas<br />

Quando temos uma equação diferencial:<br />

y ′ (x) = f(x)<br />

para f contínua e x num intervalo, sabemos que :<br />

y(x) = F(x)+c<br />

on<strong>de</strong> F(x) é uma primitiva <strong>de</strong> f(x).<br />

Essa família <strong>de</strong> gráficos y = F(x)+c ébem trivial, pois écomposta <strong>de</strong> translações<br />

verticais do gráfico y = F(x).<br />

Mas uma equação diferencial do tipo separável 1 :<br />

g(y)·y ′ (x) = f(x)<br />

já produz famílias <strong>de</strong> gráficos ou curvas bem interessantes.<br />

Para começar a equação:<br />

y ·y ′ (x) = −x<br />

se resolve notando que ela se escreve como<br />

e daí:<br />

d( y(x)2<br />

2 )<br />

dx<br />

2 = −d(x2<br />

)<br />

dx<br />

y(x) 2 +x 2 = c, c ∈ R<br />

que é uma família <strong>de</strong> círculos concêntricos quando c > 0.<br />

Aqui não há gráficos, mas apenas curvas, e não há translações mas sim contrações<br />

e expansões das curvas.<br />

Agora vejamos o Exemplo:<br />

que po<strong>de</strong> ser escrito como:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong>:<br />

2y ·y ′ (x) = 3x 2 −1,<br />

d(y(x) 2 )<br />

dx<br />

= d(x3 −x)<br />

,<br />

dx<br />

y 2 = x 3 −x+c, c ∈ R.<br />

Essa família <strong>de</strong> cúbicas já foi estudada ao longo do Curso, por exemplo na Seção 5<br />

do Capítulo 3. O caso c = 0 é ilustrado na figura a seguir:<br />

1 Veremos em <strong>de</strong>talhe este tipo <strong>de</strong> equação na Seção 4<br />

515


1. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS E METAMORFOSES DE CURVAS 516<br />

3<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1 -0,5 0 0,5 1 1,5<br />

A Figura a seguir plota y 2 = x 3 −x ao lado <strong>de</strong> y 2 = x 3 −x+1:<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

y 0<br />

-1 -0,5 0 0,5<br />

3<br />

2<br />

1<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

A Figura a seguir plota y 2 = x 3 −x, y 2 = x 3 −x+1 e y 2 = x 3 −x−1:<br />

3<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1 -0,5 0<br />

A Figura a seguir plota y 2 = x 3 −x+c para os valores<br />

Note que:<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

x<br />

x<br />

0,5<br />

x<br />

c = −4,−3,−2,−1,0,1,2,3,4.<br />

-1<br />

y<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

x<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1,5<br />

1,5<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 517<br />

• para c ∈ {−4,−3,−2,−1} ou c ∈ {4,3,2,1} há apenas mudanças quantitativas<br />

nas curvas, ou seja, quando a curva muda um pouco mas tem o mesmo<br />

aspecto geral.<br />

• mas quando c ∈ {−1,0,1} as curvas correspon<strong>de</strong>ntes passam por mudanças<br />

qualitativas importantes.<br />

De fato, como será explicado no Capítulo 32 o valor<br />

c = 2<br />

3 √ 3<br />

é um divisor <strong>de</strong> águas nessa família <strong>de</strong> curvas. Para esse valor preciso <strong>de</strong> c a curva<br />

tem o formato <strong>de</strong> um laço (que o Maple não plota muito bem...)<br />

A Figura a seguir plota as curvas para c = −1,0, 2<br />

3 √ 3 ,1:<br />

3<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1 -0,5 0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

0,5<br />

x<br />

2. Equações diferenciais em forma normal e as curvas Isóclinas<br />

Quando escrevemos uma equação diferencial <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m (i.e. on<strong>de</strong> só entra<br />

a primeira <strong>de</strong>rivada e a função) na forma:<br />

1<br />

1,5<br />

y ′ (x) = P(x,y),<br />

ou seja, on<strong>de</strong> isolamos y ′ , dizemos que a equação está na forma normal.<br />

Quando se quer ter uma noção qualitativa grosseira das soluções da equação:<br />

y ′ (x) = P(x,y)<br />

se traçam as curvas isóclinas (mesma inclinação em grego), ou seja, as curvas dadas<br />

implicitamente por:<br />

P(x,y) = k,<br />

que são as curvas no plano tais que as inclinações y ′ têm o mesmo valor k.<br />

O Exemplo<br />

y ′ (x) = x·y<br />

é bom para começar, não só porque suas isóclinas são as hipérboles x·y = k (que à<br />

medida que k → 0 se expremem sobre os eixos coor<strong>de</strong>nados), mas também porque<br />

cai no formato da Seção anterior g(y)·y ′ (x) = f(x):<br />

1<br />

y ·y′ (x) = x, se y = 0.<br />

2


2. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS EM FORMA NORMAL E AS CURVAS<br />

ISÓCLINAS 518<br />

É possível dar uma <strong>de</strong>senho qualitativo das curvas y = y(x) solução <strong>de</strong>ssa equação<br />

na Figura a seguir:<br />

Os segmento verticais são pedaços das retas tangentes à curvas soluções. Por isso<br />

po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> direções tangentes.<br />

Como a equação 1<br />

y ·y′ (x) = x po<strong>de</strong> ser escrita:<br />

então<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

e<br />

dln|y(x)|<br />

dx<br />

= d(x2<br />

2 )|<br />

dx<br />

ln|y(x)| = x2<br />

2 +c<br />

|y(x)| = e x2<br />

2 +c = C ·e x2<br />

2 , C > 0<br />

y = y(x) = C ·e x2<br />

2 , C ∈ R\{0}.<br />

Só que na discussão que fizemos impusemos que<br />

E com isso esquecemos a solução<br />

y = 0.<br />

y ≡ 0 <strong>de</strong> y ′ (x) = x·y(x).<br />

Como veremos na Afirmação 3.1 da próxima Seção, quando uma equação está na<br />

forma normal<br />

y ′ (x) = P(x,y)<br />

e quando P(x,y) e ∂P<br />

∂y<br />

são funções contínuas no plano, como é o caso para<br />

∂P<br />

P(x,y) = x·y, = x,<br />

∂y<br />

há unicida<strong>de</strong> da solução por cada ponto. Em particular o gráfico <strong>de</strong> uma solução<br />

y1 ≡ 0 não po<strong>de</strong> intersectar o eixo y ≡ 0, pois este é solução da mesma equação.


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 519<br />

No próximo Exemplo se trata <strong>de</strong> uma Equação <strong>de</strong> Bernoulli:<br />

y ′ (x) = x·y(x)+y(x) 2 .<br />

É uma equação não-linear (termo quadrático em y(x)) que po<strong>de</strong> ser reduzida a uma<br />

equação linear <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m, o que é raro e surpreen<strong>de</strong>nte, como vimos na Seção<br />

13.1 do Capítulo 35. Vimos lá que as soluções são<br />

Note que<br />

y = [−e −x2<br />

<br />

2 ·<br />

e x2<br />

2 dx+C ·e −x2<br />

2 ] −1 , C ∈ R.<br />

x·y +y 2 = k<br />

são hipérboles que se espremem sobre os eixos y = 0 e y +x = 0, já que x·y +y 2 =<br />

y · (x + y). A Figura a seguir ilustra esses dois eixos, 4 isóclinas algumas soluções<br />

(apenas qualitativamente).<br />

O Exemplo<br />

y ′ (x) = x 2 +y 2<br />

é muito interessante. Aparenta ser mais fácil <strong>de</strong> tratar que o anterior. Mas não é !<br />

Suas curvas isóclinas são sim imediatas, pois são círculos ou a origem se k ≥ 0:<br />

x 2 +y 2 = k, k ≥ 0<br />

e feitas em <strong>de</strong>talhe dão uma boa idéia - qualitativa - das curvas que são soluções.


3. EXISTÊNCIA E UNICIDADE PARA Y ′ (X) = F(X,Y) - MÉTODO DE<br />

PICARD 520<br />

Porém y ′ (x) = x 2 +y 2 é a primeira equação <strong>de</strong> Riccati não-trivial na literatura,<br />

estudada pelo Riccati e por Johan Bernoulli.<br />

Suas soluções explícitas y(x) não são funções que tenham sido apresentadas a<br />

quem fez Cálculo 1 e 2. São funções não-elementares, são <strong>de</strong> fato composições <strong>de</strong><br />

funções <strong>de</strong> Bessel e suas <strong>de</strong>rivadas.<br />

Dedicarei um Capítulo às Riccati e a solução explícita <strong>de</strong> y ′ = x 2 +y 2 se encontra<br />

na Seção 4 do Capítulo 45. As funções <strong>de</strong> Bessel serão tratadas no Capítulo 43 (pelo<br />

menos algum rudimento, pois têm uma vasta teoria).<br />

3. Existência e unicida<strong>de</strong> para y ′ (x) = F(x,y) - Método <strong>de</strong> Picard<br />

O Teorema a seguir assegura existência e unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> equações <strong>de</strong><br />

primeira or<strong>de</strong>m na forma normal, sob certas condições. É muito importante como<br />

fundamentação da teoria <strong>de</strong> equações diferenciais, embora não seja consi<strong>de</strong>rado computacionalmente<br />

rápido.<br />

Teorema 3.1. Seja uma equação diferencial do tipo y ′ (x) = F(x,y), com F(x,y)<br />

função <strong>de</strong> duas variáveis.<br />

Suponha que as funções F(x,y) e ∂F<br />

∂y são contínuas2 numa região U aberta do<br />

plano contendo (a,b).<br />

Então para cada ponto (a,b) ∈ U existe e é única a função y = y(x) verificando<br />

y ′ (x) = F(x,y(x)) e y(a) = b, para x ∈ Ia on<strong>de</strong> Ia é um intervalo aberto centrado em<br />

a.<br />

Em particular, se y ≡ C for solução da equação então as outras soluções nunca<br />

assumem esse valor C.<br />

Em particular, se y ≡ 0 for solução da equação então as outras soluções nunca se<br />

anulam.<br />

2 O Apêndice <strong>de</strong>ste Capítulo, Seção 15, explica bem esta noção


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 521<br />

Não vejo exemplo mais simples para mostrar a importância das hipóteses <strong>de</strong>ste<br />

Teorema, do que a equação:<br />

y ′ (x) = y<br />

x .<br />

Ela é separável<br />

e se resolve como:<br />

ou seja:<br />

y ′ (x)<br />

y(x)<br />

1<br />

= , sex·y = 0<br />

x<br />

ln||y|| = ln||x||+C1<br />

y = C2 x.<br />

Pela origem há uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções e pelo eixo dos y, on<strong>de</strong> x = 0, não<br />

há soluções. Pois é ao longo <strong>de</strong> x = 0 que não há continuida<strong>de</strong> da função <strong>de</strong> duas<br />

variáveis F(x,y) = y<br />

x .<br />

Idéia da prova do Teorema 3.1:<br />

Uma prova perfeitamente legível se encontra no livro <strong>de</strong> Bear. Mas posso indicar<br />

ao menos algumas idéias da prova:<br />

• primeiramente notar que y = y(x) é solução <strong>de</strong> y ′ (x) = F(x,y) e satisfaz<br />

y(a) = b se e somente se<br />

y(x) = b+<br />

x<br />

a<br />

F(t,y(t))dt.<br />

De fato, se y(x) é solução <strong>de</strong> y ′ (x) = F(x,y) então y(x) − y(a) =<br />

x<br />

a y′ (t)dt = x<br />

a F(t,y(t))dt. Reciprocamente, se y(x) = b+ x<br />

a F(t,y(t))dt<br />

então y ′ (x) = F(x,y(x)).<br />

• A partir daí Picard consi<strong>de</strong>ra uma sequência <strong>de</strong> funções yn(x) <strong>de</strong>finida recursivamente<br />

por:<br />

y0(x) ≡ b, yn(x) := b+<br />

x<br />

a<br />

F(t,yn−1(t))dt.<br />

• a condição <strong>de</strong> que F(x,y) é contínua garante que existam as integrais b +<br />

x<br />

a F(t,yn−1(t))dt e também garante que existe um intervalo Ia em torno <strong>de</strong><br />

a em que todas as yn(x) estão <strong>de</strong>finidas.<br />

• a condição ∂F<br />

é contínua vai ser usada para garantir que a sequência yn(x)<br />

∂y<br />

convirja uniformemente para uma função<br />

e que valha<br />

lim<br />

n→+∞ b+<br />

x<br />

a<br />

y+∞(x) := lim<br />

n→+∞ yn(x)<br />

F(t,yn−1(t))dt = b+<br />

x<br />

a<br />

F(t,y+∞(t))dt.<br />

• paraquehajaunicida<strong>de</strong>, ouseja, paraquequalquersoluçãoY(x)comY(a) =<br />

seja contínua.<br />

b seja da forma Y = y+∞ também é preciso que ∂F<br />

∂y


3. EXISTÊNCIA E UNICIDADE PARA Y ′ (X) = F(X,Y) - MÉTODO DE<br />

PICARD 522<br />

Exemplo:<br />

Quando F(x,y) é um polinômio é fácil implementar o método. Vou implementar<br />

as primeiras etapas da recursão no<br />

No caso 1):<br />

Caso 1): y ′ = −y 2 , y(1) = 1<br />

Caso 2): y ′ = −x+y 2 , y(0) = b.<br />

y0 ≡ 1, y1 = 2−x,<br />

y2 = 10<br />

3 −4x+2x2 − 1<br />

3 x3 ,<br />

y3 = 323 100 40<br />

− x+<br />

63 9 3 x2 − 88<br />

9 x3 + 41<br />

9 x4 − 4<br />

3 x5 + 2<br />

9 x6 − 1<br />

63 x7 .<br />

Ou seja, o método está nos dando uma aproximação (não muito rápida, infelizmente)<br />

<strong>de</strong>:<br />

y = 1<br />

x =<br />

1<br />

1−(1−x) = 1+(1−x)+(1−x)2 +(1−x) 3 +... para |1−x| < 1<br />

pois<br />

1+(1−x) = 2−x, 1+(1−x)+(1−x) 2 +(1−x) 3 = 4−6x+4x 2 −x 3 ,<br />

1+(1−x)+...+(1−x) 7 = 8−28x+56x 2 −70x 3 +56x 4 −28x 5 +8x 6 −x 7 .<br />

A figura a seguir ilustra:<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-1<br />

0,5<br />

1<br />

Fig.: y = 1<br />

x em vermelho, y1 ver<strong>de</strong>, y2 amarelo, y3 azul.<br />

No Caso 2), o método <strong>de</strong> Picard começa com:<br />

1,5<br />

x<br />

2<br />

y0 ≡≈ 0.73,<br />

(pelo que veremos mais adiante esse é o valor aproximado <strong>de</strong> y(0)) e faz<br />

2,5<br />

y1 ≈ 0.73+0.53x−0.5x 2 ,<br />

3


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 523<br />

y2 ≈ 0.73+0.53x−0.1x 2 −0.15x 3 −0.13x 4 +0.05x 5<br />

y3 ≈ 0.73+0.53x−0.11x 2 +0.04x 3 −0.08x 4 −0.06x 5 −0.006x 6 +0.01x 7 +<br />

+0.003x 8 +0.0003x 9 −0.001x 10 +0.0002x 11 .<br />

Veremos na Seção 6 do Capítulo 44 que a solução y(x) no Caso 2) não é uma<br />

função já conhecida nossa; ou seja, não é elementar. Seu gráfico para x ∈ [−2.2,4] é<br />

do tipo:<br />

-2 -1 0 1<br />

0<br />

2<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

Na figura a seguir y(x) está comparado com as primeiras aproximações:<br />

-2 -1 0<br />

0<br />

1<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

x<br />

x<br />

Fig.: y(x) em vermelho, y1 ver<strong>de</strong>, y2 amarelo, y3 azul.<br />

2<br />

1<br />

3<br />

4<br />

2


3. EXISTÊNCIA E UNICIDADE PARA Y ′ (X) = F(X,Y) - MÉTODO DE<br />

PICARD 524<br />

Exemplo:<br />

De volta ao exemplo:<br />

quando posto na forma padrão vira:<br />

2y ·y ′ (x) = 3x 2 −1,<br />

y ′ (x) = 3x2 −1<br />

.<br />

y<br />

Se consi<strong>de</strong>ro U = {(x,y);y > 0} (o semiplano superior), posso usar o Teorema 3.1 e<br />

para cada ponto <strong>de</strong>sse semiplano passa apenas uma solução y = y(x). Sabemos que<br />

a equação é satisfeita pelas curvas y 2 = x 3 − x + c, que não são gráficos, mas mas<br />

restritas ao semiplano superior sim são gráficos do tipo y = y(x).<br />

Ou seja, na Figura a seguir só <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar a parte das curvas acima do<br />

eixo horizontal.<br />

-1<br />

y<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

x<br />

Quando y = 0 aí não po<strong>de</strong>mos usar o Teorema 3.1 e <strong>de</strong> fato, como vemos nessa<br />

mesma figura, sobre o eixo dos x há:<br />

• pontos on<strong>de</strong> as curvas são gráfico <strong>de</strong> x = x(y), não <strong>de</strong> y = y(x)<br />

• pontos <strong>de</strong> on<strong>de</strong> saem mais <strong>de</strong> uma ramo <strong>de</strong> curva<br />

Exemplo: Consi<strong>de</strong>ro a a equação:<br />

y ′ (x) =<br />

1<br />

−y ·cos(x)<br />

, x ∈ (0,π), y ∈ (−2,1).<br />

(y +2)·sin(x)<br />

Nessa região retangular aberta U = (0,π)×y ∈ (−2,2) posso aplicar o Teorema 3.1.<br />

Antes <strong>de</strong> resolver a equação noto, só pela expressão y ′ (x) = −y·cos(x)<br />

(y+2)·sin(x) que:<br />

• on<strong>de</strong> y ∼ 0, as inclinações y ′ (x) dos gráficos ficam quase zero.<br />

• on<strong>de</strong>y > 0ex ∼ 0asinclinações y ′ (x)ficammuitonegativas(poissin(x) ∼ 0<br />

e cos(x) ∼ 1)<br />

• on<strong>de</strong>y > 0ex ∼ Πasinclinações y ′ (x)ficammuitopositivas(poissin(x) ∼ 0<br />

e cos(x) ∼ −1)<br />

• on<strong>de</strong> y < 0 e x ∼ 0 as inclinações y ′ (x) ficam muito positivas<br />

• on<strong>de</strong> y < 0 e x ∼ Π as inclinações y ′ (x) ficam muito negativas<br />

as inclinações ficam perto <strong>de</strong> zero (pois cos(x) ∼ 0).<br />

• para x ∼ Π<br />

2<br />

2


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 525<br />

• on<strong>de</strong> y ∼ −2 as inclinações ficam quase verticais.<br />

Ilustro isso a seguir:<br />

2<br />

1<br />

y(x) 0<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

0,5<br />

1<br />

1,5<br />

Quais as soluções <strong>de</strong>ssa equação diferencial ? Veremos na Seção 4 a seguir.<br />

x<br />

2<br />

2,5<br />

4. Equações separáveis<br />

NotequenosúltimosexemplosdaSeçãoanterior, asequaçõessão<strong>de</strong>tipoespeciais,<br />

pois:<br />

y ′ (x) = F(x,y)<br />

nesses exemplos po<strong>de</strong> ser escrita como:<br />

No Exemplo anterior:<br />

e neste<br />

Uma equação <strong>de</strong>sse tipo<br />

y ′ (x) = f(x)<br />

g(y) .<br />

y ′ (x) = 3x2 −1<br />

2y<br />

y ′ (x) = (−cos(x)<br />

sin(x) )<br />

( y+2<br />

y<br />

y ′ (x) = f(x)<br />

g(y)<br />

é chamada <strong>de</strong> separável.<br />

Para resolver uma equação separável em geral, noto quepela regra daca<strong>de</strong>ia posso<br />

escrever3 :<br />

g(y)·y ′ (x)−f(x) = d(G(y(x))−F(x))<br />

= 0,<br />

dx<br />

3 Ou seja, uma equação separável é sempre exata no sentido da próxima Seção 7<br />

) .<br />

3


4. EQUAÇÕES SEPARÁVEIS 526<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

dG(y)<br />

dy<br />

= g(y) e<br />

E portanto a solução geral é da forma:<br />

dF(x)<br />

dx<br />

G(y(x))−F(x) = C.<br />

Num dos exemplos da Seção anterior, on<strong>de</strong><br />

temos:<br />

e no segundo on<strong>de</strong><br />

temos:<br />

= f(x).<br />

−f(x) = −3x 2 +1 e g(y) = 2y<br />

G(y(x))−F(x) = y 2 −x 3 +x = C<br />

−f(x) = cos(x)<br />

sin(x)<br />

Para x ∈ (0,π) ploto a seguir<br />

e g(y) =<br />

y +2<br />

y<br />

= 1+ 2<br />

y<br />

G(y(x))−F(x) = y +2ln|y|+ln|sin(x)| = C.<br />

y +2ln|y|+ln|sin(x)| = C > 0<br />

para alguns valores <strong>de</strong> C > 0, com y ∈ (−2,2).<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1<br />

-2<br />

0,5 1 1,5 2 2,5<br />

x<br />

A seguir faço a união x ∈ (−π,0)∪(0,π) e uso ainda y ∈ (−2.2), o que já nos dá<br />

uma idéia da periodicida<strong>de</strong> das soluções:<br />

3


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 527<br />

y 0<br />

-3 -2 -1 0 1<br />

Outro exemplo: equações <strong>de</strong> Bernoulli a coeficientes constantes, como:<br />

são separáveis.<br />

2<br />

1<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

y ′ (x) = a·y(x)−b·y(x) 2<br />

É <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista que as trataremos na Seção 4 do Capítulo 38.<br />

5. A clepsidra<br />

Consi<strong>de</strong>ro aqui um exemplo <strong>de</strong> equação separável associado ao escomanto <strong>de</strong> um<br />

líquido.<br />

Imagine um recipiente em formato <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> revolução em torno do eixo<br />

dos y <strong>de</strong> um gráfico<br />

x = f(y), y ∈ [0,y(0)]<br />

on<strong>de</strong> y(0) é a altura do líquido que preenche o recipiente.<br />

A chamada Lei <strong>de</strong> Torricelli diz que a velocida<strong>de</strong> com que o líquido sai pela base<br />

do recipiente é proporcional à altura do líquido, da forma:<br />

u.m.<br />

2g ·y(t) .<br />

on<strong>de</strong> g é a constante <strong>de</strong> aceleração gravitacional e u.m. é unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comprimento.<br />

Se a abertura ba base tem área <strong>de</strong> A u.m. 2 então a queda do volume V(t) do<br />

líquido é <strong>de</strong><br />

dV<br />

dt = −A·2g ·y(t) u.m.3<br />

.<br />

t<br />

Seja V(y) o volume do líquido quando a altura é y. Esse é o volume do sólido <strong>de</strong><br />

revolução calculado integrando as fatias circulares horizontais:<br />

V(y) =<br />

y<br />

0<br />

t<br />

2<br />

π ·f(u) 2 du.<br />

Então pela regra da <strong>de</strong>rivada da composta e pelo teorema fundamental:<br />

dV<br />

dt<br />

= dV<br />

dy<br />

· dy<br />

dt =<br />

3


6. EQUAÇÕES HOMOGÊNEAS 528<br />

= π ·f(y) 2 ·y ′ (t).<br />

Então a altura em cada instante do líquido satisfaz a seguinte equação separável:<br />

Suponha agora que<br />

Então a equação anterior vira:<br />

que é constante.<br />

Tomando<br />

temos<br />

y ′ (t) = −A·√ 2gy<br />

π ·f(y) 2 .<br />

x = f(y) = 4√ y ou seja y = x 4 .<br />

y ′ (t) ≡ − A·√2g ,<br />

π<br />

A =<br />

π<br />

A· √ 2g ,<br />

y(t) = y(0)−t<br />

e portanto a altura y(t) serve como relógio para marcar o tempo ! Esses relógios <strong>de</strong><br />

água se chamam clepsidras.<br />

6. Equações homogêneas<br />

As equações<br />

y ′ (x) = F(x,y)<br />

em que a função F tem a proprieda<strong>de</strong><br />

F(x,y) = F(t·x,t·y),∀t<br />

são chamadas <strong>de</strong>4 homogêneas <strong>de</strong> grau 0.<br />

Essas equações são resolvidas associando-se a elas uma equação separável.<br />

posso dizer então que:<br />

Isso se faz do seguinte modo: tomando o t particular t = 1<br />

x<br />

chamando u := y<br />

x .<br />

Temos u(x) = y(x)<br />

x<br />

e <strong>de</strong>rivando:<br />

y ′ (x) = F(x,y) = F( 1<br />

x<br />

, ou seja,<br />

·x, 1<br />

x<br />

u(x)·x = y(x)<br />

y<br />

·y) = F(1, ) =: F(1,u),<br />

x<br />

u ′ (x)·x+u(x) = y ′ (x) = F(1,u).<br />

O que produz a equação separável nas variáveis u e x:<br />

Essas já sabemos resolver !<br />

u ′ (x) = F(u)−u(x)<br />

.<br />

x<br />

Um Exemplo que me pareceu interessante.<br />

4 Em geral diz-se que F(x,y) é homogênea <strong>de</strong> grau d se F(t·x,·y) = t d ·F(x,y).


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 529<br />

No Exercício 10.8 - Capítulo 11 (resolvido) dávamos (A,B) no primeiro quadrante<br />

e uma reta y = ax (com 0 < aA < B). Perguntamos qual a reta por (A,B) que<br />

formava um triângulo <strong>de</strong> menor área com o eixo dos y > 0. A figura ilustra o<br />

problema:<br />

y<br />

(A,B)<br />

Na resolução vimos que o coeficiente angular da reta apropriada é:<br />

λ = 2Aa−B<br />

.<br />

A<br />

Agora posso perguntar: qual gráfico y = f(x) contendo (A,B) tem a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

que:<br />

f ′ (x) = 2xa−y<br />

x<br />

e portanto tem retas tangentes que formam em cada ponto triângulos <strong>de</strong> menor área<br />

com o eixo y > 0 e a reta y = ax.<br />

Ora, essa equação diferencial é homogênea. Portanto recai na equação separável:<br />

ou seja,<br />

Notando que u−a = y<br />

x<br />

u ′ (x) = 2a−u(x)−u(x)<br />

x<br />

y = a x<br />

x<br />

= 2a−2·u(x)<br />

, u(x) :=<br />

x<br />

y<br />

x ,<br />

1<br />

2 · u′ (x)<br />

= −1<br />

u(x)−a x .<br />

−a > 0 para que se formem realmente triângulos obtemos:<br />

1<br />

·ln(u(x)−a) = −ln(x)+C,<br />

2<br />

on<strong>de</strong> a constante C fica <strong>de</strong>terminanda pela condição B = y(A), ou seja u(A) = B<br />

A .<br />

Toemando exponencial e elevando ao quadrado obtenho:<br />

ou seja:<br />

u(x) = (B<br />

A −a)<br />

y = (B<br />

A −a)<br />

A2 · 1<br />

+a,<br />

x2 A2 · 1<br />

x +a·x.<br />

Há equações que apesar <strong>de</strong> não serem homogêneas <strong>de</strong> grau 0 po<strong>de</strong>m ser transformadas<br />

em equações homogêneas <strong>de</strong> grau 0, após mudança linear <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas.


7. EQUAÇÕES EXATAS 530<br />

Por Exemplo:<br />

y ′ (x) =<br />

ax+by +c<br />

, com x = 0 ea·e−d·b = 0.<br />

dx+ey +f<br />

Se c = f = 0 já estamos num caso <strong>de</strong> equação homogênea <strong>de</strong> grau 0, pois:<br />

at·x+bt·y<br />

dt·x+et·y<br />

= ax+by<br />

dx+ey<br />

y<br />

a+b· x =<br />

d+e· y.<br />

x<br />

Se c = 0 ou f = 0 faço as mudanças <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas:<br />

v = y −β e u = x−α<br />

on<strong>de</strong> ainda resta escolher quais serão os números α,β, mas pelo menos já temos:<br />

dv dy<br />

=<br />

du dx ,<br />

pois pela regra da composta escrita na notação <strong>de</strong> Leibniz:<br />

Ou seja,<br />

dv<br />

du<br />

dv<br />

du<br />

= ax+by +c<br />

dx+ey +f<br />

= au+bv +c+a·α+b·β<br />

dv dy dx<br />

= · ·<br />

dy dx du<br />

= 1· dy<br />

dx ·1.<br />

= a·(u+α)+b·(v +β)+c<br />

d·(u+α)+e·(v +β)+f =<br />

du+ev +f +d·α+e·β<br />

e aí vemos que precisamos escolher α,β para que tenhamos:<br />

c+a·α+b·β = 0 e f +d·α+e·β = 0,<br />

ou seja, precisamos resolver o sistema linear não homogêneo (já que c = 0 ou f = 0):<br />

a·α+b·β = −c<br />

d·α+e·β = −f<br />

Pela regra <strong>de</strong> Cramer tudo que precisamos é a condição: a·e−d·b = 0.<br />

Com as soluções α,β <strong>de</strong>sse sistema conseguimos uma equação homogênea, que já<br />

sabemos resolver.<br />

7. Equações exatas<br />

As equações separáveis e algumas outras equações diferenciais que vimos recaem<br />

em situações do tipo:<br />

dU(x,y(x))<br />

= C<br />

dx<br />

e daí as resolvemos como U(x,y(x)) = C ·x+D.


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 531<br />

Definição 7.1. Uma equação y ′ (x) = F(x,y) é exata se po<strong>de</strong> ser escrita como:<br />

F1(x,y)·y ′ (x)+F2(x,y) = C<br />

on<strong>de</strong> F1(x,y),F2(x,y) são contínuas em U e verificam<br />

F1(x,y)·y ′ (x)+F2(x,y) = dU(x,y(x))<br />

dx<br />

para alguma função U(x,y) <strong>de</strong>finida em U, cujas <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> primeira e<br />

segunda or<strong>de</strong>m são contínuas.<br />

Afirmação 7.1. Seja a equação<br />

com (x,y) numa região U do plano.<br />

i) se é uma equação exata então:<br />

F1(x,y)·y ′ (x)+F2(x,y) = C<br />

∂F1(x,y)<br />

∂x<br />

ii) em U = R 2 \{(0,0)} a equação<br />

x<br />

x 2 +y 2 ·y′ (x)−<br />

= ∂F2(x,y)<br />

.<br />

∂y<br />

y<br />

x2 = 0<br />

+y2 verifica<br />

x ∂( x2 +y2) =<br />

∂x<br />

∂(− y<br />

x2 +y2) .<br />

∂y<br />

mas no entanto não é exata.<br />

iii) se [a,b]×[c,d] é um retângulo fechado está contido em U, então a condição<br />

∂F1(x,y)<br />

∂x<br />

= ∂F2(x,y)<br />

∂y<br />

em U é suficiente para que F1(x,y)·y ′ (x)+F2(x,y) = C seja exata. A<strong>de</strong>mais, po<strong>de</strong>mos<br />

tomar<br />

U(x,y) :=<br />

x<br />

a<br />

F2(t,c)dt+<br />

para que dU(x,y(x))<br />

dx = F1(x,y)·y ′ (x)+F2(x,y).<br />

Demonstração.<br />

y<br />

c<br />

F1(x,t)dt<br />

De i):<br />

Se existe uma função U(x,y) para a qual na região U:<br />

F1(x,y)·y ′ (x)+F2(x,y) = dU(x,y(x))<br />

,<br />

dx<br />

então isso quer dizer pela regra da composta que:<br />

∂U(x,y(x))<br />

∂y<br />

= F1(x,y) e<br />

∂U(x,y(x))<br />

∂x<br />

= F2(x,y).


7. EQUAÇÕES EXATAS 532<br />

Como as <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> primeira e segunda or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> U(x,y) são supostas<br />

contínuas, po<strong>de</strong>mos usar o Lema <strong>de</strong> Schwartz, que garante que as <strong>de</strong>rivadas parciais<br />

<strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da or<strong>de</strong>m em que <strong>de</strong>rivamos, ou seja:<br />

Portanto:<br />

∂ 2 U(x,y)<br />

∂x∂y = ∂2 U(x,y)<br />

∂y∂x .<br />

∂F1(x,y)<br />

∂x<br />

= ∂F2(x,y)<br />

.<br />

∂y<br />

De ii):<br />

Não po<strong>de</strong>rei dar todos os <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong>sta prova, que exigiria mais técnica, mas<br />

posso dar uma boa idéia <strong>de</strong> por quê essa equação não é exata.<br />

Temos que U = R 2 \ {(0,0)} é o plano menos a origem. Nesse U é que vamos<br />

consi<strong>de</strong>rar a equação:<br />

Note que<br />

∂F1(x,y)<br />

∂x<br />

x<br />

x2 +y2 ·y′ y<br />

(x)−<br />

x2 = 0.<br />

+y2 = 1·(x2 +y 2 )−x·(2x)<br />

(x 2 +y 2 ) 2<br />

= −x2 +y 2<br />

(x 2 +y 2 ) 2,<br />

∂F2(x,y)<br />

=<br />

∂y<br />

(−1)·(x2 +y2 )+y ·(2y)<br />

(x2 +y2 ) 2 = −x2 +y2 (x2 +y2 ) 2.<br />

Consi<strong>de</strong>re um ponto P = (x,y) <strong>de</strong> U e escolha <strong>de</strong>ntre os possíveis valores θ+k·2π,<br />

k ∈ Z um θ(x,y) para medir o ângulo anti-horário que P = (x,y) forma com o eixo<br />

x > 0.<br />

Temos<br />

sin(θ(x,y)) =<br />

y<br />

x 2 +y 2<br />

e se supomos que θ(x,y) é uma função <strong>de</strong>rivável numa pequena região em torno <strong>de</strong><br />

P, teremos pela regra da composta:<br />

Como<br />

cos(θ(x,y))· ∂θ(x,y)<br />

∂y<br />

∂( √ y<br />

x2 +y2 =<br />

))<br />

=<br />

∂y<br />

cos(θ(x,y)) =<br />

= ∂sin(θ(x,y))<br />

∂y<br />

x 2<br />

(x 2 +y 2 ) 3<br />

2<br />

x<br />

x 2 +y 2 ,<br />

obtemos<br />

∂θ(x,y) x<br />

=<br />

∂y x2 +y2. De modo completamente análogo obteremos:<br />

∂θ(x,y)<br />

∂x<br />

= −y<br />

x 2 +y 2.<br />

.<br />

=


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 533<br />

Ou seja, que a função U(x,y) <strong>de</strong>finida em U que buscamos (contínua, <strong>de</strong>rivável, etc)<br />

seria essencialmente uma estensão <strong>de</strong>ssa θ(x,y) a toda a regio U.<br />

Mas se po<strong>de</strong> mostrar que essa estensão é impossível, pelo fato <strong>de</strong> U ser uma região<br />

em torno da origem: pense em um círculo em torno da origem, como po<strong>de</strong>ríamos<br />

medir ângulos quando damos voltas nesse círculo ? Isso levaria a mais <strong>de</strong> um valor<br />

<strong>de</strong> ângulo para cada ponto (θ +k ·2π, k ∈ Z) e portanto U(x,y) = θ(x,y) não seria<br />

uma verda<strong>de</strong>ira função bem <strong>de</strong>finida,<br />

De iii):<br />

A expressão<br />

U(x,y) :=<br />

x<br />

a<br />

F2(t,c)dt+<br />

y<br />

c<br />

F1(x,t)dt<br />

faz sentido no retângulo [a,b]×[c,d] e cada integral existe pois F1 e F2 são funções<br />

contínuas.<br />

Como x<br />

a F2(t,c)dt não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> y,<br />

Pelo Primeiro Teorema Fundamental:<br />

Portanto<br />

∂( x<br />

a F2(t,c)dt)<br />

= 0.<br />

∂y<br />

∂( y<br />

c F1(x,t)dt)<br />

∂y<br />

∂U(x,y)<br />

∂y<br />

= F1(x,y).<br />

= F1(x,y).<br />

Queremos agora <strong>de</strong>rivar U(x,y) em x e em y. Para isso algumas observações são<br />

importantes.<br />

Usando o Primeiro Teorema Fundamental sabemos que<br />

∂( x<br />

a F2(t,c)dt)<br />

= F2(x,c).<br />

∂x<br />

Mas como <strong>de</strong>rivar y<br />

c F1(x,t)dt em relação a x ?<br />

Notequexfunciona comoumparâmetro paraasdiferentes integrais y<br />

c F1(x,t)dt,<br />

ou seja, há uma aplicação:<br />

x ∈ [a,b] ↦→<br />

y<br />

c<br />

F1(x,t)dt<br />

e não está claro como <strong>de</strong>rivá-la em x.<br />

Explicaremos na Seção 9 que, nas condições em que estamos, po<strong>de</strong>mos afirmar:<br />

∂( y<br />

c F1(x,t)dt)<br />

∂x<br />

=<br />

y<br />

c<br />

∂F1(x,t)<br />

∂x<br />

ou seja, que a <strong>de</strong>rivada passa sob o sinal da integral.<br />

dt,


8. INTEGRAL AO LONGO DE UM CAMINHO 534<br />

Tendo isso, veja agora o que se obtêm usando a hipótese<br />

∂F1(x,y)<br />

∂x<br />

e o Primeiro Teorema Fundamental:<br />

como queríamos.<br />

∂U(x,y)<br />

∂x<br />

= F2(x,c)+<br />

= F2(x,c)+<br />

y<br />

c<br />

= ∂F2(x,y)<br />

∂y<br />

y<br />

c<br />

∂F2(x,t)<br />

∂y<br />

∂F1(x,t)<br />

∂x<br />

dt =<br />

= F2(x,c)+[F2(x,y)−F2(x,c)] =<br />

= F2(x,y)<br />

dt =<br />

8. Integral ao longo <strong>de</strong> um caminho<br />

Seja Γ(t) = (x(t),y(t)), com t ∈ [A,B] uma curva parametrizada e <strong>de</strong>rivável, no<br />

mesmo sentido do Capítulo 28.<br />

Então <strong>de</strong>fino a integral ao longo da curva Γ por<br />

<br />

B<br />

F1(x,y)dy+F2(x,y)dx :=<br />

Γ<br />

A<br />

[F1(x(t),y(t))·y ′ (t)+F2(x(t),y(t))·x ′ (t)]dt.<br />

Se Γ é uma união <strong>de</strong> um número finito <strong>de</strong> curvas <strong>de</strong>riváveis então <strong>de</strong>fino a integral<br />

ao longo <strong>de</strong> Γ como soma <strong>de</strong> integrais.<br />

Afirmo que a integral<br />

x<br />

a<br />

F2(t,c)dt+<br />

y<br />

c<br />

F1(x,t)dt<br />

que aparece no item iii) da Afirmação 7.1 é uma integral ao longo <strong>de</strong> uma linha<br />

quebrada Γ.<br />

De fato, fixado o ponto (x,y), então Γ po<strong>de</strong> ser parametrizada por<br />

da seguinte forma:<br />

t ∈ [a,x]∪[c,y]<br />

Γ(t) = (t, c), se t ∈ [a,x]<br />

Γ(t) = (x, t), se t ∈ [c,y]<br />

Confira que Γ(a) = (a,c), Γ(x) = (x,c) = Γ(c) e Γ(y) = (x,y).<br />

A figura ilustra essa linha quebrada:


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 535<br />

(a,c)<br />

Então nessa linha quebrada:<br />

:=<br />

como afirmamos.<br />

<br />

Γ<br />

(x,y)<br />

(x,c)<br />

F1(x,y)dy +F2(x,y)dx :=<br />

x<br />

[F1(x(t),y(t))·y<br />

a<br />

′ (t)+F2(x(t),y(t))·x ′ (t)]dt+<br />

y<br />

+ [F1(x(t),y(t))·y<br />

c<br />

′ (t)+F2(x(t),y(t))·x ′ (t)]dt =<br />

=<br />

x<br />

a<br />

F2(t,c)dt+<br />

y<br />

c<br />

F1(x,t)dt,<br />

A Afirmação a seguir complementa o item iii) da Afirmação 7.1:<br />

Afirmação 8.1. Suponha que U é uma região do plano com a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

quaisquer dois <strong>de</strong> seus pontos possam ser ligados por alguma curva parametrizada<br />

<strong>de</strong>rivável.<br />

Se a equação<br />

F1(x,y)·y ′ (x)+F2(x,y) = C<br />

com (x,y) numa região U do plano é uma equação exata então<br />

<br />

Γ<br />

F1(x,y)dy+F2(x,y)dx<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da curva parametrizada Γ ⊂ U que liga (a,c) a (x,y). Ou seja, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

apenas dos pontos iniciais e finais.


9. DERIVADA DA INTEGRAL EM RELAÇÃO AO PARÂMETRO -<br />

FÓRMULAS DE LEIBNIZ 536<br />

<br />

(a,c)<br />

(x,y)<br />

(x,c)<br />

Figura: A linha quebrada <strong>de</strong> antes e outra curva ligando (a,c) a (x,y).<br />

Demonstração.<br />

Γ<br />

F1(x,y)dy +F2(x,y)dx :=<br />

=<br />

B<br />

A<br />

[ ∂U(x(t),y(t))<br />

∂y<br />

=<br />

B<br />

[F1(x(t),y(t))·y<br />

A<br />

′ (t)+F2(x(t),y(t))·x ′ (t)]dt =<br />

B<br />

A<br />

·y ′ (t)+ ∂U(x(t),y(t))<br />

∂x<br />

dU(x(t),y(x(t)))<br />

dt<br />

= U(B)−U(A),<br />

dt =<br />

·x ′ (t)]dt =<br />

on<strong>de</strong> após a <strong>de</strong>finição, usamos que a equação é exata, <strong>de</strong>pois a regra da <strong>de</strong>rivada da<br />

composta 5 , e por último usamos o Teorema Fundamental do Cálculo.<br />

<br />

9. Derivada da integral em relação ao parâmetro - Fórmulas <strong>de</strong> Leibniz<br />

Afirmação 9.1. Seja F(x) := b<br />

f(t,x)dt uma integral <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> um parâmetro<br />

a<br />

x ∈ [c,d] (intervalo fechado), on<strong>de</strong> os limites <strong>de</strong> integração a,b não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> x.<br />

Suponha que existe ∂f<br />

e que a função<br />

∂x<br />

∂f<br />

∂x<br />

seja contínua (ver Def. 15.1).<br />

Então:<br />

∂F<br />

∂x = ∂ b<br />

a f(t,x)dt<br />

∂x<br />

5 Para funções <strong>de</strong> duas variáveis<br />

: [a,b]×[c,d] → R<br />

=<br />

b<br />

a<br />

∂f(t,x)<br />

∂x<br />

dt.


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 537<br />

Demonstração.<br />

Queremos provar que para cada x:<br />

Ou seja, queremos ver se<br />

b<br />

∂F<br />

(x) =<br />

∂x<br />

b<br />

a<br />

∂f(t,x)<br />

(x)dt.<br />

∂x<br />

∂f(t,x) F(x+h)−F(x)<br />

(x)dt = lim :=<br />

a ∂x h→0 h<br />

b<br />

a := lim<br />

h→0<br />

f(t,x+h)dt− b<br />

a f(t,x)dt<br />

.<br />

h<br />

Para cada h posso escrever:<br />

b<br />

a f(t,x+h)dt− b<br />

a f(t,x)dt<br />

b<br />

f(t,x+h)−f(t,x)<br />

=<br />

dt<br />

h<br />

a h<br />

O que queremos saber é, finalmente, se dado ǫ > 0 existe δ (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> ǫ e <strong>de</strong> x<br />

possivelmente) tais que:<br />

b<br />

f(t,x+h)−f(t,x)<br />

|h| < δ ⇒ |<br />

a h<br />

Vejamos como <strong>de</strong>terminar esse δ. Temos<br />

|<br />

b<br />

a<br />

f(t,x+h)−f(t,x)<br />

dt−<br />

h<br />

b<br />

dt−<br />

b<br />

a<br />

b<br />

a<br />

∂f(t,x)<br />

(x)dt| < ǫ.<br />

∂x<br />

∂f(t,x)<br />

(x)dt| =<br />

∂x<br />

= | (<br />

a<br />

f(t,x+h)−f(t,x)<br />

−<br />

h<br />

∂f(t,x)<br />

(x))dt| ≤<br />

∂x<br />

b<br />

≤ |<br />

a<br />

f(t,x+h)−f(t,x)<br />

−<br />

h<br />

∂f(t,x)<br />

(x)|dt.<br />

∂x<br />

O Teorema do Valor Médio <strong>de</strong> Lagrange no6 intervalo [x,x+h] dá que:<br />

f(t,x+h)−f(t,x)<br />

=<br />

h<br />

∂f(t,x)<br />

(x+τ ·h), para algum 0 < τ < 1.<br />

∂x<br />

Portanto:<br />

b<br />

|<br />

a<br />

f(t,x+h)−f(t,x)<br />

−<br />

h<br />

∂f(t,x)<br />

b<br />

(x)|dt = |<br />

∂x a<br />

∂f(t,x)<br />

(x+τ ·h)−<br />

∂x<br />

∂f(t,x)<br />

(x)|dt.<br />

∂x<br />

Por hipótese<br />

∂f(t,x)<br />

: [a,b]×[c,d] → R<br />

∂x<br />

é contínua e<br />

||(t,x+τ ·h)−(t,x)|| ≤ |h|.<br />

Portanto pela Afirmação 15.1 existe δ tal que<br />

|h| < δ ⇒ | ∂f(t,x)<br />

∂x<br />

(x+τ ·h)− ∂f(t,x)<br />

(x)| <<br />

∂x<br />

ǫ<br />

b−a<br />

6 para simplificar a exposição, me restrinjo a consi<strong>de</strong>rar h > 0, mas o caso h < 0 é análogo.


9. DERIVADA DA INTEGRAL EM RELAÇÃO AO PARÂMETRO -<br />

FÓRMULAS DE LEIBNIZ 538<br />

e portanto<br />

como queríamos.<br />

Exemplo:<br />

Seja:<br />

e portanto<br />

|h| < δ ⇒<br />

F(x) :=<br />

b<br />

a<br />

1<br />

0<br />

| ∂f(t,x)<br />

∂x<br />

e x·t dt = ex·t<br />

x<br />

F ′ (x) = ex<br />

x<br />

Por outro lado,<br />

1<br />

∂e<br />

0<br />

x·t<br />

dt =<br />

∂x<br />

e integrando por partes se obtêm:<br />

1<br />

0<br />

(x+τ ·h)− ∂f(t,x)<br />

(x)|dt < ǫ<br />

∂x<br />

ex·t ex 1<br />

(1)− (0) = −<br />

x x x<br />

ex 1<br />

− +<br />

x2 x2. 1<br />

0<br />

e x·t ·tdt<br />

e x·t ·tdt = ( ex·t<br />

x ·t)(1)−(ex·t<br />

x ·t)(0)−<br />

1<br />

0<br />

e x·t<br />

x<br />

·1dt =<br />

= ex ex 1<br />

− +<br />

x x2 x2. A Afirmação anterior 9.1 admite uma versão mais geral, que menciono agora, mas<br />

que ainda não provo:<br />

Afirmação 9.2. Seja F(x) := b(x)<br />

f(t,x)dtuma integral<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<strong>de</strong> um parâmetro<br />

a(x)<br />

x ∈ [c,d] (intervalo fechado), on<strong>de</strong> os limites <strong>de</strong> integração a(x) e b(x) são funções<br />

<strong>de</strong>riváveis <strong>de</strong> x.<br />

Suponha que existe ∂f<br />

∂x<br />

seja contínua (ver Def. 15.1).<br />

Então:<br />

∂F<br />

∂x<br />

Por exemplo, se<br />

e que a função<br />

∂f<br />

∂x<br />

: [a,b]×[c,d] → R<br />

db(x)<br />

=<br />

dx ·f(t,x)|t=b(x) − da(x)<br />

dx ·f(t,x)|t=a(x)<br />

b(x)<br />

∂f(t,x)<br />

+ dt.<br />

a(x) ∂x<br />

F(x) =<br />

x<br />

0<br />

e t−x ·tdt,<br />

então, pondo a(x) ≡ 0 e b(x) = x, teremos pela Afirmação 9.2:<br />

F ′ (x) = 1·(e t−x ·t)t=x −0·(e t−x ·t)t=0 +<br />

x<br />

0<br />

(−e t−x ·t)dt =


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 539<br />

= x−<br />

x<br />

0<br />

e t−x ·tdt.<br />

Mas neste exemplo simples também se po<strong>de</strong> fazer a conta diretamente, pois:<br />

F(x) =<br />

x<br />

0<br />

e t−x ·tdt = e −x ·<br />

x<br />

0<br />

e t ·tdt<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong>, pela regra do produto e pelo Teorema Fundamental:<br />

A equação<br />

F ′ (x) = −e −x x<br />

·<br />

0<br />

e t ·tdt+e −x ·e x ·x = x−<br />

10. Fatores integrantes<br />

x 2 ·y ′ (x)+(1−x 2 )·y 2<br />

x<br />

0<br />

e t−x ·tdt.<br />

não é exata, já que<br />

∂x2 ∂x = ∂((1−x2 )·y 2 )<br />

.<br />

∂y<br />

(item i) da Afirmação 7.1).<br />

Mas se multiplico a equação toda por:<br />

µ(x,y) := 1<br />

x2 ·y2, x·y = 0,<br />

então a nova equação:<br />

1<br />

y2 ·y′ (x)+ 1<br />

−1 = 0<br />

x2 verifica<br />

∂( 1<br />

y2) 1 ∂( x ≡ 0 ≡<br />

∂x 2 −1)<br />

.<br />

∂y<br />

Logo o item iii) da Afirmação 7.1 me diz que essencialmente o que tenho que fazer<br />

é <strong>de</strong>finir: x y<br />

1 1 1 1<br />

U(x,y) = −1dt+ dt = x− −<br />

a t2 c t2 x y +C1<br />

e que a solução geral é:<br />

−x− 1 1<br />

− = C.<br />

x y<br />

Para reforçar isso, note que se U(x,y(x)) ≡ C, então<br />

0 = dU(x,y(x))<br />

dx<br />

e como µ(x,y) ≡ 0, então<br />

= µ(x,y)·[x 2 ·y ′ (x)+(1−x 2 )·y 2 ],<br />

U(x,y(x)) ≡ C<br />

são as soluções <strong>de</strong> x 2 ·y ′ (x)+(1−x 2 )·y 2 ≡ 0<br />

Pondo y = y(x) temos<br />

y =<br />

1<br />

−C −x− 1<br />

x<br />

=<br />

x<br />

−C ·x−x 2 −1 =<br />

−x<br />

C ·x+x 2 +1 .


10. FATORES INTEGRANTES 540<br />

A solução y ≡ 0 <strong>de</strong> x 2 ·y ′ (x)+(1−x 2 )·y 2 = 0 se per<strong>de</strong>u no caminho, pois quando<br />

usei µ(x,y) supus que y = 0. Por isso adjunto às soluções<br />

−x<br />

y =<br />

C ·x+x 2 +1<br />

a solução y = 0.<br />

O campo <strong>de</strong> direções para<br />

1<br />

y2 ·y′ (x)+ 1<br />

−1 = 0<br />

x2 é esboçado na Figura a seguir, com x ∈ [0.5,5] e y = [−0.5,0.5]<br />

y(x)<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

-0,2<br />

-0,4<br />

Algumas curvas integrais<br />

−x<br />

y =<br />

C ·x+x 2 +1<br />

são esboçadas na Figura a seguir, para x ∈ [0.5,5]:<br />

0<br />

-0,1<br />

-0,2<br />

-0,3<br />

-0,4<br />

-0,5<br />

1<br />

2<br />

1 2<br />

3<br />

4<br />

x<br />

x<br />

3<br />

4<br />

5<br />

5


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 541<br />

Em geral achar um fator ntegrante µ(x,y) <strong>de</strong> um tipo bem geral é um problema<br />

difícil, pois temos <strong>de</strong> resolver equações a <strong>de</strong>rivadas parciais para encontrá-lo.<br />

A tentativa mais otimista é buscar fatores integrantes que só <strong>de</strong>pendam <strong>de</strong> uma<br />

variável, ou seja µ = µ(x) ou µ = µ(y).<br />

Se não <strong>de</strong>r, buscar do tipo µ(x,y) = x a · y b , on<strong>de</strong> os valores corretos <strong>de</strong> a,b se<br />

<strong>de</strong>scobrem ao impôr-se:<br />

∂x a ·y b ·F2(x,y)<br />

∂x<br />

o que produz um sistema <strong>de</strong> equações em a,b.<br />

= ∂xa ·yb ·F1(x,y)<br />

,<br />

∂y<br />

Exemplo:<br />

Consi<strong>de</strong>ro a equação:<br />

n<br />

n−1 ·x·y′ (x)+ n√ x+y = 0, n ∈ N, n ≥ 2<br />

para x = 0 e a<strong>de</strong>mais x > 0 se n é par.<br />

Essa equação não é exata. Multiplico-a por µ(x):<br />

n<br />

n−1 ·x·µ(x)·y′ (x)+µ(x)·( n√ x+y) = 0.<br />

e quero ter:<br />

µ ′ (x)·<br />

n<br />

n−1 ·x+µ(x)·<br />

n<br />

= µ(x),<br />

n−1<br />

ou seja, para µ(x) = 0:<br />

µ ′ (x)<br />

= −1<br />

µ(x) n<br />

Integrando e tomando exponencial obtenho:<br />

· 1<br />

x .<br />

µ(x) = e ln(x− 1 n) −<br />

= x 1<br />

n.<br />

1<br />

− Então multiplicada por µ(x) = x n a equação vira a nova equação exata:<br />

n<br />

n−1 ·xn−1 n ·y ′ (x)+1+x −1<br />

n ·y = 0, n ∈ N, n ≥ 2<br />

cuja solução geral é<br />

U(x,y) =<br />

x<br />

a<br />

(1+t<br />

− 1<br />

n ·c)dt+<br />

y<br />

c<br />

n<br />

n−1 ·xn−1 n dt =<br />

= x+ n<br />

n−1 ·xn−1 n ·c−C1 + n<br />

n−1 ·xn−1 n ·y − n<br />

n−1 ·xn−1 n ·c =<br />

ou seja, as soluções são:<br />

= x+ n<br />

n−1 ·xn−1 n ·y −C1,<br />

x+ n<br />

n−1 ·xn−1 n ·y = C1.<br />

O Exercício 16.1 no final do Capítulo consiste em encontrar fator integrante.


11. EQUAÇÕES IMPLÍCITAS, DISCRIMINANTES E ENVELOPES 542<br />

10.1. Fatores integrantes <strong>de</strong> equações lineares. Aqui quero lembrar que,<br />

no caso <strong>de</strong> equações diferenciais lineares, já tratamos <strong>de</strong> seus fatores integrantes na<br />

Seção 9. Mas po<strong>de</strong>mos retomar o que fizemos lá à luz <strong>de</strong>sta teoria mais geral 7 .<br />

Escrevo a equação linear como:<br />

e busco µ(x) tal que:<br />

ou seja,<br />

∂[µ(x)·1]<br />

∂x<br />

y ′ −a(x)y −b(x) = N ·y ′ +M = 0<br />

= ∂[µ(x)·(−a(x)y −b(x))]<br />

Tomo µ(x) = e −a(x)dx . Portanto<br />

e<br />

ou seja,<br />

e<br />

Portanto<br />

que também dá:<br />

<br />

U(x,y) =<br />

∂y<br />

<br />

µ(x)dy =<br />

∂U(x,y)<br />

∂x<br />

µ ′ (x) = −a(x)µ(x).<br />

= −µ(x)a(x),<br />

e −a(x)dx dy = e −a(x)dx ·y +h(x)<br />

= −a(x)·e −a(x)dx ·y +h ′ (x) =<br />

= µ(x)·(−a(x)y −b(x)) = e −a(x)dx ·(−a(x)y −b(x))<br />

h ′ (x) = −b(x)·e −a(x)dx<br />

<br />

h(x) = −<br />

U(x,y) = e −a(x)dx ·y −<br />

y = e <br />

a(x)dx<br />

·[<br />

b(x)·e −a(x)dx dx+C.<br />

<br />

b(x)·e −a(x)dx dx ≡ C,<br />

b(x)·e −a(x)dx dx+C].<br />

11. Equações implícitas, discriminantes e envelopes<br />

Nas Seções anteriores, para cada ponto <strong>de</strong> uma região U do plano está associado<br />

um valor <strong>de</strong> y ′ (x) através da expressão:<br />

y ′ (x) = F(x,y).<br />

A situação que trataremos agora é diferente, pois nela haverá pontos do plano (x,y)<br />

que não têm y ′ (x) associada, outros que têm um valor bem <strong>de</strong>finido e outros ainda<br />

têm dois valores possíveis !<br />

O Exemplo para começar é:<br />

na qual y ′ figura implicitamente.<br />

(y ′ ) 2 −4x·y ′ +4y = 0,<br />

7 Agra<strong>de</strong>ço ao estudante Luciano B. Barros por esta questão.


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 543<br />

Se pensamos nessa equação diferencial como uma equação quadrática usual na<br />

variável y ′ , então ela tem um discriminante:<br />

∆ := 16x 2 −4·1·(4y) = 16x 2 −16y,<br />

ou seja, se num ponto (x,y) do plano ∆ < 0 , não há y ′ associado; se ∆ = 0 há<br />

exatamente 1 valor y ′ associado e se ∆ > 0, então há duas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> y ′ .<br />

Note que ∆ = 0 equivale a termos y = x 2 , ou seja, são pontos <strong>de</strong> uma parábola.<br />

Quefamília<strong>de</strong>curvassatifazessaequaçãodiferencialimplícita(y ′ ) 2 −4x·y ′ +4y = 0<br />

? A família <strong>de</strong> retas tangentes à parabola y = x 2 , que vem a ser a família <strong>de</strong> retas:<br />

Note que y ′ (x) = 2c e portanto:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> sai:<br />

-1<br />

y = 2c·x−c 2 .<br />

y = y ′ ·x−( y′<br />

2 )2 ,<br />

(y ′ ) 2 −4x·y ′ +4y = 0.<br />

-0,5<br />

1<br />

0,5<br />

x<br />

0<br />

0<br />

-0,5<br />

-1<br />

-1,5<br />

-2<br />

-2,5<br />

Outro modo <strong>de</strong> se obter a parábola y = x 2 <strong>de</strong>sse Exemplo é eliminando-se c nas<br />

duas equações:<br />

y −2c·x+c 2 = 0 e<br />

0,5<br />

∂(y −2c·x+c 2 )<br />

= −2x+2c = 0,<br />

∂c<br />

pois a segunda dá c = x, que quando posto na primeira dá: y−2x 2 +x 2 = 0, ou seja<br />

y = x 2 .<br />

É esse o processo <strong>de</strong> eliminação do parâmetro c retomado na Definição a seguir:<br />

Definição 11.1. Consi<strong>de</strong>re uma família <strong>de</strong> curvas com equações F(x,y,c) = 0 <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

<strong>de</strong> um parâmetro c e que tenha ∂F<br />

∂c .<br />

A curva g(x,y) = 0 obtida por eliminação <strong>de</strong> c nas equações:<br />

F(x,y,c) = ∂F(x,y,c)<br />

= 0<br />

∂c<br />

é o envelope da família <strong>de</strong> curvas dada.<br />

1


11. EQUAÇÕES IMPLÍCITAS, DISCRIMINANTES E ENVELOPES 544<br />

Exemplo: Consi<strong>de</strong>re agora a família <strong>de</strong> retas ortogonais à parábola y = x 2 em<br />

pontos diferentes da origem, ou seja:<br />

y = −1<br />

2c ·x+c2 + 1<br />

, c = 0<br />

2<br />

que po<strong>de</strong> ser reeescrita (multiplicando por 2c) como:<br />

2c 3 +c−x−2c·y = 0<br />

Nesse caso,<br />

∂F(x,y,c)<br />

= 6c<br />

∂c<br />

2 +1−2y<br />

e o envelope da família surge <strong>de</strong> se eliminar c do seguinte modo (penso em c > 0):<br />

<br />

2y −1<br />

c = , 2y −1 > 0,<br />

6<br />

<br />

2y −1<br />

2·( )<br />

6<br />

3 <br />

2y −1<br />

+<br />

6 −x−2<br />

<br />

2y −1<br />

·y = 0<br />

6<br />

ou seja:<br />

<br />

2y −1 2y −1<br />

·(2· +1−2y)−x = 0,<br />

6 6<br />

ou seja:<br />

<br />

2y −1<br />

·(−<br />

6<br />

2<br />

·(2y −1)) = x<br />

3<br />

e<br />

− 2<br />

3 √ ·(2y −1)3 2 = x<br />

6<br />

ou seja:<br />

2<br />

27 (2y −1)3 = x 2 .<br />

Isso po<strong>de</strong> ser escrito como<br />

ou dividindo por 4:<br />

2·(1−2y) 3 +27·x 2 = 0<br />

) 3 +27·( x<br />

2 )2 = 0<br />

∆ := 4·( 1−2y<br />

2<br />

e veremos no Capítulo 32 que ∆ é o discriminante da equação cúbica na variável c:<br />

c 3 +c·( 1−2y<br />

)−<br />

2<br />

x<br />

2 = 0 ⇐⇒ 2c3 +c−x−2c·y = 0,<br />

on<strong>de</strong> (x,y) <strong>de</strong>vem ser pensados como coeficientes.<br />

A Figura a seguir ilustra o envelope 2·(1−2y) 3 +27·x 2 = 0 da família <strong>de</strong> retas<br />

ortogonais à parábola.


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 545<br />

Exemplo: A parábola <strong>de</strong> segurança 8<br />

-1<br />

y<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-0,5 0 0,5<br />

x<br />

Vimos na Afirmação 8.1 do Capítulo 35 que as trajetórias parabólicas <strong>de</strong> um<br />

projétil, que parte com velocida<strong>de</strong> escalar v0 e ângulo 0 < α <<br />

fracpi2 comv a horizontal, <strong>de</strong>screvem parábolas<br />

g<br />

y = −<br />

2·v 2 0 ·cos 2 (θ) ·x2 +tan(θ)·x.<br />

O envelope <strong>de</strong>ssa família serve para <strong>de</strong>terminar a região além da qual nenhum arremesso<br />

po<strong>de</strong> passar.<br />

Afirmo que esse envelope é a seguinte curva:<br />

y =<br />

(v0) 2<br />

2g<br />

g<br />

− ·x2<br />

2(v0) 2<br />

que também é uma parábola.<br />

Para obter a curva envelope <strong>de</strong>rivo a família<br />

em relação a θ obtendo:<br />

Então:<br />

e portanto<br />

H(x,y,θ) := y +<br />

8 Sugerido por Fábio Casula<br />

−<br />

g<br />

2·v 2 0 ·cos2 (θ) ·x2 −tan(θ)·x = 0<br />

g ·sin(θ)<br />

v 2 0 ·cos 3 (θ) +sec2 (θ)·x = 0<br />

− g ·tan(θ)·sec2 (θ)<br />

v 2 0<br />

tan(θ)·x = v2 0<br />

g<br />

= −sec 2 (θ)·x<br />

1


11. EQUAÇÕES IMPLÍCITAS, DISCRIMINANTES E ENVELOPES 546<br />

Substituindo esta expressão na família<br />

H(x,y,θ) = y + g<br />

2·v 2 0<br />

·(1+tan 2 (θ))·x 2 −tan(θ)·x = 0<br />

obtemos a parábola envelope.<br />

A Figura a seguir mostra para v0 = 1 e g = 10 algumas trajetórias parabólicas.<br />

Emvermelho a<strong>de</strong>alcancemáximo x = 1 π<br />

π<br />

, paraa = . Emazul, duascoma = 10 4 4 +0.2<br />

−0.2, que atingem o mesmo ponto. Em ver<strong>de</strong>, a parábola <strong>de</strong> segurança.<br />

e a = π<br />

4<br />

y<br />

0,05<br />

0,04<br />

0,03<br />

0,02<br />

0,01<br />

0<br />

0 0,02 0,04 0,06 0,08<br />

x<br />

Após termos <strong>de</strong>senvolvido melhor a noção <strong>de</strong> discriminante, veremos no Capítulo<br />

33 que há uma via <strong>de</strong> duas mãos entre envelopes <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> retas e discriminantes<br />

<strong>de</strong> polinômios.<br />

Vimos na seção 3 do Capítulo 15 que a reta tangente à curva F(x,y) = 0 no ponto<br />

(x,y) é dada por:<br />

∂F(x,y)<br />

∂x<br />

·(x−x)+ ∂F(x,y)<br />

∂y<br />

0,1<br />

·(y −y) = 0.<br />

Da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> vetor tangente Γ ′ (t) = (x ′ (t),y ′ (t)) a uma curva parametrizada<br />

Γ dada na Seção 3 do Capítulo 28 e das explicações que <strong>de</strong>mos lá, segue que Γ é<br />

tangente a F(x,y) = 0 quando:<br />

∂F(x(t),y(t))<br />

∂x<br />

·x ′ (t)+ ∂F(x(t),y(t))<br />

∂y<br />

·y ′ (t) = 0.


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 547<br />

Diremos que uma curva F(x,y) = 0 é não-singular se em cada ponto da curva estiver<br />

<strong>de</strong>finida sua reta tangente. Portanto isso equivale a que não aconteça a anulação<br />

simultânea <strong>de</strong> ∂F(x,y)<br />

∂x e <strong>de</strong> ∂F(x,y)<br />

∂y em nenhum ponto da curva F(x,y) = 0.<br />

Afirmação 11.1. Seja F(x,y,c) = 0 uma família <strong>de</strong> curvas com um parâmetro<br />

c ∈ J, on<strong>de</strong> J é um intervalo. Suponha que para cada c a curva F(x,y,c) = 0 é<br />

não-singular. Suponha que, a<strong>de</strong>mais das <strong>de</strong>rivadas ∂F(x,y,c)<br />

e ∂x ∂F(x,y,c)<br />

, esteja também<br />

∂y<br />

<strong>de</strong>finida a <strong>de</strong>rivada ∂F(x,y,c)<br />

. Seja ∂c<br />

Γ : I → R 2 , Γ(t) = (x(t),y(t))<br />

uma curva parametrizada, <strong>de</strong>rivável, on<strong>de</strong> I é intervalo.<br />

Suponha que para parâmetro c exista um valor bem <strong>de</strong>terminado <strong>de</strong> t, chamado<br />

<strong>de</strong> t(c), tal que Γ é tangente à curva F(x,y,c) = 0 no ponto Γ(t(c)). E suponha que<br />

essa função t = t(c) seja <strong>de</strong>rivável.<br />

Então Γ está contida no envelope da família F(x,y,c) = 0.<br />

Demonstração.<br />

Como Γ(t(c)) é tangente à curva F(x,y,c) = 0 no ponto<br />

Γ(t(c)) = (x(t(c)),y(t(c))) = (x(c),y(c)),<br />

em particular temos:<br />

F(x(c),y(c),c) ≡ 0, ∀c ∈ J.<br />

Como t = t(c), x(t) e y(t) são <strong>de</strong>riváveis, então por composição x(t(c)) = x(c) e<br />

y(t(c)) = y(c) também o são. Chamando<br />

φ(c) = F(x(c),y(c),c) ≡ 0<br />

obtemos <strong>de</strong>rivando-a9 :<br />

0 ≡ φ ′ (c) =<br />

= ∂F(x(c),y(c),c)<br />

·x<br />

∂x<br />

′ (c)+ ∂F(x(c),y(c),c)<br />

·y<br />

∂y<br />

′ (c)+ ∂F(x(c),y(c),c)<br />

.<br />

∂c<br />

Segue do que vimos na seção 3 do Capítulo 15 que o fato <strong>de</strong> Γ ser tangente à<br />

família em F(x,y,c) = 0 se escreve, para cada c, como:<br />

∂F(x(c),y(c),c)<br />

∂x<br />

Concluímos <strong>de</strong> 0 ≡ φ ′ (c) que:<br />

·x ′ (c)+ ∂F(x(c),y(c),c)<br />

∂y<br />

·y ′ (c) ≡ 0.<br />

0 ≡ ∂F(x(c),y(c),c)<br />

.<br />

∂c<br />

Ou seja que Γ está contida na curva envelope, pois essa está <strong>de</strong>finido por:<br />

F(x,y,c) = ∂F(x,y,c)<br />

∂c<br />

= 0.<br />

9 E usando uma versão da regra da composta para funções <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma variável


12. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 5, 1942 548<br />

12. Um problema da Putnam Competition, n. 5, 1942<br />

Problema: Consi<strong>de</strong>re a família <strong>de</strong> parábolas com um parâmetro c:<br />

y = c3<br />

3 ·x2 + a2<br />

2 ·x−2c.<br />

i) <strong>de</strong>termine o lugar geométrico dos vértices.<br />

ii) <strong>de</strong>termine o envelope da família<br />

iii) esboce o envelope e dois elementos típicos da família.<br />

Solução:<br />

De i): para encontrar o lugar geométrico dos vértices, farei primeiro a suposição<br />

adicional <strong>de</strong> que<br />

c > 0<br />

e <strong>de</strong>pois discutirei o que acontece para c < 0.<br />

Com c > 0 posso escrever:<br />

ou seja:<br />

= (<br />

y = c3<br />

3 ·x2 + c2<br />

·x−2c =<br />

2<br />

√ √<br />

c3 3<br />

√ ·x+<br />

3 4 ·√c) 2 −2c− 3<br />

·c =<br />

42 √ √<br />

c3 3<br />

= ( √ ·x+<br />

3 4 )2 − 35<br />

16 ·c,<br />

√ √<br />

c3 3<br />

√ ·x+<br />

3 4 )2 .<br />

y + 35<br />

·c = (<br />

16<br />

Então os vértices das parábolas são os pontos:<br />

(x,y) = (− 3 1<br />

· , −35<br />

4 c 16 ·c).<br />

Esses pontos satisfazem:<br />

x·y = 3 35<br />

·<br />

4 16<br />

e isso é uma hipérbole. O ramo <strong>de</strong>ssa hipérbole que tem x < 0 e y < 0 <strong>de</strong>screve o<br />

lugar dos vértices <strong>de</strong> y = c3<br />

3 ·x2 + c2<br />

·x−2c para c > 0, já que todas elas cortam o<br />

2<br />

eixo dos y em pontos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas negativas.<br />

Já o ramo da hipérbole com x > 0 e y > 0 <strong>de</strong>screve os vértices das parábolas<br />

·x−2c para c < 0.<br />

y = c3<br />

3 ·x2 + c2<br />

2<br />

De ii): O envelope satisfaz:<br />

y = c3<br />

3 ·x2 + c2<br />

2 ·x−2c e 0 = c2 ·x 2 +c·x−2.<br />

Suponha por um momento que c > 0 e que x > 0 e resolva<br />

c 2 ·x 2 +c·x−2 = 0


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 549<br />

como equação quadrática on<strong>de</strong> c é a variável e x é fixado. Então:<br />

e note que c = 1<br />

x<br />

também para x < 0.<br />

Substituindo c = 1<br />

x<br />

c = −x+ x 4 −4·x 2 ·(−2)<br />

2x 2<br />

é solução <strong>de</strong><br />

c 2 ·x 2 +c·x−2 = 0<br />

= 2x 1<br />

=<br />

2x2 x ,<br />

c3 em y = 3 ·x2 + c2 ·x−2c e simplificando obtemos:<br />

2<br />

y = − 7 1<br />

·<br />

6 x ,<br />

que vem a ser o envelope ∆ = 0.<br />

De iii): consi<strong>de</strong>rando c = 1 e c = −1 por exemplo o aspecto típico é esboçado<br />

na Figura a seguir, on<strong>de</strong> em ver<strong>de</strong> está lugar dos vértices V e em vermelho o envelope<br />

da família <strong>de</strong> cônicas:<br />

c > 0<br />

∆<br />

V<br />

y<br />

Consegui <strong>de</strong>pois fazer no Maple uma figura mais realista, porém restrita a pequenas<br />

regiões do plano, <strong>de</strong>ssa família:<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

0,1 0,2<br />

0,3<br />

x<br />

V<br />

∆<br />

0,4<br />

0,5<br />

c < 0<br />

0,6<br />

x


13. EQUAÇÕES DE CLAIRAUT E DE LAGRANGE: ISÓCLINAS RETAS 550<br />

-0,6<br />

-0,5 -0,4 -0,3<br />

x<br />

A primeira figura é para x > e a segunda para x < 0, on<strong>de</strong> se vê parte da curva<br />

em vermelho.<br />

envelope y = − 7<br />

6<br />

· 1<br />

x<br />

-0,2<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-0,1<br />

13. Equações <strong>de</strong> Clairaut e <strong>de</strong> Lagrange: isóclinas retas<br />

Lagrange10 consi<strong>de</strong>rou o problema seguinte: resolver as equações diferencias <strong>de</strong><br />

primeira or<strong>de</strong>m tais que as curvas isóclinas são todas retas.<br />

Em suma, já que as isóclinas surgem <strong>de</strong> fixarmos dy<br />

= C, trata-se do problema<br />

dx<br />

<strong>de</strong> resolver equações diferenciais da forma:<br />

y = a(p)·x+b(p), on<strong>de</strong> p := dy<br />

dx .<br />

Precisamos nos acostumar a distinguir entre o subconjunto <strong>de</strong> pontos do plano<br />

<strong>de</strong>terminadoporumacurva-otraço dacurva-easdiferentesmaneirascomopo<strong>de</strong>mos<br />

percorrer esse subconjunto - as diferentes parametrizações. A idéia <strong>de</strong> Lagrange é dar<br />

as curvas-soluções na forma <strong>de</strong> curvas parametrizadas por:<br />

x = x(p) e y = y(p).<br />

Quando falharia essa idéia ? Quando a inclinação p ≡ C ao longo <strong>de</strong> uma porção<br />

dacurva-solução. Masnessecasoessaporçãodacurva-soluçãoestácontidaemalguma<br />

reta:<br />

y = C ·x+C2(p).<br />

E a<strong>de</strong>mais, como começamos com<br />

concluímos que<br />

y = a(p)·x+b(p)<br />

a(p) = C = p.<br />

Em suma, (partes <strong>de</strong>) retas y = Cx+C2 são soluções <strong>de</strong><br />

-5<br />

-10<br />

y = a(p)·x+b(p), on<strong>de</strong> p := dy<br />

dx<br />

10 São chamadas Equações <strong>de</strong> D’Alembert no livro <strong>de</strong> E. Kamke, Differentialgleichungen- Losungsmetho<strong>de</strong>n<br />

und losungen, T. I, Chelsea Publisinhg Company, 1948, pg. 31


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 551<br />

quando houver solução <strong>de</strong><br />

a(p)−p = 0<br />

Se ocorrer que a(p) ≡ p então genericamente as soluções são retas. É o caso das<br />

equações que vimos na Seção 11:<br />

ou seja,<br />

(y ′ ) 2 −4x·y ′ +4y = 0,<br />

y = x·y ′ − (y′ ) 2<br />

4 ,<br />

que vimos ter por soluções a família <strong>de</strong> retas<br />

y = 2c·x−c 2 .<br />

Uma equação do tipo<br />

y = y ′ ·x+b(y ′ )<br />

é uma Equação <strong>de</strong> Clairaut e é uma classe importante <strong>de</strong> equações. As retas<br />

y = c·c+b(c), c ∈ R<br />

são soluções.<br />

De agora em diante suporemos então que<br />

a(p)−p ≡ 0.<br />

Cada vez que tivermos uma raíz <strong>de</strong> a(p) − p = 0 teremos (porções <strong>de</strong>) curvassoluções<br />

contidas em retas e a idéia <strong>de</strong> parametrizar a solução por x = x(p) e y = y(p)<br />

<strong>de</strong>ve ser abandonada.<br />

Já que p varia ao longo das soluções, <strong>de</strong>rivo em p a expressão<br />

obtendo<br />

Usando:<br />

obtemos:<br />

e daí, já que a(p)−p = 0:<br />

dy<br />

dp<br />

p· dx<br />

dp<br />

dx<br />

dp −<br />

y = a(p)·x+b(p),<br />

da dx db<br />

= ·x+a(p)· +<br />

dp dp dp .<br />

dy = p·dx<br />

da dx db<br />

= ·x+a(p)· +<br />

dp dp dp<br />

da<br />

dp<br />

·x =<br />

p−a(p)<br />

db<br />

dp<br />

p−a(p) .<br />

Esta é em geral uma equação linear a coeficientes variáveis. Com o fator <strong>de</strong><br />

integração<br />

a solução é:<br />

x(p) = µ(p) −1 <br />

·(<br />

µ(p) := e<br />

µ(p)·<br />

da<br />

dp<br />

−p−a(p)<br />

dp<br />

db<br />

dp<br />

dp+K), K ∈ R.<br />

p−a(p)


13. EQUAÇÕES DE CLAIRAUT E DE LAGRANGE: ISÓCLINAS RETAS 552<br />

De y = a(p)·x+b(p) obtemos:<br />

como queríamos.<br />

y(p) = a(p)·x(p)+b(p)<br />

Exemplo:<br />

Suponhamos que a(p) = αp, α = 1 e que b(p) ≡ C1. Neste caso simples,<br />

portanto<br />

se reduz a:<br />

logo:<br />

e<br />

Se p > 0 temos<br />

p−a(p) = (1−α)p e<br />

dx<br />

dp −<br />

da<br />

dp<br />

·x =<br />

p−a(p)<br />

dx<br />

dp =<br />

α<br />

(1−α)p ·x.<br />

db<br />

dp<br />

= 0<br />

db<br />

dp<br />

p−a(p)<br />

α<br />

x(p) = C2 ·e (1−α)p dp = C2 ·||p||<br />

α<br />

(1−α)p<br />

y(p) = α·C2 ·||p|| (1−α)p ·p+C1.<br />

y(p) = α·C2 ·p 1<br />

1−α +C1.<br />

Como neste caso simples a equação original é linear:<br />

y = αx· dy<br />

dx +C1 ⇔ dy y<br />

−<br />

dx αx<br />

α<br />

= −C1<br />

αx<br />

sabemos resolvê-la e obtemos, com o fator <strong>de</strong> integração ν(x) := e − 1<br />

αx dx 1<br />

− = x α, se<br />

x > 0, e temos:<br />

em<br />

Para chegarmos <strong>de</strong><br />

basta notar que<br />

ou seja,<br />

e escolhermos<br />

Exemplo:<br />

y(x) = K ·x 1<br />

α +C1, x > 0.<br />

y(x) = K ·x 1<br />

α +C1, x > 0,K = 0<br />

y(p) = α·C2 ·p 1<br />

1−α +C1, p > 0<br />

p = dy<br />

dx<br />

x = ( α<br />

K<br />

K<br />

=<br />

α ·x1−α α ,<br />

·p) α<br />

1−α<br />

C2 = ( α 1<br />

) 1−α.<br />

K


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 553<br />

y = p2<br />

2<br />

·x+2p, p = dy<br />

dx<br />

é uma equação <strong>de</strong> Lagrange.<br />

As duas soluções p = 0,2 <strong>de</strong> p − a(p) = p − p2<br />

= 0 dão origem a duas soluções<br />

2<br />

retas da equação original:<br />

y = 2x+4 e y ≡ 0.<br />

Se p = 0 e p = 2, então da equação <strong>de</strong> Lagrange obteremos, como explicado, a<br />

equação diferencial linear:<br />

e daí<br />

dx p<br />

−<br />

dp p− p2<br />

2<br />

·x = 2<br />

p− p2<br />

2<br />

Usando o fator <strong>de</strong> integração µ(p) = e p−2dp = (p−2) 2 , obteremos a solução geral:<br />

x(p) =<br />

1<br />

(p−2) 2 ·(4ln(p2 )−4p+K), K ∈ R.<br />

y(p) = p2<br />

2 ·x(p)+2p.<br />

14. Transformação <strong>de</strong> Legendre, dualida<strong>de</strong> e resolução <strong>de</strong> equações<br />

diferenciais<br />

Consi<strong>de</strong>re uma função y = y(x) tal que sua <strong>de</strong>rivada y ′ = y ′ (x) seja ela mesma<br />

uma função inversível. 11<br />

Denote a função inversa <strong>de</strong> y ′ = y ′ (x) por x = x(y ′ ).<br />

Defino<br />

X := y ′ (x)<br />

e a transformação <strong>de</strong> Legendre <strong>de</strong> y = y(x) é a função Y(X) dada por<br />

Afirmo que:<br />

De fato,<br />

Agora afirmo que:<br />

Y(X) := x·y ′ (x)−y(x) = X ·x(X)−y(x(X)).<br />

Y ′ (X) := dY<br />

dX<br />

Y ′ (X) = d(x·y′ (x)−y(x))<br />

dX<br />

= x(X)+ dx(X)<br />

dX<br />

= x(X)+ dx(X)<br />

dX<br />

2<br />

= x(X).<br />

:=<br />

·X − dy(x)<br />

dx<br />

·X −X · dx<br />

dX<br />

y(x) = X ·Y ′ (X)−Y(X),<br />

.<br />

(x(X)·X −y(x))<br />

dX<br />

· dx<br />

dX =<br />

= x(X).<br />

11 Isso po<strong>de</strong> ser garantido se y ′′ (x) > 0 ∀x num Intervalo I, ou seja, se y(x) for convexa, pois<br />

então y ′ (x) é estritamente crescente em I e segue que y ′ (x) é inversível.<br />

=


14. TRANSFORMAÇÃO DE LEGENDRE, DUALIDADE E RESOLUÇÃO DE<br />

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 554<br />

pois da <strong>de</strong>finição que <strong>de</strong>mos<br />

obtenho<br />

e<br />

Reunindo o que temos:<br />

Y(X) := x·y ′ (x)−y(x)<br />

y(x) = x·y ′ (x)−Y(X) = Y ′ (X)·x−Y(X).<br />

X = y ′ (x) e x = Y ′ (X)<br />

Y(X) = x·y ′ (x)−y(x) e y(x) = X ·Y ′ (X)−Y(X).<br />

Essa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trocar Y por y (e vice-versa) e <strong>de</strong> trocar X por x (e vice-versa)<br />

nas duas expressões acima e manter a verda<strong>de</strong> é um caso do princípio <strong>de</strong> dualida<strong>de</strong>.<br />

Para ficar mais fundamentada essa dualida<strong>de</strong>, noto também que<br />

De fato,<br />

y ′′ (x) > 0 ⇒ Y ′′ (x) > 0.<br />

Y ′′ (X) := d2 Y<br />

dX<br />

d(dY<br />

dX := 2 )<br />

dX<br />

= 1 1<br />

:=<br />

) y ′′ > 0,<br />

(x)<br />

( dX<br />

dx<br />

= dx<br />

dX =<br />

on<strong>de</strong> usei o Teorema da <strong>de</strong>rivada da função inversa.<br />

Se po<strong>de</strong>, a<strong>de</strong>mais, provar que a transformação <strong>de</strong> Legendre é involutiva.<br />

A idéia agora é usar a transformação <strong>de</strong> Legebdre para passar <strong>de</strong> uma equação<br />

diferencial F(x,y,y ′ ) = 0 para outra equação F(X,Y,Y ′ (X)) = 0 que seja mais fácil<br />

<strong>de</strong> resolver !<br />

Feito isso, da soução Y = Y(X) <strong>de</strong> F(X,Y,Y ′ (X)) = 0 passamos à solução da<br />

equação original via:<br />

x = Y ′ (X), y = X ·Y ′ (X)−Y(X)<br />

que é um tipo <strong>de</strong> parametrização da solução <strong>de</strong> F(x,y,y ′ ) = 0.<br />

O Exemplo a seguir 12 já <strong>de</strong>ve dar uma idéia da utilida<strong>de</strong> da transformação <strong>de</strong><br />

Legendre:<br />

Exemplo:<br />

Resolver:<br />

(a2 ·x+b2 ·y +c2)·(y ′ ) 2 +(a1 ·x+b1 ·y +c1)·y ′ +a0 ·x+b0 ·y +c0 = 0,<br />

on<strong>de</strong> ai,bi,ci ∈ R.<br />

Solução: se faço as mudanças<br />

y ′ = X, x = Y ′ (X), y = XY ′ (X)−Y,<br />

12 Esses dois exemplos tirei <strong>de</strong> E. Kamke, Differentialgleichungen


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 555<br />

que nada mais são que a transformação <strong>de</strong> Legendre, obtemos - basta expandir a<br />

expressão obtida por composição e <strong>de</strong>pois reunir os termos -<br />

on<strong>de</strong><br />

(A(X)+X ·B(X))·Y ′ (X)−B(X)·Y +C(X) = 0,<br />

A(X) := a2X 2 +a1X+a0, B(X) := b2X 2 +b1X+b0 e C(X) := c2X 2 +c1X+c0.<br />

Ora, sabemos resolver esta equação diferencial linear <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m<br />

Y ′ (X)−<br />

via fator <strong>de</strong> integração<br />

Portanto teremos explicitamente:<br />

Y = Y(X) = K ·e <br />

B(X)<br />

A(X)+X ·B(X)<br />

B<br />

A+X·BdX −e <br />

µ(X) = e − B<br />

A+X·B dX .<br />

B<br />

A+X·BdX <br />

·<br />

C(X)<br />

·Y = −<br />

A(X)+X ·B(X)<br />

e −<br />

B<br />

A+X·B dX ·<br />

C(X)<br />

A(X)+X ·B(X) dX.<br />

E daí a solução geral x = Y ′ (X) e y = X ·Y ′ (X)−Y(X) da equação original.<br />

Exemplo:<br />

Resolver:<br />

Solução: Reescrevo-o como:<br />

Com a transformação <strong>de</strong> Legendre<br />

essa equação vira a equação separada:<br />

que se resolve por:<br />

Ou seja,<br />

Daí sai<br />

x 3 (y ′ ) 2 −2x 2 yy ′ +xy 2 −y ′ = 0.<br />

y ′ = x·(xy ′ −y) 2 .<br />

y ′ = X, x = Y ′ (X), Y(X) = xy ′ −y<br />

X 2<br />

2<br />

X = Y ′ (X)·Y(X) 2 ,<br />

= Y 3<br />

3<br />

+K, K ∈ R.<br />

Y(X) = ( 3<br />

2 X2 +K) 1<br />

3.<br />

x = Y ′ (X) y = X ·Y ′ (X)−Y(X).


