walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
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verda<strong>de</strong> incondicional das convicções <strong>de</strong> acordo com as tuas<br />
idiossincrasias, acreditavas <strong>em</strong> ti mesmo. E mesmo assim, isso<br />
implicava bastante judaísmo, por<strong>em</strong> <strong>de</strong>masiado pouco para ser<br />
transmitido ao menino que eu era, e se diluía na totalida<strong>de</strong> enquanto<br />
o ias transmitindo; <strong>em</strong> parte por intransferíveis impressões <strong>de</strong><br />
juventu<strong>de</strong>, <strong>em</strong> parte pela sua t<strong>em</strong>ida presença. 83<br />
É a partir <strong>de</strong> 1910, com a passag<strong>em</strong> do teatro iídiche por Praga, que ele<br />
começa a se interessar mais ativamente pelo judaísmo, estudando a literatura<br />
iídiche, A historia dos ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> Heinrich Graetz e os contos hassídicos, como<br />
observou Michel Lowy. Acredito que foi nesse período que ele entra <strong>em</strong> contato com<br />
os contos <strong>de</strong> Rabi Nakhman. Segundo Lowy:<br />
Antes <strong>de</strong>sta data, a palavra “judaísmo” não figura <strong>em</strong> seus escritos<br />
ou correspondências. Em 1913 visita Martin Buber (<strong>em</strong> Berlim), com<br />
qu<strong>em</strong> se correspon<strong>de</strong>rá durante alguns anos. Num <strong>de</strong>poimento<br />
posterior, Buber l<strong>em</strong>bra-se <strong>de</strong> ter conversado com ele sobre o<br />
significado do Salmo 82, interpretado por ambos como sendo a<br />
promessa da punição, pelo po<strong>de</strong>r divino, dos juízes injustos que<br />
reinam sobre a terra. 84<br />
A afinida<strong>de</strong> intelectual entre Franz Kafka e Walter Benjamin é possível por<br />
conta do interesse <strong>de</strong> ambos pelo judaísmo, claro que um judaísmo muito particular<br />
e cheio <strong>de</strong> contradições. Ao inverter o universo da teologia tradicional, Kafka<br />
constrói nos seus textos uma teologia negativa, on<strong>de</strong> não existe lugar para ruptura<br />
messiânica na história. Não há lugar para a esperança na obra <strong>de</strong> Kafka. Para ele, a<br />
vinda do Messias parece estreitamente ligada a uma concepção individualista <strong>de</strong> fé,<br />
<strong>de</strong>sta forma, a re<strong>de</strong>nção messiânica será obra dos próprios homens, no momento<br />
<strong>em</strong> que seguir<strong>em</strong> a lei interna <strong>de</strong> cada um, lutando contra as autorida<strong>de</strong>s exteriores<br />
e as injustiças sociais. Essa idéia também é aceita por Benjamin, e <strong>de</strong>fendida nas<br />
Teses da História:<br />
O historicismo se contenta <strong>em</strong> estabelecer um nexo causal entre<br />
vários momentos da história. Mas nenhum fato, meramente po<strong>de</strong> ser<br />
causa, é só por isso um fato histórico. Ele se transforma <strong>em</strong> fato<br />
histórico postumamente, graças a acontecimentos que po<strong>de</strong>m estar<br />
separados <strong>de</strong>le por milênios. O historiador consciente disso renuncia<br />
a <strong>de</strong>sfiar entre os <strong>de</strong>dos os acontecimentos, como as contas <strong>de</strong> um<br />
rosário. Ele capta a configuração <strong>em</strong> que a sua própria época entrou<br />
83 KAFKA, Franz. Carta a meu pai. Trad.: Torrieri Guimarães. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.<br />
p. 47.<br />
84 Op. cit. p. 69.<br />
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