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walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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superstição; pelo contrário, é um saber da futilida<strong>de</strong> e da perdição. O hom<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

Kafka não t<strong>em</strong> nada <strong>de</strong> heróico, mas possui vícios e é ignorante <strong>de</strong> sua fraqueza.<br />

Po<strong>de</strong>mos observar isso nos seus personagens, particularmente Joseph K <strong>em</strong> O<br />

processo. A segunda lição se refere a presença <strong>de</strong> Deus na sua obra. Nela, parece<br />

que Deus está <strong>de</strong>scontente com sua criação, ao permitir que ela se perca nos vícios<br />

do mundo s<strong>em</strong> nada fazer ou mesmo, s<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r fazer algo. Benjamin nos fala que<br />

Kafka praticava uma certa prece natural da alma, se ele rezava ou não ele não entra<br />

no mérito, como os santos <strong>em</strong> sua prece ao incluir na sua atenção todas as<br />

criaturas. Vilém Flusser vai além ao dizer que a convicção <strong>de</strong> Kafka não provém n<strong>em</strong><br />

da razão e n<strong>em</strong> tão pouco da fé, mas da vivência imediata:<br />

A vivência kafkiana concorda com os místicos quanto ao sentido da<br />

vida: é a procura <strong>de</strong> Deus. Diverge, entretanto, quanto à situação<br />

final <strong>de</strong>ssa procura: Deus, quando encontrado, revela-se como sendo<br />

nada. No lugar no qual a fé postula Deus, a vivência kafkiana<br />

<strong>de</strong>scobre o abismo do nada. O pensamento, no seu avanço rumo a<br />

Deus, chega a um ponto no qual é tomado <strong>de</strong> uma vertig<strong>em</strong>, porque<br />

percebe, repetidamente, que Deus não passa <strong>de</strong> uma reflexão <strong>de</strong>sse<br />

próprio pensamento na superfície calma e abissal do nada, à beira<br />

do qual o pensamento agora se encontra. 96<br />

O modo que Kafka interpreta a existência humana e toma as forças<br />

superiores como uma máquina corrupta não parte <strong>de</strong> um ateísmo ingênuo, mas sim<br />

<strong>de</strong> uma indiferença cheia <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo. Ele não aceita a idéia <strong>de</strong> teologia tradicional<br />

e n<strong>em</strong> tão pouco o conceito cientificista das leis da natureza, mas concorda com a<br />

nossa vivência intima da estupi<strong>de</strong>z e os absurdos das nossas <strong>de</strong>sgraças. As<br />

palavras <strong>de</strong> Flusser representam aquilo que enten<strong>de</strong>mos como teologia negativa <strong>em</strong><br />

Kafka, t<strong>em</strong>a a ser tratado adiante. Se a mensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Kafka é uma parábola, como<br />

foi a mensag<strong>em</strong> dos profetas <strong>de</strong> Israel, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um elo na ca<strong>de</strong>ia da<br />

tradição judaica. O que precisamos observar é que a fé dos homens é mutável <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>terminável grau <strong>de</strong> acordo com sua visão <strong>de</strong> mundo, e se o mundo observado por<br />

Kafka é cinza e sujo é porque Deus não está nele. Normalmente a fé está<br />

estreitamente ligada às experiências do hom<strong>em</strong> com sua realida<strong>de</strong>. No final do<br />

ensaio sobre Kafka, Benjamin escreve:<br />

96 FLUSSER, Vilém. Da religiosida<strong>de</strong>: a literatura e o senso <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. São Paulo:<br />

Escrituras, 2002. p. 80.<br />

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