Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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egime uniforme, sem o qual não há igualdade nas penas. O pecúlio somente é bom e<br />
realmente proveitoso para o condenado quando lhe é restituído no momento de sua<br />
saída da prisão. Acrescentemos que, no estado atual de coisas, a parte do pecúlio dada<br />
ao condenado assim que é libertado lhe mais útil que a parte que ele gastou na prisão<br />
central. Se durante sua detenção, ele tivesse adquirido hábitos de ordem e alguns<br />
princípios de moralidade, a soma, algumas vezes considerável, da qual ele é detentor,<br />
poderia ser empregada por ele com finalidades sábias e em proveito do seu futuro. Mas,<br />
corrompido como ele é pelo aprisionamento, apenas em liberdade, ele se apressa em<br />
gastar o fruto de seu trabalho em excessos de toda espécie; e ele dá continuidade a esse<br />
gênero de vida até que a necessidade de recorrer ao roubo o leva de novo à justiça, e de<br />
lá para prisão.<br />
A prisão, cujo regime é corruptor, é ao mesmo tempo funesta para a vida dos<br />
detentos. Na França, dos prisioneiros encarcerados nas prisões centrais morre 1 em cada<br />
grupo de 14 1 . Nas penitenciárias dos Estados Unidos, em média, morre 1 em cada grupo<br />
de quarenta e nove 2 .<br />
Nessas prisões onde a morte é tão rara, a disciplina é plena de rigor; a lei do<br />
silêncio é imposta aos detentos: todos são submetidos a um regime uniforme, e o<br />
produto de seu trabalho não se perde nem em devassidões nem em despesas supérfluas;<br />
os castigos mais rigorosos atingem sem piedade os que perturbam a ordem; nem uma<br />
hora de repouso lhes é dada durante o dia, e durante toda a noite eles estão sozinhos.<br />
Nas prisões francesas, onde a morte faz tantos estragos, os detentos conversam<br />
livremente; dia e noite nada os separa, não lhes é infligido nenhum castigo rigoroso;<br />
cada um deles pode, através de seu trabalho, abrandar os rigores do encarceramento;<br />
enfim, ele tem, para repousar, algumas horas de recreação...<br />
A disciplina severa das penitenciárias americanas, o silêncio absoluto que é<br />
imposto aos detentos, o isolamento perpétuo que os separa, a uniformidade inflexível de<br />
um regime que não pode ser abrandado para alguns sem injustiça para com outros, tudo<br />
isso não é, em suma, um rigor pleno de humanidade?<br />
O contágio das comunicações mútuas, que, nas prisões francesas, corrompem os<br />
detentos, não é mais funesto para suas almas que para seus corpos 3 .<br />
Assinalamos aqui os vícios principais que, nas prisões centrais da França, <strong>nos</strong><br />
causaram forte impressão. É fácil julgar que não apresentamos o quadro completo; aliás,<br />
nada dizemos das prisões de justiça, das provisórias, e outras prisões departamentais e<br />
de trabalhos forçados; falamos somente das prisões centrais destinadas aos grandes<br />
crimi<strong>nos</strong>os porque são as únicas que possuem uma população análoga à que está<br />
encarcerada nas penitenciárias americanas.<br />
1 Documentos fornecidos <strong>nos</strong> escritórios do ministério.<br />
2 Ver Quadros estatísticos.<br />
3 O vício das prisões centrais da França não está em sua administração, mas <strong>nos</strong> princípio mesmo de sua<br />
organização. Talvez fosse impossível fazer melhor proveito do <strong>sistema</strong> atual. Vimos ultimamente uma<br />
prisão central (a de Melun) onde admiramos a ordem dos trabalhos e a preservação exterior da disciplina.<br />
A direção das prisões centrais é, aliás, confiada, pelo Ministro do Interior, a homens bem capazes. Mas,<br />
não importa o que se faça, não se tornarão melhores e não serão impedidos de se corromper mutuamente<br />
crimi<strong>nos</strong>os que não cessam de se comunicar entre si.<br />
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