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walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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A porta da justiça é o estudo. Mas Kafka não se atreve a associar a<br />

esse estudo as promessas que a tradição associa no estudo da Torá.<br />

Seus ajudantes são bedéis que per<strong>de</strong>ram a igreja, seus estudantes<br />

são discípulos que per<strong>de</strong>ram a escrita. Ela não se impressiona mais<br />

com “a viag<strong>em</strong> alegre e vazia”. Contudo Kafka achou a lei na sua<br />

viag<strong>em</strong>; pelo menos uma vez, quando conseguiu ajustar sua<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senfreada a um passo épico, que ele procurou durante<br />

toda sua vida. 97<br />

Ele compreen<strong>de</strong>u que <strong>em</strong> Kafka a porta da justiça é o estudo da Torá, porém<br />

ele <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rava todas as promessas que a tradição associava a ela. Ao falar <strong>de</strong><br />

perda tanto da igreja como da escrita está se referindo a tradição e ao valor da<br />

transmissibilida<strong>de</strong>. A experiência do hom<strong>em</strong> com a realida<strong>de</strong> o levou a um<br />

enfraquecimento da fé e uma <strong>de</strong>scrença <strong>em</strong> relação ao sagrado. Kafka nunca <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> se interrogar sobre a condição espiritual do hom<strong>em</strong> na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. A meu ver o<br />

que aproxima Franz Kafka do estudo sobre a narração <strong>de</strong> Benjamin é a justiça<br />

enquanto objeto <strong>de</strong> trabalho, e o narrador enquanto a figura do justo. Eu diria que no<br />

momento <strong>em</strong> que Kafka viaja e encontra a lei é o instante on<strong>de</strong> o narrador encontra<br />

consigo mesmo.<br />

2.3 EXPERIÊNCIA ALEGÓRICA<br />

Hannah Arendt escreveu o ensaio Walter Benjamin: 1892-1940 98 , on<strong>de</strong> diz<br />

que as metáforas são os meios pelos quais se realiza poeticamente a unicida<strong>de</strong> do<br />

mundo, ao se referir ao amigo, ela observa que ele mesmo não sendo um poeta<br />

pensava poeticamente. Ao consi<strong>de</strong>rar a alegoria o maior dom da linguag<strong>em</strong>, ele<br />

tenta conciliar a experiência teológica com a crítica filosófica. Acredito que sua<br />

admiração por Kafka está no fato <strong>de</strong>ste transformar a alegoria num objeto <strong>de</strong><br />

trabalho, fazendo <strong>de</strong>la um uso exaustivo.<br />

A alegoria é uma forma <strong>de</strong> expressão que não se limita à mera <strong>de</strong>signação,<br />

ela coloca diante do interprete a possibilida<strong>de</strong> do exercício continuo da<br />

subjetivida<strong>de</strong>. Ela serve para retirar o caráter concreto dos fatos e elevá-los a uma<br />

categoria mais universal. No entanto, não é capaz n<strong>em</strong> <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r toda a idéia<br />

que nela se procura expressar, n<strong>em</strong> expressar toda a idéia que nela se manifesta.<br />

97 Op.cit. p. 164.<br />

98 ARENDT, Hannah. Walter Benjamin (1892-1940). In: Homens <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos sombrios.<br />

Trad.: Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das letras, 2003.<br />

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