walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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A alegoria distingue-se da metáfora por outro traço que não sua<br />
ligação com a proposição, segundo Fontanier, a metáfora mesmo<br />
continuada (que se <strong>de</strong>nomina alegorismo), oferece apenas um único<br />
sentido verda<strong>de</strong>iro, o sentido figurado, ao passo que a alegoria<br />
“consiste <strong>em</strong> uma proposição <strong>de</strong> duplo sentido, com o sentido<br />
espiritual simultaneamente”. 101<br />
Um bom ex<strong>em</strong>plo do uso da alegoria na filosofia <strong>benjamin</strong>iana é sua<br />
interpretação das idéias. Para ele, as idéias não se encontram no mundo <strong>em</strong>pírico<br />
(reino do particular ainda não trabalhado pelo conceito), n<strong>em</strong> no conceito (mediação<br />
entre o particular e universal). Mas na linguag<strong>em</strong>, particularmente na sua dimensão<br />
nomeadora, <strong>em</strong> contrapartida com sua dimensão significativa e comunicativa. Sua<br />
interpretação das idéias é alegórica, no momento que recorre à linguag<strong>em</strong> adâmica,<br />
como observou Sergio Paulo Rouanet:<br />
É a linguag<strong>em</strong> adamitica, que <strong>de</strong>sperta as coisas, chamando-as por<br />
seu verda<strong>de</strong>iro nome, e não a linguag<strong>em</strong> profana, posterior ao<br />
pecado original, que se <strong>de</strong>grada num mero sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> signos, e<br />
serve apenas para a comunicação. O Nome transforma-se na<br />
palavra, mero fragmento s<strong>em</strong>ântico, coisa entre coisas, e que por<br />
isso mesmo per<strong>de</strong>u a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nomeá-las. A idéia esta inscrita<br />
na or<strong>de</strong>m do Nome. 102<br />
O valor da linguag<strong>em</strong> presente na sua dimensão nomeadora é o primeiro<br />
ponto para construção da sua “filosofia da linguag<strong>em</strong>” que é um exercício da<br />
alegoria partindo da mística da linguag<strong>em</strong> judaica. Sua proposta para uma “filosofia<br />
da linguag<strong>em</strong>” é alegórica. Ela tenta mostrar que existia um valor presente na<br />
linguag<strong>em</strong> adâmica que se per<strong>de</strong>u com a queda, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> nomear as coisas.<br />
Ainda preso à teologia, busca resgatar a alegoria do seu esquecimento, ao mostrar<br />
sua importância. É o que l<strong>em</strong>os ao final <strong>de</strong> A orig<strong>em</strong> do drama barroco al<strong>em</strong>ão:<br />
Os vícios absolutos, encarnados pelos tiranos e intrigantes são<br />
alegorias. Não têm existência real, e o que representam só t<strong>em</strong><br />
realida<strong>de</strong> sob o olhar subjetivo da melancolia; extinto o olhar, seus<br />
produtos também se extingu<strong>em</strong>, porque só anunciam a cegueira<br />
<strong>de</strong>sse olhar. Eles r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> á meditação subjetiva absoluta, à qual<br />
unicamente <strong>de</strong>v<strong>em</strong> seu ser. Através <strong>de</strong> sua figura alegórica, o Mal<br />
<strong>em</strong> si transparece como fenômeno subjetivo. A subjetivida<strong>de</strong><br />
monstruosamente antiartística do Barroco converg<strong>em</strong> aqui para a<br />
essência teológica do subjetivo. A Bíblia introduz o Mal sob o<br />
101 RICOEUR, Paul. A metáfora viva. Trad.: Dion Davi Macedo. São Paulo: Loyola, [s.d]. p.<br />
100.<br />
102 Op. cit. p. 16.<br />
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