Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
Tocqueville e Beaumont - sobre o sistema penitenciário nos
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dessa penitenciária; lá, o superintendente e o capelão conhecem a fundo a moralidade de<br />
cada detento, e, depois de terem estudado o mal, trabalham para curá-lo. Em Singsing,<br />
onde há 1 000 detentos, semelhante estudo é impossível: nem mesmo é tentado.<br />
Supondo que os 32 000 detentos que há na França fossem repartidos entre oitenta e seis<br />
prisões departamentais, haveria, em média, cerca de 400 em cada uma delas. Na<br />
verdade, há departamentos, com uma população considerável e corrompida, que<br />
fornecem muitos crimi<strong>nos</strong>os, enquanto outros, cujos habitantes são me<strong>nos</strong> numerosos e<br />
mais honestos, enviam poucos condenados às prisões: mas o que poderia resultar de tal<br />
fato? O seguinte: os departamentos <strong>nos</strong> quais há mais crimes cometidos construiriam<br />
prisões maiores, enquanto os outros ergueriam penitenciárias me<strong>nos</strong> vastas. Nossos<br />
departamentos se encontrariam a esse respeito absolutamente na mesma posição onde<br />
estão os diferentes estados da União americana.<br />
O estado de Nova Iorque, que conta dois milhões de habitantes, tem duas prisões<br />
centrais, das quais uma contém 1 000 detentos. Connecticut, que tem apenas duzentos e<br />
sessenta mil habitantes, possui uma prisão somente, onde estão encarcerados 200<br />
crimi<strong>nos</strong>os. Poucos departamentos teriam uma prisão tão populosa com a de Singsing,<br />
cujo principal defeito está no número grande demais de seus habitantes. Em<br />
compensação, muitos departamentos cuja população é análoga a de Connecticut não<br />
teriam em suas prisões mais crimi<strong>nos</strong>os do que há em Wethersfield, que é a menor das<br />
penitenciárias da América, e também a melhor. Enfim, o exemplo dessa penitenciária<br />
que, embora me<strong>nos</strong> considerável, custou me<strong>nos</strong> para ser construída que todas as outras.<br />
Isto não provaria que se pode, com a ajuda do espírito de economia e de vigilância local,<br />
recuperar o excedente de despesas ocasionadas por uma construção feita em pequena<br />
escala?<br />
Concebe-se com qual reserva tivemos de indicar essas idéias. Para seguir em<br />
uma via semelhante com um passo firme e seguro, seria necessário possuir<br />
conhecimentos administrativos que <strong>nos</strong> faltam, e estar cercado de documentos que não<br />
estão à <strong>nos</strong>sa disposição.<br />
Na ausência de luzes que necessitaríamos para <strong>nos</strong> guiar, não apresentamos de<br />
forma alguma um <strong>sistema</strong>: apenas levantamos uma questão cuja solução interessa<br />
vivamente à sociedade, e para a qual chamamos as luzes de todos os homens<br />
esclarecidos.<br />
Agora, supondo o <strong>sistema</strong> <strong>penitenciário</strong> estabelecido e próspero na França,<br />
talvez não devesse esperar todos os felizes efeitos que ele produz <strong>nos</strong> Estados Unidos.<br />
Assim, duvidamos que o trabalho dos detentos na prisão seja tão produtivo para<br />
o Estado com o é na América, mesmo admitindo a inteira supressão do pecúlio dos<br />
condenados. É com efeito incontestável que as coisas manufaturadas não encontram em<br />
<strong>nos</strong>so país a saída que têm <strong>nos</strong> Estados Unidos: ora, é preciso, para a apreciação dos<br />
lucros da prisão, ter em conta as produções que não serão vendidas.<br />
A prisão penitenciária, que, por esse motivo, será em <strong>nos</strong>so país me<strong>nos</strong><br />
produtiva, será, por uma razão análoga, me<strong>nos</strong> eficaz também com relação à reforma<br />
dos condenados.<br />
Na América, onde o preço da mão de obra é tão alto, os condenados encontram<br />
facilmente um trabalho quando saem da prisão; e essa circunstância favorece<br />
singularmente a boa conduta deles quando retornam à sociedade 1 : na França, a posição<br />
1 “It must not be concealed, that one great reason why crimes are so infrequent is the full employment the<br />
whole country offers to those who are willing to labor, while at the same time the ordinary rate of wages<br />
for a healthy man is sufficient to support him and a family. This is a point which you will not loose sight<br />
of in comparing the institutions of America with those of Europe.” (Representante do procurador-geral do<br />
estado de Maryland, 30 de janeiro de 1832.)<br />
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