09.05.2013 Views

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Já dissemos que a confusão de crianças durante a noite é o grave vício dessa casa<br />

de refúgio; o <strong>sistema</strong> que é nela é estabelecido repousa, aliás, <strong>sobre</strong> uma teoria elevada<br />

que corre o risco que não ser sempre perfeitamente compreendida, e o fazê-la vigente<br />

levaria a grandes embaraços, se o superintendente não encontrasse em seu espírito<br />

imensos recursos para triunfar.<br />

Em Nova Iorque e na Filadélfia, ao contrário, a teoria é simples. O isolamento<br />

durante a noite, a reunião em classes durante o dia, o trabalho, a instrução, tudo em uma<br />

ordem tal de coisas se concebe e se executa facilmente; não é preciso nem um gênio<br />

profundo para inventar esse <strong>sistema</strong>, nem proezas contínuas para mantê-lo.<br />

Em resumo, <strong>sobre</strong> esse ponto, a disciplina de Boston pertence a uma ordem de<br />

idéias bem mais elevada que a de Nova Iorque e a da Filadélfia; mas tem uma prática<br />

mais difícil.<br />

O <strong>sistema</strong> desses últimos estabelecimentos, fundado <strong>sobre</strong> uma teoria mais<br />

simples, tem o mérito de estar ao alcance de todo mundo. É possível encontrar<br />

superintendentes que convenham ao <strong>sistema</strong> da Filadélfia; mas não se deve esperar de<br />

forma alguma encontrar homens tal como o senhor Wells.<br />

Apesar da diferença bem marcada que distingue os dois <strong>sistema</strong>s, dos quais um<br />

só pode ser posto em prática por espíritos superiores, enquanto o outro está no nível de<br />

inteligências ordinárias, reconhecemos, para terminar, que em um e em outro caso, o<br />

sucesso das casas de refúgio depende essencialmente do superintendente. É ele que põe<br />

em ação os princípios <strong>sobre</strong> os quais o <strong>sistema</strong> repousa, e ele deve, para consegui-lo,<br />

reunir em sua pessoa um grande número de qualidades cujo conjunto é tão necessário<br />

quanto raro.<br />

Se se quisesse o modelo de um superintendente para as casa de refúgio, talvez<br />

não se encontrasse outro melhor que os oferecidos pelos senhores Wells e Hart, que<br />

estão à frente das casas de Boston e de Nova Iorque. Um zelo constante e uma<br />

vigilância infatigável são suas qualidades menores; a um espírito distinto eles<br />

acrescentam um caráter igual, cuja firmeza não exclui a indulgência. Eles têm fé <strong>nos</strong><br />

princípios religiosos que ensinam, e confiança em seus esforços. Dotados de uma<br />

sensibilidade profunda, eles obtêm ainda mais das crianças tocando seus corações do<br />

que se dirigindo a suas inteligências. Enfim, eles consideram cada jovem delinqüente<br />

como seu filho; e não é um ofício o que eles exercem, mas um dever que são felizes em<br />

cumprir.<br />

Vimos como o jovem detento entra no refúgio, e a qual regime é submetido.<br />

Examinemos agora quais as causas fazem com que saia, e tratemos de segui-lo<br />

até a sociedade onde reentrarão.<br />

O princípio posto mais acima, segundo o qual o detento na casa de refúgio não<br />

sofre uma pena, vai reencontrar aqui sua aplicação. Como foi enviado ao refúgio em<br />

nome do seu interesse, dele sairá desde que seu interesse exija.<br />

Quando, portanto, ele aprendeu uma profissão, quando durante um ou vários<br />

a<strong>nos</strong> ele adquiriu hábitos morais e laboriosos, pensa-se que ele pode se tornar um<br />

membro útil da sociedade; todavia, não é posto em liberdade pura e simplesmente; pois,<br />

que se tornaria ele no mundo, sozinho, sem apoio, desconhecido de todos? Ele se<br />

encontraria exatamente na situação onde estava antes de entrar na casa de refúgio.<br />

Evita-se esse obstáculo funesto: o superintendente espera, para retirá-lo do<br />

estabelecimento, uma ocasião de fazê-lo aprendiz de algum artesão, ou de colocá-lo na<br />

qualidade de doméstico na casa de alguma família honesta; ele evita enviá-lo para uma<br />

cidade onde reencontraria maus hábitos e os companheiros das primeiras desordens; e<br />

todas as vezes que há a ocasião, ele prefere lhe dar um emprego junto aos cultivadores.<br />

116

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!