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walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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evolução industrial, o melhor ex<strong>em</strong>plo. Essa opinião também é aceita por Leskov,<br />

que consi<strong>de</strong>rava a narrativa como um oficio manual, e s<strong>em</strong>pre se sentiu ligado a ele<br />

e estranho a técnica industrial. Para ele, o gran<strong>de</strong> narrador t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre suas raízes<br />

no povo, principalmente nas camadas artesanais.<br />

Em que se baseia a opinião <strong>de</strong> Benjamin? Talvez numa interpretação<br />

romântica do mundo on<strong>de</strong> a relação hom<strong>em</strong>-natureza é um ponto <strong>de</strong> conciliação<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento da humanida<strong>de</strong>, mesmo ele sabendo que a história da<br />

humanida<strong>de</strong> confirma o contrário. Assim como Benjamin, Leskov compartilhava<br />

essa idéia <strong>de</strong> que o pobre camponês, que tira do seu pedaço <strong>de</strong> terra o sustento<br />

para uma vida simples, mas que é recompensada por ser livre e não corrompido<br />

pela vida urbana. Essa relação hom<strong>em</strong>-natureza po<strong>de</strong> ser atribuída uma virtu<strong>de</strong><br />

especial, já que o <strong>de</strong>senvolvimento industrial é tido como uma maldição para os<br />

primeiros românticos. A relação pessoal que existia entre mestre e aprendiz aos<br />

poucos vai <strong>de</strong>saparecendo com o <strong>de</strong>senvolvimento industrial, e aquela forma<br />

artesanal <strong>de</strong> produção vai dando lugar a uma relação hom<strong>em</strong>-máquina. A narração<br />

oral participava do trabalho manual:<br />

Quanto mais o ouvinte se esquece <strong>de</strong> si mesmo, mais<br />

profundamente se grava nele o que é ouvido. Quando o ritmo do<br />

trabalho se apo<strong>de</strong>ra <strong>de</strong>le, ele escuta as histórias <strong>de</strong> tal maneira que<br />

adquire espontaneamente o dom <strong>de</strong> narrá-las. Assim se teceu a re<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong> que está guardado o dom narrativo. E assim essa re<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sfaz<br />

hoje por todos os lados, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sido tecida, há milênios, <strong>em</strong><br />

torno das mais antigas formas <strong>de</strong> trabalho manual. 91<br />

No trabalho manual a alma, o olho e a mão estão inscritos no mesmo campo.<br />

Ao interagir<strong>em</strong>, eles <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> uma prática, mas essa prática <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser familiar. O<br />

papel da mão no trabalho produtivo tornou-se mo<strong>de</strong>sto, e o lugar que ocupava<br />

durante a narração agora se encontra vazio. Benjamin escreve: “A narração <strong>em</strong> seu<br />

aspecto sensível, não é <strong>de</strong> modo algum o produto exclusivo da voz. Na verda<strong>de</strong>ira<br />

narração, a mão intervém <strong>de</strong>cisivamente, com seus gestos, aprendidos na<br />

experiência do trabalho, que sustentam <strong>de</strong> c<strong>em</strong> maneiras o fluxo do que é dito”. 92<br />

Ele encontra na literatura <strong>de</strong> Franz Kafka um trabalho gestual que po<strong>de</strong>mos<br />

aproximar do seu estudo sobre a narração. Para ele, Kafka priva os gestos humanos<br />

dos seus esteios tradicionais e os transforma <strong>em</strong> t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> reflexões intermináveis.<br />

91 Ibid. p. 205.<br />

92 Ibid. p. 221.<br />

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