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walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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Po<strong>de</strong>mos ir mais longe e perguntar se a relação entre narrador e sua<br />

matéria – a vida humana – não seria ela própria uma relação<br />

artesanal. Não seria sua tarefa trabalhar a matéria-prima da<br />

experiência – a sua e a dos outros – transformando-a num produto<br />

sólido, útil e único? Talvez se tenha uma noção mais clara <strong>de</strong>sse<br />

processo através do provérbio, concebido como uma espécie <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ograma <strong>de</strong> uma narrativa. Po<strong>de</strong>mos dizer que os provérbios são<br />

ruínas <strong>de</strong> antigas narrativas, nas quais a moral da história abraça um<br />

acontecimento, como a hera abraça um muro. 119<br />

Kafka trabalhou a matéria humana como nenhum outro escritor, seus<br />

personagens não têm apenas o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> falar, mas a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intercambiar<br />

experiências. Muito do que ele escreveu t<strong>em</strong> o peso e o valor do provérbio.<br />

homens:<br />

Seu objetivo é a não-presença <strong>de</strong> Deus no mundo e a não-re<strong>de</strong>nção dos<br />

O universo <strong>de</strong> Kafka é <strong>de</strong>masiado rico e multiforme para que se<br />

possa reduzi-lo a uma fórmula unilateral. Mas <strong>de</strong> modo algum está<br />

<strong>em</strong> contradição com a leitura religiosa ou teológica: muito pelo<br />

contrário, existe entre as duas uma analogia estrutural<br />

impressionante. À ausência da re<strong>de</strong>nção, indicador religioso <strong>de</strong> uma<br />

época maldita, correspon<strong>de</strong> a ausência da liberda<strong>de</strong> no universo<br />

sufocante do arbítrio burocrático. É apenas <strong>de</strong> modo latente que se<br />

projetam a esperança messiânica e a esperança utópica:<br />

radicalmente outro. O anarquismo torna-se, assim, carregado <strong>de</strong><br />

espiritualida<strong>de</strong> religiosa e adquire uma projeção “metafísica”. 120<br />

Sua postura não é anti-religiosa, mas passa pela religião e a ultrapassa s<strong>em</strong><br />

abandoná-la. Sua religiosida<strong>de</strong> se manifesta num sist<strong>em</strong>a elaborado e oculto <strong>de</strong><br />

figuras simbólicas on<strong>de</strong> predomina a metáfora e a alegoria. Quando Kafka tentava<br />

ouvir por trás da porta da tradição não consegue ver o que ela tinha para lhe revelar<br />

como observou Benjamin.<br />

O ensaio Sobre o conceito da história, é a etapa final da experiência alegórica<br />

da linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Benjamin. Se <strong>em</strong> O Narrador e <strong>em</strong> Experiência e pobreza trabalha<br />

a idéia do abalo da experiência, <strong>em</strong> Kafka ele trata da m<strong>em</strong>ória e do esquecimento.<br />

Segundo ele, o esquecimento é o t<strong>em</strong>a da obra <strong>de</strong> Kafka, assim com a lei secreta <strong>de</strong><br />

sua produção:<br />

119 Op. cit. p.221.<br />

120 Op. cit. p. 75.<br />

91

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