09.05.2013 Views

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

será enviado por vários a<strong>nos</strong> para a casa de correção, na verdade para ser educado e<br />

detido, mas de fato para ser encerrado na mesma prisão que o primeiro, com a diferença<br />

de que ficará muito tempo, enquanto o que foi declarado culpado passará um tempo<br />

bem curto.<br />

Assim, pode-se dizer com razão que, para os jovens com idade inferior a<br />

dezesseis a<strong>nos</strong>, é melhor ser declarado culpado que absolvido. Quem quer que tenha<br />

experiência em justiça criminal reconhecerá a existência do vício que assinalamos; esse<br />

vício não é de forma alguma imputável ao magistrado: pertence inteiramente à lei e ao<br />

modo de sua execução. Esse mal seria em grande parte remediado se, em todos os casos<br />

que os jovens são detidos sem serem condenados, os tribunais ordenassem o envio deles<br />

para a casa de correção sem fixar irrevogavelmente a duração de sua detenção; pelo<br />

julgamento, os diretores da casa seriam autorizados ter a guarda da criança até uma<br />

época determinada; mas lhes seria permitido, segundo as circunstâncias, de alargá-la<br />

antes de sua expiração. Eles não poderiam detê-lo mais tempo que a época fixada, mas<br />

seriam livres para liberá-los antes.<br />

Parece-<strong>nos</strong>, portanto, que haveria grandes vantagens em mudar a disposição da<br />

lei da qual se trata. As casas de correção se tornariam, então, no verdadeiro sentido da<br />

palavra, casas de refúgio, e elas poderiam exercer <strong>sobre</strong> a alma dos jovens delinqüentes<br />

uma influência benéfica que, no estado atual de <strong>nos</strong>sa legislação, não poderia lhes<br />

pertencer. De resto, apenas indicamos aqui as principais mudanças que teriam que ser<br />

feitas para se atingir esse objetivo: muitas questões que se ligam a esse objeto deverão<br />

ser discutidas e aprofundadas, se quer operar uma reforma fecunda com felizes<br />

resultados. Assim, será necessário, antes de tudo, examinar qual é o melhor meio de<br />

fazer com que o público se interesse pelo sucesso dessa reforma; determinar os<br />

elementos dos quais as casas de refúgio devem ser compostas; fixar os princípios de sua<br />

organização, e discutir o ponto de saber em quais lugares e em qual quantidade esses<br />

estabelecimentos devem ser fundados, etc. Todas essas questões, e muitas outras pelas<br />

quais passamos em silêncio, têm necessidade de serem submetidas ao exame de homens<br />

esclarecidos e versados ao mesmo tempo no conhecimento de <strong>nos</strong>sas leis, de <strong>nos</strong>sos<br />

costumes, e no estado atual de <strong>nos</strong>sas prisões.<br />

Se esse regime fosse introduzido entre nós, deveríamos <strong>nos</strong> esforçar por afastar<br />

tudo o que poderia comprometer seu sucesso.<br />

Já assinalamos o mais importante obstáculo a ser evitado nessa matéria, quer<br />

dizer, a dificuldade de manter a casas de refúgio a uma distância igual do colégio e da<br />

prisão. Nos Estados Unidos, aproximam-se demais do primeiro, e essa falta pode tornarse<br />

fatal pra as casas de refúgio, onde os jovens, excitados por seus próprios pais, viriam<br />

sem necessidade procurar vantagens que não encontram no seio de sua família. Não se<br />

deve, portanto, esquecer que esses estabelecimentos, para alcançar seu verdadeiro<br />

objetivo, devem, embora diferentemente da prisão, conservar uma parte de seus rigores,<br />

e que o bem-estar material, assim como a instrução moral que os jovens encontram nas<br />

casas de refúgio, não deve causar inveja aos jovens cuja vida não se pode criticar.<br />

Lembremos nessa ocasião uma verdade que não se poderia ignorar sem perigo,<br />

qual seja, que o abuso das instituições filantrópicas é tão funesto para a sociedade<br />

quanto o mal que elas pretendem curar.<br />

122

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!