walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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percepção da tecnologia abria para a possibilidade de emancipação do homem por meio das técnicas de reprodução da obra de arte. Stephen Bronner escreve: A inovação artística, agora entretecida com o desenvolvimento da tecnologia, sobreviverá enquanto sobreviver a tecnologia. Mas isso não nos deve induzir a erro. A visão materialista de Benjamin não é um peão da tecnologia; ele não diz que qualquer inovação artística é positiva por empregar novas formas tecnológicas. Tem consciência de que as inovações podem ser introduzidas desde qualquer perspectiva política. 107 Benjamin, não atribui a técnica qualquer responsabilidade no tocante as perdas humanas, mas reconhecer na política seu caráter manipulador. Para ele, o problema não se encontrava na técnica, mas na união dela com a política. Dessa união surge um ser híbrido e amoral que se alimenta de vidas humanas, chamado capitalismo. Essa denúncia está presente em muitos ensaios. Voltando para o campo da arte, com a comunicação de massa (predominantemente visual), fica difícil diferenciar o que é arte e o que é política: A metamorfose do modo de exposição pela técnica da reprodução é visível também na política. A crise da democracia pode ser interpretada como uma crise nas condições de exposição do político profissional. As democracias expõem o político de forma imediata, em pessoa, diante de certos representantes. O Parlamento é seu público. Mas, como as novas técnicas permitem ao orador ser ouvido e visto por um número ilimitado de pessoas, a exposição do político diante dos aparelhos passa ao primeiro plano. 108 A obra de Kafka também reflete as mudanças na percepção do homem moderno. Em sua narrativa predomina o visual. Sua obra não é política, mas sua crítica não deixa de ser. No momento em que trabalha com a alegoria, ele consegue levar um fato a um grande número de interpretações, colocando o leitor na posição de investigador da existência humana. Por isso, Benjamin se refere à obra de Kafka como sendo uma obra gestual, onde o autor fala principalmente pelo movimento. Segundo ele, Kafka é sempre assim; ele priva os gestos humanos dos seus esteios tradicionais e os transforma em temas de reflexões intermináveis. Se Kafka almeja a Redenção é uma questão delicada e qualquer afirmação pode parecer forçada, já que para ele, o mundo é um lugar onde Deus não aparece. No entanto, se em sua 107 BRONNER, Stephen Eric. Da teoria crítica e seus teóricos. Trad.: Tomás R. Bueno e Cristina Meneguelo. Campinas: Papirus, 1997. p. 177. 108 Op. cit. p. 183. 82
obra existe lugar para a lei e a justiça, suponho que a Redenção em algum momento possa acontecer. Acredito que seu mundo é o lugar em que a essência da justiça e do declínio da mística judaica revela sua face. Em particular no valor da transmissibilidade. No caso de Benjamin o conceito de Redenção é alegórico. Para ele, a Redenção vem resolver o problema derivado da queda, ou seja, a perda da língua adâmica. É um circulo que se fecha em seu pensamento que começou nos primeiros estudos sobre a linguagem, e se completam nas Teses da História. Este último, um estudo de caráter materialista, em que a alegoria predomina na figura do Anjo da Historia. Na verdade ele converte o messianismo judaico num projeto marxista de redenção histórica. Seria uma contradição? Eu diria que não, mas a conclusão de uma filosofia da linguagem que é alegórica. No final de O Narrador, Benjamin diz que o narrador é a figura na qual o justo se encontra consigo mesmo. Essa frase pode ser interpretada como sendo a oportunidade da redenção do homem na história a partir da justiça. Esse conceito também está presente na Tese VI, quando ele escreve sobre a importância da reminiscência e o valor da responsabilidade histórica. Se existem duas tendências no messianismo judaico que se ligam intimamente e que parecem contraditórias, onde a primeira é restauradora, em que busca o restabelecimento de um estado ideal do passado, com sua harmonia edênica perdida. E a outra corrente utópica, que aspira um futuro radicalmente novo, a tudo que já existiu até então. Desse embate de tendências à essência é uma só a possibilidade de redenção humana. A proporção varia entre as tendências, mas a idéia messiânica só é formada a partir dessa combinação. Essa teoria insiste no elemento revolucionário que está presente na transição do presente histórico para o porvir messiânico: Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo “como ele de fato foi”. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal qual ela relampeja no momento de perigo. Cabe ao materialismo histórico fixar uma imagem do passado, como ela se apresenta, no momento do perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha consciência disso. O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes, como seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que quer apoderar-se dela. Pois o Messias não vem apenas como salvador; ele vem também como o vencedor do Anticristo. O dom de despertar no passado as centelhas 83
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obra existe lugar para a lei e a justiça, suponho que a Re<strong>de</strong>nção <strong>em</strong> algum momento<br />
possa acontecer. Acredito que seu mundo é o lugar <strong>em</strong> que a essência da justiça e<br />
do <strong>de</strong>clínio da mística judaica revela sua face. Em particular no valor da<br />
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No caso <strong>de</strong> Benjamin o conceito <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>nção é alegórico. Para ele, a<br />
Re<strong>de</strong>nção v<strong>em</strong> resolver o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>rivado da queda, ou seja, a perda da língua<br />
adâmica. É um circulo que se fecha <strong>em</strong> seu pensamento que começou nos primeiros<br />
estudos sobre a linguag<strong>em</strong>, e se completam nas Teses da História. Este último, um<br />
estudo <strong>de</strong> caráter materialista, <strong>em</strong> que a alegoria predomina na figura do Anjo da<br />
Historia. Na verda<strong>de</strong> ele converte o messianismo judaico num projeto marxista <strong>de</strong><br />
re<strong>de</strong>nção histórica. Seria uma contradição? Eu diria que não, mas a conclusão <strong>de</strong><br />
uma filosofia da linguag<strong>em</strong> que é alegórica. No final <strong>de</strong> O Narrador, Benjamin diz<br />
que o narrador é a figura na qual o justo se encontra consigo mesmo. Essa frase<br />
po<strong>de</strong> ser interpretada como sendo a oportunida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong>nção do hom<strong>em</strong> na<br />
história a partir da justiça. Esse conceito também está presente na Tese VI, quando<br />
ele escreve sobre a importância da r<strong>em</strong>iniscência e o valor da responsabilida<strong>de</strong><br />
histórica.<br />
Se exist<strong>em</strong> duas tendências no messianismo judaico que se ligam<br />
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busca o restabelecimento <strong>de</strong> um estado i<strong>de</strong>al do passado, com sua harmonia<br />
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porvir messiânico:<br />
Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo “como<br />
ele <strong>de</strong> fato foi”. Significa apropriar-se <strong>de</strong> uma r<strong>em</strong>iniscência, tal qual<br />
ela relampeja no momento <strong>de</strong> perigo. Cabe ao materialismo histórico<br />
fixar uma imag<strong>em</strong> do passado, como ela se apresenta, no momento<br />
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O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a<br />
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dominantes, como seu instrumento. Em cada época, é preciso<br />
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o Messias não v<strong>em</strong> apenas como salvador; ele v<strong>em</strong> também como o<br />
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