Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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<strong>sistema</strong> e verificar os melhoramentos que poderíamos introduzir em <strong>nos</strong>so <strong>sistema</strong><br />
penal”. 1 Para bem justificar a escolha dos Estados Unidos como o melhor local para<br />
realizar seus estudos, desdobraram-se em elogiar o país e seu <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong>: “A<br />
América é o único país no qual se encontra um <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong> concebido e<br />
executado em seu conjunto”. 2 “A América, terra da diversidade carcerária, oferece<br />
exemplos de <strong>sistema</strong>s diferentes, de tal forma que podemos comparar o funcionamento<br />
e os efeitos. A América <strong>nos</strong> mostra o que se pode fazer bem e o que se pode fazer<br />
melhor”. Enfim os dois amigos terminam suas justificativas acrescentando: “Nós<br />
queremos penetrar os mistérios da disciplina americana e ver a céu aberto todas as<br />
engrenagens secretas deste <strong>sistema</strong>”. 3<br />
Em março de 1832, <strong>Tocqueville</strong> e <strong>Beaumont</strong> regressaram da grande viagem e<br />
rapidamente redigiram e entregaram o relatório <strong>sobre</strong> as prisões <strong>nos</strong> Estados Unidos,<br />
com o fito deste ser a prestação de contas necessária à justificativa de suas viagens pela<br />
América. Os dois autores, <strong>sobre</strong>tudo <strong>Tocqueville</strong>, foram obrigados, por muitas outras<br />
vezes, a voltar ao assunto. Enquanto foram deputados, sempre que o tema das<br />
discussões na Câmara fosse o <strong>sistema</strong> prisional, eram indicados como relator ou<br />
relatores do processo.<br />
<strong>Tocqueville</strong> viria a se tornar um dos grandes especialistas <strong>sobre</strong> prisões e<br />
<strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong>. Após a primeira publicação do relatório, em 1833, traduzido e<br />
aplaudido em muitos países, passou a ser referência constante nas discussões de projetos<br />
e reformas de <strong>sistema</strong>s <strong>penitenciário</strong>s de toda a Europa ocidental. Essa intensa atividade<br />
obrigou-o a contínuos estudos e pesquisas em outros países, visitando, além de prisões<br />
francesas, também belgas, suíças e inglesas. 4 O sucesso da primeira edição da<br />
publicação do Système Pénitenciaire aux États-Unis et son application en France 5 , e<br />
das que se seguiram, mereceu um prêmio da Académie des Sciences morales et<br />
politiques. O material aqui publicado contém partes desse relatório e é relativo única e<br />
exclusivamente ao texto oficial entregue por eles ao governo francês.<br />
O relatório<br />
Apesar do relatório de autoria dos dois amigos <strong>sobre</strong> as prisões <strong>nos</strong> Estados Unidos<br />
aparecer como um trabalho secundário face às duas obras primas de Alexis de<br />
<strong>Tocqueville</strong>, 6 a pesquisa <strong>sobre</strong> o <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong> americano suscitou enorme<br />
interesse. Por um lado, porque referia-se a esse país que parecia ser diferente e inovador<br />
em seus aspectos culturais, sociais e políticos, e por outro, porque a pesquisa parecia<br />
apresentar soluções mais modernas para os problemas da atualidade.<br />
1<br />
Cit. Por Michelle Perrot em sua Introdução aos Écrits sur le système pénitentiaire en France et à<br />
l’Étranger. O.C., T. IV, v.1, 1984, pp. 49-52.<br />
2<br />
O.C. T. IV, v. 1, p.11<br />
3<br />
Id. Ib.<br />
4<br />
A Éditions Gallimard em 1984 publicou em sua coleção das Obras Completas de Alexis de<strong>Tocqueville</strong><br />
os Écrits sur le système pénitenciaire en France et à l’étranger. (O.C.,T. IV, 2 vol. Éditions Gallimard,<br />
1984), onde além do relatório de <strong>Beaumont</strong>-<strong>Tocqueville</strong> encontram-se outros textos de <strong>Tocqueville</strong> <strong>sobre</strong><br />
prisões e <strong>sistema</strong>s <strong>penitenciário</strong>s.<br />
5<br />
A primeira edição foi realizada por Fournier, em 1833, e seus autores foram apresentados como: G. de<br />
<strong>Beaumont</strong> e Alexis de <strong>Tocqueville</strong>, advogados da Corte Real de Paris e membros da sociedade histórica<br />
da Pensilvânia. (O.C., T. IV, v.1, 1984, p.83.)<br />
6<br />
Em 1835, <strong>Tocqueville</strong> publica a primeira parte da De la Démocratie en l’Amérique, a segunda parte<br />
sairá em 1840 e <strong>Beaumont</strong> publica Marie et l’esclavage, um relato romanceado <strong>sobre</strong> a escravidão <strong>nos</strong><br />
Estados Unidos. Em1853 <strong>Tocqueville</strong> publica outra grande obra, desta vez <strong>sobre</strong> a França: L’Ancien<br />
régime et la Révolution.<br />
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