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walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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Cada vez que se preten<strong>de</strong> estudar uma certa forma épica é<br />

necessário investigar a relação entre essa forma e a historiografia.<br />

Po<strong>de</strong>mos ir mais longe e perguntar se a historiografia não representa<br />

uma zona <strong>de</strong> indiferenciação criadora com relação a todas as formas<br />

épicas como a luz branca com as cores do espectro. Como quer que<br />

seja, entre todas as formas épicas a crônica é aquela cuja inclusão<br />

na luz pura e incolor da história escrita é mais incontestável. E, no<br />

amplo espectro da crônica, todas as maneiras com que uma história<br />

po<strong>de</strong> ser narrada se estratificam como se foss<strong>em</strong> variações da<br />

mesma cor. O cronista é o narrador da história. 124<br />

A crônica enquanto narração histórica representa o mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />

interpretação. Seu valor encontra-se no fato <strong>de</strong> que todas as maneiras <strong>em</strong> que a<br />

história po<strong>de</strong> ser narrada não esgotam as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contar a história outra<br />

vez. O cronista, enquanto narrador da história sabe que uma história narrada é<br />

s<strong>em</strong>pre uma nova história. Sua relação com a forma épica possibilita uma<br />

experiência com a verda<strong>de</strong>. No entanto, Benjamin não reconhece a história como<br />

fatos, mas como versões ou interpretações <strong>de</strong>sses fatos.<br />

Se a crônica surge <strong>de</strong> uma relação direta com a teologia, a verda<strong>de</strong> se liga ao<br />

pensamento teológico. Benjamin reconhece isso e traz para seu estudo sobre a<br />

narração a crônica que será nas Teses fundamental para tratar <strong>de</strong> uma possível<br />

história da salvação:<br />

O historiador é obrigado a explicar <strong>de</strong> uma ou <strong>de</strong> outra maneira os<br />

episódios com que lida, e não po<strong>de</strong> absolutamente contentar-se <strong>em</strong><br />

representá-los como mo<strong>de</strong>los da história do mundo. É exatamente o<br />

que faz o cronista, especialmente através <strong>de</strong> seus representantes<br />

clássicos, os cronistas medievais, precursores da historiografia<br />

mo<strong>de</strong>rna. Na base da sua historiografia está o plano da salvação, <strong>de</strong><br />

orig<strong>em</strong> divina, in<strong>de</strong>vassável <strong>em</strong> seus <strong>de</strong>sígnios, e com isso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

inicio se libertaram do ônus da explicação verificável. Ela é<br />

substituída pela exegese, que não se preocupa com o enca<strong>de</strong>amento<br />

exato <strong>de</strong> fatos <strong>de</strong>terminados, mas com a maneira <strong>de</strong> sua inserção no<br />

fluxo insondável das coisas. 125<br />

O cronista surge da história sagrada, o narrador nasce da história profana. No<br />

entanto eles participam <strong>de</strong> forma tão ativa <strong>de</strong> uma possível história da salvação que<br />

é difícil distinguir on<strong>de</strong> termina um e começa o outro. Isso está presente nos textos<br />

<strong>de</strong> Kafka on<strong>de</strong> o sagrado e o profano se encontra continuamente, ou no caso do<br />

narrador <strong>benjamin</strong>iano, que se relaciona <strong>de</strong> tal forma com a história sagrada, que é<br />

124 Op. cit, p. 209.<br />

125 Ibid, p. 209.<br />

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