15. APÊNDICE: FUNÇÕES CONTÍNUAS DE DUAS VARIÁVEIS E<br />

CONTINUIDADE UNIFORME 556<br />

15. Apêndice: Funções contínuas <strong>de</strong> duas variáveis e continuida<strong>de</strong><br />

uniforme<br />

Para a Seção 3 e para outras ainda por vir, precisamos esclarecer algumas noções.<br />

Queremos <strong>de</strong>terminar o que <strong>de</strong>ve significar para uma função z = f(x,y) <strong>de</strong> duas<br />

variáveis ser contínua num ponto (x,y) <strong>de</strong> seu domínio. Quando dissermos apenas<br />

contínua significará em cada ponto <strong>de</strong> seu domínio.<br />

Definição 15.1. Dizemos que z = f(x,y) é contínua num ponto (x,y) se dado ǫ > 0,<br />

existe δ > 0 tal que<br />

on<strong>de</strong><br />

||(x,y)−(x,y)|| < δ ⇒ |F(x,y)−F(x,y)| < ǫ,<br />

||(x,y)−(x,y)|| :=<br />

e on<strong>de</strong> possivelmente δ <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> ǫ e <strong>de</strong> (x,y).<br />

<br />

(x−x) 2 +(y −y) 2<br />

Note que essa <strong>de</strong>finição pe<strong>de</strong> que haja aproximação do valor F(x,y), não importando<br />

em que direção no plano nos aproximemos <strong>de</strong> (x,y),<br />

A função<br />

z = F(x,y) := (x+y)2<br />

x2 , se (x,y) = (0,0) e F(0,0) = K<br />

+y2 não é contínua em (0,0) para nenhuma escolha <strong>de</strong> K ∈ R.<br />

De fato, escolha um K. Se nos aproximamos <strong>de</strong> (0,0) pela reta y = x a função<br />

vale nesses pontos:<br />

z = F(x,x) := 4x2<br />

= 2, se x = 0 e F(0,0) = K<br />

2x2 enquanto que se nos aproximamos <strong>de</strong> (0,0) pela reta y = −x a função vale nesses<br />

pontos:<br />

z = F(x,−x) := 0, se x = 0 e F(0,0) = K.<br />

Logo ou |F(x,x)−K| não fica pequeno ou |F(x,−x)−K| não fica pequeno.<br />

Já um polinômio <strong>de</strong> duas variáveis<br />

z = a00 +a10x+a0,1y +a11xy +...annx n y n<br />

<strong>de</strong> grau 2n é um bom exemplo <strong>de</strong> função contínua no sentido da Definição 15.1.<br />

No Capítulo 6 vimos que<br />

f : (0,+∞) → R, f(x) = 1<br />

x<br />

é uma função contínua.<br />

Mas o Exemplo 2) da Seção 2 do Capítulo 5 já tinha mostrado o que a Figura<br />

indica: que vai ficando mais difícl encontrar o δ > 0 a<strong>de</strong>quado à medida que x se<br />

aproxima do 0 para que tenhamos:<br />

|x−x| < δ ⇒ | 1<br />

x<br />

1<br />

− | < ǫ.<br />

x


CAPÍTULO 36. ASPECTOS GERAIS DAS EQUAÇÕES DE PRIMEIRA<br />

ORDEM 557<br />

2 ε<br />

2 ε<br />

2 ε<br />

Figura: Para um mesmo ǫ, preciso cada vez menores valores <strong>de</strong> δ<br />

O mesmo fenômeno acontece em duas variáveis, por exemplo f(x,y) = 1<br />

x 2 +y 2, com<br />

(x,y) = (0,0).<br />

Mas se restringimos a função para o domínio:<br />

f : [a,+∞) → R, f(x) = 1<br />

x ,<br />

on<strong>de</strong><br />

a > 0,<br />

então tudo fica mais simples.<br />

Se quero um δ com<br />

|x−x| < δ ⇒ | 1<br />

x<br />

basta tomar:<br />

δ := ǫ·a 2<br />

pois então, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> x:<br />

se |x−x| < ǫ·a 2 .<br />

| 1<br />

x<br />

− 1<br />

x<br />

|x−x|<br />

| = |x−x | =<br />

xx xx<br />

1<br />

− | < ǫ<br />

x<br />

|x−x|<br />

≤ ≤ ǫ,<br />

a2 A próxima afirmação dá uma resposta geral (sua prova é mais típica dos cursos<br />

<strong>de</strong> Análise):<br />

Afirmação 15.1. Seja f um função em uma variável x ou em duas variáveis (x,y),<br />

que é contínua em cada ponto <strong>de</strong> um intervalo fechado [a,b] ou <strong>de</strong> um retângulo<br />

fechado [a,b]×[c,d].<br />

Então a escolha <strong>de</strong> δ > 0 para que:<br />

|x−x| < δ ⇒ |f(x)−f(x)| < ǫ,<br />

ou para que<br />

||(x,y)−(x,y)|| < δ ⇒ |f(x,y)−f(x,y)| < ǫ,<br />

só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> ǫ e não no ponto particular x ou (x,y).


16. EXERCÍCIOS 558<br />

Exercício 16.1. (resolvido)<br />

Seja n ∈ N, com n ≥ 2 fixado.<br />

Consi<strong>de</strong>re a equação diferencial:<br />

16. Exercícios<br />

((n+1)x n−1 y n +n 2 x n y n−1 )·y ′ (x)+nx n−2 y n+1 +n(n+1)x n−1 y n = 0<br />

i) Encontre um fator integrante µ(x) para a equação.<br />

ii) <strong>de</strong>termine as curvas integrais.


CAPíTULO 37<br />

Curvas <strong>de</strong> Perseguição<br />

Este capítulo consegue reunir temas distintos, que já tratamos, como equações<br />

diferenciais separáveis, envelopes e cônicas. E dá uma aplicação prática, o que me<br />

parece valioso. 1<br />

1. O problema<br />

Imagine um objeto P = P(t) que sai <strong>de</strong><br />

(0,y)<br />

no eixo positivo dos y e que todo tempo persegue um outro objeto Q = Q(t) que se<br />

<strong>de</strong>sloca a partir da origem, no sentido do eixo dos x.<br />

Perseguir aqui significa que todo tempo a reta tangente à curva <strong>de</strong>scrita por P(t)<br />

passa por Q(t).<br />

A reta tangente faz então papel da visão do predador P(t), que está todo o tempo<br />

fixada na presa Q(t).<br />

Por isso o tema interessou A. Lotka, estudioso dosaspectos matemáticos da Ecologia,<br />

como veremos mais adiante neste Capítulo.<br />

Se não colocamos nenhuma hipótese sobre as velocida<strong>de</strong>s dos pontos o problema<br />

é intratável, mas:<br />

Afirmação 1.1. Imagine um predador P = P(t) que sai <strong>de</strong><br />

(0,y)<br />

no eixo positivo dos y e que todo tempo persegue Q = Q(t) que se <strong>de</strong>sloca a partir<br />

da origem, no sentido do eixo dos x. Suponha que o vetor velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> P(t) tem<br />

módulo constante v1 e que a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Q(t) é constante v2.<br />

i) Se r := v2 < 1 então v1<br />

y<br />

v1·(1−r 2 )<br />

• no tempo t = o predador P(t) coli<strong>de</strong> com a presa Q(t) no ponto do<br />

eixo dos x cuja coor<strong>de</strong>nada é x = ry<br />

1−r2 y<br />

• o predador percorreu a distância 1−r2. • a curva <strong>de</strong>scrita por P(t) tem equação<br />

x = − yr<br />

2(1−r) ·y1−r + y−r<br />

2(1+r) ·y1+r + ry<br />

1−r 2.<br />

1 Aprendi essas coisas inicialmente com o livro The W. L. Putnam Mathematical Competition,<br />

Problems and solutions, 1938-1964., Math. Association of America. e <strong>de</strong>pois com artigos <strong>de</strong> A.<br />

Bernhardt, Curves of pursuit, Scripta Mathematica, vol. 20, 1954, vol. 23, 1957 e vol. 24, 1959,<br />

bem como com o <strong>de</strong> A. Lotka, Families of curves of pursuit, and their isochrones, The American<br />

Mathematical Monthly, Vol. 35, No. 8 (Oct., 1928), pp. 421-424.<br />

559


1. O PROBLEMA 560<br />

ii) Se r := v2<br />

v1<br />

= 1 então<br />

• o predador não alcança a presa, mas segue-a a uma distância que ten<strong>de</strong> a 1<br />

y<br />

quando t → +∞.<br />

• a curva <strong>de</strong>scrita pelo predador P(t) tem equação<br />

x = − y<br />

2 ln(y<br />

y<br />

)+<br />

y 4 (y<br />

y )2 − y<br />

4 .<br />

A figura a seguir ilustra um dia da caça e outro do caçador.<br />

Cui<strong>de</strong> que o eixo dos y foi posto horizontalmente e as escalas não são as mesmas<br />

para fica evi<strong>de</strong>nte o ponto <strong>de</strong> impacto.<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0<br />

Fig.: Com y = 6 e r = 1<br />

2<br />

1 2 3<br />

y<br />

4<br />

a presa é apanhada em x = 4. Em ver<strong>de</strong> a curva se r = 1.<br />

Na prova da Afirmação usamos bastante a comodida<strong>de</strong>da notação <strong>de</strong>Leibniz para<br />

as <strong>de</strong>rivadas e para a regra da ca<strong>de</strong>ia.<br />

Demonstração.<br />

A curva do predador P(t) será vista como uma curva parametrizada<br />

γ(t) = (x(t),y(t)),<br />

on<strong>de</strong> t é o tempo, com γ(0) = (0,y), com y > 0 fixado. E a<strong>de</strong>mais Q(0) = (0,0).<br />

A equação x = f(y) do traço <strong>de</strong> γ(t) então tem<br />

dx<br />

(y) = 0,<br />

dy<br />

pois o predador P(t) olha verticalmente a presa Q(t) quando t = 0.<br />

5<br />

6


CAPÍTULO 37. CURVAS DE PERSEGUIÇÃO 561<br />

Como Q(t) se <strong>de</strong>sloca seguindo o eixo dos x, então<br />

dx<br />

(y) < 0, ∀y,<br />

dy<br />

ou seja, a coor<strong>de</strong>nada y é estritamente <strong>de</strong>crescente com t.<br />

Isso permite que pensemos na coor<strong>de</strong>nada y <strong>de</strong> γ como função inversível <strong>de</strong> t, ou<br />

seja:<br />

y = y(t) e t = t(y).<br />

Quando usar<br />

dt<br />

dy<br />

usarei também<br />

dy dt<br />

· ≡ 1<br />

dt dy<br />

para expressar as regras <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> composta/inversa.<br />

Lembro que<br />

dt<br />

< 0 ∀y.<br />

dy<br />

A condição <strong>de</strong> perseguição diz que:<br />

ou seja,<br />

Por hipótese<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> obtemos:<br />

dx<br />

dy = x(t)−v2 ·t<br />

y(t)<br />

∀t ≥ 0,<br />

y(t)· dx<br />

dy = x(t)−r ·v1 ·t.<br />

v1 ≡<br />

<br />

( dx<br />

dt )2 +( dy<br />

dt )2 ,<br />

v1 ·(− dt<br />

<br />

) = (<br />

dy dx<br />

dt )2 +( dy<br />

dt )2 ·(− dt<br />

) =<br />

dy<br />

<br />

= ( dx<br />

dt )2 +( dy<br />

dt )2 <br />

· ( dt<br />

dy )2 =<br />

<br />

= ( dx dt<br />

·<br />

dt dy )2 +( dy dt<br />

·<br />

dt dy )2 =<br />

<br />

= ( dx<br />

dy )2 +1.<br />

Como dissemos acima, temos t = t(y) e a equação po<strong>de</strong> ser escrita como<br />

y · dx<br />

dy = x(t(y))−r ·v1 ·t(y).


1. O PROBLEMA 562<br />

Derivo-a em y obtendo:<br />

ou seja,<br />

dx<br />

dy +y · d2x dx<br />

=<br />

dy2 dy −r ·v1 · dt<br />

dy ,<br />

y · d2 <br />

x dt<br />

= −r ·v1 = r · (<br />

dy2 dy dx<br />

dy )2 +1.<br />

Com a variável<br />

z := dx<br />

dy<br />

o que temos então é a equação diferencial:<br />

que é separável:<br />

A solução geral é:<br />

pois já vimos a primitiva <br />

y · dz<br />

dy = r·√ z 2 +1,<br />

1 dz<br />

√<br />

z2 +1 dy<br />

− r<br />

y<br />

= 0.<br />

ln(z + √ z 2 +1)−r·ln(y) = C1,<br />

1<br />

√ z 2 +1 dz = ln(z + √ z 2 +1)<br />

no Capítulo 25.<br />

A constante C1 fica <strong>de</strong>terminada pela condição que em y = y temos z := dx = 0: dy<br />

ou seja a solução é:<br />

quer dizer:<br />

ou seja<br />

e portanto:<br />

Isso dá:<br />

e daí isolo z:<br />

−r ·ln(y) = C1<br />

ln(z + √ z 2 +1)−r ·ln(y) = −r ·ln(y),<br />

r ·ln(y)−r·ln(y) = ln(z + √ z 2 +1),<br />

ln(( y<br />

y )r ) = ln(z + √ z 2 +1)<br />

( y<br />

y )r = z + √ z 2 +1.<br />

(( y<br />

y )r −z) 2 = z 2 +1<br />

z = − 1<br />

2 (y<br />

y )−r + 1<br />

2 (y<br />

y )r .


CAPÍTULO 37. CURVAS DE PERSEGUIÇÃO 563<br />

Como z = dx<br />

dy então zdy = x+C e portanto, se<br />

então no item i) obtemos<br />

x+C2 = −<br />

0 < r < 1,<br />

y<br />

2·(1−r) ·(y<br />

y )1−r y<br />

+<br />

2·(1+r) ·(y<br />

y )1+r .<br />

A constante C2 se <strong>de</strong>termina com a condição <strong>de</strong> que quando x = 0 temos y = y:<br />

y<br />

C2 = −<br />

2·(1−r) +<br />

y r ·y<br />

= −<br />

2·(1+r) 1−r 2.<br />

Obtivemos então no caso 0 < r < 1 que<br />

y<br />

x = −<br />

2·(1−r) ·(y<br />

y )1−r y<br />

+<br />

2·(1+r) ·(y<br />

y )1+r r ·y<br />

+<br />

1−r 2<br />

<strong>de</strong>screve o traço <strong>de</strong> γ, a trajetória do predador.<br />

Tudo que fizemos acima era para y > 0. Mas quando y → 0 vemos que a coor<strong>de</strong>-<br />

nada x(y) <strong>de</strong> γ verifica:<br />

pois r < 1.<br />

Por outro lado, como<br />

y · dx<br />

dy<br />

x(y) →<br />

r ·y<br />

1−r 2,<br />

= y ·(−1<br />

2 (y<br />

y )−r + 1<br />

2 (y<br />

y )r ) =<br />

= − 1<br />

2<br />

y1−r 1 y1+r<br />

· + ·<br />

y−r 2 yr e como 0 < r < 1 vemos que y → 0 implica y · dx → 0, ou seja,<br />

dy<br />

x(y)−r ·v1 ·t(y) = y · dx<br />

→ 0 quando y → 0.<br />

dy<br />

Já que a posição da presa em função do tempo é dada por<br />

r·v1 ·t(y),<br />

o que vemos é que quando y → 0 também a posição da presa ten<strong>de</strong> a<br />

r ·y<br />

1−r 2.<br />

Logo o ponto no eixo dos x dado por<br />

presa.<br />

O tempo transcorrido na caçada foi<br />

O predador percorreu a distância<br />

v1 ·<br />

r·y<br />

1−r 2 é o ponto em que o predador pega a<br />

y<br />

v1 ·(1−r 2 ) .<br />

y<br />

v1 ·(1−r 2 )<br />

= y<br />

1−r 2


1. O PROBLEMA 564<br />

Retomando agora o caso<br />

r = 1<br />

do item ii), <strong>de</strong><br />

z := dx<br />

= −1<br />

dy 2 (y<br />

y )−1 + 1y<br />

2y<br />

obtemos, integrando:<br />

x = − y<br />

2 ln(y<br />

y<br />

)+<br />

y 4 (y<br />

y )2 +C<br />

e C se <strong>de</strong>termina com a condição <strong>de</strong> que, em x = 0, temos y = y:<br />

x = − y<br />

2 ln(y<br />

y<br />

)+<br />

y 4 (y<br />

y )2 − y<br />

4 .<br />

Temos<br />

e portanto:<br />

x(y)−r ·v1 ·t(y) = y · dx<br />

dy =<br />

= − 1<br />

2<br />

y 1<br />

· +<br />

y−1 2<br />

x(y)−r ·v1 ·t(y) → − −1<br />

y<br />

y 2<br />

y<br />

quando y → 0<br />

(o sinal negativo significa que o predador está atrás da presa). Ou seja distância entre<br />

presa e predador: (r ·v1 ·t(y)−x(y)) 2 +y 2<br />

ten<strong>de</strong> a 1<br />

y .<br />

A Afirmação a seguir reúne algumas observações que eu pu<strong>de</strong> fazer após enten<strong>de</strong>r<br />

a Afirmação 1.1:<br />

Afirmação 1.2. Imagine um predador P = P(t) que sai <strong>de</strong><br />

(x,y), com x ≥ 0 e y > 0<br />

e que todo tempo persegue Q = Q(t) que se <strong>de</strong>sloca a partir da origem, no sentido do<br />

eixo dos x. Suponha que o vetor velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> P(t) tem módulo constante v1 e que a<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Q(t) é constante v2.<br />

Se r := v2 < 1 então v1<br />

• o predador P(t) coli<strong>de</strong> com a presa Q(t) no ponto do eixo dos x cuja coor<strong>de</strong>nada<br />

é<br />

y Ay<br />

−<br />

2A·(1−r) 2(1+r) +x<br />

on<strong>de</strong><br />

A = x<br />

y +<br />

<br />

( x<br />

y )2 +1.


CAPÍTULO 37. CURVAS DE PERSEGUIÇÃO 565<br />

• a curva <strong>de</strong>scrita por P(t) tem equação<br />

x = −<br />

y r<br />

2A·(1−r) ·y1−r + A·y−r<br />

2(1+r) ·y1+r +<br />

y<br />

2A·(1−r)<br />

− A·y<br />

2(1+r) +x.<br />

• se fixamos y > 0 e perguntamos por qual a coor<strong>de</strong>nada x do ponto <strong>de</strong> partida<br />

do predador que faz com que o predador alcance a presa em menos tempo a<br />

resposta é:<br />

x =<br />

y ·r<br />

√ 1−r 2 .<br />

De fato, o ponto <strong>de</strong> impacto no eixo dos x também tem coor<strong>de</strong>nada<br />

y ·r<br />

x = √<br />

1−r 2 .<br />

A figura a seguir mostra as trajetórias <strong>de</strong> três predadores: Em vermelho o que sai<br />

<strong>de</strong> (0,6) e apanha a presa em (4,0); em ver<strong>de</strong> o que sai <strong>de</strong> (1,6) e em amarelo o que<br />

sai <strong>de</strong> (2 √ 3,6). Esse último apanha a presa no ponto (2 √ 3,6) e segundo a Afirmação<br />

1.2 é o que minimiza o tempod e caçada.<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0 1<br />

2<br />

3 4<br />

y<br />

Na figura a seguir faço um zoom da figura para ver as diferentes posições em que<br />

apanham a presa:<br />

4<br />

3,6<br />

3,2<br />

2,8<br />

2,4<br />

0 0,1<br />

0,2<br />

y<br />

5<br />

0,3 0,4<br />

6<br />

0,5


2. AS ELIPSES ISÓCRONAS, SEGUNDO A. LOTKA 566<br />

Demonstração.<br />

Basta repetir a prova da Afirmação 1.1 mas levando em conta como <strong>de</strong>vem ser<br />

<strong>de</strong>terminadas as constantes <strong>de</strong> integração C1 e C2.<br />

A constante C1 fica <strong>de</strong>terminada agora pela condição que em y = y temos<br />

z := dx<br />

dy<br />

= x<br />

y ,<br />

pois a reta tangente <strong>de</strong> γ <strong>de</strong>ve passar pela origem.<br />

E <strong>de</strong>pois a constante C2 fica <strong>de</strong>terminada por x = x quando y = y.<br />

Desse jeito se chega, como antes, na equação da curva γ:<br />

x = −<br />

y r<br />

2A·(1−r) ·y1−r + A·y−r<br />

2(1+r) ·y1+r +<br />

y<br />

2A·(1−r)<br />

− A·y<br />

2(1+r) +x,<br />

que ten<strong>de</strong> a<br />

y A·y<br />

−<br />

2A·(1−r) 2(1+r) +x<br />

quando y → 0, pois 0 < r < 1.<br />

Fixado y e <strong>de</strong>ixando variável apenas a coor<strong>de</strong>nada x temos uma função<br />

on<strong>de</strong><br />

y<br />

d(x) :=<br />

2A·(1−r)<br />

− A(x)·y<br />

2(1+r) +x,<br />

A(x) = x<br />

y +<br />

<br />

( x<br />

y )2 +1,<br />

que dá a posição <strong>de</strong> impacto no eixo dos x. Se minimizamos essa posição <strong>de</strong> impacto<br />

no eixo dos x estaremos minimizando o tempo da caçada (pois esse tempo é igual à<br />

posição no eixo x dividido por v2, a velocida<strong>de</strong> da presa).<br />

Um cálculo mecânico dá que d ′ (x) se anula em:<br />

y ·r<br />

x = √<br />

1−r 2 ,<br />

e que d ′′ (x) nesse ponto é positiva. Esse mínimo local <strong>de</strong> fato é o ponto <strong>de</strong> mínimo<br />

global <strong>de</strong> d(x).<br />

<br />

2. As elipses isócronas, segundo A. Lotka<br />

Para enten<strong>de</strong>r o que fez A. Lotka vamos introduzir alguns objetos (o leitor po<strong>de</strong><br />

acompanhar na Figura a seguir)<br />

• novas coor<strong>de</strong>nadas (x,y) no ponto I <strong>de</strong> impacto entre predador e presa. Note<br />

que x tem a orientação oposta <strong>de</strong> x.<br />

• um sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas polares (ρ,θ) móvel, que dará informação do<br />

movimento da presa Q = Q(t) em relação ao do predador P = P(t). O pólo<br />

é em Q e θ = ˆ PQI. Então π ≤ θ ≤ π.<br />

2


CAPÍTULO 37. CURVAS DE PERSEGUIÇÃO 567<br />

• o comprimento s da curva <strong>de</strong>scrita pelo predador (ver Seção 1 do Capítulo<br />

28) será medido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ponto I até P(t). Se r := v2 < 1 é o quociente das<br />

v1<br />

velocida<strong>de</strong>s então a distância entre Q(t) e I é r ·s.<br />

y y<br />

x<br />

P<br />

ρ<br />

θ<br />

s<br />

Q r.s<br />

Então, levando em contas sinais e orientações:<br />

x = r·s−ρ·cos(θ) e y = ρ·sin(θ).<br />

Todas essas gran<strong>de</strong>zas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> s. Derivo em relação ao comprimento s:<br />

dx<br />

ds<br />

dρ dθ<br />

= r − ·cos(θ)+ρ·sin(θ)·<br />

ds ds<br />

e<br />

dy dρ dθ<br />

= ·sin(θ)+ρ·cos(θ)·<br />

ds ds ds .<br />

Mas quando o parâmetro que <strong>de</strong>screve uma uma curva é seu próprio comprimento s,<br />

temos: <br />

( dx<br />

ds )2 +( dy<br />

ds )2 ≡ 1.<br />

Ou seja que po<strong>de</strong>mos escrever (levando em conta que x cresce com o crescimento <strong>de</strong><br />

s e que π ≤ θ ≤ π): 2<br />

dx dy<br />

= −cos(θ) e = sin(θ).<br />

ds ds<br />

Em suma, temos o sistema:<br />

e<br />

−cos(θ) = r − dρ dθ<br />

·cos(θ)+ρ·sin(θ)·<br />

ds ds<br />

sin(θ) = dρ dθ<br />

·sin(θ)+ρ·cos(θ)·<br />

ds ds .<br />

Multiplicando a primeira equação do sistema por sin(θ), a segunda por −cos(θ) e<br />

somando-as obtenho:<br />

dρ<br />

= 1+r ·cos(θ).<br />

ds<br />

I<br />

x


3. UM ENVELOPE QUE É UMA CURVA DE PERSEGUIÇÃO 568<br />

Jámultiplicando aprimeira dosistema porcos(θ)easegunda porsin(θ)esomando-as<br />

obtenho:<br />

ρ· dθ<br />

= −r ·sin(θ).<br />

ds<br />

Agora é só juntar essas duas equações obtidas e temos a equação diferencial:<br />

(1−r ·cos(θ))· dρ dθ<br />

+r ·sin(θ)·ρ·<br />

ds ds = 1−r2 .<br />

Reconhecemos aí uma equação diferencial exata:<br />

Integrando-a temos:<br />

d[(1−r·cos(θ))·ρ]<br />

ds<br />

= 1−r 2 .<br />

(1−r ·cos(θ))·ρ = (1−r 2 )·s+C.<br />

A constante C fica <strong>de</strong>terminada quando impomos que para s = 0 (ou seja, estando<br />

em I) a distância entre P e Q é ρ = 0. Ou seja, C = 0.<br />

Portanto<br />

ρ = (1−r2 )·s<br />

1−r ·cos(θ) =<br />

(1−r 2 )·s<br />

1+r ·cos(π −θ) .<br />

Ora, para cada s fixado<br />

(1−r<br />

ρ =<br />

2 )·s<br />

1+r ·cos(π −θ)<br />

é uma elipse com excentricida<strong>de</strong> 0 < r < 1 e com (1−r2 )·s <strong>de</strong> semi-latus rectus (veja<br />

a Afirmação 7.1 do Capítulo 39).<br />

Lembre que naquela <strong>de</strong>scrição o ângulo θ := π−θ é medido com o eixo polar (eixo<br />

dos x > 0) e que o pólo do sistema polar (ρ,θ) é o foco da cônica.<br />

A interpretação que Lotka dá é a seguinte (sempre supondo velocida<strong>de</strong>s v1,v2<br />

constantes e r = v2<br />

v1 ).<br />

Suponha que a presa Q segue em direção ao refúgio I que dista <strong>de</strong>la r ·s. Se um<br />

predador P seguindo uma curva <strong>de</strong> perseguição qualquer avista Q, então P consegue<br />

pegar Q antes que este se refugie se P está no interior da elipse<br />

ρ =<br />

(1−r 2 )·s<br />

1+r·cos(π −θ) .<br />

Essa elipse <strong>de</strong>screve todos os pontos em que P, seguindo curvas <strong>de</strong> perseguição, pega<br />

Q em I.<br />

3. Um envelope que é uma curva <strong>de</strong> perseguição<br />

A observação <strong>de</strong>sta Seção é <strong>de</strong> Gomes Teixeira, em seu Traité <strong>de</strong> courbes speciales<br />

remarquables, vol. III, páginas 137-138.<br />

Consi<strong>de</strong>re a família <strong>de</strong> retas que se forma por reflexão <strong>de</strong> retas verticais em pontos<br />

(x,y) do gráfico <strong>de</strong><br />

y = f(x) = a·ln(x),<br />

on<strong>de</strong> a = 0 é fixado.


CAPÍTULO 37. CURVAS DE PERSEGUIÇÃO 569<br />

é:<br />

De acordo com a Afirmação 4.1 do Capítulo 20, a equação <strong>de</strong>ssa retas refletidas<br />

y = ( f′ (x) 2 −1<br />

2f ′ (x)<br />

Isso se po<strong>de</strong> escrever também como:<br />

)·x+f(x)−( f′ (x) 2 −1<br />

2f ′ )·x =<br />

(x)<br />

= a2 −x2 2ax ·x+a·ln(x)+ x2 −a2 .<br />

2a<br />

F : y ·(2ax)−(a 2 −x 2 )·x = 2a 2 xln(x)−(a 2 −x 2 )·x.<br />

Como F é uma família <strong>de</strong> retas com parâmetro x, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>rivada em relação ao<br />

parâmetro. Obtemos:<br />

Agora note que<br />

é<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

Quando substituido em F, x = 2x dá:<br />

∂F<br />

∂x : 2a·y +2x·x = 2a2 ln(x)+a 2 +3x 2 .<br />

F −x· ∂F<br />

∂x<br />

−(a 2 −x 2 )·x = −2x·(a 2 −x),<br />

x = 2x.<br />

y = aln(x)− x2 a<br />

+<br />

2a 2 .<br />

Ou seja, a equação do envelope da família <strong>de</strong> retas F é:<br />

ou seja, o envelope é:<br />

y = aln( x<br />

2<br />

(x<br />

2 )− )2 a<br />

+<br />

2a 2 ,<br />

y = aln(x)− x2 a<br />

+<br />

8a 2 −aln(2).<br />

Se reconhece aí, trocando x por y, uma curva <strong>de</strong> perseguição do tipo do item ii)<br />

da Afirmação 1.1.<br />

A figura a seguir ilustra a situação, com a = 1, ou seja, y = f(x) = ln(x) (ver<strong>de</strong>),<br />

com 8 retas da família F e on<strong>de</strong> a curva envelope (em vermelho)<br />

persegue pontos no eixo vertical.<br />

y = ln(x)− x2<br />

8<br />

+ 1<br />

2 −ln(2)


4. EXERCÍCIOS 570<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

Exercício 4.1. (resolvido)<br />

1<br />

2<br />

x<br />

3<br />

4. Exercícios<br />

Em 1687, Huygens observou que as curvas y = a·x 3<br />

4 −x, para x ≥ 0, com a > 0<br />

fixado, têm as seguintes proprieda<strong>de</strong>s:<br />

i) a área da região finita que fica entre seus gráficos e o eixo dos x tem área a8<br />

14 .<br />

ii) a tangente ao seu gráfico em (x,y) passa por (− x<br />

3<br />

a > fixado.<br />

4<br />

5<br />

x<br />

, ), não importando qual o<br />

3<br />

Prove i) e ii) e, a<strong>de</strong>mais, esboce qualitativamente o gráfico <strong>de</strong> y = x 3<br />

4 −x, para<br />

a > 0. Ou seja, <strong>de</strong>termine sinais e raízes, crescimento e <strong>de</strong>crescimento, concavida<strong>de</strong>s<br />

e se há assíntotas quando x → +∞.<br />

A proprieda<strong>de</strong> ii) diz então que as curvas y = a·x 3<br />

4 −x são curvas <strong>de</strong> perseguição<br />

dos pontos (− x x<br />

, ) que se movem na reta y = −x. O quociente entre as velocida<strong>de</strong>s<br />

3 3<br />

não é constante neste exemplo.


CAPíTULO 38<br />

Cinética química e crescimento bacteriano<br />

Quando saímos do campo das equações diferenciais lineares, em geral topamos<br />

com equações difíceis <strong>de</strong> serem resolvidas explicitamente (ou mesmo impossíveis ...).<br />

Mas algumas equações diferenciais não-lineares bem especiais são ainda fáceis <strong>de</strong><br />

serem resolvidas e muito úteis.<br />

1. Cinética química<br />

Esta Seção expõe trechos <strong>de</strong> Notas do Professor Mark Thompson.<br />

Infelizmente não exponho tudo que há em suas notas. Detalhei um pouco mais<br />

algumas contas e acrescentei uns gráficos.<br />

Já em 1850, L. F. Wilhelmy estudou a reação em que água e sacarose produzem<br />

celulose e frutose:<br />

H2O+C12H22O11 −→ C6H12O6 +C6H12O6<br />

e verificou que taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>crescimento da quantida<strong>de</strong>/concentração c(t) <strong>de</strong> sacarose<br />

no tempo t era proporcional à quantida<strong>de</strong>/concentração do açúcar não-invertido:<br />

c ′ (t) = −k ·c(t).<br />

A constante k é chamada <strong>de</strong> taxa específica da reação ou constante da reação.<br />

Mas, em muitos casos, o <strong>de</strong>crescimento da quantida<strong>de</strong> cA(t) do reagente A não<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> somente da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Amastambém da <strong>de</strong>outrosreagentes B,C...,Z.<br />

E po<strong>de</strong> acontecer do <strong>de</strong>crescimento ser dado por uma lei geral:<br />

c ′ A(t) = −k ·c a A ·c b B ·...·c z Z, on<strong>de</strong> a,b,...,z ∈ R<br />

Chama-se or<strong>de</strong>m da reação a soma <strong>de</strong> expoentes:<br />

Alguns exemplos:<br />

a+b+c+...+z.<br />

• i) A <strong>de</strong>composição do pentóxido <strong>de</strong> nitrogênio:<br />

segue a lei<br />

2N2O5 −→ 4NO2 +O2,<br />

[N2O5] ′ (t) = −k ·[N2O5](t)<br />

on<strong>de</strong> [N2O5](t) é a concentração no instante t. Por isso é uma reação <strong>de</strong><br />

primeira or<strong>de</strong>m.<br />

571


1. CINÉTICA QUÍMICA 572<br />

• ii) Já a <strong>de</strong>composição do dióxido <strong>de</strong> nitrogênio:<br />

segue a lei:<br />

2NO2 −→ 2NO+O2,<br />

[NO2] ′ (t) = −k ·[NO2] 2 (t)<br />

, sendo portanto <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m.<br />

• iii) A reação:<br />

C2H5Br+(C2H5)3N −→ (C2H5)4NBr<br />

segue também uma lei <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m, mas do tipo:<br />

[C2H5Br] ′ (t) = −k ·[C2H5Br](t)·[(C2H5)3N](t).<br />

• iv) a or<strong>de</strong>m nãoprecisa ser umnúmero inteiro, porexemplo, a <strong>de</strong>composição:<br />

segue a lei:<br />

CH3CHO −→ CH4 +CO,<br />

[CH3CHO] ′ (t) = −k ·[CH3CHO] 3<br />

2(t).<br />

Note que as formas estequiométricas <strong>de</strong> i) e ii) são iguais, mas as or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong><br />

reação são diferentes. Para se enten<strong>de</strong>r a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> uma reação é preciso enten<strong>de</strong>r o<br />

mecanismo da reação.<br />

A maioria das reações químicas não são simples do ponto <strong>de</strong> vista cinemático<br />

e envolvem uma sequência <strong>de</strong> estágios entre os reagentes iniciais e os produtos finais.<br />

Cada uma das etapas é chamada <strong>de</strong> reação elementar. Reações complexas são<br />

sequências <strong>de</strong> reações elementares.<br />

Um conceito importante é o <strong>de</strong> molecularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma reação. Por exemplo, a<br />

<strong>de</strong>composição do io<strong>de</strong>to <strong>de</strong> hidrogênio:<br />

2HI −→ H2 +I2<br />

acontecequandoduasmoléculas<strong>de</strong>HI sechocamcomsuficienteenergiaparaproduzir<br />

um rearranjo das ligações químicas (<strong>de</strong> duas H −I ligações para uma H −H ligação<br />

e uma I − I ligação). Como esse processo elementar envolve duas moléculas sua<br />

molecularida<strong>de</strong> é 2.<br />

Experimentalmente se observa que:<br />

[HI] ′ (t) = −k ·[HI] 2 (t).<br />

Todas 1 as reações <strong>de</strong> molecularida<strong>de</strong> 2 são <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 2. Esse princípio já nos garante<br />

que a <strong>de</strong>composição do ozônio:<br />

2O3 −→ 3O2,<br />

não tem molecularida<strong>de</strong> 2, já que se sabe que ela obe<strong>de</strong>ce à lei:<br />

[O3] ′ (t) = −k · [O3] 2 (t)<br />

[O2](t) .<br />

1 mas nem toda reação <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m dois é <strong>de</strong> molecularida<strong>de</strong> dois.


CAPÍTULO 38. CINÉTICA QUÍMICA E CRESCIMENTO BACTERIANO 573<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 1. Essa lei mais complicada po<strong>de</strong> ser explicada analisando duas reações<br />

elementares envolvidas na reação<br />

São elas:<br />

2O3 −→ 3O2.<br />

O3 ⇋ O2 +O e O+O3 −→ 2O2.<br />

A primeira <strong>de</strong>las é muito rápida e leva a um equilíbrio da forma:<br />

enquanto que<br />

satifaz uma lei:<br />

Portanto<br />

[O](t) = C · [O3](t)<br />

, C ∈ R>0<br />

[O2](t)<br />

O+O3 −→ 2O2<br />

[O3] ′ (t) = −k ′ ·[O](t)·[O3](t).<br />

[O3] ′ (t) = −k ′ ·C · [O3] 2 (t)<br />

[O2](t) = −k · [O3] 2 (t)<br />

[O2](t) .<br />

Existemmuitasreaçõescujacinéticaéplenamenteconhecida, algumascommecanismos<br />

apenas razoavelmente estabelecidos e outras com mecanismos ainda discutidos<br />

e pesquisados.<br />

2. Equação diferencial <strong>de</strong> uma reação <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m<br />

Consi<strong>de</strong>re a reação química da forma:<br />

A −→ B +C.<br />

Suponha que a concentração da substância A é dada inicialmente por f(0) = a<br />

mol/litro e que após um tempo 2 x haja a−f(x) mol/l <strong>de</strong> A e que se formaram f(x)<br />

mols/l das substâncias B e C.<br />

Então a função f(x) me<strong>de</strong> a taxa <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> B e C a partir <strong>de</strong> A.<br />

Afirmação 2.1. Suponhamos que f(x) com f(0) = a verifica:<br />

Então<br />

e noto que limx→+∞ f(x) = a.<br />

f ′ (x) = k ·(a−f(x)), k > 0.<br />

f(x) = a·(1−e −k·x )<br />

Demonstração.<br />

De fato,<br />

f ′ (x) = ka−k ·f(x) = −k ·f(x)+k ·a, k > 0<br />

é uma equação do tipo estudado na Afirmação 4.1 da Seção 4 do Capítulo 35.<br />

Aquela Afirmação dá a solução f(x) na forma:<br />

f(x) = (f(0)+ ka<br />

(−k) )·e−kx − ka<br />

(−k) =<br />

2 Volto usar x para tempo, ao invés <strong>de</strong> t, para ser coerente com notações <strong>de</strong> Capítulos anteriores


3. EQUAÇÃO DIFERENCIAL DE UMA REAÇÃO DE SEGUNDA ORDEM 574<br />

= (f(0)−a)·e −kx +a.<br />

Mas f(0) = 0 e portanto: f(x) = a·(1−e −kx ). <br />

3. Equação diferencial <strong>de</strong> uma reação <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m<br />

Consi<strong>de</strong>re uma reação química:<br />

A+B −→ C +D<br />

em que as concentrações <strong>de</strong> A e B são dadas inicialmente por a e b e que, após um<br />

tempo x, f(x) mols/l <strong>de</strong> A e B tenham reagido produzindo f(x) mols/l <strong>de</strong> C e D.<br />

Afirmação 3.1. Suponha que a concentração f(x) <strong>de</strong> C e D verifica<br />

e satisfaz:<br />

Então:<br />

A<strong>de</strong>mais,<br />

a−f(x) > 0 e b−f(x) > 0 ∀x<br />

f ′ (x) = k ·(a−f(x))·(b−f(x)), k > 0.<br />

f(x) = a·b·(1−ek(a−b)·x )<br />

b−a·e k(a−b)·x .<br />

lim f(x) = b, se a > b e lim f(x) = a, se b > a.<br />

x→+∞ x→+∞<br />

As Figuras a seguir ilustram a Afirmação:<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

0,5 1 1,5<br />

x<br />

2<br />

2,5<br />

Figura: Caso k = 1, a = 2, b = 3<br />

3


CAPÍTULO 38. CINÉTICA QUÍMICA E CRESCIMENTO BACTERIANO 575<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

0<br />

0,5<br />

1<br />

1,5<br />

x<br />

2<br />

2,5<br />

Figura: Caso k = 1, a = 4, b = 3<br />

Demonstração.<br />

Note que <strong>de</strong> f ′ (x) = k ·(a−f(x))·(b−f(x)) obtenho, dividindo:<br />

f ′ (x)<br />

(a−f(x))·(b−f(x))<br />

3<br />

= k<br />

Como já vimos no item ii) da Seção 1 do Capítulo 26:<br />

<br />

f ′ (x)<br />

dx =<br />

(a−f(x))·(b−f(x))<br />

<br />

= [ −1<br />

a−b ·<br />

f ′ (x) 1<br />

+<br />

(a−f(x)) a−b ·<br />

f ′ (x)<br />

]dx =<br />

(b−f(x))<br />

<br />

1<br />

=<br />

a−b · −f′ (x)<br />

(a−f(x)) dx−<br />

<br />

1<br />

a−b · −f′ (x)<br />

dx =<br />

(b−f(x))<br />

<br />

1 1<br />

= ·<br />

a−b u du−<br />

<br />

1 1<br />

· dv =<br />

a−b v<br />

= 1 1<br />

·ln(u)− ·ln(v) =<br />

a−b a−b<br />

= 1 1<br />

·ln(a−f(x))−<br />

a−b a−b ·ln(b−f(x)).<br />

Por outro lado,<br />

1 1<br />

·ln(a−f(x))− ·ln(b−f(x)) = k ·x+C.<br />

a−b a−b<br />

Mas se x = 0 temos f(0) = 0, o que dá:<br />

e portanto:<br />

C = ln(a)−ln(b)<br />

a−b<br />

1<br />

·(ln(a−f(x))+ln(b)−ln(b−f(x))−ln(a)) = k ·x,<br />

a−b


4. CRESCIMENTO BACTERIANO 576<br />

que dá:<br />

ou seja,<br />

1<br />

a−b ·ln(b·(a−f(x)) ) = k ·x,<br />

a·(b−f(x))<br />

ln( b·(a−f(x))<br />

) = (a−b)·k ·x<br />

a·(b−f(x))<br />

e aplicando exponencial temos:<br />

b·(a−f(x))<br />

a·(b−f(x)) = ek·(a−b)·x .<br />

Agora é só isolar f(x), provando assim a afirmação sobre o formato da f(x).<br />

Se a > b então<br />

lim<br />

x→+∞ ek(a−b)·x = +∞<br />

e daí:<br />

ab<br />

lim f(x) = = b.<br />

x→+∞ a<br />

e daí:<br />

No caso b > a temos<br />

lim<br />

x→+∞ ek(a−b)·x = 0<br />

ab<br />

lim f(x) =<br />

x→+∞ b<br />

= a.<br />

4. Crescimento bacteriano<br />

Quando uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bactérias é posta num meio <strong>de</strong> cultivo a<strong>de</strong>quado,<br />

inicialmente sua a população cresce muito rápido.<br />

Mas, ao longo do tempo, quando começam a aparecer <strong>de</strong>tritos e começa a haver<br />

competição por nutrientes há uma <strong>de</strong>saceleração do crescimento e a população ten<strong>de</strong><br />

a um platô. Ou seja, ainda nascem e morrem indivíduos mas a população fica mais<br />

ou menos estável.<br />

Obtemos a mesma <strong>de</strong>scrição no caso das populações humanas em países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />

que inicialmente cresceram muito mas atualmente atingiram platôs.<br />

O tipo <strong>de</strong> equações diferenciais simples que mo<strong>de</strong>la o crescimento bacteriano é a<br />

seguinte:<br />

f ′ (x) = r ·f(x)−s·f 2 (x), r > 0, s > 0.<br />

on<strong>de</strong> f(x) é a população em cada instante.<br />

Note que para f(x) < 1 temos f 2 (x) < f(x) e a contribuição <strong>de</strong> −sf 2 (x) po<strong>de</strong> ser<br />

pouco relevante, mas à medida que f(x) aumenta, essa parte quadrática da equação<br />

se manifesta.<br />

É claro que f(x) ≡ r<br />

s<br />

Por isso afirmamos:<br />

é solução <strong>de</strong><br />

0 ≡ f ′ (x) = r ·( r<br />

s )−s·(r<br />

s )2 ≡ 0.


CAPÍTULO 38. CINÉTICA QUÍMICA E CRESCIMENTO BACTERIANO 577<br />

Afirmação 4.1. Seja f : I → R <strong>de</strong>rivável com<br />

e satisfazendo ∀x ∈ I:<br />

Então<br />

a qual tem<br />

0 < f(x) < r<br />

, ∀x ∈ I<br />

s<br />

f ′ (x) = r ·f(x)−s·f 2 (x), r > 0, s > 0.<br />

f(x) =<br />

f(0)· r<br />

s ·er·x<br />

r<br />

s −f(0)·(1−er·x ) ,<br />

r<br />

lim f(x) =<br />

x→+∞ s .<br />

Na Figura a seguir ploto a solução especial f(x) = r ao lado <strong>de</strong> soluções não<br />

s<br />

constantes. Note que há pontos <strong>de</strong> inflexão nos gráficos, fenômeno inexistente nas<br />

soluções que apareceram na Seção 3. a próxima Seção 5 discutirá a posição <strong>de</strong>sses<br />

pontos <strong>de</strong> inflexão.<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

0,2<br />

0,4<br />

0,6<br />

x<br />

Figura: O gráfico <strong>de</strong> y = 10 (vermelho) e os gráficos <strong>de</strong><br />

y = f(0)·r<br />

s ·er·x<br />

r<br />

s−f(0)·(1−er·x , com r = 10, s = 1 e f(0) = 0.05,0.5,1.<br />

)<br />

Po<strong>de</strong> ser interessante para o leitor consi<strong>de</strong>rar um gráfico típico <strong>de</strong> crescimento<br />

bacteriano, ao lado do <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>rivadas, para acentuar a presença do ponto <strong>de</strong><br />

inflexão:<br />

0,8<br />

1<br />

1,2


4. CRESCIMENTO BACTERIANO 578<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

0,5<br />

1<br />

x<br />

1,5<br />

Figura: y = f(x) (vermelho), y = f ′ (x) (ver<strong>de</strong>) e y = f ′′ (x) (amarelo)<br />

Uma conta tediosa mostra que po<strong>de</strong>mos re-escrever a função dada na Afirmação<br />

4.1:<br />

como<br />

f(x) =<br />

f(x) =<br />

2<br />

2,5<br />

f(0)· r<br />

s ·er·x<br />

r<br />

s −f(0)·(1−er·x ) ,<br />

r<br />

s<br />

r<br />

1+k ·e−r·x, on<strong>de</strong> k := −1+<br />

s ·<br />

1<br />

f(0) .<br />

Este último tipo <strong>de</strong> função é chamada <strong>de</strong> função logística.<br />

variadas áreas <strong>de</strong> conhecimento, da Biologia à Economia.<br />

Demonstração. Note que esta equação<br />

f ′ (x) = r·f(x)−s·f 2 (x), r,s > 0,<br />

re-escrita como:<br />

f ′ (x) = −s·(0−f(x))·( r<br />

s −f(x))<br />

é um caso particular da equação diferencial estudada na Seção 3:<br />

pondo-se<br />

f ′ (x) = k ·(a−f(x))·(b−f(x)),<br />

3<br />

É usada nas mais<br />

k = −s, a = 0 e b = r<br />

s .<br />

Nãopo<strong>de</strong>mosaplicarimediatamente aAfirmação3.1poisnaprovadaquela Afirmação<br />

usamos f(0) = 0, coisa que não temos aqui.<br />

Mas po<strong>de</strong>mos reciclar aquela prova3 , como segue.<br />

De f ′ (x) = −s·(0−f(x))·( r −f(x)) obtenho, dividindo:<br />

s<br />

f ′ (x)<br />

(0−f(x))·( r = −s.<br />

−f(x)) s<br />

3 Note que a estamos resolvendo como equação separável.


CAPÍTULO 38. CINÉTICA QUÍMICA E CRESCIMENTO BACTERIANO 579<br />

Então, como fizemos lá:<br />

<br />

= s<br />

r ·<br />

<br />

= s<br />

r ·<br />

<br />

que fazem sentido pois 0 < f(x) < r<br />

s .<br />

Por outro lado,<br />

Avaliando em x = 0, com f(0) > 0:<br />

e portanto:<br />

que dá:<br />

ou seja:<br />

f ′ (x)<br />

(0−f(x))·( r dx =<br />

−f(x)) s<br />

f<br />

[<br />

′ (x)<br />

(0−f(x) + −f′ (x)<br />

( r ]dx =<br />

−f(x))<br />

s<br />

[− f′ (x)<br />

f(x) + −f′ (x)<br />

( r ]dx =<br />

−f(x))<br />

= − s s<br />

·ln(f(x))+<br />

r r ln((r<br />

s −f(x))),<br />

s<br />

r ·[−ln(f(x))+ln(r −f(x))] = −s·x+C.<br />

s<br />

C = s<br />

r ·[−ln(f(0))+ln(r<br />

s −f(0))]<br />

s<br />

r ·[−ln(f(x))+ln(r<br />

s −f(x))+ln(f(0))−ln(r −f(0))] = −s·x<br />

s<br />

Aplicando exponencial temos:<br />

ln( f(0)·(r<br />

s −f(x))<br />

f(x)·( r<br />

s<br />

ln( f(x)·(r<br />

s −f(0))<br />

f(0)·( r<br />

s<br />

s<br />

−f(0)) ) = −r ·x,<br />

f(x)·( r<br />

s −f(0))<br />

f(0)·( r<br />

s<br />

−f(x)) ) = r ·x.<br />

−f(x)) = er·x<br />

Agora é só isolar f(x), obtendo o formato afirmado.<br />

A<strong>de</strong>mais, como r > 0, temos limx→+∞ e r·x = +∞ e do formato da f(x) é fácil <strong>de</strong><br />

ver que limx→+∞ f(x) = r<br />

s .


5. PONTO DE INFLEXÃO DA FUNÇÃO LOGÍSTICA 580<br />

Afirmação 5.1. A solução <strong>de</strong><br />

dada por<br />

5. Ponto <strong>de</strong> inflexão da função logística<br />

f ′ (x) = r ·f(x)−s·f 2 (x), r > 0, s > 0,<br />

f(x) =<br />

r<br />

s<br />

r<br />

1+k ·e−r·x, on<strong>de</strong> k := −1+<br />

s ·<br />

1<br />

f(0) ,<br />

tem um único ponto <strong>de</strong> inflexão cujas coor<strong>de</strong>nadas são:<br />

( ln(k)<br />

r<br />

, r<br />

2s ).<br />

Note que a segunda coor<strong>de</strong>nada não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> f(0).<br />

A figura a seguir mostra, com r = 10, s = 1, os três gráficos y = f(0)·r s ·er·x<br />

r<br />

s−f(0)·(1−er·x )<br />

para diferentes condições iniciais: f(0): 0.05,0.5,1. Todos têm inflexão na altura 5:<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

0,2<br />

0,4<br />

0,6<br />

x<br />

Demonstração.<br />

Cada solução y = f(x) terá ponto <strong>de</strong> inflexão on<strong>de</strong> a sua <strong>de</strong>rivada f ′ (x) tem um<br />

valor máximo ou mínimo.<br />

Mas<br />

f ′ = r ·f −s·f 2<br />

e se pensamos f agora como uma variável usual 4 , po<strong>de</strong>mos usar o sabemos sobre o<br />

gráfico <strong>de</strong><br />

z = r ·u−s·u 2 ,<br />

é uma parábola com concavida<strong>de</strong> para baixo, com ponto <strong>de</strong> máximo em u = r<br />

2·s .<br />

Ou seja que os pontos <strong>de</strong> inflexão <strong>de</strong> todas as soluções ocorrem em pontos<br />

(x,f(x)) = (x, r<br />

2·s ).<br />

4 A idéia que uso agora se aplicará a qualquer equação diferencial autônoma, ou seja, y(x) ′ =<br />

P(y(x)) on<strong>de</strong> P não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> explicitamente <strong>de</strong> x, só <strong>de</strong> y(x)<br />

0,8<br />

1<br />

1,2


CAPÍTULO 38. CINÉTICA QUÍMICA E CRESCIMENTO BACTERIANO 581<br />

e<br />

Mas o tempo x é diferente para cada solução. De fato,<br />

f ′ (x) =<br />

Portanto f ′′ (x) = 0 exatamente on<strong>de</strong><br />

isto é, em:<br />

r 2 ·k ·e −r·x<br />

s·(1+k ·e −r·x ) 2.<br />

f ′′ (x) = r3 ·k ·e−r·x ·(k ·e−r·x −1)<br />

s·(1+k ·e−r·x ) 3<br />

k ·e −r·x −1 = 0,<br />

x := ln(k)<br />

, on<strong>de</strong> k := −1+<br />

r<br />

r<br />

s ·<br />

1<br />

f(0)<br />

e a<strong>de</strong>mais f ′′ (x) > 0 se x < x e f ′′ (x) < 0 se x > x.<br />

Em suma, x é o único ponto <strong>de</strong> inflexão.<br />

6. Equação <strong>de</strong> Bernoulli e reações químicas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m fracionária<br />

A solução geral da Equação <strong>de</strong> Bernoulli<br />

f ′ (x) = a(x)·f(x)+b(x)·f(x) r ,<br />

dada na Afirmação 13.1 do Capítulo 35, no caso particular em que<br />

r = 2, a(x) ≡ a e b(x) ≡ b,<br />

nos permite re-obter os resultados das Seções 4 e 5, pois:<br />

f(x) = 1<br />

g(x)<br />

on<strong>de</strong><br />

g(x) = e −ax <br />

· e ax ·(−b)dx+C ·e −ax = − b<br />

a +C ·e−ax .<br />

já que g ′ (x) = −a·g(x)−b. Ou seja,<br />

1<br />

f(x) =<br />

−b +C ·e−ax,<br />

a<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se obtem, para f(0) = 0, o valor<br />

Logo<br />

f(x) =<br />

=<br />

1−<br />

C = 1 b<br />

+<br />

f(0) a .<br />

1<br />

−b a<br />

−a<br />

b<br />

1 b<br />

a( + f(0) a )·e−ax<br />

b<br />

·(1− aC·e−ax<br />

b ) =<br />

=<br />

.<br />

−a<br />

b<br />

1− aC·e−ax<br />

−a<br />

b<br />

1− a<br />

bf(0) e−ax −e<br />

b<br />

=<br />

−ax =


6. EQUAÇÃO DE BERNOULLI E REAÇÕES QUÍMICAS DE ORDEM<br />

FRACIONÁRIA 582<br />

on<strong>de</strong><br />

e pondo<br />

=<br />

−a<br />

b<br />

1+( −a<br />

bf(0)<br />

−1)·e−ax =<br />

k := −1+ −a<br />

b ·<br />

1<br />

f(0) ,<br />

−a<br />

b<br />

1+k ·e −ax,<br />

r := a e −s := b<br />

temos exatamente a função logística da Seção 5.<br />

Mas, oqueéimportante, háreaçõesquímicascujacinéticaéexpressaporEquações<br />

<strong>de</strong> Bernoulli com expoente r fracionário:<br />

f ′ (x) = a(x)·f(x)+b(x)·f(x) r , r ∈ Q.<br />

Por exemplo, a <strong>de</strong>composição do acetal<strong>de</strong>ído:<br />

verifica (fase gasosa a 450 graus C):<br />

on<strong>de</strong> uso x para o tempo.<br />

CH3CHO → CH4 +CO<br />

[CH3CHO] ′ (x) = −k ·[CH3CHO] 3<br />

2(x), k > 0<br />

Nessa situação r = 3<br />

2 e pedimos que f(x) := [CH3CHO](x) > 0.<br />

Para a(x) ≡ 0 e b(x) ≡ −k, a prova da Afirmação 13.1 do Capítulo 35 diz que a<br />

função<br />

g(x) := f(x) −1<br />

2<br />

verifica<br />

g ′ (x) = k<br />

2 ,<br />

ou seja, g(x) = k ·x+g(0) e portanto:<br />

2<br />

f(x) = ( k 1<br />

·x+ )<br />

2 f(0) −2 .


CAPíTULO 39<br />

Newton e a gravitação<br />

(...) Halley colocou a questão diretamente para Newton em agosto <strong>de</strong> 1684:<br />

supondo-se uma lei do inverso do quadrado da distância para a atração do Sol, que<br />

tipo <strong>de</strong> curva faria o planeta ? Newton lhe disse, uma elipse. Disse-lhe que havia<br />

calculado isso havia muito tempo. (..) que não conseguia achar os cálculos, mas<br />

prometeu refazê-los e enviá-los mais tar<strong>de</strong> (...)<br />

(trecho da biografia <strong>de</strong> Newton, <strong>de</strong> J. Gleick)<br />

Este Capítulo explicará alguns dos cálculos que Newton queria mostrar a Halley...<br />

Além <strong>de</strong> seu interesse intrínseco, serve <strong>de</strong> motivação ao tema das equações diferenciais<br />

<strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m.<br />

1. Atração segundo o inverso do quadrado da distância<br />

Se lembramos como é enorme raio do globo terrestre, po<strong>de</strong>mos pensar que a<br />

distância entre os objetos caindo (em queda-livre ou arremessados, nas Seções anteriores)<br />

e o centro da Terra é muito próxima do valor do Raio da Terra 1 :<br />

R ∼ 6.378·(10) 6 m.<br />

Estabeleçamos a lei <strong>de</strong> atração universal, <strong>de</strong> Newton, que é formulada para dois<br />

pontos com massa:<br />

dois pontos <strong>de</strong> massa m0 e m se atraem recíprocamente com uma força da or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> G·m0·m<br />

r2 , on<strong>de</strong> G é uma constante universal e r é a distância entre eles.<br />

Agora imaginemos a massa da Terra M ∼ 5.98·10 24 concentrada no seu centro<br />

(centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>). O que acontece quando queremos usar a lei <strong>de</strong> atração para<br />

explicar a atração mútua exercida pelo centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da Terra e um ponto <strong>de</strong><br />

massa m = 1?<br />

Obteremos:<br />

g G·M ·m<br />

= g =<br />

m R2 ∼<br />

e portanto<br />

em unida<strong>de</strong>s m 3 /(s 2 kg).<br />

∼ G·5.98·1024<br />

(6.378) 2 ·(10) 12,<br />

G ∼ 6.67·(10) −11 ,<br />

1 Os dados sobre a Terra obtive em R. Resnick e D. Halliday, Física, LTC.<br />

583


2. TEMPO DE COLISÃO E VELOCIDADE DE ESCAPE 584<br />

A<strong>de</strong>mais como a massa da Terra é enorme, sua aceleração F po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

M<br />

nula.<br />

2. Tempo <strong>de</strong> colisão e velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escape<br />

Agora que já colocamos os fenômenos <strong>de</strong> queda-livre e balística no quadro da lei<br />

geral da atração gravitacional, consi<strong>de</strong>remos:<br />

Afirmação 2.1. Suponha um ponto <strong>de</strong> massa M colocado na origem e outro ponto P<br />

<strong>de</strong> massa m na posição (x(0),0), com x(0) > 0. Suponha M tão gran<strong>de</strong> que possamos<br />

consi<strong>de</strong>rar o ponto na origem como parado.<br />

Suponha que no instante t = 0 o vetor velocida<strong>de</strong> (x ′ (0),y ′ (0)) tenha componente<br />

vertical nula y ′ (0) = 0 (ou seja, caso estiver em movimento, o faz no eixo horizontal).<br />

Então<br />

• É constante ∀t a gran<strong>de</strong>za:2<br />

(x ′ (t)) 2<br />

2<br />

− GM<br />

x(t) .<br />

• Se x ′ (0) = 0 (velocida<strong>de</strong> inicial zero) então o tempo <strong>de</strong> colisão entre o ponto<br />

P e a origem é <strong>de</strong>:<br />

π<br />

2 ·<br />

<br />

x(0) 3<br />

2GM .<br />

• Para escapar da atração do ponto na origem e se afastar tanto quanto quisermos<br />

da origem (i.e. limt→+∞x(t) = +∞), é necessário e suficiente que<br />

x ′ <br />

2·GM<br />

(0) ≥<br />

x(0) .<br />

• a<strong>de</strong>mais, se x ′ (0) =<br />

2·GM<br />

x(0)<br />

então sua velocida<strong>de</strong> é sempre positiva mas ten<strong>de</strong><br />

a zero (limt→+∞x ′ (t) = 0).<br />

• em particular, para um foguete lançado da superfície da Terra escapar da<br />

atração da Terra e se afastar da Terra:<br />

x ′ (0) ≥<br />

Demonstração.<br />

A Lei <strong>de</strong> Atração <strong>de</strong> Newton diz:<br />

<br />

2·GM<br />

x(0)<br />

m·x ′′ (t) = −<br />

∼ 11.184 m/s.<br />

G·M ·m<br />

x(t) 2 ,<br />

on<strong>de</strong> o sinal − <strong>de</strong>ve-se a que a atração é oposta ao sentido positivo dos x.<br />

Logo<br />

2 chamada <strong>de</strong> Energia total, on<strong>de</strong> (x ′ (t)) 2<br />

potencial.<br />

x ′′ (t) = − G·M<br />

,<br />

x(t) 2<br />

2 é chamada <strong>de</strong> energia cinética e − GM<br />

x(t)<br />

<strong>de</strong> energia


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 585<br />

e portanto<br />

ou seja<br />

e<br />

x ′′ (t)·x ′ (t) ≡ −Gm0<br />

x ′ (t)<br />

x(t) 2,<br />

[ (x′ (t)) 2<br />

]<br />

2<br />

′ ≡ Gm0 ·[ 1<br />

x(t) ]′ ,<br />

[ (x′ (t)) 2<br />

2<br />

(x ′ (t)) 2<br />

− Gm0<br />

x(t) ]′ ≡ 0<br />

−<br />

2<br />

Gm0<br />

≡ C.<br />

x(t)<br />

Se o corpo foi largado com velocida<strong>de</strong> inicial<br />

então obtenho<br />

e portanto<br />

x ′ (t) = −<br />

x ′ (0) = 0,<br />

C = − Gm0<br />

x(0) ,<br />

<br />

2·( Gm0<br />

x(0)<br />

+ Gm0<br />

x(t) )<br />

(on<strong>de</strong> tomo a raíz negativa poque o ponto P se aproximará da origem).<br />

Como x ′ (t) < 0, para t > 0, a função x(t) é estritamente <strong>de</strong>crescente.<br />

Logo posso consi<strong>de</strong>rar a função inversa t = t(x). A fórmula da <strong>de</strong>rivada da função<br />

inversa dá:<br />

t ′ 1<br />

(x) = −<br />

2·( Gm0 Gm0 + x(0) x )<br />

.<br />

Para calcular o tempo t <strong>de</strong> colisão entre P e a origem po<strong>de</strong>mos fazer a integral<br />

t−0 =<br />

=<br />

0<br />

x(0)<br />

t<br />

0<br />

dt =<br />

t ′ (x)dx,<br />

pois assim estaremos calculando o tempo que trancorre para sairmos <strong>de</strong> x(0) > 0 e<br />

chegarmos em x = 0 (a origem).<br />

Ou seja,<br />

x(0)<br />

x(0)<br />

t = −<br />

0<br />

t ′ (x)dx =<br />

0<br />

<br />

2·( Gm0 Gm0 + x(0) x )<br />

dx.<br />

Se somamos frações, simplificamos, e usamos que as constantes saem da integral,<br />

obtemos:<br />

x(0)<br />

0<br />

1<br />

<br />

2·( Gm0 Gm0 + x(0) x )<br />

dx =<br />

on<strong>de</strong> se nota que x(0)−x > 0.<br />

1<br />

<br />

x(0)<br />

2GM ·<br />

x(0)<br />

0<br />

√ x<br />

x(0)−x dx,


2. TEMPO DE COLISÃO E VELOCIDADE DE ESCAPE 586<br />

Agora faço a substituição para u > 0:<br />

obtendo:<br />

<br />

x(0)<br />

2GM ·<br />

x(0)<br />

0<br />

x = u 2<br />

e dx = 2udu,<br />

√ <br />

x x(0)<br />

dx = 2<br />

x(0)−x 2GM ·<br />

√ x(0)<br />

0<br />

Não é difícil conferir que uma primitiva <strong>de</strong><br />

− u x(0)<br />

x(0)−u 2 +<br />

2 2<br />

u2 √<br />

x(0)−u2 é:<br />

u<br />

·arcsin( ).<br />

x(0)<br />

u 2<br />

x(0)−u 2 du.<br />

Portanto: <br />

x(0)<br />

t = 2<br />

2GM ·<br />

√ x(0)<br />

u<br />

0<br />

2<br />

du =<br />

x(0)−u 2<br />

<br />

x(0)<br />

= 2<br />

2GM ·[−<br />

<br />

x(0)<br />

x(0)−(<br />

2<br />

x(0)) 2 + x(0)<br />

2 ·arcsin(<br />

<br />

x(0)<br />

)] =<br />

x(0)<br />

<br />

x(0) x(0) π<br />

= 2 · ·<br />

2GM 2 2 =<br />

= π<br />

<br />

x(0) 3<br />

2 2GM ,<br />

como queríamos <strong>de</strong>monstrar.<br />

Agora consi<strong>de</strong>remos a situação em que x ′ (0) > 0.<br />

Determinemos a condição necessária e suficiente sobre x ′ (0) > 0 para que o ponto<br />

P escapeda atraçãodopontona origemese afastetanto quanto quisermos da origem.<br />

Já vimos que:<br />

ou seja<br />

(x ′ (t)) 2<br />

2<br />

0 ≤ (x′ (t)) 2<br />

2<br />

− GM<br />

x(t)<br />

≡ C,<br />

≡ C + GM<br />

x(t) .<br />

Mas, se há um escape on<strong>de</strong> x(t) → +∞, então GM<br />

x(t)<br />

0 ≤ C.<br />

Portanto:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

O caso<br />

(x ′ (0)) 2<br />

−<br />

2<br />

GM<br />

≡ C ≥ 0,<br />

x(0)<br />

x ′ <br />

2GM<br />

(0) ≥<br />

x(0) .<br />

x ′ (0) =<br />

<br />

2GM<br />

x(0)<br />

→ 0 e daí:


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 587<br />

equivale a que<br />

ou seja,<br />

Portanto<br />

(x ′ (t)) 2<br />

2<br />

(x ′ (t)) 2<br />

2<br />

− GM<br />

x(t)<br />

≡ 0,<br />

= GM<br />

x(t) .<br />

x ′ (t) = √ 2GM 1<br />

x(t)<br />

e x(t)·x ′ (t) = √ 2GM,<br />

que, integrando, dá:<br />

De on<strong>de</strong>:<br />

Portanto<br />

pois x ′ (t) = 2<br />

3 (3<br />

2 ·(√GM ·t+D)) −1 3.<br />

2<br />

3 x(t)3 2 = √ 2GM ·t+D, D ∈ R.<br />

x(t) = ( 3<br />

2 ·(√ GM ·t+D)) 2<br />

3.<br />

lim x(t) = +∞ mas lim<br />

t→+∞ t→+∞ x′ (t) = 0,<br />

3. Níveis <strong>de</strong> energia<br />

Na situação da Afirmação 2.1 vimos que<br />

(x ′ (t)) 2<br />

2<br />

− GM<br />

x(t)<br />

≡ C.<br />

Apren<strong>de</strong>mos na prova <strong>de</strong>ssa Afirmação que o escape ocorre quando<br />

e a colisão quando<br />

(x ′ (t)) 2<br />

2<br />

(x ′ (t)) 2<br />

− GM<br />

x(t)<br />

≡ C ≥ 0<br />

−<br />

2<br />

GM<br />

≡ C < 0.<br />

x(t)<br />

Chamamos esses valores <strong>de</strong> C <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> energia.<br />

Nocaso<strong>de</strong>colisão, aconservação <strong>de</strong>EnergiaTotalimplicaquelimx→0x ′ (t) = +∞,<br />

Por isso as trajetórias <strong>de</strong> colisão são chamadas <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s do conjunto <strong>de</strong><br />

trajetórias possíveis para um corpo que é atraído por outro <strong>de</strong> massa muito maior.<br />

Se multiplicamos por 2·x(t) obtemos das expressões anteriores:<br />

(x ′ (t)) 2 ·x(t)−2GM −C ·x(t) ≡ 0.<br />

Num plano (x,y) = (x(t),x ′ (t)) essas curvas são as cúbicas:<br />

y 2 ·x−2GM −C ·x ≡ 0.


3. NÍVEIS DE ENERGIA 588<br />

Elas são qualitativamente o seguinte (note que para C ≥ 0 são formadas <strong>de</strong> dois<br />

ramos):<br />

y<br />

C < 0<br />

C = 0<br />

C > 0<br />

A<strong>de</strong>mais po<strong>de</strong>mos pensar na equação diferencial <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m, que é do tipo:<br />

x ′′ = − 1<br />

x 2<br />

como um campo vetorial (x ′ ,y ′ ), tangente a essas curvas, da forma:<br />

x ′ = y, y ′ = − 1<br />

x 2<br />

e a figura agora fica mais completa:<br />

Essa figura nos diz que:<br />

y<br />

C < 0<br />

C = 0<br />

C > 0<br />

x<br />

x


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 589<br />

• No caso C < 0, um corpo arbitrariamente próximo da origem que parte com<br />

velocida<strong>de</strong> positivaarbitrariamentealtaatingeumpontoon<strong>de</strong>suavelocida<strong>de</strong><br />

se anula e começa a ser atraído, colidindo com velocida<strong>de</strong> arbitrariamente<br />

nehgativa.<br />

• No caso C = 0, se um corpo arbitrariamnte próximo da origem parte com<br />

velocida<strong>de</strong> positivaarbitrariamentealtaeleconsegueescapar, comvelocida<strong>de</strong><br />

positiva ten<strong>de</strong>ndo azero. Etambém quepo<strong>de</strong>riavir <strong>de</strong>arbitrariamente longe<br />

um corpo com velocida<strong>de</strong> negativa arbitrariamente pequena e que colidisse<br />

com velocida<strong>de</strong> arbitrariamente negativa.<br />

• No caso C = 0, se um corpo arbitrariamnte próximo da origem parte com<br />

velocida<strong>de</strong> positiva arbitrariamente alta ele consegue escapar. E também que<br />

po<strong>de</strong>ria vir <strong>de</strong> arbitrariamente longe e que colidisse com velocida<strong>de</strong> arbitrariamente<br />

negativa.<br />

4. Órbitas planetárias<br />

Na Seção anterior estudamos como se dá a colisão entre um corpo e outro <strong>de</strong><br />

massa muito maior, que o atrai <strong>de</strong> acordo com a lei <strong>de</strong> Newton.<br />

Mas a situação mais interessante é quando o objeto <strong>de</strong> pequena massa (planeta,<br />

satélite, cometa, etc) gravita em torno do <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> massa (estrela) sem colidir.<br />

A princípio esta Seção usa dados do plano e <strong>de</strong> funções duas variáveis, portanto<br />

seria mais natural num curso <strong>de</strong> Cálculo em duas variáveis, enquanto o nosso tem<br />

sido em uma variável.<br />

Mas ela é tão profundamente ligada à origem e ao objetivo do criador do Cálculo,<br />

que se torna inevitável apresentá-la.<br />

Vamos nos situar num plano on<strong>de</strong> suporemos que viaja o planeta em sua órbita,<br />

para simplificar o problema.<br />

De fato, a primeira etapa do problema geral é mostrar que, apesar <strong>de</strong> estar num<br />

espaço 3-dimensional, a órbita do planeta é <strong>de</strong> fato plana. Ou seja, que cada planeta<br />

não sai <strong>de</strong> uma fatia plana do espaço.<br />

Para obter os resultados <strong>de</strong> Newton, começo lembrando que agora há duas coor<strong>de</strong>nadas<br />

P(t) = (x(t), y(t)).<br />

do planeta, que mudam com o tempo t.<br />

A<strong>de</strong>mais a velocida<strong>de</strong> instantânea P ′ (t) será<br />

P ′ (t) := (x ′ (t), y ′ (t)),<br />

como já explicamos na Seção 3 do Capítulo 28.<br />

Enquanto que a aceleração instantânea será, pelo mesmo motivo,<br />

P ′′ (t) := (x ′′ (t), y ′′ (t)).<br />

5. Velocida<strong>de</strong> e aceleração expressas em coor<strong>de</strong>nadas polares<br />

Por um motivo que vai ficar claro um pouco mais adiante, vamos criar um novo<br />

modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a posição P(t) = (x(t),y(t)), a velocida<strong>de</strong> P ′ (t) e a aceleração<br />

P ′′ (t).


