Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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O <strong>sistema</strong> dessas prisões que combina o modo de gestão estatal e empresarial,<br />
pareceu-<strong>nos</strong> muito favorável à economia.<br />
Há nas prisões francesas muitas coisas pelas quais paga-se muito caro ao<br />
empresário, e que seriam bem mais baratas em uma prisão que se gerisse a si própria.<br />
Em Auburn 1 (em 1830) de seiscentos e vinte detentos, há cento e sessenta que se<br />
ocupam por conta e para o serviço da prisão: eles fazem tudo o que serve à vestimenta,<br />
aos calçados, à limpeza e à ordem da prisão; somente quatrocentos e sessenta e dois<br />
trabalham no <strong>sistema</strong> empresarial.<br />
Em Wethersfield, o número de detentos, cujo trabalho é do tipo empresarial, é<br />
proporcionalmente maior ainda. Pensa-se <strong>nos</strong> Estados Unidos que é interessante atrair<br />
um grande número de empresários, porque assim é possível estipular condições mais<br />
justas para cada produção.<br />
Tem-se o cuidado de não se fazer jamais contratos de longo prazo; os empresários<br />
podem, por essa razão, motivar suas exigências sob o pretexto de ocasiões funestas<br />
causadas pela possível depreciação dos objetos manufaturados; muitas vezes a duração<br />
do contrato não excede um ano, algumas vezes é menor no caso dos trabalhos, e<br />
ordinariamente dura somente seis meses no caso dos contratos de alimentação.<br />
O empresário paga pela jornada de um detento aproximadamente a metade do que<br />
ele pagaria a um operário livre.<br />
A renovação contínua dos contratos permite à administração aproveitar todas as<br />
oportunidades de economia e de lucro; ela tira proveito das taxas pouco elevadas das<br />
mercadorias, para obter a um bom preço o alimento dos detentos; e se o preço dos<br />
objetos manufaturados é alto, ela obtém melhores condições de empresários aos quais<br />
ela adjudica o trabalho dos prisioneiros; ela faz seus cálculos para cada contrato, e deve,<br />
por essa razão, conhecer o movimento de todas as indústrias; muitas vezes uma prospera<br />
em prejuízo de outra; nesse caso, a prisão recuperará com um dos empresários a perda<br />
que outro lhe causa.<br />
Concebe-se que tal ordem de coisas exige do superintendente uma vigilância<br />
perpétua, um grande conhecimento dos negócios, e uma probidade perfeita, que fazem<br />
com tenha confiança do Estado e todos os que tratam com ele. O superintendente não é<br />
somente o diretor de uma prisão, é ainda um chefe de manufatura que, atento aos<br />
movimentos do comércio, deve velar continuamente para que sejam exercidas, no seu<br />
estabelecimento, as indústrias mais produtivas, e, quando forem criados valores,<br />
trabalhar por um escoamento o mais vantajoso possível. Esse <strong>sistema</strong>, que associa a<br />
administração empresarial e a estatal, carrega consigo uma bastante grande complicação<br />
contábil; e, com respeito a isso, ele não agradará àqueles que, em toda administração,<br />
amam ver não mais que uma pessoa, todas as contas em uma só coluna, e nessa coluna<br />
um só número. Essa simplicidade não existe na contabilidade das prisões americanas;<br />
ela exige dos superintendentes uma atividade contínua, dos inspetores uma vigilância<br />
minuciosa, e dos controladores do Estado um exame aprofundado.<br />
Notemos, por fim, que essa variedade de atribuições, essa faculdade de dirigir a<br />
prisão, ou de pô-la sob responsabilidade de uma empresa, essa vasta administração, ao<br />
mesmo tempo moral e material, servem ainda para explicar porque as funções do<br />
superintendente são desejadas por homens tanto intelectuais quanto honrados.<br />
1 Ver o Relatório <strong>sobre</strong> Auburn, 1831.<br />
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