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Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

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nesse tipo de punição o perigo do prisioneiro não conseguir manter a mente sã e<br />

enlouquecer.<br />

Da teoria à prática<br />

As construções submetiam-se às teorias. As teorias mais avançadas e liberais<br />

consideravam que, ao lado de uma permanente educação, apenas a vigilância era<br />

necessária. Nos Estados Unidos, algumas religiões nada liberais em relação aos<br />

costumes, acreditavam nessa solução. O Panóptico de Bentham tinha seguidores. Para<br />

esses, uma prisão que tivesse certo conforto e providenciasse ensinamentos de bons<br />

valores e costumes transformariam os crimi<strong>nos</strong>os em bons cidadãos. Bastaria que<br />

fossem vigiados. 1<br />

O debate americano, logo seguido de grandes e novas construções, dava-se<br />

principalmente em torno de como punir. Aceita uma teoria, seguia-se a arquitetura, a<br />

construção e a organização das prisões. Como conseqüência desse debate discutia-se o<br />

projeto, o padrão de cárcere mais adequado ao tipo de crimi<strong>nos</strong>o que se pretendia<br />

receber. As prisões podiam ser públicas ou privadas e, segundo a vontade de seus<br />

administradores, os seus futuros habitantes poderiam construí-las. Nos Estados Unidos,<br />

era comum colocarem os próprios crimi<strong>nos</strong>os para construir as prisões ou para trabalhar<br />

em outros tipos de construção. Isso poderia ser visto como positivo, de várias formas.<br />

Do ponto de vista econômico, era rentável para o governo ou para os futuros<br />

proprietários-administradores das prisões. Além disso, o trabalho da construção da<br />

própria prisão era uma forma do governo ou dos proprietários particulares se<br />

ressarcirem dos gastos que tinham para manter a prisão. Do ponto de vista do crimi<strong>nos</strong>o<br />

e dos filantrópicos, poderia ser salutar, pois, além do “trabalho enobrecer o homem,” os<br />

prisioneiros aprendiam um ofício e, conforme alguns teóricos, poderiam também,<br />

considerando-se as circunstâncias, receber pagamento em troca de certos trabalhos.<br />

O trabalho como punição dos prisioneiros, juntamente com uma visão<br />

econômica do gerenciamento das prisões, era um dos pontos polêmicos da discussão.<br />

Muitas eram as maneiras de abordar o problema. Havia os que defendiam a idéia de que<br />

o trabalho não era uma punição e, ao contrário, seria uma salvação, <strong>sobre</strong>tudo quando<br />

fosse pago. Para o prisioneiro ficaria resolvido o problema do aprendizado de uma<br />

profissão e ele, assim, saberia valorizá-lo.<br />

Para <strong>Tocqueville</strong> e <strong>Beaumont</strong>, muito dessas argumentações <strong>sobre</strong> um <strong>sistema</strong><br />

<strong>penitenciário</strong> apareciam como novidade. O <strong>sistema</strong> federalista americano propiciava<br />

uma experiência importante, uma vez que diversas teorias poderiam ter aplicação no<br />

país. As teorias prisionais eram muitas e variavam enormemente, não apenas segundo<br />

cada estado da federação, mas também conforme os valores predominantes <strong>nos</strong> vários<br />

tipos de comunidade. Talvez fosse mesmo difícil designar um <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong><br />

para todo o país, pois o ponto determinante era onde e para qual comunidade a prisão<br />

seria construída. Estavam observando um país novo, descentralizado. A França era um<br />

velho país extremamente centralizado. Poderiam apenas anotar, <strong>sobre</strong> as várias prisões<br />

visitadas, bons ou maus aspectos que pudessem ser úteis à reforma francesa.<br />

1 Sem dúvida, o Panóptico de Bentham inaugura, pela sua arquitetura e construção, a idéia de constante e<br />

total vigilância. A observação do comportamento dos presos era considerada mais produtiva que maus<br />

tratos ou penas com punições mais severas. Foucault vê na construção e „teoria‟ do Panóptico, o princípio<br />

da masmorra ser invertido. “De suas três funções – trancar, privar de luz e esconder – só se conserva a<br />

primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra,<br />

que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha.” Foucault, M., Vigiar e Punir, Ed. Vozes, 1975.<br />

p. 190. Mais aceita na época eram teorias que viam na vigilância constante, uma forma de reformar os<br />

hábitos de trabalho do pobre.<br />

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