Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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Capítulo III<br />
Reforma<br />
Ilusões de alguns filantropos <strong>sobre</strong> o <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong>. – Em que consistem suas<br />
vantagens reais. – Os prisioneiros não podem se corromper entre si. – Meios<br />
empregados para operar sua reforma moral. – Instrução primária e religiosa. –<br />
Vantagens e inconvenientes do <strong>sistema</strong> da Filadélfia neste caso. – O <strong>sistema</strong> de Auburn,<br />
me<strong>nos</strong> filosófico, depende mais, para seu sucesso, dos homens encarregados de sua<br />
execução. – Influência dos homens religiosos <strong>sobre</strong> a reforma. – Essa reforma é obtida?<br />
– Distinguir entre a reforma radical e a reforma exterior.<br />
Seção I<br />
Há <strong>nos</strong> Estados Unidos, assim como na Europa, homens estimáveis cujo espírito se<br />
alimenta de fantasias filosóficas, e cuja extrema sensibilidade precisa de ilusões. Esses<br />
homens, para quem a filantropia tornou-se uma necessidade, encontram no <strong>sistema</strong><br />
<strong>penitenciário</strong> um alimento para essa paixão generosa: tomando como ponto de partida<br />
abstrações que se desviam mais ou me<strong>nos</strong> da realidade, eles consideram o homem, não<br />
importa quão avançado esteja no crime, como suscetível de ser sempre levado de novo à<br />
virtude, eles pensam que o ser mais infame pode em todos os casos recuperar o<br />
sentimento de honra; e, seguindo as conseqüências dessa opinião, eles entrevêem uma<br />
época em que os crimi<strong>nos</strong>os estarão radicalmente reformados, as prisões se esvaziarão<br />
inteiramente, e a justiça não terá mais crimes para punir.<br />
Outros, talvez sem ter uma convicção tão profunda, fazem, no entanto, o mesmo<br />
caminho; eles constantemente se ocuparam das prisões: é o tema mesmo ao qual<br />
remetem os trabalhos de toda a sua vida. A filantropia tornou-se para eles um tipo de<br />
profissão; e eles têm a monomania do <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong>, que a eles parece ser o<br />
remédio aplicável a todos os males da sociedade.<br />
Acreditamos que tanto uns quanto outros exageram com respeito ao mérito dessa<br />
instituição, cujos efeitos benéficos reais podem ser reconhecidos, mas sem lhe atribuir<br />
efeitos imaginários que não poderiam ter nela a causa.<br />
Há, antes de tudo, uma vantagem incontestável, inerente a um <strong>sistema</strong><br />
<strong>penitenciário</strong> que tem no isolamento a base principal: os crimi<strong>nos</strong>os não se tornam na<br />
prisão piores que eles eram quando entraram. Nisso, esse <strong>sistema</strong> difere essencialmente<br />
do regime de <strong>nos</strong>sas prisões, que não somente não torna os detentos melhores, mas os<br />
corrompem mais ainda. Em <strong>nos</strong>so país, todos os grandes crimes foram, antes de sua<br />
execução, elaborados de alguma forma nas prisões, e deliberados nas sociedades de<br />
malfeitores reunidos. Tal é a funesta influência dos malfeitores uns <strong>sobre</strong> os outros, qual<br />
seja, basta haver na prisão um celerado consumado para que todos que o vêem e o<br />
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