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Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

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Se fossem subtraídos do total de crimes os que são cometidos pelos negros e pelos<br />

estrangeiros, ver-se-ia que a população branca norte-americana comete me<strong>nos</strong> delitos<br />

que a francesa; mas, procedendo assim, cometer-se-ia outro erro: com efeito, separar os<br />

negros da população dos Estados Unidos, seria como, na França, se abstraísse uma parte<br />

da classe pobre, quer dizer, daqueles que cometem crimes. Evita-se um obstáculo para<br />

encontrar outro; a esse respeito, o único fato certo, incontestável, que notamos <strong>nos</strong><br />

Estados Unidos, e que pode dar lugar a uma comparação, é a moralidade perfeitamente<br />

extraordinária das mulheres que pertencem à raça branca. Assim, nas prisões dos<br />

Estados Unidos, de cem detidos apenas quatro são mulheres; no caso da França, a<br />

proporção é de vinte mulheres para cem detentos 1 . Ora essa moralidade da mulher deve<br />

ter influência <strong>sobre</strong> a sociedade inteira, porque é <strong>sobre</strong> ela que repousa a moralidade da<br />

família.<br />

Todavia, os elementos de comparação são tão diferentes, que, com relação ao<br />

todo, só é possível arriscar probabilidades.<br />

Os obstáculos se multiplicam quando se quer fazer comparações desse gênero<br />

entre as duas nações. A diferença que existe entre as leis penais dos Estados Unidos e as<br />

<strong>nos</strong>sas se acrescenta aos obstáculos.<br />

Há, <strong>nos</strong> Estados Unidos, fatos punidos como crimes, que, na França, estão fora do<br />

alcance da lei; e, por outro lado, <strong>nos</strong>so código pune delitos que, <strong>nos</strong> Estados Unidos,<br />

não são considerados como tais. Assim, muitos delitos contra a religião e os costumes,<br />

tais como a blasfêmia, o incesto, a fornicação, o alcoolismo, etc., etc. 2 são, <strong>nos</strong> Estados<br />

Unidos, reprimidos com penas severas, enquanto na França são impunidos. Existem<br />

também em <strong>nos</strong>sas leis infrações que não são previstas pela lei americana: assim, <strong>nos</strong>so<br />

código pune a bancarrota, contra a qual as leis dos Estados Unidos não infligem nenhum<br />

castigo.<br />

Como comparar o número de crimes de países cujas legislações são tão<br />

diferentes? Acrescentemos que, fosse essa comparação feita exatamente, seria ainda<br />

difícil tirar dos números obtidos conseqüências concludentes: assim, pode-se dizer, em<br />

geral, que uma maior ou menor quantidade de crimi<strong>nos</strong>os condenados em um país prova<br />

sua corrupção ou moralidade. No entanto, existem exceções a essa regra que lançam<br />

grande incerteza <strong>sobre</strong> os cálculos: assim, em um dos estados mais religiosos e de<br />

caráter moral mais forte da União americana (Connecticut), há mais condenados por<br />

atentado aos costumes do que nenhum outro 3 . Para compreender esse resultado, é<br />

preciso se lembrar que os crimes dessa natureza só são punidos porque são raros: nas<br />

sociedades onde o adultério é comum, ele não é punido. Nos Estados Unidos, não se<br />

vêem devedores que faliram nas prisões; concluir-se-á disso que o crime de bancarrota<br />

nunca é cometido? Seria cair em grave erro, porque é talvez de todos os países aquele<br />

onde as bancarrotas são mais freqüentes. É preciso, portanto, para não ficar admirando,<br />

a esse respeito, a moralidade comercial dos Estados Unidos, saber que se trata de um<br />

crime que a lei não pune. Por outro lado, considerando que <strong>nos</strong> Estados Unidos há dez<br />

falsários em cada grupo de cem crimi<strong>nos</strong>os 4 , poder-se-ia provar a corrupção relativa<br />

desse país comparado ao <strong>nos</strong>so, onde a falsificação está, com relação aos outros crimes,<br />

na proporção de dois para cem 5 . Nos Estados Unidos, toda a população se ocupa do<br />

comércio, e, além disso, há trezentos e cinqüenta bancos que emitem, todos, papel<br />

moeda; a indústria dos falsários tem, portanto, para funcionar nesse país, uma matéria-<br />

1 Ver Alguns pontos de comparação entre a França e os Estados Unidos, peça nº 16.<br />

2 O crime de bestialidade, o atentado sem violência contra a pessoa de uma criança, a pederastia, etc.<br />

3 Ver as Observações estatísticas e comparadas, peça, nº 15.<br />

4 Ver as Observações estatísticas e comparadas, peça nº 15.<br />

5 Ver a Comparação entre a França e a América, peça nº 16.<br />

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