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Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

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com a instrução primária e religiosa dos detentos, mas é manifesto que esse objetivo é<br />

apenas secundário. Nas prisões de Auburn, de Wethersfield, da Filadélfia e de Boston, a<br />

reforma ocupa um espaço bem maior.<br />

Na Filadélfia, a situação moral na qual se encontram os detentos é<br />

eminentemente própria para facilitar a regeneração destes. Notamos mais de uma vez<br />

com espanto o aspecto sério que assumem as idéias do condenado nessa prisão. Vimos<br />

detentos, cuja disposição e falta de constância tinham conduzidos ao crime, com o<br />

espírito imbuído dos hábitos, adquiridos na solidão, de meditação e de reflexão<br />

perfeitamente extraordinários. O regime dessa penitenciária <strong>nos</strong> pareceu, <strong>sobre</strong>tudo,<br />

poderoso <strong>sobre</strong> as almas dotadas de alguma elevação e <strong>sobre</strong> as pessoas que a educação<br />

havia polido. Os homens intelectuais são naturalmente aqueles cujas almas são as mais<br />

perturbadas pelo isolamento, e que sofrem mais por estarem separados de toda<br />

sociedade.<br />

Podemos dizer, no entanto, que essa solidão absoluta produz <strong>sobre</strong> todos os<br />

detentos a mais viva impressão. Encontram-se em geral seus corações prontos a se<br />

abrirem, e essa facilidade de receber emoções lhes dispõe ainda à reforma. Eles são,<br />

<strong>sobre</strong>tudo, acessíveis aos sentimentos religiosos, e as lembranças da família têm <strong>sobre</strong><br />

suas almas um poder enorme. Talvez o homem livre e que goza das comunicações<br />

sociais é incapaz de conceber todo o valor de um pensamento religioso lançado na<br />

célula de um condenado.<br />

Na Filadélfia, nada distrai os condenados de suas meditações; e como eles estão<br />

sempre isolados, a presença de um homem que vem lhes falar é um amparo imenso que<br />

eles apreciam inteiramente. Quando visitamos essa penitenciária, um dos prisioneiros<br />

<strong>nos</strong> dizia: “É com alegria que percebo a figura dos vigilantes que visitam minha célula.<br />

Neste verão, um grilo entrou na minha cela; parecia-me que tinha encontrado nele uma<br />

companhia (it looked like a company). Quando uma borboleta ou qualquer outro animal<br />

entra em minha célula, nunca lhe faço mal 1 ”. Nessa disposição de alma, concebe-se todo<br />

o valor que eles dão às comunicações morais, e a influência que podem ter <strong>sobre</strong> seu<br />

espírito sábios conselhos e piedosas exortações.<br />

O superintendente visita cada um deles ao me<strong>nos</strong> uma vez por dia. Os inspetores<br />

lhes fazem a mesma visita ao me<strong>nos</strong> duas vezes por semana, e um capelão é<br />

encarregado especialmente de cuidar da reforma moral de cada um. Antes e depois<br />

dessas visitas, eles não estão completamente sozinhos. Os livros, que são postos à sua<br />

disposição, são para eles um tipo de companhia que não lhes deixa jamais. A Bíblia, e<br />

algumas vezes folhas destacadas contendo alguma mensagem edificante, formam sua<br />

biblioteca. Quando eles não trabalham, eles lêem, e vários dentre eles parecem<br />

encontrar nessa leitura uma grande consolação. Há os que, sabendo apenas as letras do<br />

alfabeto, aprenderam a ler sozinhos. Outros, me<strong>nos</strong> engenhosos e mais teimosos, apenas<br />

o conseguiram com o socorro do superintendente ou dos inspetores 2 .<br />

Tais são os meios empregados na Filadélfia para esclarecer os condenados e<br />

torná-los melhores.<br />

Há uma combinação com maior potencial para a reforma que a de uma prisão<br />

que faz com que o crimi<strong>nos</strong>o passe por todas as provas do isolamento, o conduz pela<br />

reflexão ao remorso, à esperança pela religião, torna-o laborioso pelo tédio da<br />

1 Ver a Investigação sobe a penitenciária de Filadélfia, peça nº VII.<br />

2 Na Filadélfia, não há escolas regulares; mas quando os inspetores ou o superintendente vêem em um<br />

detento boas disposições ou, por um motivo qualquer, se sentem interessados em seu favor, eles são mais<br />

cuidadosos com estes que com os outros, e começam por lhes propiciar os primeiros elementos de<br />

instrução. Um dos inspetores da penitenciária, o senhor Branford, consagra muito do seu tempo a essa boa<br />

obra.<br />

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