5. VELOCIDADE E ACELERAÇÃO EXPRESSAS EM COORDENADAS<br />

POLARES 590<br />

Estamos acostumados a encontrar um ponto específico do plano através <strong>de</strong> um par<br />

<strong>de</strong> informações sobre ele, a coor<strong>de</strong>nada x e a coor<strong>de</strong>nada y. Mas o sistema cartesiano<br />

ortogonal é apenas um instrumento para <strong>de</strong>terminar pontos no plano.<br />

Po<strong>de</strong>mos usar outro par <strong>de</strong> informações, por exemplo a distância r do ponto até<br />

um ponto - chamado Pólo - e o ângulo anti-horário θ que o vetor posição forma com<br />

uma semireta - chamada eixo polar. Essa <strong>de</strong>scriçaõ dos pontos se chama sistema <strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong>nadas polares.<br />

Apesar da utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa nova <strong>de</strong>scrição (r,θ) não se <strong>de</strong>ve esquecer que θ fica<br />

<strong>de</strong>finido a menos da ambiguida<strong>de</strong>:<br />

θ+k ·2π, k ∈ Z<br />

A partir <strong>de</strong> agora sobrepomos ao sistema cartesiano (x,y) um sistema polar. Com<br />

isso <strong>de</strong>terminaremos um ponto P(t) do plano dizendo qual a distância r(t) que o<br />

ponto tem da origem e qual o ângulo θ(t) (<strong>de</strong>finido módulo k·2π, k ∈ Z), que o vetor<br />

(x(t),y(t)) forma com o eixo x > 0. Ou seja,<br />

r(t) = x(t) 2 +y(t) 2 , cos(θ(t)) = x(t)<br />

r(t)<br />

e sin(θ(t)) = y(t)<br />

r(t) .<br />

Note que numa pequena região em torno do P(t) po<strong>de</strong>mos escolher o ângulo θ(t)<br />

sem ambiguida<strong>de</strong>. As funções cos(θ(t)) e sin(θ(t)) são <strong>de</strong>riváveis se r(t) = 0. E<br />

também<br />

θ(t) = arcsin( y(t)<br />

r(t) )<br />

é <strong>de</strong>rivável se r(t) = 0.<br />

Temos também:<br />

x(t) = r(t)·cos(θ(t)) e y(t) = r(t)·sin(θ(t))<br />

e, pelas regras <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação <strong>de</strong> produto e composta:<br />

P ′ (t) := (x ′ (t), y ′ (t)) =<br />

= ( r ′ (t)·cos(θ(t))−r(t)·sin(θ(t))·θ ′ (t) , r ′ (t)·sin(θ(t))+r(t)·cos(θ(t))·θ ′ (t) ).<br />

Note que 3<br />

A expressão <strong>de</strong><br />

||P ′ (t)|| 2 = x ′ (t) 2 +y ′ (t) 2 = r ′ (t) 2 +r(t) 2 ·(θ ′ (t)) 2 .<br />

P ′′ (t) := (x ′′ (t), y ′′ (t))<br />

é maior, como o leitor po<strong>de</strong> verificar.<br />

Agora vem uma etapa engenhosa: vamos querer obter as projeções dos vetores<br />

P ′ (t)eP ′′ (t)emduasdireções: numadireçãoparalelaaP(t)enumadireçãoortogonal<br />

a P(t).<br />

A direção paralela a P(t) é dada pelo vetor <strong>de</strong> módulo 1:<br />

(cos(θ(t)), sin(θ(t))) = 1<br />

r(t) ·P(t).<br />

3 O módulo <strong>de</strong> um vetor v = (a,b) do plano é ||v|| = √ a 2 +b 2


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 591<br />

Já a direção ortogonal a P(t) será dada pelo vetor <strong>de</strong> módulo 1:<br />

(−sin(θ(t)), cos(θ(t))).<br />

Vamos usar o item iii) da Afirmação 3.2 do Capítulo 17 como método para obter<br />

projeções.<br />

Então obtemos que a projeção <strong>de</strong> V = P ′ (t) na direção<br />

é dada por<br />

v = (cos(θ(t)), sin(θ(t)))<br />

r ′ (t)·(cos(θ(t)), sin(θ(t)))<br />

pois (sem t para simplificara notação) vale a igualda<strong>de</strong>:<br />

r ′ = (r ′ cos(θ)−rsin(θ)θ ′ )·cos(θ)+(r ′ sin(θ)+rcos(θ)θ ′ )·sin(θ).<br />

E do mesmo modos se obtêm que a projeção <strong>de</strong> V = P ′ (t) na direção<br />

é dada por:<br />

v = (−sin(θ(t)), cos(θ(t)))<br />

r(t)·θ ′ (t)·(−sin(θ(t)), cos(θ(t))).<br />

Essa projeção diz que, para uma mesma mudança <strong>de</strong> ângulo θ ′ (t), quanto maior<br />

for r mais rápido vamos na direção ortogonal a P(t).<br />

Uma conta um pouco maior 4 dará que a projeção da aceleração P ′′ (t) na direção<br />

é:<br />

v = (cos(θ(t)), sin(θ(t)))<br />

[r ′′ (t)−r(t)·(θ ′ (t)) 2 ]·(cos(θ(t)), sin(θ(t))).<br />

Note que se o movimento é perfeitamente circular, r(t) = r e o módulo <strong>de</strong>ssa<br />

projeção vira r·(θ ′ (t)) 2 : esse termo está ligado à força centrípeta, que aumenta com<br />

o aumento <strong>de</strong> (θ ′ (t)) 2 .<br />

E uma conta mais longa dá que a projeção da aceleração P ′′ (t) na direção <strong>de</strong><br />

é:<br />

v = (−sin(θ(t)), cos(θ(t)))<br />

[r(t)·θ ′′ (t)+2·r ′ (t)·θ ′ (t)]·(−sin(θ(t)), cos(θ(t))).<br />

Noteagoraqueessaprojeçãodaaceleraçãomudaquandor(t)aumentaoudiminui:<br />

isso é o que faz um patinador girando ao abrir ou fechar os braços, para diminuir ou<br />

aumentar a velocida<strong>de</strong> do giro.<br />

4 Se tivermos à disposição a notação Complexa P = r·e iθ e se soubermos que i·e iθ é ortogonal<br />

a e iθ , aí fica bem fácil:<br />

e<br />

e<br />

P ′ = r ′ ·e iθ +ir·e iθ ·θ ′<br />

P ′′ = r ′′ ·e iθ +i·r ′ ·e iθ θ ′ +ir ′ ·e iθ ·θ ′ −r·e iθ ·(θ ′ ) 2 +ir··e iθ ·θ ′′ =<br />

= e iθ ·[r ′′ −r·(θ ′ ) 2 ]+i·e iθ ·[2r ′ θ ′ +rθ ′′ ].


6. GRANDEZAS CONSTANTES AO LONGO DAS TRAJETÓRIAS 592<br />

6. Gran<strong>de</strong>zas constantes ao longo das trajetórias<br />

Afirmação 6.1. Suponha um ponto sendo atraído por força radialmente dirigida para<br />

a origem. Suponha M tão gran<strong>de</strong> relativo a m que possamos supôr o ponto na origem<br />

tem aceleração nula. Suponha que r(0) = 0 e que θ ′ (0) = 0 5 .<br />

Então:<br />

i) o fato da força ser radialmente dirigida para a origem implica que ∀t é constante<br />

a gran<strong>de</strong>za<br />

r(t) 2 ·θ ′ (t) ≡ C = 0.<br />

ii) se adicionalmente supomos que o módulo da força radial, segundo Newton, é<br />

GMm<br />

r(t) 2 então ∀t é constante a gran<strong>de</strong>za<br />

E := m·||P′ (t)|| 2<br />

2<br />

− GMm<br />

r(t) ,<br />

chamada <strong>de</strong> Energia total, soma da energia cinética<br />

e da energia potencial<br />

Ec := m· ||P′ (t)|| 2<br />

2<br />

Ep := − GMm<br />

r(t) .<br />

Na Seção 9 vamos dar o sentido geométrico da parte i) <strong>de</strong>sta Afirmação.<br />

Demonstração. (da Afirmação 6.1)<br />

Lidaremos com velocida<strong>de</strong> e aceleração em coor<strong>de</strong>nadas polares, como explicamos<br />

na Seção 5.<br />

Prova <strong>de</strong> i):<br />

A hipótese sobre a direção radial da força <strong>de</strong> atração se expressa, pelo que vimos<br />

na Seção 5, como:<br />

r(t)·θ ′′ (t)+2·r ′ (t)·θ ′ (t) ≡ 0.<br />

Ou seja,<br />

e portanto<br />

A<strong>de</strong>mais,<br />

(r(t) 2 ·θ ′ (t)) ′ (t) = 2·r(t)·r ′ (t)·θ ′ (t)+r(t) 2 ·θ ′′ (t) =<br />

= r(t)·(2r ′ (t)·θ ′ (t)+r(t)·θ ′′ (t)) ≡ 0,<br />

r(t) 2 ·θ ′ (t) ≡ C.<br />

r(0) 2 ·θ ′ (0) = C = 0,<br />

pois supusemos r(0) = 0 e θ ′ (0) = 0.<br />

Prova <strong>de</strong> ii):<br />

5 essas hipóteses dizem que o momento angular m · r(0) 2 · θ ′ (0) não é nulo, o que implicará,<br />

conforme veremos na prova da Afirmação, que o objeto não vai seguir uma trajetória radial - caso<br />

já estudado na Seção 2


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 593<br />

Elevando ao quadrado a expressão anterior temos r(t) 4 ·(θ ′ (t)) 2 ≡ C 2 e daí<br />

r(t)·(θ ′ (t)) 2 = C2<br />

r(t) 3.<br />

A hipótese sobre o módulo da força radial dá, conforme a Seção 5, que<br />

m·(r ′′ (t)−r(t)·(θ ′ (t)) 2 ) = − GMm<br />

r(t) 2<br />

(on<strong>de</strong> o sinal menos está ligado ao sentido da atração para a origem, oposto ao do<br />

vetor posição P(t)).<br />

Portanto:<br />

ou seja,<br />

r ′′ (t)− C2<br />

= −GM<br />

r(t) 3 r(t) 2<br />

r ′′ (t) = C2 GM<br />

−<br />

r(t) 3 r(t) 2.<br />

Se r ′ (t) ≡ 0 então r(t) ≡ r constante. E como r 2 ·θ ′ (t) = C, concluimos que θ ′ (t) = C<br />

r 2<br />

é constante. Então<br />

Portanto<br />

||P ′ (t)|| 2 = r ′ (t) 2 +r(t) 2 ·(θ ′ (t)) 2 = r 2 · C2 C2<br />

=<br />

r4 r<br />

− GMm<br />

r(t)<br />

C2 GMm<br />

= m· −<br />

2r2 r<br />

m· ||P′ (t)|| 2<br />

2<br />

é constante, como afirmamos.<br />

Portanto posso consi<strong>de</strong>rar no que segue que r ′ (t) ≡ 0. Daí, multiplicando por<br />

r ′ (t), e tomando primitivas temos:<br />

r ′ (t) 2<br />

2 =<br />

t<br />

t<br />

t0<br />

r ′′ (s)·r ′ (s)·ds =<br />

= (<br />

t0<br />

C2 GM<br />

−<br />

r(s) 3 r(s) 2)·r′ (s)ds.<br />

Reconhecemos aí uma fórmula <strong>de</strong> integração por substituição:<br />

r ′ (t) 2<br />

2 =<br />

r(t)<br />

r(t0)<br />

( C2 GM<br />

− )dr =<br />

r3 r2 = − C2 GM<br />

+<br />

2·r(t) 2 r(t) +C2,<br />

on<strong>de</strong> C2 é uma constante. Ou seja,<br />

on<strong>de</strong> C3 = 2·C2. Já observamos que:<br />

r ′ (t) 2 + C2 2GM<br />

−<br />

r(t) 2 r(t)<br />

≡ C3.<br />

x ′ (t) 2 +y ′ (t) 2 = r ′ (t) 2 +r(t) 2 ·(θ ′ (t)) 2<br />

2 .


6. GRANDEZAS CONSTANTES AO LONGO DAS TRAJETÓRIAS 594<br />

e também que<br />

Portanto<br />

r(t) 2 ·(θ ′ (t)) 2 = C2<br />

r(t) 2.<br />

x ′ (t) 2 +y ′ (t) 2 = r ′ (t) 2 + C2<br />

r(t) 2,<br />

que quando substituído na anterior dá:<br />

x ′ (t) 2 +y ′ (t) 2 − 2GM<br />

r(t)<br />

≡ C3.<br />

Se consi<strong>de</strong>ramos a velocida<strong>de</strong> inicial P ′ (0) concluímos que<br />

x ′ (t) 2 +y ′ (t) 2 − 2GM<br />

r(t) = C3 = x ′ (0) 2 +y ′ (0) 2 − 2GM<br />

r(0) .<br />

Multiplicando por m<br />

, concluímos que é constante a gran<strong>de</strong>za:<br />

2<br />

m·||P ′ (t)|| 2<br />

2<br />

− GMm<br />

r(t) .<br />

Afirmação 6.2.<br />

Nas mesmashipótesesda Afirmação6.1(anterior), a trajetória <strong>de</strong> P(t) = (r(t),θ(t))<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita em coor<strong>de</strong>nadas polares (r,θ) através <strong>de</strong> uma função r = r(θ).<br />

De fato, precisamente:<br />

C<br />

r(θ) =<br />

2<br />

GM<br />

1+ √ m2G2M2 +2mEC2 ·cos(θ)<br />

GMm<br />

on<strong>de</strong> m·C = m·r 2 (t)·θ ′ (t) é o momento angular e E = Ec +Ep é a energia total<br />

da trajetória.<br />

Na próxima Seção (Seção 7) explicaremos a geometria da trajetória r(θ) dada na<br />

Afirmação 6.2.<br />

Demonstração. (da Afirmação 6.2)<br />

Já vimos que<br />

r(t) 2 ·θ ′ (t) ≡ C = r(0) 2 ·θ ′ (0) = 0,<br />

portanto 6 θ ′ (t) > 0 ∀t ou θ ′ (t) < 0 ∀t.<br />

Isto permite <strong>de</strong>terminar a coor<strong>de</strong>nada r <strong>de</strong> P(t) como função <strong>de</strong> θ, ao longo da<br />

trajetória. De fato, θ(t) é ou bem uma função estritamente crescente (se θ ′ (t) > 0 ∀t)<br />

ou estritamente <strong>de</strong>crescente <strong>de</strong> t (se θ ′ (t) < 0 ∀t). Assim t <strong>de</strong>termina θ e θ <strong>de</strong>termina<br />

r.<br />

Consi<strong>de</strong>ro uma nova variável u(t) = 1<br />

r(t) .<br />

6 θ ′ (t) como função <strong>de</strong> t é contínua, pois <strong>de</strong> fato existe θ ′′ (t).


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 595<br />

Então<br />

r ′ (t) = [r(θ(t))] ′ 1<br />

(t) = [<br />

u(θ(t)) ]′ (t) =<br />

= − 1 du dθ<br />

· ·<br />

u(θ) 2 dθ dt =<br />

= −r 2 · dθ du du<br />

· = −C ·<br />

dt dθ dθ ,<br />

on<strong>de</strong> C é o momento angular. Coloquemos<br />

r ′ (t) = −C · du<br />

dθ<br />

e<br />

r(t)·θ ′ (t) = C<br />

= C ·u<br />

r(t)<br />

na fórmula da energia cinética:<br />

ou seja,<br />

Ora,<br />

Logo<br />

Ec := m· ||P′ (t)|| 2<br />

= m·<br />

2<br />

(r′ (t) 2 +r(t) 2θ ′ (t) 2 )<br />

2<br />

= mC 2 · (du<br />

dθ )2 +u(θ) 2<br />

( du<br />

dθ )2 +u(θ) 2 = 2Ec<br />

mC 2.<br />

Ec = E −Ep = E + GMm<br />

r =<br />

= E +GMm·u.<br />

( du<br />

dθ )2 +u(θ) 2 = 2<br />

mC2(E +GMm·u(θ)).<br />

Lembro que a energia total E é constante ao longo da trajetória, portanto a<br />

<strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> E como função <strong>de</strong> θ é zero ao longo da trajetória. Logo, <strong>de</strong>rivando em θ<br />

a expressão anterior, temos:<br />

Ou seja,<br />

2· du<br />

dθ · d2u +2u(θ)du<br />

dθ2 dθ<br />

2<br />

,<br />

= 2GM<br />

C 2<br />

2· du<br />

dθ ·[d2 u GM<br />

+u(θ)− ] = 0.<br />

dθ2 C2 Conforme provaremos na Afirmação 8.1 da Seção 8, todas as soluções da equação<br />

diferencial<br />

d2u GM<br />

+u(θ)− = 0<br />

dθ2 C2 são do tipo:<br />

u(θ) = GM<br />

+A·cos(θ−q)<br />

C2 on<strong>de</strong> A e q são constantes arbitrárias.<br />

Suponhamos por um momento isso.<br />

du<br />

dθ .<br />

=


6. GRANDEZAS CONSTANTES AO LONGO DAS TRAJETÓRIAS 596<br />

e<br />

Então u ′ (θ) = −Asin(θ −q) e portanto<br />

(u ′ (θ)) 2 = A 2 sin 2 (θ −q)<br />

(u ′ (θ)) 2 +u(θ) 2 = A 2 sin 2 (θ −q)+( GM<br />

C 2 +A·cos(θ−q))2 =<br />

e por outro lado já tinhamos<br />

Reunindo isso obtenho:<br />

o que dá:<br />

Logo<br />

1<br />

r(θ)<br />

= A 2 + G2 M 2<br />

C<br />

GM<br />

+2A· ·cos(θ−q)<br />

4 C2 (u ′ (θ)) 2 +u(θ) 2 = 2<br />

mC2(E +GMm·u(θ)) =<br />

= 2<br />

mC2(E +GMm·(GM +A·cos(θ−q))) =<br />

C2 = 2E<br />

mC2 + 2G2M2 C<br />

GM<br />

+2A· ·cos(θ −q).<br />

4 C2 A 2 = G2M2 2E<br />

+<br />

C4 mC2 = m2G2M2 +2mEC 2<br />

m2C4 A = ±<br />

√ m 2 G 2 M 2 +2mEC 2<br />

mC 2<br />

√<br />

GM m2G2M2 +2mEC 2<br />

= u(θ) = ±<br />

C2 mC2 ·cos(θ−q).<br />

Como cos(θ−q+π) = −cos(θ−q) não precisamos manter o ± e módulo translação<br />

em θ, po<strong>de</strong>mos escrever:<br />

1<br />

r(θ)<br />

e multiplicando tudo por C2<br />

GM :<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> finalmente:<br />

C 2<br />

GM<br />

√<br />

GM m2G2M2 +2mEC 2<br />

= +<br />

C2 mC2 ·cos(θ),<br />

1<br />

· = 1+<br />

r(θ)<br />

r(θ) =<br />

√ m 2 G 2 M 2 +2mEC 2<br />

GMm<br />

C2 GM<br />

1+ √ m2G2M2 +2mEC2 ·cos(θ) GMm<br />

.<br />

.<br />

·cos(θ),


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 597<br />

7. As órbitas como cônicas em coor<strong>de</strong>nadas polares<br />

Se o eixo polar é i<strong>de</strong>ntificado com o dos x > 0 e o Pólo com (x,y) = (0,0) então:<br />

r = x 2 +y 2 e tan(θ) = y<br />

x .<br />

No Capítulo 20 <strong>de</strong>finimos a excentricida<strong>de</strong> e o semi-latus rectum <strong>de</strong> uma cônica<br />

qualquer.<br />

Afirmação 7.1. Seja uma cônica com foco F, semi-latus rectum l e excentricida<strong>de</strong><br />

e > 0.<br />

Tome coor<strong>de</strong>nadas polares cujo Pólo é F. Use o eixo da cônica como eixo dos x<br />

e ponha como eixo polar o eixo x > 0.<br />

Então nessa coor<strong>de</strong>nada polar a cônica é dada por:<br />

l<br />

r(θ) =<br />

1+e·cos(θ) ,<br />

on<strong>de</strong> θ é o ângulo medido com o eixo polar.<br />

Em particular:<br />

• as elipses x2<br />

a 2 + y2<br />

b 2 = 1 viram<br />

r(θ) =<br />

b 2<br />

a<br />

1+ √ a 2 −b 2<br />

a ·cos(θ) .<br />

Essa <strong>de</strong>scrição se esten<strong>de</strong> ao círculo x2 +y2 = a2 , pondo e = 0, o que dá a<br />

equação r(θ) = l = a.<br />

• As hipérboles x2<br />

a2 − y2<br />

b2 = 1 viram<br />

b<br />

r(θ) =<br />

2<br />

a<br />

1+ √ a2 +b2 ·cos(θ) a .<br />

• as parábolas y2 = 4ρ·x viram r(θ) = 2ρ<br />

1+cos(θ) .<br />

Demonstração.<br />

Como o Pólo é F, temos para um ponto P da cônica<br />

r(P) = e·Pr<br />

on<strong>de</strong> r é diretriz da cônica.<br />

Consi<strong>de</strong>re x = −(ρ+eρ) a equação da diretriz, P0 = (−eρ,0) vértice da cônica e<br />

o foco F = (0,0). Ou seja, que a distância entre a diretriz e o foco F é ρ+eρ.<br />

Denote x(P) a coor<strong>de</strong>nada x <strong>de</strong> P (que po<strong>de</strong> assumir valores positivos ou negativos).<br />

Então<br />

Pr = (ρ+eρ)+x(P)<br />

e portanto<br />

r(P) = e·(ρ+eρ+x(P))<br />

Um ponto ˆ P da cônica com ˆ Pr = (ρ+eρ) está situado verticalmente sobre o foco.<br />

Pela Definição 2.1 <strong>de</strong> cônica do Capítulo 20,<br />

ˆPF = e·(ρ+eρ).


7. AS ÓRBITAS COMO CÔNICAS EM COORDENADAS POLARES 598<br />

Mas o semi-latus rectum l foi <strong>de</strong>finido como a distância ˆ PF, ou seja, l = e·(ρ+eρ).<br />

Ou seja, temos<br />

r(P) = l +e·x(P).<br />

Po<strong>de</strong>mos tomar o ângulo ˆ θ que o vetor posição faz com a semi-reta que sai <strong>de</strong><br />

F = (0,0) e chega no vértice P0 = (−eρ,0). Assim x(P0) = r(P0)cos(0). Assim em<br />

geral,<br />

x(P) = r(P)cos( ˆ θ) = −r(P)cos(π − ˆ θ) = −r(P)cos(θ)<br />

on<strong>de</strong> θ é o ângulo formado com o eixo x > 0. Daí<br />

e portanto<br />

r(P) = l−e·r(P)cos(θ)<br />

r(P) = r(θ) =<br />

l<br />

1+e·cos(θ) .<br />

Afirmação 7.2. A trajetória <strong>de</strong>terminada na Afirmação 6.2 como<br />

r(θ) =<br />

é uma cônica com semi-latus rectum C2<br />

C2 GM<br />

1+ √ m2G2M2 +2mEC2 ·cos(θ)<br />

GMm<br />

e excentricida<strong>de</strong><br />

GM<br />

√<br />

m2G2M2 +2mEC 2<br />

e = .<br />

GMm<br />

A<strong>de</strong>mais, é uma elipse (círculo), parábola ou hipérbole se respectivamente E < 0<br />

(E = −mG2M 2<br />

2C2 ), E = 0 ou E > 0.<br />

Demonstração.<br />

A Afirmação 7.1 já <strong>de</strong>monstrada nos diz que se trata <strong>de</strong> uma cônica com essa<br />

excentricida<strong>de</strong> e esse semi-latus rectum.<br />

Agora noto que:<br />

E do mesmo modo<br />

e < 1 ⇔ m 2 G 2 M 2 +2mEC 2 < G 2 M 2 m 2 ⇔<br />

⇔ 2mEC 2 < 0 ⇔ E < 0.<br />

e = 0 ⇔ E = − mG2 M 2<br />

2C 2 ,<br />

e = 1 ⇔ E = 0<br />

e > 1 ⇔ E > 0.<br />

Exemplo:<br />

As órbitas dos planetas dos sistema Solar tem excentricida<strong>de</strong> muito pequena.<br />

Mercúrio é o planeta do sistema solar cuja órbita tem a maior excentricida<strong>de</strong>, da<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> e = 0.205630. Seu semi-latus rectus é 5.54430×10 10 m.


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 599<br />

-6E10<br />

-4E10<br />

-2E10<br />

4E10<br />

2E10<br />

0E0 2E10<br />

0E0<br />

Figura: Elipse r(θ) = l<br />

1+ecos(θ) , e = 0.205630 e l = 5.54430×1010 (notação 5.5E10).<br />

-2E10<br />

-4E10<br />

8. Oscilador harmônico<br />

A Afirmação a seguir prova um fato que já usamos na prova da Afirmação 6.2,<br />

além <strong>de</strong> reforçar o conteúdo da Afirmação 2.1 do Capítulo 12:<br />

Afirmação 8.1.<br />

i) Todas as soluções do problema<br />

on<strong>de</strong> k,H ∈ R, são da forma<br />

4E10<br />

f ′′ (x) = −k 2 ·f(x)+H, ∀x ∈ R<br />

f(x) = a·cos(k ·x)+b·sin(k ·x)+ H<br />

k 2<br />

on<strong>de</strong> a,b são constantes arbitrárias. Essas constantes ficam <strong>de</strong>terminadas por a =<br />

f(0) e b = f ′ (0).<br />

ii) A<strong>de</strong>mais 7 ,<br />

on<strong>de</strong><br />

a·cos(k ·x)+b·sin(k ·x) ≡ A·cos(k ·x−q)<br />

A = √ a 2 +b 2 e cos(q) =<br />

a<br />

a 2 +b 2.<br />

Demonstração.<br />

Se k = 0 tudo é muito fácil. Por isso suponho k = 0.<br />

De i): Derivando duas vezes as funções acos(k ·x)+b·cos(k ·x)+ H<br />

k2 se verifica<br />

facilmente que elas satisfazem:<br />

f ′′ (x) = −k 2 ·f(x)+H, H ∈ R.<br />

7 Note que (A,q) funciona como coor<strong>de</strong>nadas polares do vetor (a,b). Essas novas gran<strong>de</strong>zas são<br />

úteis pois dizem que a solução é um gráfico do cosseno expandido verticalmente por A (amplitu<strong>de</strong>),<br />

<strong>de</strong>slocado horizontalmente por q e com frequência modificada pelo fator k.


8. OSCILADOR HARMÔNICO 600<br />

O que precisamos provar é que não há outros tipos <strong>de</strong> função satisfazendo essa<br />

equação.<br />

Consi<strong>de</strong>re uma misteriosa função f que satisfaça<br />

f ′′ (x) = −k 2 ·f(x)+H, H ∈ R<br />

bem como a função muito simples g(x) ≡ H<br />

k 2, que certamente também verifica essa<br />

equação.<br />

Então a nova função φ := f −g = f(x)− H<br />

k 2 satisfaz o problema:<br />

φ ′′ (x) = −k 2 ·φ(x).<br />

Se conseguirmos provar que as únicas soluções <strong>de</strong> φ ′′ (x) = −k 2 ·φ(x) são da forma<br />

a·cos(k·x)+b·sin(k·x), coma,bconstantes arbitrárias, entãonossa outroramisteriosa<br />

função vira:<br />

f(x) =: φ(x)+g(x) = a·cos(k ·x)+b·sin(k ·x)+ H<br />

k 2,<br />

que é o que queremos provar.<br />

Portanto recaímos num problema levemente mais fácil:<br />

φ ′′ (x) = −k 2 ·φ(x).<br />

Nessa direção, vamos provar primeiro o seguinte:<br />

Caso 1: se φ(x) satisfaz φ ′′ (x) = −k 2 ·φ(x) e a<strong>de</strong>mais φ(0) = φ ′ (0) = 0 então<br />

φ(x) ≡ 0.<br />

De fato, teríamos:<br />

φ ′′ (x)+k 2 ·φ(x) ≡ 0<br />

e portanto<br />

ou seja,<br />

e portanto<br />

2φ ′ (x)·[φ ′′ (x)+k 2 ·φ(x)] ≡ 0<br />

[(φ ′ (x)) 2 +(k 2 φ(x)) 2 ] ′ ≡ 0<br />

(φ ′ (x)) 2 +(k 2 φ(x)) 2 ≡ C.<br />

Mas φ(0) = φ ′ (0) = 0 dão que (φ ′ (x)) 2 + (k ·φ(x)) 2 ≡ 0 e isso implica que φ ′ (x) ≡<br />

φ(x) ≡ 0, como queríamos.<br />

Agora atacaremos o caso geral:<br />

Caso 2: φ(x) satisfaz φ ′′ (x) = −k 2 ·φ(x) mas a := φ(0) e b := φ ′ (0) são arbitrários.<br />

Derivando duas vezes se vê que ψ(x) := a·cos(k·x)+b·sin(kx) satisfaz ψ ′′ (x) =<br />

−k 2 ·ψ(x). Então<br />

(φ−ψ)(x) := φ(x)−ψ(x)<br />

satifaz<br />

(φ−ψ) ′′ (x) = −k 2 ·(φ−ψ)(x).<br />

Mas agora (φ−ψ)(0) = 0 e (φ−ψ) ′ (0) = 0 e pelo Caso 1 aplicado à função (φ−ψ)(x)<br />

concluo que φ−ψ ≡ 0, ou seja φ = a·cos(k ·x)+b·sin(kx) como queríamos.<br />

De ii):


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 601<br />

Temos:<br />

cos(k ·x−q) = cos(k ·x)·cos(−q)−sin(k ·x)·sin(−q) =<br />

= cos(k ·x)·cos(q)+sin(k ·x)·sin(q) =<br />

= cos(k ·x)·<br />

portanto com A = √ a 2 +b 2 sai o item ii).<br />

a b<br />

√ +sin(k ·x)· √<br />

a2 +b2 a2 +b2 ,<br />

9. Área em coor<strong>de</strong>nadas polares e a lei <strong>de</strong> Kepler sobre as áreas<br />

Vamos aqui dar o significado geométrico do item i) da Afirmação 6.1.<br />

Como veremos, ele diz que à medida que um planeta percorre uma órbita cônica<br />

tendo o Sol em um <strong>de</strong> seus focos, a taxa <strong>de</strong> variação da área do setor centrado no<br />

foco é constante.<br />

Para isso, primeiro preciso explicar como se calculam áreas em coor<strong>de</strong>nadas polares,<br />

pois foi nessas coor<strong>de</strong>nadas que obtivemos as tajetória cônicas.<br />

Quando se divi<strong>de</strong> uma pizza circular <strong>de</strong> raio r cortando fatias que passam pelo<br />

centro, todos acham uma divisão justa se as fatias têm o mesmo ângulo central.<br />

Ou seja, a área <strong>de</strong> um setor circular (a fatia <strong>de</strong> pizza) é proporcional ao ângulo<br />

θ central. Se a abertura é θ ∈ [0,2π] a área é:<br />

Aθ = θ· r2<br />

2 ,<br />

on<strong>de</strong> a área total é A(2π) = πr2 .<br />

Quando temos um setor <strong>de</strong>limitado pelo pólo e por uma curva em coor<strong>de</strong>nada<br />

polar r = r(θ) ≥ 0, com θ ∈ [a,b] , po<strong>de</strong>mos começar a aproximação da área <strong>de</strong>ssa<br />

região pela soma <strong>de</strong> áreas as <strong>de</strong> setores circulares <strong>de</strong> abertura ∆θi := θi −θi−1 e raio<br />

r(ξi), on<strong>de</strong> ξi ∈ [θi−1,θi]:<br />

n 2 r(ξi)<br />

A(∆θ1)+A(∆θ2)+...+A(∆θn) = ∆θi · .<br />

2<br />

Veja a Figura:<br />

∆θ<br />

1<br />

∆θ<br />

2<br />

∆θ<br />

3<br />

r ( )<br />

θ<br />

O<br />

∆θ<br />

4<br />

i=1


10. EM TORNO DA PROPOSIÇÃO XXX DO PRINCIPIA 602<br />

Se pensamos em refinar a partição do intervalo [a,b], fazendo n → +∞, temos<br />

motivada a Definição a seguir:<br />

Definição 9.1. A área do setor <strong>de</strong>terminando pelo pólo O e a curva r(θ) ≥ 0 com<br />

θ ∈ [a,b] é:<br />

b<br />

r2 (θ)<br />

·dθ.<br />

2<br />

a<br />

Agora, se θ = θ(t) é uma função estritamente crescente <strong>de</strong> t ∈ [c,d] po<strong>de</strong>mos<br />

escrever:<br />

θ0(t0)<br />

r<br />

a<br />

2 t0 (θ) r<br />

dθ =<br />

2 c<br />

2 (θ(t))<br />

·θ<br />

2<br />

′ (t)dt<br />

e pelo Primeiro Teorema Fundamental do Cálculo:<br />

(<br />

θ0<br />

a<br />

r2 (θ)<br />

2 dθ)′ (t0) = r2 (θ(t0))<br />

·θ<br />

2<br />

′ (t0).<br />

Na Afirmação 6.1 temos uma situação em que θ = θ(t) é uma função estritamente<br />

crescente e lá obtivemos no item i):<br />

r 2 (θ(t))·θ ′ (t) ≡ C,<br />

ou seja:<br />

r2 (θ(t))<br />

·θ<br />

2<br />

′ (t) ≡ C<br />

2 .<br />

Portanto durante as trajetória dos planetas a taxa <strong>de</strong> variação das áreas dos setores<br />

<strong>de</strong>scritos é constante.<br />

Ou seja, a velocida<strong>de</strong> areal é constante, o que é conhecido como Lei <strong>de</strong> Kepler.<br />

10. Em torno da proposição XXX do Principia<br />

A obra fundamental <strong>de</strong> Newton, o Principia Mathematica <strong>de</strong> 1686, não é nada<br />

fácil <strong>de</strong> ser lida, pois, além da complexida<strong>de</strong> do tema, lá se adota uma exposição num<br />

estilo difícil <strong>de</strong> ser entendido.<br />

Tanto pelo tom imperial do autor (do tipo, faça isso e isso e esta é a resposta.<br />

ponto final) como principalmente por ele ter feito gran<strong>de</strong> parte da exposição no estilo<br />

da geometria grega (sintética, não-analítica)<br />

Dá para enten<strong>de</strong>r que ele não quisesse expôr fisica nova com matemática nova,<br />

recém criada (por ele).<br />

O gran<strong>de</strong> físico S. Chandrasekhar escreveu um livro para ajudar a quem quer ler<br />

o Principia (Newton’s Principia for the common rea<strong>de</strong>r) e baseado nele (p.131 em<br />

diante) é que consegui enten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>monstração da proposição a seguir.<br />

Também é <strong>de</strong> se notar que algumas afirmações <strong>de</strong> Newton só foram entendidas<br />

pela comunida<strong>de</strong> físico-matemática séculos <strong>de</strong>pois, como o mostrou V. Arnold.<br />

A Afirmação a seguir é o Corolário II da Proposição XXX do Principia (veja a<br />

Figura)


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 603<br />

Afirmação 10.1. Consi<strong>de</strong>re uma parábola <strong>de</strong> equação x = 1<br />

4a ·y2 , com vértice A =<br />

(0,0) e foco S = (a,0). Tome a mediatriz m do segmento AS, dada portanto por<br />

m : x = a<br />

2<br />

. Denote G = (a<br />

2 ,0). Consi<strong>de</strong>re pontos P da parábola e mP retas<br />

mediatrizes dos segmentos SP. Determine o ponto HP := m ∩ mP (veja Figura a<br />

seguir).<br />

Então à medida que o ponto P se move na parábola atraído segundo a lei <strong>de</strong><br />

atração do inverso quadrado pelo ponto no foco S, o ponto HP se move na reta m<br />

com velocida<strong>de</strong> constante. E a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hp é igual a 3 do módulo da velocida<strong>de</strong><br />

8<br />

que tem P ao passar pelo vértice A.<br />

H P<br />

A G<br />

A prova a seguir é a <strong>de</strong> S. Chandrasekhar:<br />

Demonstração.<br />

Temos pela construção e por Pitágoras:<br />

S<br />

AG 2 +GH 2 = GS 2 +GH 2 = SH 2 .<br />

Como os triângulos ∆SZH e ∆PZH são congruentes, então:<br />

AG 2 +GH 2 = PH 2 .<br />

Sejam O a projeção vertical <strong>de</strong> P e H ′ a projeção horizontal em PO <strong>de</strong> H, como<br />

mostra a figura a seguir:<br />

H<br />

Y<br />

S ’<br />

Z<br />

A G S<br />

O<br />

P<br />

P<br />

H ’


10. EM TORNO DA PROPOSIÇÃO XXX DO PRINCIPIA 604<br />

Então:<br />

PH 2 = PH ′2 +H ′ H 2 = (PO−GH) 2 +(AO−AG) 2 =<br />

= PO 2 −2PO·GH +AO 2 −2AO ·AG+GH 2 +AG 2 .<br />

Logo igualando e cancelando termos:<br />

ou seja,<br />

0 = PO 2 −2PO·GH +AO 2 −2AO·AG,<br />

2PO·GH = PO 2 +AO 2 −2AO·AG.<br />

Como x = AO e y = PO, a equação<br />

x = 1<br />

4a ·y2<br />

permite escrever<br />

que dá<br />

e dividindo por PO = 0:<br />

AO = 1<br />

4AS ·PO2 =<br />

1<br />

4·2·AG ·PO2 ,<br />

2PO·GH = PO 2 ·[1+ PO2 1<br />

− ] =<br />

(4AS) 2 4<br />

= PO 2 ·[ 3<br />

4<br />

2·GH = PO·[ 3<br />

4<br />

Multiplicando o queobtivemos por 4<br />

6<br />

PO2<br />

+ ]<br />

(4AS) 2<br />

PO2<br />

+ ] =<br />

(4AS) 2<br />

= PO·[ 3 AO<br />

+<br />

4 4AS ]<br />

·AS obtenho:<br />

4 1<br />

·GH ·AS = ·PO(AO +3·AS) =<br />

3 6<br />

= 1<br />

·PO(4·AO−3·(AO −AS)) =<br />

6<br />

= 1<br />

·PO(4·AO −3·OS) =<br />

6<br />

= 2<br />

3 ·x(P)·y(P)−A(∆SOP),<br />

on<strong>de</strong> x(P) e y(P) são as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> P da parábola e A(∆SOP) é a área do<br />

triângulo.<br />

Agora notamos que a área sob o gráfico <strong>de</strong> y = 2· √ a √ x, <strong>de</strong> x = 0 até x = x(P),<br />

é pelo Teorema Fundamental do Cálculo:<br />

x<br />

0<br />

2· √ a √ tdt = 4<br />

3 ·√ a·x 3<br />

2 =<br />

= 2<br />

3 ·x·√ 4ax =


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 605<br />

= 2<br />

3 ·x(P)·y(P).<br />

O segmento parabólico SOP é a região obtida ao retirar o triângulo ∆SOP da região<br />

sob o gráfico da parábola <strong>de</strong> A até o ponto O. O que obtivemos acima é que a área<br />

<strong>de</strong>sse segmento parabólico SOP, <strong>de</strong>notada A(SOP), é:<br />

Ou seja,<br />

A(SOP) = 4 4a<br />

·GH ·AS =<br />

3 3 ·GH.<br />

GH = 3<br />

4a A(SOP).<br />

Ora, a posição <strong>de</strong> P = P(t)eH = H(t) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tempo tque <strong>de</strong>screve a trajetória,<br />

portanto:<br />

dGH(t)<br />

=<br />

dt<br />

3 dA(SOP(t))<br />

· ≡<br />

4a dt<br />

3 C<br />

4a 2 ,<br />

on<strong>de</strong> na última equivalência usei o item i) da Afirmação 6.1, como foi interpretada<br />

na Seção 9 anterior.<br />

Só falta ver que o módulo da velocida<strong>de</strong> vA <strong>de</strong> P ao passar por A vale<br />

para então terminarmos a <strong>de</strong>monstração.<br />

Lembre da Afirmação 6.1 que<br />

ou seja<br />

vA = C<br />

a ,<br />

C ≡ r 2 (θ(t))·θ ′ (t),<br />

C = r 2 (θ(0))·θ ′ (0) = a 2 ·θ ′ (0).<br />

Como vimos na Seção 5, a velocida<strong>de</strong> P ′ (t) <strong>de</strong> P tem duas projeções: uma radial, <strong>de</strong><br />

módulo:<br />

r ′ (θ(t))<br />

e outra ortogonal, <strong>de</strong> módulo:<br />

r(θ(t))·θ ′ (t).<br />

Mas A = A(0) é o vértice da parábola, logo é um ponto <strong>de</strong> mínimo <strong>de</strong> r(θ(t)) e<br />

portanto r ′ (θ(0)) = 0. Portanto se o tempo for medido a partir da posição A:<br />

Logo:<br />

como queríamos.<br />

vA = r(0)·θ ′ (0) = a·θ ′ (0).<br />

vA = C<br />

a ,


11. A EQUAÇÃO DE KEPLER PARA O MOVIMENTO PLANETÁRIO<br />

ELÍPTICO 606<br />

11. A Equação <strong>de</strong> Kepler para o movimento planetário elíptico<br />

Obteremos aqui uma equação, cuja solução na Seção 6 do Capítulo 46 permitirá<br />

dizer para on<strong>de</strong> <strong>de</strong>vemos olhar no céu a cada instante para localizar um <strong>de</strong>terminado<br />

planeta. Ou seja, permitirá parametrizar a posição do planeta numa órbita elíptica<br />

em função do tempo.<br />

Minha referência para esta Seção é o livro Analytical Mechanics, <strong>de</strong> A. Fasano e<br />

S. Marmi, Oxford University Press, 2006.<br />

Afirmação 11.1. (Equação <strong>de</strong> Kepler)<br />

Suponhamos que um <strong>de</strong>terminado planeta se move numa trajetória elíptica E dada<br />

em coor<strong>de</strong>nadas cartesianas por:<br />

X2 2 Y<br />

+ = 1, 0 < b < a.<br />

a2 b2 Trace o círculo C <strong>de</strong> raio a centrado na origem O = (0,0).<br />

Dado um ponto P(T) (T é o tempo percorrido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o perihélio em A = (a,0))<br />

da trajetória elíptica, <strong>de</strong>noto Q ∈ C a projeção vertical <strong>de</strong> P(T) no círculo C.<br />

Sejam (R,φ) as coor<strong>de</strong>nadas polares <strong>de</strong> Q tendo pólo em O = (0,0).<br />

Então:<br />

φ−e·sin(φ) = 2π<br />

·T,<br />

on<strong>de</strong> T0 é o período da trajetória.<br />

A gran<strong>de</strong>za φ é conhecida como anomalia excentrica e M := 2π·T<br />

T0<br />

média.<br />

T0<br />

é a anomalia<br />

Na Figura a seguir os dados da elipse estão em vermelho; enquanto que os do<br />

círculo e <strong>de</strong> construções auxiliares que faremos etão em azul:<br />

O<br />

Demonstração.<br />

Suponha que o perihélio está em A, com coor<strong>de</strong>nada X(A) = a > 0. Sabemos<br />

que a coor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> F é (X,Y) = (e·a,0), on<strong>de</strong> 0 < e < 1 é a excentricida<strong>de</strong>.<br />

Sejam (r,θ) coor<strong>de</strong>nadas polares com pólo no Foco A da elipse, on<strong>de</strong> se encontra<br />

o Sol, com θ = 0 o perihélio A. Dado um ponto P = A da trajetória elíptica, <strong>de</strong>noto<br />

Y<br />

ϕ<br />

Q<br />

P<br />

p<br />

F<br />

θ<br />

A<br />

X


CAPÍTULO 39. NEWTON E A GRAVITAÇÃO 607<br />

Q ∈ C a projeção vertical <strong>de</strong> P no círculo C. E <strong>de</strong>noto por p a projeção <strong>de</strong> P no eixo<br />

horizontal.<br />

No que segue pensaremos em P no semiplano Y > 0 e nos gráficos do círculo e da<br />

elipse:<br />

YC(X) = √ a 2 −X 2 ,<br />

YE(X) = b 2 <br />

· 1− X2 b<br />

=<br />

a2 a ·√a2 −X 2 .<br />

Uma observação sobre a área do setor da elipse e do círculo:<br />

Ar(AFP) = b<br />

a ·Ar(AFQ).<br />

De fato,<br />

Ar(AFP) = Ar(ApP)−Ar(∆FpP) =<br />

e setor do círculo,<br />

Mas<br />

=<br />

já que YE(X) = b<br />

a ·YC(X).<br />

Logo:<br />

=<br />

a<br />

a<br />

X(p)<br />

X(p)<br />

YE(X)dX − Fp·pP<br />

2<br />

=<br />

b<br />

a ·√a2 −X 2dX − Fp·pP<br />

.<br />

2<br />

Ar(AFQ) = Ar(ApQ)−Ar(∆FpQ) =<br />

=<br />

=<br />

a<br />

YC(X)dX − Fp·pQ<br />

2<br />

=<br />

X(p)<br />

a<br />

·<br />

X(p)<br />

√ a2 −X 2dX − Fp·pQ<br />

.<br />

2<br />

pP = b<br />

a ·pQ,<br />

Ar(AFP) = b<br />

a ·Ar(AFQ).<br />

Pela lei <strong>de</strong> Kepler para as áreas varridas,<br />

Ar(AFP(T)) = C ·T,<br />

on<strong>de</strong> T é o tempo percorrido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o periélio (T = 0) e 2C é o momento angular. Em<br />

particular:<br />

Ar(E) = π ·ab = C ·T0,<br />

on<strong>de</strong> T0 <strong>de</strong>nota o período.<br />

Logo até aqui temos para P(T)<br />

C ·T = b<br />

a ·Ar(AFQ).<br />

Agora noto que, para O = (0,0) e (R,φ) coor<strong>de</strong>ndas polares com pólo em O:<br />

Ar(AFQ) = Ar(AOQ)−Ar(FOQ) =


11. A EQUAÇÃO DE KEPLER PARA O MOVIMENTO PLANETÁRIO<br />

ELÍPTICO 608<br />

on<strong>de</strong> F = (e·a,0).<br />

Concluímos que<br />

e portanto<br />

= b<br />

a ·[a2<br />

2<br />

= b<br />

a ·[a2<br />

2<br />

FOpQ<br />

·φ− ] =<br />

2<br />

(e·a)·(a·sin(φ))<br />

·φ− ]<br />

2<br />

C ·T = ab<br />

2 ·[φ−e·sin(φ)].<br />

φ−e·sin(φ) = 2C<br />

ab<br />

2π<br />

·T = ·T =: M.<br />

T0


CAPíTULO 40<br />

Equações diferenciais <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m<br />

1. Redução <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

Quando queremos resolver uma equação <strong>de</strong> grau 4 do tipo:<br />

a·x 4 +b·x 2 +c = 0<br />

obviamente fazemosz := x 2 e<strong>de</strong>scobrimos asraízes <strong>de</strong>sta equação quadrática. Depois<br />

voltamos na variável original x.<br />

Do mesmo modo uma equação diferencial <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m<br />

pe<strong>de</strong> que façamos<br />

x ′′ − 2<br />

t ·x′ = t<br />

z(t) := x ′ (t)<br />

e resolvamos primeiro a equação <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m:<br />

z ′ − 2<br />

·z = t<br />

t<br />

para <strong>de</strong>pois obtermos x = zdt. Isso é uma redução <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m.<br />

Há um tipo <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m que se aplica a equações autônomas (on<strong>de</strong> a<br />

variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte não figura explicitamente) <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m. Por exemplo, a<br />

equação da Seção 2 do Capítulo 39<br />

x ′′ = − 1<br />

x2 é uma equação autônoma.<br />

Como a velocida<strong>de</strong> x ′ (t)po<strong>de</strong>ser pensada comouma função da posiçãoxpo<strong>de</strong>mos<br />

introduzir a variável:<br />

z := x ′<br />

e pensarmos em z = z(x).<br />

Daí então (com a notação <strong>de</strong> Leibniz para a regra da ca<strong>de</strong>ia):<br />

e a equação vira:<br />

Ou seja,<br />

x ′′ (t) = dx′<br />

dt<br />

= dz<br />

dt<br />

dz dx<br />

= ·<br />

dx dt<br />

dz 1<br />

·z = −<br />

dx x2. z 2<br />

2<br />

= 1<br />

x +C1<br />

609<br />

=: dz<br />

dx ·z


2. HOMOGÊNEAS, A COEFICIENTES CONSTANTES 610<br />

e daí<br />

<br />

2<br />

z = ±<br />

x +2C1<br />

ou seja,<br />

x ′ <br />

2<br />

= ±<br />

x +2C1.<br />

Por exemplo, com C1 = 0, continuamos com<br />

√<br />

′<br />

x(t)·x (t) = 2<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

2<br />

3 ·x(t)3 2 = ± √ 2·t+C2,<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> obtemos x(t).<br />

Esta idéia permite por exemplo resolver a equação a seguir, que é autônoma <strong>de</strong><br />

segunda or<strong>de</strong>m mas não-linear:<br />

vira<br />

x ′′ +(x ′ ) 2 = x<br />

z ′ ·z +z 2 = x<br />

se fazemos como antes<br />

z = x ′<br />

e dz<br />

dx ·z = x′′ .<br />

Supondo z = 0 e dividindo por z temos:<br />

dz x<br />

+z =<br />

dx z ,<br />

ou seja,<br />

dz<br />

dx = −z +x·z−1 ,<br />

que é uma equação <strong>de</strong> Bernoulli com expoente r = −1. Agora trata-se <strong>de</strong> resolver<br />

esta equação (o que já sabemos fazer) e <strong>de</strong>pois voltar na variável x <strong>de</strong> partida.<br />

2. Homogêneas, a coeficientes constantes<br />

Na Afirmação 8.1 do Capítulo 39 resolvemos a equação<br />

f ′′ (x)+k 2 ·f(x) = 0, ∀x ∈ R<br />

(etambémocaso nãohomogêneo), <strong>de</strong>on<strong>de</strong><strong>de</strong>corre quetodasassoluções doproblema<br />

f ′′ (x)+f(x) = 0, ∀x ∈ R<br />

são da forma<br />

y = f(x) = a·cos(x)+b·sin(x)<br />

on<strong>de</strong> a,b são constantes arbitrárias. Essas constantes ficam <strong>de</strong>terminadas por<br />

a = y(0) e b = y ′ (0).<br />

Agora quero tratar do problema mais geral:<br />

f ′′ (x)+K ·f ′ (x)+L·f(x) = 0, K,L ∈ R.


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 611<br />

do qual uma instância já apareceu quando tratamos da Lei <strong>de</strong> Hooke com atrito no<br />

Capítulo 12.<br />

Afirmação 2.1. A solução geral <strong>de</strong><br />

f ′′ (x)+K ·f ′ (x)+L·f(x) = 0, K,L ∈ R<br />

fica <strong>de</strong>terminada pela natureza das soluções r1,r2 da equação quadrática:<br />

r 2 +K ·r +L = 0.<br />

• Se há duas raízes Reais r1,r2 ∈ R distintas, então a solução geral é<br />

que ficam <strong>de</strong>terminados por<br />

y = f(x) = a·e r1x +b·e r2x<br />

a = y′ (0)−r2y(0)<br />

e b = y(0)−a.<br />

r1 −r2<br />

• Se há uma raíz dupla r1 = r2 ∈ R a solução geral é<br />

que ficam <strong>de</strong>terminados por<br />

• Se r1 = −K<br />

geral é<br />

2 +I· √ 4−K 2<br />

y = a·e −K<br />

2 x ·cos(<br />

y = a·x·e −K<br />

2 ·x +b·e −K<br />

2 ·x ,<br />

b = y(0) e a = y(0)· K<br />

2 +y′ (0).<br />

2 e r2 = −K<br />

√ 4L−K 2<br />

2<br />

que ficam <strong>de</strong>terminados por<br />

2 −I· √ 4−K 2<br />

2 são Complexos, então a solução<br />

·x)+b·e −K<br />

2 x √<br />

4L−K 2<br />

·sin( ·x).<br />

2<br />

a = y(0) e b = 2y′ (0)+Ky(0)<br />

√ .<br />

4L−K 2<br />

Observação: Como as funções hiperbólicas são <strong>de</strong>finidas por cosh(x) := ex +e −x<br />

2 e<br />

sinh(x) := ex −e −x<br />

2 e como<br />

e x = cosh(x)+sinh(x)<br />

é possível expressar o resultado <strong>de</strong>ssa Afirmação usando as funções hiperbólicas.<br />

AFiguraaseguircompara,comasmesmascondiçõesiniciaisy(0) = 8ey ′ (0) = 10,<br />

as diferentes soluções <strong>de</strong><br />

y ′′ +K ·y ′ +y = 0,<br />

on<strong>de</strong> K vale:<br />

• K = 0 em vermelho,<br />

• K = 1/2 em ver<strong>de</strong>,<br />

• K = 2 em amarelo e<br />

• K = 3 em azul.


2. HOMOGÊNEAS, A COEFICIENTES CONSTANTES 612<br />

Demonstração.<br />

A idéia para resolver:<br />

é buscar soluções do tipo:<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0<br />

2 4<br />

-5<br />

-10<br />

x<br />

6<br />

8<br />

10<br />

12<br />

f ′′ (x)+K ·f ′ (x)+L·f(x) = 0<br />

y = e rx<br />

on<strong>de</strong> a natureza da constante r é a essência do problema.<br />

Ou seja, queremos que valha:<br />

isto é,<br />

(e rx ) ′′ +K ·(e rx ) ′ +L·e rx = 0,<br />

e rx ·(r 2 +K ·r +L) = 0.<br />

Como e rx = 0 precisamos que r satisfaça a equação característica associada:<br />

cujas raízes são:<br />

r1 := −K +√ ∆<br />

2<br />

r 2 +K ·r+L = 0<br />

e r2 := −K −√∆ , on<strong>de</strong> ∆ = K<br />

2<br />

2 −4L.


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 613<br />

Se<br />

temos r1,r2 ∈ R e r1 = r2, daí:<br />

y = f1(x) = e r1x<br />

∆ > 0 ⇔ K 2 > 4L<br />

e y = f2(x) = e r2x<br />

são soluções, assim como qualquer combinação linear:<br />

y = f(x) = a·e r1x +b·e r2x .<br />

Agora as condições y(0) e y ′ (0) permitem <strong>de</strong>terminar a,b, pois:<br />

ou seja:<br />

y(0) = a+b e y ′ (0) = r1a+r2b,<br />

a = y′ (0)−r2y(0)<br />

r1 −r2<br />

e b = y(0)−a.<br />

O problema começa a complicar quando ∆ = 0 e quando ∆ < 0 (este último foi<br />

o caso que apareceu no Capítulo 12 sobre as Leis <strong>de</strong> Hooke, on<strong>de</strong> usei K = 0.1 ou<br />

K = 0.3 e L = 1).<br />

Quando<br />

∆ = 0 ⇔ K 2 = 4L<br />

temos<br />

r := r1 = r2 = − K<br />

2 ;<br />

Precisamos buscar outra solução, diferente (linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte) da solução<br />

y = f(x) = e −K<br />

2 ·x . A idéia é buscar soluções do tipo 1 :<br />

Ou seja, quero que:<br />

y = g(x)·e −K<br />

2 ·x .<br />

(g(x)·e −K<br />

2 ·x ) ′′ +K ·(g(x)·e −K<br />

2 ·x ) ′ + K2<br />

4 ·g(x)·e−K 2 ·x = 0,<br />

o que produz, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma bonita simplificação,<br />

ou seja,<br />

Então g(x) = ax+b e<br />

e −K<br />

2 ·x ·g ′′ (x) = 0,<br />

g ′′ (x) ≡ 0.<br />

y = (ax+b)·e −K<br />

2 ·x = a·x·e −K<br />

2 ·x +b·e −K<br />

2 ·x<br />

são soluções.<br />

As condições y(0) e y ′ (0) <strong>de</strong>terminam a,b:<br />

b = y(0) e a = y(0)· K<br />

2 +y′ (0).<br />

O caso mais bonito a meu ver é quando<br />

∆ < 0 ⇔ K 2 < 4L<br />

1 Essa idéia será generalizada no Método <strong>de</strong> Redução <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> D’alembert, na Seção 11.


3. NÃO-HOMOGÊNEAS, LINEARES DE SEGUNDA ORDEM 614<br />

pois então<br />

r1 = −K +I√4L−K 2<br />

e r1 =<br />

2<br />

−K −I√4L−K 2<br />

2<br />

são números complexos (conjugados).<br />

Defina como na Seção 5 do Capítulo 31<br />

e<br />

y = F1(x) = e −K+I<br />

= e −K<br />

2 x ·(cos(<br />

√ 4L−K 2<br />

2<br />

−K<br />

·x<br />

= e 2 ·x ·e I·<br />

√<br />

4L−K2 2<br />

·x =<br />

√ √<br />

4L−K 2 4L−K 2<br />

·x)+I sin( ·x))<br />

2 2<br />

y = F2(x) = e −K−I<br />

√<br />

4L−K2 −K<br />

·x 2 = e 2 x √ √<br />

4L−K 2 4L−K 2<br />

·(cos( ·x)−I sin(<br />

2 2<br />

Agora se usa a observação <strong>de</strong> que as combinações lineares <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong><br />

f ′′ (x)+K ·f ′ (x)+L·f(x) = 0<br />

·x)).<br />

são também soluções <strong>de</strong>ssa equação diferencial.<br />

Então, somando ou subtraindo as soluções Complexas F1 e F2 acima obtenho<br />

soluções Reais:<br />

= e −K<br />

2 x √<br />

4L−K 2<br />

·cos(<br />

f1(x) = F1 +F2<br />

·x)<br />

2 2<br />

e<br />

f2(x) = F1 −F2<br />

= e<br />

2I<br />

−K<br />

2 x √<br />

4L−K 2<br />

·sin( ·x).<br />

2<br />

Agora as condiçoes y(0) e y ′ (0) <strong>de</strong>terminam a,b em<br />

y = a·e −K<br />

2 x √<br />

4L−K 2<br />

·cos( ·x)+b·e<br />

2<br />

−K<br />

2 x √<br />

4L−K 2<br />

·sin( ·x).<br />

2<br />

pois<br />

ou seja:<br />

y(0) = a e y ′ (0) = − K<br />

2 a+b·<br />

√<br />

4L−K 2<br />

,<br />

2<br />

a = y(0) e b = 2y′ (0)+Ky(0)<br />

√ .<br />

4L−K 2<br />

3. Não-Homogêneas, lineares <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m<br />

Consi<strong>de</strong>ro o problema da Seção 2 anterior, mas agora no caso não-homogêneo:<br />

f ′′ (x)+K ·f ′ (x)+f(x) = g(x),<br />

em que tomei L = 1 apenas para simplificar a exposição.<br />

Afirmo que basta encontrar alguma solução φ1(x) <strong>de</strong>sse problema, pois qualquer<br />

outra φ2(x) produz<br />

(φ1 −φ2)(x)


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 615<br />

uma solução do problema homogêneo:<br />

f ′′ (x)+K ·f ′ (x)+f(x) = 0,<br />

que já conhecemos da Seção anterior y = a·f1(x)+b·f2(x). Logo:<br />

φ2(x) = a·f1(x)+b·f2(x)+φ1(x).<br />

Foi isso que aconteceu na Seção 8 do Capítulo 39, on<strong>de</strong> φ1(x) = H<br />

k 2 é obviamnte<br />

uma solução <strong>de</strong><br />

y ′′ (x)+k 2 ·y(x) = H.<br />

Po<strong>de</strong>mos enunciar como um princípio geral:<br />

Afirmação 3.1. (Princípio <strong>de</strong> superposição)<br />

Se φ1(x) é uma solução particular do problema não-homogêneo<br />

e se<br />

y ′′ (x)+P(x)·y(x)+Q(x)·y(x) = R(x)<br />

a·f1(x)+b·f2(x), a,b ∈ R<br />

são soluções gerais do problema homogêneo<br />

então:<br />

é solução geral do não-homogêneo.<br />

então<br />

y ′′ (x)+P(x)·y(x)+Q(x)·y(x) = 0<br />

a·f1(x)+b·f2(x)+φ1(x)<br />

Demonstração.<br />

Dada a φ1(x), basta notar que se φ2(x) é uma solução qualquer <strong>de</strong><br />

é solução <strong>de</strong><br />

y ′′ (x)+P(x)·y(x)+Q(x)·y(x) = R(x),<br />

φ2(x)−φx<br />

y ′′ (x)+P(x)·y(x)+Q(x)·y(x) = 0.<br />

Bom, mas e como encontrar uma solução particular φ1(x) do caso não-homogêneo<br />

? As próximas Seções 4 e 7 tratam disso.


4. NÃO HOMOGÊNAS: MÉTODO DE LAGRANGE DE VARIAÇÃO DE<br />

PARÂMETROS 616<br />

4. Não homogênas: Método <strong>de</strong> Lagrange <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> parâmetros<br />

Suponhamos conhecidas as soluções gerais a·f1(x)+b·f2(x), a,b ∈ R do problema<br />

homogêneo<br />

f ′′ (x)+K ·f ′ (x)+L·f(x) = 0, K,L ∈ R.<br />

É <strong>de</strong> Lagrange a idéia <strong>de</strong> buscar uma solução φ1(x) da forma<br />

para o problema não-homogêneo:<br />

φ1(x) = a(x)·f1(x)+b(x)·f2(x)<br />

y ′′ (x)+K ·y ′ (x)+L·y(x) = g(x).<br />

É chamado <strong>de</strong> método <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> parâmetros, já que o que é usualmente é constante<br />

(a,b) vira função não-constante (a(x),b(x)). 2<br />

Há liberda<strong>de</strong> na escolha <strong>de</strong> a(x),b(x) pois queremos apenas uma solução, não<br />

todas; portanto sobre sua <strong>de</strong>rivada<br />

φ ′ 1 (x) = a′ (x)f1(x)+a(x)f ′ 1 (x)+b′ (x)f2(x)+b(x)f ′ 2 (x)<br />

vamos impôr uma condição extra simplificadora:<br />

Assim<br />

temos<br />

Como queremos que<br />

a ′ (x)f1(x)+b ′ (x)f2(x) = 0.<br />

φ ′ 1 (x) = a(x)f′ 1 (x)+b(x)f′ 2 (x).<br />

φ ′′<br />

1(x)+K ·φ ′ 1(x)+L·φ(x) = g(x),<br />

(a(x)f ′ 1 (x)+b(x)f′ 2 (x))′ +K·(a(x)f ′ 1 (x)+b(x)f′ 2 (x))+L·(a(x)·f1(x)+b(x)·f2) = g(x);<br />

ou seja, (tiro x por falta <strong>de</strong> espaço)<br />

(a ′ f ′ 1 +af′′<br />

1 +b′ f ′ 2 +bf′′<br />

2 )+K(af′ 1 +bf′ 2 )+L·(af1 +bf2) = g(x)<br />

que produz, já que f1,f2 são soluções do problema homogêneo:<br />

a ′ (x)f ′ 1 (x)+b′ (x)f ′ 2 (x) = g(x).<br />

Criamos asiim um sistema <strong>de</strong> equações lineares nas incógnitas a ′ (x),b ′ (x):<br />

a ′ (x)f1(x)+b ′ (x)f2(x) = 0 e a ′ (x)f ′ 1 (x)+b′ (x)f ′ 2 (x) = g(x)<br />

cuja solução (regra <strong>de</strong> Cramer) é:<br />

a ′ (x) =<br />

−f2 ·g<br />

f1 ·f ′ 2 −f2 ·f ′ 1<br />

E finalmente obtemos, integrando:<br />

e b ′ (x) =<br />

f1 ·g<br />

f1 ·f ′ 2 −f2 ·f ′ 1<br />

2 Repare, à medida que for lendo, que o método funciona inclusive se houvessem coeficientes<br />

variáveis:<br />

f ′′ (x)+K(x)·f ′ (x)+L(x)·f(x) = g(x).<br />

A diferença é que não sabemos resolverainda essa equaçãohomogênea. Mas se soubermos, o método<br />

se aplica do mesmo modo.<br />

.


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 617<br />

<br />

a(x) =<br />

<br />

b(x) =<br />

−f2 ·g<br />

f1 ·f ′ 2 −f2 ·f ′ 1<br />

f1 ·g<br />

f1 ·f ′ 2 −f2 ·f ′ 1<br />

Po<strong>de</strong> surgir uma dúvida: será que o <strong>de</strong>terminante (chamado Wronskiano)<br />

dx<br />

dx.<br />

W(f1,f2) := f1 ·f ′ 2 −f2 ·f ′ 1<br />

não se anula em algum ponto ?<br />

Se po<strong>de</strong> provar que não, se f1 e f2 são linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Por exemplo, no caso em que L = 1, se voltamos na Seção 2 e calculamos esse<br />

<strong>de</strong>terminante, encontramos:<br />

• para K = 0,<br />

W(f1,f2) = sin 2 (x)+cos 2 (x) ≡ 1<br />

• para 0 < |K| < 2,<br />

• para K = ±2,<br />

• para |K| > 2,<br />

W(f1,f2) = 1<br />

2 ·e−Kx · √ 4−K 2 = 0<br />

W(f1,f2) = −e ±2x = 0<br />

W(f1,f2) = (r2 −r1)·e (r1+r2)·x = 0<br />

5. Um problema da Putnam Competition, n.58, 1987<br />

Problema: Se a função y = f(x) satisfaz a equação:<br />

f ′′ (x)−2·f ′ (x)+f(x) = 2·e x ,<br />

consi<strong>de</strong>re as duas questões a seguir sobre ela:<br />

a): f(x) > 0 ∀x ∈ R implica que f ′ (x) > 0 ∀x ∈ R ? Prove isso ou explique<br />

como produzir contra-exemplos.<br />

b): f ′ (x) > 0 ∀x ∈ R implica que f(x) > 0 ∀x ∈ R ? Prove isso ou explique<br />

como produzir contra-exemplos.<br />

Solução:<br />

ASeçãoanterior4nosexplicoucomoacharassoluçõesexplícitas<strong>de</strong>ssasequação.<br />

Como as soluções do caso homogêneo f ′′ (x)−2·f ′ (x)+f(x) = 0 são<br />

f(x) = a·x·e x +b·e x , a,b ∈ R,<br />

e o <strong>de</strong>terminante Wronskiano é −e 2x , então a solução especial φ obtida por variação<br />

<strong>de</strong> parâmetros é:<br />

φ = a(x)·xe x +b(x)·e x =<br />

= 2x·xe x +x 2 ·e x = x 2 ·e x .


5. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N.58, 1987 618<br />

Logo f(x) é da forma:<br />

f(x) = a·x·e x +b·e x +x 2 ·e x , a,b ∈ R.<br />

Para respon<strong>de</strong>r ao item a) vou mostrar que, mesmo se f é sempre positiva, f ′ (x)<br />

po<strong>de</strong> se anular, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que:<br />

a 2<br />

4<br />

< b < a2<br />

4 +1,<br />

por exemplo se a = 1 e b = 1<br />

2 .<br />

Para isso noto que:<br />

f(x) = e x ·(x 2 +a·x+b)<br />

e que<br />

Então:<br />

Enquanto que:<br />

f ′ (x) = e x ·(x 2 +(2+a)·x+a+b).<br />

f(x) > 0 ∀x ⇔ x 2 +a·x+b > 0 ∀x ⇔<br />

⇔ a 2 −4b < 0 ⇔ a2<br />

4<br />

< b.<br />

f ′ (x) = 0 ⇔ x 2 +(2+a)·x+a+b = 0 ⇔<br />

⇔ (2+a) 2 −4(a+b) ≥ 0 ⇔ b ≤ a2<br />

4 +1.<br />

Já o item b) tem uma resposta afirmativa.<br />

De fato, se f ′ (x) > 0 ∀x então:<br />

a 2<br />

4<br />

+1 < b.<br />

Inicialmente mostro que f(x) = 0 ∀x. Depois mostro que <strong>de</strong> fato f(x) > 0 ∀x.<br />

Se supomos que f(x) = 0 para algum x então<br />

Mas assim chegamos num absurdo:<br />

a 2<br />

4<br />

b ≤ a2<br />

4 .<br />

+1 < b ≤ a2<br />

4 .<br />

Então pelo Teorema do Valor Intermediário, ou bem f(x) > 0 ∀x (como queremos<br />

provar) ou bem f(x) < 0 ∀x. Neste último caso, como<br />

f(x) = a·x·e x +b·e x +x 2 ·e x , a,b ∈ R,<br />

f(0) < 0 implica que b < 0. Mas isso produz a contradição:<br />

a 2<br />

4<br />

+1 < b < 0.


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 619<br />

6. Equação diferencial <strong>de</strong> um circuito elétrico simples<br />

No circuito elétrico simples ilustrado na Figura há uma resistência <strong>de</strong> R ohms,<br />

um capacitor com Capacitância <strong>de</strong> C faradays, uma indutância <strong>de</strong> L henrys, ao qual<br />

se aplica uma tensão <strong>de</strong> E(x) volts (x é o tempo).<br />

R<br />

E<br />

Quando o circuito é fechado, a a carga <strong>de</strong> Q(x) coulombs no capacitor satisfaz a<br />

equação diferencial<br />

Q(x) = E(x),<br />

C<br />

como consequência da lei <strong>de</strong> Kirchhoff.<br />

Note que Q ′ (x) = I(x) é a corrente que circula no sistema.<br />

Trata-se do tipo <strong>de</strong> equação diferencial que sabemos resolver, após as Seções 2 e<br />

4.<br />

Lá simplificamos o problema para valores L = 1 (que sempre po<strong>de</strong> se obter dividindo<br />

pot L = 0).<br />

Mantendo a suposição L = 1, o discriminante da equação característica (da eq.<br />

homogênea) é:<br />

r 2 +R·r + 1<br />

= 0<br />

C<br />

torna-se<br />

∆ = R 2 − 4<br />

C .<br />

Num Exercício no livro <strong>de</strong> Boyce-Di Prima (Seção 3.9, ex. 16, p.117) encontra-se<br />

os valores:<br />

L·Q ′′ (x)+R·Q ′ (x)+ 1<br />

L = 1, R = 5×10 3 , C = 0.25×10 −6<br />

C<br />

I<br />

e E(x) ≡ 12.<br />

Nesse caso, ∆ = 25×10 6 −16×10 6 > 0, r1 = −1000, r2 = −4000 e as soluções<br />

do sistema são portanto da forma:<br />

y = Q(x) = a·e −1000x +b·e −4000x +φ1(x)<br />

on<strong>de</strong>, conforme a Seção 4, a solução particular φ1(x) do caso não homogêneo po<strong>de</strong><br />

ser tomada<br />

φ1(x) = a(x)·e −1000x +b(x)·e −4000x<br />

on<strong>de</strong> (escolhendo as constantes <strong>de</strong> integração iguais a zero)<br />

−4000x −12·e<br />

a(x) =<br />

−3000·e −5000xdx = 4·×10−6 ·e 1000x


7. NÃO-HOMOGÊNEAS: MÉTODO DE COEFICIENTES A DETERMINAR 620<br />

e<br />

Ou seja:<br />

<br />

b(x) =<br />

12·e −1000x<br />

−3000·e −5000xdx = −10−6 ·e 4000x<br />

y = Q(x) = a·e −1000x +b·e −4000x +3×10 −6 .<br />

Impondo que Q(0) = 0 e Q ′ (0) = 0 obtemos:<br />

e finalmente<br />

e portanto<br />

a = −4×10 −6<br />

e b = 10 −6<br />

y = −4×10 −6 ·e −1000x +10 −6 ·e −4000x +3×10 −6<br />

lim<br />

x→+∞ Q(x) = 3×10−6 .<br />

A seguir plotei esta solução. Note um ponto <strong>de</strong> inflexão em x = ln(2)<br />

1500<br />

2,5E-6<br />

2E-6<br />

1,5E-6<br />

1E-6<br />

5E-7<br />

0E0<br />

0<br />

0,0005<br />

0,001<br />

0,0015<br />

x<br />

0,002<br />

0,0025<br />

0,003<br />

7. Não-homogêneas: Método <strong>de</strong> coeficientes a <strong>de</strong>terminar<br />

≈ 0.000462.<br />

O método <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> parâmetros exposto na Seção é geral, para equações <strong>de</strong><br />

segunda or<strong>de</strong>mlineares não-homogêneascomqualquer tipo<strong>de</strong>coeficientes, constantes<br />

ou não.<br />

Mastememsiumadificulda<strong>de</strong> queéa<strong>de</strong>que<strong>de</strong>vemos conseguir fazerintegrações.<br />

E po<strong>de</strong> ser que às vezes fiquem complicadas.<br />

Já o método que será exposto aqui nesta Seção, apesar <strong>de</strong> só se aplicar a equações<br />

<strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m lineares não-homogêneas a coeficientes constantes:<br />

y ′′ (x)+p·y ′ (x)+q ·y(x) = R(x), p,q ∈ R<br />

e ainda com R(x) funções bem particulares, é puramente algébrico, não envolve portanto<br />

integração.


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 621<br />

Começo com a situação bem simples em que<br />

R(x) = A·e λ·x , A,λ ∈ R, A,λ = 0.<br />

Como as <strong>de</strong>rivadas das exponencias são exponenciais, é natural pensar que em<br />

buscar uma solução particular da forma:<br />

Ora:<br />

φ1(x) = C ·e λ·x , C = 0.<br />

[C ·e λ·x ] ′′ +p·[C ·e λ·x ] ′ +q ·C ·e λ·x =<br />

= [λ 2 +p·λ+q]·C ·e λ·x .<br />

Então é natural consi<strong>de</strong>rar dois Casos:<br />

Caso 1): λ não é raíz da equação característica r 2 +p·λ+q = 0<br />

Caso 2): λ é raíz da equação característica r 2 +p·λ+q.<br />

No Caso 1 queremos que<br />

e portanto:<br />

No Caso 2 o que temos é que<br />

[λ 2 +p·λ+q]·C ·e λ·x = A·e λ·x<br />

C =<br />

é solução do problema homogêneo:<br />

A<br />

[λ 2 +p·λ+q] .<br />

e λ·x<br />

y ′′ (x)+p·y ′ (x)+q ·y(x) = 0<br />

e não é isso que queremos aqui. Vamor ter que adotar outra estratégia 3 .<br />

Está mais do que na hora <strong>de</strong> introduzir uma notação, para o operador diferencial<br />

linear:<br />

L(f) := f ′′ +p·f ′ (x)+q ·f(x).<br />

O chamo <strong>de</strong> operador e não <strong>de</strong> função porque seu domínio são as funções duas vezes<br />

<strong>de</strong>riváveis (enãonúmerosoupontos) esua imagemtambém sãofunções, não números<br />

ou pontos. De diferencial porque faz <strong>de</strong>rivadas e <strong>de</strong> linear porque:<br />

L(a·f1 +b·f2) = a·L(f1)+b·L(f2).<br />

Com essa notação, pensando em λ como sendo qualquer:<br />

L(C ·e λ·x ) = (λ 2 +p·λ+q)·C ·e λ·x .<br />

Então tomando λ como variável e <strong>de</strong>rivando nessa variável:<br />

∂L(C ·eλ·x )<br />

= (2λ+p)·C ·e<br />

∂λ<br />

λ·x +(λ 2 +p·λ+q)·x·C ·e λ·x .<br />

Como o operador L faz <strong>de</strong>rivadas em x, o Lemma <strong>de</strong> Schwartz4 dá que:<br />

∂L(C ·eλ·x )<br />

= L(C ·<br />

∂λ<br />

∂eλ·x<br />

) =<br />

∂λ<br />

= L(C ·x·e λ·x ).<br />

3 Praticamente a mesma estratégia aparecerá na Seção 2 do Capítulo 44<br />

4 que diz que não importa a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivações se as funções tem segundas <strong>de</strong>rivadas contínuas


7. NÃO-HOMOGÊNEAS: MÉTODO DE COEFICIENTES A DETERMINAR 622<br />

Portanto, igualando os dois lados:<br />

L(C ·x·e λ·x ) = (2λ+p)·C ·e λ·x +(λ 2 +p·λ+q)·x·C ·e λ·x .<br />

Como no Caso 2:<br />

λ 2 +p·λ+q = 0<br />

então no Caso 2):<br />

L(C ·x·e λ·x ) = (2λ+p)·C ·e λ·x ,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

2λ+p = 0.<br />

Se quero que C ·x·e λ·x seja solução do problema<br />

e se [2λ+p = 0 então quero que valha:<br />

ou seja,<br />

L(f) = A·e λx<br />

L(C ·x·e λ·x ) = (2λ+p)·C ·e λ·x = A·e λ·x ,<br />

C = A<br />

2λ+p<br />

dá a buscada solução particular.<br />

Agora resta tratar o Sub-Caso do Caso 2, em que:<br />

λ 2 +p·λ+q = 2λ+p = 0,<br />

que é o caso em que λ é raíz dupla da equação característica.<br />

Note que nesta situação<br />

x·e λ·x<br />

é solução do problema homogêneo 5<br />

L(f) = f ′′ +p·f ′ +q ·f = 0.<br />

Novamente consi<strong>de</strong>ro λ como uma variável e <strong>de</strong>rivo a expressão <strong>de</strong> acima:<br />

∂L(C ·eλ·x )<br />

= (2λ+p)·C ·e<br />

∂λ<br />

λ·x +(λ 2 +p·λ+q)·x·C ·e λ·x ,<br />

obtendo do lado esquerdo:<br />

∂ 2 L(C ·e λ·x )<br />

∂λ 2<br />

= ∂L(C ·x·eλ·x )<br />

∂r<br />

= L( ∂(C ·x·eλ·x )<br />

) = L(C ·x<br />

∂λ<br />

2 ·e λ·x )<br />

enquanto que do lado direito obtenho:<br />

∂((2λ+p)·C ·eλ·x +(λ2 +p·λ+q)·x·C ·eλ·x )<br />

=<br />

∂λ<br />

= 2·C ·e λ·x +(2λ+p)·C ·e λ·x [λ+x]+(λ 2 +p·λ+q)·x·C ·λ·e λ·x .<br />

Avaliando para o λ tal que<br />

λ 2 +p·λ+q = 2·λ+p = 0<br />

5 Bem <strong>de</strong> acordo com o que obtivemos no item 2 da Afirmação 2.1<br />

=


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 623<br />

obtemos<br />

e como quero:<br />

concluo<br />

L(C ·x 2 ·e λ·x ) = 2·C ·e λ·x ,<br />

L(C ·x 2 ·e λ·x ) = A·e λ·x<br />

C = A<br />

2<br />

é o valor buscado para termos solução especial do problema não-homogêneo.<br />

Amesmadiscussãoseaplicaaocasomaisgeral,emqueoproblemanãohomogêneo<br />

é:<br />

L(f(x)) = f ′′ +p·f ′ +qf = A(x)·e λx ,<br />

on<strong>de</strong> A(x) é polinômio <strong>de</strong> grau k.<br />

Ou seja:<br />

Afirmação 7.1. Se λ ∈ R não é raíz <strong>de</strong> λ 2 + p · λ + q = 0 encontraremos solução<br />

especial do tipo:<br />

g(x)·e λx ,<br />

on<strong>de</strong> g(x) é polinômio <strong>de</strong> grau n, para o problema:<br />

L(f(x)) = f ′′ +p·f ′ +q = A(x)·e λx ,<br />

on<strong>de</strong> A(x) é também polinômio <strong>de</strong> grau n.<br />

Se λ ∈ R é raíz simples <strong>de</strong> λ 2 +p·λ+q = 0 encontraremos solução do tipo:<br />

g(x)·x·e λx .<br />

Se λ ∈ R é raíz dupla <strong>de</strong> λ 2 +p·λ+q = 0 encontraremos solução do tipo:<br />

g(x)·x 2 ·e λx .<br />

Observe que o caso λ = 0 também está compreendido.<br />

Demonstração.<br />

Amesma discussão emCasos, sóqueagoranãosetrata<strong>de</strong><strong>de</strong>terminar 1coeficiente<br />

mas todos os coeficientes do polinômio g(x), que aparecem resolvendo um sistema <strong>de</strong><br />

equações lineares.<br />

<br />

O mesmo tipo <strong>de</strong> resultado se obtêm se o termo não homogêneo R(x) da equação<br />

é da forma<br />

f ′′ +p·f ′ +q ·f = R(x)<br />

R(x) = e ax cos(bx) ou R(x) = e ax sin(bx),<br />

com a ou b po<strong>de</strong>ndo ter o valor 0.<br />

Ou seja, se buscará solução para o problema não-homogêneo na classe<br />

y = c1 ·e ax cos(bx)+c2 ·e ax sin(bx),


8. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 624<br />

a menos que λ = a+I ·b seja raíz da equação característica <strong>de</strong> f ′′ +p·f ′ +qf = 0.<br />

Neste caso se busca solução para o prroblema não-homogêneo na classe<br />

y = c1 ·x·e ax cos(bx)+c2 ·x·e ax sin(bx).<br />

Por exemplo, f ′′ +f ′ +f = 0temporraízesdaequação característica λ2 +λ+1 = 0<br />

2 ±I · √ 3.<br />

Logo para o problema<br />

2<br />

os valores complexos: λ = − 1<br />

busco soluções na classe<br />

<strong>de</strong> fato,<br />

dá<br />

e portanto c = 4<br />

3 .<br />

Mas para o problema<br />

preciso recorrer à classe:<br />

f ′′ +f ′ +f = e −x<br />

2<br />

y = c·e −x 2;<br />

(c·e −x 2) ′′ +(c·e −x 2) ′ +c·e −x<br />

2 = e −x<br />

2<br />

e −x<br />

2 ·( 1 1<br />

− +1)·c = e−x2<br />

4 2<br />

f ′′ +f ′ +f = e −x<br />

√<br />

3<br />

2 ·cos(<br />

2 x)<br />

y = c1 ·x·e −x<br />

√<br />

3<br />

2 ·cos(<br />

2 x)+c2 ·x·e −x<br />

√<br />

3<br />

2 sin(<br />

2 x).<br />

A Seção 8 a seguir dá exemplos.<br />

8. Sistemas <strong>de</strong> equações diferenciais<br />

Se po<strong>de</strong> transformar uma equação diferencial <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m maior num sistema <strong>de</strong><br />

equações diferenciais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m mais baixa, ou, vice-versa, um sistema <strong>de</strong> equações<br />

numa equação <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m mais alta.<br />

Vejamos exemplos (exercícios do livro <strong>de</strong> Bear, Differential equations, a concise<br />

course, Dover, pag. 164):<br />

Então<br />

Exemplo 1:<br />

y ′ (t) = y(t)+z(t) e z ′ (t) = y(t)+z(t).<br />

y ′ (t) = z ′ (t)<br />

e portanto, se t pertence a um Intervalo, temos:<br />

A primeira equação dá então:<br />

z(t) = y(t)+C, C ∈ R.<br />

y ′ (t) = y(t)+z(t) = 2·y(t)+C


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 625<br />

e portanto, como apren<strong>de</strong>mos na Seção 4.1 do Capítulo 35:<br />

y(t) = D ·e 2·t − C<br />

2 .<br />

Então<br />

z(t) = D ·e 2·t + C<br />

2 .<br />

Exemplo 2:<br />

A equação <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m<br />

vira o sistema:<br />

y ′′ (t)+y(t) = 2·e t<br />

y ′ (t) = z(t) e z ′ (t) = 2·e t −y(t)<br />

e vice-versa.<br />

Uma solução particular do do problema não-homogêneo<br />

salta aos olhos:<br />

y ′′ (t)+y(t) = 2·e x<br />

φ1(x) = e t ,<br />

mas mesmo que não fosse tão evi<strong>de</strong>nte nela chegaríamos seguindo a Seção 7, que<br />

ensina: como 1 não é raíz da equação característica λ 2 +1 = 0, obtemos uma solução<br />

particular<br />

φ1(x) = 2<br />

1 2 +1 ·et<br />

do problema não-homogêneo. E portanto a solução geral <strong>de</strong>sse problema é:<br />

Exemplo 3:<br />

Consi<strong>de</strong>re o sistema:<br />

Da primeira equação:<br />

y(t) = a·cos(t)+b·sin(t)+e t .<br />

y ′ (t) = y(t)+z(t)+t e z ′ (t) = 4·y(t)+z(t)+t+4·e t .<br />

que posto na segunda dá:<br />

ou seja,<br />

z(t) = y ′ (t)−y(t)−t logo z ′ (t) = y ′′ (t)−y ′ (t)−1,<br />

y ′′ (t)−y ′ (t)−1 = 4·y(t)+[y ′ (t)−y(t)−t]+t+4·e t ,<br />

y ′′ (t)−2·y ′ (t)−3·y(t) = 1+4·e t .<br />

Aqui o melhor é separarmos em duas equações<br />

y ′′<br />

1 (t)−2·y′ 1 (t)−3·y1(t) = 1<br />

y ′′<br />

2 (t)−2·y′ 2 (t)−3·y2(t) = 4·e t<br />

e a solução buscada será da forma:<br />

y(x) = y1(x)+y2(x).


9. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N.2, 1939 626<br />

Ora, a equação<br />

y ′′<br />

1 (t)−2·y′ 1 (t)−3·y1(t) = 1<br />

tem uma solução particular constante:<br />

φ1(x) ≡ − 1<br />

3 ,<br />

enquanto que a equação<br />

tem uma solução particular:<br />

y ′′<br />

2 (t)−2·y′ 2 (t)−3·y2(t) = 4·e t<br />

φ2(x) =<br />

4<br />

1 2 −2·1−3 ·et = −e t ,<br />

(seguindo a Seção 7, já que 1 não é raíz <strong>de</strong> λ 2 −2·λ−3 = 0, cujas raízes são −1,3).<br />

Então a solução geral é:<br />

y(t) = a·e −t +b·e 3·t − 1<br />

3 −et .<br />

O leitor não terá dificulda<strong>de</strong> em resolver:<br />

9. Um problema da Putnam Competition, n.2, 1939<br />

Problema:<br />

Resolver o sistema <strong>de</strong> equações:<br />

com as condições iniciais:<br />

x ′ (t) = x(t)+y(t)−3 e y ′ (t) = −2·x(t)+3·y(t)+1,<br />

Solução:<br />

A primeira equação dá:<br />

E a segunda dá<br />

ou seja,<br />

x(0) = y(0) = 0.<br />

y(t) = x ′ (t)−x(t)+3, logo y ′ (t) = x ′′ (t)−x ′ (t).<br />

x ′′ (t)−x ′ (t) = −2·x+3·[x ′ (t)−x(t)+3]+1,<br />

x ′′ (t)−4·x ′ (t)+5·x = 10.<br />

Uma solução particular óbvia <strong>de</strong>ssa equaão não-homogênea é a solução constante:<br />

φ1(x) ≡ 2.<br />

E como a equação característica λ 2 −4·λ+5 = 0 do problema homogêneo<br />

tem raízes compexas conjugadas<br />

x ′′ (t)−4·x ′ (t)+5·x = 0<br />

λ = 2± √ −1,


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 627<br />

a solução geral do problema não-homogêneo é:<br />

x(t) = a·e 2·t ·cos(t)+b·e 2·t ·sin(t)+2.<br />

Usando que x(0) = 0 obtenho a+2 = 0, ou seja, a = −2.<br />

Sabemos que y(t) = x ′ (t)−x(t)+3; portanto após <strong>de</strong>rivar x(t) se escreve y(t) =<br />

x ′ (t)−x(t)+3 em função <strong>de</strong> b e t. A condição y(0) = 0 dará que b = 1.<br />

Logo a solução do sistema é:<br />

x(t) = −2·e 2·t ·cos(t)+e 2·t ·sin(t)+2,<br />

y(t) = −e 2·t ·cos(t)+3·e 2·t ·sin(t)+1.<br />

10. Homogêneas, não-singulares, coeficientes variáveis: redução a<br />

constantes<br />

Consi<strong>de</strong>ro agora a equação homogênea <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m:<br />

f ′′ (x)+P(x)·f ′ (x)+Q(x)·f(x) = 0,<br />

on<strong>de</strong> agora pelo menos um dos coeficientes P(x) e Q(x) é uma função não constante.<br />

Em <strong>Matemática</strong> sempre se tenta reduzir um problema a outro conhecido. Por<br />

isso impõe-seapergunta: em que condições este problema po<strong>de</strong> ser reduzido ao tratado<br />

na Seção 2 ?<br />

A resposta é que se consegue isso apenas na situação a seguir. Que é claramente<br />

bastante restritiva, mas por incrível que pareça é suficiente para resolvermos a importante<br />

Equação <strong>de</strong> Euler (também chamada <strong>de</strong> equação <strong>de</strong> Cauchy-Euler), na Seção 1<br />

do Capítulo 44.<br />

Afirmação 10.1. Um equação<br />

f ′′ (x)+P(x)·f ′ (x)+Q(x)·f(x) = 0 com Q(x) > 0, ∀x<br />

po<strong>de</strong> ser transformada através <strong>de</strong> uma mudança <strong>de</strong> variável<br />

numa equação<br />

se e somente se<br />

z = z(x) ou x = x(z)<br />

f ′′ (z)+αf ′ (z)+βf(z), α,β ∈ R e β > 0<br />

Q ′ (x)+2P(x)·Q(x)<br />

2·Q(x) 3<br />

2<br />

e a<strong>de</strong>mais isso é feito através da mudança:<br />

<br />

Q(x)dx.<br />

z =<br />

≡ C, C ∈ R<br />

Demonstração.<br />

Uso a notação y = f(x) a seguir ou y = y(x) no que segue.<br />

Primeiro tomo por hipóteses:<br />

Q ′ <br />

(x)+2P(x)·Q(x) Q(x)dx.<br />

2·Q(x) 3<br />

2<br />

≡ C e z =


10. HOMOGÊNEAS, NÃO-SINGULARES, COEFICIENTES VARIÁVEIS:<br />

REDUÇÃO A CONSTANTES 628<br />

Noto que<br />

y = y(z),<br />

pois dz<br />

dx = Q(x) > 0 garante que z(x) é uma função inversível. Ou seja, x <strong>de</strong>termina<br />

z e também z <strong>de</strong>termina x univocamente. Por isso posso dizer que y = y(z) = y(x(z))<br />

e que y = y(x) = y(z(x)).<br />

Posso também <strong>de</strong>rivar a composta em x:<br />

y = y(z(x)),<br />

obtendo:<br />

dy dy dz<br />

(z(x)) = (z(x))·<br />

dx dz dx =<br />

= dy<br />

dz ·Q(x). E agora com a regra da composta e do produto:<br />

Então se obtêm:<br />

d2y d2x (z(x)) = (d2 y<br />

d2 dz dz dy<br />

(z(x))· )· +<br />

z dx dx dz (z(x))· d2z d2x =<br />

= d2 y<br />

d 2 z (z(x))· Q(x)· Q(x)+ dy<br />

dz (z(x))· Q′ (x)<br />

2 Q(x)<br />

= d2y d2 dy<br />

(z(x))·Q+<br />

z dz (z(x))· Q′ (x)<br />

2 Q(x) .<br />

0 ≡ d2y d2 dy<br />

(z(x))+P(x)· (z(x))+Q(x)·y =<br />

x dx<br />

= Q(x)· d2y d2z +(Q′ +2PQ<br />

2 √ dy<br />

)·<br />

Q dz +Q·y(z)<br />

e como Q(x) = 0 se chega em:<br />

0 = d2y d2z +(Q′ +2PQ<br />

2Q 3 )·<br />

2<br />

dy<br />

dz +y(z)<br />

que tem coeficiente constante pela hipótese.<br />

Para provar a recíproca, note que, se uma mudança z = z(x) levou<br />

em<br />

então<br />

f ′′ (x)+P(x)·f ′ (x)+Q(x)·f(x) = 0<br />

f ′′ (z)+αf ′ (z)+βf(z), α,β ∈ R<br />

0 = d2 y<br />

d 2 x<br />

dy<br />

(z(x))+P(x)· (z(x))+y =<br />

dx<br />

= [ d2y d2z ·(dz<br />

dx )2 + dy<br />

dz · d2z d2x ]+P(x)·(dy<br />

dz<br />

= ( dz<br />

dx )2 · d2 y<br />

d 2 z +[d2 z<br />

dz<br />

· )+Q·y(z(x)) =<br />

dx<br />

d2x +P(x)dz<br />

dy<br />

]· +Qy(z) =<br />

dx dz


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 629<br />

e dividindo por ( dz<br />

dx )2 = 0 (pois é uma mudança <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas) obtemos<br />

ou seja,<br />

De on<strong>de</strong>,<br />

ou seja:<br />

0 = d2y d2z +(<br />

α =<br />

d2z d2 dz +P x dx<br />

( dz<br />

dx )2<br />

d2z d2 dz +P x dx<br />

( dz<br />

dx )2<br />

dz<br />

dx =<br />

<br />

Q<br />

β<br />

e<br />

)· dy<br />

dz<br />

e β = Q<br />

d 2 z<br />

d 2 x =<br />

+ Q<br />

( dz<br />

dx )2y(z),<br />

( dz<br />

dx<br />

2β ·<br />

α· β = Q′ +2PQ<br />

2Q 3 .<br />

2<br />

)2 > 0.<br />

Q ′<br />

Q<br />

β<br />

11. Homogêneas, não-singulares, coeficientes variáveis: Método <strong>de</strong><br />

D’Alembert<br />

Aqui consi<strong>de</strong>ro a equação:<br />

y ′′ (x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y(x) = 0<br />

do qual suponho ter uma solução conhecida:<br />

y = y1(x).<br />

O método <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m (<strong>de</strong> D’Alembert) nos dirá como achar uma segunda<br />

solução y2 (linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte) <strong>de</strong>sta equação através da resolução <strong>de</strong> uma<br />

equação <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m menor, ou seja, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m 1.<br />

Para isso ele propõe:<br />

y2(x) := a(x)·f1(x)<br />

com a(x) função duas vezes <strong>de</strong>rivável não constante.<br />

Queremos que:<br />

ou seja, que:<br />

y ′′<br />

2 (x)+P(x)·y′ 2 (x)+Q(x)·y2(x) = 0,<br />

[a ′′ (x)y1(x)+2·a ′ (x)·y ′ 1 (x)+a(x)y′′<br />

1 (x)]+P(x)·[a′ (x)y1(x)+a(x)y ′ 1 (x)]+Q(x)a(x)y1(x) = 0,<br />

ou ainda, reor<strong>de</strong>nando os termos:<br />

a ′′ (x)·y1(x)+a ′ (x)·[2·y ′ 1(x)+P(x)y1(x)]+a(x)·[y ′′<br />

1(x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y1(x)] = 0,<br />

que resulta em<br />

pois y1(x) é solução da equação.<br />

a ′′ (x)·y1(x)+a ′ (x)·[2·y ′ 1 (x)+P(x)y1(x)] = 0,<br />

,


12. EXISTÊNCIA DE SOLUÇÕES DE EQUAÇÕES HOMOGÊNEAS E<br />

NÃO-SINGULARES 630<br />

Fazendo<br />

A(x) = a ′ (x)<br />

obtemos a redução <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, pois temos agora <strong>de</strong> resolver a equação <strong>de</strong> primeira<br />

or<strong>de</strong>m:<br />

A ′ (x)·y1(x)+A(x)·[2·y ′ 1 (x)+P(x)y1(x)] = 0,<br />

ou seja, se y1(x) = 0,<br />

e portanto<br />

e<br />

ou seja,<br />

A ′ (x)<br />

A(x) = −[2·y′ 1(x)+P(x)y1(x)]<br />

y1(x)<br />

ln|A(x)| = ln(y1(x) −2 <br />

)−<br />

= −2 y′ 1(x)<br />

y1(x) −P(x)<br />

P(x)dx<br />

A(x) = ±e ln(y1(x) −2 ) ·e − P(x)dx ,<br />

A(x) = e− P(x)dx<br />

y1(x) 2 .<br />

on<strong>de</strong>, naprática,aconstante<strong>de</strong>integraçãopo<strong>de</strong>sertomadaC = 0,jáquesóqueremos<br />

uma solução. E obteremos a(x) através <strong>de</strong> mais uma integração:<br />

<br />

a(x) = A(x)dx<br />

(novamente a constante <strong>de</strong> integração po<strong>de</strong> ser tomada C = 0, já que só queremos<br />

uma solução).<br />

12. Existência <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> equações homogêneas e não-singulares<br />

O seguinte teorema tem como alcance as equações tratadas na Seção 10:<br />

Afirmação 12.1.<br />

i): Consi<strong>de</strong>re<br />

y ′′ (x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y(x) = 0,<br />

on<strong>de</strong> P(x) e Q(x) são funções contínuas.<br />

As soluções foram um sistema linear a·y1+b·y2. Por isso, dados y(x0) e y ′ (x0)<br />

existe e é única a solução y = y(x) da equação satisfazendo essas condições iniciais<br />

para x ∈ I, um intervalo em torno <strong>de</strong> x0.<br />

ii): Consi<strong>de</strong>re<br />

y ′′ (x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y(x) = 0,<br />

on<strong>de</strong> P(x) e Q(x) admitem expansão em série <strong>de</strong> potências, com raio <strong>de</strong> convergência<br />

R1 e R2, em torno <strong>de</strong> x0. Seja R := min{R1,R2}.<br />

Dados y(x0) e y ′ (x0) existe e é única a solução y = y(x) da equação satisfazendo<br />

essas condições iniciais e y(x) é uma série <strong>de</strong> potências cujo raio <strong>de</strong> convergência em<br />

torno <strong>de</strong> x0 é pelo menos R.


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 631<br />

Observo que se P(x) ou Q(x) não são contínuos não se po<strong>de</strong> garantir que as<br />

soluções sejam todas funções limitadas. Uma equação importante que exemplifica<br />

isso é a Equação <strong>de</strong> Legendre (explicitamente resolvida na Seção 3 do Capítulo 41),<br />

que po<strong>de</strong> ser escrita como:<br />

y ′′ + 2x<br />

x2 −1 ·y′ − n(n+1)<br />

x2 = 0, n ∈ N<br />

−1<br />

Se x ∈ (−1,1) então há soluções do tipo a·y1+b·y2, com y1 e y2 in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Mas<br />

se po<strong>de</strong> provar que as únicas soluções limitadas da equação <strong>de</strong>finidas em [−1,1] são<br />

múltiplos <strong>de</strong> Pn, o chamado n-ésimo polinômio <strong>de</strong> Legendre.<br />

i).<br />

Idéia da prova da Afirmação 12.1:<br />

Posso dar uma idéia <strong>de</strong> como provar a existência e unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções, do item<br />

A idéia é transformar essa equação <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m num sistema <strong>de</strong> equações<br />

<strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m, fazendo:<br />

z(x) := y ′ (x)<br />

e criando o sistema:<br />

y ′ (x) = z(x) e y(x0) = a<br />

z ′ (x) = −P(x)·z(x)−Q(x)·y(x) e z(x0) = b<br />

Agora a idéia é usar o Método <strong>de</strong> Picard (Seção 3 do Capítulo 36) para cada uma<br />

<strong>de</strong>ssas equações, ou seja, <strong>de</strong>finindo recursivamente:<br />

e<br />

z0 ≡ b, zn := b+<br />

y0 ≡ a, yn := a+<br />

x<br />

x0<br />

x<br />

x0<br />

zn−1(t)dt<br />

(−P(t)·zn−1(t)−Q(x)·yn−1(t))dt<br />

Um Exemplo: suponha a equação y ′′ +y = 0 e o sistema associado a ela:<br />

Então:<br />

y4 := 1+<br />

y3 := 1+<br />

y1 := 1+<br />

y2 := 1+<br />

x<br />

0<br />

x<br />

0<br />

x 3<br />

3!<br />

x<br />

0<br />

y ′ (x) = z(x) e y(0) = 1<br />

z ′ (x) = −y(x) e z(0) = 0<br />

x<br />

0<br />

0dt = 1, z1 := 0+<br />

x<br />

−xdt = 1− x2<br />

2 , z2 := 0+<br />

−xdt = 1− x2<br />

2 , z3 := 0+<br />

x2<br />

−xdt = 1−<br />

2!<br />

y5 := 1+<br />

x<br />

0<br />

+ x4<br />

4! , z4 := 0+<br />

x 3<br />

3!<br />

0<br />

−xdt = 1− x2<br />

2!<br />

−1dt = −x,<br />

x<br />

0<br />

x<br />

−(1−<br />

0<br />

x2<br />

2<br />

x<br />

0<br />

−1dt = −x,<br />

)dt = x3<br />

3! −x,<br />

−(1− x2 x3<br />

)dt =<br />

2 3! −x,<br />

+ x4<br />

4! ,


13. PROPRIEDADES DAS SOLUÇÕES DE EQUAÇÕES LINEARES DE<br />

SEGUNDA ORDEM 632<br />

z5 := 0+<br />

x<br />

0<br />

x<br />

−(1− x2<br />

2!<br />

x4 x3 x5<br />

+ )dt = −x+ −<br />

4! 3! 5! ,<br />

y6 := 1+ (−x+<br />

0<br />

x3 x5 x2 x4 x6<br />

− )dt = 1− + −<br />

3! 5! 2! 4! 6!<br />

e já reconhecemos que estão aparecendo os termos iniciais yn da séries <strong>de</strong> potências<br />

<strong>de</strong>:<br />

y(x) = cos(x)<br />

e os termos iniciais zn da série <strong>de</strong> potências <strong>de</strong><br />

z(x) = −sin(x).<br />

Deixo para mais tar<strong>de</strong> a segunda afirmação ii), sobre a natureza <strong>de</strong> séries convergentes<br />

das soluções.<br />

13. Proprieda<strong>de</strong>s das soluções <strong>de</strong> equações lineares <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m<br />

Daremos nas Seções 1, 2 e 3 do Capítulo 41 soluções explícitas, como séries <strong>de</strong><br />

potências das equações:<br />

• <strong>de</strong> Airy 6 :<br />

• <strong>de</strong> Hermite:<br />

• <strong>de</strong> Legendre<br />

y ′′ (x)+x·y(x) = 0.<br />

y ′′ (x)−2·x·y ′ (x)+q ·y(x) = 0, q ∈ R.<br />

(1−x 2 )·y ′′ (x)−2x·y ′ (x)+p·(p+1)·y(x) = 0<br />

Mas apesar do caráter explícito das soluções não ficará claro que tipo <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s<br />

têm essas funções, por exemplo se têm um número finito ou infinito <strong>de</strong><br />

zeros, se oscilam.<br />

Aqui nesta Seçã0 veremos que essas proprieda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser obtidas da própria<br />

equação, sem se saber explicitamente a solução.<br />

Afirmação 13.1. Um solução y(x) não-i<strong>de</strong>nticamente nula <strong>de</strong><br />

tem:<br />

i): no máximo um 7 zero em (−∞,0) e<br />

ii): infinitos 8 zeros em (0,+∞).<br />

y ′′ +x·y = 0<br />

6 Aparece na literatura também a equação y ′′ (x)−x·y(x) = 0 como sendo a Equação <strong>de</strong> Airy.<br />

Na Seção 1 do Capítulo 41 comparo as soluções.<br />

7 É possível provar também que não tem nenhum.<br />

8 É possível provar que em cada região limitada [x0,x1] ⊂ (0,+∞) só há um número finito <strong>de</strong><br />

zeros <strong>de</strong> y(x).


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 633<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

Suponha que exista algum x0 < 0 on<strong>de</strong> y(x0) = 0.<br />

Se acontecer y ′ (x0) = 0 então o item i) da Afirmação 12.1 implicaria que y ≡ 0, a<br />

solução trivial.<br />

Por exemplo, penso <strong>de</strong> agora em diante que<br />

y ′ (x0) > 0<br />

(o outro caso y ′ (x0) < 0 é análogo).<br />

Num pequeno intervalo <strong>de</strong>notado I + à direita <strong>de</strong> x0 então y(x) > 0. Como x < 0<br />

em I + , então −x·y(x) > 0 em I + e<br />

y ′′ (x) = −x·y(x) > 0 em I + .<br />

Logo a primeira <strong>de</strong>rivada y ′ (x) cresce em I + . E esse crescimento <strong>de</strong> y ′ (x) continua<br />

enquanto tivermos x < 0 e y(x) > 0. Em particular enquanto tivermos x < 0 e<br />

y(x) > 0 teremos y ′ (x) > 0. Suponha por absurdo que num x1 com x0 < x1 < 0<br />

tenhamos y(x1) = 0. Então por Rolle teríamos y ′ (x2) = 0 para algum x2 com<br />

x0 < x2 < x1. Contradizendo o fato que y ′ (x2) > 0, pois x2 < 0 e y(x2) > 0.<br />

Ou seja, que y(x) não volta a se anular à direita <strong>de</strong> x0, enquanto tivermos x < 0.<br />

Poroutrolado, numpequeno intervalo<strong>de</strong>notadoI − àesquerda <strong>de</strong>x0 temosy(x) <<br />

0, já que supusemos y ′ (x0) > 0.<br />

Como x < 0 em I − , então −x·y(x) < 0 em I − e<br />

y ′′ (x) = −x·y(x) < 0 em I − .<br />

Logo a primeira <strong>de</strong>rivada y ′ (x) vinha <strong>de</strong>crescendo em I − até chegar no valor y ′ (x0) ><br />

0. Ou seja que é sempre y ′ (x) > 0 à esquerda <strong>de</strong> x0.<br />

Isso impe<strong>de</strong> que haja outro zero <strong>de</strong> y(x) à esquerda <strong>de</strong> x0 (use o Teorema <strong>de</strong><br />

Rolle).<br />

De ii):<br />

Suponha por absurdo que haja um ponto x0 ≥ 0 com a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

y(x) = 0, ∀x > x0.<br />

Vamos mostrar que tem que haver um ponto x1 com x0 < x1 on<strong>de</strong> y(x1) = 0,<br />

produzindo um absurdo.<br />

Suponho <strong>de</strong> agora em diante que y ′ (x0) > 0 e que y(x) > 0 ∀x > x0 (os outros<br />

casos são análogos).<br />

Então<br />

y ′′ = −x·y(x) < 0, ∀x > x0.<br />

Ou seja a <strong>de</strong>rivada y ′ (x) é uma função <strong>de</strong>crescente para ∀x > x0.<br />

Afirmo que y ′ (x) < 0 em algum ponto x com x > x0. Para provar isso, faço a<br />

mudança:<br />

v(x) = − y′ (x)<br />

, para x > x0,<br />

y(x)


13. PROPRIEDADES DAS SOLUÇÕES DE EQUAÇÕES LINEARES DE<br />

SEGUNDA ORDEM 634<br />

que está bem <strong>de</strong>finida pois y(x) > 0. E noto que v(x) verifica 9 :<br />

Então:<br />

Como<br />

v(x)−v(x0) =<br />

v ′ (x) = x+v(x) 2 .<br />

≥<br />

x<br />

x0<br />

x<br />

x0<br />

lim v(x) ≥ v(x0)+<br />

x→+∞<br />

para algum x > x0 tem que valer:<br />

Então<br />

tdt+<br />

tdt.<br />

+∞<br />

x0<br />

v(x) > 0.<br />

x<br />

x0<br />

v(t) 2 dt ≥<br />

tdt = +∞,<br />

0 < v(x) = − y′ (x)<br />

e y(x) > 0<br />

y(x)<br />

implicam que y ′ (x) < 0 como queríamos.<br />

Estamos na situação em que, para x > x0 vale:<br />

y(x) > 0, y ′ (x) < 0 e y ′′ (x) = −x·y(x) < 0 ∀x ∈ (x,+∞).<br />

Então o Exercício (resolvido) 10.18 do Capítulo 11 diz que y(x) voltará a se anular<br />

em algum ponto à direita <strong>de</strong> x: contradição.<br />

<br />

O que usamos na prova da Afirmação 13.1 se adapta para dar uma prova da<br />

Afirmação mais geral:<br />

Afirmação 13.2. Seja uma equação y ′′ +Q(x) ·y = 0, ∀x ∈ R, on<strong>de</strong> Q(x) é uma<br />

função contínua.<br />

No que segue só consi<strong>de</strong>ro soluções y(x) <strong>de</strong>ssa equação que não são i<strong>de</strong>nticamente<br />

nulas.<br />

i) se Q(x) < 0 em I ⊂ R então y(x) tem no máximo um zero em I.<br />

ii) se Q(x) > 0 em J ⊂ (0+∞) e se<br />

+∞<br />

0<br />

Q(x)dx = +∞<br />

então y(x) tem uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zeros na semireta x > 0<br />

iii) se Q(x) > 0 em J ⊂ (−∞,0) e se<br />

0<br />

−∞<br />

Q(x)dx = +∞<br />

então y(x) tem uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zeros na semireta x < 0<br />

9 Uma equação <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m não-linear, chamada Equação <strong>de</strong> Riccati, que será discutida<br />

em <strong>de</strong>talhe no Capítulo 45


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 635<br />

Demonstração.<br />

Ositensi)eii)sãoprovadosexatamentedomesmojeitoqueprovamosaAfirmação<br />

13.1, já que as proprieda<strong>de</strong>s da função y = x que usamos naquela prova também são<br />

proprieda<strong>de</strong>s da função y = Q(x).<br />

Mas o item ii) exige uma pequena adaptação.<br />

Tomamos um x0 < 0 que seja menor que o menor zero <strong>de</strong> y(x) (por absurdo).<br />

Po<strong>de</strong>mos supôr que sempre y(x) > 0 à esquerda <strong>de</strong> x0 (análogo se for sempre<br />

negativa)<br />

Precisamos mostrar que há algum ponto x < x0 on<strong>de</strong> y ′ (x) > 0. Feito isso, como<br />

y ′′ (x) = −Q(x)·y(x) < 0<br />

à esquerda <strong>de</strong> x0, então o gráfico é côncavo para baixo no intervalo à esquerda <strong>de</strong> x0<br />

e uma adaptação imediata do Exercício 10.18 do Capítulo 11 dirá que y(x) volta a se<br />

anular à esquerda <strong>de</strong> x0 (absurdo).<br />

Mas fazendo:<br />

v(x) = − y′ (x)<br />

, para x < x0,<br />

y(x)<br />

v(x) verifica<br />

Portanto para x < x0 < 0:<br />

v(x0)−v(x) =<br />

v ′ (x) = Q(x)+v(x) 2 .<br />

x0<br />

≥<br />

x<br />

x0<br />

x<br />

Q(t)dt+<br />

Q(t)dt.<br />

x0<br />

x<br />

v(t) 2 dt ≥<br />

Como<br />

x0<br />

lim −v(x) ≥ −v(x0)+ Q(t)dt = +∞,<br />

x→−∞<br />

−∞<br />

para algum x < x0 tem que valer:<br />

v(x) < 0.<br />

Então<br />

0 > v(x) = − y′ (x)<br />

y(x)<br />

implicam que y ′ (x) > 0 como queríamos.<br />

e y(x) > 0<br />

14. Um problema da Putnam Competition, n. 15, 1955<br />

Com a Afirmação 13.2 fica fácil fazer o seguinte:<br />

Problema:<br />

Consi<strong>de</strong>re a função y = f(x) solução <strong>de</strong><br />

f ′′ (x) = (x 3 +a·x)·f(x), a ∈ R,


14. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 15, 1955 636<br />

com f(0) = 1 e f ′ (0) = 0.<br />

Prove que f tem infinitos zeros à esquerda <strong>de</strong> algum K ∈ R e um número finito<br />

à direita <strong>de</strong> algum L ∈ R.<br />

Solução:<br />

As condição f(0) = 1 já garante que y = f(x) não é i<strong>de</strong>nticamente nula.<br />

Vou consi<strong>de</strong>rar três casos:<br />

Caso 1): a = 0.<br />

Neste caso<br />

f ′′ (x)−x 3 ·f(x) = 0,<br />

e Q(x) := −x 3 < 0 em (0,+∞). Portanto a a Afirmação 13.2 garante que há no<br />

máximo um zero à direita <strong>de</strong> K = 0. E também que há infinitos à esquerda <strong>de</strong> L = 0,<br />

pois claramente<br />

e<br />

Caso 2): a > 0.<br />

Neste caso<br />

0<br />

−∞<br />

−x 3 dx = +∞<br />

f ′′ (x)−(x 3 +a·x)·f(x) = 0,<br />

Q(x) := −x 3 −a·x = −x·(x 2 +a).<br />

Ora, Q(x) < 0 se x > 0 e Q(x) > 0 se x < 0. A<strong>de</strong>mais,<br />

0<br />

−∞<br />

−x 3 −a·xdx = +∞<br />

Portanto as conclusões são as mesmas do Caso 1).<br />

Caso 3): a < 0.<br />

Neste caso também Q(x) := −x3 −a·x = −x·(x 2 +a).<br />

Agora Q(x) < 0 se x > 0 e x2 > −a ou se x < 0 e x2 < −a.<br />

Ou seja, Q(x) < 0 se x > √ −a ou se − √ −a < x < 0.<br />

Posso então dizer que Q(x) < 0 se x está à direita <strong>de</strong> K := √ −a e portanto à<br />

direita <strong>de</strong> √ −a há um número finito <strong>de</strong> zeros.<br />

Por outro lado, Q(x) > 0 se x < − √ −a ou se 0 < x < √ −a.<br />

Posso então dizer que Q(x) > 0 se x está à esquerda <strong>de</strong> L := − √ −a e portanto<br />

que à esquerda <strong>de</strong> − √ −a há um número infinito <strong>de</strong> zeros, já que:<br />

0<br />

−∞<br />

−x 3 −a·xdx = +∞.<br />

A Afirmação 13.2mostra sua força quando combinada com aseguinte técnica para<br />

eliminar o termo em y ′ :


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 637<br />

Afirmação 14.1. Suponha que a função y(x) é solução <strong>de</strong><br />

Suponha que uma mudança da forma:<br />

y ′′ (x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y(x) = 0<br />

y(x) = u(x)·v(x), on<strong>de</strong> u(x) = 0,<br />

faça <strong>de</strong> v(x) a solução <strong>de</strong> uma equação da forma:<br />

Então<br />

e <strong>de</strong> fato<br />

v ′′ (x)+S(x)·v(x) = 0.<br />

u(x) = e −1<br />

<br />

P(t)dt 2<br />

v ′′ (x)+(Q(x)− P2 (x)<br />

4 − P′ (x)<br />

)·v(x) = 0.<br />

2<br />

Em particular, como e −1<br />

2 · P(t)dt > 0, o estudo dos zeros <strong>de</strong> y(x) se reduz ao estudo<br />

dos zeros <strong>de</strong> v(x), que po<strong>de</strong>r ser feito pela Afirmação 13.2<br />

então:<br />

Demonstração.<br />

Se faço<br />

y(x) = u(x)·v(x)<br />

0 = y ′′ (x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y(x) =<br />

= (u ′′ +2u ′ ·v ′ +u·v ′′ )+P(x)·(u ′ ·v +u·v ′ )+Q(x)·(u·v) =<br />

= u·v ′′ +(2·u ′ +P(x)·u)·v ′ (x)+(u ′′ +P(x)·u ′ +Q(x)·u)·v(x).<br />

Como quero eliminar o termo em v ′ , quero que:<br />

ou seja, para u(x) = 0:<br />

e<br />

2·u ′ (x)+P(x)·u(x) = 0<br />

u ′ (x)<br />

u(x)<br />

Logo, substituindo acima esse u(x):<br />

e portanto<br />

= −1<br />

2 ·P(x)<br />

u(x) = e −1<br />

<br />

P(t)dt.<br />

2<br />

0 = e −1<br />

<br />

P(t)dt ′′ 1<br />

2 ·[v (x)+(Q(x)−<br />

v ′′ (x)+(Q(x)− 1<br />

4 P2 (x)− P′ (x)<br />

2<br />

4 P2 (x)− P′ (x)<br />

2<br />

)·v(x) = 0.<br />

)·v(x)]


15. O TEOREMA DE COMPARAÇÃO DE STURM 638<br />

15. O Teorema <strong>de</strong> Comparação <strong>de</strong> Sturm<br />

Afirmação 15.1. (Teorema <strong>de</strong> Comparação <strong>de</strong> Sturm)<br />

Sejam z(x) uma solução <strong>de</strong><br />

z ′′ (x)+Q(x)·z(x) = 0<br />

e y(x) uma solução não i<strong>de</strong>nticamente nula <strong>de</strong><br />

y ′′ (x)+q(x)·y(x) = 0,<br />

on<strong>de</strong><br />

Q(x) > q(x).<br />

Então no intervalo aberto entre cada dois zeros sucessivos <strong>de</strong> y(x) há pelo menos<br />

um zero <strong>de</strong> z(x).<br />

Demonstração.<br />

Sejam x0,x1 dois zeros sucessivos da solução y(x). Por absurdo suponho que z(x)<br />

não tem zeros em (x0,x1) (po<strong>de</strong> aconetcer que z(x0) = 0 ou z(x1) = 0).<br />

Posso supôr que as soluções z(x) e y(x) têm o mesmo sinal em (x0,x1) (se não<br />

multiplico uma por −1, já que isso não afeta os zeros).<br />

Por exemplo, y,z > 0 em (x0,x1). Também posso supor que<br />

y ′ (x0) > 0 enquanto que y ′ (x1) < 0<br />

(pois entre zeros sucessivos <strong>de</strong> y(x) há algum zero <strong>de</strong> y ′ (x) - Teorema <strong>de</strong> Rolle). Note<br />

que se y ′ (x0) = 0 ou y ′ (x1) = 0 então y ≡ 0 pelo Teorema <strong>de</strong> Existência e Unicida<strong>de</strong>.<br />

Defino:<br />

z(x)y ′ (x)−y(x)z ′ (x)<br />

e noto que<br />

[z(x)y ′ (x)−y(x)z ′ (x)] ′ (x) = z(x)y ′′ (x)−y(x)z ′′ (x).<br />

Então:<br />

ou seja,<br />

[z(x1)·y ′ (x1)−z ′ (x1)·y(x1)]−[z(x0)·y ′ (x0)−z ′ (x0)·y(x0)] =<br />

x1<br />

= (zy<br />

x0<br />

′ −yz ′ ) ′ (t)dt =<br />

x1<br />

= (z(t)y<br />

x0<br />

′′ (t)−y(t)z ′′ (t)]dt =<br />

x1<br />

=<br />

x0<br />

y(t)·z(t)·(Q(t)−q(t))dt > 0,<br />

z(x1)·y ′ (x1)−z ′ (x1)·y(x1) > z(x0)·y ′ (x0)−z ′ (x0)·y(x0).<br />

Mas, quando calculo, obtenho:<br />

uma contradição.<br />

z(x0)·y ′ (x0)−z ′ (x0)·y(x0) = z(x0)·y ′ (x0) ≥ 0,<br />

z(x1)·y ′ (x1)−z ′ (x1)·y(x1) = z(x1)·y ′ (x1) ≤ 0,


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 639<br />

16. Um problema da Putnam Competition, n. 22, 1961<br />

AdaptandoumpoucooquefizemosnaprovadaAfirmação15.1épossível resolver:<br />

Problema:<br />

Seja y(x) uma solução <strong>de</strong><br />

y ′′ (x)+(1+ √ x)·y(x) = 0, ∀x ≥ 0<br />

com y(0) = 1 e y ′ (0) = 0.<br />

Prove que y(x) se anula exatamente uma vez em (0, π).<br />

Determine também um<br />

2<br />

número K para que o zero x <strong>de</strong> y(x) verifique:<br />

0 < K < x < π<br />

2 .<br />

Solução:<br />

Vou comparar<br />

y ′′ (x)+(1+ √ x)·y(x) = 0, x ≥ 0<br />

com<br />

w ′′ +w = 0,<br />

pois para x > 0 temos 1+ √ x > 1.<br />

Desta última equação tomo a solução w(x) = cos(x), para a qual sabemos que<br />

w(0) = 1, w ′ (0) = 0 e que seu primeiro zero é o ponto π<br />

2 , on<strong>de</strong> w′ ( π)<br />

= −1. 2<br />

Consi<strong>de</strong>ro:<br />

Então:<br />

y(x)·w ′ (x)−w(x)·y ′ (x).<br />

y(0)·w ′ (0)−w(0)·y ′ (0) = 0<br />

y( π<br />

2 )·w′ ( π<br />

2 )−w(π<br />

2 )·y′ ( π<br />

) = −y(π<br />

2 2 ).<br />

Suponha por absurdo que y(x) não tem zero em (0, π<br />

2 ).<br />

Então<br />

−y( π<br />

) < 0.<br />

2<br />

Mas como fizemos na prova da Afirmação 15.1:<br />

0 > [y( π<br />

2 )·w′ ( π<br />

2 )−w(π<br />

2 )·y′ ( π<br />

2 )]−[y(0)·w′ (0)−w(0)·y ′ (0)] =<br />

=<br />

π<br />

2<br />

uma contradição.<br />

Seja então<br />

0<br />

(y(t)w ′′ (t)−w(t)y ′′ (t)]dt =<br />

0 < x0 < π<br />

2<br />

π<br />

2<br />

um zero <strong>de</strong> y(x).<br />

Para <strong>de</strong>scobrir o número K < x0, comparo a equação:<br />

v ′′ <br />

π<br />

(x)+(1+ )·v(x) = 0<br />

2<br />

0<br />

y(t)·w(t)· √ tdt > 0,


16. UM PROBLEMA DA PUTNAM COMPETITION, N. 22, 1961 640<br />

com<br />

pois para 0 ≤ x < π<br />

2 temos:<br />

tem<br />

A solução <strong>de</strong> v ′′ (x)+(1+ π<br />

2<br />

y ′′ (x)+(1+ √ x)·y(x) = 0,<br />

<br />

π<br />

1+<br />

2 > 1+√x. )·v(x) = 0 da forma<br />

<br />

<br />

π<br />

1+<br />

2 ·x)<br />

v(x) = cos(<br />

v(0) = 1 e v ′ (0) = 0.<br />

Suponha por absurdo que seu primeiro zero<br />

x := π<br />

2 ·<br />

1<br />

<br />

1+ ,<br />

π<br />

2<br />

verifica:<br />

Como<br />

e<br />

obtenho<br />

=<br />

uma contradição.<br />

Logo<br />

x0 < x.<br />

v(x0)·y ′ (x0)−y(x0)·v ′ (x0) = v(x0)·y ′ (x0) < 0<br />

v(0)·y ′ (0)−y(0)·v ′ (0) = 0<br />

0 > [v(x0)·y ′ (x0)−y(x0)·v ′ (x0)]−[v(0)·y ′ (0)−y(0)·v ′ (0)] =<br />

x0<br />

(v(t)y<br />

0<br />

′′ (t)−y(t)v ′′ x0 π<br />

(t)]dt = v(t)·y(t)·(<br />

0<br />

0 < K := π<br />

2 ·<br />

1<br />

<br />

1+ π<br />

2<br />

< x0 < π<br />

2 .<br />

Falta ainda ver que só há esse zero x0 <strong>de</strong> y(x) em (K, π<br />

2 ).<br />

Suponha por absudo que existe x ′ 0<br />

outro zero <strong>de</strong> y(x) em (K, π<br />

2 ).<br />

2 −√ t)dt > 0,<br />

Então a Afirmação 15.1 diz que há algum zero da solução v(x) <strong>de</strong><br />

no intervalo:<br />

ou<br />

v ′′ (x)+(1+<br />

<br />

π<br />

)·v(x) = 0<br />

2<br />

(x0,x ′ 0 ) se x0 < x ′ 0<br />

(x ′ 0 ,x0) se x ′ 0 < x0.<br />

De qualquer forma, seria uma solução v(x) com algum zero entre K e π<br />

2 .


CAPÍTULO 40. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE SEGUNDA ORDEM 641<br />

Mas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> K o próximo zero <strong>de</strong> v(x) está em<br />

3π<br />

2 ·<br />

1<br />

<br />

1+ ,<br />

π<br />

2<br />

que é um número maior que π.<br />

Uma contradição.<br />

2<br />

17. Exercícios<br />

Exercício 17.1. (resolvido)<br />

O estudante Fábio Casula criou o seguinte exercício, que é simples mas instrutivo.<br />

Resolva por série <strong>de</strong> potências na origem a equação:<br />

xy ′ −y = 0.<br />

Explique por que não há unicida<strong>de</strong> das soluções com y(0) = 0.<br />

Exercício 17.2. (resolvido)<br />

Resolva por série <strong>de</strong> potências y = +∞ π<br />

n=0an(x− 2 )n o problema<br />

y ′′ +y = 0, y( π<br />

2 ) = 1 e y′ ( π<br />

) = 1.<br />

2<br />

Mostre que a solução assim obtida coinci<strong>de</strong> com y = sin(x).<br />

Exercício 17.3. (resolvido)<br />

Para x > 0, consi<strong>de</strong>re a equação:<br />

y ′′ (x)+ 2<br />

x y′ (x)+ q<br />

y(x) = 0.<br />

xα i ) Mostre que a mudança <strong>de</strong> variável<br />

y(x) = v(x)<br />

x<br />

transforma-a numa equação do tipo:<br />

(<strong>de</strong>termine Q(x)).<br />

ii) Consi<strong>de</strong>re<br />

v ′′ (x)+Q(x)v(x) = 0<br />

y ′′ (x)+ 2<br />

x y′ (x)+qy(x) = 0, com q < 0<br />

(ou seja, α = 0).<br />

Dê a solução geral da equação correspon<strong>de</strong>nte<br />

e daí obtenha a solução geral <strong>de</strong><br />

v ′′ (x)+Q(x)v(x) = 0<br />

y ′′ (x)+ 2<br />

x y′ (x)+qy(x) = 0.


CAPíTULO 41<br />

Equações com pontos não-singulares: Airy, Hermite e<br />

Legendre<br />

1. Solução explícita da Airy<br />

.<br />

Deacordocomoitemii)daAfirmação 12.1doCapítulo 40, assoluções daequação<br />

<strong>de</strong> Airy:<br />

y ′′ (x)+x·y(x) = 0.<br />

<strong>de</strong>vem ser séries convergentes ∀x ∈ R:<br />

Então, <strong>de</strong>rivando termo a termo 1 :<br />

y ′′ =<br />

y ′ =<br />

y =<br />

+∞<br />

i=2<br />

+∞<br />

i=1<br />

+∞<br />

ai ·x i .<br />

i=0<br />

e, supondo que resolve a equação, temos:<br />

+∞<br />

i·(i−1)·ai ·x i−2 +<br />

i=2<br />

i·ai ·x i−1 ,<br />

i·(i−1)·ai ·x i−2<br />

+∞<br />

i=0<br />

ou seja, introduzindo um índice novo no somatório:<br />

2·a2 +<br />

+∞<br />

j=1<br />

ai ·x i+1 = 0,<br />

[(j +2)(j +1)·aj+2 −aj−1]·x j = 0.<br />

Portanto sobre a0 e a1 não há qualquer restrição, mas:<br />

a2 = 0, a3 = a0<br />

2·3 , a4 = a1<br />

3·4 , a5 = 0,<br />

a6 = a3<br />

5·6 =<br />

1 como se po<strong>de</strong> justificar<br />

a0<br />

2·3·5·6 , a7 = a4<br />

6·7 =<br />

a8 = 0, a9 = a6<br />

8·9 =<br />

a10 = a7<br />

9·10 =<br />

a0<br />

2·3·5·6·8·9 ,<br />

a1<br />

3·4·6·7·9·10<br />

643<br />

a1<br />

3·4·6·7 ,


1. SOLUÇÃO EXPLÍCITA DA AIRY 644<br />

etc, (supondo que se possa reagrupar à vonta<strong>de</strong> as parcelas).<br />

Uma análise mais <strong>de</strong>talhada mostra que:<br />

a3k =<br />

a3k+1 =<br />

Portanto se obtém:<br />

+∞<br />

y = a0·(1+<br />

k=1<br />

a1<br />

, k ∈ N.<br />

(2·3)(5·6)...((3k −1)(3k))<br />

a0<br />

, k ∈ N.<br />

(3·4)(6·7)...((3k)(3k +1))<br />

a3k+2 = 0, k = 0,1,2,...<br />

x3k (2·3)(5·6)...((3k −1)(3k)) )+a1·(1+<br />

+∞<br />

O teste da Razão dá para a primeira série:<br />

k=1<br />

|x<br />

lim<br />

k→+∞<br />

3 |<br />

= 0,<br />

(3(k +1)−1)(3(k +1)<br />

x 3k+1<br />

(3·4)(6·7)...((3k)(3k+1)) )<br />

ou seja que há convergência em módulo ∀x ∈ R.<br />

Para terminar, um esclarecimento sobre a equação <strong>de</strong> Airy, que na literatura<br />

aparece às vezes com sinais diferentes:<br />

Afirmação 1.1. Se y = y(x) é solução <strong>de</strong> y ′′ (x)+x·y(x) = 0, ∀x ∈ R então<br />

é solução <strong>de</strong><br />

f(x) := y(−x)<br />

f ′′ (x)−x·f(x) = 0, ∀x ∈ R,<br />

Ou seja, a solução <strong>de</strong> uma equação é dada como reflexão no eixo dos y da solução<br />

da outra.<br />

Demonstração.<br />

Se y ′′ (x)+x·y(x) = 0, ∀x ∈ R então em particular:<br />

y ′′ (−x)+(−x)·y(−x) = 0, ∀x ∈ R.<br />

Mas se f(x) := y(−x) então f ′ (x) = −y ′ (−x) e<br />

Logo f ′′ (x)−x·f(x) = 0, ∀x ∈ R.<br />

f ′′ (x) = −(−y ′′ (−x)) = y ′′ (−x).


CAPÍTULO 41. EQUAÇÕES COM PONTOS NÃO-SINGULARES: AIRY,<br />

HERMITE E LEGENDRE 645<br />

Consi<strong>de</strong>ro a Equação <strong>de</strong> Hermite<br />

para a qual busco soluções da forma:<br />

2. Solução explícita da Hermite<br />

y ′′ (x)−2·x·y ′ (x)+q ·y(x) = 0, q ∈ R,<br />

y =<br />

+∞<br />

ai ·x i<br />

i=0<br />

e que <strong>de</strong>vem ser convergentes ∀x, pelo item ii) da Afirmação 12.1 do Capítulo 40.<br />

Então, <strong>de</strong>rivando termo a termo2 :<br />

y ′′ =<br />

y ′ =<br />

+∞<br />

i=2<br />

+∞<br />

i=1<br />

e, supondo que resolve a equação, temos:<br />

on<strong>de</strong><br />

0 =<br />

+∞<br />

i=2<br />

i·(i−1)·ai ·x i−2 −2·x·<br />

i·ai ·x i−1 ,<br />

i·(i−1)·ai ·x i−2<br />

=: <br />

i=0<br />

+∞<br />

i=1<br />

bi ·x i .<br />

i·ai ·x i−1 +q ·<br />

+∞<br />

b0 = 2·a2 +2·q ·a0, b1 = 2·3·a3 −2·a1 +2·q ·a1<br />

i=0<br />

ai ·x i =<br />

b2 = 3·4·a4 −4·a2 +2·q·a2, b3 = 4·5·a5 −2·3·a3 +2·q ·a3<br />

b4 = 5·6·a6 −2·4·a4 +2·q ·a4<br />

etc (supondo que se possa reagrupar à vonta<strong>de</strong> as parcelas). 10<br />

Mas se po<strong>de</strong>mostrar que uma série éi<strong>de</strong>nticamente nula se e só se cada coeficiente<br />

é nulo, quer dizer,<br />

∀i, bi = 0.<br />

O que cria as relações:<br />

a2 = −q ·a0, a3 = 1−q<br />

·a1<br />

a4 = 2−q<br />

6<br />

a5 = 2·(3−q)<br />

4·5<br />

·a2 =<br />

3<br />

2·q ·(2−q)<br />

12<br />

·a0<br />

·a3 = 2·(1−q)·(3−q)<br />

3·4·5<br />

etc.<br />

Uma análise mais cuidadosa permite mostrar que <strong>de</strong> fato as relações são:<br />

·a1<br />

a2i = 2i ·q ·(q −2)·(q −4)...·(q −2i+2)<br />

, se i ≥ 1,<br />

(2i)!<br />

2 como se po<strong>de</strong> justificar


2. SOLUÇÃO EXPLÍCITA DA HERMITE 646<br />

a2i+1 = 2i ·q ·(q −1)·(q −3)...·(q−2i+1)<br />

, se i ≥ 1.<br />

(2i+1)!<br />

De novo supondo que se po<strong>de</strong> reagrupar termos à vonta<strong>de</strong>, escrevo então o que<br />

obtivemos como:<br />

y = <br />

ai ·x i = <br />

a2i ·x 2i + <br />

i=0<br />

i=0<br />

i=0<br />

a2i+1 ·x 2i+1 .<br />

Po<strong>de</strong>mos confirmar a convergência <strong>de</strong>ssas séries para todo R.<br />

Note que o Teste da Razão aplicado para<br />

<br />

dá<br />

|a2(i+1)x<br />

lim<br />

i→+∞<br />

2(i+1) |<br />

|a2ix2i |<br />

i=0<br />

a2i ·x 2i<br />

|2·q ·(q −1)·...·(q −2i)x<br />

= lim<br />

i→+∞<br />

2 |<br />

= 0,<br />

|(2i+2)·(2i+1)·q ·(q −1)·...·(q −2i+1)|<br />

ou seja que converge em módulo ∀x ∈ R.<br />

Analogamente para <br />

i=0a2i+1 ·x2i+1 .<br />

Duas observações:<br />

• Se<br />

q = 0 ou q = n ∈ N<br />

então ou <br />

i=0<br />

a2i ·x 2i<br />

é um polinômio (quando q = 0 ou q = n ∈ N é par) ou<br />

<br />

i=0<br />

a2i+1 ·x 2i+1<br />

é um polinômio (quando q = n é ímpar).<br />

Como se verifica, esses polinômios são:<br />

a0, se q = n = 0<br />

a1 ·x, se q = n = 1<br />

a0 −2·a0 ·x 2 , se q = n = 2<br />

a1 ·x− 2<br />

3 ·a1 ·x 3 , se q = n = 3<br />

etc.<br />

• Para q geral, po<strong>de</strong>-se escrever<br />

y = <br />

a2i ·x 2i + <br />

a2i+1 ·x 2i+1 =<br />

i=0<br />

i=0<br />

= a0 ·(1−2·q ·x 2 2·q ·(q −1)<br />

+...)+a1 ·(x− ·x<br />

3<br />

3 +...)<br />

para pôr em evidência que há duas soluções in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da equação cujas<br />

combinações lineares dão a solução geral.


CAPÍTULO 41. EQUAÇÕES COM PONTOS NÃO-SINGULARES: AIRY,<br />

HERMITE E LEGENDRE 647<br />

3. Solução explícita da Legendre em torno <strong>de</strong> x = 0<br />

A equação <strong>de</strong> Legendre é<br />

y ′′ (x)− 2x<br />

1−x 2 ·y′ (x)+ p·(p+1)<br />

1−x 2 ·y(x) = 0, p ∈ R<br />

é não-singular 3 em x = 0.<br />

Essa equação também po<strong>de</strong> ser escrita como:<br />

(1−x 2 )·y ′′ (x)−2x·y ′ (x)+p·(p+1)·y(x) =<br />

e, às vezes, em aplicações, aparece numa forma camuflada:<br />

((1−x 2 )·y ′ (x)) ′ +λ·y(x) = 0.<br />

De acordo com o item ii) da Afirmação 12.1 do Capítulo 40, esta equação tem<br />

soluções dadas por séries <strong>de</strong> potências convergentes em −1 < x < 1 (eventualmente<br />

polinômios, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> p específicos), pois:<br />

1<br />

=<br />

1−x 2<br />

Tomo um candidato a solução<br />

+∞<br />

n=0<br />

y =<br />

x 2n , se −1 < x < 1.<br />

+∞<br />

cn ·x n ,<br />

calculo cada ingrediente da equação <strong>de</strong> Legendre posta na forma:<br />

n=0<br />

(1−x 2 )·y ′′ (x)−2x·y ′ (x)+p·(p+1)·y(x) = 0<br />

e os reúno na equação; ou seja, faço:<br />

−2x·y ′ = −2x·<br />

+∞<br />

n=1<br />

n·cn ·x n−1 =<br />

(1−x 2 )·y ′′ = (1−x 2 +∞<br />

)·<br />

=<br />

+∞<br />

n=2<br />

n(n−1)·cn ·x n−2 −<br />

n=2<br />

+∞<br />

+∞<br />

n=1<br />

[−2n·cn]·x n ,<br />

n(n−1)·cn ·x n−2 =<br />

n=2<br />

n(n−1)·cn ·x n .<br />

Pondo-osjuntos na equação <strong>de</strong> Legendre e reagrupando os termos em or<strong>de</strong>mcrescente<br />

do expoente, obtemos:<br />

[2·1·c2 +p(p+1)c0]·x 0 +[3·2·c3 −2·1·c1 +p(p+1)·c1]·x 1 +<br />

+[4·3·c4−2·1·c2−2·2·c2+p(p+1)·c2]·x 2 +[5·4·c5−3·2·c3−2·3·c3+p(p+1)c3]·x 3 +...+<br />

+[(n+2)·(n+1)·cn+2 −(n−1)·n·cn −2·n·cn +p(p+1)·cn]·x n +... = 0,<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> sai que:<br />

(n+2)·(n+1)·cn+2 −(n−1)·n·cn −2·n·cn +p(p+1)·cn = 0, ∀n ≥ 0;<br />

3 Por outro lado, do ponto <strong>de</strong> vista do Capítulo 44 ela tem pontos singulares em x = 1 e x = −1


3. SOLUÇÃO EXPLÍCITA DA LEGENDRE EM TORNO DE X = 0 648<br />

ou seja, surgem as recorrências:<br />

cn+2 = (n−1)·n+2·n−p(p+1)<br />

(n+2)·(n+1)<br />

= n·(n+1)−p(p+1)<br />

(n+2)·(n+1)<br />

·cn =<br />

·cn, ∀n ≥ 0,<br />

que nos permitirão, dado c0 obter todos os ck com k pares4 e dado c1 obter todos os<br />

cj com j ímpares (como <strong>de</strong>scrito mais em <strong>de</strong>talhe abaixo).<br />

E assim<br />

+∞<br />

y = cn ·x n = c0 · <br />

ckx k +c1 · <br />

cjx j<br />

n=0<br />

k∈2N<br />

j∈2N+1<br />

<strong>de</strong>screve o sistema linear <strong>de</strong> dimensão dois das soluções da equação diferencial.<br />

Uma observação simples mas interessante é que as recorrências acima po<strong>de</strong>m ser<br />

re-escritas como:<br />

Ou seja,<br />

cn+2 = n·(n+1)−p(p+1)<br />

(n+2)·(n+1)<br />

c2 = − (p+1)·p<br />

2·1<br />

c6 = − (p+5)·(p−4)<br />

6·5<br />

·cn = − (p+n+1)·(p−n)<br />

(n+2)·(n+1)<br />

·c0, c4 = (p+3)(p−2)<br />

4·3<br />

· (p+3)(p−2)<br />

4·3<br />

· (p+1)·p<br />

2·1<br />

· (p+1)·p<br />

2·1<br />

e assim por diante.<br />

Isso nos indica que se p ∈ 2N é um Natural par então a série <br />

k∈2Nckxk fica<br />

truncada no grau p, ou seja, vira um polinômio Pp, e:<br />

y = c0 ·Pp +c1 · <br />

cjx j .<br />

j∈2N+1<br />

Enquantoquenocasoemquep ∈ 2N+1éumNaturalímpar éasérie j<br />

j∈2N+1cjx que fica truncada no grau p, ou seja, vira um polinômio Pp <strong>de</strong> grau p e<br />

y = c0 · <br />

ck +c1Pp.<br />

k∈2N<br />

EssepolinômiosPp quesãosoluçõesdaequação<strong>de</strong>Legendresãochamadospolinômios<br />

<strong>de</strong> Legendre e são muito importantes na resolução <strong>de</strong> Equações Parciais, por exemplo.<br />

Veremos na Seção 4 do Capítulo 48 que os polinômios <strong>de</strong> Legendre <strong>de</strong>vem ser<br />

consi<strong>de</strong>rados harmônicos esféricos.<br />

4 Denoto o conjunto dos pares por e 2N e dos ímpares por 2N+1<br />

·c0,<br />

·cn.<br />

·c0,


CAPÍTULO 41. EQUAÇÕES COM PONTOS NÃO-SINGULARES: AIRY,<br />

HERMITE E LEGENDRE 649<br />

4. Polinômios <strong>de</strong> Legendre e expansão em série do potencial gravitacional<br />

Os polinômios <strong>de</strong> Legendre são a base para as adaptações da teoria <strong>de</strong> atração<br />

gravitacional <strong>de</strong> Newton - que a princípio é para um objeto pontual, zero dimensional<br />

- para situações realísticas, em que os objetos que atraem tem diferentes formatos<br />

tridimensionais.<br />

Me contento aqui em indicar (sem dar uma prova completa por enquanto) como os<br />

polinômios <strong>de</strong> Legendre aparecem em expansões em séries do potencial Newtoniano.<br />

Seja um corpo pontual <strong>de</strong> massa M situado fora da origem, no ponto (a,b,c) do<br />

espaço e seja<br />

D = ||(a,b,c)|| = √ a 2 +b 2 +c 2 .<br />

Seja um outro corpo pontual <strong>de</strong> massa m


5. ORTOGONALIDADE DOS POLINÔMIOS DE LEGENDRE 650<br />

po<strong>de</strong>mos usar a série binomial com expoente −1<br />

2<br />

1<br />

U = GM ·<br />

D· 1+v 2 −2vcos(θ)<br />

(cf. Seção 4 do Capítulo 31) e obter:<br />

= GM<br />

D ·(1+v2 −2vcos(θ)) −1<br />

2 =<br />

= GM 1<br />

·[1−<br />

D 2 (v2−2vcos(θ))+ 1·3<br />

2·4 (z2−2vcos(θ)) 2 − 1·3·5<br />

2·4·6 (v2−2vcos(θ)) 3 +...]<br />

Se re-escrevemos essa série como série <strong>de</strong> potências em v temos:<br />

U = GM<br />

D ·[1+cos(θ)·v+(−1<br />

3<br />

+<br />

2 2 cos(θ)2 )·v 2 +(− 3<br />

2<br />

Temos:<br />

= GM<br />

D ·<br />

+∞<br />

n=0<br />

Pn(cos(θ))·v n .<br />

cos(θ)+ 5<br />

2 cos(θ)3 )·v 3 +...] =<br />

1 = P0(cos(θ)), cos(θ) = P1(cos(θ)), − 1 3<br />

+<br />

2 2 cos(θ)2 = P2(cos(θ)),<br />

− 3 5<br />

cos(θ)+<br />

2 2 cos(θ)3 = P3(cos(θ))<br />

e o que se po<strong>de</strong> provar é que cada Pn é o polinômio <strong>de</strong> Legendre <strong>de</strong> grau n.<br />

Noto que, para θ = 0:<br />

(1+v 2 −2vcos(0)) −1<br />

2 = (1+v 2 −2v) −1 −1<br />

2 2 2 −1<br />

= (1−v) = (1−v)<br />

e pela série geométrica (já que 0 < v < 1):<br />

(1−v) −1 =<br />

o que é coerente com a escolha que se faz dos coeficientes dos Pn para que<br />

+∞<br />

n=0<br />

v n<br />

Pn(1) = 1, ∀n ≥ 0.<br />

5. Ortogonalida<strong>de</strong> dos polinômios <strong>de</strong> Legendre<br />

Retomemos a equação <strong>de</strong> Legendre na forma:<br />

efaçamos:<br />

((1−x 2 )·y ′ (x)) ′ +λ·y(x) = 0<br />

λ = n·(n+1), n ∈ N<br />

para que tenha soluções polinomiais Pn (n-ésimo polinômio <strong>de</strong> Legendre).<br />

Aimportânciadalista<strong>de</strong>polinômios<strong>de</strong>Legendre<strong>de</strong>corredaseguinteproprieda<strong>de</strong>:<br />

Afirmação 5.1. (Ortogonalida<strong>de</strong> dos polinômios <strong>de</strong> Legendre)<br />

Se n1,n2 ∈ N são diferentes entre si então:<br />

1<br />

−1<br />

Pn1(t)·Pn2(t)dt = 0.


CAPÍTULO 41. EQUAÇÕES COM PONTOS NÃO-SINGULARES: AIRY,<br />

HERMITE E LEGENDRE 651<br />

Demonstração.<br />

Sejam<br />

λ1 := n1 ·(n1 +1), e λ2 := n2 ·(n2 +1)<br />

e as equações <strong>de</strong> Legendre na forma:<br />

((1−x 2 )·P ′ n1 (x))′ = −λ1 ·Pn1<br />

((1−x 2 )·P ′ n2 (x))′ = −λ2 ·Pn2.<br />

De on<strong>de</strong> obtemos (por multiplicação e subtração <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s)<br />

Pn2 ·((1−x 2 )·P ′ n1 (x))′ −Pn1 ·((1−x 2 )·P ′ n2 (x))′ =<br />

= (λ2 −λ1)·Pn1 ·Pn2.<br />

Daí, integrando o lado esquerdo (por partes):<br />

<br />

<br />

=<br />

[Pn2(x)·((1−x 2 )·P ′ n1 (x))′ −Pn1(x)·((1−x 2 )·P ′ n2 (x))′ ]dx =<br />

Pn2(x)·((1−x 2 )·P ′ n1 (x))′ dx−<br />

= Pn2(x)·(1−x 2 )·P ′ n1 (x)−<br />

−Pn1(x)·(1−x 2 )·P ′ n2 (x)+<br />

<br />

<br />

<br />

Pn1(x)·((1−x 2 )·P ′ n2 (x))′ dx =<br />

P ′ n2 (x)·(1−x2 )·P ′ n1 −<br />

P ′ n1 (x)·(1−x2 )·P ′ (x)dx = n2<br />

= (1−x 2 )·[Pn2(x)·P ′ n1 (x)−Pn1(x)·P ′ n2 (x)]<br />

e portanto a integral <strong>de</strong>finida do lado direito é:<br />

=<br />

(λ2 −λ1)<br />

1<br />

Pn1 ·Pn2dx =<br />

−1<br />

1<br />

[Pn2(x)·((1−x<br />

−1<br />

2 )·P ′ n1 (x))′ −Pn1(x)·((1−x 2 )·P ′ n2 (x))′ ]dx =<br />

pois o termo 1−x 2 se anula em 1,−1.<br />

Como<br />

então concluímos que<br />

1<br />

= 0,<br />

λ1 = λ2<br />

Pn1 ·Pn2dx = 0.<br />

−1


CAPíTULO 42<br />

Equação com ponto singular: Hipergeométrica <strong>de</strong> Gauss<br />

Na Seção 4 do Capítulo 31 vimos o <strong>de</strong>senvolvimento em série infinita <strong>de</strong> (1+x) r ,<br />

para qualquer r ∈ R, on<strong>de</strong> −1 < x < 1.<br />

Agora introduzo uma série que generaliza a série binomial, bem como outrasséries<br />

já estudadas, como ln(1+x) e arcsin(x).<br />

Definição 0.1. Defino o símbolo <strong>de</strong> Pochhammer<br />

Note que [1]n = n!.<br />

[r]n := r ·(r +1)·...·(r +n−1).<br />

Definição 0.2. Se c = 0 e c = −n, ∀n ∈ N, a série infinita:<br />

F(a,b,c;x) := 1+<br />

é chamada <strong>de</strong> série hipergeométrica.<br />

+∞<br />

n=1<br />

[a]n ·[b]n<br />

n![c]n<br />

O nome que se dá a essa série se justifica pelos exemplos a seguir (como o leitor<br />

po<strong>de</strong> verificar):<br />

• (1−x) −1 = F(1,b,b;x) (<strong>de</strong> acordo com a Seção 2 do Capítulo 29),<br />

• arctan(x) = x·F( 1<br />

2<br />

• ln(1+x) = x·F(1,1,2;−x) (<strong>de</strong> acordo com a Seção 8 do Capítulo 30),<br />

• (1+x) r = F(−r,b,b;−x) (<strong>de</strong> acordo com a Seção 4 do Capítulo 31).<br />

·x n<br />

,1, 3<br />

2 ;−x2 ) (<strong>de</strong> acordo com a Seção 6 do Capítulo 30)<br />

Afirmação 0.2.<br />

i): A série F(a,b,c;x) converge em módulo para |x| < 1.<br />

ii): A série y = F(a,b,c;x) é uma solução da equação diferencial:<br />

Ea,b,c : x·(1−x)·y ′′ +[c−(a+b+1)·x]·y ′ −a·b·y = 0,<br />

chamada equação hipergeométrica <strong>de</strong> Gauss com parâmetros a,b,c.<br />

iii): se c ∈ N então essa equação tem também como solução<br />

y = x 1−c ·F(a−c+1,b−c+1,2−c;x).<br />

Por ponto singular x <strong>de</strong> uma equação entendo aquele ponto x on<strong>de</strong> o coeficiente<br />

P(x) ou o coeficiente Q(x) da equação<br />

y ′′ (x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y(x) = 0<br />

não po<strong>de</strong> ser expresso como série <strong>de</strong> potências convergente num entorno <strong>de</strong> x.<br />

653


Por isso a Equação hipergeométrica <strong>de</strong> Gauss tem ponto singular em x = 0 e em<br />

x = 1.<br />

e<br />

654<br />

Demonstração.<br />

Para provar i), uso o Teste da Razão para <strong>de</strong>monstrar a convergência em módulo:<br />

| ([a]n+1·[b]n+1<br />

(n+1)![c]n+1 ·xn+1 )<br />

( [a]n·[b]n<br />

n![c]n ·xn )<br />

| = | (a+n)·(b+n)<br />

n·(c+n)<br />

lim<br />

n→+∞ |(a+n)·(b+n) ·x| = |x|.<br />

n·(c+n)<br />

Para provar1 o item ii), começo procurando soluções da forma:<br />

y(x) = x r ·<br />

+∞<br />

an ·x n .<br />

Ou seja, supomos que, para algum r, y = xr · +∞<br />

n=0an · xn é solução da equação<br />

hipergeométrica <strong>de</strong> Gauss. Note que:<br />

e<br />

y ′ (x) = r·x r−1 ·<br />

y ′′ (x) = r ·(r−1)x r−2 ·<br />

+r ·x r−1 ·<br />

Pondo isso na equação:<br />

+∞<br />

n=1<br />

+∞<br />

n=0<br />

+∞<br />

n=0<br />

n=0<br />

an ·x n +x r ·<br />

n·an ·x n−1 +x r ·<br />

+∞<br />

n=1<br />

an ·x n +r ·x r−1 ·<br />

+∞<br />

n=2<br />

·x|<br />

n·an ·x n−1 =<br />

+∞<br />

n=1<br />

n·an ·x n−1 +<br />

n(n−1)·an ·x n−2 .<br />

x·(1−x)·y ′′ (x)+[c−(a+b+1)·x]·y ′ (x)−a·b·y(x) ≡ 0,<br />

obtemos à esquerda uma expressão em x cujo coeficiente do termo x r−1 é:<br />

r ·(r −1)+c·r.<br />

Como cada coeficiente tem que se anular, então:<br />

Então r = 0 ou r = 1−c.<br />

r ·(r −1)+c·r = r·(r −(1−c)) = 0.<br />

Caso r = 0:<br />

Colocando como solução da equação a série:<br />

x 0 ·<br />

+∞<br />

n=0<br />

an ·x n =<br />

+∞<br />

an ·x n<br />

1 As idéias por <strong>de</strong>trás da prova <strong>de</strong>sta segunda afirmação são parte do Método <strong>de</strong> Fobenius, que<br />

trataremos no Capítulo 44<br />

n=0


CAPÍTULO 42. EQUAÇÃO COM PONTO SINGULAR: HIPERGEOMÉTRICA<br />

DE GAUSS 655<br />

obtemos<br />

(a1c−aba0)·x 0 +(2a2 +2a2c−(a+b+1)a1 −aba1)·x 1 +<br />

+(−2a2 +6a3 −2(a+b+1)a2 +3ca3 −aba2)·x 2 +... ≡ 0,<br />

portanto cada coeficiente se anula, e daí obtemos:<br />

a2 = a+b+1+ab<br />

2(c+1)<br />

a3 = 2a+2b+4+ab<br />

3(c+2)<br />

a1 = a0 · ab<br />

c =: a0 · [a]1 ·[b]1<br />

1!·[c]1<br />

= a0 · a(a+1)b(b+1)<br />

2c(c+1)<br />

·a1 = a0 · (a+b+1+ab)<br />

2(c+1)<br />

=: a0 · [a]2 ·[b]2<br />

,<br />

2!·[c]2<br />

·a2 = a0 · (a+2)(b+2)<br />

3(c+2)<br />

=: a0 · [a]3 ·[b]3<br />

.<br />

3!·[c]3<br />

E assim por diante se obtém, por indução:<br />

portanto a solução é:<br />

+∞<br />

a0 ·<br />

n=0<br />

Isto completa a prova <strong>de</strong> ii).<br />

Caso r = 1−c:<br />

an = a0 · [a]n ·[b]n<br />

,<br />

3!·[c]n<br />

an ·x n = a0 ·(1+<br />

+∞<br />

n=1<br />

· ab<br />

c =<br />

· a(a+1)b(b+1)<br />

2c(c+1)<br />

[a]n ·[b]n<br />

·x<br />

n![c]n<br />

n ).<br />

Por hipótese do item iii) c ∈ N; em particular 1−c = 0. Faço uma mudança <strong>de</strong><br />

variáveis:<br />

y(x) = x 1−c ·z(x)<br />

e uma conta mostra que, se y(x) é solução <strong>de</strong>:<br />

x·(1−x)·y ′′ +[c−(a+b+1)·x]·y ′ −a·b·y = 0,<br />

então z(x) é solução <strong>de</strong> Ea−c+1,b−c+1,2−c, ou seja,<br />

x·(1−x)·z ′′ (x)+[(2−c)−((a−c+1)+(b−c+1)+1)·x]·z ′ (x)−(a−c+1)·(b−c+1)·z(x) = 0.<br />

Pelo que já apren<strong>de</strong>mos do primeiro Caso, a série infinita y = F(a−c+1,b−c+<br />

1,2−c;x) aparece como solução, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

2−c = −n, ∀n ∈ N,<br />

pois na série y = F(a−c+1,b−c+1,2−c;x) os coeficientes são:<br />

[a−c+1]n[b−c+1]n<br />

n![2−c]n<br />

=<br />

[a−c+1]n[b−c+1]n<br />

n!(2−c)(2−c+1)...·(2−c+n)<br />

=:


1. INTEGRAL ELÍPTICA COMO SÉRIE HIPERGEOMÉTRICA 656<br />

e 2−c+n não po<strong>de</strong> se fazer igual a zero. Mas 2−c = −n dá que c = n+2 ∈ N,<br />

contradizendo a hipótese adicional do item iii).<br />

<br />

1. Integral elíptica como série hipergeométrica<br />

Na Seção 4 do Capítulo 28 vimos que a integral<br />

<br />

2π<br />

b· 1−(1− a2<br />

b2)sin2 (t)dt<br />

0<br />

dá o comprimento (perímetro) da elipse x2<br />

a2 + y2<br />

b2 = 1. Pela simetria da elipse, esse<br />

comprimento é:<br />

π <br />

2<br />

4·b 1−(1−<br />

0<br />

a2<br />

b2)·sin2 (t)dt.<br />

Consi<strong>de</strong>ro agora um par <strong>de</strong> funções do parâmetro x no integrando (cuja notação é<br />

mais ou menos padrão na literatura):<br />

E( √ π <br />

2<br />

x) := 1−x·sin 2 (t)dt.<br />

K( √ x) :=<br />

0<br />

π<br />

2<br />

0<br />

1<br />

1−x·sin 2 (t) dt.<br />

Note que para z = sin(t) e 0 ≤ t ≤ π<br />

2 temos<br />

√ 1−z 2 = cos(t),<br />

logo, por mudança <strong>de</strong> variável, vale:<br />

K( √ x) :=<br />

π<br />

2<br />

0<br />

1<br />

1−x·sin 2 (t) dt =<br />

1<br />

0<br />

1<br />

√ 1−z 2 · √ 1−x·z 2 dz,<br />

que é outra maneira como K( √ x) aparece na literatura sobre funções e integrais<br />

elípticas. Naquele contexto usualmente se <strong>de</strong>nota √ x = k e<br />

Afirmação 1.1.<br />

ii) : d2 E( √ x)<br />

dx 2<br />

K( √ x) = K(k) =<br />

=<br />

i) :<br />

1<br />

0<br />

dE( √ x)<br />

dx<br />

1<br />

(1−z 2 )·(1−k 2 ·z 2 ) dz.<br />

= 1<br />

2x ·(E(√ x)−K( √ x)).<br />

1<br />

4x 2 (x−1) ·(2E(√ x)−E( √ x)·x−2K( √ x)+2K( √ x)·x).


CAPÍTULO 42. EQUAÇÃO COM PONTO SINGULAR: HIPERGEOMÉTRICA<br />

DE GAUSS 657<br />

iii): a função y = E( √ x) satisfaz a equação hipergeométrica E1<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

x(1−x)·y ′′ +(1−x)·y ′ + 1<br />

·y = 0.<br />

4<br />

2 ,−1 2<br />

Trata-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivar em relação ao parâmetro x. Pela Afirmação 9.1:<br />

dE( √ x)<br />

=<br />

dx<br />

π<br />

2<br />

π<br />

2<br />

0<br />

∂ 1−x·sin 2 (t)<br />

∂x<br />

dt =<br />

,1, a saber:<br />

−sin<br />

=<br />

0<br />

2 (t)<br />

2 1−x·sin 2 dt =<br />

(t)<br />

π <br />

2 2<br />

1−x·sin (t) 1<br />

= ( −<br />

0 2x 2x· 1−x·sin2 ) dt =<br />

(t)<br />

=: 1<br />

2x ·(E(x)−K(x)).<br />

De ii):<br />

Uma conta do mesmo tipo da anterior, mas mais longa, mostra que vale ii).<br />

De iii):<br />

Agora é só simplificar:<br />

= − 1<br />

4x<br />

De fato é sabido que:<br />

<br />

x(1−x)· d2 E( √ x)<br />

dx 2<br />

+(1−x)· dE(√x) dx + E(√x) =<br />

4<br />

1−x E<br />

·(2E −E ·x−2K +2K ·x))+ (E −K)+<br />

2x 4<br />

E(<br />

(1− a2<br />

b2)) :=<br />

pi<br />

2<br />

0<br />

<br />

1−(1− a2<br />

b 2))·sin2 (t)dt =<br />

= π<br />

2 ·F(1<br />

2 ,−1<br />

a2<br />

,1;x)(1−<br />

2 b2). Portanto a área da elipse x2<br />

a 2 + y2<br />

b 2 = 1 é:<br />

4·b· π<br />

2 ·F(1<br />

2 ,−1<br />

a2<br />

,1;x)(1−<br />

2 b2). Não esqueça que preciso ter:<br />

|1− a2<br />

b2| < 1<br />

para garantir a convergência da série hipergeométrica. Para a = 4 e b = 3 temos<br />

| = 7/9.<br />

|1− 16<br />

9<br />

≡ 0.


