Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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No momento em que deixa o estabelecimento, leva consigo um escrito cujo<br />
estilo é tocante e que contém conselhos para sua conduta futura; também lhe é doada<br />
um Bíblia.<br />
Em geral, reconheceu-se o inconveniente de dar a liberdade aos jovens detentos,<br />
antes que um ano, pelo me<strong>nos</strong>, de temporada na casa lhe tenha inculcado hábitos<br />
ordeiros.<br />
Deixando o refúgio, ele não pára de fazer parte do estabelecimento, que, tendo<br />
lhe propiciado uma aprendizagem, conserva <strong>sobre</strong> ele todos os direitos de um tutor<br />
<strong>sobre</strong> seu pupilo; e se ele abandona o patrão em cuja casa foi alocado, ele é, segundo a<br />
lei, levado de volta ao refúgio, onde permanece submetido ao regime da casa, até que<br />
uma nova prova lhe faça uma vez mais julgar-se digno da liberdade. De resto, ele pode<br />
ser assim sucessivamente levado de volta ao estabelecimento e reposto em liberdade<br />
tantas vezes quantas os diretores acharem conveniente; e seu poder, a esse respeito,<br />
cessa somente depois que o detento alcança seu décimo oitavo ano, se se trata de uma<br />
moça, e seu vigésimo ano, se trata de um rapaz.<br />
Durante sua aprendizagem, a criança é sempre objeto da atenção da casa de<br />
refúgio. O superintendente se corresponde com ela, e se esforça, por seus conselhos, por<br />
mantê-la em um bom caminho; a criança escreve, por sua vez, ao superintendente, e<br />
mais de uma vez este recebeu dos jovens delinqüentes cartas plenas da tocante<br />
expressão de seu reconhecimento.<br />
Agora, quais são os resultados obtidos? O regime desses estabelecimentos é<br />
realmente reformador? e pode-se reforçar com números essa teoria?<br />
Considerando-se o <strong>sistema</strong> nele mesmo, parece bem difícil não admitir sua<br />
eficácia. Se for possível obter a reforma moral de algum ser humano, parece que se deve<br />
esperar que ela aconteça nesses jovens detentos, em cuja família houve me<strong>nos</strong> crimes<br />
que inexperiência, e <strong>nos</strong> quais podem ser excitadas todas as paixões generosas da<br />
juventude. No crimi<strong>nos</strong>o, cuja corrupção é velha e enraizada, não se desperta de<br />
maneira alguma o sentimento de honestidade, porque esse sentimento se extinguiu; na<br />
criança, esse sentimento existe; apenas não o fizeram vibrar. Parece-<strong>nos</strong>, portanto, que<br />
um <strong>sistema</strong> que se aplica a corrigir as tendências viciosas para fazer com que nasçam<br />
somente boas inspirações, dá um protetor para quem não tinha um, uma profissão para<br />
aquele que era dela desprovido, hábitos de ordem e de trabalho ao vagabundo e ao<br />
mendigo que a ociosidade tinha corrompido, uma instrução elementar e princípios<br />
religiosos à criança cuja educação tinha sido negligenciada; parece-<strong>nos</strong>, dizemos nós,<br />
que semelhante <strong>sistema</strong> deve ser fecundo e benéfico.<br />
Há, no entanto, casos onde a reforma dos jovens delinqüentes é quase impossível<br />
de ser obtida: assim, a experiência dos superintendentes que conhecemos lhes ensinou<br />
que a reforma das meninas que tiveram maus hábitos é uma espécie de quimera inútil de<br />
perseguir. Entre os rapazes, os mais difíceis de corrigir são os que adquiriram hábitos de<br />
roubo e embriaguez; a regeneração destes não é, no entanto, tão desesperadora quanto a<br />
das moças que foram seduzidas ou se prostituíram.<br />
Pensa-se também, geralmente, <strong>nos</strong> Estados unidos que é preciso evitar receber<br />
no refúgio rapazes com mais de dezesseis a<strong>nos</strong>, e moças que já tenham mais de<br />
quatorze; depois dessa idade a reforma deles é dificilmente obtida pelo regime desses<br />
estabelecimentos, sendo-lhes me<strong>nos</strong> conveniente que a severa disciplina das prisões.<br />
Na Filadélfia, estima-se que mais da metade das crianças que saíram do refúgio<br />
tiveram uma boa conduta 1 .<br />
1 Ver a Conversação com o diretor da casa de refúgio da Filadélfia, nº 15.<br />
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