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Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

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para os jovens delinqüentes. Não existe outro estabelecimento que melhor esteja de<br />

acordo com a experiência. Sabe-se que a maior parte dos homens aos quais a justiça<br />

inflige seu rigor eram desgraçados antes de se tornar culpados. O infortúnio é,<br />

<strong>sobre</strong>tudo, perigoso para aqueles que ela atingiu em uma idade ainda tenra; e é raro que<br />

um órfão sem patrimônio e sem amigos, ou a criança abandonada pelos parentes, evite<br />

as ciladas que são armadas para sua inexperiência e não passem em pouco tempo da<br />

miséria ao crime. Sensibilizados com a sorte dos jovens delinqüentes, várias pessoas<br />

caridosas da cidade de Nova Iorque conceberam o plano de uma casa de refúgio,<br />

destinada a lhes servir de asilo e a lhes proporcionar educação e meios de existência que<br />

a fortuna lhes tinha recusado: 30 000 dólares foram o produto de uma primeira<br />

subscrição: assim, somente pela potência de uma associação beneficente, foi erguido um<br />

estabelecimento eminentemente útil, e que vale mais talvez que as prisões<br />

penitenciárias, porque estas punem o crime, enquanto que a casa de refúgio tem por<br />

objetivo preveni-lo.<br />

Depois da experiência feita em Auburn, no Estado de Nova Iorque, mesmo as<br />

funestas conseqüências do isolamento sem trabalho não impediam a Pensilvânia de<br />

continuar a tentativa; e, durante o ano de 1827, a penitenciária de Pittsburg começou a<br />

receber prisioneiros. Cada detido foi preso dia e noite em uma célula, onde não lhe foi<br />

permitido trabalhar. Essa solidão, que em princípio devia ser absoluta, não o foi, porém,<br />

na realidade. A construção dessa penitenciária é de tal maneira viciosa, que é muito fácil<br />

escutar de uma célula o que se passa em outra; dessa forma, cada detento encontrava na<br />

conversa com seu vizinho uma distração cotidiana, quer dizer, a ocasião de uma<br />

corrupção inevitável; e como esses crimi<strong>nos</strong>os não trabalhavam, pode-se dizer que a<br />

única ocupação deles era a de se corromperem mutuamente. Essa prisão era, portanto,<br />

pior que a de Walnut; pois, por meio das relações entre eles, os detentos de Pittsburg<br />

não se reformavam, não mais que os de Walnut-Street; e enquanto estes indenizavam a<br />

sociedade com seu trabalho, os outros passavam todo seu tempo em uma ociosidade<br />

prejudicial a eles mesmos, e onerosa para o tesouro público.<br />

O sucesso negativo desse estabelecimento não provava nada contra o <strong>sistema</strong> que<br />

lhe tinha criado, porque os vícios de construção tornavam sua execução impossível; no<br />

entanto, ele começou a desanimar os partidários das teorias <strong>sobre</strong> as quais ele foi<br />

fundado. Essa impressão tornou-se mais viva ainda na Pensilvânvia, quando se verificou<br />

os desastres causados pela solidão sem trabalho na prisão de Auburn, e o feliz sucesso<br />

da nova disciplina fundada no isolamento durante a noite com trabalho comum durante<br />

o dia 1 .<br />

Diante de resultados tão chocantes, a Pensilvânia pareceu temer ter seguido um<br />

mau caminho; ela sentiu necessidade de submeter a novo exame a questão do<br />

encarceramento solitário sem trabalho, que começou a vigorar em Pittsburg, e admitido<br />

em princípio para a penitenciária de Cherry-Hill, cuja construção estava já bem<br />

avançada.<br />

A legislatura desse estado nomeou, portanto, uma comissão, com o objetivo de<br />

examinar qual seria o melhor <strong>sistema</strong> de encarceramento. Os senhores Charles Shaler,<br />

Edward King e T. – L. Wharton, comissários encarregados dessa missão, expuseram,<br />

1 Não foi somente na prisão de Auburn que o encarceramento solitário sem trabalho exerceu <strong>sobre</strong> a saúde<br />

moral e física dos detentos a mais funesta influência. As experiências feitas nas prisões de Maryland,<br />

Maine, Virgínia de Nova Jérsei não foram mais felizes; citam-se, nesta última prisão, os nomes de dez<br />

indivíduos que o encarceramento solitário matou. Ver o quinto Relatório da Sociedade de Boston p. 422,<br />

Na Virgínia, quando o governador cessou de agraciar os condenados, apenas um dos detentos, não<br />

seguido nisso por nenhum dos outros, conseguiu <strong>sobre</strong>viver ao ataque de uma doença. (Ver o Relatório<br />

dos redatores do Código Penal da Pensilvânia, p. 30.)<br />

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