1. INTEGRAL ELÍPTICA COMO SÉRIE HIPERGEOMÉTRICA 658<br />

Resolvi calcular as primeiras somas parciais da série<br />

Obtive:<br />

4·2· π<br />

2 ·F(1<br />

2 ,−1<br />

2<br />

,1;x)(1− 16<br />

9 ).<br />

s1 = 6·π, s2 ≈ 7.166666667·π, s3 ≈ 6.996527778·π,<br />

s4 ≈ 7.051665381·π, s5 ≈ 7.004760128·π, s6 ≈ 7.027743702·π<br />

s7 ≈ 7.015453874·π, s8 ≈ 7.022427864·π,s9 ≈ 7.018296138·π.<br />

Uma aproximação proposta por S. Ramanujan, que mencionamos na Seção 4 do<br />

Capítulo 28, é<br />

(3·(a+b)− (a+3b)(3a+b))·π,<br />

note que para a = 4 e b = 3 isso dá:<br />

(21− √ 195)·π ≈ 7.03575996·π.


CAPíTULO 43<br />

Equação com ponto singular: a Equação <strong>de</strong> Bessel<br />

1. A <strong>de</strong>finição original <strong>de</strong> Bessel<br />

A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Bessel para suas funções foi feita através <strong>de</strong> uma integral1 , <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

<strong>de</strong> um parâmetro x:<br />

Jν(x) :=<br />

π<br />

0<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t)))dt, para ν ∈ N.<br />

Afirmação 1.1.<br />

A função y(x) = Jν(x) satisfaz a equação<br />

y ′′ (x)+ 1<br />

x ·y′ (x)+ν 2 ·(1− 1<br />

x2)·y(x) = 0, ν ∈ N.<br />

A mudança z := ν ·x leva essa equação na equação:<br />

y ′′ (z)+ 1<br />

z ·y′ (z)+ (z2 −ν 2 )<br />

z2 ·y(z) = 0.<br />

Definição 1.1. Mais geralmente, se <strong>de</strong>fine a equação <strong>de</strong> Bessel como:<br />

y ′′ (x)+ 1<br />

x ·y′ (x)+ (x2 −ν 2 )<br />

x2 ·y(z) = 0, on<strong>de</strong> ν ≥ 0, ν ∈ R<br />

Por ponto singular x <strong>de</strong> uma equação entendo aquele ponto x on<strong>de</strong> o coeficiente<br />

P(x) ou o coeficiente Q(x) da equação<br />

y ′′ (x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y(x) = 0<br />

não po<strong>de</strong> ser expresso como série <strong>de</strong> potências convergente num entorno <strong>de</strong> x.<br />

Por isso a Equação <strong>de</strong> Bessel tem ponto singular em x = 0<br />

Demonstração. (da Afirmação 1.1)<br />

Vamos ter que <strong>de</strong>rivar em relação ao parâmetro x da integral (veja Seção 9 do<br />

Capítulo 36<br />

y ′′ (x)+ 1<br />

=<br />

= −ν 2 ·<br />

π<br />

0 π<br />

0<br />

x ·y′ (x) =<br />

π<br />

∂2cos(ν ·(t−x·sin(t)))<br />

∂x2 dt+ 1<br />

x ·<br />

∂cos(ν ·(t−x·sin(t)))<br />

dt =<br />

0 ∂x<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t))·sin(t) 2 dt+ ν<br />

x ·<br />

π<br />

sin(ν ·(t−x·sin(t))·sin(t)dt.<br />

1Também se encontra na literatura a <strong>de</strong>finição Jν(x) := π<br />

0 cos(ν·t−x·sin(t))dt, o que não faz<br />

muita diferença.<br />

659<br />

0


1. A DEFINIÇÃO ORIGINAL DE BESSEL 660<br />

Agora integro por partes:<br />

= ν ·<br />

π<br />

0<br />

sin(ν ·(t−x·sin(t))<br />

<br />

=f<br />

·sin(t)<br />

<br />

=g ′<br />

dt =<br />

= −cos(t)sin(ν ·(t−x·sin(t))(π)+cos(t)sin(ν ·(t−x·sin(t))(0)+<br />

π<br />

0<br />

on<strong>de</strong> usei que<br />

Ou seja,<br />

= ν2<br />

x ·<br />

π<br />

0<br />

+ν ·<br />

π<br />

0<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t))·(1−x·cos(t))·cos(t)dt =<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t))−ν ·x<br />

π<br />

0<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t))·cos(t) 2 dt,<br />

sin(ν ·(π −x·sin(π)) = sin(ν ·π) = 0, se ν ∈ N.<br />

cos(ν·(t−x·sin(t))dt−ν 2 ·<br />

π<br />

y ′′ (x)+ 1<br />

x ·y′ (x) =<br />

= ν2<br />

x · cos(ν ·(t−x·sin(t))))·cos(t)dt−ν<br />

0<br />

2 ·<br />

Mas<br />

ν2 x ·<br />

π<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t))))·cos(t)dt−ν 2 ·<br />

= ν2<br />

·<br />

x2 0<br />

π<br />

0<br />

π<br />

cos(ν·(t−x·sin(t))·(sin(t)<br />

0<br />

2 +cos(t) 2 )dt =<br />

π<br />

π<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t))))·x·cos(t)dt−ν 2 ·<br />

π<br />

0<br />

0<br />

π<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t)))dt.<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t)))dt =<br />

0<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t)))dt =<br />

= − ν2<br />

· cos(ν ·(t−x·sin(t))))·(1−x·cos(t)−1)dt−ν<br />

x2 0<br />

2 ·y(x) =<br />

= − ν<br />

π<br />

·<br />

x2 0<br />

= − ν<br />

·[sin(ν ·(t−x·sin(t)))(π)<br />

x2 <br />

=0, ν∈N<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t))))·ν ·(1−x·cos(t))dt−ν 2 ·y(x)+ ν2<br />

·y(x) =<br />

x2 = −(ν 2 − ν2<br />

x2)·y(x), como queríamos.<br />

Para a segunda afirmação, basta notar que:<br />

dy dy dz dy<br />

= · = ·ν e<br />

dx dz dx dz<br />

Portanto a equação obtida se escreve como:<br />

ν 2 ·[ d2y 1 dy<br />

+ ·<br />

dz2 z dz<br />

−sin(ν·(t−x·sin(t)))(0)]]−ν 2 ·y(x)+ ν2<br />

·y(x) =<br />

x2 d2y dx2 = d2y dz2 ·ν2 .<br />

1<br />

+(1−<br />

z2)·y(z)] = 0.


CAPÍTULO 43. EQUAÇÃO COM PONTO SINGULAR: A EQUAÇÃO DE<br />

BESSEL 661<br />

Na Seção 5 do Capítulo 44 veremos como expressar algumas funções <strong>de</strong> Bessel<br />

através <strong>de</strong> séries infinitas, que funcionarão inclusive para ν ∈ N (introduzidas por<br />

Lommel e Hankel).<br />

A Afirmação a seguir será útil para <strong>de</strong>tectarmos algumas equações <strong>de</strong> Bessel camufladas:<br />

Afirmação 1.2. A equação <strong>de</strong> Bessel<br />

com as mudanças<br />

x 2 ·y ′′ (x)+x·y ′ (x)+(x 2 −ν 2 )·y(x) = 0,<br />

x = a·u b<br />

se transforma na equação:<br />

e y(x) = v(u)·u c , on<strong>de</strong> a,b,c ∈ R<br />

u 2d2v dv<br />

+(2c+1)·u·<br />

du2 du +[a2 ·b 2 ·u 2b +c 2 −ν 2 ·b 2 ]·v(u) = 0.<br />

Assumirei essa Afirmação. Provarei por enquanto apenas um caso bem particular<br />

<strong>de</strong>sta Afirmação na Afirmação 3.1 <strong>de</strong>ste Capítulo.<br />

2. Zeros <strong>de</strong> funções <strong>de</strong> Bessel<br />

Comomaterialque já<strong>de</strong>senvolvemos atéaqui no Curso jápo<strong>de</strong>remosdar algumas<br />

informações qualitativas relevantes sobre os zeros das funções <strong>de</strong> Bessel:<br />

Afirmação 2.1.<br />

i): As soluções não triviais y(x) da equação <strong>de</strong> Bessel<br />

y ′′ (x)+ 1<br />

x ·y′ (x)+ (x2 −ν 2 )<br />

x2 ·y(z) = 0, on<strong>de</strong> ν ≥ 0, ν ∈ R<br />

têm infinitos zeros.<br />

Po<strong>de</strong>mos dizer mais:<br />

a): se 0 ≤ ν ≤ 1<br />

2<br />

b): se ν > 1<br />

2<br />

então as soluções y(x) tem infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zeros em (0,+∞).<br />

<br />

então as soluções y(x) tem infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zeros em (<br />

<br />

ν2 − 1<br />

4 ).<br />

e, a<strong>de</strong>mais, no máximo um zero no intervalo (0,<br />

ii): se ν = 1<br />

2 então2 a equação tem como soluções 3<br />

y(x) = a· 1<br />

√ x ·sin(x)+b· 1<br />

√ x ·cos(x), a,b ∈ R<br />

ν 2 − 1<br />

4 ,+∞)<br />

2 1<br />

Um teorema <strong>de</strong> Liouville dirá que somente no caso ν = 2 +n, para n = 0 ou n ∈ N, é que as<br />

soluções da equação <strong>de</strong> Bessel se reduzem a funções elementares<br />

3A notação usual é y1 = J1(x)<br />

=<br />

2<br />

<br />

2 1<br />

π ·<br />

√ ·sin(x) e y2 = J 1<br />

x −2 (x) =<br />

<br />

2 1<br />

π · √ ·cos(x).<br />

x


2. ZEROS DE FUNÇÕES DE BESSEL 662<br />

iii):<br />

À medida que x cresce as soluções y(x) são aproximadas por funções do tipo:<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

Re-escrevo a equação como:<br />

a· 1<br />

√ x ·sin(x)+b· 1<br />

√ x ·cos(x), a,b ∈ R<br />

y ′′ (x)+ 1<br />

x ·y′ (x)+ (x2 −ν 2 )<br />

x2 ·y(x) = 0.<br />

Então a Afirmação 14.1 do Capítulo 40 reduz o estudo do número <strong>de</strong> zeros <strong>de</strong> y(x)<br />

ao estudo do número <strong>de</strong> zeros <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> foi feito<br />

v ′′ (x)+ (1+4·(x2 −ν 2 ))<br />

4x 2<br />

·v(x) = 0,<br />

v(x) := e 1 1<br />

2 tdt ·y(x) = √ x·y(x).<br />

Agora a Afirmação 13.2 do Capítulo 40 diz que há uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zeros da<br />

solução v(x) <strong>de</strong><br />

na região on<strong>de</strong> x > 0 e on<strong>de</strong> vale:<br />

v ′′ (x)+ (1+4·(x2 −ν 2 ))<br />

4x 2<br />

(1+4·(x 2 −ν 2 ))<br />

·v(x) = 0,<br />

> 0.<br />

4x2 Se 0 ≤ ν ≤ 1,<br />

basta então que x > 0.<br />

2<br />

Mas se ν > 1<br />

<br />

então preciso ter pelo menos x > ν 2 2 − 1<br />

4 .<br />

<br />

Como em (0,<br />

Capítulo 40 do diz que há no máximo um zero nesse intervalo.<br />

como<br />

De ii): Re-escreva<br />

Se ν = 1<br />

2<br />

ν 2 − 1<br />

4 ) temos 1+4·(x2 −ν 2 ) < 0, então a a Afirmação 13.2 do<br />

v ′′ (x)+ (1+4·(x2 −ν 2 ))<br />

4x 2<br />

·v(x) = 0,<br />

v ′′ (x)+(1+ 1−4ν2<br />

4x2 )·v(x) = 0.<br />

então essa equação vira:<br />

v ′′ (x)+v(x) = 0,<br />

cujas soluções são a·sin(x)+b·cos(x). Como tínhamos no item i):<br />

y(x) = v(x)<br />

√ x


CAPÍTULO 43. EQUAÇÃO COM PONTO SINGULAR: A EQUAÇÃO DE<br />

BESSEL 663<br />

obtemos<br />

y(x) = a·sin(x)+b·cos(x)<br />

√ .<br />

x<br />

De iii):<br />

Me contentarei por enquanto com uma explicação apenas heurística: note que se<br />

x >> 1 o termo 1−4ν2<br />

4x 2 fica muito pequeno na equação<br />

v ′′ (x)+(1+ 1−4ν2<br />

4x2 )·v(x) = 0;<br />

essa equação se aproxima portanto da equação:<br />

v ′′ (x)+v(x) = 0.<br />

Se po<strong>de</strong> provar rigorosamente que para x >> 1:<br />

y(x) ≈ a·sin(x)+b·cos(x)<br />

√ .<br />

x<br />

Afirmação 2.2. Se ν < 1,<br />

então em cada cada intervalo <strong>de</strong> tamanho π no semi-eixo<br />

2<br />

positivo há ao menos um zero da solução da equação <strong>de</strong> Bessel.<br />

Se ν = 1<br />

os zeros distam π um do outro, exatamente.<br />

2<br />

Se ν > 1 então dois zeros sucessivos da solução da equação <strong>de</strong> Bessel distam pelo<br />

2<br />

menos π um do outro.<br />

Demonstração.<br />

Na forma padrão a equação <strong>de</strong> Bessel é:<br />

Se ν < 1,<br />

então: 2<br />

v ′′ (x)+(1+ 1−4ν2<br />

4x 2 )·v(x) = 0;<br />

1 < 1+ 1−4ν2<br />

4x2 .<br />

Como os zeros das soluções <strong>de</strong> y ′′ (x) + y(x) = 0 estão em intervalos <strong>de</strong> tamanho π,<br />

concluímos pelo Teorema <strong>de</strong> Comparação <strong>de</strong> Sturm (Afirmação 15.1 do Capítulo 40)<br />

que em cada intervalo <strong>de</strong> tamanho π no semi-eixo positivo há ao menos um zero <strong>de</strong><br />

v(x).<br />

Se ν = 1<br />

já sabemos as soluções, explicitamente.<br />

2<br />

, então:<br />

Se ν > 1<br />

2<br />

1 > 1+ 1−4ν2<br />

4x 2<br />

e o Teorema <strong>de</strong> Comparação <strong>de</strong> Sturm dirá que dois zeros sucessivos da solução da<br />

equação <strong>de</strong> Bessel distam pelo menos π um do outro (caso contrário, haveria mais <strong>de</strong><br />

um zero das soluções <strong>de</strong> y ′′ (x)+y(x) = 0 num intervalo <strong>de</strong> tamanho menor que π).


3. ORTOGONALIDADE DAS FUNÇÕES DE BESSEL 664<br />

3. Ortogonalida<strong>de</strong> das funções <strong>de</strong> Bessel<br />

Ainda sem sabermos resolver explicitamente a equação <strong>de</strong> Bessel, mas sem precisarmos<br />

disso, vamos provar o seguinte fato notável:<br />

Afirmação 3.1. Seja y(x) solução da Equação <strong>de</strong> Bessel<br />

y ′′ (x)+ 1<br />

x ·y′ (x)+ (x2 −ν 2 )<br />

x2 ·y(x) = 0.<br />

E seja λ ∈ R\{0} um zero <strong>de</strong>ssa função.<br />

Então:<br />

i): z(x) := y(λ·x) é solução da equação<br />

z ′′ (x)+ 1<br />

x ·z′ (x)+ (λ2 ·x2 −ν 2 )<br />

x2 ·z(x) = 0.<br />

ii): λ1 ∈ R\{0} e λ2 ∈ R\{0} são distintos zeros <strong>de</strong> y(x) então<br />

1<br />

0<br />

x·y(λ1 ·x)·y(λ2 ·x)dx = 0<br />

O segundo item <strong>de</strong>sta Afirmação está na raíz da utilida<strong>de</strong> das funções <strong>de</strong> Bessel,<br />

principalmente porque pela Afirmação 2.1 há uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zeros λn, n ∈ N, <strong>de</strong><br />

cada solução da equação com ν fixado.<br />

Essa lista infinita <strong>de</strong> funções, aparecerá nos modos normais <strong>de</strong> vibração <strong>de</strong> um<br />

tambor, na Seção 3 do Capítulo 49.<br />

Demonstração. (da Afirmação 3.1)<br />

Prova do item i):<br />

Consi<strong>de</strong>ro<br />

u = λ·x, λ ∈ R\{0}<br />

como uma mudança <strong>de</strong> variável. Pela <strong>de</strong>rivada da composta:<br />

e<br />

dy(λ·x)<br />

du<br />

·λ = dy(λ·x)<br />

dx<br />

d2y(λ·x) du2 ·λ 2 = d2y(λ·x) dx2 .<br />

Então obtemos:<br />

1<br />

λ2 ·[d2 y(λ·x)<br />

dx2 + 1 dy(λ·x)<br />

· +<br />

x dx<br />

λ2 ·x2 −ν 2<br />

x2 =<br />

= d2y(u) 1 dy(u)<br />

+ ·<br />

du2 u du + u2 −ν 2<br />

u2 ·y(u).<br />

Mas<br />

d2y(u) 1 dy(u)<br />

+ ·<br />

du2 u du + u2 −ν 2<br />

u2 ·y(u) = 0<br />

pois essa é a equação <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> índice ν.<br />

·y(λ·x)] =


CAPÍTULO 43. EQUAÇÃO COM PONTO SINGULAR: A EQUAÇÃO DE<br />

BESSEL 665<br />

Logo<br />

d2y(λ·x) dx2 + 1<br />

x<br />

Isto prova o item i).<br />

· dy(λ·x)<br />

dx<br />

+ λ2 ·x 2 −ν 2<br />

x 2<br />

·y(λ·x) = 0<br />

Prova 4 do item ii):<br />

Pelo item i) já provado, se λ1 = λ2 são dois zeros <strong>de</strong> y(x) (solução da Bessel <strong>de</strong><br />

índice ν) e<br />

z1(x) := y(λ1 ·x) e z2(x) := y(λ2 ·x),<br />

então<br />

d2z1(x) 1 dz1(x)<br />

+ ·<br />

dx2 x dx +(λ2 ν2<br />

1 −<br />

x2)·z1(x) = 0<br />

e<br />

d2z2(x) 1 dz2(x)<br />

+ ·<br />

dx2 x dx +(λ2 ν2<br />

2 −<br />

x2)·z2(x) = 0<br />

Multiplicando a primeira <strong>de</strong>ssas duas equações por z2(x) a segunda por z1(x) e subtraindo,<br />

se consegue:<br />

z2 · d2z1(x) dx2 −z1 · d2z2(x) 1<br />

+<br />

dx2 x ·(z2 · dz1(x)<br />

dx −z1 · dz2(x)<br />

) =<br />

dx<br />

= (λ 2 2 −λ 2 1)·z1(x)·z2(x).<br />

O que é o mesmo que escrever:<br />

(z2 · dz1(x)<br />

dx −z1 · dz2(x)<br />

dx ) ′ + 1<br />

x ·(z2 · dz1(x)<br />

dx −z1 · dz2(x)<br />

) =<br />

dx<br />

= (λ 2 2 −λ2 1 )·z1(x)·z2(x)<br />

e multiplicando esta i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> por x:<br />

= x·(z2· dz1(x) dz2(x)<br />

−z1·<br />

dx dx ) ′ +(z2· dz1(x)<br />

dx<br />

o que consegue-se escrever como:<br />

−z1· dz2(x)<br />

dx ) = (λ2 2−λ 2 1)·x·z1(x)·z2(x),<br />

[x·(z2 · dz1(x)<br />

dx −z1 · dz2(x)<br />

dx )] ′ = (λ 2 2 −λ 2 1)·x·z1(x)·z2(x).<br />

Mas então, integrando:<br />

Mas<br />

e<br />

[x·(z2 · dz1(x)<br />

dx −z1 · dz2(x)<br />

dx )](1)−[x·(z2 · dz1(x)<br />

dx −z1 · dz2(x)<br />

)](0) =<br />

dx<br />

= (λ 2 2 −λ 2 1)·<br />

1<br />

0<br />

x·z1(x)·z2(x)dx.<br />

[x·(z2 · dz1(x)<br />

dx −z1 · dz2(x)<br />

)](0) = 0<br />

dx<br />

[x·(z2 · dz1(x)<br />

dx −z1 · dz2(x)<br />

dx )](1) = y(λ2)·y ′ (λ1)−y(λ1)·y ′ (λ2) = 0<br />

4 Repare como esta <strong>de</strong>monstração é muito parecida com a prova que <strong>de</strong>mos da ortogonalida<strong>de</strong><br />

dos polinômios <strong>de</strong> Legendre


3. ORTOGONALIDADE DAS FUNÇÕES DE BESSEL 666<br />

pelas escolhas <strong>de</strong> λ1,λ2.<br />

Isso prova o item ii).


CAPíTULO 44<br />

Equações com pontos singulares do tipo regular<br />

1. A Equação <strong>de</strong> Euler e sua redução a coeficientes constantes<br />

Agoraintroduziremosumaequaçãomuitoimportante, quetemcoeficientesvariáveis<br />

e que tem ponto singular em x = 0, mas que felizmente é redutível aos métodos da<br />

Seção 2 do Capítulo 40, graças à Afirmação 10.1 daquele Capítulo.<br />

Afirmação 1.1. (Equação <strong>de</strong> Euler) A equação<br />

x 2 · d2y d2 dy<br />

+p·x· +q ·y = 0, p,q ∈ R e q > 0<br />

x dx<br />

em intervalos que não contenham a origem x = 0 tem sua solução <strong>de</strong>terminada pelas<br />

raízes r1,r2 da equação:<br />

r ·(r −1)+p·r +q = 0<br />

• se r1,r2 ∈ R e r1 = r2 então a solução geral é<br />

y = a·|x| r1 +b·|x| r2 .<br />

• se r1 = r2 = r ∈ R então a solução geral é:<br />

y = a·|x| r +b·ln|x|·|x| r .<br />

• se r1 = λ+I ·µ e r2 = λ−I ·µ são Complexos conjugados então a solução<br />

geral é<br />

y = a·|x| λ ·cos(µln|x|)+b·|x| λ ·sin(µln|x|).<br />

Demonstração.<br />

Note que, se divido por x = 0 a equação dada obtenho a equação:<br />

0 = d2y d2 p dy<br />

+ ·<br />

x x dx<br />

q<br />

+ ·y =<br />

x2 =: d2y d2 dy<br />

+P(x)·<br />

x dx +Q(x)·y<br />

para a qual se aplica a Afirmação 10.1 já que:<br />

que é constante e igual a<br />

ou<br />

Q ′ +2PQ<br />

=<br />

2Q 3<br />

2<br />

−2q<br />

x3 + 2pq<br />

x3 2( q 3<br />

2<br />

x2) = (pq −q)·|x|3<br />

p−1<br />

√ q , se x > 0<br />

1−p<br />

√ q , se x < 0.<br />

667<br />

q 3<br />

2x3


1. A EQUAÇÃO DE EULER E SUA REDUÇÃO A COEFICIENTES<br />

CONSTANTES 668<br />

A Afirmação 10.1 ensina a transformar a equação <strong>de</strong> Euler em outra a coeficientes<br />

constantes usando a mudança <strong>de</strong> variável:<br />

<br />

Qdx<br />

<br />

q<br />

z = = dx<br />

x2 ou seja,<br />

z = √ q ·ln(x), se x > 0<br />

ou<br />

z = − √ q ·ln|x|, se x < 0.<br />

No caso x > 0:<br />

temos<br />

e<br />

Seguindo as intruções da Afirmação 10.1 do Capítulo 40, obteremos a equação:<br />

De fato, com<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong>:<br />

e após dividir por q:<br />

As soluções <strong>de</strong><br />

0 = d2 y<br />

d 2 z<br />

+ p−1<br />

√ q · dy<br />

dz +y.<br />

z := √ q ·ln(x),<br />

dy<br />

dx<br />

= dy<br />

dz ·√ q · 1<br />

x<br />

d2y dx2 = d2y 1 dy<br />

·q · +<br />

dz2 x2 dz ·√q · (−1)<br />

,<br />

x2 0 ≡ x 2 · d2y dy<br />

+p·x· +q ·y =<br />

dx2 dx<br />

= d2y dy<br />

·q −<br />

dz2 dz ·√q + dy<br />

dz ·p·√ q +q ·y,<br />

0 = d2 y<br />

d 2 z<br />

+ p−1<br />

√ q · dy<br />

dz +y.<br />

0 = d2y d2 p−1<br />

+ √ ·<br />

z q dy<br />

dz +y<br />

são <strong>de</strong>terminadas a partir das raízes r1,r2 da equação característica:<br />

r 2 + p−1<br />

√ ·r +1 = 0.<br />

q<br />

Como vimos na Afirmação 2.1:<br />

• se há duas raízes reais:<br />

r1 = 1−p+ (p−1) 2 −4q<br />

2 √ q<br />

então a solução geral é:<br />

y(z) = a·e 1−p+<br />

√ (p−1) 2 −4q<br />

2 √ q<br />

e r2 := 1−p+ (p−1) 2 −4q<br />

2 √ q<br />

·z +b·e 1−p−<br />

√ (p−1) 2 −4q<br />

2 √ q<br />

·z .


CAPÍTULO 44. EQUAÇÕES COM PONTOS SINGULARES DO TIPO<br />

REGULAR 669<br />

Quando fazemos<br />

obtemos<br />

e noto que:<br />

y(x) = a·e 1−p+<br />

√ (p−1) 2 −4q<br />

2<br />

z = √ q ·ln(x)<br />

·ln(x) +b·e 1−p−<br />

√ (p−1) 2 −4q<br />

=: a·x 1−p+<br />

√<br />

(p−1) 2−4q 2 +b·x 1−p−<br />

√<br />

(p−1) 2−4q 2<br />

1−p+ (p−1) 2 −4q<br />

2<br />

são raízes <strong>de</strong><br />

e<br />

2<br />

·ln(x) =:<br />

1−p− (p−1) 2 −4q<br />

2<br />

r 2 +(p−1)·r+q = r ·(r −1)+p·r +q = 0.<br />

Como o caso x < 0 é completamente análogo, fazendo-se uma mudança<br />

<strong>de</strong> variável x = −x, está provado o primeiro item da Afirmação.<br />

• se<br />

r1 = r2 = 1−p<br />

2 √ = −1<br />

q<br />

as soluções são:<br />

que dão:<br />

y(z) = a·z ·e −z +b·e −z<br />

y(x) = a· √ qln(x)·e −√ qln(x) +b·e − √ qln(x) =:<br />

e noto que − √ q = 1−p<br />

2<br />

=: a· √ q ·ln(x)·x −√ q +b·x − √ q<br />

é a única raíz <strong>de</strong><br />

r 2 +(p−1)·r+q = r ·(r −1)+p·r +q = 0.<br />

• o caso em que r1,r2 são Complexos é análogo.<br />

O Caso x < 0 é completamente análogo.<br />

Exemplo: (Exercício do Bear, p. 164)<br />

Resolver para t > 0 o sistema<br />

A primeira dá:<br />

a segunda dá:<br />

y ′ (t) = z(t)+ y(t)<br />

t<br />

z(t) = y ′ (t)− y(t)<br />

t<br />

y ′′ (t)− y′ (t)<br />

t<br />

+ y(t)<br />

e z ′ (t) = t+z(t)<br />

.<br />

t<br />

logo z ′ (t) = y ′′ (t)− y′ (t)<br />

t<br />

t2 = 1+ y′ (t)− y(t)<br />

t<br />

t<br />

= 1+ y′ (t)<br />

t<br />

y(t)<br />

+ .<br />

t2 y(t)<br />

− ,<br />

t2


2. SOLUÇÃO DIRETA DA EQUAÇÃO DE EULER 670<br />

ou seja,<br />

Ora,<br />

é a equação <strong>de</strong> Euler:<br />

y ′′ (t)− 2<br />

t ·y′ (t)+ 2<br />

·y(t) = 1.<br />

t2 y ′′ (t)− 2<br />

t ·y′ (t)+ 2<br />

·y(t) = 0<br />

t2 t 2 ·y ′′ (t)−2·t·y ′ (t)+2·y(t) = 0,<br />

cuja equação indicial<br />

r ·(r−1)−2·r +2 = 0<br />

tem raízes 2,1. Logo a solução geral <strong>de</strong>ssa Euler é, para t > 0:<br />

Como os coeficientes da equação<br />

a·t 2 +b·t.<br />

y ′′ (t)− 2<br />

t ·y′ (t)+ 2<br />

·y(t) = 1<br />

t2 não são constantes, para encontrar uma solução particular φ1(t) <strong>de</strong>la uso o método <strong>de</strong><br />

variação <strong>de</strong> parâmetros (Seção 4 do Capítulo 40). De acordo com aquele resultado,<br />

po<strong>de</strong>mos tomar<br />

φ1(t) = a(t)·t 2 +b(t)·t<br />

on<strong>de</strong>:<br />

<br />

1<br />

a(t) = dt e b(t) = − 1dt,<br />

t<br />

e portanto (tomando como 0 as constantes <strong>de</strong> integração):<br />

e finalmente<br />

a(t) = ln(t) e b(t) = −t<br />

y(t) = a·t 2 +b·t+φ(t) = a·t 2 +b·t+ln(t)·t 2 −t·t =<br />

= t 2 ·(a ′ +ln(t))+b·t, a ′ ,b ∈ R.<br />

2. Solução direta da equação <strong>de</strong> Euler<br />

Aqui se dá uma nova abordagem, bem mais direta da equação.<br />

Ela retoma uma idéia usada na Seção 7 do Capítulo 40 e antecipa uma idéia que<br />

se usa quando se aprofunda o método <strong>de</strong> Frobenius, cujo início está no Capítulo 44.<br />

ComojávimosassoluçõestodasdaEquação<strong>de</strong>EulernaSeçãoanteriorpo<strong>de</strong>remos<br />

aqui nos ater a alguns pontos especiais.<br />

Consi<strong>de</strong>ro o operador diferencial linear :<br />

L(y(x)) := x 2 ·y ′′ (x)+p·xy ′ (x)+q ·y(x)<br />

e a equação <strong>de</strong> Euler:<br />

L(y(x)) = 0.<br />

Suponha que procuro uma solução da forma:<br />

y = x r , r ∈ R, x > 0.


CAPÍTULO 44. EQUAÇÕES COM PONTOS SINGULARES DO TIPO<br />

REGULAR 671<br />

Então<br />

L(x r ) = x 2 ·r ·(r−1)·x r−2 +p·x·r·x r−1 +q ·x r =<br />

e portanto r é raíz da equação indicial:<br />

= x r ·[r ·(r −1)+p·r +q] = 0<br />

r ·(r −1)+p·r +q = 0.<br />

Há trêscasos aconsi<strong>de</strong>rar, dosquais abordarei porenquanto apenasosdois primeiros.<br />

Caso 1:) se r ·(r −1)+p·r+q = 0 tem duas raízes distintas:<br />

então a solução geral é:<br />

r1 = r2 ∈ R<br />

a·x r1 +b·x r2 , x > 0.<br />

Caso 2:) se r ·(r −1)+p·r+q = 0 tem raíz dupla.<br />

Tomando essa raíz r vemos que:<br />

é uma solução. Mas e como obter outra solução in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ?<br />

Consi<strong>de</strong>ro r como uma variável na expressão:<br />

x r<br />

L(x r ) = x r ·[r ·(r −1)+p·r+q]<br />

e <strong>de</strong>rivo-a em r (trocando <strong>de</strong>pois a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação em x e em r), obtendo à<br />

esquerda :<br />

já que<br />

E à esquerda:<br />

∂[x r ·(r ·(r −1)+p·r +q)]<br />

∂r<br />

Ou seja:<br />

∂L(x r )<br />

∂r<br />

= L(∂xr<br />

∂r ) = L(xr ·ln(x)),<br />

x r := e r·ln(x) .<br />

= r ·x r−1 ·(r ·(r−1)+p·r +q)+x r ·(2·r +p−1).<br />

L(x r ·ln(x)) = r ·x r−1 ·(r ·(r −1)+p·r +q)+x r ·(2·r +p−1)<br />

e quando avalio em r que é raíz dupla da equação indicial, então anulo o lado direito:<br />

e concluo que<br />

L(x r ·ln(x)) = 0<br />

x r ·ln(x)<br />

é uma outra solução da equação <strong>de</strong> Euler, linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> x r .<br />

Deixo a discussão do Caso <strong>de</strong> raízes complexas conjugadas para outra ocasião.


3. DEFINIÇÕES GERAIS E EXEMPLOS DE PONTOS SINGULARES<br />

REGULARES 672<br />

3. Definições gerais e exemplos <strong>de</strong> pontos singulares regulares<br />

O que há em comum entre a Equação <strong>de</strong> Euler, a equação Hipergeométrica e a<br />

equação <strong>de</strong> Bessel ?<br />

Veremos que têm em comum a natureza <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong> seus pontos singulares.<br />

Para começar, a equação <strong>de</strong> Euler<br />

po<strong>de</strong> ser reescrita como:<br />

x 2 ·y ′′ (x)+px·y ′ (x)+q ·y(x) = 0, p,q ∈ R e q > 0<br />

y ′′ (x)+ p<br />

x y′ (x)+ q<br />

·y(x) = 0,<br />

x2 ou seja, tem x = 0 como ponto singular. Note que ao menos ela tem a a proprieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que:<br />

x·( p<br />

x ) = p e x2 ·( q<br />

x2) = q<br />

são constantes. Em particular são polinônios e em particular são séries convergentes<br />

em torno <strong>de</strong> x = 0. Veremos que esta última condição já basta.<br />

A equação Hipergeométrica, escrita como:<br />

y ′′ + [c−(a+b+1)·x]<br />

x·(1−x)<br />

tem a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que as funções:<br />

x· [c−(a+b+1)·x]<br />

x·(1−x)<br />

= c−(a+b+1)·x<br />

1−x<br />

·y ′ − a·b·y<br />

x·(1−x)<br />

e x 2 ·<br />

= 0,<br />

a·b<br />

x·(1−x)<br />

= a·bx<br />

1−x<br />

po<strong>de</strong>mser dadasporséries convergentes emtorno<strong>de</strong>x = 0(usando séries geométricas<br />

<strong>de</strong> razão x com |x| < 1).<br />

Também as funções:<br />

(1−x)· [c−(a+b+1)·x]<br />

x·(1−x)<br />

= c−(a+b+1)·x<br />

x<br />

e (1−x) 2 a·b<br />

·<br />

x·(1−x)<br />

po<strong>de</strong>m ser dadas por séries convergentes em torno <strong>de</strong> x = 1.<br />

Também a equação <strong>de</strong> Bessel, escrita como:<br />

y ′′ (x)+ 1<br />

x ·y′ (x)+ (x2 −ν 2 )<br />

x2 ·y(x) = 0,<br />

tem a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que as funções:<br />

x· 1<br />

x = 1 e x2 · (x2 −ν 2 )<br />

são polinômios e portanto são séries convergentes em x = 0.<br />

Esses exemplos motivam um pouco a <strong>de</strong>finição:<br />

x 2 = x 2 −ν 2<br />

= a·b(1−x)<br />

x<br />

Definição 3.1. Seja uma equação y ′′ (x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y(x) = 0 com ponto<br />

singular em x.<br />

Então x é dito um ponto singular regular se as funções<br />

(x−x)·P(x) e (x−x) 2 ·Q(x)<br />

po<strong>de</strong>m ser dadas por séries convergentes em torno <strong>de</strong> x.


CAPÍTULO 44. EQUAÇÕES COM PONTOS SINGULARES DO TIPO<br />

REGULAR 673<br />

4. Início do Método <strong>de</strong> Frobenius<br />

A solução da Equação <strong>de</strong> Euler vai nortear o estudo que faremos agora.<br />

Lembre o que apren<strong>de</strong>mos no primeiro item da Afirmação 1.1: a equação <strong>de</strong> Euler<br />

y ′′ (x)+ p<br />

x ·y′ (x)+ q<br />

·y(x) = 0, x > 0<br />

x2 tem como soluções<br />

se a equação<br />

tem duas soluções distintas r1,r2 ∈ R.<br />

y = a·x r1 +b·x r2<br />

r(r−1)+p·r+q = 0<br />

Isso motiva a seguinte <strong>de</strong>finição (por simplicida<strong>de</strong> enunciada só para x = 0):<br />

Definição 4.1. (Equação indicial607)<br />

Seja y ′′ (x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y(x) = 0 com ponto singular regular em x = 0,<br />

para a qual<br />

x·P(x) = p0 +p1 ·x+p2 ·x 2 +... e x 2 ·Q(x) = q0 +q1 ·x+q2 ·x 2 +...<br />

são séries convergentes.<br />

Define-se sua equação indicial por:<br />

r(r−1)+p0 ·r +q0 = 0<br />

A seguinte Afirmação é parte <strong>de</strong> uma mais geral, que é o Método <strong>de</strong> Frobenius<br />

geral.<br />

Me contento, por enquanto, com este enunciado:<br />

Afirmação 4.1. (Início do Método <strong>de</strong> Frobenius)<br />

Suponha y ′′ (x) + P(x) · y ′ (x) + Q(x) · y(x) = 0 com ponto singular regular em<br />

x = 0, on<strong>de</strong><br />

x·P(x) = p0 +p1 ·x+p2 ·x 2 +... e x 2 ·Q(x) = q0 +q1 ·x+q2 ·x 2 +...<br />

são séries convergentes.<br />

• Se a equação indicial:<br />

r(r−1)+p0 ·r +q0 = 0<br />

tem uma raíz dupla r ∈ R então existe uma solução da equação da forma:<br />

y = x r · <br />

anx n ,<br />

n=0+∞<br />

on<strong>de</strong> <br />

n=0+∞an ·xn é uma série <strong>de</strong> potências convergente.<br />

A série<br />

y = <br />

anx r+n<br />

é chamada série <strong>de</strong> Frobenius.<br />

n=0+∞


4. INÍCIO DO MÉTODO DE FROBENIUS 674<br />

• Se a equação indicial:<br />

r(r−1)+p0 ·r +q0 = 0<br />

tem duas raízes distintas r1,r2 ∈ R e se<br />

r1 −r2 ∈ Z<br />

então todas as soluções da equação são da forma:<br />

y = x r1<br />

<br />

· anx n +x r2<br />

<br />

· bnx n<br />

n=0+∞<br />

n=0+∞<br />

on<strong>de</strong> <br />

n=0+∞ an·x n e <br />

n=0+∞ bn·x n são séries <strong>de</strong> potências convergentes.<br />

Demonstração. (Algumas idéias da Prova)<br />

Nem vou discutir as questões <strong>de</strong> convergência das séries envolvidas, que suponho<br />

convergem absolutamente.<br />

Se começa buscando uma solução da forma<br />

y = x r · <br />

cnx n , on<strong>de</strong> r ∈ R e x > 0,<br />

on<strong>de</strong> sempre po<strong>de</strong>mos supor<br />

n=0+∞<br />

c0 = 0,<br />

pois caso contrário troco r por r +1.<br />

Vamos montar cada ingrediente que aparece na equação diferencial, aplicá-los na<br />

equação, e ver que condições se farão necessárias em r e nos coeficientes cn.<br />

Primeiro, <strong>de</strong>rivando termo a termo esse candidato e or<strong>de</strong>nando por potências,<br />

obtém-se:<br />

então:<br />

Como<br />

y ′ = r ·x r−1 ·<br />

+∞<br />

n=0<br />

cnx n +x r ·<br />

+∞<br />

n=1<br />

n·cn ·x n−1 =<br />

= x r−1 ·[rc0 +c1 ·(r +1)·x+c2 ·(r +2)·x 2 +...] =<br />

P(x) =<br />

P(x)·y ′ (x) =<br />

=<br />

= x r−2 ·<br />

= x r−2 ·<br />

+∞<br />

n=0<br />

+∞ n<br />

n=0pnx x<br />

(r+n)·cn ·x r+n−1 .<br />

e Q(x) =<br />

+∞ n<br />

n=0qnx x2 +∞ n +∞<br />

n=0pnx · (r +n)·cn ·x<br />

x<br />

n=0<br />

r+n−1 =<br />

+∞<br />

n=0<br />

+∞<br />

n=0<br />

pnx n ·<br />

[<br />

+∞<br />

n=0<br />

(r +n)·cn ·x n =<br />

n<br />

pn−k ·(r +k)·ck]·x n<br />

k=0


CAPÍTULO 44. EQUAÇÕES COM PONTOS SINGULARES DO TIPO<br />

REGULAR 675<br />

on<strong>de</strong> obtive os coeficientes<br />

n<br />

pn−k ·(r +k)·ck<br />

k=0<br />

<strong>de</strong> cada monômio xn agrupando todos os que resultam, via distributivida<strong>de</strong> do produto<br />

com a soma, como coeficientes <strong>de</strong>ssa potência (chamado produto <strong>de</strong> Cauchy das<br />

séries, que funciona se as séries convergem absolutamente).<br />

Esta última expressão para P(x) · y ′ (x) ainda po<strong>de</strong> ser escrita para uso futuro<br />

como:<br />

P(x)·y ′ (x) = x r−2 ·<br />

Do mesmo modo se obtém<br />

+∞<br />

n−1<br />

n=0<br />

Q(x)·y =<br />

= x r−2 ·<br />

<br />

[ pn−k ·(r +k)·ck +p0 ·(r +n)·cn]·x n .<br />

k=0<br />

+∞ n<br />

n=0qnx x2 ·x r · <br />

cnx<br />

n=0+∞<br />

n =<br />

+∞<br />

n−1<br />

n=0<br />

<br />

[ qn−k ·ck +q0 ·cn]·x n .<br />

k=0<br />

De y ′ = +∞<br />

n=0 (r+n)·cn·x r+n−1 se obtém <strong>de</strong>rivando termo a termo, para x > 0:<br />

y ′′ (x) =<br />

+∞<br />

n=0<br />

= x r−2 ·<br />

(r +n)·(r +n−1)·cn ·x r+n−2 =<br />

+∞<br />

n=0<br />

(r +n)·(r +n−1)·cn ·x n .<br />

Colocando esses ingredientes todos juntos na equação:<br />

e fatorando x r−2 obtemos:<br />

+∞<br />

n=0<br />

=<br />

y ′′ (x)+P(x)·y ′ (x)+Q(x)·y(x) = 0<br />

n−1<br />

n−1<br />

{(r+n)(r+n−1)cn+[ pn−k(r+k)ck+p0(r+n)cn]+[ qn−kck+q0cn]}·x n =<br />

+∞<br />

n=0<br />

k=0<br />

n−1<br />

{cn·[(r+n)(r+n−1)+p0(r+n)+q0]+ ck·[pn−k(r+k)+qn−k]}·x n = 0.<br />

Isso significa o anulamento <strong>de</strong> todos os coeficientes <strong>de</strong>ssa série <strong>de</strong> potências, cujos três<br />

primeiros coeficientes são:<br />

k=0<br />

c0 ·[r ·(r −1)+p0 ·r +q0] = 0<br />

k=0<br />

c1 ·[(r +1)·r +p0 ·(r +1)+q0]+c0 ·[p1 ·r +q1] = 0,<br />

c2 ·[(r+2)(r +1)+p0 ·(r +2)+q0]+c1 ·[p1(r+1)+q1]+c0 ·[p2r +q2] = 0<br />

e assim por diante.


5. SOLUÇÕES EXPLÍCITAS DE ALGUMAS EQUAÇÕES BESSEL 676<br />

Como c0 = 0, o que concluimos é que se y = x r · <br />

n=0+∞ cnx n é uma solução<br />

então r é uma raíz da equação indicial:<br />

r·(r −1)+p0 ·r +q0 = 0.<br />

Escolhida umaraízr1 ∈ Rdaequaçãoindicialedadoc0 vai-seobtendoporrecorrência<br />

os coeficientes cn, ∀n ≥ 1:<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

c1 =<br />

−c0 ·[p1 ·r1 +q1]<br />

[(r1 +1)·r1 +p0 ·(r1 +1)+q0] ,<br />

(r1 +1)·r1 +p0 ·(r1 +1)+q0 = 0,<br />

ou seja , <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que r1+1 não seja raíz d aequação indicial. E também, quando já for<br />

conhecido c1, teremos<br />

c2 = −c1 ·[p1(r+1)+q1]−c0 ·[p2r+q2]<br />

,<br />

[(r +2)(r+1)+p0 ·(r +2)+q0]<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

(r+2)(r +1)+p0 ·(r +2)+q0 = 0,<br />

ou seja, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> r1 +2 não seja raíz da equação indicial.<br />

E assim por diante.<br />

Por isso as hipóteses <strong>de</strong> que há duas raízes distintas r1,r2 da equação indicial e<br />

<strong>de</strong> que<br />

r1 −r2 ∈ Z<br />

são suficientes para se obter duas soluções (in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes) da equação da forma:<br />

y = x r1<br />

<br />

· anx n<br />

e y = x r2<br />

<br />

· bnx n .<br />

n=0+∞<br />

n=0+∞<br />

No caso da raíz dupla só se obtém uma solução <strong>de</strong>sse tipo.<br />

5. Soluções explícitas <strong>de</strong> algumas equações Bessel<br />

Vamos usar a Afirmação 4.1 para <strong>de</strong>screver soluções <strong>de</strong> equações <strong>de</strong> Bessel. Em<br />

geral não serão todas as soluções, pois se vê que a Afirmação 4.1 não abrange todas<br />

as possibilida<strong>de</strong>s para as raízes da equação indicial.<br />

Os valores <strong>de</strong> ν na Equação <strong>de</strong> Bessel<br />

y ′′ (x)+ 1<br />

x y′ (x)+ (x2 −ν 2 )<br />

x2 ·y(x) = 0<br />

que mais nos interessam no momento são:<br />

ν = 0, ν = 1, ν = 1<br />

e ν =<br />

3<br />

1<br />

4 .<br />

Osdoisprimeiros sãoimportantes emaplicações à Física enquanto que osdois últimos<br />

serão usados para solucionar a equação <strong>de</strong> Airy e uma equação <strong>de</strong> Riccati no Capítulo<br />

45.


CAPÍTULO 44. EQUAÇÕES COM PONTOS SINGULARES DO TIPO<br />

REGULAR 677<br />

Como nessa equação:<br />

x·P(x) = x· 1<br />

x = 1 = p0 e x 2 ·Q(x) = −ν 2 +x 2 = q0 +q2 ·x 2 .<br />

o ponto x = 0 é ponto singular regular e a equação indicial é:<br />

ou seja, r 2 = ν 2 e as soluções são:<br />

Nos casos ν = 1<br />

3<br />

1 ou ν = , temos: 4<br />

r(r −1)+r −ν 2 = 0,<br />

r1 = ν e r2 = −ν.<br />

r1 −r2 = 2<br />

ou r1 −r2 =<br />

3<br />

1<br />

2<br />

e portanto se aplica o segundo item da Afirmação 4.1, criando pares <strong>de</strong> séries <strong>de</strong><br />

Frobenius.<br />

Por exemplo, para ν = 1<br />

3 , tomo a raíz r1 = 1 e as primeiras recorrências dadas na<br />

3<br />

Afirmação 4.1 viram:<br />

c1 ·[ 2<br />

3 +1]+c0 ·[0] = 0,<br />

c2 ·[4·( 1<br />

3 +1)]+c1 ·[0]+c0 ·[1] = 0<br />

e assim por diante. Dado c0 = 0 obtemos:<br />

c0<br />

c1 = 0 e c2 = −<br />

4·( 1<br />

3 +1)<br />

e com mais <strong>de</strong>talhe se po<strong>de</strong> comprovar que os coeficientes <strong>de</strong> índice ímpar se anulam:<br />

c1 = c3 = c5 = c2n−1 = 0, ∀n ∈ N,<br />

enquanto que os <strong>de</strong> índices pares são dados por<br />

c2n = (−1) n ·<br />

c0<br />

22n ·n!·( 1<br />

3 +1)·...·(1<br />

∀n ∈ N.<br />

+n), 3<br />

A função <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> índice ν = 1<br />

3<br />

y = x 1<br />

+∞<br />

3 ·<br />

n=0<br />

(−1) n ·<br />

c0<br />

22n ·n!·( 1<br />

3 +1)·...·(1<br />

·x2n<br />

+n) 3<br />

é a série <strong>de</strong> Frobenius:<br />

para a qual se escolhe um valor específico para c0.<br />

E a função <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m e <strong>de</strong> índice ν = 1<br />

é aquela associada à<br />

3<br />

raíz r2 = −1, obtida analogamente via as recorrências.<br />

3<br />

se generaliza, e sempre<br />

Em seguida se vê que isso que fizemos para ν = 1<br />

3<br />

c1 = c3 = c5 = c2n−1 = 0, ∀n ∈ N,<br />

enquanto que os <strong>de</strong> índices pares são dados por<br />

c2n = (−1) n ·<br />

c0<br />

22n , ∀n ∈ N.<br />

·n!·(ν +1)·...·(ν +n)


5. SOLUÇÕES EXPLÍCITAS DE ALGUMAS EQUAÇÕES BESSEL 678<br />

A função <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m e <strong>de</strong> índice ν é a série <strong>de</strong> Frobenius:<br />

y = x ν ·<br />

+∞<br />

n=0<br />

(−1) n ·<br />

para a qual se escolhe um valor específico para c0.<br />

A escolha padrão é:<br />

c0 := 1<br />

2 ν ·ν! ,<br />

on<strong>de</strong>, no caso <strong>de</strong> ν ∈ N, se <strong>de</strong>ve enten<strong>de</strong>r como:<br />

c0<br />

2 2n ·n!·(ν +1)·...·(ν +n) ·x2n<br />

ν! := Γ(ν +1)<br />

usando a função Gama da Seção 2 do Capítulo 27.<br />

Com essa escolha <strong>de</strong> c0 a notação para as Bessel <strong>de</strong> primeira e segunda or<strong>de</strong>m,<br />

quando r1 −r2 = 2·ν ∈ Z, é:<br />

Jν(x) e J−ν(x).<br />

No caso ν = 0 a Afirmação 4.1 não produz um par in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> soluções, mas<br />

= 1) uma série <strong>de</strong> potências:<br />

produz pelo menos (com c0 = 1<br />

20 ·0!<br />

+∞<br />

y = x 0 ·<br />

=<br />

n=0<br />

+∞<br />

n=0<br />

(−1) n ·<br />

(−1) n ·<br />

1<br />

2 2n ·n!·1·...·n ·x2n =<br />

1<br />

·(x<br />

(n!) 2 2 )2n =: J0(x)<br />

Esta é a função <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m e índice ν = 0, <strong>de</strong>notada por J0(x).<br />

A mesma situação quando ν = 1, on<strong>de</strong> a Afirmação 4.1 dá pelo menos uma série<br />

) :<br />

<strong>de</strong> potências (com c0 = 1<br />

2 1 ·1!<br />

y = x 1 ·<br />

+∞<br />

n=0<br />

=<br />

= 1<br />

2<br />

(−1) n · 1<br />

2 ·<br />

1<br />

22n ·n!·(1+1)·...·(1+n) ·x2n =<br />

+∞<br />

n=0<br />

(−1) n ·<br />

1<br />

n!·(1+n)! ·(x<br />

2 )2n+1 =: J1(x)<br />

Esta é a função <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m e índice ν = 1, <strong>de</strong>notada por J1(x).<br />

A Afirmação a seguir é apenas o começo <strong>de</strong> uma lista <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s notáveis<br />

das funções <strong>de</strong> Bessel (que iremos aumentando à medida que for preciso).<br />

Mas já faz ressaltar a analogia entre o par J0(x),J1(x) e o par cos(x),sin(x).<br />

Afirmação 5.1.<br />

dJ0(x)<br />

dx<br />

= −J1(x).


CAPÍTULO 44. EQUAÇÕES COM PONTOS SINGULARES DO TIPO<br />

REGULAR 679<br />

Demonstração.<br />

Aplicando o Teste da Razão se vê em seguida que ambas séries convergem em<br />

módulo ∀x ∈ R.<br />

Daí po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>rivar termo a termo:<br />

= −<br />

dJ0(x)<br />

dx =<br />

+∞<br />

n=0<br />

=<br />

=<br />

+∞<br />

n=0<br />

+∞<br />

n=1<br />

+∞<br />

n=1<br />

(−1) n ·<br />

(−1) n ·<br />

(−1) n ·<br />

d((−1) n 1 · (n!) 2 ·( x<br />

2 )2n )<br />

=<br />

dx<br />

1<br />

·2n·(x<br />

(n!) 2 2 )2n−1 · 1<br />

2 =<br />

1<br />

(n−1)!·n! ·(x<br />

2 )2n−1 =<br />

1<br />

(n)!·(n+1)! ·(x<br />

2 )2n+1 =: −J1(x),<br />

on<strong>de</strong> na última linha apenas mu<strong>de</strong>i o índice que uso no somatório.<br />

6. A Equação <strong>de</strong> Bessel com ν = 1<br />

3<br />

e a solução da equação <strong>de</strong> Airy<br />

Apliquemos a Afirmação 1.2 do Capítulo 43 ao caso em que queremos transformar<br />

a Equação <strong>de</strong> Bessel na equação:<br />

u 2d2 v<br />

du 2 +u3 ·v(u) = 0.<br />

Note que esta equação redunda na equação <strong>de</strong> Airy:<br />

Ou seja, queremos que a,b,c verifiquem:<br />

que dão (se tomamos a > 0:<br />

d2v +u·v(u) = 0.<br />

du2 2c+1 = 0, 2b = 3, a 2 ·b 2 = 1 e c 2 −ν 2 ·b 2 = 0,<br />

c = − 1 3 2<br />

, b = , a =<br />

2 2 3<br />

e ν = 1<br />

3 .<br />

Então concluimos que a solução da equação <strong>de</strong> Airy se expressa como combinação <strong>de</strong><br />

funções <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> índice ν = 1<br />

3 :<br />

v(u) = u −c ·y(a·u b ) = u 1<br />

2 ·[c1 ·J1 (<br />

3<br />

2<br />

3 u3 2)+c2 ·J 1<br />

− (<br />

3<br />

2<br />

3 u3 2)].


7. EQUAÇÃO HIPERGEOMÉTRICA COM C ∈ Z 680<br />

7. Equação hipergeométrica com c ∈ Z<br />

Retomemos o que vimos na Afirmação 0.2 do Capítulo 42, do ponto <strong>de</strong> vista da<br />

teoria das singularida<strong>de</strong>s regularees.<br />

A equação hipergeométrica <strong>de</strong> Gauss com parâmetros a,b,c é:<br />

Ea,b,c : x·(1−x)·y ′′ +[c−(a+b+1)·x]·y ′ −a·b·y = 0.<br />

Vejamos que x = 0 é ponto singular regular e vejamos sua equação indicial (fica como<br />

Exercício verificar que x = 1 também é).<br />

Ora, como:<br />

basta ver que:<br />

P(x) = c−(a+b+1)·x<br />

x·(1−x)<br />

e Q(x) = −a·b<br />

x·(1−x) ,<br />

x·P(x) = c−(a+b+1)·x<br />

e x<br />

1−x<br />

2 ·Q(x) = −a·b·x<br />

1−x<br />

po<strong>de</strong>m ser dados por séries convergentes em torno <strong>de</strong> x = 0. E isso vem do fato que:<br />

Como<br />

1<br />

1−x =<br />

+∞<br />

n=0<br />

x n , se −1 < x < 1.<br />

x·P(x) = c+(c−a−b−1)·x+... e x 2 ·Q(x) = −ab·x−−ab·x 2 +...<br />

a equação indicial é:<br />

cujas raízes são:<br />

r·(r −1)+c·r +0 = 0,<br />

r1 = 0 e r2 = 1−c.<br />

se temos por hipótese que:<br />

c ∈ Z<br />

então 0 = 1 − c e a<strong>de</strong>mais 1 − c ∈ Z. O Segundo item da Afirmação 4.1 nos dá<br />

então duas séries in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes como solução, uma <strong>de</strong>las uma série <strong>de</strong> potências<br />

correspon<strong>de</strong>ndo à raíz r1 = 0 e a outra uma série <strong>de</strong> Frobenius correspon<strong>de</strong>ndo à raíz<br />

r2 = 1−c.<br />

As recorrências dadas na Afirmação 4.1 farão reaparecer os coeficientes das séries<br />

que <strong>de</strong>mos por <strong>de</strong>finição no Capítulo 42.


CAPíTULO 45<br />

Equações <strong>de</strong> Riccati<br />

As equações diferenciais não-lineares são um universo.<br />

Raramente se <strong>de</strong>ixam tratar por métodos advindos do estudo das equações diferenciais<br />

lineares. Uma exceção foram as equações <strong>de</strong> Bernoulli (Seção 13 do Capítulo<br />

38).<br />

As Equações <strong>de</strong> Riccati são equações não-lineares <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m do tipo:<br />

f ′ (x) = a0(x)+a1(x)·f(x)+a2(x)·f 2 (x),<br />

on<strong>de</strong> se supõe que a2(x) ≡ 0 e que a0(x) ≡ 0 para não recairmos em equações lineares<br />

ou em equações <strong>de</strong> Bernoulli, já tratadas.<br />

Po<strong>de</strong> parecer que seja uma classe pequena <strong>de</strong> equações mas <strong>de</strong> fato são muitas. As<br />

soluções <strong>de</strong>ssas equações abrangem várias das funções que já vimos no livro e muitas<br />

outras.<br />

Exemplos <strong>de</strong>ssas equações e <strong>de</strong> suas diferentes soluções:<br />

• Vimos na Primeira Parte do Curso que y = tan(x) satisfaz uma Equação <strong>de</strong><br />

Riccati:<br />

tan ′ (x) = sec 2 (x) = 1+tan 2 (x).<br />

• vimos na Seção 13 que a singela equação <strong>de</strong> Riccati:<br />

através da mudança:<br />

produz<br />

e portanto<br />

o que dá:<br />

f ′ (x) = x+f(x) 2 ,<br />

f(x) = −g′ (x)<br />

g(x)<br />

f ′ (x) = −g′′ (x)<br />

g(x) +(g′ (x)<br />

g(x) )2<br />

− g′′ (x)<br />

g(x) +(g′ (x)<br />

g(x) )2 = x+( −g′ (x)<br />

g(x) )2<br />

g ′′ (x)+x·g(x) = 0<br />

que é a equação <strong>de</strong> Airy.<br />

Na Seção 6 do Capítulo 44 expressamos a solução da Equação <strong>de</strong> Airy<br />

em termos <strong>de</strong> funções <strong>de</strong> Bessel.<br />

• f ′ (x) = 1<br />

x(1−x2 f(x)2<br />

f(x)− tem uma solução que é a função racional f(x) =<br />

) 2<br />

2x<br />

x2 , como se verifica diretamente.<br />

−1<br />

681


1. SOLUÇÕES DE RICCATI SEGUNDO DANIEL BERNOULLI 682<br />

• f ′ (x) = 1<br />

4x 2 +y 2 se trasforma, com a mudança <strong>de</strong> variável<br />

y = z<br />

x ,<br />

na equação separável:<br />

que se integra facilmente:<br />

<br />

=<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

e<br />

− 1<br />

z + 1<br />

2<br />

z ′<br />

z 2 +z + 1<br />

4<br />

z ′<br />

(z + 1 =<br />

)2<br />

2<br />

= 1<br />

x<br />

1<br />

x<br />

1<br />

y ·x = z = −<br />

ln(x)+C<br />

1<br />

y = −<br />

x·(ln(x)+C)<br />

= ln(x)+C,<br />

− 1<br />

2<br />

− 1<br />

2x .<br />

• A primeira equação <strong>de</strong> Riccati na literatura 1 foi<br />

Com a mudança:<br />

vira:<br />

f ′ (x) = x 2 +f(x) 2 .<br />

y(x) = − g′ (x)<br />

g(x)<br />

g ′′ (x)+x 2 ·g(x) = 0.<br />

As soluções <strong>de</strong>ssa equação <strong>de</strong> Riccati são combinações <strong>de</strong> funções <strong>de</strong><br />

Bessel, como veremos na Seção 4 do Capítulo 43.<br />

1. Soluções <strong>de</strong> Riccati segundo Daniel Bernoulli<br />

Afirmação 1.1. (Daniel Bernoulli)<br />

Qualquer equação do tipo:<br />

tem solução Liouvilliana.<br />

Se<br />

n = −2, n = − 4·m<br />

2m+1<br />

então equação <strong>de</strong> Riccati:<br />

tem solução Liouvilliana.<br />

f ′ (x) = a+b·f(x) 2 , a,b ∈ R, e a·b ≥ 0<br />

ou n = − 4·m<br />

, para m ∈ N,<br />

2m−1<br />

f ′ (x) = x n +f(x) 2<br />

1 estudada por Johan Bernoulli, em 1694, <strong>de</strong> acordo com G. N. Watson A treatise on the theory<br />

of Bessel functions , Cambrige, 1958. Aprendi a Afirmação 1.1 neste Tratado.


CAPÍTULO 45. EQUAÇÕES DE RICCATI 683<br />

Bem mais difícil <strong>de</strong> justificar é o teorema <strong>de</strong> J. Liouville que diz que somente para<br />

esses valores <strong>de</strong> n há soluções Liouvillianas.<br />

Vamos precisar <strong>de</strong> uma observação:<br />

Afirmação 1.2. Suponha n = 1:<br />

I) A mudança <strong>de</strong> variáveis:<br />

leva<br />

em<br />

on<strong>de</strong><br />

leva<br />

em<br />

on<strong>de</strong><br />

II) A mudança <strong>de</strong> variáveis:<br />

u := xn+1<br />

n+1<br />

Demonstração. (da Afirmação 1.2)<br />

e v := − 1<br />

y<br />

y ′ = a·x n +b·y 2<br />

v ′ = b·(n+1) −n<br />

n+1 ·u −n<br />

n+1 +a·v 2 ,<br />

v ′ = dv<br />

du .<br />

U := 1<br />

x e V := −x2 ·y − x<br />

b<br />

y ′ = a·x n +b·y 2<br />

V ′ = a·U −n−4 +b·V 2 ,<br />

V ′ = dV<br />

dU .<br />

De I):<br />

Basta aplicar a regra da <strong>de</strong>rivada da composta:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> obtenho:<br />

De II):<br />

1 dv<br />

·<br />

v2 du = y2 ·( dv dy<br />

·<br />

dy dx<br />

dx<br />

· ) =<br />

du<br />

= y 2 · 1<br />

y 2 ·(a·xn +b·y 2 )·((n+1)·u) −n<br />

n+1 =<br />

= (a·x n +b·y 2 )·x −n = a+b· 1<br />

−n<br />

·((n+1)·u) n+1<br />

v2 dv<br />

−n<br />

= b·(n+1) n+1 ·u<br />

du −n<br />

n+1 +a·v 2 .


1. SOLUÇÕES DE RICCATI SEGUNDO DANIEL BERNOULLI 684<br />

Agora não esqueço que, como y = y(x) e x = x(U) então<br />

Portanto a regra da composta agora dá:<br />

dV<br />

dU<br />

V = V(x(U),y(x(U)).<br />

= ∂V<br />

∂x<br />

· dx<br />

dU<br />

+ ∂V<br />

∂y<br />

dy dx<br />

· ·<br />

dx dU =<br />

= (−2xy − 1<br />

b )·(−x2 )+(−x 2 )·(a·x n +b·y 2 )·(−x 2 )<br />

e agora é imediato que<br />

dV<br />

dU = a·xn+4 +b·(x 2 ·y + x<br />

b )2 =<br />

= a·U −n−4 +b·V 2 .<br />

Demonstração. (da Afirmação 1.1)<br />

Começo provando a primeira afirmação, que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada o caso em que<br />

o expoente <strong>de</strong> x é n0 = 0. Temos<br />

Se a = 0 e b = 0 então f(x) ≡ C.<br />

Se a = 0 mas b = 0 e f(x) ≡ 0 2 faço<br />

e portanto<br />

ou seja,<br />

f ′ (x) = a+b·f(x) 2 .<br />

− 1<br />

f(x)<br />

f ′ (x)<br />

= b<br />

f(x) 2<br />

= b·x+C<br />

f(x) = − 1<br />

bx+C .<br />

Se a = 0 e b = 0 então f(x) = a·x+C.<br />

tomar<br />

como:<br />

Se a = 0 e b = 0 então a condição a·b > 0 diz que têm o mesmo sinal. Logo posso<br />

b<br />

a<br />

∈ R. Então posso escrever a equação<br />

ou ainda: b<br />

a ·<br />

1+(<br />

f ′ (x) = a+b·f(x) 2<br />

1+(<br />

f ′ (x)<br />

b<br />

f ′ (x)<br />

b<br />

a f(x))2<br />

2 Usando o teorema <strong>de</strong> existência e unicida<strong>de</strong><br />

a f(x))2<br />

= a·<br />

= a<br />

b<br />

a = √ ab.


CAPÍTULO 45. EQUAÇÕES DE RICCATI 685<br />

Portanto<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

<br />

b<br />

arctan(<br />

a f(x)) = √ ab·x+C,<br />

f(x) =<br />

Uso no que segue a notação<br />

a<br />

b ·tan(√ ab·x+C)<br />

y = f(x).<br />

Agora o item II) da Afirmação 1.2 diz que, a partir do caso n0 = 0<br />

passo para o caso:<br />

y ′ = a+b·y 2 ,<br />

V ′ = a·U −4 +b·V 2 ,<br />

ou seja, on<strong>de</strong><br />

4<br />

n1 = −4 = −<br />

2·1−1 .<br />

Tomando a = b = 1 isso significa que<br />

V ′ = U −4 +V 2<br />

tem solução Liouvilliana, já que y ′ = 1+y 2 tem solução Liouvilliana y = y(x) e<br />

V = V(U) = −U −2 ·y(U −1 )−U −1<br />

é composição/produto/soma <strong>de</strong> Liouvillianas, logo V = V(U) é Liouvilliana, como<br />

queríamos provar.<br />

Se tívesemos tomado a = 1 e b = (−3) 4<br />

3 > 0 então usando o item II) da Afirmação<br />

1.2 teríamos chegado no caso:<br />

com solução Liouvilliana:<br />

V ′ = U −4 +(−3) 4<br />

3 ·V 2<br />

V = V(U) = −U −2 ·y(U −1 )−(U ·(−3) 4<br />

3) −1 .<br />

E o item I) da Afirmação 1.2 diz que, recomeçando neste caso n1 = −4:<br />

chego em:<br />

ou seja, on<strong>de</strong> agora<br />

V ′ = U −4 +(−3) 4<br />

3 ·V 2<br />

y ′ = (−3) 4<br />

3 ·(−3) −4<br />

3 ·x −4<br />

3 +y 2 =<br />

= x −4<br />

3 +y 2 .<br />

n2 = − 4<br />

2·1+1 .<br />

A solução Liouvilliana V = V(U) <strong>de</strong> V ′ = U−4 + (−3) 4<br />

3 · V 2 produz, usando I), a<br />

solução Liouvilliana:<br />

1<br />

y(x) = − = −<br />

V(U(x))<br />

1<br />

V((−3·x) −1<br />

3 ) .


1. SOLUÇÕES DE RICCATI SEGUNDO DANIEL BERNOULLI 686<br />

Recomeçando neste caso, o item II) da Afirmação 1.2 diz que obtenho em uma<br />

solução Liouvilliana <strong>de</strong> (a notação mantém as mesmas variáveis x,y):<br />

ou seja, chegamos no caso<br />

y ′ = x −(−4<br />

3 )−4 +y 2 = x −8<br />

3 +y 2<br />

n3 = − 8<br />

3<br />

= − 4·2<br />

2·2−1 .<br />

Recomeçando neste caso, y ′ = x −8<br />

3 + y 2 , o item I) da Afirmação 1.2 conduz ao<br />

caso em que:<br />

n4 =<br />

8<br />

3<br />

−8 3<br />

= −8<br />

+1 5<br />

= − 4·2<br />

2·2+1 ,<br />

a equação obtida é (a notação mantém as mesmas variáveis x,y):<br />

y ′ = ( −5<br />

3 )−8<br />

5 ·x −8 5 +y 2 .<br />

Isso ainda não é o que queremos, pois queremos soluções Liouvillianas <strong>de</strong>:<br />

y ′ = x −8 5 +y 2 .<br />

Como sabemos como mudam os coeficientes das equações em cada modificação <strong>de</strong><br />

tipo I ou II, se vê em seguida que partindo da equação:<br />

aí chegaríamos em<br />

y ′ = ( −5<br />

3 )8 5 +(−3) 4<br />

3 ·y 2<br />

y ′ = x −8 5 +y 2 .<br />

Fica claro o formato dos números n = − 4<br />

2·m±1 .<br />

Já o caso n = −2:<br />

f ′ (x) = x −2 +f(x) 2<br />

tem que ser tratado separadamente, pois<br />

− 4·m<br />

= −2, ∀m ∈ N.<br />

2m±1<br />

Após a mudança<br />

y = z<br />

x ,<br />

f ′ (x) = x −2 +f(x) 2 vira uma equação separável:<br />

Para resolvê-la faço u := z + 1<br />

2<br />

2<br />

3<br />

4<br />

e daí:<br />

z ′<br />

√ ·arctan(<br />

3 u √<br />

3<br />

2<br />

=<br />

x .<br />

1<br />

1 =<br />

+(z + )2<br />

2<br />

1<br />

x<br />

<br />

) =<br />

u ′<br />

= ln(x)+C<br />

3 =<br />

+u2 4


CAPÍTULO 45. EQUAÇÕES DE RICCATI 687<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se obtém:<br />

y = −1<br />

2x +<br />

√<br />

3<br />

2 · tan(√ 3<br />

2 ·(ln(x)+C))<br />

.<br />

x<br />

2. Assíntotas verticais <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> equações <strong>de</strong> Riccati<br />

Apesar <strong>de</strong> que as equações<br />

y ′ (x) = x n +y(x) 2 , ∀n ∈ N<br />

não sejam tratáveis pela Afirmação 1.1, po<strong>de</strong>mos contudo fazer uma afirmação qualitativa<br />

geral:<br />

Afirmação 2.1. Cada solução y(x) <strong>de</strong> equações <strong>de</strong> Riccati:<br />

y ′ (x) = x n +y(x) 2 , ∀n ∈ N<br />

tem uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assíntotas verticais .<br />

Demonstração.<br />

Consi<strong>de</strong>re a mudança <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas:<br />

ou seja,<br />

Então<br />

Ou seja,<br />

e portanto 3 :<br />

g(x) := e − ydx ,<br />

y(x) = − g′ (x)<br />

g(x) .<br />

y ′ (x) = −g′′ (x)·g(x)+g ′ (x)·g ′ (x)<br />

g 2 (x)<br />

= − g′′ (x)<br />

g(x) +y(x)2 .<br />

− g′′ (x)<br />

g(x)<br />

= xn<br />

= − g′′ (x)<br />

g(x) +(g′ (x)<br />

g(x) )2 =<br />

g ′′ (x)+x n ·g(x) = 0.<br />

A Afirmação 13.2 do Capítulo 40 diz que g(x) tem uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zeros (se n<br />

é impar diz até que estão em (0,+∞)).<br />

E nesses pontos on<strong>de</strong> g(x) = 0 não po<strong>de</strong> acontecer que também g ′ (x) = 0 (se não<br />

g é i<strong>de</strong>nticamente nula, pelo Teorema <strong>de</strong> Existência e Unicida<strong>de</strong>).<br />

Logo y(x) = − g′ (x)<br />

tem nesses pontos assíntotas verticais..<br />

g(x)<br />

3 Essa observação <strong>de</strong> como passar <strong>de</strong> Riccati para linear <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m será generalizada no<br />

Exercício 5.1


3. SOLUÇÕES DAS RICCATI SEGUNDO EULER 688<br />

3. Soluções das Riccati segundo Euler<br />

Se apren<strong>de</strong> a Afirmação a seguir no tratado <strong>de</strong> G. N. Watson, A treatise on the<br />

theory of Bessel functions:<br />

Afirmação 3.1. (Euler)<br />

i) Suponha conhecida uma solução y1(x) da equação <strong>de</strong> Riccati<br />

on<strong>de</strong><br />

Então outra solução é dada por:<br />

y ′ (x) = a0(x)+a1(x)·y +a2 ·y 2 .<br />

y2 = y1(x)+ 1<br />

v<br />

v(x) = e <br />

a1(t)+2a2(t)y1(t)dt<br />

·[ e − a1(t)+2a2(t)y1(t)dt<br />

·a2(x)dx+C].<br />

ii) Se y1(x) e y2(x) são soluções conhecidas da equação<br />

então uma terceira solução y3 é dada por:<br />

on<strong>de</strong><br />

então<br />

y ′ (x) = a0(x)+a1(x)·y +a2 ·y 2<br />

y3 = y2(x)·w(x)−y1(x)<br />

w(x)−1<br />

w(x) = C ·e a2(x)·(y1(x)−y2(x))dx , C = 0.<br />

iii): Se y1,y2,y3 são três soluções conhecidas <strong>de</strong><br />

y ′ (x) = a0(x)+a1(x)·y +a2 ·y 2<br />

y4 := y1 ·(y3 −y2)−C ·y2 ·(y3 −y1)<br />

, on<strong>de</strong> C = 1<br />

y3 −y2 −C ·(y3 −y1)<br />

é uma quarta solução.<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

A equação diferencial está nas hipóteses do Teorema <strong>de</strong> existência e unicida<strong>de</strong>,<br />

pois<br />

F(x,y) = a0(x)+a1(x)·y +a2 ·y 2<br />

é contínua nas duas variáveis e<br />

∂F(x,y)<br />

= a1(x)+2·a2(x)·y<br />

∂y<br />

também é contínua.<br />

Portanto quaisquer duas soluções nunca se intersectam. Por isso se y1(x) é conhecida<br />

e y2(x) é ainda <strong>de</strong>sconhecida, posso <strong>de</strong>finir:<br />

1<br />

v(x) :=<br />

y2 −y1(x)


CAPÍTULO 45. EQUAÇÕES DE RICCATI 689<br />

Ou seja, y2(x) = y1(x)+ 1<br />

v(x) .<br />

Agora:<br />

e portanto<br />

e portanto<br />

ou seja:<br />

y ′ 2 (x) = y′ 1 (x)− v′ (x)<br />

v 2 (x)<br />

y ′ 1 (x)− v′ (x)<br />

v 2 = y′ 2 (x) = a0(x)+a1(x)·y2 +a2(x)·y 2 2 =<br />

= a0(x)+a1(x)·(y1(x)+ 1 1<br />

)+a2(x)·(y1(x)+<br />

v(x) v(x) )2 =<br />

= a0(x)+a1(x)·y1(x)+ a1<br />

v(x) +a2(x)·y 2 1<br />

(x)+2· a2(x)·y1<br />

v<br />

v ′ (x) a1 a2(x)·y1<br />

= +2· +a2 ·<br />

v2 v(x) v<br />

1<br />

v2 +a2 · 1<br />

v 2<br />

v ′ (x) = (a1(x)+2·a2(x)·y1)·v(x)+a2(x).<br />

Essa equação diferencial em v é linear, logo o item ii) Afirmação 11.1 do Capítulo 35<br />

dá que:<br />

v(x) = e <br />

a1(t)+2a2(t)y1(t)dt<br />

·[<br />

e − a1(t)+2a2(t)y1(t)dt ·a2(x)dx+C].<br />

De ii):<br />

Suponha y1, y2 soluções conhecidas e y3 ainda <strong>de</strong>sconhecida. Pelo teorema <strong>de</strong><br />

existência e unicida<strong>de</strong> a função<br />

w(x) := y3(x)−y1(x)<br />

y3(x)−y2(x)<br />

está bem <strong>de</strong>finida (pois y3 = y2), nunca se anula (pois y3 = y1) e nunca vale 1 (pois<br />

y1 = y2).<br />

Então<br />

y ′ 3 (x) = (y2(x)·w(x)−y1(x)<br />

)<br />

w(x)−1<br />

′ (x) =<br />

= a0(x)+a1(x)·( y2(x)·w(x)−y1(x)<br />

)+a2 ·(<br />

w(x)−1<br />

y2(x)·w(x)−y1(x)<br />

)<br />

w(x)−1<br />

2 .<br />

Usando que y1(x) e y2(x) são soluções aparecem simplificações que dão finalmente:<br />

w ′ (x)<br />

= a2(x)·(y1(x)−y2(x))<br />

w(x)<br />

ou seja<br />

w(x) = C ·e a2(x)·(y1(x)−y2(x))dx<br />

, C = 0.<br />

De iii):<br />

Usando o que apren<strong>de</strong>mos na prova do item ii) já sabemos que:<br />

y3(x)−y1(x)<br />

y3(x)−y2(x) = C1 ·e a2(x)·(y1(x)−y2(x))dx , C1 = 0


3. SOLUÇÕES DAS RICCATI SEGUNDO EULER 690<br />

e, pelo mesmo motivo, que uma quarta solução teria que ser:<br />

Portanto:<br />

y4(x)−y1(x)<br />

y4(x)−y2(x) = C2 ·e a2(x)·(y1(x)−y2(x))dx , C2 = 0, C2 = C1.<br />

( y4(x)−y1(x)<br />

y4(x)−y2(x) )<br />

( y3(x)−y1(x)<br />

C2<br />

=<br />

) C1<br />

y3(x)−y2(x)<br />

=: C = 1.<br />

Isolando y4 = y4(C,y1,y2,y3) nessa expressão se chega ao resultado. <br />

Um Exemplo:<br />

Consi<strong>de</strong>re a equação <strong>de</strong> Riccati<br />

Ela tem duas soluções constantes:<br />

Definindo v := 1<br />

y2−y1<br />

y ′ (x) = 1−y(x) 2 .<br />

y1(x) ≡ −1 e y2(x) ≡ 1.<br />

1 ≡ como na prova do item ii) da Afirmação 3.1, vemos que<br />

2<br />

coerentemente com aquele item:<br />

y2 = 1 = −1+ 1<br />

v<br />

= −1+2.<br />

Já o item iii) da Afirmação 3.1 nos diz que, <strong>de</strong>finindo<br />

teremos uma terceira solução:<br />

w(x) := C ·e 2dt = C ·e 2x+B<br />

y3(x) = w(x)+1<br />

w(x)−1 = C ·e2x+B +1<br />

C ·e 2x+B −1 .<br />

E o item iv) da Afirmação 3.1 nos diz que uma quarta solução é:<br />

y4(x) = 1−y3 −D ·(y3 +1)<br />

, se D = 1,D = 0.<br />

y3 −1−D ·(y3 +1)<br />

Por exemplo, se tomo C = 1,B = 1,D = 2:<br />

y3(x) = e2x+1 +1<br />

e 2x+1 −1<br />

e y4(x) = 3·y3(x)+1<br />

y3(x)+3 .


