09.05.2013 Views

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Nas casas de detenção onde toda disciplina consiste na força dos muros e na<br />

solidão das trancas, é preciso muralhas espessas e fortes fechaduras para tornar-se<br />

senhor dos detentos.<br />

Nas novas prisões penitenciárias, esses obstáculos não têm necessidade de serem<br />

tão poderosos, porque não é contra eles que os detentos têm que se debaterem todos os<br />

dias: é, <strong>sobre</strong>tudo, contra a vigilância moral da qual são objeto que eles têm que lutar<br />

continuadamente. Isolados, aliás, pela célula e pelo silêncio, estão reduzidos a sua força<br />

individual. Não é, portanto, necessário, para domá-los, uma força material tão grande<br />

como seria necessário se estivessem livres para associar seus esforços.<br />

Em verdade, a necessidade de uma célula para cada prisioneiro multiplica as<br />

muralhas e exige para a prisão uma extensão maior. Mas esse aumento é compensado<br />

por uma circunstância favorável à economia.<br />

Como os detentos não têm na penitenciária nenhuma comunicação entre si, toda<br />

classificação torna-se inútil, e não é mais necessário ter, na prisão, uma área para os<br />

jovens condenados, outra para os crimi<strong>nos</strong>os mais avançados em idade, uma terceira<br />

para os detidos reincidentes, etc.; enfim, como os princípios do <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong> se<br />

opõem a toda conversação dos detentos entre si, não há pátios <strong>nos</strong> penitenciárias<br />

modernas. Economiza-se, assim, com relação a edifícios e muros, que, no <strong>sistema</strong> de<br />

<strong>nos</strong>sas prisões, existem ou deveriam existir.<br />

Em suma, pode-se dizer que, dirigida com a finalidade de economizar, a<br />

construção de uma penitenciária moderna deve ser feita com poucos custos.<br />

O senhor Welles, um dos inspetores da prisão de Wethersfield, cuja sabedoria e<br />

experiência constantemente apreciamos, <strong>nos</strong> dizia muitas vezes que tudo, nessa matéria,<br />

dependia da economia <strong>nos</strong> menores detalhes. Ele pensa, de resto, que uma penitenciária<br />

de quinhentas células poderia ser construída com 40 000 dólares, o que faria com que o<br />

custo de cada célula fosse de 80 dólares. Seria sem dúvida impossível estimar<br />

exatamente o preço de uma prisão na França a partir do valor que ela custa <strong>nos</strong> Estados<br />

Unidos. No entanto, é-<strong>nos</strong> permitido dizer que esse preço seria aproximadamente o<br />

mesmo na França que <strong>nos</strong> Estados Unidos. Pois, se é verdade que em <strong>nos</strong>so país a<br />

matéria-prima é mais cara que <strong>nos</strong> Estados Unidos, é incontestável também que o preço<br />

da mão-de-obra é muito mais elevado na terra dos norte-america<strong>nos</strong> do que na França.<br />

Vimos que <strong>nos</strong> Estados Unidos empregam-se, algumas vezes, os detentos para<br />

construir as prisões. Foram assim erguidas as penitenciárias de Singsing, de Blackwell-<br />

Island e de Baltimore: no entanto, muitas pessoas na América pensam que esse modo de<br />

construção não é a mais econômica, e que é proveitoso fazer com que as prisões sejam<br />

erguidas por operários livres. Essa opinião parece à primeira vista em oposição com a<br />

natureza das coisas. Com efeito, o trabalho dos operários livres é tão caro que pareceria<br />

haver um interesse evidente em fazer com que as prisões sejam construídas pelos<br />

detentos. Mas é respondido a esse argumento que, pela razão mesma do preço alto da<br />

mão-de-obra, as coisas manufaturadas são vendidas muito caro. Donde se segue que o<br />

trabalho dos detentos, aplicado a indústrias produtivas, restitui ao Estado mais do que<br />

lhe custa o trabalho dos operários livres.<br />

De resto, essa questão deve ser decida segundo os lugares e as circunstâncias; sua<br />

solução, diz o juiz Welles de Wethersfield, depende também da situação dos detentos: é<br />

melhor deixar <strong>nos</strong> ateliês os que são aptos a trabalhos industriais e cujos produtos são<br />

consideráveis; mas se pode, com vantagem, utilizar para a construção da penitenciária<br />

os detentos que são inábeis, e servir-se deles para o transporte de materiais e para outras<br />

funções mais grosseiras que exigem do trabalhador apenas a força material 1 .<br />

1 Ver a Carta do juiz Welles, peça nº 9.<br />

83

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!