Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
abundante e são. Ninguém pode comer outra coisa além do prescrito pelo regime<br />
ordinário do estabelecimento, e se bebe apenas água. Não existe nenhuma cantina onde<br />
os jovens possam se dirigir para obter suplementos alimentares ou bebida; e há uma<br />
vigilância atentiva para que não consigam tais suplementos através de comunicações<br />
com pessoas de fora.<br />
O alimento, a vestimenta, e as roupas de cama dos jovens detentos são<br />
fornecidos pela administração. Apenas o trabalho dos jovens é negociado com<br />
empresários; e ainda as restrições, que nesse ponto abundam no contrato, são tais que o<br />
empresário não pode ter <strong>sobre</strong> o estabelecimento nenhuma influência.<br />
Em Nova Iorque e na Filadélfia, são dadas oito horas por dia de trabalho ao<br />
empresário; em Boston, cinco horas e meia, somente. O empresário ou seus agentes<br />
vêm até a casa de refúgio para ensinar as diversas profissões que lá são exercidas. De<br />
resto, ele não pode travar nenhuma conversação com os jovens, nem retê-los <strong>nos</strong> ateliês<br />
um minuto a mais do que o tempo fixado. Concebe-se que, em tais condições, não são<br />
estipulados com os empresários negócios vantajosos do ponto de vista pecuniário; mas<br />
os jovens não são postos para trabalhar com a finalidade de tirar disso um proveito<br />
lucrativo; o único objetivo em vista é habituá-los ao labor e lhes ensinar uma profissão<br />
útil 1 .<br />
Não é preciso, portanto, se espantar com o fato de a manutenção das casas de<br />
refúgio custar mais caro que a dos outros estabelecimentos <strong>penitenciário</strong>s. De uma<br />
parte, os jovens detentos são mais bem alimentados, melhor vestidos que os condenados<br />
por crimes, e são feitas mais despesas com a instrução deles; e, por outro lado, o<br />
trabalho exercido por eles não rende absolutamente tanto quanto o dos crimi<strong>nos</strong>os que<br />
são enviados por um longo tempo para as prisões. Como veremos adiante, o jovem<br />
detento sai do estabelecimento desde que ele possa ser colocado, com mais vantagens,<br />
em outro lugar. É posto, portanto, em liberdade desde que ele saiba um ofício, quer<br />
dizer, no instante em que seu trabalho começa a produzir alguma coisa para o<br />
estabelecimento.<br />
A administração das casas de refúgio <strong>nos</strong> Estados Unidos é quase inteiramente<br />
estatal; pensa-se com razão que o <strong>sistema</strong> empresarial, aplicado a todos as ramificações<br />
da administração, seria inconciliável com a direção moral que o estabelecimento deve<br />
receber.<br />
Embora, em resumo, a manutenção dos jovens detentos seja dispendiosa, tudo<br />
parece combinado de maneira a evitar custos. As casas de refúgio contêm ao mesmo<br />
tempo meni<strong>nos</strong> e meninas, que, embora reunidos sob o mesmo teto, estão perfeitamente<br />
separados. Mas essa proximidade permite confiar às meninas muitos trabalhos que,<br />
feitos por outros, estariam a cargo da casa. De tal modo que são elas que lavam a roupa,<br />
as reparam, e confeccionam a maior parte das vestimentas que são usadas pelos meni<strong>nos</strong><br />
ou por elas mesmas; elas também cozinham para toda a casa; dessa maneira, não<br />
somente se evitam despesas para estabelecimento, mas também se faz com que as<br />
1 Vê-se que não existe <strong>nos</strong> Estados Unidos nada de semelhante ao que se pratica em <strong>nos</strong>so país. Na casa<br />
de Madelonnettes, consagrada em Paris a jovens detentos, a disciplina foi inteiramente invadida pelo<br />
empresário. Ele considera cada um deles sua propriedade pessoal, e se se quer cuidar da instrução dos<br />
jovens detentos, o empresário não permite. Estão roubando, diz ele, o tempo que me pertence. Ele vê<br />
apenas seu interesse material; o dos jovens não lhe importa. Também só pensa em tirar do trabalho destes<br />
a maior quantidade de dinheiro possível. Como é demorado o aprendizado de um ofício, ele raramente se<br />
esforça para ensiná-lo aos jovens: prefere ocupá-los com certos trabalhos manuais que não necessitam<br />
nem de perícia nem de habilidade, tais como a cartonagem, grampagem, etc., etc. Esses trabalhos,<br />
produtivos para ele, não tem utilidade para os jovens, que, saindo da casa, não conhecerão nenhuma<br />
profissão que possam exercer.<br />
113