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Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

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soluções que não correspondem “à fragmentária política de interesses” e só encontra<br />

como solução chamá-las de política e relegá-las à centralização política. Para ele, se a<br />

administração deve ser descentralizada, o poder político da União precisa de força e de<br />

centralização, senão, como uma nação poderia ser poderosa? Para ele, um <strong>sistema</strong>, para<br />

ser de caráter universal, como a Constituição que o criou, precisa ser centralizado<br />

politicamente.<br />

<strong>Tocqueville</strong> demonstra a convicção de que os crimi<strong>nos</strong>os deviam estar fora da<br />

política em muitos de seus textos <strong>sobre</strong> prisões e suas tentativas enquanto deputado de<br />

reformar o <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong> francês, convicção esta que não foi abalada nem<br />

mesmo por seus posteriores estudos e pesquisas. Para ele, as prisões, ao colocarem os<br />

crimi<strong>nos</strong>os fora da sociedade e do Estado, os deixam também fora da política. Eles não<br />

podem agir politicamente e tampouco podem ter direitos. Eles não são cidadãos. As<br />

prisões são construídas e os <strong>sistema</strong>s <strong>penitenciário</strong>s existem para que os crimi<strong>nos</strong>os<br />

estejam e fiquem fora da política.<br />

Para <strong>Tocqueville</strong> política é ação. Isto também é válido igualmente para a sua<br />

nova ciência política. Ambas são fundadas na razão e no conhecimento do real, embora,<br />

também contenham em si a irracionalidade da paixão, pois a liberdade precisa ser<br />

desejada e amada. Por tudo isso, para ele, a luta pela liberdade é sempre uma virtude,<br />

um dever e uma necessidade.<br />

Por isso mesmo, <strong>Tocqueville</strong> apela desesperadamente para a ação política dos<br />

cidadãos, como a única mantenedora da liberdade, mas não exercendo como indivíduos<br />

independentes, um “individualismo pernicioso,” defendendo apenas os seus interesses<br />

particulares, e sim como cidadãos defendendo os direitos universais da cidadania. Para<br />

ele, sem a atividade da política, o futuro da humanidade seria a barbárie.<br />

As muitas leituras das obras de <strong>Tocqueville</strong> fizeram dele, na maioria das vezes,<br />

apenas um autor liberal conservador. No entanto, o que o caracteriza como um<br />

importante teórico moderno da democracia não é apenas sua construção do conceito,<br />

mas as suas profundas análises críticas da sociedade, da política e do Estado, as quais,<br />

com o passar de mais de um século, parecem ainda válidas e muito atuais. Suas<br />

considerações <strong>sobre</strong> a sociedade de massa, a cultura globalizada, a condição de miséria<br />

daqueles que nada possuem, o aumento da criminalidade, a necessidade imperiosa de<br />

sempre obter as novas tecnologias, e mesmo as discussões <strong>sobre</strong> as soluções mais<br />

modernas, parecem se referir aos problemas de <strong>nos</strong>sa época.<br />

Nas análises críticas que <strong>Tocqueville</strong> teceu <strong>sobre</strong> a sociedade americana de seu<br />

tempo, os perigos que ele apontou como fatores destruidores do “tipo ideal” de<br />

democracia, hoje já são vistos como a “barbárie” que ele tanto temia. Como ameaça, ela<br />

é constante, não só para o presente da nação norte-americana, como para o futuro da<br />

humanidade.<br />

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