Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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Na antiga prisão de Nova Iorque (Newgate), os condenados reincidentes podiam<br />
ser contados, entre o número total de detidos, na proporção de um para nove; na prisão<br />
de Maryland, um para sete; na de Walnut-Street, um para seis; e, na antiga prisão de<br />
Connecticut, um para quatro 1 . Em Boston, a sexta parte dos indivíduos que saíram da<br />
prisão depois de terem cometido novos crimes voltaram a ela. 2<br />
O número dos indivíduos reincidentes é muito me<strong>nos</strong> elevado nas novas prisões<br />
de Auburn e de Wethersfield. Na primeira, os reincidentes podem ser contados, com<br />
relação ao número total de presos, na proporção de um para dezenove; na segunda, de<br />
cem de indivíduos que saíram, desde a sua criação, cinco somente retornaram devido a<br />
novos delitos; o que dá a proporção de um para vinte 3 .<br />
Em Auburn, além de se considerar os crimi<strong>nos</strong>os que, depois de terem sido<br />
detidos na penitenciária, para lá retornaram depois de uma reincidência, tentou-se<br />
também tomar conhecimento da conduta dos condenados que, não tendo cometido<br />
novos crimes, permaneceram em sociedade. De 160 indivíduos a respeito dos quais foi<br />
possível obter informações, 112 tiveram uma boa conduta, os outros voltaram aos maus<br />
e equivocados hábitos.<br />
Esses números, ainda que pareçam concludentes, são de uma quantidade de a<strong>nos</strong><br />
pequena demais para que se possa tirar um prova invencível da eficácia do <strong>sistema</strong>; mas<br />
forçoso é reconhecer que eles são extremamente favoráveis à novas prisões<br />
penitenciárias, e a presunção que esse resultado cria em favor delas é tanto mais forte na<br />
medida em que o resultado obtido está perfeitamente de acordo, aqui, com o resultado<br />
prometido pela teoria: é preciso acrescentar que, apesar da impossibilidade de produzir<br />
uma prova a partir de penitenciárias novas demais, como a de Singsing, de Boston, e<br />
todas as outras prisões de mesma natureza, não se pode, no entanto, contestar que o<br />
sucesso de Auburn e de Wethersfield torna mais provável o sucesso dos<br />
estabelecimentos que foram erguidos a partir do mesmo modelo.<br />
Apresentando esses documentos estatísticos, não comparamos o número de crimes<br />
e de reincidências <strong>nos</strong> Estados Unidos e na França, persuadidos como somos de que as<br />
bases de semelhante comparação seriam imperfeitas.<br />
Os dois países têm condições de existência que não se parecem absolutamente, e<br />
são compostos de elementos essencialmente diferentes.<br />
Uma sociedade jovem, isenta de estorvos políticos, rica tanto em terra quanto em<br />
indústria, parece dever ter me<strong>nos</strong> crimi<strong>nos</strong>os que um país onde a terra é disputada<br />
palmo a palmo, e onde as crises que nascem das divisões políticas tendem a aumentar o<br />
número de delitos, pelo fato delas aumentarem a miséria perturbando as indústrias.<br />
No entanto, se os documentos estatísticos que possuímos <strong>sobre</strong> a Pensilvânia<br />
podem ser aplicados ao resto da União, há, nesse país, mais crimes que na França,<br />
guardada toda proporção com a população 4 . Diversas causas de outra natureza explicam<br />
esse resultado: de uma parte, a população negra que compõe a sexta parte dos habitantes<br />
dos Estados Unidos e que perfaz a metade dos indivíduos presos; de outra, os<br />
estrangeiros que vêm da Europa cada ano, e que formam a quinta parte e por vezes a<br />
quarta do número de condenados.<br />
Esses dois fatos, que explicam o número elevado de crimes <strong>nos</strong> Estados Unidos e<br />
tornam eles incomparável com um país onde fatos semelhantes não são encontrados.<br />
1 Ver as Observações estatísticas e comparadas, peça nº 15.<br />
2 Ver as Notas estatísticas, peça nº 14.<br />
3 Ver as Observações estatísticas e comparadas, peça nº 15.<br />
4 Há na França mais crimes graves; mas o número total dos delitos é me<strong>nos</strong> elevado que <strong>nos</strong> Estados<br />
Unidos. (Ver as Observações estatísticas e comparadas, peça nº 15.)<br />
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