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walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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totalmente do seu passado. Isso quer dizer: somente para a<br />

humanida<strong>de</strong> redimida o passado é citável, <strong>em</strong> cada um <strong>de</strong> seus<br />

momentos. Cada momento vivido transforma-se numa citation à<br />

L´ordre ju jour – e esse dia é justamente o do juízo final. 90<br />

A idéia <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção possui um valor estritamente teológico. Benjamin concilia<br />

a responsabilida<strong>de</strong> histórica com a m<strong>em</strong>ória. Tão somente aqueles que não têm<br />

culpa po<strong>de</strong>m recorrer à história como test<strong>em</strong>unha. Desta forma a r<strong>em</strong>iniscência<br />

funda a ca<strong>de</strong>ia da tradição que transmite os acontecimentos <strong>de</strong> geração a geração<br />

correspon<strong>de</strong>ndo assim à musa épica no sentido pleno. A primeira encarnação da<br />

forma épica encontra-se na figura do narrador. Por isso Benjamin encontra na obra<br />

<strong>de</strong> Kafka a arte <strong>de</strong> narrar por excelência quando diz que ele escreveu contos para os<br />

espíritos dialéticos quando se propôs narrar sagas.<br />

2.2 PEDAGOGIA E NARRAÇÃO<br />

Em O Narrador, Benjamin constata na narração oral um valor pedagógico ao<br />

falar do sist<strong>em</strong>a corporativo medieval. Nele, o mestre se<strong>de</strong>ntário e os aprendizes<br />

migrantes trabalham juntos na mesma oficina, cada mestre foi um aprendiz<br />

ambulante antes <strong>de</strong> se fixar <strong>em</strong> sua pátria ou no estrangeiro. Foram os artífices que<br />

aperfeiçoaram a arte <strong>de</strong> narrar e tiveram influência direta dos camponeses e<br />

marujos. O sist<strong>em</strong>a corporativo medieval associava as duas formas <strong>de</strong> saber<br />

predominante, o saber trazido <strong>de</strong> terras distantes pelos migrantes, com o saber<br />

presente no trabalhador se<strong>de</strong>ntário. Ao se conciliar experiências tão distintas forma-<br />

se uma forte tradição oral <strong>de</strong> gra<strong>de</strong> importância para a formação do hom<strong>em</strong> da<br />

época. Mesmo não tendo a intenção <strong>de</strong> criar um processo educacional consciente<br />

<strong>de</strong> sua importância para formação do sujeito, com exceção dos tzadikim, essa<br />

escola <strong>de</strong> narradores foi fundamental para a transformação do hom<strong>em</strong>, ao discipliná-<br />

lo <strong>de</strong> seus vícios, ensinando-lhe a virtu<strong>de</strong> e dando a ele informação e conhecimento.<br />

Chamo atenção para um ponto importante <strong>em</strong> O Narrador que é o caráter<br />

utilitário da narração oral. Essa utilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> consistir seja num ensinamento moral,<br />

seja numa sugestão prática, seja num provérbio ou numa norma <strong>de</strong> vida. O narrador<br />

é alguém que sabe dar conselhos. Benjamin acredita que a narrativa foi expulsa da<br />

esfera do discurso vivo com o <strong>de</strong>senvolvimento dos meios <strong>de</strong> produção, sendo a<br />

90 Ibid. p. 223.<br />

70

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