Carlos Fortuna Rogerio Proença Leite (Orgs.) - Centro de Estudos ...
Carlos Fortuna Rogerio Proença Leite (Orgs.) - Centro de Estudos ...
Carlos Fortuna Rogerio Proença Leite (Orgs.) - Centro de Estudos ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Apresentação<br />
Plural <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> são as cida<strong>de</strong>s que existem <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong>. Não é um conjunto<br />
diverso <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s, nem uma questão <strong>de</strong> geografia. Plural <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> são os territórios<br />
díspares que fazem a cida<strong>de</strong>, as políticas sócio-urbanas e a sua ausência, o atropelo aos<br />
direitos e as paisagens <strong>de</strong> privilégio, as formas <strong>de</strong> segregação e a ostentação, a cultura, a<br />
saú<strong>de</strong>, o emprego, o dinheiro, o futuro e, ao mesmo tempo, a falta <strong>de</strong> todos eles.<br />
Plural <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> é a conjugação <strong>de</strong>stas cida<strong>de</strong>s numa só. E em todas elas. Nas<br />
ricas e nas pobres, nas do Norte e nas do Sul, nas que falam e se fazem escutar e nas<br />
outras, nas históricas e nas criativas, nas <strong>de</strong> hoje e nas <strong>de</strong>mocráticas. Plural <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> é<br />
também um <strong>de</strong>safio intelectual enorme, ao tratar, a um tempo, da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejada,<br />
imaginada, e da cida<strong>de</strong> vivida. A dimensão intelectual <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>safio só possível<br />
enfrentar-se <strong>de</strong>vagar e com o contributo <strong>de</strong> muitas mãos, muitas inspirações, muitas<br />
experiências, muitos pontos <strong>de</strong> partida.<br />
Um dos nossos pontos <strong>de</strong> partida foi a constatação que a premissa simmeliana<br />
da predominância <strong>de</strong> um ethos metropolitano na vida humana, típico da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, se<br />
confirma a cada dia, através do inexorável e sugestivamente irreversível processo <strong>de</strong><br />
urbanização do mundo. Definitivamente, os humanos escolheram viver em cida<strong>de</strong>s.<br />
Sabe-se como são complexas as repercussões da acentuada urbanização<br />
contemporânea, do mesmo modo que se receia a sua futura evolução. As cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> hoje<br />
esbanjam problemas <strong>de</strong> todos os tipos. Não falta com que nos <strong>de</strong>ixemos preocupar. Os<br />
gran<strong>de</strong>s aglomerados humanos sempre foram consi<strong>de</strong>rados um problema sociológico<br />
nada <strong>de</strong>sprezível. Constituem uma exaltante matéria <strong>de</strong> investigação nas Ciências Sociais<br />
porque anunciam comportamentos e condutas, mas também imaginários e sociabilida<strong>de</strong>s,<br />
que se diferenciam a cada instante. Não será exagerado dizer, portanto, que a cida<strong>de</strong> é o<br />
“objeto” par excellence das Ciências Sociais. Nela <strong>de</strong>cantam e reverberam, em primeira<br />
mão, as acções, reacções e conflitos que se fazem presentes no curso da vida quotidiana.<br />
Por essa razão, enten<strong>de</strong>r a complexida<strong>de</strong> da vida urbana contemporânea mais parece ser<br />
uma condição necessária para se compreen<strong>de</strong>r as socieda<strong>de</strong>s actuais, face à crise <strong>de</strong><br />
eficácia simbólica do estado-nação em <strong>de</strong>corrência da transversalida<strong>de</strong> global dos fluxos<br />
culturais.<br />
A esta complexida<strong>de</strong> das cida<strong>de</strong>s contemporâneas correspon<strong>de</strong> a crescente<br />
dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudá-la. Esse é o <strong>de</strong>safio plural, também, que temos perante nós. Mais do<br />
que uma evi<strong>de</strong>nte multidisciplinarida<strong>de</strong>, as análises contemporâneas sobre as cida<strong>de</strong>s<br />
precisam <strong>de</strong> perspectivas analíticas heterodoxas. Por outras palavras, necessitam <strong>de</strong><br />
abordagens culturais originais e <strong>de</strong> novos léxicos que dêem conta das interfaces e das<br />
liminarida<strong>de</strong>s que as díspares práticas urbanas apresentam hoje. Essas são as cida<strong>de</strong>s que<br />
existem <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong>, sujeitas a rápidas metamorfoses. A linguagem do seu retrato<br />
carece também <strong>de</strong> contínua actualização. Se as coisas mudam na cida<strong>de</strong> sem que mu<strong>de</strong>m<br />
e se renovem os métodos e os léxicos da sua tradução, o futuro urbano, que afinal é o<br />
futuro cultural <strong>de</strong> todos nós só po<strong>de</strong> tornar-se mais complexo e sem esperança.<br />
Este livro constitui uma tentativa <strong>de</strong> abordar parte das diferentes feições que a<br />
cida<strong>de</strong> contemporânea revela. Nele estão reunidos textos que procuram analisar, sob<br />
diferentes enfoques empíricos e variadas perspectivas teóricas, esse mosaico<br />
multifacetado que é o plural <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> contemporâneo. Temas diversos são abordados