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walter benjamin - Programa de Pós-Graduação em Filosofia - UFBA ...

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nova chave – mas não a própria, a certa. Achar as chaves certas que<br />

abrirão as portas – eis a gran<strong>de</strong> e árdua tarefa. Este relato, que data<br />

do ápice da era talmúdica, po<strong>de</strong> dar uma idéia das raízes profundas<br />

<strong>de</strong> Kafka na tradição do misticismo judaico. 76<br />

Na citação encontramos o Kafka que tanto interessava ao Benjamin, aquele<br />

que está inserido na cultura judaica, que a busca como inspiração para a construção<br />

<strong>de</strong> sua obra. Durante muito t<strong>em</strong>po Kafka foi alvo <strong>de</strong> discussão das correspondências<br />

entre Benjamin e Schol<strong>em</strong>. Para eles Kafka não po<strong>de</strong> ser interpretado <strong>de</strong>sassociado<br />

da tradição judaica (Cabala). Está presente na obra <strong>de</strong> Kafka o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> criar uma<br />

relação entre o secular e o Sagrado, entre o hom<strong>em</strong> comum e o Tzadik (justo). Algo<br />

que também faz parte da filosofia <strong>benjamin</strong>iana, que <strong>em</strong> todo o momento tenta se<br />

libertar da esfera teológica s<strong>em</strong> sucesso, como observou Adorno <strong>em</strong> Caracterização<br />

<strong>de</strong> Walter Benjamin. Ambos possu<strong>em</strong> uma escrita dialética e a preferência pela<br />

narração oral. Em O Narrador, Benjamin parece <strong>de</strong>monstrar uma preferência pela<br />

narração oral <strong>em</strong> favor do valor da experiência Erfahrung, o mesmo encontramos <strong>em</strong><br />

Kafka, que parte <strong>de</strong> uma narrativa gestual b<strong>em</strong> próxima da oralida<strong>de</strong>.<br />

Acredito que o interesse <strong>de</strong>les pela narração oral t<strong>em</strong> influência do movimento<br />

hassidico, fundado por Baal Sh<strong>em</strong> Tov. Sustento a opinião primeiramente por<br />

encontrar tanto <strong>em</strong> Benjamin como <strong>em</strong> Kafka, uma forma <strong>de</strong> religião muito particular,<br />

distante do judaísmo tradicional. O hassidismo é favorecido pela própria realida<strong>de</strong> ao<br />

expressar seus ensinamentos, o Tzadik atua <strong>de</strong> maneira simbólica, e transforma<br />

suas lições <strong>em</strong> sentenças que as compl<strong>em</strong>entam ou contribu<strong>em</strong> para sua<br />

interpretação. No entanto, ele não <strong>de</strong>veria ser apresentado <strong>em</strong> ações que se tornam<br />

máximas, mas no próprio ato <strong>de</strong> ensinar oralmente, já que nele a fala é parte<br />

essencial da ação. Como observou Martin Buber:<br />

Aqui tocamos aquela base vital do hassidismo, da qual se esgalha a<br />

vida entre entusiasmadores e entusiasmados. A relação entre o<br />

tzadik e seus discípulos é tão-somente a sua mais intensa<br />

concentração. Nesta relação, a reciprocida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolve no<br />

sentido da máxima clareza. O mestre ajuda os discípulos a se<br />

encontrar<strong>em</strong> e, nas horas <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão, os discípulos ajudam o<br />

mestre a reencontrar-se. O mestre inflama as almas dos discípulos; e<br />

eles o ro<strong>de</strong>iam e o iluminam. O discípulo pergunta e, pela forma <strong>de</strong><br />

76 SCHOLEM, Gershom. A cabala e seu simbolismo. 2. ed. Trad. Hans Borger e J.<br />

Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2002. p. 20.<br />

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