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Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

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classificações. Mas, depois de se ter utilizado esse meio, reconheceu-se sua impotência.<br />

Há penas parecidas e crimes chamados pelo mesmo nome, mas não há duas moralidades<br />

que sejam semelhantes; e todas as vezes que os condenados são postos juntos, existe<br />

necessariamente uma influência funesta de uns <strong>sobre</strong> os outros, porque, na associação<br />

de pessoas más, não é o me<strong>nos</strong> culpado que age <strong>sobre</strong> o crimi<strong>nos</strong>o, mas o mais<br />

depravado que age <strong>sobre</strong> aquele que o é me<strong>nos</strong>.<br />

É preciso, portanto, na impossibilidade de classificar os detentos, instaurar a<br />

separação de todos.<br />

Essa separação, que impede o prisioneiro mau de prejudicar os outros, é a ele<br />

próprio favorável.<br />

Lançado na solidão, ele reflete. Em presença apenas de seu crime, ele aprende a<br />

odiá-lo: e se sua alma não é ainda insensível ao mal, é no isolamento que o remorso virá<br />

acometê-lo.<br />

A solidão é uma pena severa, mas tal castigo é merecido pelo culpado. “Uma<br />

prisão destinada a punir, diz o senhor Livingston, deixará em breve de ser um objeto de<br />

terror, se os condenados que nela vivem mantiverem, conforme queiram, as relações de<br />

sociedade nas quais se compraziam antes de serem detidos 1 .”<br />

No entanto, qualquer que seja o crime do culpado, não se deve de forma alguma<br />

arrancar-lhe a vida, quando a sociedade apenas quer lhe privar da liberdade. Tal seria,<br />

no entanto, o resultado do isolamento absoluto, se nenhuma distração viesse abrandar<br />

seu rigor.<br />

Eis porque o trabalho é introduzido na prisão. Longe de ser um agravamento da<br />

pena, ele é para os detentos um verdadeiro benefício.<br />

Mas mesmo que o crimi<strong>nos</strong>o não encontre aí uma atenuação de seus<br />

sofrimentos, ele não deveria, no entanto, ser me<strong>nos</strong> forçado a se dedicar ao trabalho. Foi<br />

a ociosidade que o conduziu ao crime; trabalhando, ele aprenderá como se vive<br />

honestamente.<br />

Sob outro ponto de vista, o trabalho do crimi<strong>nos</strong>o é ainda necessário: sua<br />

detenção, dispendiosa para a sociedade quando ele está ocioso, torna-se me<strong>nos</strong> onerosa<br />

quando ele trabalha.<br />

As prisões de Auburn, de Singsing, de Wethersfield, de Boston e da Filadélfia,<br />

repousam, portanto, <strong>sobre</strong> esses dois princípios reunidos: o isolamento e o trabalho.<br />

Esses princípios, por serem salutares, não devem absolutamente ser separados: um é<br />

ineficaz sem o outro.<br />

Na antiga prisão de Auburn, tentou-se o isolamento sem trabalho, e os detentos<br />

que não se tornaram loucos, ou que não morreram de desespero, reentraram na<br />

sociedade apenas para cometer novos crimes.<br />

Em Baltimore, tenta-se nesse momento o <strong>sistema</strong> de trabalho sem isolamento, e<br />

essa tentativa não parece dar certo.<br />

Admitindo a metade do princípio de solidão, rejeita-se o outro; a penitenciária<br />

dessa cidade contém um número de células igual ao de detentos que são presos durante<br />

a noite; mas durante o dia, permite-se a comunicação entre eles. Seguramente, a<br />

separação durante a noite é a mais importante; no entanto, ela não basta. As relações<br />

que os crimi<strong>nos</strong>os têm entre eles são necessariamente corruptoras; e essas relações<br />

devem ser evitadas, se se quer preservar os detentos de todo contágio mútuo.<br />

Íntimos dessas verdades, os fundadores da nova penitenciária da Filadélfia<br />

quiseram que cada prisioneiro fosse encarcerado em uma célula particular dia e noite.<br />

1 Ver a introdução ao código de disciplina das prisões.<br />

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