Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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De resto, não é a perseguição e a tirania que é preciso temer nesses<br />
estabelecimentos. Assim como é necessário que a casa de refúgio não apresente os<br />
rigores e o regime inteiramente material de uma prisão, também seria perigoso que ela<br />
oferecesse o regime indulgente demais e inteiramente intelectual de uma escola. Mas se<br />
esses estabelecimentos na América se desviassem do verdadeiro objetivo de sua<br />
instituição, seria me<strong>nos</strong> por se inclinarem a uma severidade excessiva do que por<br />
tenderem ao excesso de brandura.<br />
Os princípios fundamentais <strong>sobre</strong> os quais as casas de refúgio repousam são<br />
simples; em Nova Iorque e na Filadélfia, os jovens são separados durante a noite em<br />
células solitárias; durante o dia, ele podem se comunicar entre si. A separação à noite<br />
parece imperiosamente exigida pelo interesse dos bons costumes; ela não é<br />
absolutamente necessária durante o dia; um isolamento absoluto seria mortal para os<br />
jovens, e o silêncio não poderia ser mantido entre eles sem castigos cuja violência basta<br />
para que sejam rejeitados. Haveria, ademais, os mais graves inconvenientes em priválos<br />
de relações sociais, sem as quais seu progresso intelectual não poderia se<br />
desenvolver.<br />
Em Boston, eles não são separados nem durante o dia nem durante a noite: não<br />
notamos que nessa casa de refúgio as comunicações noturnas tivessem inconvenientes;<br />
mas o perigo delas não é menor segundo pensamos, e somente é evitado em Boston por<br />
um zelo e uma vigilância completamente extraordinários, que se enganaria, em geral,<br />
quem os esperasse dos homens mais devotados a suas funções.<br />
O tempo dos jovens é dividido entre a instrução que eles recebem e os trabalhos<br />
materiais que exercem: ensinam-se para eles conhecimentos elementares que poderão<br />
ser-lhes úteis no curso da vida, e aprendem um ofício cujo exercício lhes fornecerá<br />
meios de existência. Seus trabalhos intelectuais dão ao estabelecimento o aspecto de<br />
uma instituição primária, e o trabalho deles no ateliê é o mesmo que o de uma prisão.<br />
São esses dois traços distintivos que fazem com seja reconhecida a casa de refúgio.<br />
Esse estabelecimento não se limita a adestrar as mãos e a desenvolver a<br />
inteligência dos jovens: esforça-se, <strong>sobre</strong>tudo, por formar seus corações e por lhes<br />
inculcar princípios de moral religiosa. O senhor Hart, superintendente da casa de refúgio<br />
de Nova Iorque, <strong>nos</strong> dizia muitas vezes que, sem o socorro da religião, ele não<br />
acreditaria ser possível o sucesso de seus esforços.<br />
Quando o jovem delinqüente chega ao refúgio, o superintendente lhe faz<br />
conhecer a regra do estabelecimento, e lhe dá de início como guias de sua conduta esses<br />
dois conselhos notáveis pela sua simplicidade: 1º Nunca minta; 2º Faça o melhor que<br />
puder. O superintendente inscreve em seguida o nome do recém-chegado no grande<br />
registro de moralidades. Esse registro é destinado a receber todas as informações<br />
relativas aos jovens. Ele constata, tanto quanto possível, sua via anterior, sua conduta<br />
durante a temporada na casa e depois de sua saída do estabelecimento. O jovem é em<br />
seguida colocado na classe que sua idade ou moralidade conhecida tornam conveniente.<br />
O senhor Hart, de Nova Iorque, definiu a primeira classe como a dos jovens que não<br />
juram de forma alguma, não metem jamais, não usam em sua linguagem nenhuma<br />
expressão obscena ou inconveniente, e que são tão zelosos na escola quanto no ateliê.<br />
Segundo o senhor Wells, de Boston, essa mesma classe se compõe dos que fazem<br />
esforços positivos, regulares e constantes para o bem.<br />
Em Boston, a admissão do jovem no refúgio é acompanhada de circunstâncias<br />
que parecem dignas de serem relatadas: o estabelecimento forma uma pequena<br />
sociedade, imagem da grande. Para ser recebido em seu seio, é preciso não somente<br />
conhecer as leis e submeter-se a elas livremente, mas ainda ser aceito como membro da<br />
sociedade por todos os que já a compõem. A recepção é em conseqüência precedida de<br />
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