CAPÍTULO 45. EQUAÇÕES DE RICCATI 691<br />

4. A Equação <strong>de</strong> Bessel com ν = 1<br />

4 e a solução da Riccati y′ = x 2 +y 2<br />

Sabemos resolver a Equação <strong>de</strong> Bessel com ν = 1 e que duas soluções in<strong>de</strong>pen-<br />

4<br />

(x), as chamadas funções <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> primeira<br />

<strong>de</strong>ntes são <strong>de</strong>notadas por J1<br />

4<br />

(x) e J − 1<br />

4<br />

e segunda or<strong>de</strong>m.<br />

Com isso estaremos em condição <strong>de</strong> dizer explicitamente o que são as soluções da<br />

equação <strong>de</strong> Riccati:<br />

y ′ = x 2 +y 2 .<br />

Como já vimos (na prova da Afirmação 2.1) a mudança<br />

leva a equação em<br />

y(x) = − g′ (x)<br />

g(x)<br />

g ′′ (x)+x 2 ·g(x) = 0.<br />

Se usamos a Afirmação 1.2, vemos que esta equação, ou equivalentemente:<br />

x 2 g ′′ (x)+x 4 ·g(x) = 0<br />

provém <strong>de</strong> uma equação <strong>de</strong> Bessel com ν = 1,<br />

pois se comparamos os expoentes e<br />

4<br />

índices vemos que:<br />

ou seja, c = − 1<br />

2<br />

2c+1 = 0, 2b = 4, a 2 ·b 2 = 1 e c 2 −ν 2 ·b 2 = 0<br />

, b = 2 e a = 1<br />

2<br />

1 , se a > 0, e ν = . Então 4<br />

g(x) = x 1<br />

2 ·[c1 ·J1 (<br />

4<br />

1<br />

2 x2 )+c2 ·J 1<br />

− (<br />

4<br />

1<br />

2 x2 )].<br />

Agora vemos que as soluções <strong>de</strong> y ′ = x 2 +y 2 são:<br />

Exercício 5.1. A mudança:<br />

y(x) = − (x12<br />

·[c1 ·J1 (<br />

4<br />

1<br />

2x2 )+c2 ·J 1<br />

− (<br />

4<br />

1<br />

x 1<br />

2 ·[c1 ·J1 ( 1<br />

2x2 )+c2 ·J 1<br />

−<br />

4<br />

5. Exercícios<br />

y(x) = − g′ (x)<br />

a2(x)·g(x)<br />

leva a solução da equação <strong>de</strong> Riccati geral:<br />

4<br />

2 x2 )]) ′<br />

( 1<br />

2 x2 )]<br />

y ′ (x) = a0(x)+a1(x)·y(x)+a2(x)·y 2 (x)<br />

numa solução da equação linear <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m:<br />

g ′′ (x)−( a′ 2 (x)<br />

a2(x) +a1(x))·g ′ (x)+ a0(x)<br />

·g(x) = 0.<br />

a2(x)<br />

.


Parte 3<br />

Séries <strong>de</strong> Fourier e Equações diferenciais<br />

parciais


CAPíTULO 46<br />

Séries <strong>de</strong> Fourier<br />

Asséries<strong>de</strong>Fourier,asfunções<strong>de</strong>Besseleospolinômios<strong>de</strong>Legendreserãocruciais<br />

para a resolução das Equações Diferenciais Parciais mais fundamentais.<br />

Este Capítulo <strong>de</strong>ve muito ao livro muito motivador e muito bem escrito <strong>de</strong> H.<br />

F. Davis, Fourier series and orthogonal functions, Allyn and Bacon, 1963. Nele se<br />

encontrarão teoremas bem mais gerais que a Afirmação 3.1 que veremos a seguir.<br />

Muito interessante e útil também o livro <strong>de</strong> Eli Maor, Trigonometric <strong>de</strong>lights,<br />

Princeton, 1998.<br />

Sabemos que o período <strong>de</strong> sin(x) e <strong>de</strong> cos(x) é 2π, que o período <strong>de</strong> sin(nx) e<br />

e que o período <strong>de</strong> uma combinação linear do tipo<br />

k<br />

an ·cos(nx)+bn ·sin(nx)<br />

cos(nx) é 2π<br />

n<br />

n=1<br />

é o maior <strong>de</strong>les, ou seja, 2π.<br />

A questão é saber se é verda<strong>de</strong> que qualquer função f(x) periódica1 <strong>de</strong> período<br />

2π po<strong>de</strong> ser escrita como<br />

f(x) = a0 +<br />

+∞<br />

n=1<br />

an ·cos(nx)+bn ·sin(nx).<br />

A questão assim colocada em toda generalida<strong>de</strong> é inabordável, por isso me restringirei<br />

a tratar inicialmente2 o caso em que f é <strong>de</strong>rivável e tem f ′ (x) contínua.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista prático a questão tem muita utilida<strong>de</strong>:<br />

• Imagine que se conhece a resposta <strong>de</strong> um sistema a cada entrada em forma<br />

<strong>de</strong> onda sinusoidal; chamemos s1 o input sinusoidal e L(s1) o output (possivelmente<br />

com amplitu<strong>de</strong> e fase diferente). Suponhamos que o sistema é<br />

linear, ou seja, L(a·s1+b·s2) = a·L(s1)+b·L(s2). Então se tivermos uma<br />

escritura<br />

k<br />

f(x) ≈ a0 + an ·cos(nx)+bn ·sin(nx),<br />

n=1<br />

1O importante é que haja uma periodicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> f(x). Se o período p não for igual a 2π po<strong>de</strong>mos<br />

fazer uma mudança <strong>de</strong> variável:<br />

z = 2π<br />

p x,<br />

pois agora ∆x = p dá ∆z = 2π.<br />

2Em algum outro momento redigirei as estensões aos casos em que há <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s da f.<br />

Essas surgem naturalmente quando se reproduz uma função que é <strong>de</strong>finida apenas [a,b] para toda a<br />

reta dos R, fazendo-a periódica.<br />

695


1. SÉRIES DE FOURIER E SEUS COEFICIENTES 696<br />

po<strong>de</strong>mos saber a resposta a qualquer entrada f(x), pois pela linearida<strong>de</strong>:<br />

k<br />

L(f) ≈ a0 + an ·L(cos(nx))+bn ·L(sin(nx)).<br />

n=1<br />

• o som <strong>de</strong> um instrumento musical é esencialemte periódico, ao contrário <strong>de</strong><br />

ruídos e barulhos. Mas o som <strong>de</strong> um instrumento musical (aí incluída a<br />

voz humana) é uma superposição <strong>de</strong> harmônicos (i.e. múltiplos inteiros da<br />

frequência) <strong>de</strong> uma frequência fundamental. Há instrumentos cuja sonorida<strong>de</strong><br />

tem uma mistura mais rica <strong>de</strong> harmônicos que outros. Nosso ouvido é<br />

capaz <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>composição do som composto ao estilo da <strong>de</strong>composição da<br />

Série <strong>de</strong> Fourier, ao contrário do olho, que não faz uma <strong>de</strong>composição da cor.<br />

As séries do tipo<br />

1. Séries <strong>de</strong> Fourier e seus coeficientes<br />

a0 +<br />

+∞<br />

n=1<br />

an ·cos(nx)+bn ·sin(nx)<br />

são séries trigonométricas.<br />

Serão chamadas série <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> uma função f se<br />

e<br />

2π<br />

a0 := 1<br />

f(t)dt,<br />

2π 0<br />

an := 1<br />

2π<br />

f(t)cos(nt)dt, n ∈ N<br />

π 0<br />

bn := 1<br />

2π<br />

f(t)sin(nt)dt, n ∈ N<br />

π 0<br />

Observações:<br />

• Em alguns textos se toma por <strong>de</strong>finição<br />

e <strong>de</strong>pois na série se põe<br />

a0<br />

2 +<br />

+∞<br />

n=1<br />

a0 := 1<br />

π<br />

2π<br />

0<br />

f(t)dt<br />

an ·sin(nx)+bn ·cos(nx).<br />

• Também a escolha do intervalo <strong>de</strong> integração po<strong>de</strong>rá ser alterada, por exemplo,<br />

para [−π,π] se a função é 2π-periódica, ou em geral, para [−L,L] se a<br />

função é 2L-periódica, on<strong>de</strong> se põe:<br />

L<br />

a0 := 1<br />

f(t)dt,<br />

2L −L<br />

an := 1<br />

L<br />

f(t)·cos(<br />

L −L<br />

nπ<br />

·t)dt, n ∈ N<br />

L


CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 697<br />

e<br />

bn := 1<br />

L<br />

f(t)·sin(<br />

L −L<br />

nπ<br />

·t)dt, n ∈ N<br />

L<br />

• Nem sempre se consegue calcular esses coeficientes, que são integrais, usando<br />

funções elementares. Nesse caso se dão aproximações numéricas dos<br />

coeficientes.<br />

Exemplo 1:<br />

Suponha uma função f dada por f(x) = −1 no intervalo [−π,0] e por f(x) = 1<br />

no intervalo [0,π] Note que por ser uma função ímpar,<br />

Já<br />

a0 = 0 e an = 0, ∀n ≥ 1.<br />

bn := 1<br />

π ·<br />

π<br />

= 2<br />

π ·<br />

−π<br />

π<br />

0<br />

f(t)·sin(n·t)dt =<br />

sin(n·t)dt =<br />

2<br />

π ·[−cos(n·π) +<br />

n<br />

cos(n·0)<br />

],<br />

n<br />

ou seja, bn = 0 se n ∈ N é par e bn = 4 se n ∈ N é ímpar.<br />

nπ<br />

Então, restringindo o domínio da f ao intervalo (0,π) (on<strong>de</strong> há continuida<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong>rivabilida<strong>de</strong>) posso afirmar, pelo Teorema <strong>de</strong> Fourier 3.1 a seguir, que<br />

f(x) ≡ 1 = 4 1 1<br />

·(sin(πx)+ sin(3π ·x)+ sin(5π ·x)+...).<br />

π 3 5<br />

A Figura a seguir dá f ≡ 1 e truncamentos para n ímpar, <strong>de</strong> n = 1 até n = 11:<br />

1,2<br />

1<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0 0,2<br />

0,4 0,6 0,8<br />

x<br />

1


1. SÉRIES DE FOURIER E SEUS COEFICIENTES 698<br />

Tomando x = 1 obtenho a série <strong>de</strong> Leibniz (que vimos por outro método na Seção<br />

2<br />

7 do Capítulo 30):<br />

como<br />

π<br />

4<br />

1 1 1<br />

= 1− + −<br />

3 5 7 +...<br />

Exemplo 2:<br />

Consi<strong>de</strong>ro f(x) = x no intervalo [−π,π] e sua série <strong>de</strong> Fourier. Como<br />

a0 := 1<br />

2π ·<br />

π<br />

−π<br />

tdt = 0,<br />

an := 1<br />

π<br />

t·cos(nt)dt = 0<br />

π −π<br />

por ter um integrando que é função ímpar e como, pelo Exercício 1.1 do Capítulo 24,<br />

bn := 1<br />

π<br />

π<br />

−π<br />

t·sin(nt)dt = (−1) n+1 · 2<br />

n ,<br />

concluimos que a série <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> f(x) em [π,π] se escreve como:<br />

2·sin(x)− 2 2 2 2<br />

·sin(2x)+ ·sin(3x)− ·sin(4x)+<br />

2 3 4 5 ·sin(5x)...<br />

A Figura a seguir mostra y = x em vermelho ao lado <strong>de</strong> 2·sin(x), 2·sin(x)− 2<br />

2 ·<br />

sin(2x), etc.<br />

-3 -2<br />

3<br />

2<br />

1<br />

x<br />

-1 0 1<br />

2<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

3


CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 699<br />

2. Séries <strong>de</strong> Fourier só <strong>de</strong> senos ou só <strong>de</strong> cossenos<br />

Se ao invés <strong>de</strong> y = f(x) = x no Exemplo da Seção anterior tivéssemos tomado<br />

qualquer função ímpar também teríamos chegado à conclusão que:<br />

a0 := 1<br />

2π · f(t)dt = 0<br />

−π<br />

e que<br />

an := 1<br />

π<br />

f(t)·cos(nt)dt = 0,<br />

π −π<br />

já que f(x)·cos(nx) é uma função ímpar em −π,π] também.<br />

Então a série <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> uma função ímpar é uma série só <strong>de</strong> senos.<br />

Agora, se y = f(x) é uma função par, então<br />

bn := 1<br />

π<br />

π<br />

−π<br />

π<br />

f(t)·sin(nt)dt = 0,<br />

já que f(x)·sin(nx) é agora uma função ímpar em [−π,π].<br />

Então a série <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> uma função par é uma série só <strong>de</strong> cossenos.<br />

3. Convergência pontual da Série <strong>de</strong> Fourier<br />

Afirmação 3.1. (Convergência pontual)<br />

Seja y = f(x) função periódica <strong>de</strong> período 2π, <strong>de</strong>rivável, com <strong>de</strong>rivada f ′ (x)<br />

contínua.<br />

Então para cada x ∈ [0,2π] vale:<br />

on<strong>de</strong><br />

e<br />

f(x) = a0 +<br />

+∞<br />

n=1<br />

Demonstração.<br />

Queremos controlar quanto vale<br />

an ·sin(nx)+bn ·cos(nx)<br />

2π<br />

a0 := 1<br />

f(t)dt,<br />

2π 0<br />

an := 1<br />

2π<br />

f(t)cos(nt)dt, n ∈ N<br />

π 0<br />

bn := 1<br />

2π<br />

f(t)sin(nt)dt, n ∈ N.<br />

π 0<br />

|f(x)−Sk(x)| := |f(x)−a0 −<br />

k<br />

an ·sin(nx)+bn ·cos(nx)|,<br />

à medida que k aumenta, pois queremos provar que, para cada x fixado,<br />

n=1<br />

lim<br />

k→+∞ |f(x)−Sk(x)| = 0.


3. CONVERGÊNCIA PONTUAL DA SÉRIE DE FOURIER 700<br />

Para isso será útil reescrevermos<br />

Sk(x) := 1<br />

2π k<br />

2π<br />

f(t)dt+ f(t)sin(n·t)dt·sin(n·x)+<br />

2π<br />

Primeiro, vejo que<br />

0<br />

Sk(x) = 1<br />

2π<br />

n=1<br />

2π<br />

0<br />

0<br />

f(t)dt+<br />

k<br />

n=1<br />

2π<br />

0<br />

2π<br />

f(t)cos(n·(x−t))dt,<br />

on<strong>de</strong> usei a fórmula do cosseno da diferença para cos(n·x−n·t)<br />

A seguir noto que para cada n:<br />

2π<br />

pela Afirmação 3.3 a seguir.<br />

E portanto<br />

0<br />

f(t)cos(n·(x−t))dt =<br />

Sk(x) =<br />

2π<br />

pela Afirmação 3.4 a seguir.<br />

Também a Afirmação 3.4 diz que:<br />

2π<br />

0<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

f(x−t)cos(n·t)dt<br />

1<br />

sin((k + 2 f(x−t) )·t)<br />

2πsin( t<br />

2 )<br />

dt<br />

sin((k + 1<br />

2 )·t)<br />

2πsin( t<br />

2 )<br />

dt = 1.<br />

Como integro em t, posso escrever para cada x:<br />

f(x) = f(x)·<br />

2π<br />

0<br />

sin((k + 1<br />

2 )·t)<br />

2πsin( t<br />

2 )<br />

dt =<br />

2π<br />

0<br />

f(x)·<br />

Chegamos então, tomando a integral da diferença, em:<br />

|f(x)−Sk(x)| = | 1<br />

2π ·<br />

2π<br />

A mudança <strong>de</strong> variável t = −t dá:<br />

|f(x)−Sk(x)| = | 1<br />

2π ·<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

(f(x)−f(x−t))·<br />

(f(x)−f(x+t))·<br />

0<br />

f(t)cos(n·t)dt·cos(n·x).<br />

1 sin((k + 2 )·t)<br />

2πsin( t<br />

2 )<br />

dt.<br />

1 sin((k + 2 )·t)<br />

sin( t<br />

2 )<br />

dt|<br />

1<br />

sin((k + 2 )·t)<br />

sin( t<br />

2 )<br />

dt|<br />

Agora para x fixado vou introduzir uma função φx : [0,2π] → R, y = φx(t), que<br />

será contínua. A <strong>de</strong>finição é:<br />

e<br />

φx(t) := f(x+t)−f(x)<br />

t<br />

f(x+t)−f(x)<br />

φx(0) := lim ·<br />

tց0 t<br />

= f ′ (x)·lim<br />

tց0<br />

·<br />

t<br />

sin( t se t > 0<br />

), 2<br />

t<br />

2πsin( t =<br />

) 2<br />

t<br />

sin( t<br />

2 ) = f′ (x)·2.


CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 701<br />

Ou seja que<br />

|f(x)−Sk(x)| = | 1<br />

2π ·<br />

2π<br />

φx(t)·sin((k +<br />

0<br />

1<br />

2 )·t)|,<br />

ou ainda que (usando o seno <strong>de</strong> uma soma e | | ≤ ||):<br />

|f(x)−Sk(x)| = | 1<br />

2π ·<br />

2π<br />

0<br />

φx(t)cos( t 1<br />

)·sin(kt)dt+<br />

2 2π ·<br />

2π<br />

φx(t)sin(<br />

0<br />

t<br />

2 )·cos(kt)dt|.<br />

Para terminar a <strong>de</strong>monstração basta mostrar então que:<br />

e que<br />

lim<br />

k→+∞<br />

2π<br />

0<br />

2π<br />

lim<br />

k→+∞<br />

0<br />

φx(t)cos( t<br />

)·sin(kt)dt = 0<br />

2<br />

φx(t)sin( t<br />

)·cos(kt)dt = 0.<br />

2<br />

Vou provar algo mais forte na Afirmação 3.2 : que para cada x a série numérica<br />

+∞<br />

c<br />

k=1<br />

2 k :=<br />

+∞<br />

2π<br />

(<br />

k=1<br />

0<br />

φx(t)cos( t sin(kt)<br />

)· √ dt)<br />

2 π 2<br />

é convergente, pois isso implica 3 que seu termo geral ten<strong>de</strong> a zero:<br />

o que claramente dá<br />

0 = lim<br />

k→+∞ c2k := lim<br />

k→+∞ (<br />

2π<br />

0<br />

0 = lim<br />

k→+∞ ck<br />

2π<br />

:= lim<br />

k→+∞<br />

0<br />

φx(t)cos( t sin(kt)<br />

)· √ dt)<br />

2 π 2 ,<br />

φx(t)cos( t sin(kt)<br />

)· √ dt<br />

2 π<br />

e portanto:<br />

2π<br />

lim φx(t)cos(<br />

k→+∞<br />

0<br />

t<br />

2 )·sin(kt)dt<br />

(analogamente para a outra integral).<br />

Afirmação 3.2. A série numérica<br />

é convergente.<br />

+∞<br />

c<br />

k=1<br />

2 +∞<br />

2π<br />

k := (<br />

k=1<br />

0<br />

3 Como já observamos na Seção 7 do Capítulo 22.<br />

φx(t)cos( t sin(kt)<br />

)· √ dt)<br />

2 π 2


3. CONVERGÊNCIA PONTUAL DA SÉRIE DE FOURIER 702<br />

Demonstração.<br />

Como c2 k ≥ 0, as somas<br />

sk := c 2 1 +c 2 2 +...+c 2 k<br />

formamuma sequência crescente. O Teorema fundamental <strong>de</strong> sequências diz que para<br />

sn convergir basta existir uma cota superior:<br />

sk ≤ K, ∀k ∈ N.<br />

Vamos mostrar que<strong>de</strong>fortcoef essa cota é:<br />

0<br />

K =<br />

2π<br />

0<br />

(φx(t) cos( t<br />

2 ))2 dt,<br />

que existe pois a função φx(t)·cos( t<br />

) é contínua. 2<br />

Para aliviar a notação <strong>de</strong>noto:<br />

φ := φx(t)·cos( t<br />

2 ).<br />

Começo observando que:<br />

2π k<br />

2π<br />

0 ≤ [φ− φ sin(nt)<br />

√ dt·<br />

π sin(nt)<br />

√ ]<br />

π 2 dt<br />

já que o integrando é ≥ 0.<br />

Mas, usandoagoraque 2π<br />

0<br />

da integral obtemos:<br />

2π k<br />

[φ−<br />

=<br />

2π<br />

0<br />

[φ−<br />

k<br />

n=1<br />

+ <br />

n=m<br />

2π<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

0<br />

n=1<br />

0<br />

φ sin(nt)<br />

√ π dtsãonúmeros,usandoasproprieda<strong>de</strong>slineares<br />

n=1<br />

2π<br />

0<br />

φ sin(nt)<br />

√ π dt· sin(nt)<br />

√ π ]·[φ−<br />

=<br />

2π<br />

0<br />

φ sin(nt)<br />

√ π dt·<br />

+<br />

k<br />

(<br />

n=1<br />

φ 2 dt−2·<br />

2π<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

φ sin(nt)<br />

√ π dt· sin(nt)<br />

√ π ] 2 dt =<br />

k<br />

(<br />

n=1<br />

2π<br />

0<br />

φ sin(mt)<br />

√ π<br />

k<br />

n=1<br />

2π<br />

0<br />

φ sin(nt)<br />

√ π dt) 2 +<br />

dt·<br />

φ sin(nt)<br />

√ dt)<br />

π 2 2π<br />

·<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

φ sin(nt)<br />

√ π dt· sin(nt)<br />

√ π ]dt =<br />

sin(nt) sin(mt)<br />

√ √ dt+<br />

π π<br />

sin(nt) 2<br />

.<br />

π<br />

Agora uso os itens iv) e vi) da Afirmação 3.5, que dizem que<br />

2π<br />

e 2π<br />

0<br />

sin(mt)·sin(nt)dt = 0 se m = n e m,n ∈ N,<br />

0<br />

sin(nt) 2<br />

dt = 1 ∀n ∈ N.<br />

π


CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 703<br />

Portanto, do <strong>de</strong> acima:<br />

e daí<br />

como queríamos.<br />

sk :=<br />

0 ≤<br />

k<br />

(<br />

n=1<br />

2π<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

φ 2 dt−<br />

k<br />

(<br />

n=1<br />

2π<br />

0<br />

φ sin(nt)<br />

√ π dt) 2<br />

φ sin(nt)<br />

√ dt)<br />

π 2 2π<br />

≤ φ<br />

0<br />

2 dt, ∀k ∈ N<br />

Afirmação 3.3. Se y = f(x) tem período 2π então:<br />

2π<br />

0<br />

f(t)cos(n·(x−t))dt =<br />

2π<br />

Demonstração.<br />

Faça em 2π<br />

f(t)cos(n·(x−t))dt a substituição:<br />

0<br />

t := x−t, dt = −dt,<br />

que dá:<br />

2π<br />

0<br />

f(t)cos(n·(x−t))dt =<br />

=<br />

=<br />

x<br />

x−2π<br />

2π<br />

0<br />

0<br />

x−2π<br />

x<br />

f(x−t)cos(n·t)dt =<br />

f(x−t)cos(n·t)dt,<br />

f(x−t)cos(n·t)dt.<br />

pois tanto f quanto o cosseno são periódicas <strong>de</strong> período 2π.<br />

Afirmação 3.4. Defina:<br />

Então<br />

Demonstração.<br />

f(x−t)cos(n·t)(−dt) =<br />

Dn(x) := 1 1<br />

+<br />

2π π ·[cos(x)+cos(2x)+...+cos(nx)].<br />

1 sin((n+<br />

i) : Dn(x) =<br />

ii) :<br />

2π<br />

0<br />

2 )·x)<br />

2πsin( x<br />

2 )<br />

.<br />

sin((n+ 1<br />

2 )·t)<br />

2πsin( t<br />

2 )<br />

dt = 1.


3. CONVERGÊNCIA PONTUAL DA SÉRIE DE FOURIER 704<br />

Afirmação 3.5.<br />

i):<br />

ii):<br />

iii):<br />

iv):<br />

π<br />

−π<br />

2π<br />

0<br />

π<br />

−π<br />

2π<br />

0<br />

ix):<br />

x):<br />

cos(m·M)·cos(n·M)dM = 0 se m = n e m,n ∈ N,<br />

cos(m·M)·cos(n·M)dM = 0 se m = n e m,n ∈ N,<br />

sin(m·M)·sin(n·M)dM = 0 se m = n e m,n ∈ N,<br />

sin(m·M)·sin(n·M)dM = 0 se m = n e m,n ∈ N,<br />

v):<br />

vi):<br />

vii):<br />

viii):<br />

2π<br />

0<br />

π<br />

−π<br />

π<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

π<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

sin(m·M) 2 dM = π<br />

2<br />

∀m ∈ N<br />

sin(m·M) 2 dM = π ∀m ∈ N<br />

cos(m·M) 2 dM = π<br />

2<br />

∀m ∈ N<br />

cos(m·M) 2 dM = π ∀m ∈ N<br />

sin(m·M)·cos(n·M)dM = 0, ∀m,n ∈ N,<br />

sin(m·M)·cos(n·M)dM = 0, ∀m,n ∈ N,<br />

Demonstração.<br />

Basta que eu prove um item e o leitor po<strong>de</strong>rá facilmente adaptar a prova para os<br />

outros.<br />

Por ex. o item<br />

e que<br />

Noto que:<br />

ix):<br />

2π<br />

0<br />

sin(m·M)·cos(n·M)dM = 0, ∀m,n ∈ N.<br />

sin(mM +nM) = sin(mM)·cos(nM)+cos(mM)·sin(nM),<br />

sin(mM −nM) = sin(mM)·cos(nM)−cos(mM)·sin(nM),<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong>, somando as duas expressões, obtenho:<br />

Então<br />

2π<br />

0<br />

sin(mM)·cos(nM) = 1<br />

·(sin(mM +nM)+sin(mM −nM)).<br />

2<br />

sin(mM)·cos(nM)dM = 1<br />

2 ·(<br />

2π<br />

0<br />

2π<br />

sin((m+n)M)dM+<br />

0<br />

sin((m−n)M)dM).


CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 705<br />

Se m = n então<br />

2π<br />

2π<br />

sin(m·M)·cos(n·M)dM =<br />

0<br />

1<br />

2 · sin(mM +nM)dM =<br />

0<br />

−1<br />

1<br />

= cos(mM +nM)(2π)+ cos(mM +nM)(0) = 0.<br />

2(m+n) 2(m+n)<br />

Se m = n então<br />

2π<br />

0<br />

sin(m·M)·cos(n·M)dM =<br />

( −1<br />

1<br />

cos(mM +nM)− cos(mM −nM)))(2π))+<br />

2(m+n) 2(m−n)<br />

1<br />

1<br />

( cos(mM +nM)+ cos(mM −nM))(0) = 0.<br />

2(m+n) 2(m−n)<br />

Agora vou <strong>de</strong>monstrar os itens 4 i), ii), iii), iv) e ix) e x) da Afirmação anterior<br />

<strong>de</strong> um modo unificado.<br />

Ointeresse<strong>de</strong>stanovaprovaéquenelanãousanenhumaproprieda<strong>de</strong>trigonométrica<br />

dasfunções, usasomente aequaçãodiferencial satisfeita pelasfunçõesequetêmtodas<br />

em comum o período 2π, já que têm períodos 2π 2π<br />

ou , n,m ∈ N.<br />

n m<br />

Noto que para cada n ∈ N as funções yn := sin(n·x) ou yn(x) := cos(n·x) dos<br />

itens i), ii), iii), iv) e ix) satisfazem a equação:<br />

Então para n = m ∈ N:<br />

y ′′<br />

n (x) = −n2 ·yn(x).<br />

ym(x)·y ′′<br />

n (x)−yn(x)·y ′′ m (x) = (m2 −n 2 )·ym ·yn<br />

e a integração por partes do lado esquerdo dá:<br />

e<br />

= ym(x)·y ′ <br />

n(x)−<br />

<br />

ym(x)·y ′′<br />

n (x)−yn(x)·y ′′ m<br />

(x)dx =<br />

<br />

y ′ m(x)·y ′ n(x)dx−yn(x)·y ′ m(x)+<br />

y ′ n(x)·y ′ m(x)dx =<br />

= ym(x)·y ′ n (x)−yn(x)·y ′ m (x).<br />

Como ym(x), y ′ m (x), yn(x), y ′ n (x) têm período 2π:<br />

(ym(x)·y ′ n (x)−yn(x)·y ′ m (x))(π)−(ym(x)·y ′ n (x)−yn(x)·y ′ m (x))(−π) = 0<br />

(ym(x)·y ′ n (x)−yn(x)·y ′ m (x))(2π)−(ym(x)·y ′ n (x)−yn(x)·y ′ m (x))(0) = 0.<br />

Então concluo, calculando a integral <strong>de</strong>finida do lado direito, que<br />

π<br />

(m<br />

0<br />

2 −n 2 )·ym ·yn = 0 e<br />

2π<br />

(m<br />

0<br />

2 −n 2 )·ym ·yn = 0;<br />

4 Do mesmo jeito que fiz na prova da ortogonalida<strong>de</strong> dos polinômios <strong>de</strong> Legendre na Afirmação<br />

5.1 do Capítulo 41


4. SÉRIES DE FOURIER DE COS(R·SIN(X)) E DE SIN(R·SIN(X)), R ∈ R706<br />

como m = n saem os itens i), ii), iii), iv), ix) e x).<br />

4. Séries <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> cos(r ·sin(x)) e <strong>de</strong> sin(r ·sin(x)), r ∈ R<br />

Há aplicações práticas relevantes <strong>de</strong>ssas funções.<br />

Suas expansões em série <strong>de</strong> Fourier são:<br />

Afirmação 4.1. As expansões em séries <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong><br />

são:<br />

cos(r ·sin(x)) e cos(r ·sin(x))<br />

cos(r·sin(x)) = J0(r)+2·(J2(r)·cos(2x)+J4(r)·cos(4x)+J6(r)·cos(6x)+...),<br />

sin(r ·sin(x)) = 2·(J1(r)·sin(x)+J3(r)·cos(3x)+J5(r)·cos(5x)+...),<br />

on<strong>de</strong> Jn(x) são as funções <strong>de</strong> Bessel.<br />

Demonstração.<br />

Pela <strong>de</strong>finição dada Seção 1, Capítulo 43 e por ser o cosseno uma função par,<br />

po<strong>de</strong>mos escrever:<br />

Agora<br />

1<br />

π ·<br />

π<br />

0<br />

Jn(r) = 1<br />

π ·<br />

π<br />

cos(rsin(t)−n·t)dt.<br />

0<br />

cos(rsin(t)−n·t)dt = 1<br />

π ·<br />

<br />

[cos(rsin(t))·cos(n·t)+sin(rsin(t))·cos(n·t)]dt =<br />

= 1<br />

π ·<br />

π<br />

cos(rsin(t))·cos(n·t)dt+<br />

0<br />

1<br />

π ·<br />

<br />

sin(rsin(t))·cos(n·t)dt.<br />

Usando a simetria <strong>de</strong> sin(x) em torno <strong>de</strong> π<br />

2<br />

se obtem 5 que:<br />

enquanto que:<br />

Jn(r) = 1<br />

π ·<br />

Jn(r) = 1<br />

π ·<br />

π<br />

0<br />

π<br />

0<br />

e usando que cos(π −x) = −cos(π<br />

2 2 +x)<br />

cos(rsin(t))·cos(n·t)dt, se n = 0,2,4,6...<br />

sin(rsin(t))·sin(n·t)dt, se n = 0,2,4,6...<br />

Claramente cos(r · sin(x)) e <strong>de</strong> sin(r · sin(x)) são <strong>de</strong>riváveis (infinitas vezes). A<br />

primeira é uma função par e a segunda uma função ímpar.<br />

Portanto a Afirmação 3.1 e as observações da Seção 2 permitem concluir a <strong>de</strong>monstração.<br />

<br />

5 verificar


CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 707<br />

5. Convergência absoluta da Série <strong>de</strong> Fourier<br />

A importância da Afirmação 3.1 diz que, sob hipótese na f, para cada x a série<br />

<strong>de</strong> Fourier da f calculada em x converge para o número f(x).<br />

Mas ainda não po<strong>de</strong>mos assegurar que como um todo osgráficos dostruncamentos<br />

da série <strong>de</strong> <strong>de</strong> Fourier tendam ao gráfico da f.<br />

A Figura a seguir ilustra uma situação em que funções fn ten<strong>de</strong>m pontualmente<br />

para uma certa função f, quando n → +∞, mas on<strong>de</strong> sempre há um ponto retardatário,<br />

ou seja, algumas partes dos gráficos das fn se aproximam do gráfico limite f<br />

mas sempre há uma região dos gráficos que ficou para trás. Nessas condições, se as fn<br />

fossem truncamentos <strong>de</strong> séries, não estaríamos autorizados a fazer várias operações<br />

que precisamos, como integrar termos a termo, <strong>de</strong>rivar termo a termo a série.<br />

0,25<br />

0,2<br />

0,15<br />

0,1<br />

0,05<br />

0<br />

0 0,2<br />

0,4 0,6 0,8<br />

x<br />

Fig.: Gráficos <strong>de</strong> y = fn(x) := x n −x 2n , para n = 1,2,3,4, x ∈ [0,1]<br />

convergindo pontualmente quando n → +∞ para f ≡ 0.<br />

Afirmação 5.1. (Convergência uniforme e em módulo)<br />

Seja y = f(x) função periódica <strong>de</strong> período 2π, duas vezes <strong>de</strong>rivável (i.e. com f ′ (x)<br />

e f ′′ (x)).<br />

Há convergência em módulo da série <strong>de</strong> Fourier:<br />

on<strong>de</strong><br />

e<br />

|a0|+<br />

+∞<br />

n=1<br />

|an ·sin(nx)+bn ·cos(nx)|<br />

2π<br />

a0 := 1<br />

f(t)dt,<br />

2π 0<br />

an := 1<br />

2π<br />

f(t)cos(nt)dt, n ∈ N<br />

π 0<br />

bn := 1<br />

2π<br />

f(t)sin(nt)dt, n ∈ N.<br />

π 0<br />

A<strong>de</strong>mais, para cada k, o tamanho:<br />

|f(x)−(a0 +<br />

1<br />

k<br />

an ·sin(nx)+bn ·cos(nx))|<br />

n=1<br />

só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> k, valendo uniformemente ∀x.


5. CONVERGÊNCIA ABSOLUTA DA SÉRIE DE FOURIER 708<br />

Demonstração.<br />

Nesta prova usarei algumas vezes a Afirmação 5.2 a seguir.<br />

O primeiro uso <strong>de</strong>la será, pondo para cada x:<br />

u := (an,bn) v = (sin(nx),cos(nx)),<br />

|an ·sin(nx)+bn ·cos(nx)| ≤ (an 2 +bn 2 ) 1<br />

2.<br />

A etapa crucial da prova é mostrar que a série numérica:<br />

+∞<br />

(an 2 +bn 2 ) 1<br />

2<br />

n=1<br />

converge6 , pois daí tiraremos tudo: <strong>de</strong> fato, com isso em mãos, pelo Teorema <strong>de</strong><br />

Comparação se séries numéricas, para cada x há convergência em módulo:<br />

|a0|+<br />

+∞<br />

n=1<br />

|an ·sin(nx)+bn ·cos(nx)| ≤ |a0|+<br />

Como já sabemos pela Afirmação 3.1 que para cada x:<br />

então:<br />

|f(x)−(a0 +<br />

f(x) = a0 +<br />

+∞<br />

n=1<br />

k<br />

an ·sin(nx)+bn ·cos(nx))| = |<br />

n=1<br />

≤<br />

+∞<br />

n=k+1<br />

≤<br />

+∞<br />

n=1<br />

an ·sin(nx)+bn ·cos(nx),<br />

+∞<br />

n=k+1<br />

|an ·sin(nx)+bn ·cos(nx)| ≤<br />

+∞<br />

n=k+1<br />

(an 2 +bn 2 ) 1<br />

2 < ǫ<br />

(an 2 +bn 2 ) 1<br />

2 < +∞.<br />

an ·sin(nx)+bn ·cos(nx)| ≤<br />

se k é suficientemente gran<strong>de</strong>, se soubermos que a série +∞<br />

n=1 (an 2 +bn 2 ) 1<br />

2 converge.<br />

Como o termo geral da série +∞<br />

n=1 (an 2 +bn 2 ) 1<br />

2 é positivo, basta mostrar que ∀k:<br />

n=1<br />

para alguma constante K a ser <strong>de</strong>terminada.<br />

Para encontrar esse K começo consi<strong>de</strong>rando a <strong>de</strong>rivada f ′ (x).<br />

Consi<strong>de</strong>ro a série <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> y = f ′ (x) que <strong>de</strong>noto<br />

k<br />

(an 2 +bn 2 ) 1<br />

2 ≤ K<br />

a ′ 0 + n = 1 +∞ a ′ n cos(nx)+b′ n sin(nx).<br />

Por hipótese essa função ainda é <strong>de</strong>rivável mais uma vez, portanto há convergência<br />

pontual para cada x:<br />

f ′ (x) = a ′ 0 + n = 1 +∞ a ′ n cos(nx)+b′ n sin(nx).<br />

6 Cuidado que +∞<br />

n=1 1<br />

n 2 converge mas +∞<br />

n=1 1<br />

n não.


CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 709<br />

E a<strong>de</strong>mais, modificando um pouco a prova da Afirmação 3.2 se po<strong>de</strong> provar que para<br />

qualquer k:<br />

k<br />

2π<br />

a ′ 2<br />

0<br />

2 +<br />

o que dá a convergência <strong>de</strong><br />

n=1<br />

(a ′ n<br />

2 ′ 2 1<br />

+b n ) ≤<br />

π ·<br />

a ′ 2<br />

0<br />

2 +<br />

+∞<br />

(a<br />

n=1<br />

′ 2 ′ 2<br />

n +b n ).<br />

Agora noto que, integrando por partes:<br />

a ′ n<br />

:= 1<br />

π<br />

2π<br />

0<br />

f ′ (t)cos(nt)dt =<br />

= 1<br />

π ·[f(2π)cos(n2π)−f(2π)cos(n2π)+<br />

2π<br />

0<br />

(f ′ (x)) 2 dx,<br />

2π<br />

0<br />

f(t)sin(nt)·ndt] =<br />

= 1<br />

π · f(t)sin(nt)·ndt =: n·bn,<br />

0<br />

já que f tem perído 2π.<br />

E também que:<br />

b ′ n := 1<br />

π ·<br />

2π<br />

f<br />

0<br />

′ (t)sin(nt)·ndt =<br />

= 1<br />

π ·[f(2π)cos(n2π)−f(2π)cos(n2π)−<br />

2π<br />

f(t)cos(nt)·ndt] =<br />

0<br />

=: −n·an.<br />

Em suma,<br />

Ou seja,<br />

k<br />

n=1<br />

∀n, (an) 2 = (b′ n )2<br />

n 2<br />

((an) 2 +(bn) 2 ) 1<br />

2 =<br />

k<br />

n=1<br />

e (bn) 2 = (a′ n )2<br />

n2 ,<br />

1<br />

n ·((a′ n) 2 +(b ′ n) 2 ) 1<br />

2<br />

A Afirmação 5.2 a seguir, pondo em Rk os seguintes vetores<br />

u := (1,..., 1<br />

k ) v = (((a′ 1) 2 +(b ′ 1) 2 ) 1<br />

dá a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

k<br />

k k<br />

Ora, as séries<br />

e<br />

2,...,((a ′ k) 2 +(b ′ k) 2 ) 1<br />

2 ),<br />

1<br />

n<br />

n=1<br />

·((a′ n) 2 +(b ′ n) 2 ) 1 1<br />

2 ≤ (<br />

n<br />

n=1<br />

2)1<br />

2 ·( (a<br />

n=1<br />

′ n) 2 +(b ′ n) 2 ) 1<br />

+∞<br />

n=1<br />

1<br />

n 2<br />

a ′ 2<br />

0<br />

2 +<br />

+∞<br />

(a<br />

n=1<br />

′ 2 ′ 2<br />

n +b n )<br />

2.


6. A SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DE KEPLER VIA SÉRIE DE FOURIER E<br />

FUNÇÕES DE BESSEL 710<br />

convergem, portanto ∀k:<br />

k<br />

n=1<br />

((an) 2 +(bn) 2 ) 1<br />

2 =<br />

k<br />

n=1<br />

1<br />

n ·((a′ n )2 +(b ′ n )2 ) 1<br />

2 ≤ K<br />

para algum K, como queríamos. <br />

Afirmação 5.2. (Caso particular da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cauchy-Schwartz)<br />

Sejam dois vetores em Rn : u = (v1,...,vn) e v = (v1,...,vn). Então<br />

n<br />

|u1·v1 +...+u2 ·v2| ≤ ( ui 2 ) 1<br />

n<br />

2 ·( vi 2 ) 1<br />

2.<br />

6. A solução da equação <strong>de</strong> Kepler via série <strong>de</strong> Fourier e funções <strong>de</strong><br />

Bessel<br />

Minha referência para esta Seção é o livro <strong>de</strong> A. Gray e B. G. Mathews, A treatise<br />

on Bessel functions and their applications to physics, McMillan, 1895.<br />

Vimos na Seção 11 do Capítulo 39, a <strong>de</strong>dução da Equação <strong>de</strong> Kepler:<br />

on<strong>de</strong><br />

i=1<br />

M = φ−e·sin(φ)<br />

• φ é a anomalia excêntrica (<strong>de</strong>finida na Seção 11 do Capítulo 39 e ilustrada<br />

na Figura a seguir),<br />

• M = 2·π·T é a anomalia média,<br />

T0<br />

• T tempo transcorrido do ponto P(T) na trajetória, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o perihélio em A e<br />

T0 o período da órbita.<br />

O que se quer é resolver essa equação, <strong>de</strong>terminando φ em função <strong>de</strong> M:<br />

O<br />

Y<br />

φ = φ(M),<br />

pois isso daria φ = φ(T), que é o que preciso para ter a posição do planeta em cada<br />

tempo T (já que a a trajetória elíptica é suposta conhecida).<br />

ϕ<br />

Q<br />

P<br />

p<br />

F<br />

θ<br />

i=1<br />

A<br />

X


CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 711<br />

Note que, mesmo que ainda não saibamos explicitamente o que é φ(M), po<strong>de</strong>mos<br />

afirmar que:<br />

• a expressão φ(M)−M se anula em M = k ·π, on<strong>de</strong> k = 0,1,2,3...;<br />

• φ(M)−M é periódica em M <strong>de</strong> período 2·π,<br />

• φ(M)−M é uma função ímpar.<br />

Isso motiva, <strong>de</strong> acordo com a Seção 2, a busca <strong>de</strong> uma expansão em série <strong>de</strong><br />

Fourier-senos <strong>de</strong>ssa função:<br />

Afirmação 6.1. Se φ = φ(M) é solução <strong>de</strong> M = φ−e·sin(φ), com 0 < e < 1 e se<br />

então os coeficientes verificam<br />

on<strong>de</strong><br />

φ(M)−M =<br />

bν = bν(e) = 1<br />

ν<br />

Jν(x) =<br />

Demonstração.<br />

Se tivéssemos essa expressão<br />

π<br />

0<br />

φ(M)−M =<br />

+∞<br />

ν=1<br />

bν ·sin(ν ·M).<br />

· 2<br />

π ·Jν(e), ∀ν ∈ N,<br />

cos(ν ·(t−x·sin(t)))dt.<br />

+∞<br />

ν=1<br />

bν ·sin(ν ·M)<br />

e se pudéssemos <strong>de</strong>rivá-la em M termo a termo, obteríamos:<br />

dφ<br />

dM<br />

−1 =<br />

+∞<br />

ν=1<br />

ν ·bν(e)·cos(ν ·M).<br />

Agora, para cada ν0 fixado, multiplico termo a termo:<br />

cos(ν0 ·M)·( dφ<br />

dM<br />

e <strong>de</strong>pois integro, termo a termo:<br />

π<br />

0<br />

cos(ν0 ·M)·( dφ<br />

dM<br />

−1) =<br />

−1)dM =<br />

+∞<br />

ν=1<br />

+∞<br />

π<br />

ν=1<br />

De acordo com a Afirmação 3.5 da Seção 1:<br />

π<br />

0<br />

ν ·bν(e)·cos(ν ·M)·cos(ν0 ·M)<br />

0<br />

ν ·bν(e)·cos(ν ·M)·cos(ν0 ·M)dM.<br />

cos(ν ·M)·cos(ν0 ·M)dM = 0 se ν = ν0 e ν,ν0 ∈ N,<br />

π<br />

cos(ν0 ·M)<br />

0<br />

2 dM = π<br />

2 , ∀ν0 ∈ N.<br />

De on<strong>de</strong> concluiremos que, para cada ν ∈ N:<br />

π<br />

0<br />

cos(ν ·M)·( dφ<br />

dM<br />

π<br />

−1)dM = ·ν ·bν(e),<br />

2


6. A SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DE KEPLER VIA SÉRIE DE FOURIER E<br />

FUNÇÕES DE BESSEL 712<br />

ou seja, para cada ν ∈ N:<br />

bν(e) = 2<br />

νπ ·<br />

π<br />

cos(ν ·M)·(<br />

0<br />

dφ<br />

−1)dM =<br />

dM<br />

on<strong>de</strong> a última igualda<strong>de</strong> sai <strong>de</strong> que:<br />

Mas como:<br />

e como temos<br />

π<br />

0<br />

= 2<br />

νπ ·<br />

π<br />

cos(ν ·M)·<br />

0<br />

dφ<br />

dM dM,<br />

cos(ν ·M)dM =<br />

sin(ν ·M)<br />

(π)−<br />

ν<br />

φ(0) = 0 e φ(π) = π<br />

M = φ−e·sin(φ),<br />

sin(ν ·M)<br />

(0) = 0.<br />

ν<br />

posso fazer uma substituição na integral:<br />

2<br />

νπ ·<br />

π<br />

cos(ν ·M)·<br />

0<br />

dφ 2<br />

dM =<br />

dM νπ ·<br />

π<br />

cos(ν ·(φ−e·sin(φ)))·dφ<br />

0<br />

e portanto<br />

bν(e) = 2<br />

νπ ·<br />

π<br />

cos(ν ·(φ−e·sin(φ)))·dφ.<br />

0<br />

Quer dizer, relembrando a Definição do começo da Seção 1 do Capítulo 43 (usando φ<br />

no papel <strong>de</strong> t):<br />

bν(e) = 1<br />

ν<br />

· 2<br />

π ·Jν(e), ν ∈ N.<br />

Na figura a seguir plotei para e = 0.9 o gráfico da aproximação<br />

10<br />

φ10(M) := M + bν(0.9)·sin(ν ·M)<br />

ν=1<br />

em vermelho junto com a diagonal y = M em ver<strong>de</strong>. Se vê bem como um planeta<br />

<strong>de</strong>screvendo uma trajetória elíptica vai bem rápido em seu perihélio (M = 0) e como<br />

vai lentamente em seu afélio (M = π).


CAPÍTULO 46. SÉRIES DE FOURIER 713<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

0<br />

1 2<br />

3<br />

M<br />

Fig: y = φ10(M) em vermelho, y = M em ver<strong>de</strong>, M ∈ [0,2π]<br />

7. Exercícios<br />

Exercício 7.1. Consi<strong>de</strong>re f : [−π,π] → R, f(x) = x2 .<br />

Re<strong>de</strong>fina os coeficientes <strong>de</strong> Fourier para [−π,π]. Usando que f é par, prove que<br />

sua série <strong>de</strong> Fourier é:<br />

f(x) = π2 cos(2x) cos(3x) cos(4x)<br />

−4·(cos(x)− + − +...)<br />

3 22 32 42 Avaliando f em x = π conclua o seguinte resultado <strong>de</strong> Euler:<br />

π 2<br />

6<br />

1 1 1<br />

= 1+ + + +...<br />

22 32 42 4<br />

5<br />

6


CAPíTULO 47<br />

Equações Diferenciais Parciais<br />

1. Observações gerais, tipos, separação <strong>de</strong> variáveis, soluções clássicas<br />

• Uma equação diferencial parcial é uma equação que envolve uma função<br />

y = f(x1,x2,...,xn) <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma variável e suas <strong>de</strong>rivadas parciais:<br />

F(x1,...,xn,y, ∂y<br />

∂x1<br />

,..., ∂2y ∂x2,...) = 0.<br />

1<br />

• A or<strong>de</strong>m da equação é a maior or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação que aparece na equação,<br />

por exemplo:<br />

∂ 3 y<br />

∂x3∂x2∂x1<br />

+ ∂2 y<br />

∂x 2 1<br />

+ ∂y<br />

∂x3<br />

+x1 ·x2 = 0<br />

é uma equação parcial <strong>de</strong> terceira or<strong>de</strong>m.<br />

• A equação será homogênea se não há termo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> y = f(x) ou <strong>de</strong><br />

suas <strong>de</strong>rivadas; em outras palavras, se y = f(x) ou suas <strong>de</strong>rivadas aparecem<br />

em cada termo. Por exemplo, a equação anterior não é homogênea, mas<br />

∂ 3 y<br />

∂x3∂x2∂x1<br />

+ ∂2 y<br />

∂x 2 1<br />

+ ∂y<br />

∂x3<br />

é homogênea.<br />

• A equação é linear se y e suas <strong>de</strong>rivadas figuram apenas na potência 1<br />

e estão multiplicados apenas por funções das variáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (incluindo<br />

constantes). Po<strong>de</strong>m aparecer expressões não-lineares nas variáveis<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

Por exemplo, a equação<br />

é linear, bem como:<br />

∂ 3 y<br />

∂x3∂x2∂x1<br />

∂ 3 y<br />

∂x3∂x2∂x1<br />

+ ∂2 y<br />

∂x 2 1<br />

+ ∂2 y<br />

∂x 2 1<br />

+ ∂y<br />

∂x3<br />

+ ∂y<br />

∂x3<br />

= 0<br />

= 0<br />

+e x1·x2 ·x 2 3 = 0,<br />

apesar do termo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ex1·x2 2 ·x3 .<br />

Porém<br />

∂3y +(<br />

∂x3∂x2∂x1<br />

∂2y ∂x2) 1<br />

2 +sin( ∂y<br />

) = 0<br />

∂x3<br />

não é linear.<br />

715


1. OBSERVAÇÕES GERAIS, TIPOS, SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS,<br />

SOLUÇÕES CLÁSSICAS 716<br />

Também<br />

é linear, embora<br />

(x 2 1 +x 3 2)· ∂y<br />

y · ∂y<br />

∂x2<br />

∂x2<br />

+ ∂y<br />

∂x1<br />

+ ∂y<br />

∂x1<br />

não seja linear.<br />

• Umaequaçãoéapenassemi-linear seélinearnas<strong>de</strong>rivadas<strong>de</strong>or<strong>de</strong>mmáxima.<br />

O exemplo anterior, apesar <strong>de</strong> não-linear, é semilinear. A semi-linearida<strong>de</strong><br />

já é uma informação importante, havendo técnicas para lidar com essas<br />

equações.<br />

• Alinearida<strong>de</strong>daoperação<strong>de</strong>tomar<strong>de</strong>rivadafazcomqueumaequação linear<br />

e homogênea <strong>de</strong>fina um operador linear LF:<br />

y ↦→ LF(y).<br />

= 0<br />

= 0<br />

Por exemplo, se F(x1,x2,y, ∂y ∂y ∂y<br />

,...) = 5· +3· x1 ∂x1 ∂x2<br />

a·y1 +b·y2 ↦→ LF(a·y1 +b·y2) :=<br />

:= 5· ∂(a·y1 +b·y2)<br />

∂x1<br />

= a·[5· ∂y1<br />

∂x1<br />

+3· ∂(a·y1 +b·y2)<br />

∂x2<br />

+3· ∂y<br />

]+b·[5·<br />

∂x2<br />

∂y2<br />

∂x1<br />

= a·LF(y1)+b·LF(y2).<br />

= 0 e se a,b ∈ R, temos:<br />

=<br />

+3· ∂y2<br />

] =<br />

∂x2<br />

Note que LF não seria linear se a equação F = 0 não fosse homogênea.<br />

• O importante <strong>de</strong>sta observação é que, quando a equação parcial F = 0 é<br />

linear e homogênea, ou seja, LF é operador linear, então as soluções y1 , y2<br />

<strong>de</strong> F = 0 po<strong>de</strong>m ser superpostas como a·y1+b·y2, produzindo outra solução.<br />

• Na linguagem da álgebra linear, a superposição <strong>de</strong> soluções diz que LF = 0<br />

<strong>de</strong>fineumsubespaçolinear(núcleo)doespaço<strong>de</strong>funçõeson<strong>de</strong>sepo<strong>de</strong>aplicar<br />

LF.<br />

Ao contrário do que acontecia com as equações diferenciais ordinárias, o<br />

espaço LF = 0 po<strong>de</strong> ser um espaço vetorial <strong>de</strong> dimensão infinita. A vasta<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha <strong>de</strong> soluções está na base <strong>de</strong> três conceitos:<br />

• i) a idéia <strong>de</strong> buscar soluções que são somas infinitas <strong>de</strong> soluções +∞<br />

n=1anyn (caso convirjam).<br />

• ii) o processo <strong>de</strong> separação <strong>de</strong> variáveis, em que se restringe a busca <strong>de</strong><br />

soluções y(x1,x2,...,xn) às da forma:<br />

y(x1,x2,...,xn) = y1(x1)·y2(x2)·...yn(xn).<br />

• iii) a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se impor condições iniciais ou <strong>de</strong> fronteira à solução<br />

y(x1,...,xn) para po<strong>de</strong>r ter unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções. Por exemplo, se uma das<br />

variáveis é temporal, t := xn, e se impõe condições iniciais<br />

y(x1,...,xn−1,0) = g(x1,...,xn)<br />

estamos num problema <strong>de</strong> Cauchy.


CAPÍTULO 47. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS 717<br />

Se impomos, na fronteira ∂U do domínio U ⊂ R n on<strong>de</strong> está <strong>de</strong>finida a<br />

equação, uma condição<br />

y|∂U = g<br />

estamos num problema <strong>de</strong> Dirichlet. Se impomos<br />

on<strong>de</strong> ∂y<br />

∂η<br />

∂y<br />

∂η |∂U<br />

= g,<br />

é a <strong>de</strong>rivada direcional na direção normal à fronteira ∂U, temos um<br />

problema <strong>de</strong> Neumann. Os problemas <strong>de</strong> Dirichlet e Neumann po<strong>de</strong>m ser<br />

combinados.<br />

DadaumaequaçãoF(x1,...,y, ∂y<br />

,......) = g(x1,...,xn)não-homogênea,<br />

x1<br />

ainda po<strong>de</strong>mos usar a parte homogênea <strong>de</strong>la para <strong>de</strong>finir um operador linear.<br />

• Apesar <strong>de</strong> que em geral po<strong>de</strong> acontecer que<br />

∂2f(x1,x2) =<br />

∂x1∂x2<br />

∂2f(x1,x2) ∂x2∂x1<br />

lidaremos sempre com funções paras as quais não importa a or<strong>de</strong>m em que<br />

se <strong>de</strong>riva. De acordo com o Lema <strong>de</strong> Schwartz, para isso é suficiente que f e<br />

suas <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> primeira e segunda or<strong>de</strong>m sejam contínuas. Serão<br />

chamadas soluções clássicas da equação.<br />

2. Equações parciais <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m e o método das características<br />

3. A Equação da difusão do Calor<br />

Nesta Seção tentei mo<strong>de</strong>lar a difusão 1 <strong>de</strong> Calor sem usar os elementos ∆x, ∆t dos<br />

livros <strong>de</strong> Física e Equações diferenciais, mas ao contrário usando alguns Teoremas <strong>de</strong><br />

Valor Médio.<br />

A heurística dos ∆x, ∆t é forte, mas se usamos ao contrário alguns Teoremas da<br />

Parte I do Curso aumentamos a unida<strong>de</strong> do texto.<br />

Experimentalmente se verifica que a trasmissão <strong>de</strong> Calor entre dois discos <strong>de</strong> área<br />

A, com temperaturas T1 e T2, postos a uma distância d é<br />

k ·A· |T2 −T1|<br />

,<br />

d<br />

on<strong>de</strong> a constante k > 0 <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do material dos discos. Essa lei experimental é<br />

associada a Fourier.<br />

Vamos pensar num problema essencialmente unidimensional, ou seja, em algo<br />

como um arame cuja seção transversal tem área constante A e pequena em relação ao<br />

comprimento. Ele será posto na direção do eixo dos x, com início em x = 0 e término<br />

em x = 2π.<br />

Pensaremos que a temperatura nos pontos do arame é da forma2 T(x,t),<br />

1 ou <strong>de</strong> substâncias químicas<br />

2 as funções envolvidas, temperatura, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, etc, serãosupostascom tantas<strong>de</strong>rivadas quanto<br />

necessário


3. A EQUAÇÃO DA DIFUSÃO DO CALOR 718<br />

ou seja, que é constante em cada seção transversal.<br />

Também pensaremos que o arame só troca calor com o ambiente pelas seções<br />

transversais inicial s0 e final s2π, estando no resto isolado termicamente.<br />

A taxa com que o Calor C passa pela seção transversal Sx0 do arame é:<br />

C ′ (x0) = −k ·A· ∂T<br />

∂x (x0,t),<br />

o que po<strong>de</strong> ser justificado fazendo d → 0 na lei experimental. O sinal negativo nos<br />

permite interpretar essa fórmula como dizendo que o fluxo <strong>de</strong> calor vai da esquerda<br />

para direita, se ∂T(x0,t)<br />

∂x < 0, enquanto que o fluxo <strong>de</strong> calor vai da direita para a<br />

esquerda, se ∂T > 0. ∂x<br />

Penso agora num pedaço do arame, que vai da seção transversal Sx0 até a seão<br />

transversal Sx1, e que simbolizo por A×[x0,x1].<br />

A taxa total com que o calor entra no pedaço A×[x0,x1] através da sua fronteira<br />

Sx0 ∪Sx1 é então:<br />

−k ·A· ∂T<br />

∂x (x0,t)+k ·A· ∂T<br />

∂x (x1,t) =<br />

= kA·( ∂T ∂T<br />

(x1,t)−<br />

∂x ∂x (x0,t)).<br />

A quantida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> calor que entra em A×[x0,x1] no tempo <strong>de</strong> t0 a t1 é:<br />

kA·<br />

t1<br />

t0<br />

( ∂T ∂T<br />

(x1,z)−<br />

∂x ∂x (x0,z))dz.<br />

Nesse intervalo <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> t0 a t1 cada ponto3 z ∈ A×[x0,x1] teve uma mudança<br />

<strong>de</strong> temperatura:<br />

T(z,t1)−T(z,t0).<br />

A variação média da temperatura <strong>de</strong> A×[x0,x1] nesse intervalo <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> t0 a t1<br />

é dada por: x1 1<br />

· T(z,t1)−T(z,t0)dz.<br />

x1 −x0<br />

x0<br />

O quanto mudou a temperatura em A × [x0,x1] <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Calor<br />

que entrou, que calculamos acima, mas também das proprieda<strong>de</strong>s físicas do material<br />

codificadas numa contante 1<br />

s e da massa <strong>de</strong> A×[x0,x1], que é dada por:<br />

x1<br />

x0<br />

ρ(x)·Adx,<br />

on<strong>de</strong> ρ = ρ(x) é a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> (que é suposta só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> x e não da temperatura).<br />

Isso se escreve então como:<br />

1<br />

x1 −x0<br />

·<br />

x1<br />

x0<br />

T(z,t1)−T(z,t0)dz = 1<br />

s ·<br />

= k<br />

s ·<br />

t1<br />

t0<br />

∂T<br />

∂x<br />

t1<br />

∂x<br />

t0 kA·(∂T<br />

∂T (x1,z)− ∂x (x0,z)dz<br />

x1<br />

x0 ρ(x)dx<br />

.<br />

(x1,z)− ∂T<br />

∂x (x0,z))dz<br />

x1<br />

x0 ρ(x)·Adx<br />

3 Assumimos que a temperatura <strong>de</strong> cada ponto da seção Sz é a mesma<br />

=


CAPÍTULO 47. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS 719<br />

logo<br />

Mas pelo Teorema do Valor Médio <strong>de</strong> Integrais:<br />

x1<br />

x0 T(z,t1)−T(z,t0)dz<br />

= T(ξ,t1)−T(ξ,t0) para algum ξ ∈ (x0,x1),<br />

x1 −x0<br />

T(ξ,t1)−T(ξ,t0)·<br />

x1<br />

Agora dividimos tudo por (t1 −t0)·(x1 −x0):<br />

x0<br />

T(ξ,t1)−T(ξ,t0)<br />

·<br />

t1 −t0<br />

(note que pu<strong>de</strong> pôr 1<br />

x1−x0<br />

ρ(x)dx = k<br />

s ·<br />

t1 ∂T ∂T<br />

(x1,z)−<br />

t0 ∂x ∂x (x0,z)dz.<br />

x1<br />

x0 ρ(x)dx<br />

x1 −x0<br />

= k<br />

s ·<br />

t1<br />

para <strong>de</strong>ntro da integral á direita).<br />

Agora o Teorema do Valor Médio <strong>de</strong> Integrais dá:<br />

x1<br />

x0 ρ(x)dx<br />

x1 −x0<br />

e o Teorema do Valor Médio <strong>de</strong> Lagrange dá:<br />

∂T ∂T (x1,z)− ∂x ∂x (x0,z)<br />

x1 −x0<br />

t0<br />

∂T ∂T<br />

(x1,z)− ∂x ∂x (x0,z)<br />

dz x1−x0<br />

t1 −t0<br />

= ρ(τ), para algum τ ∈ (x0,x1)<br />

= ∂2T ∂x2(ω,z), para algum ω ∈ (x0,x1)<br />

(que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> z, ω = ω(z) ∈ (x0,x1)).<br />

Portanto:<br />

T(ξ,t1)−T(ξ,t0)<br />

·ρ(τ) =<br />

t1 −t0<br />

k<br />

s ·<br />

t1 ∂<br />

t0<br />

2T ∂x2(ω,z)dz t1 −t0<br />

= ∂2T ∂x2(ω,η), para algum η ∈ (t0,t1),<br />

on<strong>de</strong> na última igulada<strong>de</strong> usei mais uma vez o Teorema do Valor médio <strong>de</strong> Integrais.<br />

Note agora que t1 → t0 implica que η → t0. Também note que x1 → x0 implica<br />

que:<br />

ξ → x0, τ → x0 e ω → x0.<br />

Portanto, fazendo t1 → t0 e x1 → x0 em<br />

obtemos em x = x0 e t = t0<br />

T(ξ,t1)−T(ξ,t0)<br />

t1 −t0<br />

Na literatura se costuma chamar:<br />

= k<br />

sρ(τ) · ∂2 T<br />

∂x 2(ω,η),<br />

∂T(x,t)<br />

(x,t) =<br />

∂t<br />

k<br />

sρ(x) · ∂2T(x,t) ∂x2 (x,t).<br />

α 2 := k<br />

sρ<br />

> 0.<br />

Isso que fizemos em dimensão 1 se generaliza a mais dimensões espaciais.<br />

=


4. PROBLEMAS DE ESFRIAMENTO UNIDIMENSIONAIS 720<br />

Por isso, a equação diferencial (parcial, linear, <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m) que rege a<br />

mudança da temperatura 4 T = T(x,y,t) é a chamada Equação da Difusão do Calor:<br />

ou se T = T(x,y,z,t) é:<br />

α 2 ·( ∂2 T<br />

α 2 ·( ∂2 T<br />

∂x 2 + ∂2 T<br />

∂x2 + ∂2T ∂T<br />

∂y2) =<br />

∂t<br />

∂y2 + ∂2T ∂T<br />

) =<br />

∂z2 ∂t .<br />

Esse coeficiente α 2 é muito pequeno para a água e alto para o cobre, por exemplo.<br />

Um exemplo. Para as funções f1 = −x 2 −y 2 , f2 = x 2 +y 2 e f3 = x 2 −y 2 a origem<br />

(0,0) é ponto <strong>de</strong> máximo, mínimo e <strong>de</strong> séla, respectivamente. E os Laplacianos são<br />

respectivamente :<br />

∂ 2 f1<br />

∂ 2 f2<br />

∂x2 + ∂2f1 = −4,<br />

∂y2 ∂x2 + ∂2f2 = 4<br />

∂y2 ∂x2 + ∂2f3 = 0.<br />

∂y2 Intuitivamente, a equação da difusão do calor diz que se o Laplaciano num ponto P é<br />

negativo, então num entorno <strong>de</strong> P há menos calor que em P e portanto a temperatura<br />

<strong>de</strong> P diminui; já se o Laplaciano num ponto P é positivo, então num entorno <strong>de</strong> P<br />

há mais calor que em P e portanto a temperatura <strong>de</strong> P aumenta.<br />

Quando se estabiliza a temperatura temos:<br />

∂2T ∂x2 + ∂2T = 0.<br />

∂y2 ou<br />

∂2T ∂x2 + ∂2T ∂y2 + ∂2T = 0<br />

∂z2 e essas equações serão estudadas no Capítulo 48.<br />

∂ 2 f3<br />

4. Problemas <strong>de</strong> esfriamento unidimensionais<br />

Problema 1 - homogêneo:<br />

Consi<strong>de</strong>re um arame isolado do ambiente, exceto pelos extremos, com uma distribuição<br />

<strong>de</strong> temperatura f(x), x ∈ [0,L] no tempo t = 0. Imagine que começa a<br />

sofrer resfriamento porque seus extremos são postos a 0 graueassim mantidos ∀t > 0.<br />

Por exemplo suponha que f(x) ≡ C = 0 no instante t = 0. Queremos <strong>de</strong>terminar<br />

T(x,t), a função temperatura no tempo t, on<strong>de</strong><br />

e<br />

T(x,0) = f(x) ≡ C > 0<br />

T(0,t) ≡ 0 e T(L,t) ≡ 0, ∀t > 0.<br />

É natural prever que ao longo do tempo cada ponto do arame ten<strong>de</strong>rá a ter temperatura<br />

zero. Mas queremos <strong>de</strong>terminar <strong>de</strong> modo quantitativamente exato como isso<br />

acontece.<br />

4 bem como outros processos <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> gase, etc, em meios homogêneos


CAPÍTULO 47. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS 721<br />

Pela equação do Calor:<br />

α 2 · ∂2T(x,t) ∂x2 = ∂T(x,t)<br />

.<br />

∂t<br />

Façamos a hipótese simplificadora <strong>de</strong> separação <strong>de</strong> variáveis:<br />

A equação do calor vira:<br />

α 2 · d2 T1(x)<br />

T(x,t) = T1(x)·T2(t).<br />

dx2 ·T2(t) = T1(x)· dT2(t)<br />

,<br />

dt<br />

ou seja, para x ∈ (0,L) e t > 0:<br />

1<br />

T1(x) · d2T1(x) 1 1 dT2(t)<br />

= · · .<br />

dx2 α2 T2(t) dt<br />

Como olado esquerdo só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>xeodireito só <strong>de</strong>t, para quehaja essa igualda<strong>de</strong><br />

ambos são constantes iguais ao mesmo λ ∈ R. Obtemos assim duas equações:<br />

e<br />

d 2 T1(x)<br />

dx 2 −λ·T1(x) = 0, com T1(0) = T1(L) = 0, T1 ≡ 0,<br />

dT2(t)<br />

dt −α2 λ·T2(t) = 0, T2(t) ≡ 0.<br />

Destas duas equações ordinárias, iniciaremos analisando a equação em x, pois ela<br />

está equipada <strong>de</strong> informação extra T1(0) = T1(L) = 0. As soluções <strong>de</strong><br />

d 2 T1(x)<br />

dx 2 −λ·T1(x) = 0, com T1(0) = T1(L) = 0, T1 ≡ 0,<br />

pela Afirmação 2.1 do Capítulo 40, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> λ:<br />

• i): se λ < 0, são da forma T1(x) = a·cos( √ −λ · x) + b · sin( √ −λ · x). As<br />

analisaremos a seguir.<br />

• ii): se λ = 0, são da forma T1(x) ≡ D · t + E, com D,E ∈ R. Mas como<br />

T1(0) = 0 então E = 0. Como T1(L) = 0 então T1(x) ≡ 0 e será <strong>de</strong>scartada.<br />

• iii): se λ > 0, são da forma T1(x) = a·e √ λ·x + b·e − √ λ·x . Como T1(0) = 0<br />

então a + b = 0. Como a · (e √ λ·L − e − √ λ·L ) = 0 então a = 0 ou √ λ = 0.<br />

Qualquer uma <strong>de</strong>ssas condições dá T1(x) ≡ 0. Descartado.<br />

Na situação que restou, ou seja, o item i):<br />

T1(x) = a·cos( √ −λ·x)+b·sin( √ −λ·x),<br />

para que tenhamos T1(0) = T1(L) = 0 precisamos que a = 0, pois 0 = T1(0) = a. E<br />

<strong>de</strong><br />

0 = T1(L) = b·sin( √ −λ·L)<br />

obtemos que<br />

√ −λ·L = π ·n, n ∈ N,<br />

ou seja que<br />

−λ = π2n2 .<br />

L2


4. PROBLEMAS DE ESFRIAMENTO UNIDIMENSIONAIS 722<br />

Em resumo, as soluções <strong>de</strong><br />

d 2 T1(x)<br />

dx 2 + π2 n 2<br />

L ·T1(x) = 0, com T1(0) = T1(2π) = 0, T1 ≡ 0<br />

são da forma:<br />

π ·n<br />

Bn ·sin(<br />

L ·x), n ∈ N, Bn ∈ R<br />

Voltando à segunda equação, ficamos com:<br />

cujas soluções são<br />

Afirmo que as somas finitas<br />

dT2(t)<br />

dt +α2π2 n 2<br />

L 2 ·T2(t) = 0, T2(t) ≡ 0,<br />

N<br />

n=1<br />

An ·e −α2 n2 π 2<br />

L 2 ·t , An ∈ R.<br />

Cn ·e −α2 n2π 2<br />

L2 ·t π ·n<br />

·sin(<br />

L ·x),<br />

(on<strong>de</strong> Cn = An ·Bn) são soluções.<br />

Isso se <strong>de</strong>ve à linearida<strong>de</strong> da equação diferencial parcial e também pela homogeneida<strong>de</strong><br />

da equação diferencial e da condição <strong>de</strong> contorno:<br />

T(0,t) = T(L,t) = 0.<br />

Mais ainda, se po<strong>de</strong> provar que a série infinita<br />

é solução da equação.<br />

Como:<br />

T(x,t) =<br />

+∞<br />

n=1<br />

C ≡ f(x) = T(x,0) =<br />

Cn ·e −α2 n2π 2<br />

L2 ·t π ·n<br />

·sin(<br />

L ·x)<br />

+∞<br />

n=1<br />

π ·n<br />

Cn ·sin(<br />

L ·x),<br />

reconhecemos os Cn como os coeficientes <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> senos da função<br />

constante f ≡ C, do Exemplo 1 da Seção 2 do Capítulo 46: Cn = 0 se n ∈ N é par e<br />

Cn = 4C se n ∈ N é ímpar.<br />

nπ<br />

Suponho para a figura a seguir o caso bem particular:<br />

C ≡ 1, L = π e α = 1.<br />

Na figura a seguir dou o truncamento até n = 11 <strong>de</strong><br />

com t = 1 1 1 1 1 , , , , 40 30 10 6 2 ,1<br />

T(x,t) = 4<br />

π ·<br />

+∞ 1<br />

2n−1<br />

n=1<br />

·e−(2n−1)2 ·t<br />

·sin((2n−1)·x)


CAPÍTULO 47. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS 723<br />

1<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

Problema 2 - não-homogêneo:<br />

0<br />

0.5 1 1.5 2 2.5 3<br />

Uma situação mais geral: um arame isolado do ambiente, exceto pelos extremos,<br />

com uma distribuição <strong>de</strong> temperatura f(x) ≡ C, x ∈ [0,L] no tempo t = 0, que<br />

começa a sofrer resfriamento segundo:<br />

Só que agora<br />

α 2 · ∂2 T(x,t)<br />

x<br />

∂x2 = ∂T(x,t)<br />

.<br />

∂t<br />

T(0,t) ≡ c < C e T(L,t) ≡ 0, ∀t > 0.<br />

Ou seja, a condição <strong>de</strong> fronteira não é mais homogênea.<br />

O que fazer ? Pois agora a soma <strong>de</strong> soluções ∀n que fizemos no Problema 1 já<br />

não é mais possível. A idéia é reduzir este Problema 2 a um problema do tipo do<br />

Problema 1, e usar aquela técnica.<br />

Para isso consi<strong>de</strong>re<br />

f(x) = − c<br />

L ·x+c,<br />

qu claramente satisfaz<br />

e obviamente<br />

pois f(x) não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> t.<br />

Consi<strong>de</strong>re<br />

f(0) = c, f(L) = 0,<br />

df<br />

dt ,<br />

d2f(x) ≡ 0<br />

dx2 ˆ<br />

T(x,t) := T(x,t)−f(x).


4. PROBLEMAS DE ESFRIAMENTO UNIDIMENSIONAIS 724<br />

Note que esta função recai no problema anterior, pois:<br />

α 2 ·<br />

∂2T(x,t) ˆ<br />

∂x2 = ∂T(x,t) ˆ<br />

∂t<br />

e<br />

T(0,t) ˆ = T(0,t)−f(0) = c−c = 0 e T(L,t) ˆ = T(L,t)−f(L) = 0,<br />

apenas a distribuição inicial <strong>de</strong> calor mudou, pois:<br />

T(x,0) ˆ = T(x,0)−f(x) = (C −c)+ c<br />

L ·x.<br />

Ou seja, no final da resolução do novo problema, segundo as técnicas que <strong>de</strong>-<br />

screvemos no Problema 1, teremos que calcular coeficientes <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> uma função<br />

linear: (C −c)+ c ·x. E <strong>de</strong>pois obtemos:<br />

L<br />

T(x,t) = ˆ T(x,t)+f(x).<br />

Note que os termos exponenciais <strong>de</strong> T(x,t) ˆ vão para zero quando t cresce e portanto<br />

os gráficos <strong>de</strong> T(x,t) - para cada t - ten<strong>de</strong>m ao d3 f(x).<br />

Para L = π, α = 1, os coeficientes <strong>de</strong> Fourier agora são<br />

Cn := 2<br />

π ·<br />

π<br />

((C −c)+<br />

0<br />

c<br />

L ·x)·sin(nx)dx<br />

e<br />

T(x,t) = − c<br />

L ·x+c+<br />

+∞<br />

Cn ·e −n2 ·t<br />

·sin(n·x).<br />

1<br />

40<br />

n=1<br />

Na figura a seguir usei C = 1 e c = 1<br />

2<br />

, 1<br />

30<br />

, 1<br />

10<br />

, 1<br />

6<br />

, 1<br />

2<br />

,1 e pus também o gráfico da reta − 1<br />

2π<br />

1<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0<br />

, truncamento em n = 11, com t =<br />

·x+ 1<br />

2 .<br />

0.5 1 1.5 2 2.5 3<br />

x


CAPíTULO 48<br />

O operador <strong>de</strong> Laplace e as equações do calor e da onda<br />

1. Laplaciano em coor<strong>de</strong>nadas polares e esféricas<br />

Precisaremos nas Seções seguintes expressar o Laplaciano, inicialmente dado em<br />

coor<strong>de</strong>nadascartesianas(x,y)ou(x,y,z)emcoor<strong>de</strong>nadaspolares(r,θ)ouemesféricas<br />

(ρ,θ,φ).<br />

Este último sistema põe<br />

A figura a seguir mostra bem que:<br />

0 ≤ ρ, 0 ≤ θ2π e 0 ≤ φ < π.<br />

x = (ρsin(φ))·cos(θ), y = (ρsin(φ))·sin(θ) e z = ρcos(φ).<br />

x<br />

Afirmação 1.1.<br />

i): Seja y = f(x,y) com <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m contínuas1 .<br />

O Laplaciano ∂2f ∂x2 + ∂2f ∂y2 se escreve em cor<strong>de</strong>nadas polares (r,θ) como:<br />

1<br />

r2 ∂2 ∂f<br />

f 1 ∂(r · ∂r + ·<br />

∂θ2 r )<br />

.<br />

∂r<br />

ii): Seja y = f(x,y,z) com <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m contínuas.<br />

1 Para que possamos usar ∂ 2 f<br />

∂x∂y = ∂2 f<br />

∂y∂x<br />

θ<br />

z<br />

φ<br />

ρ<br />

725<br />

y


1. LAPLACIANO EM COORDENADAS POLARES E ESFÉRICAS 726<br />

O Laplaciano ∂2 f<br />

∂x 2 + ∂2 f<br />

∂y 2 + ∂2 f<br />

∂z 2 se escreve em cor<strong>de</strong>nadas esféricas (r,θ,φ), com<br />

0 < φ < π, como:<br />

∂2f 2 ∂f<br />

+ ·<br />

∂ρ2 ρ ∂ρ<br />

+ 1<br />

ρ2 · ∂2f ∂φ<br />

cot(φ)<br />

+ 2 ρ2 ∂f<br />

∂φ +<br />

1<br />

ρ2sin 2 (φ) · ∂2f ∂θ2. Demonstração.<br />

De i):<br />

Temos<br />

x = x(r,θ) = rcos(θ) e y = y(r,θ) = rsin(θ),<br />

logo<br />

f(x,y) = f(x(r,θ),y(r,θ))<br />

e pela regra da composta em duas variáveis:<br />

∂f<br />

∂θ<br />

∂f ∂x ∂f<br />

= · +<br />

∂x ∂θ ∂y<br />

· ∂y<br />

∂θ =<br />

= − ∂f ∂f<br />

·sin(θ)r+<br />

∂x ∂y ·cos(θ)r.<br />

Para que o que segue fique mais claro, lembre que:<br />

∂f ∂f<br />

(x,y) =<br />

∂x ∂x (x(r,θ),y(r,θ))<br />

∂f ∂f<br />

(x,y) =<br />

∂y ∂y (x(r,θ),y(r,θ)).<br />

e daí:<br />

Também:<br />

∂ 2 f<br />

∂θ 2 = − ∂2 f<br />

∂x∂θ<br />

∂f<br />

·sin(θ)r−<br />

∂x ·cos(θ)r+ ∂2f ∂f<br />

·cos(θ)r−<br />

∂y∂θ ∂y<br />

·sin(θ)r =<br />

= −[ ∂2f ∂x2 ·(−sin(θ)r)+ ∂2f ∂f<br />

cos(θ)r]·sin(θ)r−<br />

∂x∂y ∂x ·cos(θ)r+<br />

+[ ∂2f ∂y∂x ·(−sin(θ)r)+ ∂2f ∂f<br />

cos(θ)r]·cos(θ)r − ·sin(θ)r =<br />

∂y2 ∂y<br />

Por outro lado,<br />

= ∂2 f<br />

∂x 2 sin2 (θ)r 2 + ∂2 f<br />

∂y 2 cos2 (θ)r 2 −2· ∂2 f<br />

∂x∂y sin(θ)cos(θ)r2 −<br />

r · ∂f<br />

∂r<br />

− ∂f ∂f<br />

·cos(θ)r−<br />

∂x ∂y ·sin(θ)r.<br />

∂f<br />

= r·(∂f ·cos(θ)+<br />

∂x ∂y ·sin(θ))<br />

∂(r · ∂f<br />

∂r )<br />

=<br />

∂r<br />

∂f ∂f<br />

·cos(θ)+<br />

∂x ∂y ·sin(θ)+rcos(θ) ∂2f ∂x∂r +rsin(θ) ∂2f ∂y∂r =<br />

= ∂f ∂f<br />

cos(θ)+<br />

∂x ∂y ·sin(θ)+ ∂2f ∂x2 ·rcos2 (θ)+ ∂2f ∂y2 ·rsin2 (θ)+2· ∂2f ∂x∂y sin(θ)cos(θ)r.


