09.05.2013 Views

walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

conceito do saber. A promessa da serpente ao primeiro hom<strong>em</strong> é<br />

“conhecer o b<strong>em</strong> e o mal”. Mas <strong>de</strong>pois da Criação, diz-se <strong>de</strong> Deus:<br />

“E Deus viu tudo o que fizera, e viu que tudo era bom”. Portanto o<br />

saber do Mal não t<strong>em</strong> objeto. Não existe o Mal no mundo. Ele surge<br />

no próprio hom<strong>em</strong>, com a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber, ou antes, no julgamento.<br />

O saber do B<strong>em</strong>, como saber, é secundário. Ele resulta da prática. O<br />

saber do Mal, como saber, é primário. Ele resulta da cont<strong>em</strong>plação.<br />

O saber do B<strong>em</strong> e do Mal contrasta portanto com todo saber<br />

objetivo. 103<br />

Na alegoria ocorre o exercício da subjetivida<strong>de</strong>. O alegorista vive na<br />

abstração e nela se movimenta. A frase <strong>de</strong> Benjamin sintetiza o que ele enten<strong>de</strong> por<br />

alegoria, quando diz que a visão do mundo da alegoria, sua perspectiva subjetiva<br />

está incluída na economia do todo. Essa é uma das características da obra <strong>de</strong><br />

Kafka, a alegoria é concebida como fragmento, ela consiste numa re<strong>de</strong> infinita <strong>de</strong><br />

significados e correlações <strong>em</strong> que tudo po<strong>de</strong> transformar-se na representação <strong>de</strong><br />

tudo, mas s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>ntro dos limites da linguag<strong>em</strong> e da expressão.<br />

No ensaio Alegoria e drama barroco, Benjamin outra vez disserta sobre o que<br />

enten<strong>de</strong> por alegoria, e como está presente neste conceito uma forte referência<br />

teológica. Segundo ele não po<strong>de</strong>mos tomar a alegoria como mero modo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>signação, ignorando seu modo <strong>de</strong> expressão, já que ela não é uma brinca<strong>de</strong>ira<br />

técnica com imagens, mas uma forma <strong>de</strong> expressão, assim como a fala e a escrita.<br />

No momento <strong>em</strong> que toma a alegoria com uma forma <strong>de</strong> expressão ele a transforma<br />

numa linguag<strong>em</strong> rica <strong>de</strong> significados.<br />

O estudo sobre a narração é pautado neste conceito, on<strong>de</strong> o autor trabalha a<br />

alegoria como uma forma <strong>de</strong> expressão representada pelo narrador. Ele não é<br />

apenas um hom<strong>em</strong> que sabe contar histórias, mas representa a figura do Tzadik<br />

(justo). Se o narrador é uma figura alegórica, não é apenas por representar um<br />

mo<strong>de</strong>lo ético, mas por levar o leitor a uma aproximação com o justo do hassidismo<br />

através <strong>de</strong> sua interpretação.<br />

O narrador é um bom ex<strong>em</strong>plo do uso da alegoria no pensamento <strong>de</strong><br />

Benjamin. Se a princípio seu objetivo era fazer um estudo sobre a obra <strong>de</strong> Nikolai<br />

Leskov (e fez um belo estudo), seu trabalho vai além ao recuperar todo simbolismo<br />

presente na narração oral. No momento <strong>em</strong> que aproxima a perda da narração oral<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento dos meios <strong>de</strong> produção, ele faz uma crítica à mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> s<strong>em</strong><br />

afastá-la do seu caráter teológico. Isso já estava presente no ensaio Sobre a<br />

103 Ibid. p. 256.<br />

79

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!