Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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Capítulo 1<br />
Carestia da manutenção de <strong>nos</strong>sas prisões: razões desse fato. – Elas não corrigem os<br />
detentos, mas os corrompem; causa dessa corrupção; comunicação dos detentos entre si.<br />
– Mau emprego do pecúlio. – O regime de <strong>nos</strong>sas prisões é funesto à vida dos<br />
condenados.<br />
Durante os a<strong>nos</strong> de 1827, 1828, 1829 e 1830, o Estado pagou mais de 3 milhões e 300<br />
000 francos cada ano pela manutenção de dezoito mil detentos em suas prisões centrais.<br />
Assim, as prisões, que, <strong>nos</strong> Estados Unidos, geram lucros, são em <strong>nos</strong>so país uma<br />
pesada carga para o tesouro público. Essa diferença remete a várias causas.<br />
A disciplina de <strong>nos</strong>sas prisões é me<strong>nos</strong> severa, e o trabalho dos detentos é<br />
necessariamente afetado por todo relaxamento na disciplina.<br />
O pecúlio dos prisioneiros absorve, na França, dois terços dos produtos de seu<br />
trabalho, enquanto na América ele é nulo.<br />
Enfim, os objetos manufaturados são vendidos na França mais dificilmente e<br />
com me<strong>nos</strong> vantagens que <strong>nos</strong> Estados Unidos.<br />
O objetivo da pena é punir o culpado e torná-lo melhor; pelo que o condenado<br />
fez, ela pune pouco, e, ao invés de reformá-lo, ela o corrompe mais. Desenvolveríamos<br />
essa triste verdade, se pensássemos que ela pudesse ser contestada. Entre os 16 000<br />
detentos que se encontram nesse momento nas prisões centrais, há 4 000 que são<br />
reincidentes 1 , e hoje é reconhecido pelo próprio governo que o número dos condenados<br />
que incorrem em uma reincidência cresce sempre 2 . Assim também era, outrora, <strong>nos</strong><br />
Estados Unidos; mas, desde que o novo <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong> foi estabelecido neste<br />
último país, o número de reincidências diminui.<br />
A corrupção das prisões francesas remete a duas causas principais. A primeira de<br />
todas e a mais importante, é a livre comunicação dos detentos entre si durante o dia e<br />
durante a noite. Como a reforma moral dos prisioneiros poderia nascer no meio dessa<br />
congregação de todos os crimes, de todos os vícios e de todas as torpezas? O condenado<br />
que chega à prisão depravado pela metade sai dela completamente corrompido, e podese<br />
dizer que no seio de tanta infâmia seria pare ele impossível não se tornar uma pessoa<br />
má.<br />
A segunda causa da depravação dos detentos se encontra no mau emprego que<br />
eles fazem de seu pecúlio. Eles gastam em excesso com alimentação e com<br />
superfluidades a parte do pecúlio que lhes é restituída na prisão, e contraem assim<br />
hábitos funestos. Todo gasto na prisão destrói a ordem, e é incompatível com um<br />
1 Esse número <strong>nos</strong> foi fornecido <strong>nos</strong> escritórios do Ministério dos Trabalhos Públicos, pela divisão da<br />
qual o senhor Labiche é o chefe: conseguimos dessa forma todos os documentos que possuímos <strong>sobre</strong> as<br />
prisões da França.<br />
2 Ver os Relatórios do senhor le garde des Sceaux <strong>sobre</strong> a justiça criminal, 1830, p. 16.<br />
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