CAPÍTULO 48. O OPERADOR DE LAPLACE E AS EQUAÇÕES DO CALOR<br />

E DA ONDA 727<br />

Agora é só fazer a soma e obter:<br />

1<br />

r 2<br />

∂2f 1<br />

+<br />

∂θ2 r<br />

∂f<br />

∂(r · ∂r · )<br />

=<br />

∂r<br />

∂2f ∂x2 + ∂2f ∂y2. De ii):<br />

Contas mais longas, mas do mesmo estilo, agora usando que:<br />

x = ρsin(φ)cos(θ), y = ρsin(φ)sin(θ) e z = ρcos(φ).<br />

2. Estado estacionário do calor num disco e expansão em séries <strong>de</strong><br />

Fourier<br />

Esta Seção 2eapróxima Seção4têmumbocado<strong>de</strong>heurística, eváriasafirmações<br />

sem prova. Mas mostra como a teoria <strong>de</strong> equações diferenciais parciais está ligada a<br />

problemas físicos concretos, bem como conecta a teoria com coisas já aprendidas no<br />

Curso. 11<br />

Minhas referências são o livro do Simmons, Differential equations, <strong>de</strong> H. F. Davis,<br />

Fourier series and orthogonal functions e <strong>de</strong> Boyce-diPrima.<br />

Imagine uma disco maciço <strong>de</strong> raio 1 feito <strong>de</strong> material homogêneo, cujos pontos<br />

serão parametrizados em coor<strong>de</strong>nadas polares 0 ≤ r ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ 2π.<br />

Imagine agora que o círculo <strong>de</strong> raio 1 que é a fronteira é mantido aquecido, <strong>de</strong> tal<br />

modo que sua temperatura é dada por uma função:<br />

f = f(θ), 0 ≤ θ ≤ 2π.<br />

E suponha que isso é feito até que a temperatura no interior do disco não mu<strong>de</strong> mais.<br />

Nesse momento a temperatura T(r,θ) do disco anula o Laplaciano em coor<strong>de</strong>nadas<br />

polares:<br />

1<br />

r2 ∂2 ∂T<br />

T 1 ∂(r · ∂r + ·<br />

∂θ2 r )<br />

= 0<br />

∂r<br />

Queremos resolver esta equação, com a condição (chamada condição <strong>de</strong> fronteira)<br />

T(1,θ) = f(θ),<br />

e para isso fazemos ainda mais uma suposição, <strong>de</strong> separação <strong>de</strong> variáveis, ou seja, <strong>de</strong><br />

que 2 :<br />

T(r,θ) = T1(r)·T2(θ).<br />

Então a equação que queremos resolver vira:<br />

0 = 1<br />

r2 ·T1(r)· d2T2(θ) 1 dT1(r)<br />

+ ·T2(θ)·<br />

dθ2 r dθ +T2(θ)· d2T1(r) dr2 ,<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se obtem, após multiplicar por r2 :<br />

1<br />

T1(r) ·(r2 · d2T1(r) dT1(r)<br />

+r · ) =<br />

dr2 dr<br />

−1<br />

T2(θ) · d2T2(θ) dθ2 .<br />

2 são as aplicações físicas que justificam essas suposições


2. ESTADO ESTACIONÁRIO DO CALOR NUM DISCO E EXPANSÃO EM<br />

SÉRIES DE FOURIER 728<br />

A observação agora é que o lado direito é função apenas <strong>de</strong> θ enquanto o esquerdo é<br />

função apenas <strong>de</strong> r. A conclusão é que ambos são constantes = λ ∈ R. O que produz<br />

duas equações diferenciais ordinárias:<br />

e<br />

r 2 · d2T1(r) dT1(r)<br />

+r ·<br />

dr2 dr −λ·T1(r) = 0,<br />

d 2 T2(θ)<br />

dθ 2 +λ·T2(θ) = 0.<br />

As soluções <strong>de</strong>sta última equação, <strong>de</strong> acordo com a Afirmação 2.1 do Capítulo 40 são<br />

da forma:<br />

• i): T2(θ) = a·e √ −λ·x +b·e − √ −λ·x se λ < 0. Mas queremos que T2(θ) tenha<br />

período 2π. Logo excluímos essa possibilida<strong>de</strong>.<br />

• ii): T2(θ) = a · x + b, se λ = 0. Só será periódica, e <strong>de</strong> fato constante, se<br />

a = 0.<br />

• iii): T2(θ) = a·cos( √ λ·θ)+b·sin( √ λ·θ), se λ > 0, que são periódicas.<br />

Só que se tomamos, no Caso ii), λ = 0 então a equação (<strong>de</strong> Euler)<br />

vira:<br />

r 2 · d2T1(r) dT1(r)<br />

+r·<br />

dr2 dr −λ·T1(r) = 0<br />

r 2 · d2 T1(r)<br />

dT1(r)<br />

+r · = 0,<br />

dr2 dr<br />

cuja solução, pela Afirmação 1.1 do Capítulo 40, é:<br />

T1(r) = c+d·ln(r);<br />

se d = 0 essas soluções não ficam limitadas quando r → 0, o que é inaceitável do<br />

ponto <strong>de</strong> vista da situação física tratada. Mas se d = 0 então a conclusão geral é que:<br />

T(r,θ) = T1(r)·T2(θ) ≡ c·a<br />

é uma função constante.<br />

No Caso iii), para termos T2(θ) com período 2π, o √ λ > 0 tem <strong>de</strong> ser<br />

√ λ = n ∈ N,<br />

11 ou seja,<br />

A equação <strong>de</strong> Euler<br />

r 2 · d2 T1(r)<br />

λ = n 2 .<br />

dT1(r)<br />

+r ·<br />

dr2 dr −λ·T1(r) = 0,<br />

cuja equação asssociada é r 2 = n 2 , <strong>de</strong> acordo com a Afirmação 1.1 do Capítulo 40,<br />

tem soluções:<br />

T1(r) = a·r n +b·r −n ,<br />

só que a parte r −n fica ilimitada quando r → 0 e é abandonada.<br />

Portanto, a conclusão é que funções do tipo:<br />

Tn = a·r n ·cos(n·θ)+b·r n ·cos(n·θ), n ∈ N<br />

são soluções das equações que nos interessam.


CAPÍTULO 48. O OPERADOR DE LAPLACE E AS EQUAÇÕES DO CALOR<br />

E DA ONDA 729<br />

A idéia é buscar para a solução <strong>de</strong>sejada combinações lineares <br />

nanTn <strong>de</strong>ssas<br />

soluções e, <strong>de</strong> fato, séries infinitas do tipo:<br />

Como<br />

T(r,θ) = a0 +<br />

+∞<br />

n=1<br />

f(θ) = T(1,θ) = a0 +<br />

r n ·(ancos(nθ)+bnsin(nθ)).<br />

+∞<br />

n=1<br />

ancos(nθ)+bnsin(nθ),<br />

reconhecemos aí uma Série <strong>de</strong> Fourier, para a qual sabemos que 3 :<br />

e<br />

a0 := 1<br />

2π ·<br />

2π<br />

0<br />

f(φ)dφ,<br />

an := 1<br />

π ·<br />

2π<br />

f(φ)cos(nφ)dφ e bn :=<br />

0<br />

1<br />

π ·<br />

2π<br />

f(φ)sin(nφ)dφ.<br />

0<br />

3. A fórmula integral <strong>de</strong> Poisson<br />

Concluímos na Seção anterior que a temperatura no disco unitário em estado<br />

estacionário é dada em coor<strong>de</strong>nadas polares por:<br />

T(r,θ) = a0 +<br />

+∞<br />

n=1<br />

= 1<br />

2π +∞<br />

f(φ)dφ+<br />

2π 0<br />

n=1<br />

2π<br />

r n ·(ancos(nθ)+bnsin(nθ)) =<br />

r n ·( 1<br />

π<br />

2π<br />

0<br />

f(φ)cos(nφ)dφ·cos(nθ)+<br />

+ 1<br />

f(φ)sin(nφ)dφ·sin(nθ))),<br />

π 0<br />

on<strong>de</strong> f = f(θ) é a temperatura no círculo unitário.<br />

Tomando r ≤ r < 1 po<strong>de</strong>mos garantir a convergência em módulo e uniforme da<br />

série e trocar a or<strong>de</strong>m entre a integração e a soma infinita. Assim obtemos<br />

T(r,θ) = 1<br />

π<br />

2π<br />

0<br />

f(φ)·[ 1<br />

2 +<br />

+∞<br />

n=1<br />

r n ·(cos(nφ)cos(nθ)+sin(nφ)sin(nθ))]dφ =<br />

= 1<br />

2π<br />

f(φ)·[<br />

π 0<br />

1<br />

2 +<br />

+∞<br />

r<br />

n=1<br />

n ·cos(n(φ−θ))]dφ.<br />

Para continuarmos faremos uma incursão sobre os números Complexos e séries infinitas<br />

Complexas.<br />

Suponha que para um número complexo com |z| < 1 faça sentido e convirja a<br />

série geométrica complexa:<br />

+∞<br />

z n = 1<br />

1−z .<br />

n=0<br />

3 uso φ ao invés da variável t pois φ lembra a variável θ enquanto que t evocaria o tempo


3. A FÓRMULA INTEGRAL DE POISSON 730<br />

Ou seja, que valha:<br />

+∞<br />

n=1<br />

z n = 1 z<br />

−1 =<br />

1−z 1−z .<br />

Agora escreva z com |z| < 1 na forma polar:<br />

Portanto:<br />

Mas vale:<br />

portanto:<br />

z = r·e Iψ := r ·(cos(ψ)+I ·sin(ψ)), 0 ≤ r < 1, 0 ≤ ψ < 2π.<br />

1<br />

2 +<br />

+∞<br />

z<br />

n=1<br />

n = 1 z<br />

+<br />

2 1−z =<br />

= 1 1−z<br />

+z · =<br />

2 |1−z| 2<br />

= 1<br />

2 +(rcos(ψ)+Irsin(ψ))·<br />

1−rcos(ψ)+Irsin(ψ)<br />

=<br />

|1−r ·cos(ψ)−Irsin(ψ)| 2<br />

= 1<br />

2 + rcos(ψ)−r2 +Irsin(ψ)<br />

1+r 2 =<br />

−2rcos(ψ)<br />

= 1−r2 +I ·2rsin(ψ)<br />

2·(1+r 2 −2rcos(ψ)) .<br />

z n = r n ·(cos(nψ)+I ·sin(nψ))<br />

1<br />

2 +<br />

+∞<br />

z<br />

n=1<br />

n = 1<br />

2 +<br />

+∞<br />

r<br />

n=1<br />

n +∞<br />

·cos(nψ)+I · r<br />

n=1<br />

n ·sin(nψ) =<br />

1−r<br />

=<br />

2<br />

2·(1+r 2 2rsin(ψ)<br />

+I ·<br />

−2rcos(ψ)) 2·(1+r 2 −2rcos(ψ)) .<br />

Comparando as partes Real e Imaginária obtemos:<br />

1<br />

2 +<br />

+∞<br />

n=1<br />

r n ·cos(nψ) =<br />

Assim termina a incursão sobre os complexos.<br />

Fazendo<br />

ψ = φ−θ<br />

então a integral que tínhamos obtido:<br />

T(r,θ) = 1<br />

π<br />

2π<br />

po<strong>de</strong> ser reescrita agora como:<br />

on<strong>de</strong> fizemos<br />

0<br />

T(r,θ) = 1<br />

2π<br />

K(r,θ,φ) :=<br />

f(φ)·[ 1<br />

2 +<br />

2π<br />

0<br />

1−r 2<br />

2·(1+r 2 −2rcos(ψ)) .<br />

+∞<br />

n=1<br />

r n ·cos(n(φ−θ))]dφ<br />

f(φ)·K(r,θ,φ)dφ,<br />

1−r 2<br />

1+r 2 −2rcos(φ−θ) ;


CAPÍTULO 48. O OPERADOR DE LAPLACE E AS EQUAÇÕES DO CALOR<br />

E DA ONDA 731<br />

este é o núcleo <strong>de</strong> Poisson no disco unitário e que facilmente se generaliza para discos<br />

<strong>de</strong> raio R como<br />

K(r,θ,φ,R) :=<br />

R 2 −r 2<br />

R 2 +r 2 −2rRcos(φ−θ) .<br />

Ouseja que, paraexpressarmos a solução do problema <strong>de</strong> distribuição estacionária<br />

<strong>de</strong>calornodiscoT(r,θ)bastafazermosaintegraldoprodutodatemperaturanobordo<br />

com o núcleo <strong>de</strong> Poisson. Essa idéia se generaliza para outros domínios que não são<br />

discos.<br />

4. Estado estacionário do calor na esfera e série <strong>de</strong> polinômios <strong>de</strong><br />

Legendre<br />

A equação diferencial parcial (linear, <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m) que rege a mudança da<br />

temperatura 4 T = T(x,y,z,t) é:<br />

k 2 ·( ∂2 T<br />

∂x 2 + ∂2 T<br />

∂y2 + ∂2T ∂T<br />

) =<br />

∂z2 ∂t .<br />

Ou seja, se o Laplaciano num ponto P é negativo, então num entorno <strong>de</strong> P há<br />

menos calor que em P e portanto a temperatura <strong>de</strong> P diminui; já se o Laplaciano<br />

num ponto P é positivo, então num entorno <strong>de</strong> P há mais calor que em P e portanto<br />

a temperatura <strong>de</strong> P aumenta.<br />

Quando se estabiliza a temperatura temos:<br />

∂2T ∂x2 + ∂2f ∂y2 + ∂2f = 0.<br />

∂z2 Imagineumabolamaciça<strong>de</strong>raio1feita<strong>de</strong>materialhomogêneo, cujospontosserão<br />

parametrizados em coor<strong>de</strong>nadas esféricas por 0 ≤ ρ ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ 2π e 0 ≤ φ ≤ π.<br />

Imagine agora que a superfície da bola é mantida aquecida, <strong>de</strong> tal modo que a<br />

temperatura na superfície é dada por uma função f(1,θ,φ), que para simplificar,<br />

vamos supôr é constante ao logo <strong>de</strong> cada meridiano, ou seja,<br />

f(1,θ,φ) = f(φ), 0 ≤ φ ≤ π.<br />

E suponha que isso é feito até que a temperatura no interior da esfera não mu<strong>de</strong><br />

mais. Nesse momento a temperatura T(ρ,θ,φ) da esfera, que suponho da forma<br />

T(ρ,φ), anula o Laplaciano em coor<strong>de</strong>nadas esféricas:<br />

∂2T 2 ∂T<br />

+ ·<br />

∂ρ2 ρ ∂ρ<br />

+ 1<br />

ρ2 · ∂2T ∂φ<br />

cot(φ)<br />

+ 2 ρ2 ∂T<br />

∂φ<br />

= 0.<br />

(expressão mais simples que na Afirmação 1.1 pois T(ρ,φ) in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>de</strong> <strong>de</strong> θ).<br />

Isso po<strong>de</strong> ser escrito, multiplicando por ρ 2 , se 0 < φ < π, como:<br />

ρ 2 · ∂2T ∂T<br />

+2ρ·<br />

∂ρ2 = ∂(ρ2 · ∂T<br />

∂ρ )<br />

+<br />

∂ρ<br />

1<br />

sin(φ)<br />

∂ρ + ∂2T cos(φ)<br />

+<br />

∂φ2 sin(φ)<br />

· ∂(sin(φ)· ∂T<br />

∂φ )<br />

∂φ<br />

4 bem como alguns processos <strong>de</strong> difusão em meios homogêneos<br />

· ∂T<br />

∂φ =<br />

= 0.


4. ESTADO ESTACIONÁRIO DO CALOR NA ESFERA E SÉRIE DE<br />

POLINÔMIOS DE LEGENDRE 732<br />

Agora queremos resolver esta equação, com a condição (chamada condição <strong>de</strong><br />

fronteira)<br />

T(1,φ) = f(φ),<br />

e para isso fazemos ainda mais uma suposição, como na Seção anterior, <strong>de</strong> separação<br />

<strong>de</strong> variáveis, ou seja, <strong>de</strong> que 5 :<br />

T(ρ,φ) = T1(ρ)·T2(φ).<br />

Então a equação que queremos resolver vira:<br />

0 = 2ρ·T2(φ)· dT1(ρ)<br />

dρ +ρ2 ·T2(φ)· d2T1(ρ) dρ2 +T1(ρ)· d2T2(φ) cos(θ)<br />

+<br />

dφ2 sin(θ)<br />

o que po<strong>de</strong> ser re-escrito como:<br />

·T1(ρ)· dT2(φ)<br />

dφ ,<br />

1 dT1(ρ)<br />

·[2ρ·<br />

T1(ρ) dρ +ρ2 · d2T1(ρ) dρ2 ] = −1<br />

T2(φ) ·[cos(θ)<br />

dT2(φ)<br />

·<br />

sin(θ) dφ + d2T2(φ) dφ2 ].<br />

Como na Seção anterior, a observação agora é que o lado direito é função apenas <strong>de</strong><br />

φ enquanto o esquerdo é função apenas <strong>de</strong> ρ.<br />

A conclusão é que ambos são constantes = λ ∈ R. O que produz duas equações<br />

diferenciais ordinárias:<br />

e<br />

A equação<br />

ρ 2 · d2T1(ρ) dT1(ρ)<br />

+2ρ·<br />

dρ2 dρ −λ·T1(ρ) = 0<br />

d2T2(φ) cos(θ) dT2(φ)<br />

+ ·<br />

dφ2 sin(θ) dφ +λ·T2(φ) = 0.<br />

ρ 2 · d2T1(ρ) dT1(ρ)<br />

+2ρ·<br />

dρ2 dρ −λ·T1(ρ) = 0<br />

é uma equação <strong>de</strong> Euler, que tratamos na Afirmação 1.1 do Capítulo 40.<br />

A equação indicial associada é:<br />

ou seja, cujas raízes r1,r2 são:<br />

r(r−1)+2·r−λ = 0<br />

−1± √ 1+4λ<br />

.<br />

2<br />

Se fosse 1 + 4λ = 0 então a Afirmação 1.1 do Capítulo 40 diria que as soluções<br />

são da forma:<br />

T1(ρ) = a·ρ −1<br />

2 +b·ln(ρ)·ρ −1 2.<br />

Mas este tipo <strong>de</strong> solução não é limitada quando ρ → 0 e não tem significado físico<br />

relevante.<br />

Agora se 1+4λ < 0, então<br />

r1 = −1<br />

2<br />

+I ·<br />

−(1+4λ)<br />

5 são as aplicações físicas que justificam essas suposições<br />

2<br />

e r2 = r1, on<strong>de</strong> I = √ −1


CAPÍTULO 48. O OPERADOR DE LAPLACE E AS EQUAÇÕES DO CALOR<br />

E DA ONDA 733<br />

e novamente a Afirmação 1.1 do Capítulo 40 diria que as soluções são da forma:<br />

T1(ρ) = a·ρ −1<br />

<br />

−(1+4λ)<br />

2 ·cos( ln(ρ))+b·ρ<br />

2<br />

−1<br />

<br />

−(1+4λ)<br />

2 ·sin( ln(ρ)).<br />

2<br />

Novamente soluções sem sentido físico, pois não são limitadas quando ρ → 0.<br />

Resta então que:<br />

1+4λ > 0<br />

e que, pela mesma Afirmação, as soluções são da forma:<br />

T1(ρ) = a·ρ −1+√ 1+4λ<br />

2 +b·ρ −1−√ 1+4λ<br />

2 .<br />

Para que haja limitação na solução quando ρ → 0, imponho que:<br />

−1+ √ 1+4λ<br />

> 0<br />

2<br />

e faço b = 0, ficando então comanda<br />

T1(ρ) = a·ρ −1+√ 1+4λ<br />

2 .<br />

Agora se faz a suposição <strong>de</strong> que o número:<br />

−1+ √ 1+4λ<br />

> 0<br />

2<br />

seja da forma<br />

−1+ √ 1+4λ<br />

= n ∈ {0}∪N<br />

2<br />

ou seja, <strong>de</strong> que:<br />

λ = n·(n+1)<br />

e<br />

T1(ρ) = a·ρ n , n ∈ N.<br />

Retornando á segunda equação:<br />

d2T2(φ) cos(θ) dT2(φ)<br />

+ ·<br />

dφ2 sin(θ) dφ +λ·T2(φ) = 0,<br />

esta agora se escreve:<br />

Agora façamos:<br />

d2T2(φ) cos(θ) dT2(φ)<br />

+ ·<br />

dφ2 sin(θ) dφ +n(n+1)·T2(φ) = 0.<br />

τ = cos(φ) e φ = arccos(τ), on<strong>de</strong> φ ∈ (0,π),<br />

e portanto a última equação po<strong>de</strong> ser re-escrita:<br />

d2T2(φ) +<br />

dφ2 Por outro lado, como T2 = T2(φ(τ)):<br />

dT2<br />

dτ<br />

τ dT2(φ)<br />

√ ·<br />

1−τ 2 dφ +n(n+1)·T2(φ) = 0.<br />

= dT2<br />

dφ<br />

· dφ<br />

dτ<br />

= dT2<br />

dφ<br />

·( −1<br />

√ 1−τ 2 )


4. ESTADO ESTACIONÁRIO DO CALOR NA ESFERA E SÉRIE DE<br />

POLINÔMIOS DE LEGENDRE 734<br />

e<br />

De on<strong>de</strong> se obtêm:<br />

d2T2 1<br />

=<br />

dτ2 1−τ 2<br />

d2T2 −<br />

dφ2 τ<br />

(1−τ 2 ) 3<br />

2<br />

dT2<br />

dφ .<br />

(1−τ 2 )· d2T2 −2τdT2<br />

dτ2 dτ +n(n+1)T2 =<br />

= d2T2(φ) τ<br />

+ √<br />

dφ2 1−τ 2<br />

nossa equação. Agora reconhecemos em<br />

· dT2(φ)<br />

dφ +n(n+1)·T2(φ) = 0,<br />

(1−τ 2 )· d2T2 −2τdT2<br />

dτ2 dτ +n(n+1)T2 = 0<br />

a equação <strong>de</strong> Legendre do Capítulo 41.<br />

Como mais uma vez queremos que T2(τ) fique limitada para<br />

−1 ≤ τ ≤ 1 ou seja 0 ≤ φ ≤ π,<br />

então temos que tomar as soluções limitadas em [−1,1] da Equação <strong>de</strong> Legendre<br />

(1−τ 2 )· d2T2 −2τdT2<br />

dτ2 dτ +n(n+1)T2 = 0,<br />

ou seja, como se po<strong>de</strong> provar, :<br />

T2(τ) = a·Pn(τ) = a·Pn(cos(φ)),<br />

on<strong>de</strong> Pn é o n-ésimo polinômio <strong>de</strong> Legendre. Isso para cada n = 0,1,2,3,..., portanto<br />

pelo que vimos encontramos soluções particulares da forma:<br />

Tn = an ·ρ n ·Pn(cos(φ)), an ∈ R.<br />

Pela linearida<strong>de</strong> do Laplaciano, o que faz é somar essas soluções particulares Tn,<br />

mais propriamnte, se consi<strong>de</strong>ra uma série infinita como candidata a solução:<br />

e como foi dada<br />

T(ρ,φ) :=<br />

então teríamos como consequência<br />

ou seja,<br />

f(φ) =<br />

+∞<br />

n=0<br />

an ·ρ n ·Pn(cos(φ));<br />

f(φ) = T(1,φ)<br />

+∞<br />

an ·Pn(cos(φ)),<br />

n=0<br />

f(arccos(τ)) =<br />

+∞<br />

an ·Pn(τ).<br />

n=0


CAPÍTULO 48. O OPERADOR DE LAPLACE E AS EQUAÇÕES DO CALOR<br />

E DA ONDA 735<br />

Baseados na ortogonalida<strong>de</strong> dos polinômios <strong>de</strong> Legendre Pn(τ) (Seção 5 do Capítulo<br />

40) e imitando o que fizemos para <strong>de</strong>terminar os coeficientes das séries <strong>de</strong> Fourier, se<br />

po<strong>de</strong> provar que6 que:<br />

an = (n+ 1<br />

2 )·<br />

1<br />

−1<br />

f(arccos(τ))·Pn(τ)dτ.<br />

Por esta razão os polinômios <strong>de</strong> Legendre são chamados <strong>de</strong> harmônicos esféricos.<br />

Exemplo:<br />

Consi<strong>de</strong>rei uma fatia da bola <strong>de</strong> raio 1, aquela quando θ = π<br />

2<br />

, pois nesse caso:<br />

x = ρsin(φ)cos( π<br />

) = 0, y = ρsin(φ)sin(π)<br />

= ρsin(φ) e z = ρcos(φ),<br />

2 2<br />

a fatia obtida cortando com o plano x = 0 no espaço.<br />

Variando agora φ <strong>de</strong> 0 a π estamos indo do pólo Norte ao Sul, pois z = ρcos(φ).<br />

Então pensei numa função f(φ) que dá a temperatura na superfície que imite o<br />

que acontece na temperatura do globo terrestre, em que há temperaturas negativas<br />

no Norte e no Sul e com máximas em geral no equador, φ = π<br />

2 :<br />

que tem:<br />

f(φ) = 1−(φ− π2<br />

,<br />

)<br />

f(0) = f(π) = 1− π2<br />

≈ −1.4 e f(π)<br />

= 1.<br />

4 2<br />

Fiz no Maple approximações numéricas dos coeficientes a0,...,a6 e obtive<br />

T(ρ,φ) ≈<br />

6<br />

an ·ρ n ·Pn(cos(φ)) ≈<br />

n=0<br />

≈ 0.5325988995−0.830526869410 −14 ·ρ·cos(φ)−1.111111111·ρ 2 ·(− 1<br />

2 +3<br />

2 cos(φ)2 )−<br />

−0.122388411110 −14 ·ρ 3 ·( 5<br />

2 cos(φ)3 − 3<br />

2 cos(φ))−0.3200000000·ρ4 ·( 3<br />

8 +35<br />

8 cos(φ)4 − 15<br />

4 cos(φ)2 )−<br />

−0.391484685610 −15 ·ρ 5 ·( 63<br />

8 cos(φ)5 − 35<br />

4 cos(φ)3 + 15<br />

8 cos(φ))−<br />

−0.1509297052·ρ 6 ·(− 5 231<br />

+<br />

16 16 cos(φ)6 − 315<br />

16 cos(φ)4 + 105<br />

16 cos(φ)2 ).<br />

Também esta aproximação T(ρ,φ) dá que:<br />

6 se f((arccos(τ)) for tratável<br />

limT(ρ,φ)<br />

≈ 0.5325988995.<br />

ρ→0


5. EXERCÍCIOS 736<br />

5. Exercícios<br />

Exercício 5.1. i) Seja U(x,y) = − 1 √<br />

x2 +y2 um potencial gravitacional no plano (x,y)<br />

<strong>de</strong> uma partícula com massa situada na origem . Mostre que no plano fora da origem:<br />

∇U =<br />

1<br />

.<br />

1<br />

ii) Seja V(x,y,z) = −√ x2 +y2 +z2 (x 2 +y 2 ) 3<br />

2<br />

um potencial gravitacional no espaço (x,y,x) <strong>de</strong><br />

uma partícula com massa situada na origem . Mostre que no espaço fora da origem<br />

∇V ≡ 0.


CAPíTULO 49<br />

Equação da onda e as vibrações <strong>de</strong> cordas e membranas<br />

1. Vibração <strong>de</strong> uma corda com extremos fixos, sem atrito<br />

Consi<strong>de</strong>ro uma corda <strong>de</strong> comprimento L presa nos extremos (a corda está posta<br />

no eixo dos x com extremos em 0 e L), com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> constante ρ e submentida a<br />

uma tensão T. Vamos supor que seus pontos se <strong>de</strong>slocam apenas na direção vertical<br />

e que a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>slocamento é pequena.<br />

Sem <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter na obtenção da equação diferencial, postulo que o <strong>de</strong>slocamento<br />

vertical y(x,t) satisfaz:<br />

∂2y(x,t) 1<br />

=<br />

∂x2 k2 · ∂2y(x,t) ∂t2 , on<strong>de</strong><br />

As condições iniciais do problema são:<br />

y(x,0) = g(x) e<br />

∂y(x,0)<br />

∂t<br />

1 ρ<br />

=<br />

k2 T .<br />

= h(x),<br />

que dão um formato e uma velocida<strong>de</strong> inicial à corda.<br />

As condições que que expressam o fato dos extremos estarem fixos são:<br />

y(0,t) = y(L,t) = 0, ∀t ≥ 0<br />

e<br />

∂y(0,t) ∂y(L,t)<br />

= = 0, ∀t ≥ 0.<br />

∂x ∂x<br />

O problema é <strong>de</strong>screver o que acontece para t > 0, on<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>alização do problema<br />

(que abstrai atrito e amortecimentos) conduzirá a uma solução em que a corda vibra<br />

para sempre.<br />

A separação <strong>de</strong> variáveis:<br />

produz:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong>:<br />

∂ 2 (y1(x)·y2(t))<br />

∂x 2<br />

= ∂2 y1(x)<br />

∂x 2<br />

y(x,t) = y1(x)·y2(t)<br />

·y2(t)− 1<br />

− 1<br />

k2 · ∂2 (y1(x)·y2(t))<br />

∂t2 k2 ·y1(x)· ∂2y2(t) ∂t<br />

=<br />

2 = 0,<br />

1<br />

y1(x) · ∂2y1(x) 1 1<br />

= ·<br />

∂x2 k2 y2(t) · ∂2y2(t) ∂t2 .<br />

737


1. VIBRAÇÃO DE UMA CORDA COM EXTREMOS FIXOS, SEM ATRITO 738<br />

O lado esquerdo só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> x e o direito só <strong>de</strong> t, portanto <strong>de</strong>vem ser constantes e<br />

iguais a λ ∈ R. Então<br />

∂ 2 y1(x)<br />

∂x 2 −λ·y1(x) = 0<br />

e<br />

∂ 2 y2(t)<br />

∂t 2 −λ·k2 ·y2(t) = 0.<br />

Para que a solução <strong>de</strong>sta última equação seja periódica a única possibilida<strong>de</strong> é que<br />

λ < 0. Então<br />

Com λ < 0 as soluções <strong>de</strong><br />

são<br />

y2(t) = a·cos( √ −λk ·t)+b·sin( √ −λk ·t), a,b ∈ R.<br />

∂ 2 y1(x)<br />

∂x 2 −λ·y1(x) = 0<br />

y1(x) = c·cos( √ −λ·x)+d·sin( √ −λ·x), c,d ∈ R.<br />

Mas quero que y(x,t) = y1(x) · y2(t) verifique y(0,t) ≡ 0 e para isso preciso que se<br />

anule um coeficiente:<br />

c = 0.<br />

E para que y(L,t) = d·sin( √ −λ·L) ≡ 0 preciso que:<br />

√ −λ·L = n·π, n ∈ N<br />

ou seja,<br />

e portanto:<br />

√ n·π<br />

−λ = , n ∈ N<br />

L<br />

d·sin( n·π<br />

L ·x)·[a·cos(n·π ·k ·t)+b·sin(n·π ·k ·t)]<br />

L L<br />

é uma solução que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> n ∈ N fixado (chamdo um modo normal <strong>de</strong> vibração<br />

da corda e quando n = 1 o modo fundamental). Pela linearida<strong>de</strong> da equação o que se<br />

faz é buscar somas <strong>de</strong>ssas soluções, mas ∀n ∈ N:<br />

y(x,t) :=<br />

+∞<br />

n=1<br />

sin( n·π<br />

L ·x)·[an ·cos( n·π<br />

L ·k ·t)+bn ·sin( n·π<br />

·k ·t)]<br />

L<br />

on<strong>de</strong> as constantes dn foram absorvidas nas outras.<br />

A <strong>de</strong>terminação dos coeficientes an,bn <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer uso das condições ini-<br />

ciais:<br />

y(x,0) =<br />

+∞<br />

n=1<br />

an ·sin( n·π<br />

L<br />

·x) = g(x)<br />

e (por <strong>de</strong>rivação termo a termo e posterior avaliação em t = 0):<br />

∂y(x,0)<br />

∂t<br />

Se vê então que os an e os<br />

=<br />

+∞<br />

n=1<br />

bn · n·π<br />

L<br />

·k ·sin(n·π<br />

L<br />

bn · n·π<br />

L ·k<br />

·x) = h(x).


CAPÍTULO 49. EQUAÇÃO DA ONDA E AS VIBRAÇÕES DE CORDAS E<br />

MEMBRANAS 739<br />

são os coeficientes <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> g(x) e h(x) respectivamente. E esses nós já sabemos<br />

como <strong>de</strong>terminar.<br />

2. Vibração <strong>de</strong> uma corda infinita: Fórmula <strong>de</strong> D’Alembert<br />

Consi<strong>de</strong>ro uma corda <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> constante ρ submetida a uma tensão T mas<br />

que agora é pensada como tendo comprimento infinito, disposta ao longo do eixo dos<br />

x.<br />

Vamos supor que seus pontos se <strong>de</strong>slocam apenas na direção vertical e que a<br />

amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>slocamento é pequena.<br />

Como antes já fizemos, postulo que o <strong>de</strong>slocamento vertical y(x,t) satisfaz:<br />

∂2y(x,t) 1<br />

=<br />

∂x2 k2 · ∂2y(x,t) ∂t2 , on<strong>de</strong><br />

As condições iniciais do problema são:<br />

1 ρ<br />

=<br />

k2 T .<br />

∂y(x,0)<br />

y(x,0) = g(x) e = h(x), x ∈ R<br />

∂t<br />

que dão um formato e uma velocida<strong>de</strong> inicial à corda.<br />

Consi<strong>de</strong>ro a seguinte mudança <strong>de</strong> variáveis:<br />

u := x+k ·t e v := x−k ·t.<br />

Afirmo que nessas novas variáveis a função y(x,t) = y(x(u,v),t(u,v)) satisfaz1 a<br />

equação diferencial:<br />

∂2y = 0.<br />

∂u∂v<br />

Essa forma da equação que rege a vibração <strong>de</strong> uma corda ou uma onda é chamada<br />

<strong>de</strong> forma canônica.<br />

De fato, pela regra da <strong>de</strong>rivada da composta:<br />

pois<br />

e<br />

∂y<br />

∂v<br />

Mas não po<strong>de</strong>mos esquecer que:<br />

∂y ∂x ∂y ∂t<br />

= · + ·<br />

∂x ∂v ∂t ∂v<br />

x = u+v<br />

2<br />

t = u−v<br />

2k .<br />

∂y<br />

∂x e<br />

∂y<br />

∂t<br />

são funções <strong>de</strong> x = x(u,v) e <strong>de</strong> y = y(u,v). Portanto:<br />

∂ 2 y<br />

∂u∂v<br />

∂y 1 ∂y<br />

= · +<br />

∂x 2 ∂t ·(−1<br />

2k ),<br />

∂y 1 ∂y<br />

∂(1 · − · 2 ∂x 2k ∂t = )<br />

∂u<br />

1 Supondo que essa função tem <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m em x,t que são elas mesmas<br />

funções contínuas<br />

=


2. VIBRAÇÃO DE UMA CORDA INFINITA: FÓRMULA DE D’ALEMBERT740<br />

= 1<br />

2 · ∂2y ∂x 1<br />

· +<br />

∂x2 ∂u 2 · ∂2y ∂t<br />

·<br />

∂t∂x ∂u<br />

= 1∂<br />

4<br />

2y 1 ∂<br />

+<br />

∂x2 4k<br />

2y 1<br />

−<br />

∂t∂x 4k<br />

on<strong>de</strong> na última igualda<strong>de</strong> usei que<br />

− 1<br />

2k · ∂2 y<br />

∂x 1<br />

· −<br />

∂x∂t ∂u 2k · ∂2y ∂t<br />

·<br />

∂t2 ∂u =<br />

∂2y 1<br />

−<br />

∂x∂t 4k2 ∂2y = 0,<br />

∂t2 ∂2y ∂t∂x = ∂2y ∂x∂t<br />

se y(x,t) tiver <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m contínuas (Lema <strong>de</strong> Schwarz) e<br />

Mas<br />

quer dizer que ∂y<br />

∂v<br />

∂2y(x,t) 1<br />

−<br />

∂x2 k2 · ∂2y(x,t) ∂t2 = 0.<br />

∂2y ∂u∂v<br />

só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> v:<br />

∂y<br />

∂v<br />

= ∂ ∂y<br />

∂v<br />

∂u<br />

= z(v).<br />

= 0<br />

E agora integrando em v obtenho:<br />

<br />

y(u,v) = z(v)dv +q(u) =: p(v)+q(u);<br />

ou seja:<br />

y(x(u,v),t(u,v)) = p(v)+q(u) = p(x−k ·t)+q(x+k ·t).<br />

As condições iniciais para t = 0 dão:<br />

e<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

∂y(x,0)<br />

∂t<br />

e daí integrando:<br />

y(x,0) = p(x−k ·0)+q(x+k ·0) = p(x)+q(x) = g(x)<br />

= p ′ (x)·(−k)+q ′ (x)·(k) = k ·(−p ′ (x)+q ′ (x)) = h(x),<br />

−p ′ (x)+q ′ (x) = 1<br />

k ·h(x)<br />

x<br />

−p(x)+q(x) = 1<br />

k · h(ξ)dξ +C.<br />

0<br />

Junto com:<br />

p(x)+q(x) = g(x)<br />

obtemos um sistema <strong>de</strong> duas equações lineares, <strong>de</strong> on<strong>de</strong>:<br />

q(x) = 1 1<br />

·g(x)+<br />

2 2k ·<br />

x<br />

h(ξ)dξ +<br />

0<br />

C<br />

2<br />

e<br />

p(x) = 1 1<br />

·g(x)−<br />

2 2k ·<br />

x<br />

h(ξ)dξ −<br />

0<br />

C<br />

2 =<br />

= 1 1<br />

·g(x)+<br />

2 2k ·<br />

0<br />

h(ξ)dξ − C<br />

2 .<br />

x


CAPÍTULO 49. EQUAÇÃO DA ONDA E AS VIBRAÇÕES DE CORDAS E<br />

MEMBRANAS 741<br />

Já que essas são as expressões <strong>de</strong> p(x) e q(x) ∀x então posso usá-las para p(x−k·t)<br />

e q(x+k ·t), <strong>de</strong> on<strong>de</strong> sai a fórmula clásssica (Fórmula <strong>de</strong> D’Alembert):<br />

y(x,t) = p(x−k ·t)+q(x+k ·t) =<br />

Algumas observações: a expressão<br />

g(x−k ·t)+g(x+k ·t)<br />

2<br />

y(x,t) = p(x−k ·t)+q(x+k·t)<br />

+ 1<br />

2k<br />

x+k·t<br />

x−k·t<br />

h(ξ)dξ.<br />

já indica que a solução é uma superposição <strong>de</strong> uma onda que se move para frente com<br />

velocida<strong>de</strong> k e <strong>de</strong> outra que se move para trás com velocida<strong>de</strong> k. Pois para cada t0<br />

fixado os gráficos <strong>de</strong> p(x−k ·t0) são trasladados horizontais para a frente do gráfico<br />

<strong>de</strong> y = p(x) enquanto que os gráficos <strong>de</strong> q(x+k·t0) são trasladados horizontais para<br />

trás do gráfico <strong>de</strong> y = q(x).<br />

Suponha agora, por um momento, que h(x) ≡ 0; portanto, pela Fórmula <strong>de</strong><br />

D’Alembert:<br />

g(x−k ·t)+g(x+k ·t)<br />

y(x,t) = p(x−k ·t)+q(x+k·t) = .<br />

2<br />

Se a função y(x,0) = g(x) é i<strong>de</strong>nticamente nula fora <strong>de</strong> um certo intervalo [a,b] então:<br />

g(x−k ·t)+g(x+k ·t)<br />

y(x,t) =<br />

2<br />

diz que para t > 0 o mesmo formato do formato do gráfico <strong>de</strong> y = g(x) se propaga<br />

para frente e para trás, com velocida<strong>de</strong> k, mas com meta<strong>de</strong> da amplitu<strong>de</strong>.<br />

Agora, ao contrário suponha y(x,0) = g(x) ≡ 0 e que h(x) ≥ 0 é uma função<br />

contínua não nula apenas em um certo intervalo [a,b]. Este caso correspon<strong>de</strong> a uma<br />

corda sendo percutida numa pequena região [a,b] (por exemplo uma corda <strong>de</strong> piano<br />

percutida pelo martelo do piano). Então a fórmula:<br />

y(x,t) = 1<br />

2k<br />

x+k·t<br />

x−k·t<br />

h(ξ)dξ<br />

<strong>de</strong>screve a propagação ao longo da corda da percussão e diz que enquanto [x − k ·<br />

t,x+k · t] não intersectar [a,b] a corda continua sem <strong>de</strong>slocamento vertical. E que<br />

mesmo se o intervalo [x − k · t,x + k · t] contendo [a,b] for bem maior que [a,b] o<br />

<strong>de</strong>slocamento vertical continua da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>:<br />

1<br />

2k<br />

x+k·t<br />

x−k·t<br />

h(ξ)dξ.<br />

3. Modos normais <strong>de</strong> vibração <strong>de</strong> um tambor circular e as funções <strong>de</strong><br />

Bessel<br />

Consi<strong>de</strong>ro um tambor circular, <strong>de</strong> raio a, e quero <strong>de</strong>terminar os modos <strong>de</strong> vibração<br />

da membrana do tambor. Suponho que o <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> cada ponto da membrana<br />

é apenas vertical, dado pela função<br />

z = w(x,y,t)


3. MODOS NORMAIS DE VIBRAÇÃO DE UM TAMBOR CIRCULAR E AS<br />

FUNÇÕES DE BESSEL 742<br />

e que o bordo não se move, ou seja,<br />

w(x,y,t) = 0 se x 2 +y 2 = 1.<br />

Sem me <strong>de</strong>ter, por enquanto, em como se obtém a equação diferencial que rege<br />

esse fenômeno, postulo que verifica:<br />

∂2w ∂x2 + ∂2w 1<br />

=<br />

∂y2 on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> dar a interpretação física:<br />

k2 · ∂2w ∂t<br />

1 ρ<br />

=<br />

k2 T ,<br />

on<strong>de</strong> ρ é a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> (suposta constante) da membrana e T é a tensão aplicada à<br />

membrana.<br />

A primeira separação <strong>de</strong> variáveis que vamos impôr é pensar que:<br />

Então<br />

dá:<br />

∂ 2 (u(x,y)·q(t))<br />

∂x 2<br />

2 ,<br />

w(x,y,t) = u(x,y)·q(t).<br />

+ ∂2 (u(x,y)·q(t))<br />

∂y 2<br />

( ∂2u(x,y) ∂x2 + ∂2u(x,y) ∂y2 )·q(t) = u(x,y)<br />

k2 e portanto (supondo u = 0 se x 2 +y 2 < 1):<br />

= 1<br />

k2 · ∂2 (u(x,y)·q(t))<br />

∂t2 · ∂2 q(t)<br />

∂t 2<br />

1<br />

u(x,y) ·(∂2 u(x,y)<br />

∂x2 + ∂2u(x,y) ∂y2 ) = 1 1<br />

·<br />

k2 q(t) · ∂2q(t) ∂t2 .<br />

Já que o lado esquerdo é função só <strong>de</strong> x,y e o direito só <strong>de</strong> t concluimos que:<br />

e que<br />

1<br />

u(x,y) ·(∂2 u(x,y)<br />

∂x2 + ∂2u(x,y) ∂y2 ) = λ ∈ R<br />

1 1<br />

·<br />

k2 q(t) · ∂2q(t) = λ ∈ R.<br />

∂t2 Na situação i<strong>de</strong>alizada que consi<strong>de</strong>ramos, após ser posta em movimento a membrana<br />

oscila para sempre, portanto queremos que a função q(t) seja periódica. Como ela<br />

verifica:<br />

∂ 2 q(t)<br />

∂t 2 = λ·k2 ·q(t)<br />

só será periódica se λ < 0, <strong>de</strong> acordo com a Afirmação 2.1 do Capítulo 40. E nesse<br />

caso:<br />

q(t) = a·cos( √ −λk 2 ·x)+b·sin( √ −λk 2 ·x).<br />

A outra equação ficou então:<br />

∂ 2 u(x,y)<br />

∂x 2 + ∂2 u(x,y)<br />

∂y 2 = λ·u(x,y), com λ < 0.


CAPÍTULO 49. EQUAÇÃO DA ONDA E AS VIBRAÇÕES DE CORDAS E<br />

MEMBRANAS 743<br />

Como o domínio é o disco x 2 + y 2 ≤ a é natural pensarmos em usar coor<strong>de</strong>nadas<br />

polares r,θ on<strong>de</strong> u(x,y) = u(r,θ) e on<strong>de</strong> o laplaciano é:<br />

1<br />

r2 · ∂2 ∂u<br />

u(r,θ) 1 ∂(r · ∂r + ·<br />

∂θ2 r )<br />

.<br />

∂r<br />

Fazendo uma nova separação <strong>de</strong> variáveis<br />

nossa equação<br />

u(r,θ) = R(r)·Θ(θ)<br />

1<br />

r2 · ∂2R(r)·Θ(θ) ∂θ2 + 1<br />

∂R(r)·Θ(θ)<br />

∂(r · ) ∂r · = λ·R(r)·Θ(θ)<br />

r ∂r<br />

produz (após fazer as <strong>de</strong>rivações exigidas e reagrupar):<br />

1<br />

Θ · ∂2Θ ∂θ2 = λr2 − r ∂R r2 ∂<br />

−<br />

R ∂r R<br />

2R .<br />

∂r2 Como o lado esquerdo só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> θ e o direito só <strong>de</strong> r concluimos que:<br />

1<br />

Θ · ∂2Θ = µ ∈ R<br />

∂θ2 e que<br />

λr 2 − r ∂R r2 ∂<br />

−<br />

R ∂r R<br />

2R = µ ∈ R.<br />

∂r2 Como vimos há pouco, para que Θ(θ) seja periódica temos necessariamente que ter:<br />

Então:<br />

Se po<strong>de</strong> justificar que:<br />

e mesmo esten<strong>de</strong>r ao caso<br />

µ < 0.<br />

Θ(θ) = a·cos( √ −µ·θ)+b·sin( √ −µ·θ).<br />

√ −µ = n ∈ N<br />

µ = 0,<br />

que correspon<strong>de</strong> a uma solução in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> θ (simetria circular).<br />

A outra equação, lembrando que µ = −n 2 e após multiplicar por R(r), fica da<br />

forma:<br />

Já que<br />

r 2 · ∂2R ∂R<br />

+r ·<br />

∂r2 ∂r +R·(−λ·r2 −n 2 ) = 0.<br />

−λ > 0,<br />

esta equação se parece muito com a equação <strong>de</strong> Bessel 2 :<br />

x 2 · ∂2 (α·Jn(x))<br />

∂x 2<br />

+x· ∂(α·Jn(x))<br />

∂x<br />

+(α·Jn(x))·(x 2 −ν 2 ) = 0, ν ≥ 0, α ∈ R<br />

2 Na notação já indico que se trata <strong>de</strong> um múltiplo α da função <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m<br />

Jν(x), pois as funções <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m Yν(x) produzem soluções ilimitadas em x = 0, o<br />

que não faz sentido no nosso caso


3. MODOS NORMAIS DE VIBRAÇÃO DE UM TAMBOR CIRCULAR E AS<br />

FUNÇÕES DE BESSEL 744<br />

De fato, como vimos no primeiro item da Afirmação 3.1 do Capítulo 43 a mudança<br />

<strong>de</strong> variável:<br />

x = √ −λ·r<br />

leva a equação <strong>de</strong> Bessel na nossa equação<br />

Em suma, concluo que:<br />

Agora intervém a exigência <strong>de</strong> que:<br />

r 2 · ∂2R ∂R<br />

+r ·<br />

∂r2 ∂r +R·(−λ·r2 −n 2 ) = 0.<br />

R(r) = α·Jn( √ −λr).<br />

R(a) = 0<br />

pois queremos que a borda circular do tambor fique fixa. Ou seja, já que α = 0:<br />

Jn( √ −λa) = 0<br />

Pra simplificar a exposição suponhamos que<br />

e portanto<br />

a = 1<br />

√ −λ<br />

é um zero da n-ésima função <strong>de</strong> Bessel <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m.<br />

Já vimos na Seção 2 do Capítulo 43 que há uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> zeros para cada<br />

n ∈ N fixado. E <strong>de</strong>sses zeros se conhecem aproximações numéricas. E na Afirmação<br />

3.1 vimos as relações <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong>entre funções <strong>de</strong> Bessel Jν(λx), para disitintos<br />

λ.<br />

Ou seja, para cada n fixado (n ∈ N∪{0}), há uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pontos:<br />

√ −λ =: λn,m, m ∈ N<br />

or<strong>de</strong>nados em or<strong>de</strong>m crescente, que são zeros <strong>de</strong> Jn.<br />

Variando n,m obtemos os modos normais <strong>de</strong> vibração da membrana do tambor:<br />

w(r,θ,t) = Jn(λn,mr)·[a1·cos(n·θ)+a2·sin(n·θ)]·[a3·cos(λn,m·k·x)+a4·sin(λn,m·k·x)].<br />

O caso n = 0 dá soluções com simetria circular:<br />

w(r,t) = J0(λ0,mr)·a1 ·[a3 ·cos(λ0,m ·k ·x)+a4 ·sin(λ0,m ·k ·x)].<br />

Para n = 0 mas aumentando o m ∈ N aparecem m anéis concêntricos em fase<br />

oposta, como ilustra a figura:


CAPÍTULO 49. EQUAÇÃO DA ONDA E AS VIBRAÇÕES DE CORDAS E<br />

MEMBRANAS 745<br />

Mas para n = 1 há a solução do tipo<br />

w(r,θ,t) = J1(λ1,mr)·sin(θ)·[a3 ·cos(λ1,m ·k ·x)+a4 ·sin(λ1,m ·k ·x)].<br />

que se anula para θ = 0,π, ou seja ao longo do diâmetro horizontal do círculo. O<br />

semidisco superiorsemoveemfaseopostaaosemidisco inferior, comoilustraaFigura:<br />

Quando n = 1 e m = 2 além <strong>de</strong>sses semidiscos superior e inferior em fase oposta<br />

se juntam dois anéis concêntricos em fase oposta, veja Figura:<br />

E assim por diante.


Parte 4<br />

Cálculo diferencial e integral sobre os<br />

números Complexos


CAPíTULO 50<br />

Um portal para o Cálculo Complexo<br />

Neste Capítulo faço aparecer as proprieda<strong>de</strong>s do Cálculo sobre os Complexos, <strong>de</strong><br />

modo ainda concreto e matematicamente informal, a partir do estudo <strong>de</strong> fluxos em<br />

estado estacionário.<br />

Devo muito aolivro <strong>de</strong>Stephen Fisher, Complex variables, Segunda edição, Dover,<br />

1986.<br />

Os números complexos z = a+I·b po<strong>de</strong>m ser somados, subtraídos, multiplicados:<br />

(a+I ·b)+(c+I ·d) := (a+b)+I ·(b+d),<br />

(a+I ·b)−(c+I ·d) := (a−c)+I ·(b−d),<br />

(a+I ·b)·(c+I ·d) = a·c+a·I ·d+I ·b·c+b·d·I 2 =<br />

= (ac−bd)+I ·(ad+bc),<br />

on<strong>de</strong> usei que I2 = −1.<br />

E essas operações são comutativas e distributivas, como o leitor po<strong>de</strong> conferir.<br />

O que é crucial é que se z = 0 então z tem inverso multiplicativo.<br />

De fato, se z = a+I ·b isso significa que a = 0 ou que b = 0. Então a2 +b2 > 0 e<br />

faz sentido o número Complexo:<br />

e para ele<br />

w :=<br />

a<br />

a2 b<br />

−I ·<br />

+b2 a2 +b2 a<br />

z ·w = w ·z = (<br />

a2 b<br />

·a+<br />

+b2 a2 ·b)+I ·(<br />

+b2 = 1+I ·0 = 1,<br />

ou seja, w = z−1 .<br />

A noção <strong>de</strong> conjugação para z = a+I ·b é dada por:<br />

z := a−I ·b<br />

e permite expressar w = z −1 <strong>de</strong> modo mais elegante:<br />

w = z<br />

|z| 2, on<strong>de</strong> |z|2 := a 2 +b 2 .<br />

a<br />

a2 b<br />

·b−<br />

+b2 a2 ·a) =<br />

+b2 É óbvio que z = z e que z1+z2 = z1 +z2. O leitor po<strong>de</strong> comprovar que<br />

z1 ·z2 = z1 ·z2.<br />

No que segue retomo a <strong>de</strong>finição que <strong>de</strong>i na Seção 5 do Capítulo 31:<br />

e z = e x+I·y := e x ·(cos(y)+Isin(y)) =<br />

= e x cos(y)+I ·e x sin(y).<br />

749


O leitor po<strong>de</strong> verificar que:<br />

e z = e z .<br />

Vamos usar as noções <strong>de</strong> soma, produto, inverso multiplicativo e <strong>de</strong> conjugação<br />

para <strong>de</strong>finir no que segue algumas aplicações:<br />

f : C → C.<br />

As Figuras a seguir mostram f(z) = z, f(z) = z 2 e f(z) = e z como campos <strong>de</strong><br />

vetores:<br />

-1<br />

1<br />

0,5<br />

y 0<br />

-0,5 0 0,5<br />

1<br />

-0,5<br />

-1<br />

Fig.: O campo vetorial produzido por f(z) = e z<br />

-2<br />

2<br />

1<br />

x<br />

y 0<br />

-1 0 1<br />

2<br />

-1<br />

-2<br />

Fig.: O campo vetorial produzido por f(z) = z<br />

x<br />

750


CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 751<br />

-2<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1 0 1<br />

2<br />

-1<br />

-2<br />

Fig.: O campo vetorial produzido por f(z) = z 2<br />

x<br />

Po<strong>de</strong>mosimaginarquesetratam<strong>de</strong>fluxos<strong>de</strong>partículasemestado estacionário,ou<br />

seja, na situação emque há umcampo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s que só <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da posição (x,y)<br />

e não do tempo. As partículas se movimentam segundo esse campo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s,<br />

ocupando o lugar <strong>de</strong>ixado por outras.<br />

As Figuras a seguir mostram algumas curvas integrais <strong>de</strong>sses três campos. Na<br />

Seção 3 veremos qual o método geral para encontrá-las. Representama trajetória<br />

seguida pelas partículas submetidas a esses campos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s.<br />

-1<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-0,5 0<br />

-1<br />

-2<br />

Fig.: Algumas curvas integrais e x ·sin(y) = C do campo f(z) = e z<br />

0,5<br />

x<br />

1<br />

1,5<br />

2


-2<br />

-1<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

0 1<br />

-1<br />

-2<br />

Fig.: Algumas curvas integrais x·y = C (hipérboles) do campo f(z) = z<br />

-2<br />

2<br />

1<br />

x<br />

y 0<br />

-1 0 1<br />

2<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

Fig.: Algumas curvas integrais y 3 −3x 2 y = C (cúbicas) do campo f(z) = z 2<br />

Como as curvas integrais do campo f(z) = z 2 são cúbicas, e como as cúbicas<br />

são estrelas neste Curso, resolvi plotar uma <strong>de</strong>las separadamente (formada <strong>de</strong> três<br />

ramos).<br />

-2<br />

-1<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

0 1<br />

-1<br />

x<br />

-2<br />

2<br />

2<br />

752


CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 753<br />

Fig.: Uma curva integral y 3 −3x 2 y = C (cúbica) do campo f(z) = z 2 ,<br />

on<strong>de</strong> se vê as três assíntotas y = 0 e y = ± √ 3x.<br />

Tome agoraqualquer círculo Cz0,r centrado emz0 ∈ C, <strong>de</strong> raior. Sez0 = a+I·b ≡<br />

(a,b) então posso parametrizar Cz0,r por:<br />

O vetor tangente <strong>de</strong> γ é:<br />

Consi<strong>de</strong>ro 1<br />

<br />

Cz 0 ,r<br />

γ(t) = (a+r ·cos(t),b+r ·sin(t)), t ∈ [0,2π].<br />

f(z)·τz :=<br />

τγ := (−r ·sin(t),r ·cos(t)).<br />

2π<br />

Agora consi<strong>de</strong>re o vetor normal 2 ao círculo Cz0,r:<br />

e <strong>de</strong>fina a integral<br />

<br />

Cz 0 ,r<br />

f(z)·nz :=<br />

0<br />

f(a+r·cos(t),b+r ·sin(t))·τzdt.<br />

nγ := (r·cos(t),r·sin(t))<br />

2π<br />

0<br />

f(a+r·cos(t),b+r ·sin(t))·nzdt.<br />

Afirmação 0.1.<br />

Tome qualquer círculo Cz0,r centrado em z0 ∈ C, <strong>de</strong> raio r.<br />

i): Então <br />

z ·τz = 0 e z ·nz = 0.<br />

ii): Então <br />

iii): Então: <br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

Neste caso:<br />

<br />

z ·τz =<br />

Cz 0 ,r<br />

Cz 0 ,r<br />

Cz 0 ,r<br />

Cz 0 ,r<br />

z 2 ·τz = 0 e<br />

e z ·τz = 0 e<br />

<br />

<br />

Cz 0 ,r<br />

Cz 0 ,r<br />

Cz 0 ,r<br />

z 2 ·nz = 0.<br />

e z ·nz = 0.<br />

2π<br />

−arsin(t)−r<br />

0<br />

2 sin(t)cos(t)−brcos(t)−r 2 sin(t)cos(t)dt =<br />

2π<br />

2π<br />

= −ar sin(t)dt−br<br />

0<br />

0<br />

cos(t)dt−2r 2<br />

2π<br />

0<br />

sin(t)cos(t)dt = 0.<br />

1on<strong>de</strong> o · no integrando é o produto escalar do vetor do plano representado por f(z) ∈ C com o<br />

vetor tangente<br />

2há a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se tomar o sinal oposto nessa <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> vetor normal, mas escolhemos<br />

este.


E <br />

z ·nz =<br />

Cz0 ,r<br />

2π<br />

= ar<br />

0<br />

= ar<br />

2π<br />

arcos(t)+r<br />

0<br />

2 cos 2 (t)−brsin(t)−r 2 sin 2 (t)dt =<br />

2π<br />

sin(t)dt+r<br />

0<br />

2<br />

2π<br />

cos<br />

0<br />

2 (t)−sin 2 (t)dt =<br />

2π 2π<br />

cos(t)dt−br<br />

2π<br />

0<br />

cos(t)dt−br<br />

0<br />

sin(t)dt+r 2<br />

0<br />

cos(2t)dt = 0.<br />

De ii):<br />

Só para diminuir o tamanho da conta suponho que z0 = (0,0).<br />

Como:<br />

z 2 = x 2 −y 2 +I ·2xy = x 2 −y 2 −I ·2xy,<br />

então facilmente se obtem:<br />

<br />

Cz 0 ,r<br />

pois a primitiva em questão é:<br />

Já <br />

Cz 0 ,r<br />

pois agora a primitiva é:<br />

=<br />

z2 ·τz = −r 3<br />

2π<br />

3cos<br />

0<br />

2 (t)sin(t)−sin 3 (t)dt = 0,<br />

−cos 3 (x)+ sin2 (x)cos(x)<br />

3<br />

z2 ·nz = r 3<br />

2π<br />

= −2sin3 (x)<br />

3<br />

De iii):<br />

Temos: <br />

0<br />

+ 2cos(x)<br />

3<br />

+C.<br />

cos 3 (t)−2·sin 2 (t)cos(t)dt = 0,<br />

+ cos2 (x)sin(x)<br />

3<br />

e z ·τz =<br />

+ 2sin(x)<br />

3<br />

+C.<br />

Cz0 ,r<br />

2π<br />

(e<br />

0<br />

a+rcos(t) cos(b+rsin(t)),−e a+rcos(t) sin(b+rsin(t))·(−rsin(t),rcos(t))dt =<br />

2π<br />

=<br />

0<br />

−re a+rcos(t) ·(cos(b+rsin(t))sin(t)+sin(b+rsin(t))cos(t))dt = 0,<br />

pois a primitiva em questão é:<br />

=<br />

e a+rcos(t) ·(−1+2cos( b+rsin(t)<br />

)<br />

2<br />

2 )+C.<br />

Já <br />

ez ·nz =<br />

Cz0 ,r<br />

2π<br />

(e<br />

0<br />

a+rcos(t) cos(b+rsin(t)),−e a+rcos(t) sin(b+rsin(t))·(rcos(t),rsin(t))dt =<br />

754


CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 755<br />

=<br />

2π<br />

0<br />

re a+rcos(t) ·(cos(b+rsin(t))cos(t)−sin(b+rsin(t))sin(t))dt = 0,<br />

pois a primitiva em questão é:<br />

2e a+rcos(t) sin( b+rsin(t)<br />

2<br />

)cos( b+rsin(t)<br />

)+C.<br />

2<br />

Se γ : [c,d] → C, γ(t) = (x(t),y(t) é uma curva parametrizada, fechada, sem<br />

auto-intersecções3 Definimos para h(z) = u(z)+I ·v(z):<br />

d<br />

h(z)·τγ := udx+vdy :=<br />

e<br />

<br />

γ<br />

γ<br />

<br />

h(z)·nγ :=<br />

γ<br />

γ<br />

udy −vdx :=<br />

c<br />

u(x(t),y(t))·x ′ (t)+v(x(t),y(t))·y ′ (t)dt<br />

d<br />

u(x(t),y(t))·y<br />

c<br />

′ (t)−v(x(t),y(t))·x ′ (t)dt.<br />

Definição 0.1. Se um campo v tem <br />

γ z·τz = 0 ao longo <strong>de</strong> toda curva fechada sem<br />

auto-intersecções, então v é chamado <strong>de</strong> conservativo.<br />

Se um campo v tem <br />

γ z · nz = 0 ao longo <strong>de</strong> toda curva fechada sem autointersecções,<br />

então se diz que que v não tem fontes nem sumidouros.<br />

OqueaAfirmação0.1indica, apesar<strong>de</strong>sótratar<strong>de</strong>círculos, équeostrêsexemplos<br />

acima são conservativos e não tem fontes nem sumidouros.<br />

Agora consi<strong>de</strong>ro a seguinte aplicação do plano no plano:<br />

Note que:<br />

f : C\{0} → C, f(z) := 1<br />

z .<br />

1<br />

z<br />

z z<br />

= (1)<br />

= (<br />

z |z| 2)<br />

=<br />

|z| 2.<br />

Se vemos z = 0 como um vetor no plano C = R 2 , o fato que<br />

f(z) = z<br />

|z| 2<br />

nos diz que f associa a cada vetor reprsentado por z um outro vetor que tem a mesma<br />

direção e sentido que z mas:<br />

• |f(z)| > |z| se |z| < 1<br />

• |f(z)| < |z| se |z| > 1<br />

• f(z) = z se |z| = 1.<br />

3 Dizemos que é fechada se γ(c) = γ(d) e dizemos que é sem autosintersecções se γ(t1) = γ(t2)<br />

somente se t1 = t2 ou t1 = c e t2 = d.


A Figura o ilustra:<br />

-1<br />

1<br />

0,5<br />

y 0<br />

-0,5 0 0,5<br />

1<br />

x<br />

-0,5<br />

-1<br />

Essa f : C\{0} → C, f(z) := 1 é chamada em Geometria <strong>de</strong> inversão no Círculo<br />

z<br />

unitário centrado na origem;<br />

O Exercício 6.2 dá o modo <strong>de</strong> construir f(z) geometricamente a partir <strong>de</strong> z.<br />

Note que ela é uma involução: f(f(z)) = z, isto é, f ≡ f−1 .<br />

Tome qualquer círculo Cz0,r centrado em z0 = a + I · b ≡ (a,b), <strong>de</strong> raio r,<br />

parametrizado por:<br />

γ(t) = (a+r ·cos(t),b+r ·sin(t)), t ∈ [0,2π].<br />

Se (0,0) ∈ Cz0,r, posso consi<strong>de</strong>rar<br />

<br />

f(z)·τz :=<br />

e <br />

Cz 0 ,r<br />

Cz 0 ,r<br />

<br />

f(z)·nz :=<br />

Cz 0 ,r<br />

Cz 0 ,r<br />

z<br />

·τz.<br />

|z| 2<br />

z<br />

·nz.<br />

|z| 2<br />

Afirmação 0.2.<br />

Denote no que segue Dz0,r o disco fechado cujo bordo é Cz0,r.<br />

i): Tome qualquer círculo Cz0,r centrado em z0 ∈ C, <strong>de</strong> raio r, tal que (0,0) ∈<br />

Cz0,r. Então<br />

ii): Se (0,0) ∈ Dz0,r, então<br />

<br />

<br />

Cz 0 ,r<br />

Cz 0 ,r<br />

1<br />

z ·τz = 0.<br />

1<br />

z ·nz = 0.<br />

756


CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 757<br />

iii): Se z0 = (0,0) então<br />

Demonstração.<br />

Do item i):<br />

Temos f(z) = 1<br />

z<br />

=<br />

2π<br />

0<br />

= z<br />

|z| 2 e<br />

<br />

Cz 0 ,r<br />

<br />

Cz 0 ,r<br />

1<br />

z ·nz = 2π.<br />

z<br />

|z| 2 ·τz =<br />

−arsin(t)−r 2 sin(t)cos(t)+brcos(t)+r 2 sin(t)cos(t)<br />

a 2 +b 2 +r 2 +2arcos(t)+2brsin(t)<br />

=<br />

2π<br />

0<br />

−arsin(t)+brcos(t)<br />

a 2 +b 2 +r 2 +2arcos(t)+2brsin(t) dt,<br />

on<strong>de</strong> reconhecemos <strong>de</strong>rivadas logarítmicas e portanto primitivas:<br />

Do item ii):<br />

Temos f(z) = z<br />

|z| 2 e<br />

=<br />

1<br />

2 ·ln|a2 +b 2 +r 2 +2arcos(t)+2brsin(t)|+C.<br />

2π<br />

0<br />

=<br />

<br />

Cz 0 ,r<br />

f(z)·nz =<br />

arcos(t)+r 2 cos 2 (t)+brsin(t)+r 2 sin 2 (t)<br />

a 2 +b 2 +r 2 +2arcos(t)+2brsin(t)<br />

2π<br />

Faz sentido consi<strong>de</strong>rar uma função ângulo<br />

0<br />

r 2 +arcos(t)+brsin(t)<br />

a 2 +b 2 +r 2 +2arcos(t)+2brsin(t) dt<br />

θ(z) = θ(x+I ·y),<br />

dt =<br />

dt =<br />

que dá o ângulo que z (como vetor com base na origem) forma com o eixo positivo dos<br />

x, pois (0,0) ∈ Dz0,r. Ela é <strong>de</strong>rivável e a<strong>de</strong>mais |θ(z1)−θ(z2)| < 2π para quaisquer<br />

dois z1,z2 ∈ Dz0,r<br />

Veja a Figura:


z 0<br />

y<br />

θ<br />

θ<br />

Como vimos na prova do item ii) da Afirmação 7.1 do Capítulo 36:<br />

∂θ<br />

∂y =<br />

x<br />

x 2 +y 2<br />

e<br />

∂θ −y<br />

=<br />

∂x x2 +y2, o que, para pontos (a+rcos(t),b+rsin(t)) <strong>de</strong> Cz0,r, significa:<br />

∂θ<br />

∂y =<br />

e<br />

∂θ<br />

∂x<br />

Portanto, como<br />

vemos que<br />

x<br />

x2 =<br />

+y2 −y<br />

=<br />

x2 =<br />

+y2 <br />

Do item iii):<br />

Se z0 = (0,0) então:<br />

Cz 0 ,r<br />

( dx<br />

dt<br />

a+rcos(t)<br />

a 2 +b 2 +r 2 +2arcos(t)+2brsin(t)<br />

−b−rsin(t)<br />

a 2 +b 2 +r 2 +2arcos(t)+2brsin(t) .<br />

dy<br />

, ) = (−rsin(t),rcos(t))<br />

dt<br />

f(z)·nz =<br />

=<br />

=<br />

<br />

2π<br />

0<br />

2π<br />

0<br />

(a+r,b)<br />

(a+r,b)<br />

∂θ dy ∂θ dx<br />

· + ·<br />

∂y dt ∂x dt =<br />

θ ′ (t)dt =<br />

dθ = 0.<br />

f(z)·nz =<br />

C (0,0),r<br />

2π<br />

r2 ·cos2 (t)+r 2sin 2 (t)<br />

=<br />

0 r2 dt = 2π,<br />

que indica que o ângulo <strong>de</strong>terminado por (r,0) está mal <strong>de</strong>finido, pois a ele se soma<br />

2π quando fazemos um giro completo no círculo e voltamos em (r,0).<br />

x<br />

758


CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 759<br />

O que a Afirmação 0.2 indica, apesar <strong>de</strong> só tratar <strong>de</strong> círculos, é que f(z) = 1<br />

z<br />

é conservativo e que num pequeno entorno <strong>de</strong> cada ponto z0 ∈ C, z0 = 0, não tem<br />

fontes nem sumidouros.<br />

Mas para a fonte z0 = 0 se <strong>de</strong>fine a potência do campo 1<br />

z como<br />

<br />

1<br />

z ·nz = 2π<br />

Cz 0 ,r<br />

Note que se tomo agora o campo −1<br />

z<br />

-1<br />

−z = , ilustrado a seguir:<br />

|z|<br />

1<br />

0,5<br />

y 0<br />

-0,5 0 0,5<br />

1<br />

x<br />

-0,5<br />

-1<br />

então ele tem um sumidouro em z0 = 0 e se <strong>de</strong>fine a potência <strong>de</strong>sse sumidouro<br />

por<br />

<br />

−<br />

−1<br />

z ·nz = 2π.<br />

Cz 0 ,r<br />

1. O Teorema <strong>de</strong> Green e as Relações <strong>de</strong> Cauchy-Riemann<br />

O que significa para as funções coor<strong>de</strong>nadas u(z),v(z) <strong>de</strong> um campo h(z) :=<br />

u(z)+I ·v(z) (com u e v <strong>de</strong>riváveis, com <strong>de</strong>rivadas parciais contínuas) o fato <strong>de</strong> ser<br />

conservativo e não ter fontes nem sumidouros ?<br />

Ou seja, o fato <strong>de</strong> ter<br />

<br />

h(z)·τγ = 0 e h(z)·nγ = 0,<br />

γ<br />

para qualquer curva fechada sem autointersecção γ.<br />

Seja γ : [c,d] → C, γ(t) = (x(t),y(t) e seu interior U. Por exemplo, se γ é um<br />

círculo, U é o disco que ele limita.<br />

γ


1. O TEOREMA DE GREEN E AS RELAÇÕES DE CAUCHY-RIEMANN 760<br />

e<br />

Se U não tem buracos (é simplesmente conexo), pelo Teorema <strong>de</strong> Green4 temos:<br />

<br />

0 = h(z)·τγ := udx+vdy =<br />

<br />

0 =<br />

γ<br />

γ<br />

<br />

= (<br />

U<br />

∂v ∂u<br />

−<br />

∂x ∂y )dxdy<br />

<br />

h(z)·nγ := udy−vdx =<br />

γ<br />

<br />

= (<br />

U<br />

∂u ∂v<br />

+<br />

∂x ∂y )dxdy.<br />

Ora, se acontecesse que<br />

∂v ∂u<br />

− = 0<br />

∂x ∂y<br />

ou se acontecesse que<br />

∂u ∂v<br />

+ = 0<br />

∂x ∂y<br />

então, pelo Princípio <strong>de</strong> Inércia das funções contínuas, essas funções seriam não-nulas<br />

numa pequena região U. E para uma pequena curva γ cercando essa região teríamos<br />

por Green <br />

h(z)·τγ = 0 ou h(z)·nγ = 0.<br />

γ<br />

Como isso não ocorre, pela nossa suposição, temos que concluir que valem:<br />

ou seja,<br />

∂v ∂u<br />

−<br />

∂x ∂y<br />

∂v<br />

∂x<br />

≡ ∂u<br />

∂y<br />

≡ 0 e<br />

e<br />

γ<br />

γ<br />

∂u ∂v<br />

+<br />

∂x ∂y<br />

∂u<br />

∂x<br />

= −∂v<br />

∂y .<br />

≡ 0,<br />

Como já vimos, a Afirmação 0.1 sugere que os campos z, z 2 e e z são conservativos e<br />

não têm fontes nem sumidouros. Portanto se <strong>de</strong>notamos por<br />

u(z)+Iv(z)<br />

as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sses três campos z, z 2 ou e z , temos que:<br />

Portanto para as coor<strong>de</strong>nadas<br />

∂v<br />

∂x<br />

≡ ∂u<br />

∂y<br />

e<br />

∂u<br />

∂x<br />

≡ −∂v<br />

∂y .<br />

u(z)−I ·v(z) = u(z)+I ·(−v(z))<br />

<strong>de</strong> cada um dos campos conjugados z, z 2 ou e z po<strong>de</strong>mos escrever:<br />

∂(−v)<br />

∂x<br />

≡ −∂u<br />

∂y<br />

4 Por enquanto o assumo, sem prová-lo<br />

e<br />

∂u<br />

∂x<br />

≡ ∂(−v)<br />

∂y .


CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 761<br />

Obtivemos assim para as coor<strong>de</strong>nadas u(z)+I(−v(z)) dos campos z, z 2 ou e z o que<br />

se chama <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> Cauchy-Riemann.<br />

2. A integral complexa e a idéia da primitiva Complexa<br />

Definição 2.1. (Integral Complexa)<br />

Seja h : C → C uma função com domínio e valores complexos.<br />

Denoto h(z) = u(z)+I ·v(z), ou seja, h((x,y)) = u(x,y)+I ·v(x,y) .<br />

E seja γ uma curva parametrizada no plano, <strong>de</strong>rivável, γ : [c,d] → C, γ(t) =<br />

(x(t),y(t)). Façamos duas <strong>de</strong>finições:<br />

d<br />

h(z)dz :=<br />

:=<br />

Afirmação 2.1. <br />

γ c<br />

(u(t)+I ·v(t))·(x ′ (t)+I ·y ′ d<br />

(t))dt :=<br />

u(t)·x<br />

c<br />

′ (t)−v(t)·y ′ d<br />

(t)dt+I · v(t)·x<br />

c<br />

′ (t)+u(t)·y ′ (t)dt.<br />

Cz 0 ,r<br />

<br />

f(z)dz =<br />

Demonstração.<br />

Imediata após a Definição 2.1.<br />

Cz 0 ,r<br />

Afirmação 2.2.<br />

i): Para qualquer círculo Cz0,r:<br />

<br />

zdz = 0 e<br />

Cz 0 ,r<br />

bem como: <br />

ii): Se (0,0) ∈ Dz0,r, então<br />

Mas se z0 = (0,0) então <br />

<br />

Cz 0 ,r<br />

Cz 0 ,r<br />

Cz 0 ,r<br />

<br />

f(z)·τz +I ·<br />

<br />

Cz 0 ,r<br />

e z dz = 0.<br />

1<br />

dz = 0.<br />

z<br />

1<br />

dz = 2π ·I.<br />

z<br />

Cz 0 ,r<br />

z 2 dz = 0,<br />

f(z)·nz.<br />

Demonstração.<br />

Com a Afirmação 2.1 vemos que isso é exatamente o que dizem as Afirmações 0.1<br />

e 0.2.


