Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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aproximadamente sempre o mesmo 1 . De modo que essa causa do aumento de crimes no<br />
Norte, embora imóvel na aparência, perde cada ano sua força; a cifra que a representa,<br />
considerada isoladamente, é sempre a mesma; mas ela é menor, comparada a outra cifra,<br />
que cada dia torna-se maior.<br />
Algumas pessoas 2 , <strong>nos</strong> Estado Unidos, pensam também que as luzes da instrução,<br />
tão difundidas <strong>nos</strong> estados do Norte, tendem à diminuição dos crimes 3 .<br />
No estado de Nova Iorque, em uma população de 2 000 000 de habitantes, 550<br />
000 crianças são educadas nas escolas, e o Estado sozinho gasta para isso<br />
aproximadamente 6 000 000 de francos cada ano. Parece que uma população<br />
esclarecida, para a qual não falta nenhuma das oportunidades que podem oferecer a<br />
agricultura, o comércio e a indústria manufatureira, deve cometer me<strong>nos</strong> crimes do que<br />
a que possui estas mesmas vantagens sem as mesmas luzes para explorá-las; no entanto,<br />
pensamos que não se deve atribuir à instrução essa diminuição dos crimes no Norte,<br />
pois, em Connecticut, onde ela é ainda mais difundida que no estado de Nova Iorque,<br />
vêem-se os crimes aumentarem com uma extrema rapidez; e se não se pode culpar as<br />
luzes por esse crescimento prodigioso, é forçoso reconhecer que elas não têm o poder de<br />
impedi-lo 4 ; de resto, não pretendemos explicar essas estranhas anomalias, apresentadas<br />
pelos estados cujas instituições são quase semelhantes, e onde, no entanto, a proporção<br />
dos crimes com a população é tão diferente; essas dificuldades fazem parte daquelas que<br />
não deixam de faltar em toda espécie de trabalho estatístico 5 . Mas as considerações que<br />
viemos de fazer serviram ao me<strong>nos</strong> para provar quantas causas graves, independentes<br />
do <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong>, influem <strong>sobre</strong> o aumento ou a diminuição dos crimes.<br />
Algumas vezes uma crise industrial, o licenciamento de uma armada, etc, etc, etc,<br />
bastam para elevar durante o ano o número de delitos.<br />
Foi assim que, durante o ano de 1816, viu-se o número de crimi<strong>nos</strong>os crescer<br />
extraordinariamente em todas as prisões da América: o <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong> tinha<br />
alguma coisa a ver com isso, nesse caso? Não, era simplesmente uma conseqüência da<br />
1 Cremos que o número de emigrantes tem aumentado muito <strong>nos</strong> últimos tempos. Mas isso não impede<br />
que, em geral, o raciocínio dos autores seja verdadeiro. É certo que a população cresce bem mais rápido<br />
que o número de emigrados. (Nota do tradutor americano).<br />
2 Essa expressão, alguns america<strong>nos</strong>, é inexata em demasia. A verdadeira palavra é todos os america<strong>nos</strong>,<br />
à exceção de alguns. E me seria difícil ainda dizer que conheço um entre esses últimos. (Nota do tradutor<br />
americano)<br />
3 Entre outros, o senhor Edw. Livingston. Ver seus escritos, notadamente sua carta a Roberts Vaux, 1828,<br />
p. 14 e 15. – O juiz Powers considera a ignorância e intemperança as duas principais fontes do crime.<br />
(Ver o Relatório de Gershom Powers, de 1828, p. 50).<br />
4 A instrução, na medida mesma em que não é separada das crenças religiosas, faz nascer uma multidão<br />
de novas necessidades, que, se não são satisfeitas, levam ao crime aqueles que as sentem. Ela multiplica<br />
as relações sociais, ela é a alma do comércio e da indústria, ela cria assim entre os indivíduos mil ocasiões<br />
de fraude ou de má-fé que não existem absolutamente no seio de uma população ignorante e rude. É de<br />
sua natureza, portanto, aumentar, não diminuir o número de crimes. Esse ponto parece, de resto, hoje em<br />
dia, geralmente reconhecido; pois, na Europa, foi observado que os crimes estão em progressão na maior<br />
parte dos países onde a instrução é muito difundida. De resto, emitiremos nessa ocasião <strong>nos</strong>sa opinião<br />
<strong>sobre</strong> a influência da instrução. Suas vantagens <strong>nos</strong> parecem infinitamente superiores a seus<br />
inconvenientes. Ela desenvolve as inteligências e sustenta todas as indústrias. Ela protege assim a força<br />
moral e o bem-estar material dos povos. As paixões que ela excita, funestas para a sociedade, quando<br />
nada as contenta, tornam-se fecundas em vantagens quando podem alcançar o fim que perseguem. Assim,<br />
a instrução dissemina, é verdade, entre os homens, algumas sementes de corrupção; mas é ela também<br />
que torna os povos mais ricos e mais fortes. Em uma nação cercada por vizinhos esclarecidos, ela é não<br />
somente um benefício, mas ainda uma necessidade política. – Ver a Nota <strong>sobre</strong> a instrução pública <strong>nos</strong><br />
Estados Unidos, peça nº 2.<br />
5 Para conhecer as vantagens da estatística e aprender como se servir dela, é preciso ler a excelente obra<br />
que acabou de ser publicada pelo senhor Guerry, sob o título de Statistique morale de la France, Paris,<br />
1832.<br />
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