Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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mistura de idades e de moralidades, todos os vícios do antigo regime lhe são ainda<br />
reservados: vimos numa cadeia de Nova Iorque (Bridwell) mais de cinqüenta pessoas<br />
presas preventivamente reunidas em uma mesma sala 1 . Esses detentos são aqueles para<br />
os quais seria desejável criar prisões bem ajustadas. Concebe-se, com efeito, que a<br />
pessoa presa preventivamente e que ainda não foi declarada culpada, e o condenado que<br />
cometeu um leve delito, devem ser envolvidos por uma proteção maior que os culpados<br />
mais avançados no crime, e cuja culpabilidade foi reconhecida.<br />
As pessoas presas preventivamente são às vezes inocentes e sempre presumidas<br />
como tal. Como se tolera que eles encontrem na prisão uma corrupção da qual não são a<br />
origem?<br />
Se eles são culpados, por que colocá-los de início em uma cadeia propícia para<br />
lhes corromper mais ainda, salvo com a intenção de reformá-los posteriormente na<br />
prisão penitenciária, para onde serão enviados uma vez condenados?<br />
Evidentemente há lacunas em um <strong>sistema</strong> de prisões que apresenta semelhantes<br />
anomalias.<br />
Essas contradições chocantes provêm, <strong>sobre</strong>tudo, da carência de conjunto das<br />
diversas partes da administração dos Estados Unidos.<br />
As grandes prisões (state prisons), correspondentes às <strong>nos</strong>sas prisões centrais,<br />
pertencem ao Estado, que as dirige; em seguida, vêm as prisões do condado, com gestão<br />
particular; e, enfim, as prisões das cidades, regidas por elas mesmas.<br />
Sendo as administrações particulares <strong>nos</strong> estados aproximadamente tão<br />
independentes entre elas como são os estados entre si, disso resulta que elas não agem<br />
jamais em concerto e simultaneamente. Enquanto uma faz uma reforma útil <strong>nos</strong> limites<br />
do seu poder, a outra permanece inativa e ligada às tradições de rotina.<br />
Veremos mais longe como essa independência das localidades, que s estende ao<br />
conjunto de todos os seu atos, tem, no entanto, uma influência benéfica, fazendo com<br />
que se abra, para cada uma delas, uma via que seguem livremente, e lhes imprimindo<br />
uma marcha mais resoluta e enérgica.<br />
De resto, não enfatizaremos mais longamente o que há de defeituoso no <strong>sistema</strong><br />
de prisões dos Estados Unidos: se a França quer um dia imitar as penitenciárias da<br />
América, importa-lhe, <strong>sobre</strong>tudo, conhecer as que podem servir de modelo. Os novos<br />
estabelecimentos serão, portanto, os únicos objetos de <strong>nos</strong>so exame.<br />
Vemos pelo que precede que poucos estados mudaram completamente seu<br />
<strong>sistema</strong> de encarceramento: o número daqueles que modificaram suas leis penais é<br />
menor ainda. Vários dentre eles possuem ainda uma parte das leis bárbaras que<br />
receberam da Inglaterra.<br />
Não falamos absolutamente dos estados do Sul, onde a escravidão está em vigor:<br />
em todos os lugares onde metade da sociedade é cruelmente oprimida pela outra, devese<br />
esperar encontrar na lei do opressor uma arma sempre pronta para atingir a natureza<br />
que se revolta ou a humanidade que se queixa. Pena de morte e pancadas, eis todo<br />
código penal dos escravos 2 . Mas se damos uma olhadela <strong>nos</strong> estados que não têm mais<br />
escravos, e cuja civilização é mais avançada, veremos essa civilização se aliar, em<br />
1 Nessa prisão, onde há apenas pessoas presas preventivamente, não se leva em consideração a diferença<br />
entre os crimes que lhes são atribuídos, a juventude de alguns deles, a velha corrupção de outros. Todos<br />
esses indivíduos não têm nenhum leito, nenhuma cadeira, nem mesmo uma tábua para se deitarem ou<br />
repousarem. Não têm tampouco um pátio para respirarem ar puro. – A alguns passos de lá, há uma prisão<br />
perfeitamente ordenada, na qual são presos os crimi<strong>nos</strong>os condenados. Nos Estados Unidos, encontram-se<br />
as melhores prisões e as mais viciosas.<br />
2 Não se tem de forma alguma uma prisão para prender os escravos: o encarceramento custa caro demais!<br />
a morte, o chicote, o exílio não custam nada! ademais, para exilá-los, as pessoas os vendem, o que é<br />
lucrativo.<br />
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