2. A INTEGRAL COMPLEXA E A IDÉIA DA PRIMITIVA COMPLEXA 762<br />

O item i) da Afirmação 2.2 faz parecer que estamos criando funções inúteis, pois<br />

suas integrais ao longo <strong>de</strong> círculos são zero. Mas é o contrário, esta anulação é que<br />

nos permitirá criar novas funções no plano para as quais valerá um tipo <strong>de</strong> teorema<br />

fundamental do Cálculo.<br />

De fato, suponha que não só em círculos temos<br />

<br />

f(z)dz = 0<br />

Cz 0 ,r<br />

mas façamos a suposição surpreen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> que em qualquer curva fechada sem autointersecção<br />

γ tenhamos <br />

γ<br />

f(z)dz = 0.<br />

Afirmo que, fixado um ponto z0 arbitrário no domínio da f, po<strong>de</strong>ríamos então<br />

<strong>de</strong>finir:<br />

z <br />

G(z) := f(z)dz := f(z)dz<br />

z0<br />

usando qualquer curva parametrizada (<strong>de</strong>rivável) que sai <strong>de</strong> z0 e chega em z.<br />

Em termos gerais, a idéia é que se tomo qualquer outra C ′ z0,z que sai <strong>de</strong> z0 e chega<br />

em z sem intersectar Cz0,z teríamos:<br />

<br />

f(z)dz = f(z)dz,<br />

pois <br />

on<strong>de</strong> γ = Cz0,z −C ′ z0,z<br />

<br />

=<br />

<br />

=<br />

Cz 0 ,z<br />

Cz 0 ,z<br />

Cz 0 ,z<br />

Cz 0 ,z−C ′ z 0 ,z<br />

<br />

f(z)dz −<br />

<br />

f(z)dz +<br />

C ′ z 0 ,z<br />

C ′ z 0 ,z<br />

−C ′ z 0 ,z<br />

<br />

f(z)dz =<br />

Cz 0 ,z<br />

f(z)dz =<br />

γ<br />

f(z)dz =<br />

f(z)dz = 0,<br />

é a curva fechada sem auto-intersecção que se forma ao irmos<br />

<strong>de</strong> z0 a z por Cz0,z e retornarmos a z0 pela C ′ z0,z.<br />

Afirmação 2.3. i): Se para toda curva fechada sem auto-intersecção γ temos<br />

<br />

f(z)dz = 0<br />

então a função<br />

γ<br />

G(z) :=<br />

z<br />

z0<br />

f(z)dz<br />

está bem <strong>de</strong>finida e G ′ (z) = f(z). Ou seja, G(z) é uma primitiva Complexa <strong>de</strong> f(z).<br />

ii): Escrevendo G(z) = U(z)+I ·V(z) temos<br />

G ′ (z) = ∂U<br />

∂x<br />

+I · ∂V<br />

∂x =


CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 763<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

∂U<br />

∂x<br />

= ∂V<br />

∂y<br />

≡ ∂V<br />

∂y<br />

que são as relações <strong>de</strong> Cauchy-Riemann.<br />

−I · ∂U<br />

∂y ,<br />

e<br />

∂V<br />

∂x<br />

≡ −∂U<br />

∂y ,<br />

Demonstração.<br />

Por enquanto justifico apenas o item ii). Deixo i) para a Seção 1 do Capítulo 51.<br />

G ′ f(z)−f(z)<br />

(z) = lim<br />

z→z z −z<br />

e esse limite pleno nos permite tomar qualquer direção <strong>de</strong> aproximação <strong>de</strong> z para z;<br />

o que é exigido apenas é que:<br />

||z −z|| → 0.<br />

Então posso tomar por exemplo uma direção horizontal para aproxima z e obter:<br />

para G(z) = U(z)+I ·V(z) e z = a+Ib:<br />

G ′ U(a+h+Ib)+I ·V(a+h+Ib)<br />

(z) = lim<br />

h→0 h+I0<br />

U(a+h,b)<br />

= lim +I ·<br />

h→0 h<br />

V(a+h,b)<br />

h<br />

=: ( ∂U<br />

∂x<br />

+I · ∂V<br />

∂x )(z).<br />

Ou posso tomar uma direção vertical <strong>de</strong> aproximação para z e obter, já que 1<br />

I<br />

G ′ U(a+I(b+h))+I ·V(a+I(b+h))<br />

(z) = lim<br />

h→0 Ih<br />

−IU(a+I(b+h))<br />

= lim +<br />

h→0 h<br />

V(a+I(b+h))<br />

h<br />

= (−I · ∂U<br />

∂y<br />

Comparando as duas expressões:<br />

obtemos:<br />

G ′ (z) = ∂V<br />

∂y<br />

∂U<br />

∂x<br />

≡ ∂V<br />

∂y<br />

−I · ∂U<br />

∂y<br />

e<br />

+ ∂V<br />

∂y )(z).<br />

= ∂U<br />

∂x<br />

∂V<br />

∂x<br />

=<br />

+I · ∂V<br />

∂x<br />

≡ −∂U<br />

∂y .<br />

=<br />

=<br />

=<br />

= −I:


3. CURVAS INTEGRAIS COMO PARTE IMAGINÁRIA DAS PRIMITIVAS<br />

COMPLEXAS 764<br />

3. Curvas integrais como parte imaginária das primitivas Complexas<br />

Afirmação 3.1. Ainda sob as hipóteses das Afirmação 2.3. Se<br />

então:<br />

G(z) :=<br />

z<br />

z0<br />

f(z)dz = U(z)+I ·V(z),<br />

i): as curvas dadas implicitamente por V(z) = C são curvas integrais do campo<br />

vetorial <strong>de</strong>finido por f(z).<br />

ii) A função U(z) é o potencial do campo f(z), ou seja,<br />

( ∂U ∂U<br />

, ) = f(z).<br />

∂x ∂y<br />

iii) As curvas V(z) = C e U(z) = C são ortogonais.<br />

Demonstração.<br />

De i):<br />

Pelo Teorema da Função implícita (Teorema 2.1 do Capítulo 15), on<strong>de</strong> a curva<br />

V(z) = C é um gráfico y = y(x), temos<br />

dy<br />

dx<br />

portanto o vetor tangente a V(z) = C é:<br />

−∂V<br />

∂x = , ∂V<br />

∂y<br />

( ∂V<br />

∂y ,−∂V<br />

∂x ).<br />

Por outro lado, pela Afirmação 2.3 e pelo Teorema Fundamental do Cálculo sobre<br />

os Complexos, temos que<br />

G ′ (z) = ∂U ∂V<br />

+I · = f(z).<br />

∂x ∂x<br />

Ora, as relações <strong>de</strong> Cauchy-Riemann dão, em particular, que:<br />

e portanto<br />

∂U<br />

∂x<br />

≡ ∂V<br />

∂y .<br />

( ∂V<br />

∂y ,−∂V ) = (∂U<br />

∂x ∂x ,−∂V ) = f(z).<br />

∂x<br />

De ii):<br />

Como<br />

∂U ∂V<br />

−I · = f(z),<br />

∂x ∂x<br />

basta usar a relação <strong>de</strong> Cauchy-Riemann:<br />

− ∂V ∂U<br />

=<br />

∂x ∂y .


CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 765<br />

De iii):<br />

Queremos ver se há anulação do produto escalar:<br />

( ∂U ∂U<br />

,<br />

∂x ∂y )·(∂V<br />

∂V<br />

, ) ≡ 0.<br />

∂x ∂y<br />

Ora, pela duas relações <strong>de</strong> Cauchy-Riemann:<br />

∂U<br />

∂x<br />

· ∂V<br />

∂x<br />

+ ∂U<br />

∂y<br />

· ∂V<br />

∂y<br />

∂U<br />

=<br />

∂x ·(−∂U<br />

∂U<br />

)+<br />

∂y ∂y<br />

· ∂U<br />

∂x<br />

Foiassimquenuma Seção 50obtivemosascurvasintegraisdostrêscamposf(z) =<br />

e z . f(z) = z e f(z) = z 2 . Pois<br />

<br />

e z dz = e z +C,<br />

<br />

zdz = z2<br />

2<br />

+C, e<br />

e suas partes imaginárias V(z) são respectivamente:<br />

e x ·sin(y), x·y e<br />

Já suas partes Reais U(z) são respectivamente:<br />

e x ·cos(y),<br />

x 2<br />

2<br />

− y2<br />

2<br />

<br />

y3 −3x2y .<br />

3<br />

e x3<br />

3 −xy2<br />

≡ 0<br />

z 2 dz = z3<br />

3 +C<br />

Nas figuras a seguir coloco juntas as curvas ortogonais U(z) = C e V(z) = C<br />

<strong>de</strong>sses três exemplos:<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1 -0,5 0 0,5 1 1,5<br />

-1<br />

-2<br />

Fig.: Curvas ortogonais e x ·sin(y) = C e e x ·cos(y) = C.<br />

x<br />

2


4. A EXPONENCIAL COMPLEXA E OS RAMOS DO LOGARITMO<br />

COMPLEXO 766<br />

-2<br />

2<br />

1<br />

y 0<br />

-1 0 1<br />

2<br />

Fig.: Curvas ortogonais x·y = C e x2<br />

2<br />

-2<br />

-1<br />

-2<br />

2<br />

1<br />

x<br />

− y2<br />

2<br />

y 0<br />

-1 0 1<br />

2<br />

-1<br />

-2<br />

x<br />

= C.<br />

Fig.: Curvas ortogonais x3<br />

3 −xy2 = C e y 3 −3x 2 y = C.<br />

4. A exponencial Complexa e os ramos do logaritmo Complexo<br />

A <strong>de</strong>finição que <strong>de</strong>mos:<br />

e a+I·b := e a ·(cos(b)+I ·sin(b))<br />

faz que a exponencial complexa não seja injetiva.<br />

De fato, note que ela é periódica, no sentido <strong>de</strong> que<br />

e z+2πI = e z .


CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 767<br />

Vista mais em <strong>de</strong>talhe, note que e z manda as retas horizontais y = C em<br />

e a ·(cos(C)+I sin(C))<br />

que são semi-retas saindo da origem na direção do vetor unitário (cos(C)+Isin(C).<br />

E que e z manda segmentos verticais dados por x = C e 0 ≤ y ≤ π em semicírculos<br />

<strong>de</strong> raio e C centrados na origem:<br />

e C ·(cos(y)+I sin(y)), 0 ≤ y ≤ π.<br />

Se vê então que e z manda a faixa horizontal H0,π : 0 ≤ y ≤ π no semiplano<br />

H0 : y ≥ 0.<br />

Afirmo que essa aplicação e z : H0,π → H0 é bijetora: <strong>de</strong> fato, dado w := x+I ·y<br />

com y > 0, <strong>de</strong>termino primeiro qual ângulo b, com 0 ≤ b ≤ π, que o vetor (x,y)<br />

forma com o eixo dos x > 0. Então:<br />

w = x+I ·y = r ·(cos(b)+Isin(b)),<br />

para 0 < r = |x+Iy| = |w|.<br />

E agora tomo a := ln(|w|).<br />

Portanto esse a+I ·b é tal que e a+I·b = x+I ·y = w.<br />

Essas operações que fizemos para <strong>de</strong>scobrir o a+Ib enviado em w = x+Iy pela<br />

e z po<strong>de</strong>m ser resumidas como:<br />

z = x+I ·y = |w|·((cos(b)+I sin(b)) ↦→ z = ln(|w|)+I ·θ<br />

on<strong>de</strong> θ é o ângulo entre 0 e π formado pelo vetor (x,y) com o eixo dos x > 0.<br />

A Figura a seguir ilustra essas observações:<br />

y<br />

π I<br />

x<br />

z<br />

e<br />

Fig.: e z manda a faixa horizontal 0 ≤ y ≤ π no semiplano y ≥ 0.<br />

E do mesmo modo se po<strong>de</strong> ver que e z manda a faixa horizontal 0 < y < 2π no<br />

plano menos o semi-eixo dos x ≥ 0, bijetoramente.<br />

Ou seja, para qualquer w = x + Iy no plano menos o semi-eixo dos x ≥ 0 faz<br />

sentido a operação<br />

w = x+I ·y = |z|·((cos(b)+I sin(b)) ↦→ z = ln(|w|)+I ·θ<br />

on<strong>de</strong> θ é o ângulo entre 0 e 2π formado pelo vetor (x,y) com o eixo dos x > 0.<br />

Essa operação<br />

w = x+I ·y = |w|·((cos(b)+Isin(b)) ↦→ z = ln(|w|)+I ·θ<br />

y


5. O TEOREMA FUNDAMENTAL DO CÁLCULO SOBRE OS COMPLEXOS768<br />

on<strong>de</strong> θ é o ângulo entre 0 e 2π formado pelo vetor (x,y) com o eixo dos x > 0 será<br />

chamada <strong>de</strong> o ramo do logaritmo natural Complexo com argumento θ entre 0 e 2π.<br />

Tambémpo<strong>de</strong>ríamosestabelecerqueoargumentoficasseentre−π eπ porexemplo<br />

e teríamos outro ramo do logaritmo natural Complexo.<br />

Afirmação 4.1. Consi<strong>de</strong>re ln(w) o ramo logaritmo natural Complexo com argumento<br />

θ entre 0 e 2π.<br />

Suponha que existe a <strong>de</strong>rivada complexa:<br />

Então<br />

Demonstração.<br />

Para w = x+I ·y temos:<br />

ln ′ (w) := lim<br />

w→w<br />

ln(w)−ln(w)<br />

.<br />

w−w<br />

ln ′ (w) = 1<br />

w .<br />

ln(w) := ln( x 2 +y 2 )+I ·θ(x,y), on<strong>de</strong> 0 < θ < 2π.<br />

Pelo que apren<strong>de</strong>mos na prova do item ii) da Afirmação 2.3,<br />

+I ·<br />

∂x<br />

∂θ(x,y)<br />

∂x =<br />

= 1<br />

2 ·<br />

2x<br />

x2 −y<br />

+I ·<br />

+y2 x2 =<br />

+y2 x<br />

=<br />

x2 y<br />

−I ·<br />

+y2 x2 +y2, (pelo que vimos na prova do item ii) da Afirmação 7.1 do Capítulo 36 e que já usamos<br />

há pouco neste Capítulo).<br />

Mas:<br />

x<br />

x2 y<br />

−I ·<br />

+y2 x2 w 1<br />

= =<br />

+y2 |w| 2 w ,<br />

como queríamos.<br />

En passant, aproveito para checar as relações <strong>de</strong> Cauchy-Riemann para as componentes<br />

do ramo do ln(w):<br />

ln ′ (w) = ∂ln( x 2 +y 2 )<br />

∂ln( x 2 +y 2 )<br />

∂x<br />

=<br />

x<br />

x2 ∂θ<br />

=<br />

+y2 ∂y ,<br />

(pelo que vimos na prova do item ii) da Afirmação 7.1 do Capítulo 36) e<br />

∂θ(x,y)<br />

∂x<br />

= −y<br />

x2 +y2 = −∂ln( x2 +y2 )<br />

∂y<br />

5. O Teorema fundamental do Cálculo sobre os Complexos<br />

(Em elaboração)<br />

.


CAPÍTULO 50. UM PORTAL PARA O CÁLCULO COMPLEXO 769<br />

Exercício 6.1. Verifique que:<br />

e que:<br />

6. Exercícios<br />

z1 ·z2 = z1 ·z2, ∀z1,z2 ∈ C<br />

e z = e z .<br />

Exercício 6.2.<br />

Consi<strong>de</strong>re a construção geométrica a seguir, ilustrada na Figura;<br />

Tome z com 0 < |z| < 1. Consi<strong>de</strong>re a reta por (0,0) e por z, <strong>de</strong>notada rz. Levante<br />

uma perpendicular pz a rz passando por z. Por um dos pontos one pz intersecta o<br />

círculo trace a tangente tz ao círculo.<br />

Consi<strong>de</strong>re o ponto tz ∩rz.<br />

1<br />

p<br />

z<br />

z<br />

i) Mostre que 1<br />

z = tz ∩rz. Dica: semelhança <strong>de</strong> triângulos.<br />

ii) para z com |z| > 1 inverta a construção, começando por traçar uma tangente<br />

ao círculo, etc. conclua que obterá também 1<br />

z .<br />

t z<br />

r z


CAPíTULO 51<br />

Os Teoremas Fundamentais<br />

1. A primitiva Complexa<br />

771


CAPíTULO 52<br />

Soluções <strong>de</strong>talhadas <strong>de</strong> alguns Exercícios<br />

0.1. Capítulo 2: Exercício 9.6:<br />

i) f−1 (x) = 3√ x<br />

ii) f−1 (x) = 3√ x−1<br />

iii) f−1 (x) = 3√ x+1<br />

iv) f−1 (x) = 3<br />

<br />

− 1<br />

5 (−10+x)<br />

v) O enunciado não diz, mas <strong>de</strong> fato y > 0, pois x ∈ (0,1) dá 1−x 2 > 0 e portanto<br />

y = x<br />

1−x2 > 0.<br />

Agora<br />

y = x<br />

1−x 2 ⇔ y ·x2 +x−y = 0,<br />

e precisamos resolver essa equação quadrática em x, para termos x = x(y).<br />

Ora, por Báskara as soluções são:<br />

x 1 = −1+ 1−4y(−y)<br />

2y<br />

x 2 = −1− 1+4y 2<br />

= −1+1+4y 2<br />

,<br />

2y<br />

.<br />

2y<br />

Precisamos ficar com a solução que seja positiva, pois por hipótese x ∈ (0,1).<br />

Como y = x<br />

1−x2 > 0 e a solução positiva é:<br />

x := x1 = −1+1+4y 2<br />

.<br />

2y<br />

Ou seja, a candidata a função inversa é:<br />

x = −1+1+4y 2<br />

,<br />

2y<br />

que faz sentido ∀y > 0 (mostraremos mais adiante que a imagem <strong>de</strong> y = x<br />

1−x 2 é <strong>de</strong><br />

fato todo R >0 ).<br />

Preciso conferir que x(y(x)) ≡ x, o que não está nada óbvio neste exemplo.<br />

Vejamos:<br />

x(y(x)) =<br />

=<br />

−1+<br />

−1+<br />

<br />

1+4( x 2<br />

1−x2) 2( x<br />

1−x2) (1−x 2 ) 2 +4x 2<br />

(1−x 2 ) 2<br />

2( x<br />

1−x 2)<br />

773<br />

=<br />

=


0.2. Capítulo 3:<br />

Exercício 6.2:<br />

ii) Primeiro noto que:<br />

=<br />

−1+<br />

(1+x 2 ) 2<br />

(1−x 2 ) 2<br />

2( x<br />

1−x 2)<br />

−1+ 1+x2<br />

1−x2 2( x<br />

1−x<br />

2) = x.<br />

=<br />

x 2 −x > 0 ⇔ x·(x−1) > 0 ⇔<br />

x > 0 e x−1 > 0 ou x < 0 e x−1 < 0.<br />

Ou seja, se x > 1 (mais forte que x > 0) ou se x < 0 (mais forte que x < 1).<br />

Em suma, se x ∈ (−∞,0)∪(1,+∞).<br />

iii) As raízes <strong>de</strong> 3x 2 −2x−1 = 0 são: x 1 = − 1<br />

3 e x 2 = 1. Logo<br />

3x 2 −2x−1 = (x+ 1<br />

3 )·(x−1).<br />

Portanto preciso <strong>de</strong>terminar on<strong>de</strong> o produto (x+ 1<br />

)·(x−1) é positivo.<br />

3<br />

Ou ambos fatores nesse produto são positivos ou ambos são negativos, ou seja:<br />

x > − 1<br />

e x > 1 ou x < −1<br />

3 3<br />

Tomando apenas as informações mais fortes:<br />

ou seja, x ∈ (−∞,− 1<br />

3 )∪(1,+∞).<br />

Exercício 6.3<br />

Solução n. 1:<br />

O que se quer provar é que:<br />

ou que<br />

x > 1 ou x < − 1<br />

3 ,<br />

e x < 1.<br />

+△ ≤ ||+|△|, caso 0 ≤ +△,<br />

−(+△) ≤ ||+|△|, caso +△ < 0.<br />

Caso 0 ≤ +△: obviamente que valem<br />

≤ || e △ ≤ |△|,<br />

e somando essas duas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s obtemos o <strong>de</strong>sejado:<br />

+△ ≤ ||+|△|.<br />

Caso +△ < 0: então pelo menos um<strong>de</strong>les énegativo, por exemplo, suponhamos<br />

que < 0. Por absurdo, suponha que<br />

||+|△| < −(+△).<br />

774


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 775<br />

Como || = −, cancelamos esses termos na <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> anterior e obtemos então<br />

que:<br />

|△| < −△.<br />

Se 0 < △ então chegamos no absurdo:<br />

0 < △ =: |△| < −△ < 0.<br />

Se △ ≤ 0 então −△ =: |△| < −△ é outro absurdo.<br />

Logo<br />

−(+△) ≤ ||+|△|, caso (+△) < 0.<br />

Solução n. 2: (do estudante Walter Ferreira Diniz Júnior)<br />

A proprieda<strong>de</strong> xiii) da Afirmação 3.1 do Capítulo 3, dá, como caso particular, que:<br />

Ou seja que<br />

Mas então queremos saber se:<br />

0 ≤ x1 ≤ x2 ⇔ 0 ≤ x 2 1 ≤ x2 2 .<br />

|+△| ≤ ||+|△| ⇔ (+△) 2 ≤ (||+|△|) 2 .<br />

2 +2··△+△ 2 ≤ 2 +2·||·|△|+△ 2 ,<br />

ou seja, se<br />

·△ ≤ ||·|△|.<br />

Se e △ têm o mesmo sinal então há igualda<strong>de</strong> nessa expressão. Se e △ têm<br />

sinais opostos há <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> estrita.<br />

0.3. Capítulo 4:<br />

Exercício 4.5:<br />

Não temos informação nenhuma sobre a sequência, exceto que seus termos são<br />

negativos. Por isso o melhor é raciocinar por absurdo.<br />

Suponha por absurdo que limn→+∞ xn = L > 0. Consi<strong>de</strong>re<br />

ǫ := L = |L−0|,<br />

ou seja, a distância entre L e 0. Pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> limn→+∞ xn, dado esse ǫ tem que<br />

haver um nǫ ∈ N tal que:<br />

n > nǫ ⇒ |xn −L| < ǫ.<br />

Mas coma escolha <strong>de</strong> ǫ := L isto quer dizer:<br />

ou seja, ou bem<br />

ou bem<br />

n > nǫ ⇒ |xn −L| < L,<br />

xn −L < L, se 0 ≤ xn −L,<br />

−(xn −L) = L−xn < L, se xn −L < 0.<br />

No primeiro caso, 0 < L ≤ xn e no segundo caso 0 = L−L < xn.<br />

em ambos chegamos numa contradição com a hipótese xn < 0 ∀n.<br />

Logo L ≤ 0.


Por exemplo, a sequência −1 < 0 tem L = 0.<br />

n<br />

0.4. Capítulo 5:<br />

0.5. Capítulo 6:<br />

Exercício 9.4:<br />

Se x = 0afunção éresultado da composição <strong>de</strong> duasfunções contínuas, 1 e sin(x), x<br />

e do produto com x: logo é contínua em x = 0.<br />

Precisamos mostrar que em x = 0 temos:<br />

lim<br />

x→0 xsin(1)<br />

= 0,<br />

x<br />

pois esse foi o valor associado a f(0) = 0.<br />

Ou seja, precisamos ver que se xn é qualquer sequência com limn→+∞ xn = 0<br />

então:<br />

lim<br />

n→+∞<br />

1<br />

xnsin( ) = 0.<br />

Mas como | sin( 1<br />

xn )| ≤ 1, dado ǫ tomamos nǫ tal que:<br />

e teremos:<br />

o que siginifica<br />

xn<br />

|xn| < ǫ<br />

|xnsin( 1<br />

)| = |xn|·| sin( 1<br />

)| <<br />

xn<br />

lim<br />

n→+∞<br />

< ǫ·1 = ǫ,<br />

xn<br />

1<br />

xnsin( ) = 0.<br />

xn<br />

O Maple plota assim o gráfico <strong>de</strong> y = xsin( 1<br />

x<br />

Exercício 9.9<br />

-0,1<br />

-0,05<br />

0,04<br />

x<br />

0<br />

0<br />

-0,04<br />

-0,08<br />

) perto da origem:<br />

0,05<br />

0,1<br />

776


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 777<br />

i):<br />

lim<br />

x→+∞<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

√ 5·x 2 +x<br />

<br />

x 2 ·(5+ 1<br />

x )<br />

x+2<br />

= lim<br />

x→+∞ x·(1+ 2<br />

<br />

=<br />

) x<br />

|x|· 5+ 1<br />

x<br />

x·(1+ 2<br />

<br />

5+<br />

= lim<br />

) x→+∞<br />

x 1<br />

x<br />

1+ 2 =<br />

x<br />

<br />

=<br />

5+limx→+∞ 1<br />

x<br />

1+limx→+∞ 2<br />

x<br />

1+limx→−∞ 2<br />

x<br />

= √ 5,<br />

on<strong>de</strong> se usou a continuida<strong>de</strong> da raíz quadrada e que x > 0.<br />

ii):<br />

<br />

√<br />

5·x 2 +2 x<br />

lim = lim<br />

x→−∞ x+2 x→−∞<br />

2 ·(5+ 2<br />

x2) x·(1+ 2 =<br />

) x<br />

<br />

|x|· 5+<br />

= lim<br />

x→−∞<br />

2<br />

x2 x·(1+ 2 = lim<br />

) x→−∞<br />

x −<br />

<br />

5+ 2<br />

x2 1+ 2 =<br />

x<br />

<br />

5+limx→−∞<br />

= −<br />

2<br />

x2 = − √ 5,<br />

on<strong>de</strong> se usou que x < 0.<br />

Exercício 9.10:<br />

Fazemos aparecer quocientes:<br />

lim<br />

x→+∞ (√x2 +x−x) = lim<br />

x→+∞ (√x2 +x−x)·[<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

x 2 +x−x 2<br />

√ x 2 +x+x = lim<br />

x→+∞<br />

x<br />

x<br />

√ x 2 +x+x<br />

x<br />

= lim<br />

x→+∞<br />

√<br />

x2 +x+x<br />

√ ] =<br />

x2 +x+x<br />

x<br />

√ x 2 +x+x =<br />

1<br />

x 2<br />

x 2 + x<br />

x 2 +1<br />

= 1<br />

2 .<br />

Exercício 9.12:<br />

No Curso se mostrou que todo polinômio Real <strong>de</strong> grau ímpar tem alguma raíz<br />

Real.<br />

Mas para esses polinômios o Teorema do Valor Intermediário mostra que há raíz<br />

no intervalo [−1,0), já que<br />

f(−1) := −1−(ǫ1 +...+ǫn)+1 < 0,<br />

f(0) = 1.<br />

O problema aqui é mostrar que só há uma Raíz Real para cada um <strong>de</strong>sses<br />

polinômios.


Suponhamos por absurdo que a equação<br />

x 2n+1 +ǫ1 ·x 2n−1 +ǫ2 ·x 2n−3 +...+ǫn−1 ·x 3 +ǫn ·x+1 = 0<br />

tenha duas raízes x 1,x 2, com x 1 < x 2. Então pelo Teorema <strong>de</strong> Rolle a <strong>de</strong>rivada da<br />

função<br />

f(x) := x 2n+1 +ǫ1 ·x 2n−1 +ǫ2 ·x 2n−3 +...+ǫn−1 ·x 3 +ǫn ·x+1<br />

tem que se anular num ponto x ∈ (x 1,x 2). Mas<br />

f ′ (x) := (2n+1)·x 2n +ǫ1·(2n−1)·x 2n−2 +ǫ2·(2n−3)·x 2n−4 +...+ǫn−1·3·x 2 +ǫn = 0<br />

não tem Raíz Real, pois cada um <strong>de</strong> seus monômios tem grau par, os ǫi ≥ 0, para<br />

i = 1,...,n−1 e ǫn > 0.<br />

Logo só há uma raíz Real.<br />

Agora dado um x ∈ [−1,0) fixado, resolvo a seguinte equação linear em ǫ:<br />

obtendo:<br />

x 3 +ǫ·x+1 = 0<br />

ǫ = −1−x3<br />

x<br />

e facilmente se vê que ǫ ≥ 0 e é zero quando x = −1.<br />

A seguir ploto três gráficos, <strong>de</strong> y = x 3 +1, <strong>de</strong> y = x 3 + 7<br />

4<br />

<strong>de</strong> y = x 3 + 63<br />

16<br />

0.6. Capítulo 7:<br />

Exercício 8.3:<br />

Resolver o sistema<br />

·x+1 cuja raíz é −1<br />

4 .<br />

-2 -1<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0<br />

x<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

y −5x−2 = 0 e 2y −10x−1 = 0,<br />

significa, geometricamente, intersectar as retas:<br />

1<br />

2<br />

778<br />

·x+1 cuja raíz é −1<br />

2 e<br />

y = 5x+2 e y = 10x+1<br />

= 5x+<br />

2<br />

1<br />

2 .<br />

Porém essas retas tem o mesmo coeficiente angular 5, logo são paralelas e distintas<br />

(pois seus coeficientes lineares são distintos).


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 779<br />

Por isso não consigo resolver o sistema.<br />

Exercício 8.6<br />

i) Quero que o coeficiente angular a ′ da reta contendo o segmento PQ seja<br />

a ′ = − 1<br />

a<br />

paera que haja ortogonalida<strong>de</strong> com a reta y = ax+b.<br />

Ora então quero:<br />

Isso produz uma equação:<br />

A solução é<br />

Portanto<br />

a ′ := (ax+b)−B<br />

x−A<br />

Q = ( A−a(b−B)<br />

a2 +1<br />

ii) Se temos x = A então :<br />

isso dá<br />

= − 1<br />

a .<br />

(a 2 +1)x+a(b−B)−A = 0.<br />

x = A−a(b−B)<br />

a2 .<br />

+1<br />

, a·( A−a(b−B)<br />

a2 )+b).<br />

+1<br />

A = A−a(b−B)<br />

a 2 +1<br />

a 2 A+a(b−B) = 0.<br />

Supondo por um momento a = 0, divido por ele e obtenho:<br />

aA+(b−B) = 0,<br />

ou seja, aA+b = B. Mas isso significa que P = (A,B) ∈ r.<br />

A conclusão é que, se x = A, então<br />

ou P = Q = (A,B) ou a = 0.<br />

No caso a = 0 temos uma reta r horizontal e Q é a projeção vertical <strong>de</strong> P sobre essa<br />

reta.<br />

Exercício 8.8:<br />

As coor<strong>de</strong>nadas x dos pontos <strong>de</strong> intersecção da elipse x2 + y2<br />

b2 = 1 com a reta<br />

y = −x+5 são as soluções da equação quadrática em x:<br />

ou seja, soluções <strong>de</strong>:<br />

O discriminante <strong>de</strong>ssa equação é:<br />

x 2 + (−x+5)2<br />

b 2<br />

−1 = 0,<br />

(b 2 +1)·x 2 −10·x−b 2 +25 = 0.<br />

∆ := 100−4·(b 2 +1)·(25−b 2 ).


Esse discriminante seanula quandohá umaraízdupla, ousejahá tangência. Portanto<br />

quero:<br />

100−4·(b 2 +1)·(25−b 2 ) = 0 ⇔<br />

ou seja b 2 = 24, já que b = 0<br />

nadas:<br />

Exercício 8.9:<br />

De y = 1<br />

x<br />

⇔ 24·b 2 −b 2 ·b 2 = 0 ⇔ b 2 ·(b 2 −24) = 0,<br />

obtenho x = 1<br />

y<br />

780<br />

. Ou seja, quando postas no mesmo sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>-<br />

f(x) = f −1 (x) = 1<br />

x .<br />

Uma função com a proprieda<strong>de</strong> f = f−1 é chamada <strong>de</strong> involução.<br />

O gráfico da função inversa é sempre obtido da função original por reflexão na<br />

diagonal. Como essas funções coinci<strong>de</strong>m no itemvi), então concluimos que aoperação<br />

<strong>de</strong> refletir o gráfico <strong>de</strong> y = 1 o faz recair emcima <strong>de</strong>le mesmo. Isso é a simetria em<br />

x<br />

relação à diagonal.<br />

0.7. Capítulo 8:<br />

Exercício 5.4:<br />

Note primeiro que a função h(x) dada por<br />

sin(k ·x)<br />

se x = 0 e h(0) := 1,<br />

k ·x<br />

é a composição h := f(g(x)) da função contínua<br />

f(x) := sin(x)<br />

, se x = 0 e f(0) := 1,<br />

x<br />

com a função contínua g(x) := k ·x.<br />

Logo h é contínua e portanto<br />

Mas então:<br />

ou seja,<br />

Para calcular<br />

escrevo, para x = 0:<br />

tan(j ·x)<br />

sin(k ·x) :=<br />

lim<br />

x→0<br />

lim<br />

x→0<br />

lim<br />

x→0<br />

sin(k ·x)<br />

k ·x<br />

sin(k ·x)<br />

k ·x<br />

lim<br />

x→0<br />

sin(j ·x)<br />

cos(j ·x)·sin(k ·x)<br />

sin(k ·x)<br />

x<br />

tan(j ·x)<br />

sin(k ·x)<br />

= 1.<br />

·k = k,<br />

= k.<br />

j sin(j ·x)<br />

= · ·<br />

k j ·x<br />

k ·x<br />

sin(k ·x) ·<br />

1<br />

cos(j ·x) .


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 781<br />

Usando o que vimos acima (bem como limite <strong>de</strong> produto e inverso e a continuida<strong>de</strong><br />

do cosseno) o limite<br />

tan(j ·x)<br />

lim<br />

x→0 sin(k ·x)<br />

vira<br />

j sin(j ·x) k ·x 1 j<br />

· lim · lim · lim =<br />

k x→0 j ·x x→0 sin(k ·x) x→0 cos(j ·x) k .<br />

0.8. Capítulo 9:<br />

Exercício 6.6:<br />

Fixe x = 0. No que segue, se x < 0 tome x < 0 e se x > 0 tome x > 0.<br />

Traçoretassecantesaográfico<strong>de</strong>y = 1 1 1<br />

ligando(x, )acada(x, ), cujocoeficente<br />

x x x<br />

angular é:<br />

ax :=<br />

1 1 − x x<br />

x−x =<br />

x−x<br />

xx<br />

x−x =<br />

= x−x 1 −1<br />

· = < 0,<br />

(x−x) xx xx<br />

(pois x e x têm o mesmo sinal).<br />

As secantes são portanto retas <strong>de</strong> coeficiente angular ax


f(x+h)−f(x)+f(x)−f(x+(−h))<br />

= lim<br />

h→0 h<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong>:<br />

logo<br />

e<br />

= lim<br />

h→0<br />

f(x+h)−f(x+(−h))<br />

,<br />

h<br />

f ′ f(x+h)−f(x−h))<br />

(x) = lim .<br />

h→0 2h<br />

A função <strong>de</strong>scontínua em x = 0 dada por g(0) = 0 e g(x) = 1, se x = 0 tem<br />

g(0+h)−g(0−h)<br />

2h<br />

= 0,<br />

g(0+h)−g(0−h)<br />

lim = 0.<br />

h→0 2h<br />

0.9. Capítulo 10:<br />

Exercício 6.4:<br />

Primeiro testo se (−1,−1) e (2,3) estão em todos os gráficos <strong>de</strong>:<br />

De fato:<br />

y = fb(x) := (4/3−b)·x 2 +b·x+(2b−7/3), b ∈ R.<br />

(4/3−b)·(−1) 2 +b·(−1)+(2b−7/3) = −3<br />

3<br />

= −1,<br />

(4/3−b)·2 2 +b·2+(2b−7/3) = 9<br />

= 3.<br />

3<br />

O coeficiente angular da secante a todos os gráficos y = fb(x) ligando (−1,−1) a<br />

(2,3) é:<br />

a = 3+1 4<br />

=<br />

2+1 3 .<br />

Pelo Teorema <strong>de</strong> Lagrange <strong>de</strong>vem haver pontos xb (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> b, a princípio<br />

...) tais que<br />

xb ∈ (−1,2) e f ′ b (xb) = 4<br />

3 .<br />

Vejamos quem são os xb. Temos<br />

e igualando a 4<br />

3<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

f ′ b (x) = 2·(4/3−b)·x+b,<br />

criamos uma equção em x:<br />

2·(4/3−b)·x+b = 4<br />

3 ,<br />

x = 1<br />

2 ·(<br />

4<br />

3 −b<br />

4<br />

3<br />

1<br />

=<br />

−b) 2 ,<br />

ou seja ∀b: xb = 1.<br />

Por isso quando fazemos um zoom numa faixa vertical em torno<br />

2<br />

<strong>de</strong><br />

( 1 1<br />

,fb(<br />

2 2 ))<br />

vemos todos os gráficos parecidos com retas paralelas, <strong>de</strong> mesma inclinação 4<br />

3 .<br />

782


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 783<br />

0.10. Capítulo 11:<br />

Exercício 10.5:<br />

Nas Figuras a seguir não usei a mesma escala nos eixos x e y, por isso as figuras<br />

são apenas qualitativamente corretas.<br />

-1<br />

6<br />

4<br />

2<br />

-0,5 0 0,5 1<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

-8<br />

x<br />

Figura: y = f1(x) = x 3 −x 2 (verm.), f ′ 1(x) (ver<strong>de</strong>), f ′′<br />

1(x) (amar.)<br />

-1<br />

-0,5<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

x<br />

0,5<br />

1<br />

1,5


Figura: y = f2(x) = x2 −x3 (verm.), f ′ 2 (x) (ver<strong>de</strong>), f′′ 2 (x) (amar.)<br />

-1<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

1<br />

x<br />

Figura: y = f3(x) = −2x2 +x3 (verm.), f ′ 3 (x) (ver<strong>de</strong>), f′′ 3 (x) (amar.)<br />

-1 -0,5<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0<br />

-5<br />

x<br />

Figura: y = f4(x) = x4 −2x2 (verm.), f ′ 4 (x) (ver<strong>de</strong>), f′′ 4 (x) (amar.)<br />

0,5<br />

2<br />

1<br />

3<br />

784


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 785<br />

-1<br />

-0,5<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

0 0,5 1 1,5 2<br />

-20<br />

Figura: y = f5(x) = 3x4 −4x3 (verm.), f ′ 5 (x) (ver<strong>de</strong>), f′′ 5 (x) (amar.)<br />

Esta última Figura merece um zoom perto da origem:<br />

Exercício 10.6:<br />

Note que<br />

-0,4<br />

-0,2<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0<br />

-5<br />

x<br />

x<br />

0,2<br />

0,4<br />

0,6<br />

x 3 +C ·x 2 = −((−x) 3 −C(−x) 2 ).<br />

Ousejaqueográfico<strong>de</strong>y = x 3 +C·x 2 po<strong>de</strong>serobtidorefletindo o<strong>de</strong>y = x 3 −C·x 2<br />

primeiramente no eixo x (passar <strong>de</strong> x a −x) e, <strong>de</strong>pois, refletindo no eixo y (passar <strong>de</strong><br />

y para −y).


A Figura a seguir mostra em vermelho y = x 3 − C · x 2 , em ver<strong>de</strong> o <strong>de</strong> y =<br />

(−x) 3 −C(−x) 2 e em amarelo o <strong>de</strong> y = x 3 +C ·x 2 . para C = 3.<br />

-3 -2<br />

Exercício 10.8<br />

Um reta rλ por (A,B) tem equação:<br />

-1<br />

100<br />

50<br />

0<br />

0 1<br />

-50<br />

x<br />

-100<br />

y = λx−λA+B.<br />

Note que λ = a pois λ = a daria paralelismo entre a reta rλ e y = ax. Po<strong>de</strong> acontecer<br />

que λ ≤ 0. Mas se λ > 0 então λ < a, já que rλ precisa formar um triângulo no<br />

primeiro quadrante. Ou seja,<br />

B > a·A > λ·A<br />

e portanto a intersecção <strong>de</strong> rλ e y = ax é o ponto do primeiro quadrante:<br />

( B −λA<br />

a−λ<br />

A intersecção <strong>de</strong> rλ com o eixo dos y > 0 é:<br />

2<br />

, a· B −λA<br />

a−λ )<br />

(B −λA,0).<br />

A área do triângulo formado pela origem e esses dois pontos é 1 ·||D|| on<strong>de</strong> 2<br />

<br />

<br />

0 0 1 <br />

<br />

D = <br />

<br />

0 B −λA 1 <br />

<br />

<br />

B−λA<br />

a−λ a· B−λA<br />

a−λ 1<br />

Esse <strong>de</strong>terminante é imediato (<strong>de</strong>senvolvendo pela coluna <strong>de</strong> 1 s):<br />

D = − (B −λA)2<br />

a−λ<br />

3<br />

786


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 787<br />

ou seja a área do triângulo é<br />

A(λ) = 1<br />

2<br />

(B −λA)2<br />

· .<br />

a−λ<br />

Então:<br />

A ′ (λ) = −1 (B −λA)·(2Aa−λ·A−B)<br />

·<br />

2 (a−t) 2<br />

e pontos críticos <strong>de</strong> A(λ) estão em:<br />

Mas a reta com λ = B<br />

A<br />

as outras duas.<br />

λ = B<br />

A<br />

2Aa−B<br />

e λ = .<br />

A<br />

x e não forma um triângulo com<br />

que passa por (A,B) é y = B<br />

A<br />

Portanto a solução <strong>de</strong>ve ser λ = 2Aa−B<br />

A<br />

cujo sinal é sempre positivo.<br />

A ′′ (λ) = 2· (Aa−B)2<br />

(a−t) 3<br />

. Po<strong>de</strong>mos conferir que:<br />

Portanto λ = 2Aa−B<br />

A é o ponto <strong>de</strong> mínimo buscado.<br />

Nele a área do triângulo (<strong>de</strong> menor área portanto) vale:<br />

2A·(B −Aa).<br />

Exercício 10.17:<br />

Primeiro vou usar a intuição sugerida pela figura. A figura parece indicar que<br />

a reta tangente a y = x 3 em (1,1) consegue passar entre os dois gráficos, apenas<br />

tocando o gráfico ver<strong>de</strong>. Como só consi<strong>de</strong>ramos x < 1 ela é uma boa candidata.<br />

Ou seja, conjecturo que a reta<br />

y = 3x−2<br />

tangencia o gráfico <strong>de</strong> y = x 3 − 3x 2 + 3x − 2 e passa entre os dois gráficos sem<br />

intersectar o gráfico <strong>de</strong> y = x 3 , <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que restrinjamos<br />

x ∈ (−2,1).<br />

Como é a intersecção <strong>de</strong> y = 3x−2 com y = x 3 −3x 2 +3x−2 ?<br />

Faço 3x−2 = x 3 −3x 2 +3x−2 e obtenho x 3 −3x 2 = 0, ou seja<br />

x 2 ·(x−3) = 0.<br />

Então areta y = 3x−2 tangencia y = x 3 −3x 2 +3x−2no ponto(0,−2)(eintersecta-a<br />

também no ponto (3,7), mas esse ponto não nos interessa).<br />

E on<strong>de</strong> y = 3x−2 intercecta y = x 3 , além do ponto (1,1) ? Faço:<br />

x 3 = 3x−2,<br />

ou seja, quero resolver x 3 −3x+2 = 0. Se não vejo imediatamene as soluções, posso<br />

pensar assim: como x = 1 é ponto <strong>de</strong> tangência, então:<br />

e o outro ponto será x = −b<br />

a .<br />

x 3 −3x+2 = (x−1) 2 ·(ax+b)


Ora, por divisão obtenho<br />

x 3 −3x+2 = (x−1) 2 ·(x+2),<br />

portanto x = −2. Mas este ponto não pertence ao intervalo (−2,1). Ou seja, que<br />

y = 3x−2 passa entre os gráficos, tocando o gráfico ver<strong>de</strong> em (0,−2).<br />

Exercício 10.18:<br />

Como o gráfico é côncavo para baixo em [0,+∞), ele fica por baixo da reta<br />

tangente <strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong> seus pontos.<br />

Consi<strong>de</strong>ro a reta tangente em (x,f(x)):<br />

y = f ′ (x)·x+f(x)−f ′ (x)·x.<br />

Essa reta intersecta o eixo dos x em<br />

x = f′ (x)·x−f(x)<br />

f ′ = x−<br />

(x)<br />

f(x)<br />

f ′ (x)<br />

=: K,<br />

on<strong>de</strong> x < K pois 0 < − f(x)<br />

f ′ (x) .<br />

Então f(x) tem que ficar negativa para x < K. Pelo T.V.I. tem que ter zero entre<br />

x e K.<br />

0.11. Capítulo 12:<br />

0.12. Capítulo 13:<br />

Exercício 6.1:<br />

Se n = 1 então claramente:<br />

1! = 1 ≥ 2 0 = 1.<br />

Supondo válida a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> até n−1 (n ≥ 2):<br />

Ora,<br />

n! = n·(n−1)! ≥ n·2 n−2 .<br />

n·2 n−2 = n· 2n−1<br />

2 =<br />

= 2 n−1 · n<br />

2 ≥ 2n−1 ,<br />

on<strong>de</strong> usei na última <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> que n ≥ 2.<br />

0.13. Capítulo 14:<br />

Suponha que sabemos:<br />

sin(x+y) = sin(x)·cos(y)+cos(x)·sin(y),<br />

Faço o seguinte: fixo y e olho a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> acima apenas em x.<br />

Derivo o lado esquerdo, pela regra da <strong>de</strong>rivada da composta:<br />

e o lado direito:<br />

(sin(x+y)) ′ = cos(x+y)·1,<br />

(sin(x)·cos(y)+cos(x)·sin(y)) ′ = cos(x)·cos(y)+(−sin(x)·sin(y)) =<br />

= cos(x)·cos(y)−sin(x)·sin(y).<br />

788


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 789<br />

Igualando o lado esquerdo e o direito:<br />

0.14. Capítulo 15:<br />

Exercício 6.1:<br />

Note que:<br />

∂F(x,y)<br />

∂x<br />

logo calculados em (1,1):<br />

cos(x+y) = cos(x)·cos(y)−sin(x)·sin(y).<br />

∂F(x,y)<br />

∂x<br />

= −3x 2<br />

= −3 e<br />

e<br />

∂F(x,y)<br />

∂y<br />

∂F(x,y)<br />

∂y<br />

= 2y,<br />

Então num pequeno entorno <strong>de</strong> (1,1) a curva é dada pelo gráfico <strong>de</strong> y = y(x).<br />

Mas a curva não é globalmente um gráfico y = y(x), pois para cada valor x > 0<br />

temos dois valores <strong>de</strong> y.<br />

Note que se um ponto da curva y 2 −x 3 = 0 tem x = 0, então y 2 = 0 e portanto<br />

y = 0, ou seja é a origem.<br />

E note que nenhum ponto da curva y 2 −x 3 = 0 tem coor<strong>de</strong>nada x < 0.<br />

0.15. Capítulo 16:<br />

Exercício 6.1:<br />

iii): Usando a <strong>de</strong>rivada a composta:<br />

= 2.<br />

sin 3 (x 3 ) ′ = 3sin 2 (x 3 )·cos(x 3 )·(3x 2 )<br />

iv): Usando a regra da <strong>de</strong>rivada do produto:<br />

(sin(x)cos(x)) ′ = cos(x)cos(x)+cos(x)(−sin(x)) = cos 2 (x)−sin 2 (x).<br />

v): Usando a regra da <strong>de</strong>rivada do quociente:<br />

( x4 +x2 +1<br />

3x4 +4x2 +1 )′ = (4x3 +2x)(3x4 +4x2 +1)−(x 4 +x2 +1)(12x3 +8x)<br />

(3x4 +4x2 +1) 2<br />

vi): Usando a regra da composta:<br />

( √ 1−x 2 ) ′ = ((1−x 2 ) 1<br />

2) ′ = 1<br />

2 (1−x2 ) −1<br />

xv): pela composta:<br />

x<br />

2 (−2x) = −√<br />

1−x 2<br />

((3x+4) 100 ) ′ = 100·(3x+4) 99 ·3 = 300·(3x+4) 99 .<br />

0.16. Capítulo 19. Exercício 3.1:<br />

Defina a função: √<br />

x2 +25<br />

f(x) := +<br />

v2<br />

8−x<br />

,<br />

v1<br />

que dá o tempo gasto pelo salva-vidas para chegar no ponto B.<br />

Ou melhor, consi<strong>de</strong>re:<br />

g(x) := v2 ·f(x) = √ x2 +25+ v2<br />

·(8−x) =<br />

v1<br />

=: √ x 2 +25+k ·(8−x),<br />

.


cujo domínio é [0,8].<br />

Trata-se <strong>de</strong> minimizar f ou, equivalentemente, minimizar g.<br />

Para isso calcule separadamente<br />

Mas:<br />

g(0) = 5+8k e g(8) = √ 89.<br />

g(8) > g(0) ⇔<br />

e como 0.55 ≈ √ 89−5<br />

8 e supusemos k ≤ 0.5 então:<br />

Ora,<br />

g(8) > g(0).<br />

√<br />

89−5<br />

> k,<br />

8<br />

Agora basta buscar no intervalo aberto (0,8) pelo ponto on<strong>de</strong><br />

g ′ (x) =<br />

Daí obtemos, elevando ao quadrado:<br />

ou seja,<br />

g ′ (x) = 0.<br />

x<br />

√ x 2 +25 −k = 0 ⇔ x = k · √ x 2 +25.<br />

x 2 = k 2 ·(x 2 +25),<br />

x 2 (1−k 2 ) = 25·k 2<br />

e<br />

<br />

25·k 2 5k<br />

x(k) = = √<br />

1−k 2<br />

1−k 2 ,<br />

pois a solução negativa não nos interessa. Claramente:<br />

lim x(k) = lim<br />

k→0 k→0<br />

5k<br />

√ 1−k 2<br />

0<br />

= = 0.<br />

1<br />

E nesse ponto x(k) temos o valor:<br />

g(x(k)) = 8k +5(1−k 2 <br />

1<br />

)·<br />

1−k 2.<br />

Agora<br />

g(0)−g(x(k)) = 5+5(k 2 <br />

1<br />

−1)·<br />

1−k 2<br />

e não está tão claro se g(0)−g(x(k)) ≥ 0, para todos os k no intervalo 0 ≤ k ≤ 0.5.<br />

Ora,<br />

1<br />

5+5(k 2 −1)· ≥ 0 ⇔<br />

1−k 2<br />

⇔ 5 ≥ 5(1−k 2 <br />

1<br />

)·<br />

1−k 2<br />

e elevando ao quadrado quero ter:<br />

25 ≥ 25·(1−k2 ) 2<br />

1−k 2<br />

790


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 791<br />

que equivale a :<br />

ou seja,<br />

1−k 2 ≥ 1−2k 2 +k 4 ,<br />

0 ≥ k 2 ·(k 2 −1).<br />

0.17. Capítulo 20:<br />

Exercício 8.2: Como (x0,y0) está na elipse:<br />

obtenho:<br />

x2 0<br />

a2 + y2 0<br />

b<br />

2 = 1,<br />

x 2 0 ·b2 +y 2 0 ·a2 = a 2 b 2 .<br />

Como<br />

2·x(t)·x ′ (t)<br />

a2 + 2·y(t)·y′ (t)<br />

b2 = 0,<br />

a informação das taxas <strong>de</strong> variação −1 e 1 dá:<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

ou seja<br />

Ao lado <strong>de</strong><br />

2·x0 ·(−1)<br />

a 2<br />

+ 2·y0 ·1<br />

b 2<br />

−2·x0 ·b 2 +2·y0 ·a 2<br />

a 2 ·b 2<br />

= 0,<br />

= 0,<br />

−2·x0 ·b 2 +2·y0 ·a 2 = 0.<br />

x 2 0 ·b2 +y 2 0 ·a2 = a 2 b 2<br />

forma-se um sistema <strong>de</strong> duas equações lineares nas incógnitas a 2 e b 2 .<br />

Multiplicandoaúltimapor2,aprimeiraporx0 = 0e<strong>de</strong>poissomando-as, obtemos:<br />

e como a = 0:<br />

Depois obtenho<br />

usando <strong>de</strong> novo<br />

2·y0 ·(x0 +y0)·a 2 = 2·a 2 ·b 2 ,<br />

b 2 = y0 ·(x0 +y0).<br />

a 2 = x0 ·(x0 +y0),<br />

−2·x0 ·b 2 +2·y0 ·a 2 = 0.<br />

Os outros itens têm respostas imediatas, pois sabemos as coor<strong>de</strong>nadas dos focos<br />

e as dos vértices em função <strong>de</strong> a e b.


0.18. Capítulo 21:<br />

Exercício 8.1:<br />

Se escrevemos<br />

x1 = π<br />

2 sin(π<br />

π<br />

)+<br />

2 2 sin(π),<br />

x2 = π<br />

3 sin(π<br />

π<br />

)+<br />

3 3 sin(2π<br />

π<br />

)+<br />

3 3 sin(π),<br />

x3 = π<br />

4 sin(π<br />

π<br />

)+<br />

4 4 sin(2π<br />

π<br />

)+<br />

4 4 sin(3π<br />

π<br />

)+<br />

4 4 sin(π),<br />

x4 = π<br />

5 sin(π<br />

π<br />

)+<br />

5 5 sin(2π<br />

π<br />

)+...+<br />

5 5 sin(π),<br />

fica mais fácil reconhecer que cada xi é uma soma <strong>de</strong> Riemann da função sin : [0,π] →<br />

R, on<strong>de</strong> a partição tem norma π<br />

i+1 .<br />

Em geral:<br />

xi = π π π 2π π<br />

sin( )+ sin( )+...+<br />

i+1 i+1 i+1 i+1 i+1 sin((i+1)π<br />

i+1 ).<br />

Quando i → ∞ a norma da partição ten<strong>de</strong> a zero.<br />

Como sin(x) é uma função contínua, os itens i) e ii) garantem que<br />

lim<br />

i→∞ xi =<br />

π<br />

0<br />

sin(x)dx.<br />

Mais adiante, pelo Segundo Teorema fundamental, veremos que:<br />

Exercício 8.3:<br />

Se x < 0 então<br />

F(x) :=<br />

π<br />

0<br />

x<br />

−1<br />

sin(x)dx = 2.<br />

|t|dt =<br />

x<br />

−1<br />

−tdt =<br />

= ( −t2<br />

2 )(x)−(−t2<br />

−x2<br />

)(−1) =<br />

2 2<br />

Se x ≥ 0 po<strong>de</strong>mos fazer:<br />

F(x) =<br />

x<br />

−1<br />

|t|dt =<br />

= 1<br />

2 +<br />

= 1<br />

2<br />

0<br />

−1<br />

x<br />

0<br />

|t|dt+<br />

tdt =<br />

+ x2<br />

2 .<br />

x<br />

0<br />

+ 1<br />

2 .<br />

|t|dt =<br />

Ou seja que a função F(x) obtida integrando o módulo tem uma <strong>de</strong>scrição diferente,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo se x < 0 ou x ≥ 0.<br />

Note que pelo Primeiro Teorema Fundamental, F ′ (x) = |x|, logo não existe<br />

F ′′ (0).<br />

Ou seja, que F(x) é menos suave em em x = 0 que f(x) = x 3 + 1<br />

2 .<br />

A figura a seguir apresenta F(x) (vermelho) e f(x) = x 3 + 1<br />

2 (ver<strong>de</strong>):<br />

792


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 793<br />

0.19. Capítulo 22:<br />

Exercício 16.3:<br />

-1<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

-0,5 0 0,5<br />

x<br />

-0,5<br />

Primeiro busco o ponto <strong>de</strong> y = f(x) = ln(x)<br />

x on<strong>de</strong> f ′ (x) = 0. Pela <strong>de</strong>rivada do<br />

quociente:<br />

f ′ (x) =<br />

1<br />

x x−ln(x)1<br />

x 2<br />

1<br />

= 1−ln(x)<br />

x2 ,<br />

e f ′ (x) = 0 exatamente on<strong>de</strong> 1−ln(x) = 0, ou seja, on<strong>de</strong> ln(x) = 1.<br />

Sabemos então que a solução é x = exp(1).<br />

Po<strong>de</strong>mos calcular a segunda <strong>de</strong>rivada f ′′ (x), para confirmarmos que f ′′ (exp(1)) <<br />

0. Caso isso valha, a Afirmação 2.1 do Capítulo 10 diz que x = exp(1) é ponto <strong>de</strong><br />

máximo local. E portanto concluiremos que x = exp(1) é ponto <strong>de</strong> máximo global<br />

(já que não há outro candidato).<br />

Ora,<br />

f ′′ (x) = (1−ln(x))′ x2 −(1−ln(x))2x<br />

x4 =<br />

= −1<br />

x x2 −(1−ln(x))2x<br />

x4 e portanto f ′′ (exp(1)) = −exp(1)<br />

e4 < 0.<br />

Exercício 8.6:<br />

Como arcsin ′ (x) = 1<br />

√ 1−x 2 então:<br />

= −3x+2xln(x)<br />

x4 ,<br />

√ 1−x 2 ] ′ +( 1<br />

2 arcsin(x))′ =<br />

F ′ (x) = [ x<br />

2<br />

= [ 1√<br />

x 1 1 1 1<br />

1−x 2 + · √ ·(−2x)]+ √<br />

2 2 2 1−x 2 2 1−x 2 =


= 1√<br />

1<br />

1−x 2 −<br />

2 2 x2 1 1 1<br />

√ + √<br />

1−x 2 2 1−x 2 =<br />

1√<br />

1 1−x<br />

1−x 2 +<br />

2 2<br />

2<br />

√<br />

1−x 2 =<br />

= √ 1−x 2 .<br />

Exercício 16.2:<br />

O programa Maple plota y = ln(1+x)<br />

x completando em x = 0 o valor<br />

De fato posso escrever:<br />

lim<br />

x→0<br />

ln(1+x)<br />

x<br />

= 1<br />

ln(1+x)−0 ln(1+x)−ln(1)<br />

lim = lim<br />

x→0 x x→0 x<br />

e esse último limite é nada mais nada menos que uma <strong>de</strong>rivada:<br />

Ora ln ′ (1) = 1<br />

1<br />

= 1.<br />

ln ′ (1) := lim<br />

x→0<br />

ln(1+x)−ln(1)<br />

.<br />

x<br />

Exercício 16.13:<br />

A função y = f(x) = e−x2 tem, pela regra da composta e pelo fato que (ex ) ′ = ex ,<br />

<strong>de</strong>rivada<br />

f ′ (x) = e −x2<br />

·(−2x).<br />

lno f ′ (x) se anula apenas em x = 0 (pois exp não se anula nunca). Já a segunda<br />

<strong>de</strong>rivada é (pela regra do produto e da composta):<br />

= (e −x2<br />

f ′′ (x) = (e −x2<br />

·(−2x)) ′ =<br />

·(−2x))(−2x)+e −x2<br />

(−2) =<br />

= 2e −x2<br />

(2x 2 −1).<br />

logo f ′′ <br />

1 1<br />

(x) se anula em x = + e x = − 2 2 .<br />

Esses dois pontos são pontos <strong>de</strong> máximo/mínimo da f ′ (x) e pontos <strong>de</strong> inflexão da<br />

f.<br />

Exercício 16.14:<br />

Os pontos (x,y) da reta tangente ao gráfico <strong>de</strong> y = ln(x) no ponto (e,1) são os<br />

pontos que verificam:<br />

y −1<br />

x−e = ln′ (e),<br />

pois o valor da <strong>de</strong>rivada ln ′ (e) é por <strong>de</strong>finição o coeficiente angular da reta tangente.<br />

Mas ln ′ (e) = 1,<br />

lno e<br />

y −1 1<br />

=<br />

x−e e<br />

794


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 795<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

y −1 = x<br />

e −1<br />

e portanto y = x,<br />

que é uma reta pela origem.<br />

e<br />

Por reflexão na diagonal se obtem o gráfico da função inversa exp(x).<br />

E a reflexão na diagonal da reta y = x y<br />

é x = , ou seja, a reta y = ex. Essa é a<br />

e e<br />

tangente ao gráfico <strong>de</strong> y = exp(x) em (1,e), como também se po<strong>de</strong> verificar a partir<br />

<strong>de</strong>:<br />

y −e<br />

x−1 = exp′ (1) = exp(1) =: e.<br />

Exercício 16.15:<br />

As primitivas <strong>de</strong> produto/quociente Não são o produto/quociente <strong>de</strong> primitivas.<br />

Quando aparecem produtos é natural imaginar qu surgiram <strong>de</strong> se <strong>de</strong>rivar composições<br />

<strong>de</strong> funções.<br />

vi): Por isso as primitivas <strong>de</strong> f(x) = 2xcos(x2 ) são<br />

vii): As primitivas <strong>de</strong> x<br />

2 cos(x2 ) são:<br />

viii): As primitivas <strong>de</strong> xe x2<br />

F(x) = sin(x 2 )+C.<br />

F(x) = sin(x2 )<br />

4<br />

são<br />

e x2<br />

2<br />

+C.<br />

e as <strong>de</strong> excos(ex ) são<br />

sin(e x )+C.<br />

As primitivas <strong>de</strong> soma/subtração são a soma/subtração <strong>de</strong> primitivas.<br />

x): Portanto as primitivas <strong>de</strong> f(x) = a0xn +a1xn−1 +...+an são<br />

a0<br />

0.20. Capítulo 23: Exercício 7.1:<br />

Temos P1 = (−<br />

b<br />

xn+1 n+1 +a1<br />

xn n +...+anx+C.<br />

C ,b), P2 = (<br />

b<br />

1<br />

2 ·(2·<br />

C ,b). A área <strong>de</strong> ∆P1OP2 é<br />

b<br />

C<br />

b32<br />

)·b =<br />

C 1.<br />

2<br />

Por outroladoaárea daregiãoabaixo dareta y = beacima daparábolaéadiferença:<br />

<br />

b<br />

2·<br />

C ·b−<br />

√ b<br />

C<br />

C ·x 2 dx =<br />

= 2·<br />

b<br />

C<br />

·b−C ·[ (<br />

= 2· b32<br />

C 1<br />

2<br />

√<br />

b<br />

− C<br />

b<br />

− 2<br />

3<br />

C )3<br />

3<br />

b32<br />

·<br />

C 1<br />

2<br />

+ (<br />

<br />

b<br />

=<br />

C )3<br />

] =<br />

3


= 4<br />

3<br />

b32<br />

·<br />

C 1.<br />

2<br />

Exercício 7.4: Os gráficos <strong>de</strong> y = 8x+2 e <strong>de</strong> <strong>de</strong> y = x 4 + 2. se intersectam em<br />

pontos cujas coor<strong>de</strong>nadas x verificam:<br />

8x+2 = x 4 +2 ⇔ 8x = x 4 ⇔ x·(x 3 −8) = 0 ⇔ x = 0,2.<br />

Ou seja, nos pontos (0,0) e (2,18).<br />

Para x ∈ [0,2] vale que 8x+2 ≥ x 4 +2, pois:<br />

8x+2 ≥ x 4 +2 ⇔ 8x ≥ x 4 ⇔ 0 ≥ x·(x 3 −8)<br />

e como x ≥ 0, basta ter 0 ≥ x 3 − 8. Isso é verda<strong>de</strong>, já que 8 ≥ x 3 sai <strong>de</strong> 2 ≥ x<br />

elevando-se ao cubo.<br />

A Figura a seguir dá uma idéia da pétala.<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0,5<br />

1<br />

x<br />

A área da pétala é a diferença entre a área do trapézio sob y = 8x+2 e a área<br />

sob o gráfico <strong>de</strong> y = x4 +2.<br />

É dada por:<br />

2<br />

0<br />

8x+2dx−<br />

1,5<br />

2<br />

e vale portanto pelo Segundo Teorema do Cálculo:<br />

pois <br />

e <br />

[4·(2) 2 +2·(2)]−[ 25<br />

0<br />

5<br />

2<br />

x 4 +2dx<br />

−2·2] = 48<br />

5<br />

8x+2dx = 4x 2 +2x+C<br />

x 4 +2dx = x5<br />

5 +2x+C.<br />

Exercício 7.5: Note que<br />

• o integrando é a diferença entre as funções x−x 2 e a função x 3 .<br />

• x−x 2 > 0 para 0 < x < 1.<br />

• A<strong>de</strong>mais<br />

x−x 2 > x 3 ,<br />

para x pequenos, pois<br />

x−(x 2 +x 3 ) > 0<br />

796


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 797<br />

para x pequenos.<br />

• Porém certamente a partir <strong>de</strong> um certo x <strong>de</strong>ve acontecer que<br />

x−x 2 < x 3 ,<br />

<strong>de</strong>vido ao expoente 3.<br />

Para qual x ≥ 0 temos x−x 2 = x 3 ? Ou seja, on<strong>de</strong> x 3 +x 2 −x = 0 ? Nas soluções<br />

<strong>de</strong>:<br />

x(x 2 +x−1) = 0,<br />

ou seja, em x = 0 ou na solução positiva <strong>de</strong> (x 2 +x−1), que é<br />

a := −1+√5 ∼ 0.6.<br />

2<br />

A partir <strong>de</strong>sse a ∼ 0.6 vale x−x 2 < x 3 .<br />

Então escrevo:<br />

e portanto:<br />

Mas<br />

Em suma,<br />

Ora,<br />

b<br />

x−x<br />

0<br />

2 −x 3 a<br />

dx = x−x<br />

0<br />

2 −x 3 b<br />

dx+ x−x<br />

a<br />

2 −x 3 dx<br />

−<br />

⇔<br />

b<br />

0<br />

x−x 2 −x 3 a<br />

dx = 0 ⇔<br />

x−x<br />

0<br />

2 −x 3 b<br />

dx = − x−x<br />

a<br />

2 −x 3 dx.<br />

b<br />

x−x<br />

a<br />

2 −x 3 b<br />

dx = −(x−x<br />

a<br />

2 −x 3 )dx =<br />

b<br />

= x<br />

a<br />

3 −(x−x 2 )dx.<br />

a<br />

x−x<br />

0<br />

2 −x 3 b<br />

dx = x<br />

a<br />

3 −(x−x 2 )dx.<br />

a<br />

(x−x<br />

0<br />

2 )−x 3 dx<br />

é uma Área, pois (x−x2 )−x 3 ≥ 0 na região x ∈ [0,a]. E também<br />

b<br />

x<br />

a<br />

3 −(x−x 2 )dx<br />

é uma Área, pois agora x3 −(x−x 2 ) ≥ 0 se x ≥ a.<br />

Na Figura a seguir os gráficos <strong>de</strong> y = x−x 2 > 0 (vermelho) e <strong>de</strong> y = x3 (ver<strong>de</strong>)<br />

formam um peixe (x ∈ 0,b].<br />

O peixe tem a área do corpo ( a<br />

0 (x−x2 )−x3 dx) igual a área do rabo b<br />

a x3−(x− x2 )dx (b ∼ 0.9).


0,7<br />

0,6<br />

0,5<br />

0,4<br />

0,3<br />

0,2<br />

0,1<br />

0<br />

0 0,2 0,4<br />

x<br />

Exercício 7.8:<br />

Para saber <strong>de</strong> on<strong>de</strong> até on<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a Área precisamos saber as abscissas dos<br />

pontos on<strong>de</strong> os gráficos <strong>de</strong> y = x4 e <strong>de</strong> y = a se intersectam.<br />

Ou seja, resolver x4 = a, o que dá x = −a 1<br />

4 e x = a 1<br />

4.<br />

Vamos subtrair da área do retângulo <strong>de</strong> base 2a 1<br />

4 e altura a (que é 2a 1<br />

4a = 2a 5<br />

4)<br />

a área sob o gráfico <strong>de</strong> x 4 .<br />

EstaúltimaédadapeloimportanteTeoremaFundamentaldoCálculo. Nanotação<br />

do Curso: 1<br />

lno a área que buscamos é<br />

Como exigimos que seja<br />

concluimos que<br />

e portanto a = ( 25<br />

16 )4<br />

5 .<br />

A x 4 ,−a 1 4 (a 1<br />

4 ) = x5<br />

5 (a1<br />

2a 5<br />

4 −2 a5 4<br />

5<br />

5<br />

2<br />

0,6<br />

4)− x5<br />

0,8<br />

5 (−a14)<br />

= 2 a5 4<br />

5<br />

= 2(4<br />

5 a5 4).<br />

= 2(4<br />

5 a54)<br />

a 5<br />

4 = 25<br />

16<br />

0.21. Capítulo 24:<br />

Exercício 1.4:<br />

Faço integração por partes na terceira linha:<br />

π<br />

0<br />

sin 2n−1 (θ)dθ =<br />

π<br />

sin<br />

0<br />

2n+1 (θ)·sin −2 (θ)dθ =<br />

1 <br />

1 a4 Na notação usual <strong>de</strong> integrais<br />

−a 1 4 x4dx = x5<br />

5 |a 1 x5 −<br />

4 5 |−a 1 4<br />

798


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 799<br />

π<br />

= sin<br />

0<br />

2n+1 (θ)·csc 2 (x) =<br />

= −sin 2n+1 (π)cot(π)+sin 2n+1 (0)cot(0)−<br />

π<br />

π<br />

0<br />

= (2n+1)sin<br />

0<br />

2n−1 (θ)·cos 2 π<br />

(θ)dθ = (2n+1) sin<br />

0<br />

2n−1 (θ)·(1−sin 2 (θ))dθ =<br />

π<br />

π<br />

= (2n+1)<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> sai a afirmação.<br />

0<br />

sin 2n−1 (θ)dθ−(2n+1)<br />

0.22. Capítulo 25: Exercício 12.4:<br />

Basta usar a substituição x = cos(θ).<br />

0.23. Capítulo 26:<br />

0.24. Capítulo 27:<br />

0.25. Capítulo 28:<br />

0.26. Capítulo 30:<br />

0.27. Capítulo 31:<br />

0.28. Capítulo 32:<br />

0.29. Capítulo 35:<br />

Exercício 14.1: O aspecto qualitativo do gráfico:<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

0<br />

1<br />

2<br />

x<br />

(2n+1)sin 2n (θ)cos(θ)(−cot(θ))dθ =<br />

3<br />

4<br />

0<br />

sin 2n+1 (θ)dθ,<br />

que faz com que não seja <strong>de</strong>sintegração <strong>de</strong> nenhuma substância radioativa é a existência<br />

<strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> inflexão próximo <strong>de</strong> x = 3.<br />

Como a <strong>de</strong>sintegração segue a lei<br />

f(x) = f(0)·e −kx ,<br />

on<strong>de</strong> k > 0 <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada substância, então:<br />

e<br />

f ′ (x) = −k ·f(0)·e −kx < 0, ∀x<br />

f ′′ (x) = k 2 ·f(0)·e −kx > 0, ∀x,<br />

isso impe<strong>de</strong> a existência <strong>de</strong> inflexões, já que f ′′ (x) > 0 não muda <strong>de</strong> sinal.<br />

Exercício 14.4:


A solução da equação f ′ (x) = −kf(x) é<br />

Portanto f(τ) := f(0)<br />

2<br />

Logo dividindo por f(0):<br />

é também:<br />

Aplicando ln em ambos lados:<br />

e portanto:<br />

f(x) = f(0)·e −kx , ∀x.<br />

f(τ) = f(0)e −kτ .<br />

1<br />

2 = e−kτ .<br />

ln( 1<br />

2 ) = ln(e−kτ ) = −kτ,<br />

τ = ln(1 2 )<br />

−k<br />

Por <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ˆτ temos: f(ˆτ) := f(0)<br />

4<br />

lno dividindo por f(0):<br />

Aplicando ln em ambos lados:<br />

e portanto:<br />

ˆτ =<br />

−ln(2) ln(2)<br />

= =<br />

−k k .<br />

é também:<br />

f(ˆτ) = f(0)·e −kˆτ .<br />

1<br />

4 = e−kˆτ .<br />

ln( 1<br />

4 ) = ln(e−kˆτ ) = −kˆτ,<br />

1 ln( 22) −k = −ln(22 )<br />

−k<br />

2ln(2)<br />

= .<br />

k<br />

Ou seja, ˆτ = 2τ.<br />

Para a ˇτ temos por <strong>de</strong>finição f(ˇτ) := f(0)<br />

√ 2 é também<br />

lno dividindo por f(0):<br />

Aplicando ln em ambos lados:<br />

e portanto<br />

Ou seja, ˇτ = 1<br />

2 τ.<br />

ˇτ =<br />

f(ˇτ) = f(0)e −kˇτ .<br />

1<br />

√ 2 = e −kˇτ .<br />

ln( 1 √ 2 ) = ln(e −kˇτ ) = −kˇτ,<br />

ln( 1<br />

2 1) 2<br />

−k<br />

−ln(212)<br />

=<br />

−k<br />

= 1ln(2)<br />

2 k .<br />

Exercício 14.6:<br />

Sabemos que a solução da equação, com f(0) = 1 é f(x) = e −kx .<br />

800


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 801<br />

Queremos x tal que f ′ (x) = −1, on<strong>de</strong><br />

Logo queremos encontrar x tal que:<br />

ou seja, 1<br />

k = e−kx , ou seja, ln( 1<br />

k<br />

f ′ (x) = −ke −kx .<br />

−1 = −ke −kx ,<br />

) = −kx, <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

x = ln(k)<br />

k .<br />

Resolvi fazer um exemplo, com k = 2 e portanto x = ln(2)<br />

2 .<br />

Pedi para o Maple plotar os gráficos <strong>de</strong> y = f(x) = e −2x e <strong>de</strong> y = −x para<br />

x ∈ [ ln(2)<br />

2<br />

e o resultado aparece a seguir:<br />

−0.1, ln(2)<br />

2 +0.1]<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

0,28 0,32 0,36 0,4 0,44<br />

Exercício 14.10:<br />

Como é uma equação linear, a solução geral é:<br />

y(x) = e <br />

1<br />

1+xdx <br />

·[C + (−x)·e −1<br />

1+xdx dx].<br />

Como 1+x ≥ 1:<br />

<br />

<br />

x<br />

1+x−1<br />

y(x) = (1+x)·[C − dx] = (1+x)·[C − dx] =<br />

1+x 1+x<br />

<br />

= (1+x)·[C − (1− 1<br />

)dx] = (1+x)·[C −x+ln(1+x)].<br />

1+x<br />

E y(0) = 1·[C −0+0] = C.<br />

Para ver que limx→+∞y(x) = −∞, basta ver que<br />

lim<br />

x→+∞ (−x+ln(1+x)) = −∞.<br />

Para isso basta ver que<br />

lim<br />

x→+∞ e−x+ln(1+x) = 0<br />

o que vale pois e −x+ln(1+x) = 1+x<br />

e x .<br />

-0,2<br />

-0,4<br />

x


0.30. Capítulo 36.<br />

Exercício 16.1:<br />

Quero um fator integrante µ(x) para a equação:<br />

((n+1)x n−1 y n +n 2 x n y n−1 )·y ′ (x)+nx n−2 y n+1 +n(n+1)x n−1 y n = 0.<br />

Ou seja, quero que valha<br />

µ ′ (x)·[(n+1)x n−1 y n +n 2 x n y n−1 ]+µ(x)·[(n+1)(n−1)x n−2 y n +n 3 x n−1 y n−1 ] =<br />

ou seja:<br />

= µ(x)·[n(n+1)x n−2 y n +n 2 (n+1)x n−1 y n−1 ],<br />

µ ′ (x)<br />

µ(x) = (n+1)xn−2 yn +n2xn−1y n−1<br />

(n+1)x n−1yn +n2xny e portanto µ(x) = x serve.<br />

A equação obtida multiplicando por x:<br />

1<br />

=<br />

n−1 x<br />

((n+1)x n y n +n 2 x n+1 y n−1 )·y ′ (x)+nx n−1 y n+1 +n(n+1)x n y n = 0<br />

agora é exata e a solução geral é:<br />

ou seja<br />

U(x,y) :=<br />

+<br />

x<br />

[nt<br />

a<br />

n−1 c n+1 +n(n+1)t n c n ]dt+<br />

y<br />

[(n+1)x<br />

c<br />

n t n +n 2 x n+1 t n−1 ]dt =<br />

= x n c n+1 +nx n+1 c n −C1 +x n y n+1 +nx n+1 y n −x n c n+1 +nx n+1 c n =<br />

são as curvas solução.<br />

é:<br />

= x n y n+1 +nx n+1 y n −C1,<br />

x n y n+1 +nx n+1 y n = C1<br />

0.31. Capítulo 37:<br />

Exercício 4.1:<br />

A equação da reta tangente <strong>de</strong> y = a·x 3<br />

4 −x por<br />

Enquanto que f ′ (x) = 3a<br />

4<br />

(x,y) = (x,a·x 3<br />

4 −x)<br />

y = ( 3a<br />

4 ·x−1 4 −1)·x+a·x 3<br />

4 −x−( 3a<br />

4 ·x−1 4 −1)·x.<br />

Um conta imediata mostra que essa reta passa por (− x x<br />

, 3 3 ).<br />

A função y = f(x) = a·x 3<br />

4 −x corta o eixo dos x em x = 0 e em x = a4 . A partir<br />

<strong>de</strong>ste ponto f(x) < 0.<br />

· x−1 4 − 1, que só está <strong>de</strong>finida para x > 0, se anula<br />

em x = ( 3<br />

4 )4 ; a<strong>de</strong>mais f ′ (x) > 0 no intervalo (0,( 3<br />

4 )4 ) e f ′′ (x) > 0 no intervalo<br />

(( 3<br />

4 )4 ),+∞).<br />

Ou seja, que em (0,( 3<br />

e <strong>de</strong>pois sempre <strong>de</strong>cresce.<br />

802<br />

4 )4 ) a função cresce, tem em x = ( 3<br />

4 )4 um máximo absoluto,


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 803<br />

Temos<br />

enquanto que<br />

lim<br />

x→+∞ a·x3 4 −x = lim<br />

x→+∞<br />

x·( a<br />

x 1<br />

4<br />

lim<br />

x→+∞ f′ 3a<br />

(x) = lim<br />

x→+∞<br />

−1) = +∞·(−1) = −∞,<br />

4 ·x−1 4 −1 = −1,<br />

ou seja que há uma assíntota oblíqua <strong>de</strong> inclinação −1 para y = f(x).<br />

Também f ′′ (x) = −3a 16x−54 < 0 ∀x, ou seja que a função sempre é côncava para<br />

baixo.<br />

A área da região é:<br />

a4 0<br />

a·x 3<br />

4 −x = ( 4a<br />

7 x47<br />

− x2<br />

2 )(a4 ) = a8<br />

14 .<br />

A figura aseguir dá três exemplos, em vermelho, ver<strong>de</strong> e amarelo, com a =<br />

1,1.3,1.5 e on<strong>de</strong><br />

(− x x 1<br />

, ) = (−1,<br />

3 3 3 3 ).<br />

0.32. Capítulo 38:<br />

0.33. Capítulo 39:<br />

0.34. Capítulo 40. Exercício 17.1:<br />

Note que<br />

+∞<br />

x·(<br />

po<strong>de</strong> ser re-escrito como<br />

-1<br />

+∞<br />

n=0<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0<br />

-0,20<br />

1<br />

2<br />

3<br />

-0,4<br />

-0,6<br />

x<br />

n=0<br />

anx n ) ′′ +∞<br />

−(<br />

n·an ·x n −<br />

n=0<br />

+∞<br />

n=0<br />

anx n ) = 0<br />

an ·x n = 0


ou seja,<br />

(n−1)·an = 0, ∀n ≥ 0.<br />

Se n = 1, então an = 0. Se n = 1, então sobre a1 não há nenhuma condição.<br />

Logo as soluções são y = a1 ·x, que são retas pela origem.<br />

A não-unicida<strong>de</strong> da solução segue do fato que se colocamos a equação em forma<br />

padrão:<br />

y ′ = y<br />

=: P(x,y)<br />

x<br />

vemos que P(x,y) é <strong>de</strong>scontínuo em x = 0.<br />

dá<br />

Exercício 17.2:<br />

Se y = +∞<br />

n=0<br />

an(x− π<br />

2 )n então<br />

+∞<br />

n=2<br />

y ′′ +y = 0<br />

n(n−1)an(x− π<br />

2 )n−2 +∞<br />

+<br />

n=0<br />

an(x− π<br />

2 )n = 0<br />

e após pôr o índice k = n−2 na primeira série e mantendo k = n na segunda:<br />

ou seja,<br />

+∞<br />

k=0<br />

e daí a recorrência:<br />

(k +2)(k +1)ak+2(x− π<br />

2 )k +<br />

+∞<br />

k=0<br />

ak(x− π<br />

2 )k = 0,<br />

(k +2)(k +1)ak+2 +ak = 0, ∀k ≥ 0<br />

ak+2 = −<br />

(k +2)(k +1) .<br />

As condições iniciais y( π<br />

2 ) = 1 e y′ ( π<br />

A recorrência em seguida dá:<br />

a2k = (−1) k · a0<br />

(2k)!<br />

ak<br />

2 ) = 0 dão a0 = 1 e a1 = 0.<br />

(−1)k<br />

= , ∀k ≥ 0.<br />

(2k)!<br />

Logo, chamando k <strong>de</strong> n novamente, temos como solução do problema:<br />

y =<br />

+∞<br />

n=0<br />

(−1) n π<br />

(x−<br />

(2n)! 2 )2n .<br />

Mas reconhecemos aí a série do cosseno aplicado em x− π<br />

2 .<br />

) = sin(x).<br />

Logo y = cos(x− π<br />

2<br />

Exercício 17.3:<br />

De i):<br />

Basta calcular<br />

y ′′ (x) = v′′ x−v ′<br />

x 2<br />

y ′ (x) = v′ x−v v′ v<br />

= −<br />

x2 x x2, − v′ x 2 −2xv<br />

x 4<br />

= v′′<br />

x −2v′<br />

2v<br />

+<br />

x2 x3 804


CAPÍTULO 52. SOLUÇÕES DETALHADAS DE ALGUNS EXERCÍCIOS 805<br />

e portanto:<br />

0 = y ′′ (x)+ 2<br />

x y′ (x)+ q v′′<br />

y(x) =<br />

xα x −2v′<br />

2v 2<br />

+ +<br />

x2 x3 x ·(v′<br />

x<br />

= v′′ q<br />

+<br />

x xα v<br />

x ,<br />

mas então<br />

então<br />

De ii):<br />

Como agora<br />

portanto<br />

v ′′ + q<br />

v = 0.<br />

xα v ′′ +qv = 0, q < 0<br />

v = c1e √ −qx +c2e −√ −qx<br />

e<br />

y = c1<br />

√ −qx<br />

x +c2<br />

e−√−qx x<br />

.<br />

v q<br />

−<br />

x2,)+ xα v<br />

x =

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!