walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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difícil encontrar nele as marcas do profano. O cronista permanece para Benjamin o<br />
mo<strong>de</strong>lo do historiador teológico ou materialista. Ao privilegiar uma história narrativa<br />
<strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da história explicativa, ele busca <strong>em</strong>ancipar a história <strong>de</strong> seu caráter<br />
cientifico. Sua suspeita <strong>em</strong> relação à história se baseia na idéia que ela é s<strong>em</strong>pre<br />
contada pelos olhos dos vencedores e nunca pelo olhar dos vencidos. Nas Teses,<br />
ele propõe uma ética solidária a todos os vencidos e esquecidos da história.<br />
Sua crítica ao historicismo parte da idéia que a história não é algo linear, pelo<br />
contrário, ela po<strong>de</strong> dar saltos ou até mesmo interromper esse processo. Para ele<br />
uma historiografia que se baseia numa cronologia linear, está diretamente<br />
relacionada com a i<strong>de</strong>ologia do progresso. O fato é que para Benjamin, a idéia <strong>de</strong><br />
progresso precisa ser seguida <strong>de</strong> um progresso da humanida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> essa relação<br />
ele não existe realmente.<br />
Se nas Teses o caráter ambíguo do cronista continua presente, uma postura<br />
ética é exigida <strong>de</strong>le. Ora, <strong>em</strong> O Narrador a m<strong>em</strong>ória é fundamental para a formação<br />
do sujeito, está mesma m<strong>em</strong>ória é importante para o exercício da responsabilida<strong>de</strong><br />
histórica diante dos seus esquecidos. Eu diria que a ligação entre o estudo da<br />
narração e as Teses da História não está no <strong>de</strong>senrolar da história, mas naquilo que<br />
lhe escapa e escon<strong>de</strong>. Logo, a m<strong>em</strong>ória é fundamental para a sua conservação:<br />
O cronista que narra os acontecimentos, s<strong>em</strong> distinguir entre os<br />
gran<strong>de</strong>s e os pequenos, leva <strong>em</strong> conta a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que nada do<br />
que um dia aconteceu po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado perdido para a história.<br />
S<strong>em</strong> dúvida, somente a humanida<strong>de</strong> redimida po<strong>de</strong>rá apropriar-se<br />
totalmente do seu passado. Isso quer dizer: somente para a<br />
humanida<strong>de</strong> redimida o passado é citável, <strong>em</strong> cada um dos seus<br />
momentos. Cada momento vivido transforma-se numa citation à<br />
l`ordre du jour – e esse dia é justamente o do juízo final. 126<br />
Quando Benjamin diz que nada está perdido na história ele aponta para a<br />
importância da m<strong>em</strong>ória, que é a musa da narrativa. Nada <strong>de</strong>saparecerá no passado<br />
enquanto o hom<strong>em</strong> exercitá-la, pois tão somente ela po<strong>de</strong> apontar os erros e exigir<br />
justiça. O passado espera sua re<strong>de</strong>nção, e somente uma humanida<strong>de</strong> redimida po<strong>de</strong><br />
olhar para o passado s<strong>em</strong> culpa. A r<strong>em</strong><strong>em</strong>oração está no centro da relação teológica<br />
com o passado, e exige a r<strong>em</strong><strong>em</strong>oração integral <strong>de</strong>le, s<strong>em</strong> fazer acepção entre<br />
acontecimentos e indivíduos:<br />
126 Ibid. p. 223.<br />
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