walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
sua pergunta, evoca s<strong>em</strong> o saber, um resposta no espírito do mestre,<br />
a qual não teria nascido s<strong>em</strong> essa pergunta. 77<br />
A citação parece parte do ensaio O Narrador, quando Benjamin diz que<br />
aconselhar é menos respon<strong>de</strong>r a uma pergunta que fazer uma sugestão sobre a<br />
continuação <strong>de</strong> uma história que está sendo narrada. No caso <strong>de</strong> Kafka, ele obriga o<br />
leitor à releitura. Ninguém consegue tirar uma única explicação s<strong>em</strong> cair na<br />
armadilha construída pelo autor.<br />
Cada enigma presente obriga o leitor a buscar explicações, que não são<br />
reveladas com clareza, e que nos leva a uma nova leitura partindo <strong>de</strong> outro ângulo.<br />
Muitas vezes surg<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma mesma passag<strong>em</strong> várias possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
interpretação, on<strong>de</strong> se justifica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> duas ou mais leituras. Este jogo<br />
criado por Kafka t<strong>em</strong> suas próprias regras, e uma <strong>de</strong>las, é que nada é o que parece<br />
a primeira vista.<br />
Seu universo está repleto <strong>de</strong> personagens alegóricos que <strong>de</strong> alguma maneira<br />
s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> algo a dizer. A reabilitação da alegoria na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> irá reivindicar as<br />
qualificações consi<strong>de</strong>radas antiestéticas, ao mostrar que esse caráter arbitrário,<br />
<strong>de</strong>ficiente e conceitual da alegoria <strong>de</strong>fine uma arte diferente da concebida pela<br />
harmonia clássica, porém legitima talvez a única para a época mo<strong>de</strong>rna. Jean Marie<br />
afirma:<br />
Walter Benjamin po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado, com razão, o primeiro teórico a ter<br />
buscado essa reabilitação. De inicio, ele estuda a corrente literária à qual o<br />
classicismo al<strong>em</strong>ão queria justamente se opor, o barroco, mais<br />
particularmente o drama barroco, mostrando a importância essencial da<br />
alegoria na visão barroca do mundo. Persuadidos, por razões teológicas, da<br />
<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> um mundo estigmatizado pela Queda, os autores barrocos<br />
recorr<strong>em</strong> à alegoria como figura retórica que marca, exatamente por seu<br />
caráter arbitrário e difícil, as faltas e os dilaceramentos do real. 78<br />
Po<strong>de</strong>mos dizer que a obra <strong>de</strong> Kafka encontra-se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um universo<br />
barroco. Se para Benjamin, o primeiro narrador verda<strong>de</strong>iro é e continua sendo o<br />
narrador <strong>de</strong> contos <strong>de</strong> fadas, ninguém melhor que Kafka para representar o gran<strong>de</strong><br />
narrador. O conto <strong>de</strong> fadas sabia dar um bom conselho, mas essa nunca foi à<br />
intenção <strong>de</strong> Kafka. O que ele busca é provocar no leitor o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se libertar do<br />
77 BUBER, Martin. Histórias do Rabi. 2. ed. Trad.: Marianne Arnsdorff, Tatiana Belinky e J.<br />
Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1995. p. 25.<br />
78 GAGNEBIN, Jeanne Marie. Os cacos da história. Trad.: Sônia Salzstein. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1982. p. 48.<br />
63