09.05.2013 Views

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Além das justificativas que já haviam apresentado no pedido para a realização da<br />

viagem, os objetivos centrais dos dois autores quando partiram para sua missão <strong>nos</strong><br />

Estados Unidos eram, em primeiro lugar, entender o que se definia como teoria do<br />

<strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong>. Em segundo, queriam descobrir como a teoria era aceita e<br />

empregada, isto é, como se aplicava a teoria à prática carcerária. Antes mesmo de partir,<br />

já vinham estudando e procurando entender o que definiam como questões teóricas. A<br />

meta final era analisar em que medida haveria uma adequação possível entre os<br />

princípios que orientavam a organização das prisões e o que realmente já havia sido<br />

realizado <strong>nos</strong> Estados Unidos. Somente, então, seria possível pensar em reformas.<br />

Teorias<br />

O debate <strong>sobre</strong> crimes e suas punições já vinha se desenvolvendo há algum tempo em<br />

vários países europeus. Dentre as várias tendências, parecia haver uma concordância,<br />

um princípio fundamental: as prisões ou os vários tipos de encarceramento só existiam e<br />

só deveriam existir porque “todo <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong> deve se propor a dois fins: a<br />

punição do culpado e sua regeneração moral” 1 .<br />

Na Introdução dos Écrits sur le système pénitenciaire en France et à<br />

l’étranger, Michelle Perrot lembra que o tema era atualíssimo e “perfeitamente<br />

plausível, dada a situação pessoal dos requerentes e a conjuntura penal da época. A<br />

sociedade ocidental estava em busca de novos modos de repressão que fossem ao<br />

mesmo tempo mais suaves, mais extensos e mais eficazes, e ainda que fossem mais<br />

adaptados às novas relações de poder e a atual situação dos costumes” 2 . Perrot<br />

informa, ainda, que a França vinha, desde 1827, publicando informações <strong>sobre</strong> sua<br />

contabilidade em relação aos crimes e delitos cometidos no país. Esses dados<br />

estatísticos mostravam não apenas um aumento constante da criminalidade, mas<br />

apontavam também para os grandes perigos da vida urbana, uma vez que a relação entre<br />

crimes e o número de habitantes era muito maior nas cidades.<br />

<strong>Tocqueville</strong> e <strong>Beaumont</strong> estavam totalmente a par dessas informações.<br />

Acompanhavam por meio de debates e leituras as discussões realizadas em torno desses<br />

temas e já haviam visitado algumas prisões francesas. Pelo me<strong>nos</strong>, conheciam bem as<br />

considerações de filósofos ingleses e franceses <strong>sobre</strong> o assunto. Desde o século XVIII<br />

que o utilitarismo inglês fornecia propostas interessantes e por vezes curiosas <strong>sobre</strong> o<br />

problema. Os franceses tinham especialistas e estudiosos; alguns, como funcionários do<br />

governo, apresentavam resultados e propostas para tratar a questão das prisões e das<br />

punições. Para eles, os america<strong>nos</strong> eram os que realmente interessavam, pois já vinham<br />

se ocupando do assunto, tanto na teoria como na prática. A idéia de que era necessária<br />

uma reforma <strong>nos</strong> <strong>sistema</strong>s prisionais existentes era comum a todos eles.<br />

No relatório dos dois autores e <strong>nos</strong> debates que realizaram enquanto<br />

parlamentares, as propostas e os princípios apresentados por alguns desses filósofos ou<br />

especialistas eram criticados com grande fervor. Os dois relatores não pareciam<br />

preocupados em buscar novas teorias. Embora <strong>Tocqueville</strong> e <strong>Beaumont</strong> tivessem<br />

declarado que não pretendiam fazer propostas de reformas do <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong>, o<br />

que se vê nessas críticas é que, ao decorrer de suas pesquisas, o encontro com a<br />

realidade das prisões, <strong>nos</strong> Estados Unidos e na França, os fizeram pensar em soluções<br />

que se afastavam bastante das idéias mais liberais e iluministas correntes na época,<br />

então consideradas revolucionárias e inovadoras. <strong>Tocqueville</strong> e <strong>Beaumont</strong> queriam<br />

soluções práticas, afirmando que as teorias não eram objeto de suas pesquisas: “A<br />

1 O.C., T. IV, v.1., p.54.<br />

2 O.C., T. IV, v.1., p.7.<br />

12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!