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Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

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A Pensilvânia é talvez o único dos estados da União que continua a protestar<br />

contra o uso dos castigos corporais, e que os excluiu do regime de suas prisões. Os<br />

quakers não param de ser erguer contra a desumanidade dessa pena, e à suas<br />

reclamações filantrópicas se mistura a voz eloqüente de Edward Linvingston, que<br />

proscreve igualmente esse meio de disciplina de seu código <strong>penitenciário</strong>. É <strong>sobre</strong>tudo<br />

considerando os castigos corporais aplicados em Auburn que ele se declara o adversário<br />

do <strong>sistema</strong> em vigor nessa prisão 1 .<br />

Mas suas palavras encontram pouco eco na maior parte dos estados da União, e<br />

hoje todas as novas penitenciárias, exceto a de Filadélfia, procuram <strong>nos</strong> castigos aqui<br />

mencionados um meio de manter a ordem e a disciplina; as leis do país autorizam o<br />

regime que elas adotaram, e essas leis têm a sanção da opinião pública.<br />

Há certamente nas críticas que são feitas à disciplina de Auburn muito de<br />

exagero. E, antes de tudo, as penas corporais não são absolutamente tão freqüentemente<br />

aplicadas como se acredita; necessárias para introduzir a disciplina do silêncio nas<br />

novas prisões, elas são raramente infligidas para manter essa disciplina uma vez que foi<br />

estabelecida.<br />

Agora, o regime inteiro dessas prisões é, como se pretende, destruidor da saúde,<br />

e os rigores do isolamento, assim como as crueldades da disciplina, são funestos à vida<br />

dos detentos? A esse respeito podemos fornecer documentos positivos.<br />

Todos os detentos que vimos nas penitenciárias dos Estados Unidos pareciam ser<br />

fortes e saudáveis; e se se compara o número dos que morrem nelas com o número de<br />

mortos nas prisões antigas, ver-se-á que as novas penitenciárias, apesar do regime<br />

severo e da disciplina bárbara, são mais favoráveis à vida dos detentos. O senhor Ed.<br />

Livingston quer que a pena de chicote seja substituída, como castigo disciplinar, pelo<br />

encarceramento solitário dia e noite, sem trabalho e com redução de comida; não parece<br />

que em Wethersfield essa pena, que se costuma infligir preferencialmente aos golpes,<br />

tenha produzido efeitos perniciosos. No entanto, citam-se na prisão de Lamberton<br />

(Nova Jérsei) dez indivíduos que morreram depois desse gênero de punição, e, por outro<br />

lado, não existem ainda casos de detentos que tenham sido vítima de um castigo<br />

corporal 2 .<br />

Na antiga prisão de Walnut-Street havia, em média, cada ano, uma morte em<br />

cada grupo de dezesseis detentos, e na de Nova Iorque (Newgate), uma em cada grupo<br />

de dezenove. Nessas duas prisões os detentos não eram isolados, nem obrigados ao<br />

silêncio, nem submetidos a castigos corporais 3 .<br />

Condena-se, <strong>sobre</strong>tudo, o poder arbitrário que, nesse caso, foi dado aos empregados da prisão. A maior<br />

parte das pessoas vê nessa questão um ponto de humanidade mais que de filosofia. (Nota do tradutor<br />

americano)<br />

1 “A questão a resolver, diz o senhor Livingston, é a de saber se o chicote é o meio mais eficaz para<br />

inculcar na alma dos condenados sentimentos religiosos e morais, o amor pelo trabalho e pela ciência; e<br />

se um homem amará mais o trabalho porque foi coagido, pelos golpes ou pelo medo que tem de tal<br />

castigo, a cumprir todo dia a tarefa que lhe foi imposta.”. Ver a Carta de Livingston a Roberts Vaux, p.<br />

11, 1828. – O senhor Gershom Powers, diretor de Auburn, cuja disciplina é assim atacada pelo senhor<br />

Livingston, lhe respondeu:<br />

“Anuncia-se que na Filadélfia os golpes não serão tolerados em nenhum caso, e que a redução da comida<br />

será o principal meio, senão o único, para manter a disciplina; em outros termos, por motivos de<br />

humanidade, a fim de submeter os detentos, far-lhes-ão morrer de fome.” Ver Relatório de 1828, p. 97.<br />

O senhor Elam Lynds, com o qual tivemos numerosas conversações a respeito, <strong>nos</strong> disse muitas vezes<br />

que na época em que os detentos de Auburn eram presos dia e noite em suas células sem trabalhar, um<br />

grande número deles passava a metade de seu tempo no hospital<br />

2 Ver 5º Relatório da sociedade das prisões de Boston, p. 92.<br />

3 Ver Observações estatísticas, peça nº 17. Em Auburn, os detentos são tratados mais duramente: na<br />

Filadélfia, são mais infelizes. Em Auburn, onde são chicoteados, eles morrem em menor número que na<br />

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