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Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

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última prisão, o <strong>sistema</strong> parece operar-se por si próprio, unicamente pela força de seus<br />

princípios; em Auburn, ao contrário, e nas prisões de mesma natureza, sua eficácia<br />

depende muito mais dos homens encarregados de sua execução; vê-se, portanto,<br />

concorrer para o sucesso de Auburn esforços exteriores que não são percebidos tanto<br />

quanto na outra.<br />

O plano de Auburn, que admite a reunião dos crimi<strong>nos</strong>os durante o dia, parece, na<br />

verdade, me<strong>nos</strong> adequado que o da Filadélfia para produzir reflexão e arrependimento,<br />

mas ele é mais favorável à instrução dos detentos: em todas as prisões submetidas ao<br />

mesmo regime, o professor e o capelão, podem, em suas aulas ou sermões, se endereçar<br />

à prisão inteira. Em Auburn, há um capelão (o senhor Smith) exclusivamente designado<br />

para esse estabelecimento. A mesma coisa em Wethersfield, onde o senhor Barret,<br />

ministro presbiteriano, se dedicou inteiramente aos cuidados da penitenciária 1 . Depois<br />

da escola, o ofício e o sermão de domingo, os detentos voltam para suas células<br />

solitárias, onde o capelão vai visitar-lhes: ele faz vistas semelhantes durante os outros<br />

dias da semana 2 , e se encarrega de tocar seus corações esclarecendo suas consciências:<br />

os detentos provam um sentimento de alegria vendo-o entrar em suas células. Ele é o<br />

único amigo que lhes resta; ele recebe a confidência de todos seus sentimentos; se eles<br />

têm queixas contra os empregados da prisão, ou algum favor para solicitar, é ele que se<br />

encarrega de suas reclamações. Dando-lhes prova de interesse, ele se esforça por ganhar<br />

cada vez mais a confiança deles. Ele logo se torna um iniciado em todos os segredos da<br />

vida interior dos prisioneiros, e, conhecendo a moralidade de todos, ele trata de aplicar<br />

em cada um o remédio que convém a seu mal. O eclesiástico, de resto, não intervém de<br />

forma alguma na disciplina da prisão. Quando os detentos estão em seus ateliês, ele não<br />

os distrai jamais do trabalho; e se ele recebe uma queixa, não lhe cabe absolutamente<br />

fazer dela um direito; ele apenas solicita em favor dos desgraçados dos quais é o<br />

intérprete. Seria difícil mostrar aqui o zelo que anima as piedosas funções dos senhores<br />

Barret e Smith quando eles a executam; ambos talvez se iludam com relação aos<br />

resultados de seus esforços, mas são bem seguros ao me<strong>nos</strong> de atrair a veneração de<br />

todos os que os conhecem.<br />

Eles são, de resto, admiravelmente ajudados em seu ofício por várias pessoas<br />

estranhas ao estabelecimento. As aulas de domingos são quase inteiramente feitas pelos<br />

habitantes do lugar, que moram a pouca distância da prisão. Estes, guiados por um<br />

sentimento de humanidade ao qual se mistura um sentimento profundo de dever<br />

religioso, vêm todos os domingos passar duas ou três horas na prisão, onde eles<br />

exercem as funções de professores primários. Eles não se limitam, todavia, a ensinar os<br />

prisioneiros a ler: eles se preocupam, <strong>sobre</strong>tudo, com lhes explicar as passagens mais<br />

notáveis do Evangelho. Em Auburn, são os alu<strong>nos</strong> de um seminário presbiteriano que<br />

cumprem esse ministério gratuito e religioso. A escola funciona da mesma forma em<br />

Singsing, Baltimore e Boston 3 . Nesta última cidade, vimos homens da maior distinção<br />

reforma dos detentos; podemos atestar, ao contrário, que os homens que dirigem esse estabelecimento<br />

perseguem tal fim com um ardor extremo. Pode-se ver, aliás, <strong>sobre</strong> esse ponto, o que o senhor G. Powers<br />

responde ao senhor Livingston (Letter of G. Powers to Ed. Livingston, 1829)<br />

1 O senhor Barret recebe, como salário, 200 dólares.<br />

2 No cair da noite, quando, depois do trabalho, eles voltam para suas células.<br />

3 Ver os Relatórios do senhor Niles, de 22 de dezembro de 1829. Devemos dizer que em Singsing, a<br />

escola, embora se dê de uma maneira cuidadosa, <strong>nos</strong> parece restrita a número pequeno demais de<br />

detentos. O número de condenado admitidos na escola de domingo varia de 60 a 80: proporção fraca com<br />

relação a 1 000. (Ver o Relatório de 1832 <strong>sobre</strong> Singsing). A direção desse estabelecimento é por demais<br />

material, o que provém sem dúvida do fato de o superintendente e os agentes inferiores estarem<br />

preocupados unicamente com a manutenção da ordem exterior, cuja existência está continuamente<br />

ameaçada. Fomos testemunhas de um fato que prova qual poderia ser o sucesso da escola em Singsing, se<br />

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