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Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos

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Existe também em Boston um registro das moralidades, onde cada um configura<br />

suas notas boas ou más, mas o que distingue esse registro dos de outras casas de<br />

refúgio, é que cada jovem dá a ele mesmo a nota que lhe concerne. Todo fim de tarde os<br />

jovens detentos são sucessivamente interrogados; cada um é levado a julgar sua própria<br />

conduta durante a jornada: e é a partir de sua declaração que a nota que o interessa é<br />

escrita. A experiência ensina que ele julga sempre mais severamente a si próprio que os<br />

outros. Também ele se encontra muitas vezes na necessidade de reformar a severidade,<br />

a injustiça mesma da sentença.<br />

Quando se apresentam dificuldades com respeito à classificação das<br />

moralidades, ou quando alguns jovens detentos cometem infrações à disciplina,<br />

acontece um julgamento. Doze jurados escolhidos entre as crianças do estabelecimento<br />

são reunidos, e proferem, seja a condenação, seja a absolvição do acusado.<br />

Cada vez que acontece de se eleger entre eles um magistrado ou um monitor, a<br />

comunidade se reúne, procede às eleições, e o candidato que obtém a maioria dos<br />

sufrágios é proclamado pelo presidente. Nada é mais grave que a maneira como esses<br />

eleitores e jurados de dez a<strong>nos</strong> exercem sua função.<br />

Ser-<strong>nos</strong>-á perdoado o ter entrado no desenvolvimento desse <strong>sistema</strong>, e o ter<br />

assinalado seus menores detalhes. Não temos necessidade de dizer que não levamos a<br />

sério essas crianças cidadãs. Mas acreditamos ter o dever de analisar um <strong>sistema</strong> notável<br />

pela sua originalidade. Há, aliás, nesses jogos políticos, que se harmonizam com as<br />

instituições do país, mais profundidade que se pensa. Talvez essas impressões da<br />

infância e esse uso precoce da liberdade contribuirão mais tarde para tornar esses jovens<br />

delinqüentes mais obedientes às leis. E sem <strong>nos</strong> preocupar com esse resultado político,<br />

tal <strong>sistema</strong> é pelo me<strong>nos</strong> mais poderoso como meio de educação moral.<br />

Concebe-se, dessa forma, o destaque de que são capazes essas jovens almas nas<br />

quais se faz vibrar todos os sentimentos próprios a elevá-las acima delas mesmas.<br />

A disciplina tem, no entanto, outras armas das quais faz uso quando os meios<br />

morais que viemos de indicar são insuficientes.<br />

As crianças cuja conduta é boa gozam de grandes privilégios.<br />

São os únicos que participam das eleições, e são os únicos elegíveis; a voz dos<br />

que pertencem à primeira classe conta mesmo por dois: espécie de duplo voto que os<br />

outros não poderiam invejar, porque depende deles obter o mesmo favor. Os bons são<br />

depositários das chaves mais importantes da casa; eles saem livremente do<br />

estabelecimento, e deixam seus lugares nas reuniões sem precisar de permissão; a<br />

palavra deles basta que tenham confiança em todas as ocasiões, e o dia de seu<br />

aniversário é celebrado. Nem todos os bons gozam desses privilégios; mas quem quer<br />

que pertença a uma boa classe tem o direito a alguma dessas prerrogativas.<br />

As penas aplicadas às classes dos maus são:<br />

A privação do direito eleitoral, do direito de elegibilidade; ademais, eles não<br />

podem entrar na sala do superintendente, nem lhe falar sem sua permissão, e lhes é<br />

interdito de conversar com os outros jovens detentos; enfim, quando é necessário,<br />

inflige-se ao delinqüente uma pena que o afeta materialmente. Ou é obrigado a usar<br />

algemas, ou é colocada uma venda em seus olhos, ou ele é encerrado em uma célula<br />

solitária.<br />

Tal é o <strong>sistema</strong> da casa de refúgio de Boston.<br />

O <strong>sistema</strong> dos estabelecimentos de Nova Iorque e da Filadélfia, embora<br />

infinitamente me<strong>nos</strong> notável, é talvez melhor: não que a casa de refúgio de Boston não<br />

<strong>nos</strong> pareça admiravelmente dirigida e superior às duas outras; mas seu sucesso parece<br />

me<strong>nos</strong> efeito do próprio <strong>sistema</strong> do que do distinto homem que o põe em prática.<br />

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